Edição 681

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É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu es�lizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico�

O lendário Orlando Villas Boas e seus irmãos são os heróis nacionais na defesa dos índios. Página 3
DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 681 QUINTA-FEIRA , 12 DE JANEIRO DE 2023
Diário da Cuesta NA

EU QUERO PAZ

BAHIGE FADEL

Alguns dias fiquei meditando sobre um tema para uma crônica. Um tema atual. Um tema que esteja na boca e nos pensamentos das pessoas. Estava difícil. Escrever sobre o quê? Todos os fatos ‘importantes’ só se referem a ódio, a violência, a intransigência. Todos os personagens se sentem na obrigação de demonstrar poder, força. Todos têm sede de poder. Todos querem ser importantes. Indispensáveis. Únicos. Insubstituíveis. E quando esse poder é ameaçado, viram feras. E não estou falando da esquerda ou da direita, de bolsonaristas ou lulistas, de vitoriosos ou derrotados. Estou falando das pessoas. Ser da situação ou da oposição é circunstancial. Uma hora é uma coisa, outra hora muda. Estou falando de atitudes, de pensamentos, de falas, de sentimentos das pessoas. É disso que eu falo. Se são da esquerda ou da direita, não estou nem aí. Sempre defendi a ideia de que qualquer tipo de governo pode ser bom, desde que as pessoas que estão no poder sejam boas, sejam competentes, tenham espírito público, sejam honestas e tenham boas intenções. Se o governo parte do princípio de que deve trabalhar pelo povo, para a felicidade da população, não importa muito como alcançará esse objetivo. Portanto, salvo melhor juízo, não é essa a questão.

Finalmente, depois de muito meditar, encontrei o tema. Assunto atual, interessa a todos. O que eu quero para os dias de hoje é paz. Quero paz nos pensamentos e nos sentimentos. Quero paz nas palavras e nas ações. Quero a paz que conforta. Quero a paz que une. Quero a paz que constrói coisas boas. Quero a paz que permite bons sonhos. Quero a paz que desenha esperança de melhores dias. Quero a paz fraterna. Quero a paz que me permite amar sem medo. A falar sem medo. A agir sem

medo. A respirar sem medo. A viver sem medo.

Não quero mais nada. Não preciso de mais nada. Não preciso que pensem por mim. Sou dono dos meus pensamentos. Não preciso que façam por mim. Sou dono de minhas ações. Não preciso que falem por mim. Sou dono de minhas palavras. Mas se quiserem me dar a mão, para multiplicar a paz de cada um, aceitarei. Iremos juntos no mesmo sentido. E saberemos sorrir. E saberemos conviver, mesmo que sejamos diferentes. Mesmo que pensemos de forma diferente. Desde que as diferenças nos ajudem a ver melhor, a agir melhor, a pensar melhor. As diferenças devem servir de escadas, para que todos possam subir, não como túmulo, onde todos acabarão sendo enterrados.

Eu quero paz. Tenho certeza disso. Não a paz dos mortos. Eu quero a paz dos que querem viver felizes e fazem questão de que os outros também sejam felizes.

Diário da Cuesta 2
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A R T I G O

Aproveitando o mês de abril, dedicado aos índios, um turista recostado em cômoda poltrona do Peabiru Hotel, cerra os olhos para uma sesta. Suavemente, deixa ele rolar a memória à procura de recordações que distendam e convidem ao sono. Mas a imaginação é quase sempre caprichosa. E todo capricho, por natureza, é teimoso. As imagens que se lhe apresentam - lá sabe o turista por que - talvez em razão da bela mata que se vê ao longe - são fotos, audiovisuais, filmes que viu, em diferentes ocasiões, sobre índios, seus costumes, suas moradias, seus ritos de festa, de luto e de guerra.

O candidato à sesta consegue escapar, por fim, a perseguição indígena, pouco propícia à distensão, e de palpebras baixadas, na insistente procura do sono, vai fazendo emergir da memória, mansa e suavemente, a lembrança dos sertanistas Villas Boas que, dos bons ares da serra botucatuense, partiram para as matas no afã de civilizar os índios Lembrou que aqui também aportou para se dedicar ao seu primeiro emprêgo de médico, do Instituto Experimental Agrícola (Fazenda Lageado), o sanitarista e também sertanista Noel Nutels. Segundo depoimento do próprio Noel, que aqui conheceu os irmãos Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Boas, foram eles marcantes em sua vida e vocação.

