



O próximo dia 23 de novembro, mar ca a comemoração do centenário de nas cimento do escritor botucatuense Fran cisco Ferrari Marins. Homem do interior, oriundo de Vila da Prata, na época, munícipio de Botucatu, o escritor Fran cisco Marins cresceu em permanente contato com a sua terra. Hauriu, desde a infância, os eflúvios sadios das matas e das plantações de café. Impregnou-se de força telúrica. Es cutou, atento, as “estórias” daqueles lugares, trans mitidas pela tradição oral.
Antes de tudo, acima de tudo, Francisco Marins foi um panteísta. A sua trilogia “Clarão na Serra”, “Gro tão do Café Amarelo” e “E a Porteira Bateu. . .” é a odisseia dos atrevidos pioneiros que se internaram no sertão bruto, à cata de riquezas e aventuras. Mas também esta história plena de movimento, de ação, de lutas, constitui uma rapsódia, a rapsódia das energias jovens, da mocidade que se levanta para a conquista da vida e do amor.
A terra, na concepção de Francisco Marins , não é uma entidade meramente simbólica, mas sim uma criatura viva, palpitante e pura. Quem lê as obras de Francisco Marins , sente que o autor amou os costumes rústicos, as plantações ondulantes de cafezais, a natureza livre, viçosa, em estado selva gem.
Já no tempo em que era redator da “Folha de Bo tucatu”, Francisco Marins começou a escrever, neste jornal, uma série de “Contos Sertanejos”, narrativas ainda um pouco ingênuas e algo romanescas, que re velavam, entretanto, um prosador espontâneo, corre to e agradável.
Aos seus primeiros estudos críticos, publicados no mesmo órgão, ele forneceu o título de “Pitangas e Ga birobas”, que bem reflete a feição nacionalista de sua alma brasileira.
Francisco Marins apanhou diretamente da reali dade as figuras que andam pelos seus livros. Seguiu o processo de Dickens, inspirando-se em sua infância para escrever “David Copperfield”. Aliás, são inúme ros os ficcionistas que insuflaram, desta maneira, san gue e nervos aos seus personagens.
Os tipos criados pelo escritor, foram colhidos da própria vida. O autor confessou-nos que ouviu, da boca do seu pai, muitas histórias que decorrem entre os rios Tietê e Paranapanema, na região que começa pelas verten
tes da Serra de Botucatu.
Isto, acrescenta-lhe maior valor, pois misturando a fic ção com a realidade é possível criar obras impressionantes, duradouras, como fez Dostoievski com as suas “Recorda ções da Casa dos Mortos”, Raul Pompéia com o “Ateneu” e Lima Barreto com as “Recordações do Escrivão Isaias Caminha”.
A obra desse valoroso escritor patrício, no fundo, é uma obra épica, um largo painel onde se retrata toda a pujança de um povo másculo, tenaz, idealista, corajoso, que sempre achou que as dificuldades nasceram para serem vencidas e não para nos vencerem
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
Vida e obras de Francisco Marins
Francisco Marins nasceu em 1922 na cidade de Botucatu, Distrito de Pratania, no Estado de São Paulo. Viveu toda a sua juventude em uma propriedade rural, de onde sairia a sua inspiração para relatar nos seus romances as histórias do interior paulista. A sua vasta produção literária também percorre o campo da literatura in fanto-juvenil, que igualmente aos roman ces, busca apresentar a paisagem física e social do interior do Brasil na época do seu desbravamento.
Francisco Marins inicia a publicação da “Saga do Café” em meados dos anos 60, com o lançamento do primeiro romance, Clarão da Serra; em seguida vieram Grotão do café amarelo,... E a porteira bateu! e Atalhos sem fim, este último publicado nos anos 1980. Já relacionando memória, histó ria e literatura, pergunta-se o que levou Ma rins a produzir a sua última narrativa sobre o “ciclo do café” paulista somente vinte anos após o primeiro volume da série.
Ao analisarmos essa coleção de roman ces, percebemos que o autor segue uma ordem cronológica em relação aos elemen tos históricos que moldaram o processo de transformação da paisagem do oeste pau lista. No primeiro livro, de 1963, Marins mostra ao leitor, através das brigas por ter ra entre os personagens protagonistas, José Gomes e Espiridão Correia, como se iniciou o desenvolvimento da cultura cafeeira no oeste paulista e como se deu a ocupação desse espaço. Em meio a esses fenômenos históricos, o autor também faz menção à abolição da escravatura, em 1888, que vai acarretar na vinda de imigrantes para o país e as consequências políticas, econômicas e sociais do período regencial do Brasil.
O trabalho de Lucia Luppi Oliveira (2001) “O Brasil dos imigrantes”, nos aju da a ter uma visão histórica da situação do Brasil após a abolição. Quando relacionado o estudo dela com a de Francisco Marins, percebemos o quanto o nosso literário buscou fazer do seu romance uma fonte
histórica. Em vários momentos, as obras se complementam, reforçando a relação entre história, literatura e ensino.
No caso brasileiro, durante o século XIX, a entrada de imigrantes aconteceu voltada para dois focos: a pequena propriedade agrí cola principalmente nos estados do Sul, e as fazendas de café no Oeste paulista, onde eram empregados como mão-de-obra.
