Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 660 SEGUNDA-FEIRA, 19 DE DEZEMBRO DE 2022
Manoel de Barros (19/12/1916 – 13/11/2014)
Manoel de Barros foi um escritor modernista brasileiro pertencente à terceira geração modernista, chamada de “Geração de 45”. É considerado um dos maiores poetas brasileiros, o qual foi agraciado com diversos prêmios literários. Destaca-se o “Prêmio Jabuti” que recebeu duas vezes com as obras: O guardador de águas (1989) e O fazedor de amanhecer (2002). Chegou a morar em outros países: Bolívia, Peru e Nova York. Nos Estados Unidos, fez um curso de artes plásticas e de cinema. Viveu um ano por lá e ao retornar conheceu sua futura esposa, Stella. Casaram-se em 1947 e com ela teve três filhos: Pedro, João e Marta. Manoel de Barros faleceu em Campo Grande.
Cidade de São Paulo tem Rua em homenagem a Serra de Botucatu, desde 1916 Na Cidade de São Paulo, mais precisamente no bairro Tatuapé, há uma rua em homenagem a região de Botucatu. Detentor de uma área de 8,2 Km² e vizinho dos bairros da Vila Maria, Penha, Vila Matilde, Carrão, Vila Formosa, Água Rasa e Belém, o Tatuapé, bairro mais populoso da Subprefeitura da Mooca, com 91.672 habitantes, possui
25 praças e 427 ruas, e uma delas se chama Rua Serra de Botucatu. De acordo com historiadores, essa rua, que se refere a Serra do Estado de São Paulo, na região de Botucatu, existe desde 1916. Ainda em São Paulo, há outra rua em homenagem a cidade, a Rua Botucatu, na Vila Clementino, na região da Vila Mariana, e até mesmo um bairro, o Jardim Botucatu, que fica localizado próximo aos bairros Vila das Mercês, Jardim Vergueiro e Parque Bristol, na capital paulista. (Fonte: Leia Notícias)
"A PIOR DITADURA É A DO PODER JUDICIÁRIO. CONTRA ELA, NÃO HÁ A QUEM RECORRER" RUI BARBOSA
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Manoel de Barros Maria De Lourdes Camilo Souza “Na ponta do meu lápis tem apenas nascimento” “Tenho o privilégio de não saber quase tudo E isso explica O resto”. “Menino do Mato” na II parte “ Caderno do Aprendiz “ São Paulo Editora LeYa 2010 “Os bens do poeta : um fazedor de inutensílios, um travador do amanhecer, uma teologia do traste, uma folha de assobiar, um alicate cremoso, uma escória de brilhante, um parafuso de veludo e um lado primaveril.” XII “Sábia com trevas “ Livro “Arranjos para assobio -1980 Manoel Wenceslau Leite de Barros ( 1916 - 2014) Nascido em Cuiabá no Estado do Mato Grosso. Ontem completaria 105 anos de vida. Escreveu para nós brasileiros, céus poéticos, rios eivados de brumas de palavras. Teceu nuvens em formatos de bichos etéreos. Encantou nossas mentes com estórias de palavras contraditórias mas com tanto sentido. Só nos resta agradecer por tantos mundos fundados em páginas de livros. Gratidão Manoel lá do Mato Grosso, hoje tem parabéns lá nos mundão de meu Deus, cantado e tocado pelos anjos! Não sei muito da sua vida mas um pouco do seu mundo planetário. Seu jeito meio tímido e roceiro, o riso aberto do seu coração brasileiro. Salve Manoel de Cuiabá, Deus o tenha em boa companhia de todos os menestréis tecedores das tramas das palavras contidas em versos de outrora e tão atuais. Deixou registrada em prosa e verso sua alma alva e lindinha para nos ajudar a voar no papagaio dos sonhos. Assobiar com as folhas como crianças levadas. Salve Manoel do sorriso contido, olhos cerrados mas abertos para o rico interior do seu mundo! Salve!
