Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ANO II
Nº 614
QUARTA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2022
Darcy Ribeiro e O Povo Brasileiro! Todos que passamos pela Escola de Sociologia & Política de São Paulo, temos orgulho do mais famoso ex-aluno – o Mestre Darcy Ribeiro ! Nascido a 26 de Outubro, o antropólogo, político e escritor Darcy Ribeiro soube, com maestria, construir a obra “O Povo Brasileiro”, onde destaca a mistura, a miscigenação dos brasileiros que encanta o mundo e nos transforma no país destinado a liderar as grandes transformações da humanidade. Página 2
Oncotô? & O Amálgama do Povo Brasileiro! ONCOTÔ? ONCOTÔ? ONCOTÔ?
George Mautner é entusiasta: “O Brasil é o continente indicado há muito tempo. Todas as profecias falam isso. Rabindranath Tagore (filósofo indiano) dizia que “a civilização superior do amor nascerá no Brasil”. Jacques Maritain (filósofo francês) dizia que “o único lugar onde a justiça e a liberdade poderão aflorar juntas é o Brasil”. Stefan Zweig escreveu no século 19 o livro “Brasil, o País do Futuro” Página 3
SUCESSO! VITÓRIA!
As Campeãs de Botucatu Na Expo Brotas 2022, a grande vitória das irmãs Savini! Carolzinha foi Campeã na disputa Mirim com sua égua Fit. Sendo que Ana Laura foi a Grande Campeã no Aberto com Ordeme a Gold e Campeã no Feminino com a Noa Carat Roll… Parabéns Campeãs e obrigado a todos patrocinadores, pois sem eles, nada disso seria possível AVANTE!
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Diário da Cuesta
Darcy Ribeiro e O Povo Brasileiro!
“...ficam vocês encarregados de fazer esse país dar certo! Façam, mas sem copiar ninguém. Usem as potencialidades do nosso povo, que são imensas! Somos uma civilização tropical, mestiça, mas sobretudo humana”. Darcy Ribeiro
Há muitos anos sem o EDUCADOR/REALIZADOR – DARCY RIBEIRO! –, o Brasil sente a sua falta, e “O POVO BRASILEIRO” ao qual ele dedicou todo o seu entusiasmo e experiência, representa sua última obra, na qual procurou dar a sua visão do povo brasileiro, destinado a ser a grande civilização mestiça e tropical a encantar e ter papel decisivo no concerto das Nações! Nascido em Montes Claros, nas Minas Gerais (26/10/1922), Darcy tentou durante 3 anos ingressar na Faculdade de Medicina. Conseguiu. Mas já estava entusiasmado pela área de humanas, vindo a estudar e se formar pela ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO (1946). Em seguida, contratado pelo Marechal Rondon, passou a estudar a cultura indígena. Ficou tão entusiasmado que ficou até 1956 com os índios no Pantanal. Criou o MUSEU DO ÍNDIO e formulou o projeto de criação do PARQUE INDÍGENA DO XINGU, onde viria a realizar um inestimável trabalho junto com os Irmãos Villas Boas. Nessa época, passa a colaborar com o grande educador Anísio Teixeira, no Ministério da Educação, quando Juscelino Kubischetck os convida para criarem a Universidade de Brasília- UNB, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. No Governo Jânio Quadros é mantido à frente do Projeto Indígena do Xingu e no governo de João Goulart é sucessivamente, Ministro da Educação, Ministro Chefe da Casa Civil, tendo tido a oportunidade de concretizar seu projeto de criação da UNB e de ser seu 1º Reitor (1962/63). Com o Regime Militar vai para o exílio e vive em vários países. Primeiramente no Uruguai, onde assume cargo na Universidade. Darcy sempre destacou que nesse aspecto, o exílio lhe fora leve, pois sempre era convidado, nos diversos países, para fazer parte das suas universidades. Dizia que o brasileiro quando sai do país, exilado, é que tem a grande oportunidade de ver e valorizar a sua Pátria.
