Edição 656

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III

Nº 656

QUARTA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2022

RUBINHO BARRICHELLO:

BICAMPEÃO!

Rubens Barrichello segue escrevendo belas histórias no automobilismo brasileiro. Aos 50 anos, o incansável e apaixonado piloto continua demonstrando sua enorme capacidade e extrema dedicação nas pistas. Neste domingo, Barrichello emocionou Interlagos ao conquistar o Bicampeonato da Stock Car Brasileira (2014-2022). A tarefa não era das mais simples. No entanto, Rubens ignorou as adversidades e viu o título de 2022 bater à sua porta - literalmente. Um acidente entre ele, Daniel Serra e Gabriel Casagrande selou a conquista a favor do veterano. A partir daí, a emoção tomou conta de Barrichello. O cinquentão chorava no cockpit de seu Stock. A idade não importava: era aquele moleque de Interlagos fazendo o que mais amava celebrando mais um feito em sua vitoriosa carreira. Duas vezes vice-campeão da F1 (2002-2004), dono de 11 vitórias na categoria máxima do automobilismo. Rubens sempre sonhou alto. E sempre exigiu o máximo de si. A recompensa, ele sabe, sempre vem. Mais uma vez, ele foi agraciado. Barrichello definitivamente é um dos grandes nomes da história do automobilismo brasileiro. Ah, sim: Rubens tem sorte. Sorte de campeão. Sorte de ser bom no que faz. E sorte de amar o esporte a motor, que se transformou na razão de seu viver.

TIME NAURU NATAÇÃO/ BOTUCATU CAMPEÃ GERAL Após os eventos nacionais e internacionais do ano movimentado de 2022, a equipe encerrou a sua participação com o Título do Campeonato Paulista de Paranatação, Troféu Fabiana Sugimori. Time Nauru conquistou o título de: Campeã Geral E Melhor Atleta Feminina Classe Baixa e Melhor Atleta Feminina Classe Alta De 01 a 03 a equipe participou do Meeting SP e Super Meeting. Evento que serviu para avaliar o segundo semestre do ano e seguir o planejamento para 2023. Os atletas da equipe obtiveram melhores marcas pessoais, recordes brasileiros e índices para o mundial.

"A PIOR DITADURA É A DO PODER JUDICIÁRIO. CONTRA ELA, NÃO HÁ A QUEM RECORRER" RUI BARBOSA


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O CABRITO ITINERANTE

Mário Costa Novo Todos os botucatuenses, “vilenses”, principalmente, que como nós são jovens há mais tempo, recordam-se com saudade do aconchegante Bar do Urbas, ou Bar do Bôrtolo, como era mais conhecido, situado na Rua Major Matheus, bem em frente à entrada principal das indústrias Lunardi. O seu proprietário, o austríaco Bartholomeu Urbas, já madurão nos idos dos anos trinta, era casado com sua patrícia, dona Maria, com quem teve os filhos José, Maria, Antoninha e Alberto e, com exceção de Antoninha, todos de saudosa memória. O Bartôlo – homem alegre, brincalhão e educado, era querido e admirado por todos – transforma-se em ponto de encontro das pessoas VIPS e não VIPS da “vila”. Misto de bar e restaurante, muitos, como o pessoal itinerante dos trens de passageiros que vinham de São Paulo, faziam ali suas refeições dada a fama de excelente cozinheira de dona Maria Urbas. O Bar do Urbas contava também com uma bem cuidada cancha de bochas, uma mesa de bilhar, saleta para jogos, sala de refeições e o principal, o cuidado, a higiene e o carinho com que eram atendidos todos os seus frequentadores. Naquele tempo, em que a

colônia italiana dava cartas e jogava de mão, todas as tardes ali se reuniam para o jogo de bisca, truco, trêssete e patronesoto e outros jogos trazidos da velha pátria, a fina flor dos vilenses. Ali, como dissemos, ombreavam-se nobres e plebeus na maior camaradagem possível. Viam-se então os irmãos Cavaglieri, Virgínio Lunardi, dono de uma finura que encantava, Mansueto Lunardi, seu sócio, com seu eterno charuto toscano no canto da boca, o poderoso comerciante Matheus Giacóia, chefe do clã composto por homens e mulheres de uma ombridade ímpar, o sério e eficiente marceneiro Basílio Robega – sogro do Dito Almeida – com seus filhos também profissionais de marcenaria, Antonio (Casca) e o Picale (ruim de bola como ele só), o Signore Angelo Milanesi, o Maitã, o Pacharon, os maquinistas da Sorocabana Alfredo Bueno, João Marçal...e o Titon que com sua “oito baixos” alegrava o ambiente. Enfim, a gente era feliz e não sabia... Nós, como amigo da família e colega de diversões do Albertinho Urbas, que nos deixou muito cedo, vivíamos naquele mundo de gente decente, boa, alegre e sem maldade. Certa vez, nos recordamos, o Cav. Virgínio Lunardi, jogava uma partida de truco, tendocomo parceiro o Maitã. Distraidamente, o Maitã fez uma jogada errada e a dupla perdeu a partida. O “signore” Virgínio Lunardi olhou para o parceiro e disse: “Ma tu sei uno farabuto, achifosso”. E o Maitã vermelho como um pimentão maduro levantou-se e disse: “Pera ai cavalieri. Não é porque o senhor é rico que pode me xingar só porque eu errei uma jogada”. - “Tuto bene, Maitan, tuto bene. Calma qui siamo nel braccilei. E joga, vá!” Era assim que as

