Edição 542

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 542 QUARTA-FEIRA, 03 DE AGOSTO DE 2022

A FAMOSA VISITA DO MAESTRO VILLA-LOBOS A BOTUCATU

Em 1931, a CARAVANA VILLA-LOBOS esteve em Botucatu/SP, quando foi festivamente recepcionada. A foto, defronte ao Teatro Espéria, mostra, ao centro, o maestro Villa-Lobos, com a presença dos professores da Escola Normal (prof. Franklin de Mattos, prof. Sylvio Galvão, profa. Jair Conti), do Prefeito Municipal, Leônidas Cardoso, autoridades e populares.

“O TRENZINHO DO CAIPIRA” - Heitor Villa-Lobos É uma composição de Heitor Villa-Lobos e parte integrante da peça Bachianas Brasileiras nº 2. A obra se caracteriza por imitar o movimento de uma locomotiva com os instrumentos da orquestra... Bachianas Brasileiras é uma série de nove composições de Heitor Villa-Lobos escrita em 1922: Lá vai o trem com o menino Lá vai a vida a rodar Lá vai ciranda e destino Cidade e noite a girar Lá vai o trem sem destino Pro dia novo encontrar Correndo vai pela terra Vai pela serra Vai pelo ar

Correndo entre as estrelas a voar No ar no ar no ar no ar no ar Lá vai o trem com o menino Lá vai a vida a rodar Lá vai ciranda e destino Cidade e noite a girar Lá vai o trem sem destino Pro dia novo encontrar Correndo vai pela terra Vai pela serra Vai pelo ar Cantando pelas serras do luar Correndo entre as estrelas a voar No ar, no ar, no ar


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Diário da Cuesta

Um Poema de Cecília Meireles Eduardo J. R. Santos Universidade de Coimbra

Este poema da Cecília Meireles, para maiores de 200 anos de tempo quântico (relativo Einstein), é uma essência não do arquétipo do envelhecimento, mas do eterno amoral apaixonamento. À procura do tempo perdido, do corpo perdido, mas que traz a mensagem da nova semente, que teremos de resgatar pelas armas emocionais: em que peito se perdeu o meu coração? rasgarei todos o suspeitos, beberei gin cínico, não porto tristonho. Em que espelho ficou perdida a minha face “Às vezes acordo triste e nem sei o porquê dessa tristeza. Uma angústia, um descontentamento, uma solidão interior... Muitas vezes vem uma vontade de chorar, uma fragilidade que nada parece estar bom... Nós, que já passamos dos 50, muitas vezes nos encontramos assim. O mundo inteiro caminha normalmente, tudo está bem e vem essa tristeza. Quantas vezes eu me olhei no espelho e me curti, me achei linda e saí dona do mundo esbanjando mocidade e vendendo alegria?

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Quantas vezes fui elogiada, fotografada por olhares cheios de admiração ? E no espelho desfilei caras e bocas... Com a beleza que aos poucos foi se modificando, foi mudando de fases, foi se perdendo e dando lugar a um outro tipo de mulher : a mulher madura, aquela que muitas vezes ouve como elogio : você está conservada. Que triste elogio ! Diga como vc está bonita, que linda vc está... soa melhor, engrandece a alma, que hoje já tem tantas cicatrizes. Beleza está em todas as idades, conversem com seu espelho e descubra seu ponto forte, ele pode estar no seu interior. Onde ficou perdida minha face ? Não sei, só sei que vou passar o meu batom vermelho, rímel e lápis nos olhos, deixar meus cabelos ao vento, vestir meu vestido de festa e subir no salto, como sempre fiz e sair linda e maravilhosa curtindo os meus 63 anos. Faça o mesmo vc de 50, 60, 70, 80, 90... E não se entristeça vivendo do passado e tendo medo de aproveitar a vida. Se não usar mais salto, coloque uma rasteirinha ou se preferir fique descalça na areia da praia. Você é linda em qualquer idade. Para nós mulheres.” E também homens! Against os profetas naftalínicos do futuro, não, o caminho nem sempre é para o devir abísmico, que bom procurar a casa onde nasci, o útero das fantasias, o faz-de-conta das brincadeiras, a força de um irreverente metal...