Trabalhou com o General Alvarado, no Peru (nacionalista e que tinha uma visão adequada para o destino da América Latina). No exterior teve participação efetiva na criação da Universidade Peruana, a pedido do General Alvarado (1974) e, no México, a pedido do presidente Echeverria, implantou (1974) a UNIVERSIDADE DO TERCEIRO MUNDO, com o prestigiado Centro de Estudos do Terceiro Mundo. Em 1979, é agraciado em Paris, com o título de DOUTOR HONORIS CAUSA pela SORBONNE. Em 1980, integrou o 4º Tribunal Russel, em Haia/Holanda, para julgar os crimes contra as populações indígenas. Voltando do exílio em 1976, é eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro, quando Leonel Brizola se elege governador (1982). Acumula a Secretária da Cultura e idealiza com o arquiteto Oscar Niemeyer os famosos CIEPs - Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio Teixeira! Idealizou juntamente com Niemeyer o SAMBÓDROMO e, como sua última REALIZAÇÃO como educador, idealizou e implantou a UNIVERSIDADE DO TERCEIRO MILÊNIO (Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos), voltada à área tecnológica, de modo especial dedicada ao setor petrolífero. MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA A convite do Governo de São Paulo (Governador Orestes Quércia/Secretário da Cultura, Fernando Morais), Darcy Ribeiro idealizou e o arquiteto Oscar
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
WEBJORNALISMO DIÁRIO
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Niemeyer projetou a majestosa obra do MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA, com auditório, biblioteca, salas de reunião, centro de convenção e salão para exposições e eventos. Em 1992 é eleito para a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS e volta a se eleger Senador, em 1994. Em seus últimos anos, idealiza a UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, com cursos de educação à distância; e idealiza a ESCOLA NORMAL SUPERIOR, para formação de professores do 1º grau. Esse foi o Homem. Esse foi o Educador. Esse foi DARCY RIBEIRO! (AMD) COMENTÁRIO: Coincidentemente, em 1969, eu escrevia uma coluna diária no jornal “COMÉRCIO&INDUSTRIA”, do grupo City/Shopping News. E no artigo “Nova Dimensão”, ao abordar a situação dos países da América do Sul, focalizei a situação peruana, onde um governo revolucionário estava realizando importantes avanços para o país, notadamente no setor educacional. E o intelectual escolhido para reformular com ousadia a universidade peruana, foi o educador brasileiro, no exílio, Darcy Ribeiro. Vamos a um trecho do artigo. É REGISTRO HISTÓRICO: “A América Latina transforma, aceleradamente, todas as suas estruturas; e rompe velhos conceitos; e reestrutura velhas e arcaicas concepções de governo. No Peru tivemos o exemplo: um militar, pela revolução, tomou o poder; até aí, nada demais. No entanto, o General Alvarado, estando no poder, conseguiu o que, até os nossos dias a esquerda alienígena tenta negar: o apoio incontestável e global de toda a população peruana. Conseguiu, e isto é muito importante, com que fosse por água abaixo a errônea concepção de que o militar dá para tudo, menos para governar. O General Alvarado está, patrioticamente, impondo-se ao respeito de todas as nações do mundo. Ele teve a coragem de negar, veementemente, ao Peru, uma posição subalterna de país de 2ª. classe. Na autodeterminação dos povos, assenta a sua posição nacionalista e revolucionária.” (AMD)
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Oncotô? & O Amálgama do Povo Brasileiro! ONCOTÔ? ONCOTÔ? ONCOTÔ?
