Edição 686

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Diário da Cuesta

Cavalheiro Virgínio Lunardi

Imigrante Italiano Pioneiro da industrialização no 1º Ciclo industrial de Botucatu, presidiu e consolidou, por dezenas de anos, a Società Italiana Di Beneficenza. Nas palavras do Professor Pedretti Neto na inauguração do busto de Lunardi na Vila dos Lavradores: “Este, de fato, foi um homem; este, de fato, é um símbolo”. Página 4

Edição comemorativa

dos 130 anos da Vila dos Lavradores

DO MEIO AMBIENTE
DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 686 QUARTA-FEIRA , 18 DE JANEIRO DE 2023
NA DEFESA
E

CAVALHEIRO VIRGÍNIO LUNARDI

Discurso proferido pelo prof. José Pedretti Neto, na ocasião do descobrimento do busto do saudoso Cav. Virgínio Lunardi, colocado na praça da Vila dos Lavradores que ostenta seu nome, como uma homenagem que se prestou à sua memória no encerramento das comemorações do 1º Centenário de Botucatu. “Virgínio Lunardi, cidadão de S. Pelegrino, Itália, é cidadão de Botucatu, Brasil. Foi coragem e força, abnegação e filantropia, capacidade de inteligência e apologista do trabalho. O bronze que hoje lhe perpetua o nome serve, apenas, como motivo de fixação porque, mais do que o metal, a sua memória se espelha na sua própria vida. E sua vida foi um Exemplo e sua existência foi uma diretriz de retidão.

Planta transplantada da velha Itália trouxe, para a terra ubertosa de Botucatu, a seiva de séculos de civilização. E como os carvalhos que foram testemunhas da história, Virgínio Lunardi, filho ilustre de duas pátrias, uma de nascimento e de coração, outra adotiva e de sua alma, mergulhou raízes na ancestralidade e esplendeu a folhagem para o céu, para o alto, para o sol, para a alegria da vida nova, num hosana

festivo, numa epopéia de pujança e sentimento.

A sombra de sua amizade verificou-se o humanismo do gênio de sua raça. Nunca negou o pão a quem lhe o pediu, nunca faltou com o conselho a quem se sentia deprimido, nunca negou o estímulo a quem precisava de um pequeno apoio para progredir. Foi o homem humano porque viveu sempre em função de seus semelhantes; foi o homem total porque criou um império de trabalho, esse trabalho que é dignidade e que é sua herança mais preciosa; foi o homem-abnegação porque compartilhou sempre do sofrimento alheio.

Quando todos descreram, ele acreditou. E a sua fé levantou uma indústria como atestado de confiança no futuro de Botucatu. Do alto desta colina ele descortinou, no porvir, os horizontes do progresso da terra de seus filhos.

Virgínio Lunardi foi o herói, não o herói da bravata e da inconsistência, mas foi o herói da compreensão e da justiça, da integridade e do caráter Impondo a si mesmo uma norma de conduta rígida e sempre soube compreender a falta alheia

e a dor do próximo porque nele o coração sempre conseguiu, para os outros, a concessão da consciência.

Amou a Itália com amor de filho e amou o Brasil com amor de pai Se a Itália lhe deu o nascimento, o Brasil lhe deu o berço da descendência E sempre foi o filho amoroso e o pai emotivo, filho que se ajoelha e o pai que abençoa

Virgínio Lunardi, neste primeiro ano do Centenário da tua e da nossa terra, esta Botucatu que amaste e que amamos, recebe a homenagem da tua gente Que este bronze seja a lembrança de um povo que reconheceu o teu mérito e que amanhã, nesse dia longínquo do futuro, as gerações aqui parem e meditem, que sintam teu exemplo e a dignidade de tua vida e que, concentradas na análise do que foste, possam proclamar:

“Este, de fato, foi um homem; este, de fato, é um símbolo". (Folha de Botucatu, 21/04/1955)

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta com br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Diário da Cuesta 2
EXPEDIENTE
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

MARIA DE LOURDES CAMILO SOUZA

Entrando na metade final do ano, os preparativos para a formatura estavam acelerados.

Ainda tinha uns números da rifa para vender, pró- baile.

A viagem para o Rio de Janeiro empolgava a turma.

Anos 60, praia de Copacabana, passeio ao Cristo Redentor, rock and rol, visita ao Maracanã, muita alegria e curtição.

Coppertone e sol, maiôs comportados, alguns duas peças mais ousados.

E a rapaziada carioca alvoroçada com tantas mocinhas bonitas paulistas e branquelas.

