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Fomos a pri meira – se gundo nosso amigo Carlos Rosa – a rece ber, em Botu catu , o livro de Hernâni Donato . Um grande prazer, sem dúvida, pelos laços de velha amizade e de admiração profunda que torna seu Autor credor autentico do imenso clã. Mesmo porque, a nosso modo e, segundo a faixa etária, nós vive mos também, a grande epopéia. Cada página e cada foto evoca ce nas e fatos, perto ou longe, vividos através da imprensa entusiasta de então.
Um belo trabalho de pesquisa e elaboração. Com a chancela de au tenticidade que caracteriza a já rica obra de Donato, eis que, minerador apaixonado, programa o trabalho, inicia meticulosa e apurada pesqui sa quando então consome de sua intensa atividade intelectual, anos e anos de consciente, aprofundado e minucioso estudo.
E aí está mais um resultado de sua já firmada e vitoriosa vida de escritor nato : “A Revolução de 32” . É, na nossa entusiasta interpreta ção, a maior e mais bem organizada fonte elucidativa do que foi a gran de epopéia paulista.
Outros escreveram sobre ela. Mas falta muito ainda a ser trans formado em romance, livro de crônicas, memorial do Interior, sem aquela preocupação única de um relato cronológico autentico. Do nato já mantém em suas duzentas e vinte e quatro páginas, o prima
do de um roteiro o mais completo e elucidativo até agora impresso.
É a comunicação moderna em que a fotografia completa os textos sóbrios e nem por isso menos ricos e conteúdo e de historicidade. Mas Donato tem reservas maiores para explodir, de repente, com um ri quíssimo romance. Ele já o fez, no romance biográfico, para nós, o seu “cappolavoro” : “Rio do Tempo” . E porque não, sobre a epopéia de 32 , o maior poema épico da contempo raneidade paulista?
O interior guarda em sua crôni ca rica memória daqueles dias de euforia patriótica em que tudo con vergia para o “Bem de São Paulo”. Botucatu viveu seus dias de glória. Nunca, como então, a figura do pro fessor avultou numa delineação car regada das tintas fortes do “varão” romano. As escolas vieram à rua para contagiar o povo num movi mento cívico jamais registrado antes ou depois, da grandeza do mestre frente aos seus discípulos. A revo lução partiu do alto para baixo, sem
discriminação de classes ou pensa res. Assoberbou tudo. Homogenizou e levantou, num bloco só, uno e coe so, o Estado Paulista
Mal estourado o movimento, eis a Normal de então, mobilizando os professores, transformada num foro cívico onde borburinhava o incita mento, o entusiasmo à luta.
Silvio Galvão abandona a cáte dra, e assume em sua casa, o pos to de alistamento do voluntariado. Organiza o primeiro Comitê Revo lucionário . Não para ali. Desce à es planada do Espéria e numa tribuna improvisada concita o botucatuense à luta. É um rastilho que se incen deia. Sucedem-se os oradores: Se bastião de Almeida Pinto, José do Amaral Wagner.
Dilia Ribeiro deixa a Biblioteca e vem à praça. É a primeira mulher a falar pela mulher botucatuense. A Normal se transforma. É agora um Hospital. Conclamou e organizou o Serviço Médico e o de Enfermagem. Há um burburinho continuo . Todos estão a postos . Surge o Bata lhão Diocesano . E as ruas se enchem dos uniformes caqui e os “bibis” de guerra.
A Banda Municipal de Amilcar Montebugnoli desfila pela Rua Amando . É o primeiro Batalhão que parte. À frente, na primeira linha, cantando a pleno peito, os mestres inesquecíveis: Silvio, Tião e Wagner . Tendo ao ombro os pavilhões nacio nal e paulista, lá desceram eles, o garboso primeiro batalhão botuca tuense – a cerca de quarenta jovens impertigados e ufanos – a caminho do primeiro comboio que os levaria à Capital para o engajamento certo.