Tempos depois, o Dr. Noel Nutels encontra-se com o Ministro João Alberto Lins de Barros que, depois de conseguir carta branca de Getúlio Vargas para criar a Fundação Brasil Central, espera poder desbravar e recuperar o sertão.

O turista, repousando, dolentemente em sua poltrona, rememora que o sertão possui inimigos mortais dentre eles a malária que os espera nos charcos, pantanais eáguas paradas. Independente do homem que chega ou sai. É mal de tocaia. No sertão e no mundo todo. Não é como a tuberculose, mal adventício, pelo menos para o habitante legítimo da selva, seu dono de muitos séculos. Vem na companhia do desbravador. É companheira das injustiças e incompreensões dos que estão chegando. E, os irmãos Villas Boas sabiam disso

Sertanistas Botucatuenses

tudo. Enfrentaram e sofreram os ataques da malária na defesa de seu ideal maior Nosso turista se distende. Sente que sono se vai acercando. Mas, por seus ouvidos adentro penetra os sons da mata numa lembrança distante. Corria o ano de 1949 e o Ministro João Alberto nomeia Noel Nutels médico da expedição RONCADOR-XINGU, então confiada aos irmãos Villas Boas. Os Villas Boas penetram no sertão de Mato Grosso ao norte do estado, numa zona de transição florística entre o Planalto Central e a Amazônia A região toda ela plana, onde predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do Xingu e pelos seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores são os rios Kuluene, Ronuro e Batoví Os afluentes, os rios Suiá Missú, Maritsauá-Missú, Uaiá-Missú, Auaiá-Missú e Jarina.

Segundo os irmãos Villas Boas, antes mesmo de ser criada a Expedição Roncador-Xingu, em 1949, já, em 1946, eles haviam chegado aos formadores do Xingu e, os seus povoadores indígenas eram, nas suas várias práticas e costumes, estritamente os mesmos encontrados pelo etnólogo alemão Karl von den Steinem, em 1877, em sua expedição etnográfica. Era idêntica a distribuição das aldeias na região, o mesmo intercâmbio e relações entre elas; a mesma índole pacífica, a mesma hospitalidade, curiosidade, traduzindo-se, ao contato com estranhos, nas atitudes ingênuas e amistosas que tanto impressionaram o explorador alemão, mercendo dele o mais minuciosos e expressivo registro.

A presença dos irmãos Villas Boas seria uma continuação do serviço de proteção ao índio criado pelo governo em 1910. Um dos grandes idealizadores desse serviço foi, sem dúvida, o Marechal Rondon que sensibilizado com a situação telegráfica, sem empregar a força, conseguira contatos pacíficos com os índios dos territórios atravessados pela linha telegráfica

Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Boas concretizaram o novo tipo de política indigenista: os índios passam a ter o direito de viver segundo suas tradições, sem ter que abandoná-las necessariamente; a proteção é dada aos índios em seu próprio território, pois já não se defende a idéia colonial de retirar os índios de suas aldeias para fazê-los viver em

aldeamentos construídos pelos civilizados; fica proibido o desmembramento da família indígena, mesmo sob o pretexto de educação e catequese dos filhos; garante-se a posse coletiva pelos indígenas das terras que ocupam e em caráter inalienável; garante-se a cada índio os direitos do cidadão comum, exigindo-se dele o cumprimento dos deveres segundo o estágio social em que encontra.

Ao lado de Darcy Ribeiro, Heloisa Alberto Torres, José Maria da Gama Malcher e do General Rondon, os irmãos Villas Boas vão conversar com o Presidente Vargas para a criação do Parque Nacional do Xingu Tudo inútil. O parque só seria criado mesmo no governo de Jânio Quadros, em 1961 e, aumentado em sua dimensão, em 1968.