Operários, obra/1933 de TARSILA DO AMARAL Tem despertado as atenções da “intelligentzia brasileira” a série de programas da TV Pública Brasileira (TV BRASIL), idealizada pelo compositor, violinista, poeta, escritor e cantor carioca, Jorge Mautner (nasceu Henrique George Mautner, filho de Anna Illichi, de origem iugoslava e católica, e Paul Mautner, judeu e austríaco. “Eu nasci aqui um mês depois de meus pais chegarem ao Brasil fugindo do holocausto”). É a série “AMÁLGAMA BRASILEIRA”, que mostra de norte ao sul do país o amálgama do povo brasileiro. Único. Mágico. Encantador! Através de intervenções poéticas e da fala de eruditos e populares, podemos encontrar exemplos destas misturas que compõem a nação brasileira. É um “mochilão cultural”. A idéia foi justamente reunir pessoas interessantes e interessadas que fossem atrás desse tesouro cultural brasileiro. Corruptela de “onde é que eu estou”, “Oncontô” passeia por diferentes cidades dos estados do Ceará, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul. Em episódios, a série revela curiosidades da História Brasileira, do nosso folclore, das músicas regionais e das ricas características deste imenso país. As edições serão temáticas e falarão de assuntos como maracatu, tambores, festas religiosas e artesanato. Mautner é entusiasta: “O Brasil é o continente indicado há muito tempo. Todas as profecias falam isso. Rabindranath Tagore (filósofo indiano) dizia que “a civilização superior do amor nascerá no Brasil”. Jacques Maritain (filósofo francês) dizia que “o único lugar onde a justiça e a liberdade poderão aflorar juntas é o Brasil”. Stefan Zweig escreveu no século 19 o livro “Brasil, o País do Futuro”. Já é isso agora. “A nova era nascerá no Brasil... isso se realiza agora... porque nós temos um País que é
continente, e o mundo todo quer ser brasileiro...” Em Portugal, eles já tinham essa visão ecumênica, resultante da influência muçulmana e do fato de serem muito pequenininhos e quererem se separar (da Espanha). Até mesmo as navegações só tiveram sucesso porque Portugal foi o único país que, em segredo, acolheu os Templários, que estavam sendo queimados como heréticos na frente da Igreja. Portugal os acolheu com um pequeno truque, que já é uma amálgama: mudou o nome deles para Cavaleiros de Cristo. Com a chegada dos Templários, os portugueses dão um salto, porque toda aquela sabedoria que eles tinham das culturas antigas da Grécia, da Cabala Judaica, da Babilônia, da China e da África passaram para o espírito da Coroa Portuguesa. “O processo de “brasilificação” está em avanço absoluto. Não há dúvida. É por isso que a Copa do Mundo vai ser aqui, as Olimpíadas também e o Papa virá novamente. O Brasil é a esperança concreta do século 21. Temos as florestas, o petróleo e outras riquezas, mas a maior de todas é o povo brasileiro, com essa amálgama.” Mautner diz que “o termo foi usado pela primeira vez por José Bonifácio. Em 1823, ele já dizia que, “diferente de todas as outras nações, o Brasil era essa amálgama”. É um conceito químico para a combinação de metais que cria um novo metal. Exatamente o que aconteceu aqui e que dá ao brasileiro uma capacidade de reinterpretar a cada segundo tudo novamente e, incluindo posições contrárias e opostas, alcançar o caminho do meio, o equilíbrio”. E amálgama, além de mistura química, uma liga de metais, significa mistura de pessoas ou coisas heterogêneas. “Agora explodiu a democracia mesmo, pulsante. A humanidade precisa do Brasil não apenas para comer, para tomar água, mas para viver no nosso espírito. Para se sentir otimista, para poder ter força e dar a volta por cima”, diz com entusiasmo Mautner. “Além de nossas florestas para respirar!”