Atrás, em brados de entusiasmo e de tristeza, os estudantes botuca tuenses e o povo coesos, na despedi da aos que partiam para a luta, para a conquista, para a vitória.
da Cuesta
e Prefeitos são depostos; são nomeados os Interventores Federais . As Bandeiras dos Estados são queimadas em praça pública pelo Ditador Vargas! O caudilho Vargas passa a governar por Decretos Leis... Esse filme já foi visto em 1930 No mesmo dia do golpe, Armando é preso em seu apartamento do Rio de Janeiro É enviado para Minas Gerais onde fica isolado até maio de 38 . Em novembro (03/11/1938), se gue de navio para a Europa . Era o desterro. Era o exílio que duraria até 07 de abril de 1945 quando regressaria, já muito doente, falecen do em São Paulo (17/05/1945). Em sua última homenagem, na Faculda de de Direito do Largo de São Francisco, a presença dos amigos e familiares . O caixão é fechado Carregam o esquife os profs. Jorge Americano, Gabriel Rezende, André Drey fus, Benedicto Montenegro, Teotônio Mon teiro de Barros, Soares de Faria, Fonseca Telles, Pacheco e Silva, Zeferino Vaz e Wal demar Ferreira Os discursos do prof. Jorge Americano, Reitor da USP, do prof. André Dreyfus, Diretor da FFCL e do acadêmi co Waldir Troncoso Peres, orador do Centro Acadêmico XI de Agosto No cemitério da Consolação, Otávio Mangabeira proferiu, de improviso, ao baixar o corpo à sepultura, belíssimo e comovente discurso ( AMD )
jetivos políticos. O escritor Hernâni Donato, em seu livro “A Revolução de 32”, edição Círculo do Livro/Li vros Abril, 1982 pág.177, destacou a impor tância dessa escolha: “Particularmente aos paulistas, que se guiam amargando a rendição particular, Ge túlio quisera fazer provar a 21 de agosto de 1933 o sabor aliciante, desarmante, de alcan çar um objetivo obstinadamente perseguido. Nomeou Armando de Sales Oliveira –civil e paulista –para a interventoria federal em São Paulo. Assinando o decreto, enfatizava: “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucio nários de 32”. Jogada de mestre do caudilho gaú cho, mas que representou a possibilidade de reagrupamento da cidadania paulista e a efe tiva possibilidade de se provar a capacidade administrativa dos revolucionários constitucio nalistas e o indiscutível sentimento de unidade nacional que sempre os motivou. Fruto da Revolução de 32 a mobilização dos paulistas para as eleições presidenciais de 1937 foi o maior acontecimento político da época Com as eleições estaduais para a Cons tituinte Paulista de 1934 e o governo arrojado e inovador de Armando de Salles Oliveira , o Brasil passou a se espelhar e a esperar que o grande democrata paulista levasse para todo o Brasil, as novas e modernas técnicas de bem gerir o serviço público que implantou em São Paulo, além da verdadeira revolução educacio nal com a criação pioneira da USP –Universi dade de São Paulo. O governador Armando Salles trouxe para a gestão pública a experiência que tivera ao criar, na iniciativa privada, moderna empresa voltada ao treinamento e formação de gestores Essa sua atuação no setor produtivo repercutiu muito em todo o país, especialmente com a criação bem sucedida do IDORT –Instituto de Desenvolvimento Or ganizacional do Trabalho . O IDORT preparava lideranças para a boa e eficiente gestão administrativa, além do ensinamento das modernas e eficientes técnicas organizacionais de trabalho Ao mesmo tempo e também em iniciativa pioneira e revolucionária, Armando Salles investiu maciçamente na educação e implantou as Escolas Profissionais (posterior mente, denominadas Escolas Industriais ) na capital e no interior do estado. Assim, estavam elencados os objetivos imediatos: modernizar o serviço público, inves tir na educação prioritariamente e implantar novas e produtivas técnicas organizacionais para a otimização da máquina estatal. O Estado Novo. O Exílio. A Derrota da De mocracia... Em 1937, Getúlio Vargas dá o Golpe de Estado e implanta o Estado Novo (10/11/1937).
