Edição 662

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Diário
Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 662 QUARTA-FEIRA , 21 DE DEZEMBRO DE 2022 BOM NATAL, BOTUCATU!
da

Visões do Presépio

Nando Cury

Olhar o presépio é lembrar dos fatos históricos do nascimento de uma personalidade chamada Jesus Cristo. No ano do nascimento de Jesus, uma lei de recenseamento obrigava que todas as pessoas fossem às suas cidades natais para informarem nome, residência e tipo de trabalho. Para se registrarem, os pais de Jesus, Maria grávida e o carpinteiro José, partiram de Nazaré para Belém, num trajeto a pé de 150 quilômetros, Mas quando chegaram à Belém não encontraram lugar para os acolher. Por isso, tiveram que se abrigar no presépio. Como explica Hernâni Donato, em seu livro A Maravilhosa História do Presépio de Natal (Melhoramentos, 1954), o presépio era um lugar, despojado de beleza e conforto, onde se recolhiam os animais para comer, fugir à umidade das noites de inverno, do calor do verão e das tempestades. Localizavam-se perto de bebedouros, junto a um monte ou colina. A construção que Maria e José ocuparam trazia paredes fortes, chão de pedra, telhas velhas e recobertas de limo. Lá, Maria deu a luz ao menino que foi colocado sobre uma manjedoura.

A noite era fria, com vento assobiando pelos campos. O boi e o burro foram os primeiros a chegar no presépio que era seu abrigo costumeiro. Logo deitaram-se próximos da manjedoura, trazendo o calor dos seus bafos e pelos para esquentar o recém- nascido. Os animais representavam a força, a humildade, a paciência e o trabalho. Tão respeitados eram, que em alguns países assumiram a condição de deuses. Em seguida, entraram os pastores, cuja profissão era uma honra na região da Judéia. Eles conduziam algumas ovelhas, que ofereceram o leite e a lã para vestir o menino. Chegaram e se ajoelharam respeitosamente. Finalmente, de uma terra distante chamada Caldéia, vieram os três magos Gaspar, Melchior e Baltasar. Os magos eram sábios requisitados por todos, até pelos reis. Faziam estudos científicos, liam pensamentos, adivinhavam sonhos, conheciam as profecias. Eles esperavam a chegada de um novo Deus, através de nova profecia, que foi comunicada por uma estrela muito especial e brilhante que apareceu sobre o deserto. Ao avistá-la, os magos deixaram suas casas, seus trabalhos, montaram em seus dromedários e seguiram o caminho que a estrela indicava

EXPEDIENTE

até o Senhor Menino. Para mostrar suas melhores intenções, levaram presentes para a família: o incenso que era dedicado aos deuses, o ouro que era oferecido somente aos reis e a mirra, uma goma resina perfumada, utilizada como bálsamo.

A primeira montagem de presépio aconteceu em 1223, na cidade italiana de Greccio, com a iniciativa de São Francisco de Assis. Depois virou tradição para os católicos de todo o mundo. Em cada país os presépios foram ganhando novas personagens e cenários relacionados às culturas locais. O período de exposição do presépio vai do primeiro domingo do Advento, em dezembro, até 6 de janeiro, Dia de Santos Reis, quando são colocadas as imagens dos magos. Presépios de diferentes formatos fazem-se presentes nas casas de muitos colecionadores, como o jornalista José Paulo Mortari e o professor Fernando Freire. Em épocas normais, ficam

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

abertos para visitação em locais públicos, a exemplo do Presépio Napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo e do Museu dos Presépios. O Museu Napolitano, fechado para restauro, conta com 1600 peças, adquiridas em 1949, na Itália por Francisco Matarazzo Sobrinho, o “Ciccilo”, e depois doadas ao Museu de Arte Sacra. Neste ano acontece a tradicional exposição Presépios no Metrô, numa sala expositiva dentro da Estação Tiradentes, da Linha 01 Azul, com entrada exclusiva para os usuários. Presépios no Metrô podem ser vistos virtualmente pelo site do Museu de Arte Sacra. Mais uma interessante mostra, que também pode ser acessada de modo virtual é a 31ª Exposição Franciscana de Presépios, que reúne 17 conjuntos no Santuário São Francisco, localizado no Largo São Francisco, no centro da cidade. Há ainda outra forma empolgante de se ver presépios, assistindo uma missa tradicional de Natal que utiliza modelos vivos.

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

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OS CREDORES DE JESUS

(Conto Argentino de Severine )

Tudo repousava no silencio da Noite Santa. Deitado o Menino na pobre Manjedoura, adormeceram, ao lado da Criança, os santos esposos. O cansaço e o frio os abatera.

O pequenino Infante babujava insone.

Tinha frio também. O terno corpinho enregelava. Lá fora, a planície nevada perdia-se sem fim. O canto dos anjos deixara harmonias na brisa do amanhecer. Entre as frestas da rude gruta, penetravam os reflexos da Estrela que do Alto, apontava para a Humanidade o caminho de Belém.

Tinha frio o Pequenito. Súbito, na obscuridade silenciosa do Presépio, sentiu, à sua direita, um hálito quente, reconfortante. Ergueu-se a mãozinha gelada e sentiu a maciez de umas orelhas grandes contornando um par de olhos mansos, tranquilos e bons.

- Quem és? Perguntou. Ele era o Deus-Vivo. Entendia os animais.

-Sou o asno, respondeu-lhe o olhar tranqüilo do gerico.

À sua esquerda, áspera porém, carinhosa e quente, uma língua enorme lhe acarinhava os pezinhos enrigecidos pela friagem da noite.

