Edição 677

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Diário da Cuesta

No DIA DO LEITOR é preciso destacar o gênero literário que é o preferido: CRÔNICAS. E RUBEM BRAGA é reconhecido como o melhor cronista brasileiro. Na literatura e no jornalismo, uma crônica é uma narração curta, produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal ou mesmo na rádio. Possui assim uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem. (Wikipédia)

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 677 SÁBADO E DOMINGO , 07 E 08 DE JANEIRO DE 2023 "A PIOR DITADURA É A DO PODER JUDICIÁRIO. CONTRA ELA, NÃO HÁ A QUEM RECORRER" RUI BARBOSA

Editorial

O Rubem Braga sempre foi o meu cronista preferido. Sempre o considerei o “poeta da prosa” brasileira. Desde os anos sessenta, pesquisando e lendo tudo que era publicado por ele, nos jornais e nas revistas. O estilo literário da crônica é o ideal para que o iniciante comece a gostar de ler livros. Fiz assim com meus filhos. Primeiras leituras com Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade.

Nos anos 80/90, tinha uma coleção de livros chamada “Para Gostar de Ler”, que era excelente. Gostosa de ler, com boas histórias, não muito longas, abordando o lado cômico, melancólico, irônico e poético do cotidiano. Além de ser uma leitura agradável, despertava no jovem, no aluno o gosto pelos livros.

Rubem Braga (1913/1990) e o cantor Roberto Carlos são os filhos mais famosos de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo É formado em Direito, sendo que estudou no Rio e em Minas, onde se formou e iniciou a sua carreira de jornalista depois de formado. Trabalhou em jornais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo e Recife. Foi correspondente de guerra (durante a 2ª. Grande Guerra Mundial), representando o Diário Carioca. Durante o governo do presidente Jânio Quadros foi convocado para representar o Brasil no exterior. Assim, foi Chefe do Escritório Comercial do Brasil no Chile e Embaixador do Brasil no Marrocos.

Lança seu primeiro livro, em 1936. Publica uma série de livros de sucesso. Como poeta fez parte da “Antologia dos Poetas Bissextos Contemporâneos”, organizada por Manuel Bandeira. O livro “200 Crônicas Escolhidas”, foi publicado com a supervisão de Fernando Sabino que selecionou as crônicas. E o CD, com a voz de Edson Celulari, com onze crônicas de Rubem Braga, também surgiu desse livro.

Na apresentação do CD, a escritora Marina Colasanti deixou uma mensagem perfeita de Rubem Braga: “Do meu terraço, vejo o terraço de Rubem Braga. As plantas que ele plantou

já são floresta. Que eu olho sempre como se ele ainda estivesse ali, diante da máquina, desdobrando o fio sutil das suas crônicas. Ninguém escreveu tão bem sobre os pequenos momentos, as mulheres que não possuem, o olhar que se pousa sobre o outro, o doce trânsito do imaginário. Olho o terraço e escuto: na voz de Celulari, o sabiá da crônica volta a cantar.”

É isso. Simples assim. Pura poesia em prosa. O melhor cronista do Brasil!

A Direção.

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

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Rubem Braga: o Melhor Cronista do Brasil!

Quando se comemora no dia 8 de dezembro, amanhã, o Dia do Cronista, nada mais justo que trazermos algum texto daquele que é considerado o melhor cronista do Brasil: RUBEM BRAGA!

Entre os estilos literários, a crônica requer os olhos bem abertos do cronista para o milagre do fugaz, do passageiro. Saber capturar os descuidos da vida, com seus dramas, o seu lirismo, o cenário do cotidiano com as pessoas e os fatos em sua fugacidade. O cronista, às vezes, registra em seus textos alguma permanência maior desses acontecimentos...

No Brasil, a atuação jornalística e literária de Rubem Braga está definitivamente marcada. Com ele, os amigos do conhecido e admirado “quarteto mineiro”, formado por Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino. Amigo e colega de Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga pertenceu, também, à turma dos jovens boêmios da famosa “Taberna da Glória”, no Rio, composta por ele, por Mário de Andrade, Carlos Lacerda, Vinícius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Dorival Caymmi.

