Edição 606

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Diário da Cuesta

São João Paulo II: O Estadista de Deus

Expressivo Evento Cultural: Centenário de Hernâni Donato

No Auditório da Pinacoteca Fórum das Artes, sob o patrocínio da ABL – Academia Botucatuense de Letras e da EMFEI “HERNÂNI DONATO”, foi realizada a Sessão de Comemoração dos 100 Anos de nascimento do saudoso escritor botucatuense e a Premiação do 1º Concurso Literário Hernâni Donato.

Sob a direção do presidente da ABL, Acadêmico Newton Colen ci, a Acadêmica Carmem Silvia Martin Guimarães fez a saudação a Hernâni Donato. Também usaram da palavra a Secretária Municipal da Educação, Claudia Gabriel e a professora Bruna Silva, Diretora da EMFEI “Hernâni Donato”.

A sessão teve a apresentação do Acadêmico Olavo Godoy, do professor e publicitário Nando Cury (sobrinho do homenageado) e de André Donato, filho de Hernâni. Com a presença de familiares, autoridades, acadêmicos, professores da Escola e a presença alegre e participativa dos alunos e alunas da Escola, houve a declamação de poesia pelos alunos, além da premiação dos melhores classificados no 1º Concurso Literário Hernâni Donato, com os trabalhos vence dores escolhidos pelos Membros da Comissão Julgadora composta por Acadêmicos da ABL. Justa homenagem a HERNÂNI DONATO, consagrado escritor e historiador botucatuense. É Registro Histórico

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NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 606 SEGUNDA-FEIRA , 17 DE OUTUBRO DE 2022

PEREGRINAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

ELDA MOSCOGLIATO

Do Zaire, coração da África , para a França, capital do mundo. Da Catedral de Quinxassa, para Notre Dame de Paris e dali, para Lisieux. Agora, dentro de breves dias, da Catedral de mãos postas – obra- prima de Niemeyer – para o Santuário Nacional de Aparecida do Norte.

Esses são os pontos altos da peregrinação apostólica de João Paulo II pelos caminhos do mundo no roteiro mais altamente significativo e apoteótico destes últimos tempos.

Ele se sobrepõe a quaisquer outros assuntos de na tureza internacional. Esses, são obra dos homens. A supremacia balística dos possuidores da bomba H; a insaciável fagomania moscovita em deman da dos pontos-chave na bacia mediterrânea; a rigorosa e discutida inclusão das nações no Mercado Comum Europeu, entre as mais ricas e poderosas; a insofrida ganância árabe desequilibrando a economia mundial, tudo isso e mais as coisas corriqueiras e breves, tudo se desfaz de uma hora para outra consoante a maré interesseira das conversações terrenas.

Ele, porém, que apenas pede a “verdade pura e sim ples entre os homens”, ele se faz o arauto de uma mensa gem que transcende a falácia humana. Ele traz um convite de paz que abraça todas as criaturas transpondo todas as barreiras preconceituosas de cor, religião, castas ou na ções.

Ele é o homem sofrido da última guerra mundial. Ele testemunhou todos os horrores da intolerância , conheceu os imensos blocos cinzentos de Nowa Huta, cidade sem igreja, destinada ao Homem Novo concebido sem Deus pelo materialismo esquerdista.

Ele não é apenas um Chefe de Estado. Em cada ponto de sua peregrinação ele deixa impregnada com a irradia ção envolvente de sua grandeza espiritual, a mensagem matafísica que desarma os espíritos e congrega os homens de boa vontade.

Anteriormente, na Polônia, sua terra natal, ele recitou o “De Profundis” ante os fornos crematórios nazistas. Em Auschwitz, na cela de Maximilian Kolbe ele se deteve em silencio ante a grandeza imensa daquela vida sacri ficada em holocausto a família. Lá , ante a imagem preta da Virgem de Czes tochowa,santuário nacional dos poloneses, ele reafirmou ao mundo que “o paradoxo maior de Auschwitz é o perdão e a reconciliação”.

