Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 547 TERÇA-FEIRA, 09 DE AGOSTO DE 2022
É comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, no dia 09 de Agosto. A criação comemorativa pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1995, pretende garantir condições de existência dignas aos povos indígenas de todo o planeta. O Brasil tem na criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, o marco principal na defesa dos povos indígenas. A partir do argumento dos Irmãos Villas Bôas, todo o projeto de defesa dos índios teve início. O sociólogo Darcy Ribeiro foi quem redigiu o projeto, além do médico Noel Nutes e outras instituições, missionários, antropólogos e médicos. Através de decreto, o presidente Jânio Quadros (Decreto nº 50.455, de 14/04/1961) criou o Parque Nacional do Xingu. A demarcação final do Parque foi estabelecida pelo Decreto nº 68.909, de 13/07/1971, pelo presidente Emílio Médici.
O lendário Orlando Villas Boas e seus irmãos são os heróis nacionais na defesa dos índios. Página 3
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ARTIGO
HUMOR FAZ BEM
Nando Cury
Navegaire agora não mais é preciso. Levar a vida com mais alegria é mais do que preciso, é urgente. Vamos rir e relaxar relembrando algumas letras de músicas que associam ironia, irreverência e humor. Há canções de humor que trazem críticas ao governo. Com Arnaud Rodrigues, em 1974, Chico Anísio cria um quadro muito especial para o seu Chico City, trazendo Baiano, que era o próprio Chico e Os Novos Caetanos, representados por Paulinho Cabeça de Poeta, vivido por Arnaud. Além da sátira bem humorada sobre uma época de hegemonia da música baiana – de onde se inspiram para o nome da dupla - levam protestos sobre a censura imposta pelo regime político e o milagre econômico. Baiano e Os Novos Caetanos deixam bons discos gravados e a música mais famosa é “Vo Bate pá tu” (Orlandivo, Arnaud Rodrigues) do álbum Sangue de Cacto. “Vou batê pá tú. Bate pá tú. Pá tú batê. Eu vou bate pá tú, pá tú. Bate pá tua patota. Vô batê pá tú, batê pá tú... O caso é esse. Dizem que falam que não sei o que. Tá pá pintá ou tá pá acontecê. É papo de altas transações.” Cutucadas jocosas sobre hábitos sociais e culturais casam perfeitamente com as músicas de humor. Se em nosso vocabulário incorporamos muitas palavras do inglês e de outros idiomas estrangeiros, este é um ótimo tema para o Samba do Approach (Zeca Baleiro) que Baleiro canta com o xará Zeca Pagodinho, no álbum Vô Imbolá de 1999. “Venha provar meu brunch. Saiba que eu tenho approach. Na hora do lunch. Eu vou de ferryboat... Já fui fã do Jethro Tull. Hoje me amarro no Slash. Minha vida agora é cool. Meu passado é que foi trash.” Certas canções carregam um humor singelo, por exemplo como aquela que destaca a pronúncia alterada de certas palavras do português pelo italiano que mora no Brás, primeira região paulistana de chegada e moradia de imigrantes da velha bota. É assim numa gostosa composição de Adoniran Barbosa chamada “Tiro ao Álvaro”, que fica ainda melhor combinando a voz de Adoniran com a interpretação marcante de Elis Regina. “De tanto leva frechada do teu olhar. Meu peito até parece sabe o quê? Táubua de tiro ao Álvaro. Não tem mais onde furar. Teu olhar mata mais do que bala de carabina. Que veneno estriquinina. Que peixeira de baiano. Teu olhar mata mais que atropelamento de automóver. Mata mais que bala de revórver”. O pastishe, através da imitação ou do agir de modo caricato em relação a outro cantor, compositor ou banda é a fórmula de fazer humor usada pelo Língua de Trapo. No segundo álbum “Como é bom ser punk”, de 1985, os interpretes da banda enveredam para a música caipira de raiz, arriscando acordes de viola e duetos na canção “Deusdéti” (Carlos Melo). “Se o nosso amor for logo, logo pras cucuia.