rugas terminavam. Certa vez, não estamos certos que tenha sido o “signore De Sancti”, entrou no grupo de amigos e foi logo dizendo: “Má ganhei um cabrito, que vô conta pra vocês, vai vale a pena questa festa defim de ano”. Dias depois, a mesma pessoa chega na mesma roda de amigos, bufando de raiva, dizendo que o cabrito dele havia sido roubado: “Tiraram o bicho do quintal da minha casa”. Ninguém respondeu, mas, furtivamente todos os olhares foram dirigidos para o Matheus Giacóia, useiro e vezeiro em aprontar com os amigos. Todos já haviam esquecido do caso, quando certa noite o Matheus disse que havia comprado um cabrito, já o havia esfolado, cortado e que o “Bito” estava mergulhado numa bela vinha d’alhos. Ninguém comentou nada, mesmo porque o antigo reclamante não se encontrava presente. Um sai outro chega e um sai e...Matheus Giacóia que tinha ido para casa, voltou furibundo: “Ma quê? Agora aqui sono tuti ladri de cabrito? O mio cabrito sumiu com assadeira e tuto. Io quero sabe

quenhé il ladri”. Ninguém se manifestou. Mas, na noite seguinte, alguém comentou que alguém pertencente àquela roda de amigos, estava assando um cabrito num forno a lenha, situado no quintal de sua casa. Um grupo foi até a casa de quem estava assando o cabrito, com parte de cumprimentar a família, enquanto outros amigos abriam o portão que dava para a rua e surrupiavam o cabrito assado. O cabrito foi levado para o Bar do Urbas que já estava com a mesa pronta, com direito aos vinhos da casa. Os amigos que estavam cumprimentando a família, depois de terem a certeza de que o cabrito já estava surrupiado, gentilmente convidaram a todos da casa para comerem um cabrito no Bar do Urbas. Num primeiro repente o “convidado” correu para o quintal e viu então que o ditado é velho mas verdadeiro: “Ladrão que rouba ladrão...” E as peripécias do cabrito terminaram em gostosas gargalhadas... Mário Costa Novo (Acervo Peabiru)

O GIGANTE DEITADO (ilustração de Vinício Aloise ao pé do Gigante, as Três Pedras)

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

WEBJORNALISMO DIÁRIO

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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“O poder da amizade” Maria De Lourdes Camilo Souza

“Um dia acreditei que vencer na vida era ter uma boa casa, boas roupas, um carro e algum dinheiro. O tempo não para, a gente amadurece, passa a ver tudo diferente. Hoje sei que vencer na vida é, sobretudo, estar em paz onde quer que a gente esteja.’’ Ahmad Serhan Wahbe.

A gente passa a vida correndo atrás de coisas que pensamos ser necessárias para nossa vida. Estudamos para ser alguém. Ter um bom emprego, uma casa, algum dinheiro. A vida vai passando. Algumas metas conseguimos outras não. Um belo dia paramos e olhamos para trás e vemos toda a luta. Pensamos as vezes: poxa para que tanta correria? Para que fiquei horas a noite sobre os livros, quando tinha mais silêncio. E na verdade o cansaço não pemitia assimilar muito. Trabalhei muitas horas extras nos meus empregos, achando que estava construindo uma carreira, mas inúmeras vezes não fui beneficiada com uma promoção. Sabe quando senti que tudo tinha valido muito a pena? Dias atrás um grupo de aposentadas que participo reuniu-se para a confraternização de final de ano. Nesse dia apesar de não estar muito bem, insisti em participar. Era um almoço na Churrascaria Tabajara. Eu cheguei um pouco atrasada. Ao entrar no salão cuja porta foi aberta por uma jovem muito gentil, e fechada em seguida a minha entrada para segurar o ar condicionado. Parei, olhei e ouvi muitas vozes me chamando e o sorriso e o carinho das amigas ao me verem chegar! Naquele momento o tempo parou. Meu coração sentiu-se afagado. Muitas se levantaram e vieram me receber; evitamos os abraços por causa do retorno do vírus do Covid. Aí eu percebi que tudo valeu a pena. O almoço foi um sucesso enorme, delicioso, bem organizado, bem atendido. Ainda tivemos a surpresa no final com muitos presentinhos distribuídos. As arteiras do grupo juntaram-se para fazer os pequenos mimos e doaram seu tempo e os trabalhinhos com carinho. Tinha até um bolo doado por uma padaria local e era alvo da atenção de muitas. E quando foi sorteado para uma das amigas trouxe a ela tanta felicidade que chegou a dançar de alegria. Imagem muito gratificante aquela alegria genuína. Muitas amigas doaram caixas de leite e fraldas para serem entregues a uma instituição que atende idosos. O prazer da companhia e a amizade que nos une vale mais que qualquer bem material amealhado durante a vida. Traz paz e serenidade aos nossos corações e mentes.