É considerado o maior cronista brasileiro. Escolhemos duas crônicas de Rubem Braga: O DESAPARECIDO e RITA.

O DESAPARECIDO

Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me ao espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas a minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.

RITA

No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus cinco anos.

Seus cabelos castanhos – a fita azul – o nariz reto, correto, os olhos de água, o riso fino, engraçado, brusco...

Depois de um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem medo, mas séria, com dignidade.

Rita ouvindo música; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que ele sabe das coisas, mas pegando dele seu jeito de amar – sério, quieto, devagar.

Eu lhe traria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e também a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cutia; e o córrego; e a nuvem tangida pela viração.

Minha filha Rita em meu sonho me sorria – com pena deste seu pai, que nunca a teve.

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“Chove chuva, Chove sem parar”

E janeiro começou com chuva.

Lembro-me de um janeiro assim.

Choveu práticamente o mês inteirinho. Morávamos ali na Cardoso de Almeida

Era uma casa antiga, a entrada tinha um corredor que levava para a porta da sala de visitas, era ampla.

O corredor de entrada também levava á porta da cozinha.

Ao lado dela, tínhamos um quartinho onde havia uma mesa de passar roupa, uma prateleira para os guardados e depois mais ao alto uma escada que levava a um muro cujo portão se abria para um terreno que tinha algumas árvores, um pé de limão rosa bem grudado ao muro. Da cozinha saia um outro corredor que levava ao banheiro, sala de jantar e aos dois quartos na frente com janelas para a rua. A casa tinha pé alto como falavam antigamente. Como eram as casas de outrora, e infelizmente dos quartos se ouvia todo o barulho da rua.

Durante o dia ficávamos mais na sala de estar, cozinha. Quando lá fomos morar ainda não tínhamos tanto movimento de carros passando pelos seus paralelepípedos brilhantes. Com o passar dos anos foi ficando insuportável o barulho, prin-

cipalmente nas noites dos finais de semana.

Depois como é uma das ruas do centro comercial, o movimento cresceu também principalmente nos dias úteis.

As festas de comemorações das datas festivas eram ali na Praça da Catedral, e o barulho dos shows contratados para a animação chegavam fortes até nossa casa.

E o barulho das fanfarras descendo para os desfiles na Rua Amando também.

O que me incomodava muito era o barulho noturno.

E fui amadurecendo a ideia de construir uma edicula no terreno dos fundos.

Minha mãe me apoiou muito na concretização desse sonho. Tivemos também o apoio da família e amigos.

E um belo dia ela estava lá pronta só precisando da pintura. E lá foram os pintores mais conhecidos e queridos, sempre contratados como pau para toda obra: Zezito (que até hoje é chamado) e o João

Acontece que começou a pintura naquele janeiro chuvoso. Que mês interminável!

Eu aguardava ansiosa o final da pintura para me mudar para lá. Eles começaram pintando o interior da minha casinha.

Ela tinha um quarto amplo, um banheiro uma sala de estar que era dividida por um pilar com uma pequena cozinha, e por último uma área de serviços.

Na frente uma varanda, fizemos uns canteiros onde plantamos flores e conservamos o muro e o portãozinho, a escada que dava para a casa dos meus pais.

Na minha varanda pus uma rede e cadeiras para nos sentarmos. Ficou lindinha a minha casinha, toda branca com uma grande porta de vidro de correr na entrada.

Quando ficou pronta e levei meu pai para ver, ele olhou de fora, passou a mão no queixo barbeado, abriu um daqueles seus sorrisos e falou:

“Ficou bonito o seu rancho”. Descendo a escada para a casa dos meus pais tínhamos as primaveras de várias cores que minha mãe plantou em caixas d’água, e que floriam quase o ano todo.

Flor de São João como trepadeira no coberto ao lado da cozinha que nos presenteava com suas flores alaranjadas nas festas juninas.

Ao lado da porta da cozinha tínhamos um banco grande de madeira.

Uma mesa grande aonde muitas vezes confraternizávamos em almoços semanais com a família e amigos.

Ainda ouço os risos daqueles dias saudosos.

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ACONTECÊNCIAS

Por Fernanda Mendes Simon

Bebam vocês mesmos o seu veneno...

