Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 579 QUINTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2022
O PARQUE DO POVO
Margem do Rio Lavapés sendo desenhada pela construção do Parque Linear. Os muros de gabião estão alargando o leito do rio, protegendo as margens. Obra importante para nossa Cidade! O PARQUE LINEAR DO LAVAPÉS – importante empreendimento público da parceria Prefeitura Municipal/Governo Federal! – está transformando positivamente a paisagem no entorno do Ribeirão Lavapés, com a construção de ciclovias, playground, academias ao ar livre, paisagismo e outras benfeitorias. Destacamos essa obra urbana tão esperada pela população botucatuense através da cobertura feita pelo Diário da Cuesta:
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Diário da Cuesta
BAIRRO/CIDADE
Com a construção do Conjunto Habitacional “Humberto Popolo”, inaugurado em 1981, pelo Prefeito Municipal, Luiz Aparecido da Silveira, a cidade de Botucatu ganhou uma nova cidade. Exatamente isso: UMA NOVA CIDADE ! Na gestão anterior, Botucatu havia recebido grandes industrias. Staroup, Costa Pinto, Hidroplas e Estrutec. Mas não havia sido previsto ou planejado a construção de novos conjuntos habitacionais. Assim o déficit habitacional do município chegava a quase 4 mil casas na segunda metade dos anos 70. O prefeito Lico Silveira, desde a sua posse em 1977, tinha que enfrentar esse desafio. Daí a necessidade de um conjunto habitacional das proporções da conhecida Cohab 1, denominação popular do Conjunto Humberto Popolo. A cidade precisava com urgência urgentíssima de casas populares para o crescimento industrial que estava vivendo. Houve demora, contratempos, troca de empreiteira, pressão dos políticos, enfim, tudo o que costuma ocorrer, infelizmente, quando há um grande empreendi-
Solenidade de Inauguração do Conjunto Humberto Popolo. À esquerda, vereador João Carlos Moreira; à direita a viúva Dona Noêmia Popolo e o prefeito Luiz Aparecido da Silveira (1981) mento. A tentativa de “negócios escusos”, mesmo não recebendo a devida condenação pela Câmara Municipal, obteve na Justiça a reparação do mal feito com o dinheiro público. Mas o conjunto habitacio-
nal pode ser inaugurado em 1981. O Conjunto Humberto Popolo (Cohab 1) já chegou com toda a sua grandiosidade: maior do que muitos municípios vizinhos como Pardinho, Itatinga e Bofete. Já chegava poderoso e prometendo um futuro brilhante a seus moradores. A Câmara Municipal havia aprovado a verba necessária para os investimentos em infraestrutura. Hoje, a conhecida Cohab 1 tem vida própria e muita representatividade política, sendo certo que já elegeu vários representantes para o Poder Legislativo. Para o futuro, a cidade de Botucatu dificilmente contará com outro conjunto habitacional desse porte: estudos de urbanistas recomendam que o número de casas populares a ser construído seja adaptado e desmembrado pelos bairros e distritos da cidade. Essa seria a melhor forma de aproveitamento dos equipamentos urbanos (redes de água, esgoto e eletricidade) já existentes. Um bairro que já nasceu cidade é o caso da COHAB 1. Um bairro orgulho de Botucatu ! (AMD)
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A COHAB 1 tem como patrono o botucatuense Humberto Popolo, conhecido por Chibe. Foi contador, comerciante (Organizações Popolo), presidente do Asilo Padre Euclides, presidente do CDL, Juiz de Casamentos,Vereador e destacado membro do Lions Clube. Hoje, o bairro se desenvolveu bastante, tanto que é considerado um bairro/cidade. Com excelentes escolas: Sesi, Senai, Senac, o Sofia Gabriel, o Serrinha. Com a sede do Tiro de Guerra, 3º DP, Posto de Saúde, Creche, Supermercados e um comércio vibrante. Com localização alta é bem iluminado, bem ventilado e com boa urbanização.
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Transferido para a COHAB 1, em 1982, o Tiro de Guerra fica na rua Mário Barbéris. No mesmo prédio também funcionam a Polícia Ambiental e a Garagem Municipal. Nos fundos também há um local onde a Prefeitura cultiva mudas e plantas. Esse prédio foi construído pelos Irmãos Lassalistas para ser um Seminário que chegou a ser inaugurado em 1967. Depois foi propriedade da Reflorenda e, finalmente, passou para a Prefeitura.