A democracia é derrotada.
A Constituição de 1934 é revogada As Ca sas Legislativas (Congresso Nacional, As sembléias Legislativas e Câmaras de Ve readores) são fechadas. Os Governadores
deveria eleger o Presidente da República Pelos paulistas conseguiu-se o que pare cia impossível: a união de suas forças políticas: o PD –Partido Democrático e o PRP –Partido Republicano Paulista , com o apoio da Fede ração de Voluntários (dos ex-combatentes de 32 ) e da Associação Comercial de São Paulo, fizeram a “Chapa Única por São Paulo Uni do”. Foram mantidas as estruturas partidárias independentes. As eleições para a Constituinte, foram realizadas no dia 03/05/1933. A Chapa Úni ca elegeu 17 dos 22 representantes do Estado. Logo após as eleições, Vargas conseguiu apro ximar-se da oposição paulista e fazer a tão desejada aliança No dia 21/08/1933, um “civil e pau lista” , combatente de 32, toma posse como Interventor Federal em São Pau lo : o Engº Armando de Salles Oliveira. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolu cionários de 32”. Com essas palavras, Getúlio Vargas pro curava garantir o seu futuro político. O esperto gaúcho mostrava que não era por acaso que estava no comando do país. Sabia fazer política e tinha visão clara do futuro e da importância de compor e dar, como vitorioso, tratamento adequado aos adversários de ontem... No Palácio Tiradentes, no dia 16 de julho de 1934 , era oficialmente promulgada a nova Constituição da República. A partir daí, a Assembléia Nacional Constituinte se transforma provisoriamente em Câmara dos Deputados. No dia seguinte, 17/07/34, é eleito Ge túlio Vargas como Presidente da República do Brasil , com mandato de 4 anos E no dia 20 de julho toma oficialmente posse do cargo. Finalmente, a 14 de outubro de 1934 são realizadas eleições para a Câmara de Depu tados e para as Assembléias Constituintes dos Estados. Além de elaborarem as respecti vas Constituições Estaduais elegeriam os go vernadores e senadores, transformando-se provisoriamente em assembléias ordinárias. A esperteza e a capacidade do Ditador Getúlio Vargas em cooptar seus adversários políticos sempre foi reconhecida. E Vargas sou be compreender a dimensão da patriótica mobilização paulista: um perigo que poderia contaminar todo o povo brasileiro. Assim, em agosto de 1933 , em um gesto próprio de quem tem a inteligência e a sagacidade para ficar discricionariamente 15 anos no poder central ( 1930/45) estendeu aos paulistas, sem limi tações as reivindicações mais prementes que levaram à deflagração do movimento insur recional paulista: a autonomia na gestão do governo paulista e a fixação das datas das elei ções constituintes. Armando de Salles Oliveira foi nomea do, em 1933, I nterventor Federal até a sua eleição, pelos Deputados Estaduais Consti tuintes, eleitos em 1934, como Governador do Estado de São Paulo , em abril de 1935. Uma das condições para que Armando Salles acei tasse o convite foi a da concessão de anistia aos revoltosos de 32 que puderam retornar do exílio . Mesmo derrotados na luta armada, os constitucionalistas alcançaram os seus ob
passou a representar a “alma dos paulis tas” na luta que se iniciou a 9 de julho de 1932 contra um Governo Provisório (e que nada tinha de provisório) que não respeitava a autonomia de São Paulo e nem o Estado Democrático de Direito A participação da intelligentzia pau lista na mobilização da população foi fundamental A nossa intelectualidade tomou posição firme, quer através do trabalho da pena, quer pela força da palavra, assumindo com a clareza de suas ideias a imprensa, a tribuna parlamentar, os pronunciamentos nos comícios e nos microfones radiofônicos Resumindo : a mobilização cívica da população ! Todos sabem o desfecho dessa que foi a mais importante ruptura da unidade na cional: a guerra civil de 32, levando irmãos ao mais grave enfrentamento Os gaúchos –salvo algumas lideranças democráticas que mantiveram a palavra de incentivo e apoio irrestrito –abandonaram os paulistas O mesmo ocorreu com os mineiros e com as forças militares da capital federal São Paulo ficou sozinho na batalha para poder gerir a si próprio e pelas eleições e pela Constituição
