Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ANO II
Nº 608
QUARTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2022
Vamos relembrar
Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes completaria 110 anos no dia de hoje, 19 de outubro. “Vamos relembrar Vinicius de Moraes, por Luiz Claudio de Almeida. Página 2
AVENIDA CONDE DE SERRA NEGRA Novo paisagismo completa a eficiente ação pública para recuperar e destacar toda uma região com novo visual, amplas e seguras avenidas e um paisagismo que vem marcando a cidade de Botucatu por suas entradas floridas e bem apreciadas por todos que chegam à Cuesta de Botucatu. O paisagismo ainda está em execução, mas já dá para ver o formato da bandeira de Botucatu na nova rotatória da avenida. Em breve, teremos a inauguração da nova AVENIDA CONDE DE SERRA NEGRA.
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ARTIGO
Vamos relembrar Vinicius de Moraes Luiz Claudio de Almeida Amigo de Vinícius de Moraes desde o final dos anos 40, quando o poeta começou a trabalhar como jornalista e, logo depois, publicou “Antologia Poética” e escreveu a peça “Orfeu da Conceição” – encenada oficialmente, no Teatro Municipal, em 1956, o produtor, jornalista, ator e diretor Haroldo Costa começou a produzir um projeto para que as crianças e adolescentes das escolas públicas do Rio de Janeiro tenham acesso aos livros do grande escritor, que, além de poesias antológicas e boa literatura, deixou composições inesquecíveis, em parceria com Tom Jobim, Toquinho, Chico Buarque, Baden Powell, entre outros. O nome do projeto é “Vamos relembrar Vinicius de Moraes “, diz Haroldo Costa, 91 anos. “Eu sempre recorro a Vinicius de Moraes para me inspirar e não parar de produzir, mesmo na pandemia. Além do projeto, que deverá ser lançado em 2022, ou no início de 2023, haverá uma grande homenagem ao poeta, dia 21 de outubro deste ano, no Fim de Tarde, no Teatro João Caetano. Vinicius completaria 109 anos no dia 19 de outubro. Eu, que sempre comemorei, ao lado dele e de outros amigos queridos, alguns aniversários de Vinícius de Moraes, convidei Marcel Powell para interpretar o Samba da Bênção, a música citada pelo Papa Francisco, quando leu, em encíclica de outubro do ano passado, um trecho da letra, que afirma ‘A vida é a arte do encontro’, embora haja tantos desencontros pela vida”, explicou Haroldo Costa. As comemorações em torno de Vinícius de Moraes incluirão, ainda, a leitura de poemas marcantes, como
“Para viver um grande amor”, e, ainda de trechos da peça “Orfeu da Conceição”, escrita pelo grande poeta no final dos anos 40 e lançada há 25 anos atrás no Teatro Municipal, com o próprio Haroldo no papel principal e a participação de Abdias Nascimento, Ciro Monteiro, Ruth de Sousa, Lea Garcia, do campeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, entre outros, no elenco. ” No show do dia 21 de outubro, teremos outros artistas queridos , que vão interpretar músicas da parceria entre o grande poeta e Tom Jobim para Orfeu da Conceição”, diz Haroldo. Amigo de Vinícius daquele tempo de muita criação, Haroldo Costa lembra como surgiu o convite de Vinícius de Moraes para Tom Jobim ser o seu parceiro, em 1956: “Estávamos todos no bar Vilarino, que existe até hoje, no Centro do Rio de Janeiro. Vinicius, eu e o jornalista Lucio Rangel. Acertamos tudo. Mas, Vinicius disse para o Lucio Rangel que só faltava um pianista, que entendesse de partituras, para musicar as letras que ele escreveu para homenagear o negro brasileiro e a cultura afro. Lucio Rangel olhou para a mesa ao lado . E, ali estava Tom Jobim, pianista que costumava sobreviver através de apresentações em boates de Copacabana, e que não tinha dinheiro nem para pagar o uísque. Lucio Rangel disse a Vinicius, apontando para Tom Jobim, que já tinha ouvido o jornalista Sergio Porto – seu primo-irmão- falar muito bem daquele músico. Vinicius apresentou-se a Tom Jobim e perguntou se ele gostaria de musicar sua peça. E foi que, então, Tom respondeu a Vinicius: Rola um dinheirinho aí? Vamos relembrar tudo isso. Vinicius precisa ser relembrado sempre”, concluiu.