No México, em peregrinação a N.Sra. de Guadalupe, ele lança ao mun do a caridade e a redistribuição equânime dos bens que sobejam para uns poucos e faltam para a maioria. E lembrou a distribuição dos pães para a multidão faminta do deserto. É o Evangelho que ele vem reviver para que ao mundo haja paz.

Agora, entre nós, ele vem conhecer desde as maravilhas singulares das águas do rio Negro às extensões oscilantes dos trigais do Sul. Vem cons tatar as potencialidades deste país-continente em que Deus pôs suas complacências Vem reafirmar-nos que nosso povo não conheceu jamais os trilhos trágicos que levaram ao genocídio. Que nosso asfalto se abre à amplidão sem fim na imensa vastidão territorial forjada em dia pelas botas dos Borba Gatos e pela sotaina civilizadora dos filhos de Loyola

Vem reafirmar-nos, em sua linguagem elegante e incisiva que a nossa densidade populacional – onze habitantes por quilometro quadrado – não necessita de limitação de natalidade e nem justifica as leis favoráveis ao aborto. Vem dizer-nos em poucas e significativas palavras que o solo rico e ubertoso precisa do trabalhador do campo e do incentivo oficial à produção. Vem dizer-nos que a educação é fundamental à ordem e ao progresso da sociedade. Vem dizer-nos ainda, que acima de tudo, está a harmonia social que só se ajusta verdadeiramente dentro da vivência evangélica.

E terminará por certo, pelo triunfo da Igreja através de seu próprio verso que diz :

“Pedro, você é o chão; e que outros possam caminhar sobre você .

Guia os passos, para que os espaços possam ser um só”.

Foi necessário que de Roma nos chegasse à última hora quase, um te legrama papal pedindo se incluísse, no vasto programa elaborado para seus dez dias em terras brasileiras, um encontro com os intelectuais patrícios.

E aqui consideramos como intelectuais, não só os profissionais da pena mas também, educadores e educandos em todos os níveis de escolaridade. Im perdoável omissão, não há o que negar. Mas a penetrante acuidade do Pon tífice diplomaticamente preencheu a falha lamentável.

Organizou-se então, de imediato, um rol de pelo menos cerca de oitenta nomes, das várias Artes para, improvisadamente defrontarem a fala serena, incisiva, vivida e persuasiva de Sua Santidade que a tudo penetra com sua polimorfa cultura e incrível sabedoria.

Em todos os países que S. Santidade vem percorrendo, há com bastan te ênfase , o seu encontro com a classe pensante nacional. Na África , ao defrontar-se com a diplomacia reunida para recepcioná-lo, João Paulo II, diplomata por excelência, ressaltou a importância do relacionamento inter nacional pondo em tais relações o grande dever de se pre servar,pelo reto desempenho das negociações entre os po vos, a solicitude pelo bem comum, pela paz mundial. Ainda no Continente Negro, perante milhares de professores e universitários reunidos no Palácio do Povo, ele os concita ao amor ardente da verdade encorajando-os à investigação cientifica sem que se percam os rumos da dignidade hu mana.

Dias depois, na França, o mais jovem e jovial Papa des te século, de novo insiste em estar entre intelectuais que ele já conhecia nas sucessivas missões cardinalícias doutros tempos, assegurando-se agora, uma vez mais, pela transpa rência cristalina do pensamento francês, da fidelidade cris tã daquele povo históricamente chamado “o filho predileto da Igreja”.

Reunidos no “Parc dês Princês”, mais de cinqüenta mil estudantes acorreram ao seu aceno e ali, mudada inteira mente a estrutura de seu discurso para o momento, João Paulo II deixou-se contaminar pela exuberante alegria, pela cálida ternura da recepção estudantil extravasando o cari nho que sente pela mocidade, ele mesmo um jovial, estudioso e atlético eterno aluno.

Desse encontro, são tantos e tão enternecedores os seus pensamentos sobre a juventude, que uma antologia poderia enfeixá-los como sábias li ções de humanidade. Sintetizamos aqui um só que abarca os amplos limites de seu amor aos jovens : “Desejo-vos verdadeiramente que corrijais o de safio deste tempo e que vos torneis todos os campeões do domínio cristão do corpo. O espírito éo dado original que distingue fundamentalmente o homem do mundo animal e que lhe dá um poder de domínio sobre o Universo”.