Caipirinhas com guarda-chuvas e coca cola gelada, os jeans do Paraguay.

As amizades se reforçando.

Urgia pensar no vestido do baile.

Vovó Angelina tirando medidas.

Vira que revira páginas das revistas de moda, até que os olhos caíram sobre aquele modelo espetacular.

Tinha que ser branco num tecido diáfano, o corpete tomara que caia todo drapeado, na cintura um bordado de cristais e aquela saia meio evasé esvoaçante até os joelhos.

Entre inúmeras provas de todas as matérias escolares, as reuniões da comissão de festas para organizar eventos e conseguir dinheiro para as comemorações, tinha as demoradas provas do vestido que tinha que ficar perfeito.

E o olhar exigente na frente do espelho.

- "Vovó tem que apertar mais na cintura".

E lá vinha a avó com a boca cheia de alfinetes e os dedos experientes: prende, que espeta, que ajeita, aperfeiçoa.

No meio disso tudo o noivo ciumento exigindo tempo para si.

O tempo não passava entre estudos e provas, mas voava entre passeios e beijos.

Vieram as cerimônias da missa de formatura na Catedral com a igreja lotada, um calor insuportável naquele uniforme de gala quente.

O cabelo liso ameaçando colar na nuca.

A entrega dos diplomas e o discurso comovente.

Lágrimas emocionadas entre os parentes e os presentes.

Até que o vestido branco impecável ficou pronto no cabide.

Cabelo todo enrolado de bobs amarrado com lenço, fazer as unhas, tomar banho e se preparar para usar o vestido dos sonhos.

A casa cheia de parentes se preparando, e falando alto, trançando pelos quartos e corredores.

A hora do baile chegou e a formanda estava pronta esperando o seu príncipe louro de olhos azuis, topete de Elvis, vir buscá-la.

Silêncio total quando abriu-se a porta do quarto e ela surgiu tal qual Natalie Wood esplendorosa e sorridente naquele vestido de baile deslumbrante.

Vovô Gijo quase perde a dentadura com a boca aberta e olhos de encanto.

Tia Lucilla sorrindo maravilhada olhando sua sobrinha predileta tão linda.

Lá fora na frente do portão o noivo buzinava impaciente e lá fomos todos seguindo-a encantados e combinando tudo.

- "Não se esqueçam de pegar os convites, tem uma mesa especial para os parentes no clube".

Acenou sorrindo e partiu na curva da esquina.

Desse dia ficaram algumas fotos em branco e preto.

50 anos se passaram.

Vieram os filhos, os netos, a neta tão esperada e adorada ia se formar.

A já avó, pegou a escadinha e lá do fundo do armário retirou um pacote de plástico azul, cheirando a naftalina.

Desenrolou e dele saiu o seu vestido de formatura, amassado mas, não menos bonito.

A neta olhou achou lindo, mas queria outro modelo em cor amarela rebuscado bordado com estrelas.

A avó sorriu um sorriso amarelo, decepcionado, mas partiu para São Paulo para comprar o voile e a renda no Brás.

Diário da Cuesta 3
Esta estória escrevi há um ano, e ao reler não contive as lágrimas, então resolvi compartilhar com vocês essa lembrança!
"O vestido do baile de formatura"

GERAÇÕES DA CIDADANIA BOTUCATUENSE HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU! VIRGÍNIO LUNARDI: Imigrante Pioneiro!

Nascido em 1870, em S. Pellegrino, na província de Modena/Itália, Virgínio Lunardi tinha, como os modeneses, o espírito prático aliado a ideias modernas e uma têmpera para o trabalho que propiciaram a que tenha sabido levar e construir a sua vida com uma nota otimista e repleta de bons sentimentos, cortesia e espírito empreendedor.

Ainda no século retrasado aportou em Botucatu, em 1887, onde já estava instalada expressiva colônia agrícola dos italianos. De início, dedicou-se ao comércio onde, pouco a pouco, foi formando clientela e assegurando conceituado renome em Botucatu e região pela presteza, dinamismo e competência com que tocava seus interesses. No ano de 1911, trouxe da Itália seu irmão Mansueto Lunardi e, ambos, imprimiram à empresa solidamente plantada um desenvolvimento grandioso. Estudaram as condições mercadológicas da época e optaram por uma atuação diversificada, não só quanto à gama de produtos industrializados, como também ampliando as suas atividades nos campos industrial, do comércio e agrícola. Não apenas foi um pioneiro de nossas industrias, mas soube atuar no comércio e no setor agrícola. O comércio de produtos comestíveis, de cereais no atacado e no varejo e o pioneirismo na revenda de automóveis e na comercialização de seus produtos; moderna fábrica de bolachas e conceituado pastifício deram à Virgínio Lunardi & Irmão, destaque e prestígio em todo o interior do Estado de São Paulo.