A curpa é tua Deudéti. Enquanto eu falo o tempo todo em Che Guevara. Ocê freqüenta o “Tamatete”. Não pude, não pude... Não pude ir jantar com você no Maquesude”. Tem também a canção que na traz na letra uma história engraçada e agrega o samba com levada de breque. É a assinatura musical do inesquecível Moreira da Silva que fica conhecido como Kid Morengueira, interpretando um valente caubói na história da canção O Rei do Gatilho (Miguel Gustavo) em 1959. No mesmo disco há outra divertida história em “Acertei no milhar” (Wilson Batista e Geraldo Pereira). “- Etelvina - O que é, Morengueira? - Acertei no milhar. Ganhei 500 contos. Não vou mais trabalhar. Você dê toda a roupa velha aos pobres. E a mobília podemos quebrar. Isto é pra já, vamos quebrar.” O humor pode vir ainda para “reverenciar” aquele ou aquele outro cidadão que tem nacionalidade x ou y. Como faz o Premê, que nasceu Premeditando o breque bebendo a fonte de Moreira da Silva, na canção “Empada Molotov” (Augusto César Brunetti), do seu primeiro LP de 1980. “- Seu Manuel. - Diga lá ô consumidore. - Exijo o CGC do seu estabelecimento comercial. A semana passada eu comi uma empada que me fez mal. Um atentado à minha flora intestinal.” Mais um acerto cômico do Premê acontece em “A Marcha da Kombi”, do LP de 1981 (Wandy Doratiotto). “Eu economizei. Mizei. Comprei, comprei, comprei uma Kombi 66. De um japoneis. Ela é ensinada. Ela é uma brasa. Corre à beça. E vai sozinha pro Ceasa.”
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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Sertanistas Botucatuenses
ARTIGO Olavo Pinheiro Godoy Da Academia Botucatuense de Letras
Aproveitando o mês de abril, dedicado aos índios, um turista recostado em cômoda poltrona do Peabiru Hotel, cerra os olhos para uma sesta. Suavemente, deixa ele rolar a memória à procura de recordações que distendam e convidem ao sono. Mas a imaginação é quase sempre caprichosa. E todo capricho, por natureza, é teimoso. As imagens que se lhe apresentam - lá sabe o turista por que - talvez em razão da bela mata que se vê ao longe - são fotos, audiovisuais, filmes que viu, em diferentes ocasiões, sobre índios, seus costumes, suas moradias, seus ritos de festa, de luto e de guerra. O candidato à sesta consegue escapar, por fim, a perseguição indígena, pouco propícia à distensão, e de palpebras baixadas, na insistente procura do sono, vai fazendo emergir da memória, mansa e suavemente, a lembrança dos sertanistas Villas Boas que, dos bons ares da serra botucatuense, partiram para as matas no afã de civilizar os índios. Lembrou que aqui também aportou para se dedicar ao seu primeiro emprêgo de médico, do Instituto Experimental Agrícola (Fazenda Lageado), o sanitarista e também sertanista Noel Nutels. Segundo depoimento do próprio Noel, que aqui conheceu os irmãos Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Boas, foram eles marcantes em sua vida e vocação. Tempos depois, o Dr. Noel Nutels encontra-se com o Ministro João Alberto Lins de Barros que, depois de conseguir carta branca de Getúlio Vargas para criar a Fundação Brasil Central, espera poder desbravar e recuperar o sertão. O turista, repousando, dolentemente em sua poltrona, rememora que o sertão possui inimigos mortais dentre eles a malária que os espera nos charcos, pantanais eáguas paradas. Independente do homem que chega ou sai. É mal de tocaia. No sertão e no mundo todo. Não é como a tuberculose, mal adventício, pelo menos para o habitante legítimo da selva, seu dono de muitos séculos. Vem na companhia do desbravador. É companheira das injustiças e incompreensões dos que estão chegando. E, os irmãos Villas Boas sabiam disso
tudo. Enfrentaram e sofreram os ataques da malária na defesa de seu ideal maior. Nosso turista se distende. Sente que sono se vai acercando. Mas, por seus ouvidos adentro penetra os sons da mata numa lembrança distante. Corria o ano de 1949 e o Ministro João Alberto nomeia Noel Nutels médico da expedição RONCADOR-XINGU, então confiada aos irmãos Villas Boas. Os Villas Boas penetram no sertão de Mato Grosso ao norte do estado, numa zona de transição florística entre o Planalto Central e a Amazônia. A região toda ela plana, onde predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do Xingu e pelos seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores são os rios Kuluene, Ronuro e Batoví. Os afluentes, os rios Suiá Missú, Maritsauá-Missú, Uaiá-Missú, Auaiá-Missú e Jarina. Segundo os irmãos Villas Boas, antes mesmo de ser criada a Expedição Roncador-Xingu, em 1949, já, em 1946, eles haviam chegado aos formadores do Xingu e, os seus povoadores indígenas eram, nas suas várias práticas e costumes, estritamente os mesmos encontrados pelo etnólogo alemão Karl von den Steinem, em 1877, em sua expedição etnográfica. Era idêntica a distribuição das aldeias na região, o mesmo intercâmbio e relações entre elas; a mesma índole pacífica, a mesma hospitalidade, curiosidade, traduzindo-se, ao contato com estranhos, nas atitudes ingênuas e amistosas que tanto impressionaram o explorador alemão, mercendo dele o mais minuciosos e expressivo registro. A presença dos irmãos Villas Boas seria uma continuação do serviço de proteção ao índio criado pelo governo em 1910. Um dos grandes idealizadores desse serviço foi, sem dúvida, o Marechal Rondon que sensibilizado com a situação telegráfica, sem empregar a força, conseguira contatos pacíficos com os índios dos territórios atravessados pela linha telegráfica. Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Boas concretizaram o novo tipo de política indigenista: os índios passam a ter o direito de viver segundo suas tradições, sem ter que abandoná-las necessariamente; a proteção é dada aos índios em seu próprio território, pois já não se defende a idéia colonial de retirar os índios de suas aldeias para fazê-los viver em
Os irmãos Orlando, Cláudio e Álvaro Villas Boas. no destaque, Leonardo Villas Boas, o mais velho e que faleceu primeiro
aldeamentos construídos pelos civilizados; fica proibido o desmembramento da família indígena, mesmo sob o pretexto de educação e catequese dos filhos; garante-se a posse coletiva pelos indígenas das terras que ocupam e em caráter inalienável; garante-se a cada índio os direitos do cidadão comum, exigindo-se dele o cumprimento dos deveres segundo o estágio social em que encontra. Ao lado de Darcy Ribeiro, Heloisa Alberto Torres, José Maria da Gama Malcher e do General Rondon, os irmãos Villas Boas vão conversar com o Presidente Vargas para a criação do Parque Nacional do Xingu. Tudo inútil. O parque só seria criado mesmo no governo de Jânio Quadros, em 1961 e, aumentado em sua dimensão, em 1968. O turista volta a divagar: Na tribo dita selvagem, não há mandões, nem chefões. O cacique é tão só um líder-conselheiro. Tudo se resolve com o consenso de todos. É uma democracia plena. Não há entre os índios, fazendeiros nem colonos, patrões nem empregados, proprietários nem marginalizados, ricos nem pobres; não há leis, regulamentos, repartições, taxas, impostos, toda esta inferneira que você conhece. Em suma, nada há do que divide, hierarquiza e jugula. A espontânea nudez de ambos os sexos é completa, ou quase tanto. Todos andam inteiramente à vontade pela selva, procurando petiscos para comer: peixe, ave, besouro ou fruta. De volta, repartem com as famílias tudo que pegaram. Ninguém que ser mais do que ninguém, nem pensa muito no dia de amanhã. É, enfim, o paraíso na terra. Em entrevista à revista Visão (10/02/1975), Orlando Villas Boas disse: “Se um índio der um tremendo berro no meio da aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar por que ele gritou. O índio é um homem livre”.
Casal Agnelo e Arlinda Villas Boas e filhos: Nelson e Orlando (ao lado do pai), Arlinda Lourdes segurando Álvaro, Cláudio (sentado) e atrás Acrísio. Leonardo (na frente) e atrás, Erasmo.
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Esportes Lucas Nogueira
F4 Brasil: Rubens Barrichello se emociona com vitória de seu filho em Interlagos O filho do piloto profissional, Fefo, saiu vitorioso na corrida dois deste final de semana Como presente de Dia dos Pais antecipado, Rubens Barrichello ganhou um grande presente de seu filho mais novo. Fefo conquistou a vitória na segunda corrida do final de semana da F4 Brasil, que aconteceu em Interlagos no último sábado (6). Rubens, em todos os seus anos de carreira no automobilismo nunca conquistou uma vitória em Interlagos. O piloto teve uma longa trajetória na Fórmula 1, ficando 19 anos na categoria, convivendo com diversas tentativas de vitórias em casa, mas também com nove abandonos consecutivos em provas no GP do Brasil (entre os anos de 1995 e 2003).
Em sua tentativa, o piloto corria pela Ferrari e teve uma pane seca enquanto estava na liderança da prova. O veterano e pai não conteve emoções com o grande feito do filho. “Passei todos os anos tentando vencer em Interlagos, vê-lo conquistando isso de forma própria é algo que me deixa pleno como pai e repleto de orgulho.”, declarou Rubens Barrichello. Durante toda a corrida, Rubens parecia tenso com a atuação de Fefo, só após ver a bandeira quadriculada depois de doze voltas começou a comemorar demais. Para Fefo, o final da prova foi de muita tensão entre ele e a sua equipe, assim que soube que estava entrando na última volta o piloto somente melhor administrou seu tempo para obter o melhor resultado. “A sensação de vencer aqui é indescritível, aqui já chorei, já ri e já gritei! Agora só quero festejar esse resultado!”, comemorou o piloto.