Nada mais certo, portanto, que em sua estada brasileira, queira S. Santi dade falar aos intelectuais, achegar-se à classe universitária, aos estudantes em geral, penetrando-lhes, num resumo cultural brasileiro, o pensamento cristão.

Somos filhos e herdeiros da civilização latina. Nascemos historicamen te de uma Nação inteiramente crista empenhada com a colonização, em difundir a doutrina cristã. As nossas primeiras escolas tiveram o carinhoso principio jesuítico de formação e de educação.

Isso tudo não pode ser relegado nos dias atuais, quando a influencia tecnocrata tende a transformar inteiramente os princípios formativos bra sileiros.

De Roma herdamos a estrutura jurídica; da França, as lições mul tifacetadas do intelectualismo. De Portugal haurimos a ética for mativa e a magnífica espiritualidade, vale dizer, cristandade, que nos faz, sem temermos, ser a maior nação católica do mundo. Como não integramos um programa com a intelectualidade patrícia? O Sumo Pontífice vem abraçar a todos e afirmar-nos uma vez mais, dentro do Evangelho, que somos todos um povo de Deus. E que para Ele caminhamos. ( A Gazeta de Botucatu – 27/06/1980 - 04/07/1980 )

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço

clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Diário da Cuesta2 EXPEDIENTE DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689 NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO
e

O ESTADISTA DE DEUS

ELDA MOSCOGLIATO

Quando este número da “Gazeta” estiver circulando entre seus leitores, estará rom pendo os céus dos trópicos, a caminho da casa, o homem mais discutido deste fim de milênio . Karol Wojtyla retorna ao Vaticano.

Fica-nos para sempre na memória sua imagem serena, a bracura imaculada de sua fala tranquila e o reflexo luminoso de sua inteligência invulgar, animados pela espiritualidade de uma Fé mosaica como tão bem retratou o povo cariosa fixando-o, como “João de Deus”, nas páginas do cancio neiro popular.

Caminhando por sobre as nuvens ou o asfalto, ancorou aqui e ali, assenhoreando-se em três latitudes distintas, das três culturas diferentes que caracterizam este imenso País.

Conheceu a região-centro por Brasília que é o para doxo frisante do âmago brasileiro. Recebeu o carinhoso afeto de Minas, a exuberante alegria do Rio e a desor denada acolhida de São Paulo, misturada a “slogans” de massa incompatíveis com a ocasião. No cotejo das recep ções não temos muito de que nos orgulhar.

No Sul, foi a calorosa acolhida de culturas européias transplantadas que, fixadas em terras brasileiras não per deram as características de origem. Bem se pode avaliar o esmero com que foram programadas as visitas sulinas.

Depois o Nordeste e o Norte, oferecendo-lhe na es pontaneidade nativa de sua gente simples e sofrida, o painel espelhado e amargo do subdesenvolvimento e das discrepâncias sociais.

Dominou todos os editoriais e os mais emperdenidos e recalcitrantes espíritos estenderam-lhe as mãos, num belíssimo transbordamento ecumênico. Não falou sequer uma vez, do domínio computadoresco. Silenciou por dez dias de permanência, as tiradas demagógicas. Sua cálida voz, persuasiva, mansa e profunda arrefeceu os ardores violentos dos extremismos de esquerda e direita. No en tanto, tudo isso se intuiu no enunciado sereno da timbra da e dominante tônica de seus sessenta e tantos discur sos, lidos programadamente a todas as camadas sociais ressaltando num só e único pensamento, a revalorização do homem pela supremacia do espírito.

O mundo todo, convergirdos os olhares para o Oci-

dente ouviu e comentou a mensagem do Papa. Só não o entendeu, aqui, quem não se dispôs, voluntariamente, para tanto.

Suas programações tem a característica da universalidade pois que dimanam de dois milênios de Evangelho e se estendem a todas as latitudes.

A sedução envolvente desse homem carismático está, mais proximamente de nós, no domínio total de nosso idioma. As nuances dialetais, o próprio sotaque afrancesa do denunciador das missões diplomáticas do passado, de ram-lhe uma singularidade atrativa. Falou português como um mestre. O seu claro enunciado vasado com elegância, correção e estilo, conferiram-lhe o magistral conhecimen to de nosso idioma.