O GRANDE TEÓRICO DO POVO BRASILEIRO: DARCY RIBEIRO! Toda essa pregação sobre o amálgama brasileiro “é a mistura, a miscigenação, a alquimia constante que faz com que o brasileiro consiga reinterpretar tudo num segundo e absorver pensamentos contrários, alcançando o caminho do meio. Isso é fruto da nossa ancestralidade indígena. Da cultura negra que inventou os arquétipos antes de Jung e colocou vários cérebros na nossa cabeça, e também dos portugueses, que ao receberem os templários deram um salto. Isso tudo se reflete aqui, nessa amálgama, que é o que o mundo deseja para a sobrevivência da espécie.” Darcy Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil. Formou-se em Antropologia em São Paulo, pela Escola de Sociologia e Política (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do
Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e Darcy Ribeiro deixou uma obra magnífica. Em seu último trabalho, no qual dedicou todo o seu entusiasmo e sua vasta experiência, “O POVO BRASILEIRO”, ele nos deu o perfil, o retrato do povo brasileiro, destinado a ser a grande civilização mestiça e tropical a encantar e ter papel decisivo no concerto das Nações! E é com entusiasmo que temos acompanhado o trabalho intelectual e musical de Jorge Mautner. Ao levar o “Oncotô?” em uma bem elaborada série televisiva, vai consolidando o amálgama do povo brasileiro, ou seja, é a mistura, a miscigenação dos brasileiros que encanta o mundo e nos transforma no país destinado a liderar as grandes transformações da humanidade. (AMD)
COMENTÁRIO: Desde a obra de Darcy Ribeiro, toda ela calcada em cima de experiência vivida, sofrida e profundamente estudada, passando pelos folcloristas Câmara Cascudo e Alceu Maynard Araújo, pelo sociólogo Gilberto Freire (“Casa Grande & Senzala”), pela antropóloga Ruth Cardoso e pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso que deixou a lição para o Brasil que “depois da “mancha negra” da escravidão ainda temos a “mancha cinza” dos “bolsões de pobreza” a envergonhar o Brasil. E a Semana de Arte Moderna de 1922, marcando com originalidade a cultura brasileira, tendo à frente Mário de Andrade (“Macunaíma”, um romance do multiculturalismo brasileiro) e Oswald de Andrade. Passando por toda literatura regional do Brasil e indo até Vinicius de Moraes (poeta e diplomata, o branco mais preto do país), que retratou a nossa miscigenação e que Mautner disse que “basta lembrar que foi um eflúvio poético nosso – do poeta Vinicius de Moraes – que fez a mãe do Obama perceber que podia se casar com alguém de outra etnia. Vinicius, o poeta branco mais negro do Brasil, colocou a Grécia ali no morro carioca e, negra, na escola de samba, em “Orfeu do Carnaval”. Quando a mãe do Obama assistiu ao filme, ficou enlouquecida. Nunca tinha pensado em se casar com homem de outra etnia. Três dias depois, conheceu um filósofo do Quênia em uma conferência em Washington. Eles se casaram e tiveram o Obama. Depois, quando Obama foi entrevistado pela primeira vez na candidatura à presidência norte-americana, perguntou ao jornalista: “Você é de onde?”. “Brasil”. Aí ele disse: “Pois eu também sou brasileiro!”. Depois, quando o Itamaraty foi se apresentar ao candidato, ele disse que era baiano. É isso. Todo mundo quer ser brasileiro”. Espero que o “ONCOTÔ?” mostre a todos os brasileiros, cada vez mais – com orgulho! – a pujança da nossa raça e confraternização entre as mais variadas etnias que encontraram, neste país, o local ideal para o ALMÁGAMA do POVO BRASILEIRO! (AMD)
Diário da Cuesta
PELAS RUAS, AVENIDAS, LARGOS E PRAÇAS DE SAMPA
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NANDO CURY