No segundo livro, de 1964, o autor mostra as primeiras consequências que a produção do café na região estava pro porcionando à fictícia vila de Santana e ao país. Santana co meça a urbanizar-se lentamen te, com a construção de mais casas e comércios, pois a vila tinha que apresentar estrutura para poder comercializar o pro duto que se tornara a base da economia brasileira. As princi pais discussões nesse período permeavam o fim da escravi dão no país, a consolidação da República, o auge da economia cafeeira e a ampliação da rede ferroviária. Marins procura in serir os seus personagens nas discussões políticas, sociais e econômicas do período, como também expressa em números à pro dução do café da época. É dessa forma que nos deparamos com políticos, jornalistas, revolucionários e outros que se preocupa vam com o futuro da nação.
No terceiro livro da coleção, de 1968, temos uma alusão maior da construção da rede ferroviária no interior de São Paulo, percebemos que sua constituição estava atrelada à expansão cafeeira, assim como à definição de suas rotas. A linha ferroviá ria apresentou grandes dificuldades para a permanência dos índios nas suas regiões de origem, pois muitas matas foram devasta das para que as redes ferroviárias fossem construídas. Isso provocou constantes con flitos entre as tribos indígenas e os operá rios que trabalhavam na construção. Marins nos mostra o quanto que a população do interior paulista aumentou significativa mente após a instalação do transporte fer
roviário, trazendo modificações expressivas na paisagem de Santana. A historiografia reafirma o que o romance expressa.
A última obra da coleção, de 2004, aborda o impacto da decadência do café no Brasil e o aparecimento de outros recur sos econômicos. O autor vai esboçando as alterações que as crises políticas e sociais acarretaram no país, dando origem à Revo lução de 1924. Neste livro, o escritor tam bém faz menção ao papel político e social do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), onde pode mos perceber que o autor indiretamente fala da sua própria produção. Antonio Celso Ferreira, na sua obra “A epopéia bandeirante”, nos ajuda a entender o con texto literário em que Fran cisco Marins escreve. Fer reira, ao contar a história da formação do Instituto Histó rico e Geográfico Brasileiro e em seguida a formação do IHGSP, nos proporciona um olhar sobre quem eram os letrados paulistas e suas produções. Per cebemos que as produções literárias do IHGBSP tinham como objetivo retratar as histórias do interior paulista, seu regionalismo, os tropeiros, os bandeirantes. É clara a busca desses letrados por uma iden tidade regional e nacional
As obras de Francisco Marins possibili tam que o leitor navegue tanto nas águas da literatura quanto nas águas da história. O seu objetivo é transformar o espaço e o tempo das personagens em elementos ver dadeiros, por isso o uso de fontes históricas que permitem que o leitor tenha conhe cimento da vida e dos costumes daqueles que colonizaram o oeste paulista. Este contato com a realidade da história muitas vezes proporciona ao leitor se reconhecer no tempo, no espaço ou até mesmo na per sonalidade de alguns personagens, pois o processo de colonização que o autor abor da é semelhante daquele que aconteceu em várias partes do Brasil.
Nos aproximamos do início de mais uma Copa do Mundo. No próximo domingo (20), a bola irá rolar no Qatar, com o Mundial de 2022 ditando as emoções do nosso fim do ano.
Essa época de Copa nos faz entrar em uma espécie de transe, trazendo à tona, antigas memórias e experiências vividas em tempos de Mundial.
Eventos e datas marcantes como essa, nos faz ter lembranças de onde estávamos e o quê fazíamos.
A conquista do Tetra nos Estados Unidos em 1994 não foi diferente para mim, afinal, ali vivi minha primeira Copa.
Mesmo no auge dos meus cinco para seis anos, algumas lem branças ficaram registradas em minha mente.
Lembro-me de estar na casa da minha avó materna (uma linda e saudosa referência que me fez gostar e acompanhar esportes, principalmente o futebol). Em sua sala estavam reunidos meus tios e primos. Todos à frente da velha TV de tubo na estante marrom, que, de tempos em tempos, precisava ter a sua sintonia ajustada manualmente.
Eu, pequeno e sem entender ao certo o que estava acontecen do, percebia a aflição dos presentes naquele jogo com o início da cobrança das penalidades.
A cada gol brasileiro marcado, euforia na sala. A cada conversão
do time de azul, lamentos.
Mas, quando o rapaz do cabelo com “rabinho” mandou a bola por cima do gol, eu também fui para o alto, sendo jogado por algum tio que a memória não me ajuda identificar.
Foi uma grande festa! Todos gritavam as mesmas palavras que o Galvão Bueno eternizou na transmissão, ao ponto de virar meme anos depois: É TETRA, É TETRA, É TETRAAAA!!!
Quatro anos mais tarde, tendo uma melhor compreensão do que aquele evento chamado Copa significava, acompanhei a edição de 1998 com mais consciência e atenção, mas sem perder o entusiasmo que senti naquela tarde de julho de 1994, lá na casa do Bairro.
Ali foi o lugar onde a centelha da paixão pelo esporte foi acesa e até hoje me move para acompanhar, escrever e assistir tudo relacio nado a essa maravilhosa criação do homem.
E você, qual sua primeira lembrança de uma Copa?