Aos que fizeram essa escolha, parafraseando um Santo que eu tenho grande devoção, São Bento: “Bebam vocês mesmos o seu veneno ...” e a nós que optamos pelo Brasil, pelos valores, pela liberdade de expressão, pela verdadeira democracia, resta-nos procurar pelo antídoto que nos leve à LIBERDADE.

Seria realmente a vitória do “establishment”? Entenda-se por establishment: ordem ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um país. Quando fomos confrontados, estávamos cientes dos fortes adversários: mídias tendenciosas, institutos “empresas” de pesquisa manipulando resultados, as famosas inserções de rádio que originaram o “RADIOLÃO”, banqueiros e empresários poderosos, doutrinação em escolas e universidades, ativismo judicial, globais, e finalmente as incontestáveis urnas eLetrônicas, essas tão confiáveis, tão modernas, tão maravilhosas mas que são usadas em pouquíssimos países como Brasil, Bangladesh e Butão e refutadas por EUA, Canadá, Japão entre outros.

Este era o cenário: Mecanismo X Povo Brasileiro.

Costumo ouvir frases do tipo: todo poder emana do povo! Supremo é o povo! Frases lindas, de efeito forte, mas apenas frases quando não postas em prática. Os indignados eram milhões, os que resolveram agir além da indignação nem tanto. Incontestavelmente houve no Brasil um despertar que culminou em manifestações jamais vistas, em número de participantes e dias corridos nas portas dos quartéis. Por outro lado, a indignação ausente se faz sentir como vazio que representa o desânimo, a falta de cora-

gem, a acomodação e a inércia diante de fatos tão graves.

Na minha inocência, quando efetivamente assistimos a eLe subir a rampa, durante uma cerimônia triste, quase fúnebre, imaginei que o Brasil não fosse suportar ... e novamente frases de conformismo eclodiram ao meu redor: “que pena, não dá para fazer nada”, “aceite, o Brasil é assim mesmo”, “já era”. Confesso momentos de desesperança, seria mesmo o povo brasileiro passivo, inerte e “bon-vivant”? Seria ingênuo ou desinformado? Concluo que é uma somatória de tudo: o Brasil que sonhei ficou bem próximo, mas faltou luta, não dos que estavam a frente dos quartéis por mais de 2 meses, mas daqueles que se ausentaram...Aqueles que se conformaram fizeram muita falta, cientes dos absurdos e dos abusos preferiram procrastinar a luta e aceitar uma derrota questionável.

Se é trabalhoso educar uma criança imaginem educar uma Nação?

Aos que continuam na luta afirmo: temos em mãos o instrumento que nos fortalece, a fé. E aos que se distanciaram dela por saber que o padre da sua paróquia fez a “L”etrinha lembro: um dia eLe partirá para novos caminhos levando a sua semente e nós permaneceremos com nossas raízes.

Segundo Santo Agostinho: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.”

Trarei novidades de Brasília, meu destino essa noite...

Coragem povo Brasileiro!

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LEITURA DINÂMICA

1– O estilo literário da crônica é o ideal para que o iniciante comece a gostar de ler livros...

2

– Nos anos 80/90, tinha uma coleção de livros chamada “Para Gostar de Ler”, que era excelente. Gostosa de ler, com boas histórias, não muito longas, abordando o lado cômico, melancólico, irônico e poético do cotidiano.

Os cronistas Carlos Drumond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino foram os grandes incentivadores da preferência dos leitores pela crônica.

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– O dia a dia de pais e filhos é marcado por momentos inesquecíveis. Moacyr Scliar extraiu desse pequeno universo sua inspiração para essas crônicas.

– Cenas do cotidiano retratadas por Luis Fernando Veríssimo.

Como se estivesse conver sando despretensiosamente col o leitor, Rachel de Queiroz descreve cenas brasileiras...

5–

6

– Coletânea de crônicas publicadas por Marcos Rey na revista Veja.

7

– Coletânea de 30 crônicas sobre o cotidiano e as rela ções familiares e lembran ças da infância escritas por Paulo Mendes Campos

8

– O inigualável Stanislaw Ponte Preta nos traz: um marido infiel, uma criança metida a espertinha e uma velha intrometida...

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