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

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Maestro Villa-Lobos

Transformações profundas mudavam o perfil da sociedade brasileira nos primeiros anos da década de 20, nos campos da literatura, da arte e da música: desde a revolucionária SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 até a nova música que surgia carregada de folclore e brasilidade na maestria criativa de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, compondo obras que enaltecem o espírito nacionalista, ao qual incorpora elementos das canções folclóricas, populares e indígenas. Os anos de 1930/40 seriam marcados por uma grande atuação na educação. E a participação do maestro Villa-Lobos nos grandes eventos orfeônicos comemorativos das datas cívicas, sempre caracterizou a vinculação dele com o governo totalitário e a associação que se fez entre música, disciplina e civismo. Em 1931, em São Paulo, o maestro organizou uma concentração orfeônica chamada “Exortação Cívica”, com 12 mil vozes. Após dois anos assumiu a direção da Superintendência de Educação Musical e Artística. A partir de então, a maioria de suas composições se voltou para a educação musical. Em 1932, Getúlio Vargas tornou obrigatório o ensino de canto nas escolas e criou o Curso de Pedagogia de Música e Canto. Em 1933, foi organizada a Orquestra Villa-Lobos. A experiência do Canto Orfeônico no Brasil Em 1930, realiza turnê por sessenta e seis cidades. Grande sucesso! Realiza também nesse ano a “Cruzada do Canto Orfeônico” no Rio de Janeiro.Eram tão grandes os sucessos de Villa-Lobos e a aceitação da população que a visita em cada cidade era um fenômeno. Em 1931, a CARAVANA VILLA-LOBOS esteve em Botucatu/SP, quando foi festivamente recepcionada. A foto, defronte ao Teatro Espéria, mostra, ao centro, o maestro Villa-Lobos, com a presença dos professores da Escola Normal (prof. Franklin de Mattos, prof. Sylvio Galvão, profa. Jair Conti), do prefeito

municipal, Leônidas Cardoso, autoridades e populares. Explica o autor que “o ideal do canto orfeônico tem suas raízes na França. No início do século XIX, o canto coletivo era uma atividade obrigatória nas escolas municipais de Paris e o seu desenvolvimento propiciou o aparecimento de grandes concentrações orfeônicas que provocavam o entusiasmo geral. Na época, o sucesso desse empreendimento foi tal que surgiu até mesmo uma imprensa orfeônica O canto orfeônico tem características próprias que o distinguem do canto coral dos conjuntos eruditos. Trata-se de uma prática da coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de vozes e tamanho muito variável. Nesses grupos não se exige conhecimento musical ou treinamento vocal dos seus participantes O método obteve sucesso em outros países, sendo que o autor destaca os seguintes aspectos da realidade brasileira da época: “as conotações de caráter políticos; a falta de capacitação pedagógica adequada, a falta de uma metodologia de ensino suficientemente estruturada”. A opinião crítica do professor de História Contemporânea da USP, Arnaldo Contier, que enfoca a questão de forma particularmente rigorosa: “Villa-Lobos esteve na Alemanha nazista, quando voltou de Praga em 36. E, naquele momento, fez uma relação muito clara entre musica, civismo, propaganda e trabalho. Uma atitude nada ingênua e, ao contrário, muito consciente. Villa-Lobos compactuou com o regime getulista de um modo deliberado e o fez porque quis e nunca somente por necessidade.” Mesmo assim, é indiscutível a importância, o esforço e o mérito de Villa-Lobos. À parte o aspecto político, o trabalho que ele fez na divulgação de nosso folclore e das riquezas nacionais é valioso, revolucionário! (AMD)

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“Vagalume” “Todo dia o vagalume Recarrega a bateria A noitinha acende e voa Reluzindo alegria. Voa e voa pirilampo Faz do céu sua casinha Luz luz luz e lume Mais parece uma estrelinha” Tom Jobim Maria De Lourdes Camilo Souza

Hoje a mente serelepe estava buscando assunto e ao ouvir uma modinha, achou luz e guia. Saiu da rosa da janela para outra flor, distraída. E foi nessa toada muito ativa que achou tema. Chegou a dançar como borboleta de flor em flor à luz do sol. Da rosa para o cravo, manchou as asas de amarelo no pólen da margarida. Deitou-se nas minúsculas pétalas azuis do miosótis. Da renda da samambaia, na teia da aranha brilhavam como pérolas as gotas de orvalho. Tirando uma larga soneca. Escorregou caindo sobre o gerânio vermelho que despetalou. Lágrimas rubras voaram até as folhas dos galhos das mimosas junto ao solo. Acordou com o zumbido de uma abelha e bocejando voou alto. Continuou seu trabalho. Novas ideias juntaram-se às antigas e bordou um colorido quadro, com as asas da imaginação. Podia transformar um campo árido em jardim florido.

Destilou o mel em sinfonia. Gotículas douradas e doces refulgiam a luz do sol. E foi compondo um espetáculo de som, luz, cor e magia. Só não entendia como ali chegara. As perspectivas se sobrepunham e adelgaçavam formas. Das altas paredes e dos muros grossos as sequoias agigantavam-se e os galhos se molhavam nas águas da fonte que jorrava fresca daquele jardim. E assim se passou o dia. Entre verso, prosa, música suave da brisa da tarde. O musgo verde formado por anos sobre as pedras antigas parecia um veludo macio a seus pés. A noite chegou suave. Acendeu sua pequena luz e saiu a iluminar o mundo.


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