Democrática. São Paulo não ganhou a guerra
civil, desproporcional sob todos os aspectos, mas saiu vitoriosa , indiscutivelmente, saiu vito riosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, teve que convocar as Eleições Cons tituintes ! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplan tado no país! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram profundas raízes no sentimento patriótico do povo brasileiro O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assem bléia Nacional Consti tuinte. A nível nacional e nos Estados, foram elei tos os Deputados Cons tituintes com a missão de elaborar a Consti tuição de cada unidade federativa. E na Nova Constituição , o VOTO SE CRETO e o VOTO FEMINI NO foram consagrados ! Com o objetivo de resgatar a atuação valo rosa dos paulistas é que fizemos esta interpreta ção histórica da epopéia cívica de 1932. Esse o cenário real em que se desenvolveu a luta ar mada e é a mais bela página do exercício da cidadania pelo povo paulista. A Assembléia Nacional Constituinte Getúlio Vargas , por Decreto, regulamen ta o funcionamento da Assembléia Nacional Constituinte. Com a vitória militar, Vargas se sentia forte o suficiente para amenizar o clima e o espírito constitucionalista que a Revolu ção Constitucionalista de 32 criara em todo o pais. Assim, através de Decreto Lei dispunha as atribuições da ANC e, entre muitas, a que
mobilizar e apoiar a tomada de posição dos paulistas No entanto, o grande poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar São Paulo Sozinhos, os paulistas
levantaram a Bandeira da Constitui ção. A Revolução Consti tucionalista
governantes
federais no poder era a negativa do ideário pregado para o sucesso do movimento de 30. De início, com o apoio de vários Esta dos da Federação, principalmente do Rio Grande do Sul e Minas Gerais , sendo certo que os gaúchos tiveram papel significativo no incentivar,
vitória da Revolução Constitucionalis
de 1932 só aconteceu em 1933/34, com
revolucionário para
realização da CONSTI
nomeação de um civil
extensão
objetivava, tão somente, autono mia administrativa, elei ções e Constituição , ou seja, a volta do país ao pleno Estado de Direi to. E, a partir daí, realizar a tarefa de modernizar o país, erradicar as injustiças e os erros que um regime político em descompasso com a evolu ção da humanidade não havia conseguido captar na Primeira República. Nada de separa tismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias fica ram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que es tava vivendo e soube le vantar, bem alto, a Ban deira da Legalidade! E o coração de São Paulo havia sangrado no final de maio/32 quando, numa mani festação da população paulistana com a presença de muitos estudantes de direito, pela autonomia de São Paulo e a favor da Constituinte, houve vio lenta repressão policial. Da ação vio lenta contra a população, quatro estu dantes paulistas foram assassinados : Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade. As siglas dos nomes dos mártires ( Miragaia, Martins, Dráusio e Camar go) deram origem ao MMDC , entidade que
Governo Paulista
“Quero que compreendam
significado deste ato, pois,
este decreto, entrego
governo de São Paulo
32”.
re volucionários
paulistas
ESTADOS
país
na luta cívica
luta
convocação
de Direito
queriam
Assembléia Nacional
compromis
Esse
descum
mobilização
tituinte
Governo Provisório
claro
pegar
volta
que levou São Paulo
armas
Estado de Direito
vocação de uma
Constituinte para
elaboração de uma Constituição Democráti
Foi o maior movimento cívico vivido pelo povo brasileiro Apesar do movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças
lideranças políticas paulistas, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo, re presentado por Ge túlio
Uma vez instalado no Po der, Vargas passou a governar fora do Esta do de Direito violando as mais elementares re gras democráticas. O Congresso Na cional, as Assembléias Estaduais e as Câma ras Municipais foram fechadas, todos os Go vernadores dos Estados (Presidentes) foram de postos e a Constituição de 1891 (preparada por Rui Barbosa) foi revo gada. O caudilho Vargas passou a governar o Brasil através de Decretos-Leis (1930/32).