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
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“ Diferenciados... “ nel
José Maria Benedito Leo-
Tem que tê coragem! Tem que sê diferenciado, tem que tê sido batizado pra valê, tem que sê protegido por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo porque senão não faiz, senão não apeia, senão não monta, senão não capeia ----- Zé, que prosa sem sentido é essa? Do que ocê tá falando? Tá caducando, é? É mió eu ficá quieto com essas certezas minhas. Tem coisa que não é pra quarqué um e nem pra todo mundo. Não é pra quarqué um, uma mula “voando” morro abaixo, o peão levá a mão no laço, armá a laçada e buscá as guampas do touro fumaça que corre na sua frente, buscando o mato. De companheiro, só o cachorro preto, chamado Carranca. Eu sei e bem quem fazia isso com simplicidade. Tem mais gente que como eu, sabe! Não é pra quarqué um laçá um bezerro no pasto, confiá na mula que chincha, apeá com o remédio na mão e ir no bezerro com a vaca nelore, mãe amorosa, investindo, berrando, mais brava que cão de guarda na corrente. É preciso mais que coragem. É preciso fé e a proteção de Deus. Assim é. O burro chucro, baio na cor, tá no palanque dando manetadas
e coices. Tá traiado desafiando a peãozada. Essa é a hora dura. Em mim da saudade do Geraldo. Assim, meio de quarqué jeito, ele chegava montando, sem cuidados e reservas. Se tivesse ele sido violeiro não afinava viola, não importando se afinação fosse cebolão, rio abaixo ou boiadeira. Montava de quarqué jeito em quarqué traia e fazia pará. E batia o chapéu na cara pra pulá mais. Apeava, ajeitava o lenço no pescoço, brincava com os amigos e ia embora, como se fosse fácil. Tá na seringa da mangueira, babando de bravo, investindo até na sombra, cavocando o chão. É preciso sê muito homem pra tirá o chapéu da cabeça e , com ele, capeá o boi naquele apertado, até vê ele ajoelhado, na sua frente. São os diferenciados da lida. Mas são tantos os diferenciados na vida.... Circo de periferia, lona véia, arquibancada que balança. E tem os trapézios e o casal de trapezistas É preciso, no vai e vem dos trapézios, no salto no ar e no vázio, muita coragem. E tem os cirurgiões fazendo operações delicadas nos centros cirúrgicos. Que Deus esteja com eles. Encerro repetindo, tem coisa que não é pra quarqué um. Eu só tava, na nossa linguagem, prestando tributo a quem Deus escolhe, os diferenciados. E mais, gosto muito deles quando simples e humildes, porque quem é já é e não precisa dizê que é. Simples assim. NOTA: ilustrações de Vinício Aloise em “uma história desenhada”.
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O CONTO ESTRANGEIRO Os Tamanquinhos de Natal
François Copée (adaptação de Elda Moscogliato) Aconteceu há muito tempo, numa distante e velha cidade da Europa, de nome tão difícil que ninguém guarda. Nela morava um rapazinho de sete anos – Wolff, órfão de pai e mãe, entregue aos cuidados de uma tia velha, áspera e avarenta. Tão mesquinha era que só beijava o sobrinho pelo Ano Bom e soltava sempre um suspiro de pesar, sempre que lhe dava uma tigela de leite. Mas o garotinho fora bem dotado por Deus. Tinha boa índole, era humilde e, malgrado os sofrimentos, estimava a velha tia. Nem por isso deixava de tremer quando ela o olhava com olhos ameaçadores e maus. A tia de Wolff era conhecida por ter seus haveres: possuía uma morada e uma longa meia de lã cheia de moedas de ouro. Por isso, não se atrevera a matricular o sobrinho numa escola de crianças pobres. Mas fizera incríveis diligências para que o Diretor do colégio lhe fizesse um abatimento tão grande que o mestre-escola, vexado por ter um discípulo tão mal vestido e pagando tão pouco, punha-lhe muitas vezes e sempre com injustiça, o letreiro às costas e carapuça de burro nas orelhas. Isso fazia com que os demais alunos, filhos de burgueses abastados fizessem de Wolff o objeto de suas maldades, carregando-o de impropérios e de afazeres. O pobre pequeno era infeliz como as pedras da rua e escondia-se em todos os cantos para chorar. Até que chegou o Natal. Na véspera do grande dia, o mestre-escola devia levar os discípulos à missa do galo e, depois, acompanha-los à casa dos pais.