É tradição? É história? É charme? É conteúdo? Quais são os motivos que tornam famosas as vias da cidade de São Paulo? E mais, contribuem para que elas ganhem versos e melodias. A Rua Augusta dispara como a via mais citada. Na época da Jovem Guarda, a Augusta traz badaladas galerias, lojas finas de roupas e de sapatos sob medida. Nos finais de semana vira a rua da paquera nos desfiles de carros. Alguns pilotos mais arrojados, com suas turminhas do barulho, ousam correr de forma totalmente deselegante na elegante via. A exemplo do “ousado” Ronnie Cord que em 1963, faz sucesso com “Rua Augusta” (Hervé Cordovil).” “Entrei na Rua Augusta a 120 por hora / Botei a turma toda do passeio pra fora / Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina / Parei a 4 dedos da vitrina / Hay Hay Johnny / Hay Hay Alfredo / Quem é da nossa gang não tem medo”. Em 1970, a Augusta ainda está na moda. E é citada pelos Mutantes na música “Hey Boy” (Arnaldo Baptista, Élcio Decário) : “He he he hey boy. O teu cabelo tá bonito hey boy. Tua caranga até assusta hey boy. Tchu aa uu.. Vai passear na rua Augusta tá. He he he hey boy. Teu pai já deu tua mesada, hey boy. A tua mina tá gamada hey boy”. Entretanto, em 1973, numa canção bem humorada e resolvida, a rua Augusta divide o seu protagonismo com duas ruas vizinhas e, do mesmo modo, cheias de requinte. Uma tal de Avenida Angélica, que tem o Parque Praça Buenos Aires e é a principal via do bairro de Higienópolis. E outra que é metade rua e metade Avenida. A “sereia” Consolação, com seus históricos Cemitério, Igreja, a Praça Roosevelt e a Biblioteca Mário de Andrade, no número 94. A canção é “Augusta, Angélica e Consolação” do inusitado Tom Zé. “Augusta, graças a deus. Graças a deus. Entre você e a angélica. Eu encontrei a consolação. Que veio olhar por mim E me deu a mão”. Na sua visão de “Sampa”, onde então morava em 1978, Caetano Veloso menciona duas avenidas da cidade: Ipiranga e São João. “Alguma coisa acontece no meu coração. Quando eu cruzo a Ipiranga e a Avenida São João”. Em outro momento põe a frase “dura poesia concreta de tuas esquinas”, que levam aos símbolos arquitetônicos dessas importantes avenidas, que se cruzam no centro de São Paulo. No quarteirão desse cruzamento, com frente para a Avenida São João, no número 677, fica a antiga casa onde funciona o tradicionalíssimo Bar Brahma, símbolo da boemia paulistana, inaugurado em 1948. Seguindo pela Avenida Ipiranga, no número 200 tem o Edifício Copan, projeto de Oscar Niemeyer e no número 344 está o belo Edifício Itália, com seu mirante e restaurante do Terraço Itália. Continuando pela Avenida São João em direção ao bairro, chega-se ao grande Largo do Arouche, que vai da Av. São João até a Avenida Duque de Caxias. E abriga tradicionais estabelecimentos comerciais como o Mercado das Flores, o restaurante francês Le Casserole e o italiano Gato que Ri. Além do prédio
que sedeia a Academia Paulista de Letras. Enveredando pelo estilo Língua de Trapo, o cantor Criolo conta uma intrigante história que se passa nesse local, na música ”Freguês da Meia Noite”, de 2011. “Meia Noite. Em pleno Largo do Arouche. Em frente ao Mercado das Flores. Há um restaurante francês. E lá te esperei. Meia Noite. Num frio que é um açoite. A confeiteira e seus doces. Sempre vem oferece. Furta-cor de prazer” Adoniran sempre desenvolveu canções com temas bem paulistanos. Em 1976, traz “Um Samba no Bixiga”, que relata uma confusão de um conhecido seu, chamado Nicola, que mora na Rua Major Diogo. “Domingo nós fumo num samba no bexiga / Na rua major, na casa do Nicola / À mezza notte o’clock / Saiu uma baita duma briga / Era só pizza que avuava junto com as braxola”. Dois anos “despois”, Adoniran lança “Praça da Sé”, na reinauguração do local, já como estação de metrô, com uma letra na qual reclama do progresso e conta das coisas que se perderam com a reforma. “Da nossa Praça da Sé de outrora / Quase que não tem mais nada / Nem o relógio que marcava as horas / Pros namorados / Encontrar com as namoradas”. Cabe ao disruptivo Itamar Assumpção a inclusão musical da Avenida Paulista. As atrações da avenida das avenidas entram no estranho enredo do seu “Sampa Midnight”, de 1983.” “Sampa midnight / Eu assessorado de mais dois chegados / Bartolomeu e Ptolomeu / Partimos pra comemorar / Não lembro o que numa boiate / Escabrosa noite / Deu blackout na Paulista / Breu no Trianon / Cadê o vão do museu, sumiu / Meu Deus do céu que escuridão”. NOTA Ouça o podcast de PELAS RUAS, AVENIDAS, LARGOS E PRAÇAS DE SAMPA após o meio dia da segunda-feira, no Semônica, no podcastmais.com.br