Vargas.
São Paulo assumiu a liderança de exigir
retorno do país ao pleno Estado de Direi
insatisfação grassava por toda parte e
permanência, que não era provisória, dos
Por entender que o “Vanguarda de Botucatu” representou o espírito de uma geração que soube assumir o compromisso com seu tempo é que estamos promovendo a divulgação do que foi o Vanguarda, com a reprodução de alguns artigos dos muitos colaboradores que teve. Artigos que foram um marco, ficaram na história da imprensa botucatuense. E mostramos, abaixo, o layout da coluna social (“Acon tecências”, idealizada por Olavo Pupo e que teve enorme influência na juventude botucatuense por muitos anos. No início, feita pelo Olavo e a Rita Pedroso, foi comandada também por Claudia Pedroso, Totica Pedroso e Andrea Morato e Fernando Amando de Barros). FOI OBJETO DE FORTE RESISTÊNCIA DE SETORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE BOTUCATUENSE POR SUGERIR UM “MEMBRO GENITAL”...rsrsrs
Mas não move as mãos, não aplaude. É frio!».
2º ato: um humilde botucatuense que nos anos 40 chegou a campeão brasileiro de um certo esporte: «o pessoal, lá na terra, parece que tem vergonha de me cumprimentar. É onde menos sou festejado!».
3º ato: d. Frei Henrique, anos 50, assistindo a um bem organizado desfile cívico-religioso, ali na Cel. Moura: “Aplaudam. Vamos aplau dir, ó povo frio. Não sabem o tra balho que dá?”. Tradução: se a rapaziada que for ma com a Vanguarda ou em torno dela - excluída toda e qualquer conotação político-partidária - tem mensagem ou acredita tê-la e quer fazer algo pela cidade, não espere compreensão, nem aproveitar fundamentos existentes. Comece da base, feche os ouvidos, abra os olhos, veja as nossas lições mais práticas da história local e geral. E construa o legado da sua geração. Não espere aplausos. Haverá exceções, busca de diálogo, oferecimento de ajuda que afinal os voluntariosos estão em toda parte.
O “Vanguarda de Botucatu”, já o disse mos, não acabou em 1980 Ele continuou através do “Jornal de Botuca tu”, fundado em novembro de 1980. O “Jornal de Botucatu” surgia como um jornal bi-semanário, sem engajamento político, mas com uma linha definida de defesa da comunidade. Foi o primeiro jornal feito no li notipo em Botucatu à partir dos anos 70 Até 1980, os nossos jornais eram feitos no tipo, com exceção do Vanguarda, sempre feito fora de Botucatu por problemas de perseguições políticas dos poderosos de então. Pois bem, em 1980 , trouxemos para Botucatu a gráfica completa do Ariosto Campiteli, de Bauru, que passou a ser sócio do jornal re cém criado. Hoje, a Revista Peabiru procura manter a mesma linha de atuação, mobilizando a nossa comunidade, convocando a “intelligent zia botucatuense», enfim, construindo a nossa cidadania O prefácio de Hernâni Donato e seu artigo comemorando os 10 Anos do “VANGUA RADA” e + os promeiros artigos da equipe jovem de colaboradores é um precioso acervo de nosso jornalismo:
Rapazes: o diretor do jornal não brinca em serviço. Chegou e man dou: Vanguarda quer inovar. Sacuda a nossa moçada. Dê-lhe um plá dosado para os males de Botucatu.
Bom, não tenho receituário para uso dos moços que insistem em abrir o seu caminho dinamitando a estradinha aberta pelos mais ve lhos. Mas concordo em que para Botucatu, o momento, mais do que nunca, é o de balançar a roseira. Mais do que nunca porque ela goza de privilégio único de receber, de golpe, o enriquecimento do sangue novo de milhares de universitários. Gente de sangue quente, às vezes descontrolada exatamente por causa do sistemático “pé na tábua” em que vive, mas de cuja generosidade é possível esperar tudo. Mesmo aquilo que é mais necessário para a cidade: giro de duzentos graus na bússola do comportamento coletivo.