O inverno estava inclemente e fortes camadas de neve cobriam a paisagem nórdica. As crianças muito bem agasalhadas: barrete de lã enterrado até as orelhas, capote de pele macia e quente, luvas grossas e rijas botas pregueadas e forradas de camurça. Wolff foi o único a comparecer de roupinha de todo dia e nos pés um tamanco, com meias comuns. Tiritava de frio. Os meninos fartaram-se de rir dele. O pobre achegava-se à lareira triste e humilde, aquentando as mãos roxas e desnudas, ao doce calor do fogo. Da escola, partiram dois a dois, a caminho da igrejinha do burgo. O mestre-escola ia à frente, bem agasalhado e indiferente. No interior, enquanto o ofício se realizava e o órgão tocava , as crianças comentavam entre elas, o que iriam encontrar de volta a casa. Em cada uma, a mesa farta antecipava para cada criança, no interior dos quartos aquecidos, a meia longa e cômoda, onde haveria brinquedos, papéis cor de rosa escondendo guloseimas. O pobre Wolff sofria. A tia avarenta não lhe daria as amêndolas adocicadas, sequer um caldo quentinho para amenizar-lhe os rigores do frio. Essa seria, para ele, uma noite como outra qualquer. Na saída do templo, viram todos, dormindo ao relento na escadaria, um adolescente como eles. Embora vestido de lã muito branca, a neve caia-lhe por cima, arroxeando-lhe os pezinhos nus. Todos passaram curiosos e apressados. Só Wolff teve pena dele. Não tendo o que dar-lhe tomou de seu tamanco direito, dizendo-lhe comovido: - Dividiremos a nossa miséria. Eu fico com o tamanco esquerdo e tu com o direito. Assim, pobre menino adormecido, o Menino Jesus ao chegar, deixará em teu tamanquinho, um presente também. Os outros riram-se dele e se foram. Ao chegar a casa, a tia vociferou cruel: - Como? O sr. se descalça por causa de mendigos? Ah, Inutilizou um par de tamancos por causa de um vadio? Vou por na chaminé o
tamanco que resta e o Menino Jesus, esta noite, há de deixar dentro dele alguma coisa que hei de usar para açoitar você, nas suas diabruras!... Suba e vá dormir no sótão, sem leite e sem pão. E dando-lhe murros e sacolejões, empurrou-o para a mansarda. O menino dormiu soluçando. No dia seguinte, muito cedo, acordou com os gritos da megera. Desceu aflito e... oh! maravilha!... Junto à lareira, um mundo encantado de brinquedos feria-lhe os olhos deslumbrados. Tudo o que desejara, no íntimo, lá estava para premiar-lhe a bondade. E, no meio dos brinquedos e doces, lá estava misteriosamente devolvido pelo Menino da Noite, o tamanquinho direito... Na praça do chafariz da aldeia, naquela manhã, todo mundo comentava um fato surpreendente: os filhos dos ricos da terra, aqueles que os pais queriam presentear com os melhores brinquedos, esses, encontraram nos sapatos, apenas chicotes grosseiros e pesados. O cura da igrejinha, esse, estava maravilhado. Ao abrir a porta do templo, de manhanzinha, encontrara na escadaria, no exato lugar onde o Menino da Noite pousara a cabecita, um círculo de ouro, incrustado de pedras preciosas.