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Praticamente uma continuidade do Lavapés, a COHAB 1 atende a uma grande população e para isso, além das escolas do Grupo S (Sesi, Senai, Senac) tem as escolas: Centro de Educação Infantil (CEI) Nair Fernandes Leite Vaz; Escola Muncipal de Ensino Fundamental (EMEF) Antenor Serra e a maior escola estadual no município de Botucatu, Escola Estadual Professora Sofia Gabriel de Oliveira.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
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Lavapés - Meu Rio Primeiro
Quim Marques
A chuva cai forte, pesada, densificando o ar com um som aconchegante, desses que nos fazem enrodilhar-nos no sofá, dentro de casa, bebendo chá ou outra bebida quente, acarinhando a alma. Lá fora, no fundo do quintal, além da cerca, um barulho-turbilhão. O rio Lavapés passa, cheio e rápido, lavando seu leito, fuçando suas margens, suas mágoas, e carregando todo o lixo que lhe foi jogado na estação das secas. Do lado de cá, através da janela, contemplo-o, e sua sarabanda vai revolvendo também o meu rio de memórias. E rápido, em movimento contrário, meus pensamentos-peixes, feito piracema, fuçam meu passado, para a desova de meus sentimentos. Lá, onde as manhãs eram sempre luminosas e o lixo não corria ainda nas veias do homem. Então, me vejo outra vez menino, brincando em suas águas com outros meninos, quando ainda éramos nus e sabíamos andar pelo rio descalços e sem medo, empenhando-nos em descobrir os segredos do seu leito. Nós, crianças, o amávamos e o entendíamos, sempre atentos ao seu sonho de lonjuras e amplidões. Foi quando ganhei essa alma viajante, que busca sempre alcançar, num corredor contínuo e intenso, os mistérios e segredos do mar onde desemboca esse rio primeiro. Ah, meu rio de infância Lavapés! Disseram-me que lhe deram esse nome pela mania que tinha de acolher os peregrinos das estradas, lavando-lhes os pés da poeira e do cansaço, num arremate de conforto para esses viajantes. Hoje, você está doente, cansado, sujo, enfurecido, e ruge, nas cheias, buscando arrancar de seu caminho a ingratidão que lhe jogam pelas margens! A vida é outra. São outros os peregrinos que agora atravessam suas pontes, sentados em seus veículos, vaidosos de suas máquinas e surdos para a música-marulho de sua voz. Naqueles tempos, suas águas eram claras e límpidas. Em seu curso viam-se animais e pássaros saciando a sede. Pelas manhãs, as lavadeiras, descendo tagarelas pelas ruas da cidade, vinham alvejar o tempo. O rio, escutando o rumorejar das conversas, ficava sabendo da vida
entretecida em nossa cidade. Às tardes, vinham os tropeiros encher os corotes de água, para seguir com seus animais o transporte de todos os rebanhos. E você cantava, alegremente, junto com os bem-te-vis, os fogo apagou, as saracuras e os quero-queros. Pelas suas margens nasciam as glórias-da-manhã e os lírios-do-brejo, os hamerocális. Os lambaris e os cascudos dançavam, nos recantos ribeirinhos entre os juncos e as taboas. Época de muito respeito e gratidão. O rio emprestava a todos da cidade a sua força, para mover os moinhos na feitura da farinha para o sagrado pão. Lembro-me do moinho do salgueiro, o do Chicuta, e do som ritmado das correias da roda cantante movida pelas suas águas. Da fumaça da farinha enevoando o moleiro, deixando-o empoado como um ator de comédia popular... Às suas margens aprendi não só a lição de sua generosidade, mas também a de liberdade e determinação. Em seu leito, exercitei-me para a arte, e construí asas para todas as naturezas de voo. Uma pedra grande, como uma ilha plantada em suas águas, era minha casa, meu castelo, minha fortaleza, meu porto e meu barco, de onde me aventurava por rotas e continentes, particulares à minha mágica geografia, transcendendo-me além de todas as fronteiras. E o rio corria... Todos os quintais o visitavam em seu caminho. E caminhando em seu leito, eu visitava todos os quintais, no delicioso risco de apanhar frutos proibidos, coniventes
e dadivosos, que se deixavam apanhar pela infância irreverente. O rio era a própria vida cantante, embalando a vida de nossa cidade. Quando os dias estavam quentes, minha família e outras tantas da vizinhança aproveitávamos o frescor das tardes e sentávamos nos bancos sob as paineiras do antigo Chafariz da Boa Vista. O perfume das flores, misturados aos lilases, rosas e azuis derramados do céu, naquele momento tão solene, de crepúsculo, nos faziam sentir plenos e em paz com o mundo. O rio fazia sonoplastia perfeita para esta cena. Nós, crianças, corríamos pelo gramado brincando de pega-pega. Os adultos faziam a prosa do cotidiano. Depois, cansados de tanto brincar, sentávamos nós, também, e fazíamos colares de flor-de-maravilha para presentear nossas mães. O rio nos permitia um jogo eterno de brincadeiras e atiçava nossa imaginação, permitindo o realizar todos os nossos sonhos. Através dele nos tornávamos aventureiros, piratas, bandeirantes, bandidos e mocinhos de cinema, engenheiros, peixes e animais, reis e povos de países imaginários. Às vezes o percorríamos todo, desde a sua nascente até as proximidades do Lageado. Íamos demarcando pontos geográficos, com a terminologia própria de nossas observações: A Curva do Alemão, o Barranco da Figueira Grande, a Cachoeira da Chácara, A Represa do Moinho, o Barranco do Deslize, o Tanque do Salgueiro. Lugares únicos e mágicos que ficaram para sempre nos caminhos da alma. Com esses pontos inventávamos mapas e tesouros;