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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CONDE DE SERRA NEGRA
Maior Produtor de Café do Brasil na Monarquia e na República! O Conde de Serra Negra, tinha “status” e poderio econômico: tinha 15 fazendas de café no Estado de São Paulo e no Rio de Janeiro. De tradicional família paulista, era filho do Barão de Serra Negra que além de grande proprietário rural e produtor de café, era Presidente do Banco de Piracicaba, por ele fundado e benemérito da Santa Casa de Misericórdia, tendo até um bairro (Bairro de Serra Negra) em homenagem à família. O Conde de Serra Negra era genro do Barão de Valença (da família Resende) um dos maiores produtores de café do Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, o Conde tinha mais de 2 milhões de pés de café em suas fazendas no Estado de São Paulo e nas fazendas da família no Rio de Janeiro atingia o total de mais de 4 milhões de pés de café. Era o maior produtor e exportador de café do Brasil. Tinha em Paris, além de sua suntuosa mansão, uma moderna torrefação com depósito e distribuição do produto na França e nos países da Europa. O Conde passava seis meses
na Europa e seis meses no Brasil, visitando suas propriedades, enquanto a Condessa cumpria as suas obrigações sociais e assistenciais na Corte, no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde a família convivia com o Poder Político e com os grandes financistas paulistas. No ano de 1887, o Conde de Serra Negra mantivera seguidos contatos com o Barão de Parnaíba, Presidente (governador) da Província Paulista, obtendo a promulgação da Lei que autorizava a extensão do traçado da SOROCABANA (Lei nº 25, de 19/03/1887), até Botucatu e São Manuel... A visão de Estadista do Conde de Serra Negra, alertou o mundo oficial brasileiro para a crise do café. Antes de 1910, o Brasil começara a acusar um descontrole em sua política cafeeira, com os portos estocando cada vez mais o excedente da produção, processo que iria culminar com a crise de 1929/30. Era o fantasma da superprodução provocando o declínio dos preços e a triste realidade dos estoques encalhados de café...
E o poderio econômico do Conde começava a ser implacavelmente minado... Uma a uma as fazendas iam se acabando no acerto inadiável dos débitos assumidos e sempre honrados. Uma das últimas foi a Fazenda do Conde Serra Negra, no Distrito de Vitoriana, no município de Botucatu...Essa última perda não foi presenciada pelo Conde. Ainda bem... O PERFIL MÁGICO DO CONDE! Assim, o Conde de Serra Negra, sempre sem qualquer vínculo com o mundo político oficial, continuou a “acompanhar” o crescimento de Botucatu e a evolução de sua gente: esteve com o Monsenhor Ferrari em Roma batalhando pela criação da DIOCESE DE BOTUCATU, concretizada em 1908. O Monsenhor Ferrari, grande batalhador, foi o idealizador e responsável pela criação da Diocese de Botucatu. O Conde tinha uma amizade sincera com o comerciante português Antonio Cardoso de Almeida. Pois bem, essa amizade
iria levar o Conde a uma série de novas amizades, todas elas ligadas por parentesco com o chefe do clã dos Cardoso de Almeida. Assim, foi com o Monsenhor Ferrari que era cunhado de Dona Alcinda Cardoso de Almeida Ferrari. E Estevam Ferrari e Dona Alcinda tiveram um filho, Alcides de Almeida Ferrari que se formou advogado na São Francisco, tendo sido vereador e promotor em Botucatu, ingressando posteriormente na Magistratura onde chegou a Desembargador e Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
A famosa Fazenda do Conde de Serra Negra sendo visitada pelos integrantes do “Grupo Papa Trilhas” e, em um segundo momento, já sendo restaurada pela Usina São Manuel, atual proprietária. Este último registro feito por mim, pelo Valdemar Juliani e pelo Antoninho Sanches (Grupo Papa Trilhas) que também estiveram na visita anterior.
Majestoso portão de entrada, encimado pelas estátuas das estações do tempo (Botucatur).