-E tu, quem és? Indagou o Menino.

-Sou o boi. Moro aqui. O Infante sorriu agradecido.

Ao doce conchego daqueles tépidos e acariciadores cuidados, dormiu o Redentor.

As horas da madrugada corriam.

-Como vieste até aqui? Perguntou o boi. O asno respondeu :

- José cuida das cocheiras de meu amo. Maria sempre o acompanha na faina. Sempre me acariciou o focinho e reservou-me sempre tenras alfaces. Compreendi a aflição do casal, na iminência do Nascimento do Filho e na necessidade de viajarem, a pé, para Belém. Então corri, ganhei meio caminho, a não permitir que, em me achando voltassem para devolver-me. Ao retorno, se houver, voltarei ao meu curral.

-Por que, se houver?

-Porque Herodes mandou matar as crianças, e só eu sei como varar os desertos, a caminho do Egito... Já pertenci às caravanas de meu amo . . .

-És sábio, hein? Retrucou o boi.

-Minha espécie inteira é assim. A Bíblia conta que Sansão se livrou dos inimigos com uma queixada de um antepassado meu . . .

O Menino acordara e, no tépido conchego das palhas, olhinhos semicerrados, ouvia a conversa dos animais. Disse o boi :

-Você sabe quem é este Menino?

-Sim. É o Messias! Pobrezinho! Sendo Deus, se fez Homem. Vai derramar Seu Sangue pela Humanidade -E!? . . . Então, se Ele é Deus, por que não lhe pedirmos que melhore nossa espécie?

-Não devemos pedir-lhe nada. Dir-se-ia que lhe estamos cobrando o suave calor da Manjedoura... -É certo. Mas nem eu, nem tu queremos cobrar-lhe nada. Apenas pedir-lhe que se compadeça da nossa pobre espécie. Olhe : nós, os bois, perdemos de há muito, a nobreza dos dias da Criação. Degenerou-se-nos a raça, e caímos nas mãos cobiçosas dos homens Somos suas vitimas. Exploram-nos em vida e, pior ainda, depois de estarmos mortos Eles nos condicionam à sua desmedida cobiça

-E nós? Retrucou o asno. Não passamos de infatigáveis alimárias. Não temos direito ao repouso. . . Onde são ínvios os caminhos, ali nos põem arquejantes e sofridos... Jesus ouvira tudo e adormecera.

Os anos passaram. Jesus se fizera o Pregador. Realizara milagres sem fim. Mas os homens não O salvaram da Cruz. No Alto do Calvário já agonizante, Ele ouve que se aproxima o sincero estrídulo de uma alimária. Seu olhar dolorido encontra com outros olhos mansos, tranquilos e bons.

Um frêmito sacode-lhe as entranhas. Fizera tanto pelos Homens e ali estava ... Esquecera-se de redimir os pobres animais da humilde Gruta de Belém...

3 Diário da Cuesta
ARTIGO

O GALO DE BARCELOS

Ao cruzeiro quatrocentista que faz parte do episódio do Museu Arqueológico da cidade de Barcelos – Portugal anda associada a curiosa lenda do Galo de Natal. Segundo ela, os habitantes do burgo andavam alarmados com um crime, e mais ainda, por não se ter descoberto o criminoso que o cometera.

Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar de seus juramentos de inocência, ninguém acreditou. Ninguém julgava crível que o galego se dirigisse a Santiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa; que fosse fervoroso devoto do santo que em Compostela se venerava, assim como de São Paulo e de Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca.

Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre

a mesa, exclamando:

- É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.

Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim e pelo não, ninguém ousou tocar no galo.

O que parecia impossível, tornou-se, porém, realidade: Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou! Já ninguém duvidou das afirmações do forasteiro.

O juiz corre à forca e com espanto vê o pobre homem com a corda no pescoço, mas o nó-laço impedindo o

estrangulamento.

Imediatamente solto, foi mandado em paz.

Passados anos, voltou o homem a Barcelos e fez erguer um monumento em louvor à Virgem e a S. Thiago.

Dessa lenda resulta que não há casa portuguesa que não exiba, maior ou menor, sobre o aparador ou sobre a cômoda, sobre a geladeira ou a lareira, um belo galo colorido representando os Milagres da Fé.

Há sempre um galo no presépio português.

(do folclore português)

Que a Cuesta é a forma de relevo escarpada em um dos lados e apresentando um declive suave do outro? Este verdadeiro “degrau”, que popularmente era conhecido como “serra”, passou a ser conhecido pelo nome da cidade próxima da qual assume proporções mais gigantescas: Cuesta de

Botucatu

A Cuesta de Botucatu marca o início do Planalto Ocidental Paulista.

Ela tem, na sua escarpa , o limite físico e humano entre o leste e o oeste do estado; só o rio Tietê a ultrapassa (fenda natural); rodovias e ferrovias que a cruzam serpenteiam por entre seus patamares mais suaves para atingir o topo e, depois, deslizar suavemente em direção aos limites com Mato Grosso e Paraná. No seu topo, a suavidade de um tipo climático que talvez tenha induzido os povoadores a reconhecerem ali os “ bons ares ”.

Assim é a CUESTA: um relevo característico de regiões mexicanas, espanholas, francesas, sul-africanas e indianas, mas a Cuesta de Botucatu tem a sua identidade; por sua história, por seu significado; inclusive porque a partir dela se internacionalizou o nome “ cuesta ” e por se constituir, em nossa região, o espaço mais significativo e marcante do relevo paulista, ela é, por todos os aspectos um patrimônio natural, cultural, histórico, geológico e até artístico – fonte de inspiração para muitos artistas de nossa região.

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