simulando lutas e guerras para encontrá-los. Forjávamos aventuras e nos sentíamos heróis. Os tesouros eram latas vazias de bolacha, repletas das sobras de colares e brincos de nossas tias; restos de vidros coloridos quebrados e cristais encontrados no fundo das águas do rio. O tempo passou... A cidade foi crescendo. E o rio Lavapés foi ficando cada vez mais distante da infância. Poucas crianças chegavam às suas margens, proibidas pelos pais, que temiam a contaminação de seus filhos. Ele se tornara depositário de todos os esgotos, de todos as sobras, lixo e entulho... Está doente e pobre. Mal cheiroso. Ameaçado. Falam em enterrá-lo. Querem colocá-lo numa caixa, espremido entre duas vias marginais. É a vontade do progresso, de um progresso distanciado de valores humanos. Por que não construir novos logradouros, construindo a memória, onde as pessoas possam se encontrar nos fins de tarde, deixando um pouco o isolamento em que a televisão as coloca? Então, sentar novamente sob as árvores e ouvir o correr de suas águas despoluídas, a sua música quando passa. Ah, meu rio Lavapés! Meu rio primeiro, meu rio de infância! Quisera tanto vê-lo novamente alegre, forte e saudável! Não morra, rio! Saiba que o amamos. Possa você, Lavapés, lavar ainda os pés, a alma e a memória de todos os que compartilham seu canto, seu rumo, sua beleza. Dá-nos olhos lavados de ver, de novo, sua vida resguardada e plena, a correr livre, agora, pelos caminhos do futuro. Acervo Peabiru
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“Delicadezas e Sutilezas” Maria De Lourdes Camilo Souza
Estive no casamento da filha de um primo neste final de semana lá em Piracicaba. Saímos no sábado logo cedo. O prenúncio era de muita festa e alegria. O dia já amanheceu bonito. Chegamos na hora do almoço Fomos recebidos na casa dos queridos primos Davizão e Soe, com todo carinho e atenção. O David não estava, tinha viajado para uma das suas pescarias lá no Mato Grosso. Mas deixou encarregado ao seu filho, o Danilo, para que tomasse algumas providências na casa para que tivéssemos todo conforto. A prima Soe nos aguardava naquele seu jeito amoroso e simples de ser. Nos acolheu com muita alegria e carinho, como sempre. Já nos tinha preparado um delicioso quibe de forno, acompanhado de arroz e salada. D. Inês, sua mãe, já nos seus 98 anos, estava sentadinha no sofá da sala fazendo seu crochê. Sua memória é perfeita. Lembrou-se de mim, apesar de não nos vermos há mais de 3 anos, chamando-me pelo nome, e devolvendo-me o abraço e o beijo. Conversamos muito durante o delicioso almoço, que terminou com um doce de abóbora com coco, feito pelo Davizão, e acompanhado de uma fatia de queijo meia cura, mais aquele arroz doce, feito com esmero, com o leite vindo da fazenda. Após um breve descanso nos preparamos para a festa do casório. A cerimonia campal seria realizada ao lado da Igreja que a família frequenta, naquele bucólico final de tarde. A noiva Maeli, é uma verdadeira princesa. Não é filha de reis, nem mora num palácio. Quando digo “princesa”, quero me referir as suas qualidades, aquelas mais íntimas que se refletem na sua pessoa. O noivo Matheus teve a sutileza e o carinho de enviar a ela, logo pela manhã desse dia glorioso, um lindo buquê de maravilhosas rosas colombianas, vermelhas. Maeli é linda e delicada como uma flor, e chegou levada pelo emocionadíssimo pai, o meu primo Levy, superpaizão, que mal
conseguia controlar a emoção, e enxugava disfarçadamente com seu lenço, as lágrimas insistentes que lhe escapavam dos olhos, Ela trajava um maravilhoso vestido que ressaltava sua linda figura, e trazia nas mãos um delicado buquê de rosas cor de rosa entremeadas de ciclamens lilases. Seu noivo, o Matheus, o noivo despojado, como se intitulou, ficou extasiado quando a viu entrar pela passarela de flores delicadas, bem como todos os convidados. As alianças foram trazidas alegremente pelos pequenos sobrinhos do Matheus, presas em balões prateados em forma de coração. A música de júbilo era entoada pelo irmão Vitor e o pessoal do coro, e acompanhada pelos convidados. A cerimônia foi sensível e emocionante, seguida de um delicioso jantar, que foi servido no salão da própria igreja. O que ficou desse dia e para sempre gravado na memória é: o acolhimento, a alegria da reunião, o sentimento de família, de união, a aura sensível de amorosidade. O compromisso e a maturidade do amor que formou mais uma família baseada na solidez do amor de Cristo.