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HERNANI DONATO: CENTENÁRIO DE NASCIMENTO E MINHAS MEMÓRIAS
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NANDO CURY O escritor, historiador, publicitário, jornalista, roteirista e multicriativo Hernâni Donato nasceu em 1922. No mesmo ano da Semana de Arte Moderna, no mesmo dia 12 de outubro de Nossa Senhora Aparecida, da criança e dia mundial da leitura. Foi o filho mais velho de Adélia e Antonio Donato. Como neto mais velho e primeiro sobrinho de Hernâni, e talvez por isso, tive o privilégio de desfrutar bom tempo de sua adorável companhia. Acompanhou meu nascimento, ao lado de papai e da irmã Helena. Me contou em detalhes como cheguei ao mundo, numa noite de tempestade em Botucatu. Tive dele um livro dedicado, a biografia de Raposo Tavares. Nos anos 50, tio Hernâni já estava em São Paulo, trabalhando firme. Mas, nos finais de semana costumava viajar pra Botucatu pra rever pais, familiares e amigos. Lá íamos pra casa dos meus avós para nos encontrar com ele. E então, virou costume acompanhá-lo nas suas andanças pela cidade. Hernâni gostava de terras. Chegou a viver temporadas em zonas rurais paulistas, paranaenses e matogrossenses, de onde se inspirou pra escrever seus mais famosos romances Chão Bruto e Selva Trágica, cujas tramas versam, respectivamente, sobre a luta por terras, durante a construção da Estrada de Ferro Sorocabana e a situação dos trabalhadores explorados na extração da erva mate na fronteira Brasil-Paraguai. Teve sítios e uma chácara no bairro do Lavapés, com um lindo pé de Jatobá, uma bica da qual tomávamos água em coração de bananeira. Mas, o mais legal era ouvir suas curiosas histórias, enquanto rodávamos pela cidade. Fui colecionando também os seus inúmeros livros. De repente os romances Chão Bruto e Selva Trágica viraram filmes. E Hernâni estava lá no meio das filmagens, participando dos roteiros e diálogos. Segui acompanhando sua trajetória como destacado publicitário de planejamento e atendimento na Standard, Almap e Norton, que figuravam entre as maiores agências do Brasil. Depois Hernâni foi escrever roteiros para programas de TV como “Do Zero ao infinito” na TV Record. Ao mudarmos pra São Paulo, no começo dos anos 70, fo-
mos morar próximos de sua casa no bairro das Perdizes. E ele continuou sua brilhante carreira, então como relações públicas, assumindo a diretoria da Editora Abril, Visão, Copersucar e Melhoramentos. Assim, no momento de decidir minha profissão, foi com ele que me aconselhei, tirei as dúvidas para optar pela Publicidade. Quando me iniciei como redator, ao criar meus primeiros contos e crônicas, fui ouvir sua opinião, para saber os melhores caminhos para o meu texto. Hernâni gostava de música clássica e música de raiz brasileira. Foi também um irmão e cunhado muito carinhoso, estava sempre presente na casa de meus pais. E contando em primeira mão – que honra a nossa – sobre cada novo lançamento de livro, nova revista, palestra ou viagem na qual representaria o país culturalmente. Assumiu a Academia Paulista de Letras, depois a presidência do Instituto Histórico e Geografico de São Paulo, a Academia Botucatuense de Letras. Recebeu inúmeros prêmios, como o Clio, Personalidade do Ano e Saci. É de cerca de 100 o número de suas obras, incluindo livros, como romances (Filhos do Destino, Chão Bruto, Selva Trágica), contos (Babel, Os Contos Muito Humanos), infanto-juvenis (Contos dos Meninos Índios, A Descoberta das Frutas, As noivas da Estrela), dicionários (Dicionário das Batalhas Brasileiras), biografias (José de Alencar, Vital Brasil), historiografias (Achegas para a História de Botucatu, Sumé e Peabirú, Brasil 5 Séculos, A Revolução de 32) , além de traduções comentadas (Divina Comédia de Dante Alighieri), ensaios, mitologias, coautorias e outros. Em 22 de novembro de 2012, Hernani Donato faleceu aos 90 anos. E deixou ainda uma receita de que o trabalho faz bem pra longevidade. Até nos últimos meses de vida, vestido com seu impecável terno, gravata e icônico suspensório, guiou seu Vectra preto até a Editora Melhoramentos, para cumprir 8 horas dedicadas a assuntos de editoração, redação e relações públicas. Todos os dias, após o almoço e por exatos 20 minutos, era respeitada a sua sesta na empresa. Como bom descendente italiano, Hernani esticava-se sobre o aconchegante tapete de sua sala para repousar. E, enquanto repousava, “imaginava-imaginando” seu próximo livro, palestra, anúncio, matéria, prefácio, excursão, viagem...