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artigo

A FESTA NOTURNA

José Sebastião Pires Mendes Falar em festa noturna para os jovens é a mesma coisa que falar em arroz para os japoneses. (Talvez venha daí a expressão “arroz de festa”...) Nestes tempos de pandemia, é claro, a coisa muda um pouco. Mas assim mesmo, ainda que exista para o descanso, o repouso e a recuperação de energias, a noite exerce grande fascínio, principalmente quando é época de verão. O sono é mais difícil, as noites enluaradas quase que obrigam a ir para a cama mais tarde. Ora, a noite é mágica por natureza. É nela que temos os melhores sonhos, quando estamos na normalidade. Deixamos os pesadelos pra lá, já que os vivemos diurnamente, se não na carne, pelo menos na voracidade das máquinas telenet-comunicativas. É na noite escura do útero que somos engendrados, e depois de nove longos meses botamos a cabecinha para fora da maternal porta e vemos a luz pela primeira vez. É na noite profunda e subterrânea que as raízes trabalham sugando a seiva e parindo a planta. É muitas vezes do silêncio das noites invernais do trabalho e da pesquisa, que nascem as alegrias primaveris dos sucessos e das vitórias. Mas a noite santa, a mais santa de todas as noites, é a noite do Natal. O bom São Nicolau, lendário ou não, não imaginava que seu gesto noturno e silencioso de levar presentes para as criancinhas, fosse transformá-lo na figura do Pai Eterno. Sim, porque toda essa parafernália de produtos natalinos é só uma camuflagem para encobrir o verdadeiro espírito da coisa, que mais não é que nossa carência paternal. Somos transcendentalmente carentes de uma figura

Você Sabia ??

paterna, pois não podemos repelir a sensação de filhos abandonados neste Universo imenso, tão cheio de mistérios lá fora e dúvidas e angustias cá dentro. Por mais que a visceral fome científica seja saciada, ela não acaba nunca, e é por ela justamente que evoluímos, pois nos faz sempre buscar alimentos no manancial das profundezas cósmicas, terrenas, corpóreas e psíquicas. A noite precede o dia, as trevas preparam a luz. O Pai Eterno não cansa de monitorar suas criaturas pelo diapasão com que afina a divinal orquestra, mandando não só dias bons, mas também dias difíceis, como resultado do mal que fazemos. Mas não nos faz perder a consciência da existência salutar do Bem. Por isso o bom velhinho é cortejado e festejado de tal monta, que o dia não é de Natal, mas “Dia do Papai Noel”. Aliás, em francês Noël quer dizer Natal, ou nascimento. E ele vem se sentar no rubro trono recamado de prata e ouro de nossos corações, sem darmos conta de que está incorporando a divindade paterna ancestral. Bem, o ser humano se entende por símbolos, por linguagens as mais diversas, pois o arquétipo que percorre o mundo e o purifica nesta época natalina, está plantado lá no fundo de nosso subconsciente infantil. Que anela por presentes, surpresas ou agrados, enfim, tudo o que signifique um carinho, um bem, um objeto portador de amor. Nossa atávica orfandade procura um pai. E ele se encar-

Que a Embaúba é uma árvore típica do cimo da Cuesta de Botucatu? Pois é, a Embaúba que também é conhecida por Umbaúba, Ambaíba, Ambaúba, Imbaúva ou Imbaúba, é árvore da família das Moráceas (cecropia palmata); é árvore de tronco indiviso. Embaubal é o bosque de embaúbas. Também é chamada de árvore-dos-macacos ou árvore-da-preguiça ou torém. O antigo traçado férreo da Sorocabana passava por Vitória (Vitoriana), Lageado e...Embaúba... Sim, Embaúba é uma pequena Vila pertencente a Botucatu que até hoje é procurada pelos amantes da pesca por ser um local ideal e piscoso. Hoje, o descuido e o desrespeito à natureza reduziu muito o número de Embaúbas em nossa região, mas podem ser encontradas na Cuesta e em vários pontos verdes de nossa cidade.

na em cada noite de Natal. Porque simboliza o pai que espera pela volta do filho pródigo, e o abraça, e o beija, e o festeja e abençoa. E nos dá o maior presente, que é o divino-homem Jesus na reciclagem do Amor e do perdão, lembrando-nos de que não estamos abandonados em nossa natureza hominal, aparentemente jogados à sarjeta da caosalidade existencial. Porque o caos é um fator causal e não casual. Pois será, afinal de contas, na contabilidade cósmica, um saldo computado a nosso favor no balancete divino, quando se fechar o ano eternal. E “a noite brilhará como o dia”... José Sebastião Pires Mendes Membro da ABL e CCB, é professor e escritor.


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