Vou lhes dar 3 diagnósticos para um mal que é típico da gente ser raçumana.
1º ato: Cornélio Pires, no palco do Casino, fim dos anos 30: «é difícil entender este povo. Gosta das minhas piadas porque ri de estourar.
Se a bandeira da Vanguarda é fazer e renovar, não atacar ou destruir, tem um campo largo pela frente. E merece o apoio de quem sente que é preciso mudar a mentalidade para não ter que mudar de cidade. Espero que Vanguarda, liberta de ganchos políticos que a limitem e imobilizem, tenha forças para resistir aqueles que vão tentar destruí-la, pela omissão; negá-la, pela tentativa do ridículo; esfriá-la, pela inércia com que gelaram tantos outros empreendimentos igualmente genero sos; desviá-la pelo descrédito organizado e sistemático. E que ajude a repor Botucatu entre as primeiras das nossas cidades. Se ela perdeu - quem negará que ela tenha perdido lastro, infelizmente? - foi só por culpa da sua gente. Gente que brinca com o futuro, com o voto, com as lideranças. Estou exagerando? Voltem a cabeça e vejam as conquistas e realizações dos últimos 10 anos. Individualizem os seus idealizadores. A constatação será melancólica.
Por isso - sem que isto signifique pronunciamento político ou grupal, mas apenas mais um voto de esperança, confio em Vanguarda. Como em todo movimento de juventude. Nós já tivemos freios demais. Preci samos de bons aceleradores.
Toque aqui, Vanguarda ! Prá frentex, gente.”
O posicionamento de Hernâni Donato não deixa de ser uma aula de sociologia “botucuda”. Era o quadro, sem tirar nem por, de nossa sociedade sedimentada mas com falta de perspectivas para o futuro No 10º aniversário do “Vanguarda de Botucatu”, em 1980, mais uma vez a palavra amiga e incentivadora de Hernâni:
“Pelos Primeiros Dez Anos de o “Vanguarda”
Segundo as agências de propaganda, um jornal atinge a maiorida de ao superar a marca do ano de publicação. Este período está para o jornalismo, assim como o nada saudoso “mal de sete dias” estava para crônica da mortalidade infantil nos velhos tempos. Mas, quando se trata de jornal interiorano, elas, as agências, exigem três anos de publi cação. Aí sim, passam as folhas caboclas a gozar do “status” de jornal a merecer conceito, às vezes até uma programação que lhe oxigene os pulmões financeiros.
Pois o jornal do Delmanto está quebrando a barreira dos dez anos. Mesmo quantos não subscrevem a linha política que ele imprimiu ou imprime ao “seu” jornal, hão de parabenizá-lo por vir respondendo ao gongo que tiranicamente o convoca para novos assaltos dessa luta sem intervalos que é o fazer imprensa. Principalmente - isto já é um refrão mas nem por isso é menos verdade - principalmente, imprensa interio rana.
Quantos amem Botucatu e respeitem o jornalismo - uma das for mas de manter dignas as comunidades - hão de fazer coro ao nosso voto: o de que, pelos decênios em fora, o Armando saiba fazer bem o seu jornal. E seja feliz com ele e por ele”.