Há um tom atrativo no seu “Brésil” tantas vezes repeti do e ouvido com agrado. Ligando o final plural dos verbos à vogal inicial do cursivo discurso, mais denunciou a flui dez encantadora da linguagem diplomática.

Mais sedutora ainda a sua versatilidade. Karol Wojtyla não repete adjetivos Às figuras belíssimas do pensamento fluem sempre novas, sempre plenamente audíveis, sem pre profundamente atraentes.

O mais critico dos jornais brasileiros, o querido “Es tadão” chamou num rompante inusitado de comoção, o “Estadista de Deus”.

Saibamos receber-lhe a embaixada . Saibamos praticar -lhe as profundas admoestações. Saibamos aceitar-lhe as diretrizes.

( A Gazeta de Botucatu – 11/07/1980 )

Diário da Cuesta3

“Faz de conta”

Maria De Lourdes Camilo Souza

Quando menina a gente brincava de “faz de conta”.

A brincadeira começava assim: a gente juntava as coisas do baú como lençóis, toalhas de mesa, flores de plástico, bibelôs de louças, as roupas de bebê guardadas, véu que se usava na igreja e até as cintas do meu pai entravam naquela ciranda.

Olhava as caixinhas de joia da minha mãe, pegando algu mas que iam virar os adereços.

Nem os vasos e as bandejas escapavam.

Olhávamos aquilo tudo, pensava, e pensava, e aí vinha a frase: faz de con ta que...

A velha mala surrada das viagens de trem também contavam estórias.

Tinha uma flor de enfeite que ficava num dos vasos gran des da casa. Tinha uma haste longa e parecia um penacho.

Aí a gente pegava um lenço e amarrava na cabeça com o pe nacho atrás, e fazíamos com os lençóis e toalhas aquelas roupas das dançarinas de cancan.

Claro que era do nosso jeito.

Mas a gente imaginava e dançávamos imitando, canta rolando músicas que ouvíamos no cinema, nas matinês dos domingos.

Gostava de pegar um cader no, sentava em frente da es crivaninha do meu pai, com as canetas bico de pena, me fazia de escritora.

Rabiscava a folha como se soubesse o que estava fazendo, olhando sonhadora para as paredes caiadas de branco, mordiscando a pontinha fina da caneta, sempre com o Pitoco sentado aos meus pés, pedindo um cafuné na sua cabecinha.

Faz de conta ...

O tempo passou na janela e quando me vi no espelho pendurado na parede da sala, meu rosto tinha mudado, os cabelos branquearam, mas, eu continuo no mundo do faz de conta!

Hoje homenageio os escritores, todos aqueles seres fantásticos que me inspiraram a contar as minhas estórias que começaram bem aqui, nessa página.

Começou com as memórias pandêmicas e já vamos para o final de 3 anos.

Tentando sempre fazer de conta, esperando que fadas e duendes tragam magia para cada estória nova.

Diário da Cuesta 4

LEITURA DINÂMICA

4– Da per sonalidade

forte e posi tiva do Papa João Paulo II, ficou como registro de seu carisma a sua vitalidade e a sua dedicação à prá tica de esportes saudáveis, quer na escalação de montanhas até esquiar na neve... Verdadeiro pere grino a visitar e promover a evan gelização pelo mundo marcou a imagem cristã e santa de SÃO

Diário da Cuesta5 1– Essa valiosa raridade histórica pertence à CAIO e poderá ser transformada em disputada atração turística em Botu catu em uma parceria CAIO/Prefeitura
2– O Papa João Paulo II quando visitou o Brasil?Rio de Janeiro fez questão de ouvir e prestigiar o cantor Roberto Carlos 3– O turco Mehmet Ali Agca que em 1981 atentou contra a vida do então papa, recebeu na prisão romana de Rebbibia o sumo pontífice que o perdou... E 31 anos depois dessa visita, o ex-terrorista foi ao túmulo do santo polonês levar flores...
JOÃO PAULO II

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