O turista volta a divagar: Na tribo dita selvagem, não há mandões, nem chefões. O cacique é tão só um líder-conselheiro. Tudo se resolve com o consenso de todos. É uma democracia plena Não há entre os índios, fazendeiros nem colonos, patrões nem empregados, proprietários nem marginalizados, ricos nem pobres; não há leis, regulamentos, repartições, taxas, impostos, toda esta inferneira que você conhece. Em suma, nada há do que divide, hierarquiza e jugula. A espontânea nudez de ambos os sexos é completa, ou quase tanto. Todos andam inteiramente à vontade pela selva, procurando petiscos para comer: peixe, ave, besouro ou fruta. De volta, repartem com as famílias tudo que pegaram. Ninguém que ser mais do que ninguém, nem pensa muito no dia de amanhã. É, enfim, o paraíso na terra.

Em entrevista à revista Visão (10/02/1975), Orlando Villas Boas disse: “Se um índio der um tremendo berro no meio da aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar por que ele gritou. O índio é um homem livre”.

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Olavo Pinheiro Godoy Da Academia Botucatuense de Letras
A R T I G O Os irmãos Orlando, Cláudio e Álvaro Villas Boas. no destaque, Leonardo Villas Boas, o mais velho e que faleceu primeiro
Villas Boas e filhos:
Arlinda
segurando Álvaro,
e atrás
Leonardo
e atrás,
Casal Agnelo e Arlinda
Nelson e Orlando (ao lado do pai),
Lourdes
Cláudio (sentado)
Acrísio.
(na frente)
Erasmo.

"Caminhos"

Conversando com uma pessoa da família, há muito tempo atrás, ela me contou um sonho que sempre tinha

Ela andava por uma estrada carregando um enorme fardo.

Sentia-se exausta e com os ombros machucados

E na noite seguinte continuava levando o mesmo fardo

Nas minhas reminiscências dos meus sonhos, um se repetia muito também

Eu estava sempre indo a pé até minha cidade natal, Avaré

Conhecia cada canto, cada curva, cada morro, cada árvore dessa estrada E andava apressada para chegar antes do anoitecer

E na chegada ver o grande flamboyant florido ao lado da linda igreja branca lá encima no morro

As estradas foram mudando

A estrada que era de terra foi asfaltada, a entrada da cidade mudou, a casa da vovó foi demolida, muitos dos nossos queridos nos deixaram para viver em outro plano

Se voltar a Avaré ainda reconheço muitos lugares

Quando menina andávamos muito a pé pela cidade

Você ganha outras dimensões de espaço, conhece cada pedra do caminho.

As ruas tinham nomes de estados brasileiros.

Sabia como chegar na cidade de trem Como ir para a casa dos meus avós. Onde ficava a casa de cada tia, e a da Nona Constantina, tio Tone e do Silvio.

A sorveteria na esquina da praça e o sabor do sorvete de coco queimado que gostava tanto

Como chegar ao cinema descendo a praça central.

Dona Elizabete com suas netinhas, os deliciosos biscoitos que fazia.

Depois começamos a usar ônibus

E chegávamos na rodoviária onde meu tio Omar sempre nos recebia porque trabalhava lá, ou o querido Tio Domingos ia nos buscar com sua kombi.

Sabia a rua e a casa de cada amiga da minha mãe, pois íamos visitá-las a cada férias

Lembro-me muito de D. Zilá, era mãe de uma das nossas amiguinhas, a Maria Cristina, que era uma menina irritantemente linda e educada, exemplo constante da minha mãe a ser seguido

Era muito diferente de nós, loira e com grandes e lindos olhos azuis que

enfeitavam sua delicada carinha de boneca.

Nossas mães conversavam muito, e me lembro que a partir de um tempo eram conversas que entristeciam minha mãe , pois sua grande amiga estava muito doente

Numa das nossas férias já não fomos visitá-las, pois tinham se mudado para São Paulo, aonde D Zilá poderia ter um melhor tratamento médico.

Muito tempo depois nos encontramos com Maria Cristina, que se tornou uma linda moça

Seus pais tinham falecido, ela continuava morando em São Paulo

E o Rio da vida foi mudando o seu curso suave e firmemente, mas na minha memória ainda sei o rumo

Diário da Cuesta 4

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