Falando de comadre e de compadre, lem bramos de madrinha ou padrinho de casa mento, nascimento, de batismo, de crisma.... Mas, comadre e compadre mudam de grafia e significado de norte a sul, leste a oeste do país. Chamam-se de comadres e compadres nas amizades mais duradouras. Daquelas onde existe um forte relacionamento e afi nidade. Comadres e compadres são aqueles de se frequentar as casas, participar juntos das atividades cotidianas, como festas, pescarias, rodas de bordados, jogos de baralho, encontros no clube, jogos do time do coração... E sabe aquelas conversas de comadres e de compadres? É nessas ocasiões que eles vão falar de tudo um pouco. Até pensar no destino da cidade e do país. Comadres e compadres aparecem em histórias e diálogos nas canções. Podem até morar distante. Mas esse laço firmado entre eles é mais forte que a distância. Pode passar o tempo que for, a amizade fica guardada no fundo do coração. Só pressentindo o dia que eles vão se encontrar. Assim acontece em “Cumpadre Meu” (Gutemberg Guarabyra), com Sá, Rodrix e Guarabyra. “Cumpadre meu. Noite a noite na semana. O meu coração me chama, ah. Pra dizer que você regressou. Cumpadi meu. Esse meu pressentimento. Não é coisa que o momento. Fabricou.”
Existe o cumpadre, que é parceiro e alerta os seus cumpadres para o que está acontecendo com a administração do time do coração, por exemplo. Como faz o vascaíno Martinho da Vila em “Oi compadre” (Martinho da Vila).” Oi, compadre. Mete o dedo na viola. Se segura no cavaco, Porque tem remandiola (logro).... Oi, compadre. Vascaíno não se engana. Temos que ser mais fiéis. Do que a fiel corintiana”.
Cumpade e cumadre, de longa amizade e res peito, participam juntos de festas. Num desses eventos, cumpadre tira a cumadre pra dançar. É na históra contada por Ledo Silva, em “A Dança dos Compadres” (Ledo Silva / Marino Rodri guez), na qual a comadre faz uma pequena recomendação ao cumpadre. “A senhora dança comadre Maria. Dancemo compadre José. Só vamos bem devagarinho. Que eu tenho um espinho. No dedo do pé.”
E o que vai ocorrer quando juntam as coma dres cantadoras? Ninguém segura o “Forró das comadres” (João Silva), com Marinês e Elba Ramalho “Duas coisas dou valor. É o forró do Sanfoninha. Olha cumadre (semana que vem). Terreiro lá de casa (semana que vem). Vai ter uma sanfoneirada (semana que vem). Eu vou dar uma forrozada (semana que vem).”
Das curiosas canções cantadas por Jackson do Pandeiro, há também duas que trazem como personagens principais o cumpadre e a cumadre. Uma descreve o “Cumpadre João”
(Jackson do Pandeiro, Rosi Cavalcanti) que se apresenta como alguém respeitado, temido pela sua bravura, valentia e poder. Aquele do tipo que pergunta: “Vocês sabem quem sou eu? É o cumpadre. Cuidado, vocês sabem quem eu sou? É o cumpadre João. Lá na Paraíba briguei em Princesa. Minha natureza não sofreu abalo. Briguei em São Paulo na revolução. Ajudando os paulista quatrocentão. Cheguei em Caxias num dia de feira. Me fiz na peixeira e não vi valentão.”
A outra canção de Jackson do Pandeiro traz um famoso convite à uma famosa comadre chamada “Sebastiana” (Rosi Cavalcanti), pra dançar um xaxado lá na Paraíba. Está no álbum Sua Majestade, o Rei do Côco. “Convidei a comadre Sebastiana. Pra cantar e xaxar na Paraíba. Ela veio com uma dança diferente. E pulava que só uma guariba. Ela veio com uma dança diferente. E pulava que só uma guariba.”
Para finalizar, trago o encontro entre dois bons compadres. Quando isso acontece é uma vontade de aconchego, de agrado, de troca de gentilezas. Esse é o retrato de “Cumpadre” (Zé Paulo Medeiros) na interpretação envolvente de Cláudio Lacerda e Rodrigo Zanc.”Oi cumpadre como é que vai? Eu vou bem, eu tô de pé. E comadre Mariazinha? Tá na cozinha, passando um café. Mas, se achegue, puxa cadeira, pode sentar. Muito obrigado. A gente tem a tarde inteira pra debuiá nosso proseado.”
NOTA 1 Pesquisa musical por Toni Liutk NOTA 2 Ouça as músicas de COMADRES E COMPADRES a partir do meio dia de segunda feira, aqui no Semônica, no podcast mais.com.br