Constituiam a empresa LUNARDI, as seguintes unidades: Grande e moderno Pastifício; Fábrica de Bolachas; Máquinas para o benefício de café,

arroz e algodão; comercializando cereais; Representante da Standard Oil Co. of Brazil (Posto de Serviço para automóveis e carga de acumuladores); Agência Chevrolet (caminhões, automóveis, peças, acessórios, acumuladores e oficina mecânica); Seção Agrícola )Fazendas Boa Vista, Indianópolis, Santa Luzia e São Bento); Imobiliária; Acionistas da S/A Industrial Botucatuense – SAIB (madeiras) e Sócios das firmas Lunardi & Cia; Lunardi & Pescatori e Cortume Vitória

Virgínio Lunardi foi um líder de sua geração. Presidiu por dezenas de anos a Società Italaiana Di Beneficienza Era benquisto e respeitado por todos. Sabia comandar e era orador brilhante. Deixou a sua marca positiva.

Prematuramente falecido, Virgínio Lunardi deixou seu nome gravado indelevelmente nas páginas da história botucatuense, legando a seus sucessores o seu exemplo de tenacidade invulgar.

Com sua ausência, assumiu o comando de todo o Complexo Lunardi, seu irmão Mansueto Lunardi, outra expressão de destaque em nosso 1º Ciclo Industrial, que soube ampliar e consolidar os negócios da empresa, ao seu lado, os filhos de Virgínio Lunardi: Oswaldo, Luciano e Aristides. Todos souberam levar a bom termo os ideais desse valoroso imigrante italiano.

A cidade de Botucatu prestou sua homenagem àquele que trouxe progresso e desenvolvimento para a cidade e, especificamente, à Vila dos Lavradores. Podendo optar pela localização de seu comércio e de suas industrias, Virgínio Lunardi sempre optou, claramente, por prestigiar o “Bairro da Estação”, transformando-o na “cidade alta”. A homenagem do Poder Público, em sua primeira etapa, constituiu-se na denominação da principal praça da Vila dos Lavradores, de Praça Cavalheiro Virgínio Lunardi, feliz iniciativa do então vereador Antônio Delmanto, que encontrou apoio unânime dos senhores vereadores e prefeito municipal.

Juntamente com Petrarca Bacchi, Virgínio Lunardi representa o destaque maior de nosso 1º Ciclo Industrial (1890- 1929/30), onde o pioneirismo dos imigrantes forjou uma fase de desenvolvimento invulgar para Botucatu, projetando-a como polo irradiador de cultura e educação e centro industrial de reconhecida liderança em todo o Estado de São Paulo. (AMD)

Diário da Cuesta 4

LEITURA DINÂMICA

BAIRRO DA ESTAÇÃO

Por que é chamado de Bairro da Estação? Vila dos Lavradores ou Bairro da Estação?!?

Não cabe discussão: os dois são válidos. Em um passado mais recente, com certeza, seria mais usado Bairro da Estação. Afinal, o bairro tinha, no passado, a sua força vinda de dois polos: as Indústrias Lunardi e a poderosa Estrada de Ferro Soroca -

bana. Na estação era o point não só da Vila dos Lavradores mas de toda a cidade de Botucatu. Afinal, quem não tinha que passar pela estação uma ou outra vez? Sempre considerada, no passado, a principal PORTA DE ENTRADA DE BOTUCATU , a Vila dos Lavradores ou Bairro da Estação mantém, ainda hoje, toda essa importância histórica.

LÍDER COMUNITÁRIO I

A Vila dos Lavradores ou Bairro da Estação, sempre foi pródiga em revelar lideranças. A primeira delas a ocupar lugar de destaque efetivo em Botucatu, foi a do saudoso comerciante e líder comunitário e religioso, Laurindo Izidoro Jaqueta. Sempre enaltecia e promovia as boas coisas do bairro. Foi um dos criadores e idealizador do Centro Social e Cívico da Vila dos Lavradores – CIVIL, ponto de encontro e festas da comunidade vilense. Foi Vereador

e foi Presidente da Câmara Municipal de Botucatu por três vezes. Foi a primeira liderança da Vila dos Lavradores a ter efetiva projeção política. Pela importância da população do bairro e pelo destaque de sua atuação como líder comunitário e religioso, Jaqueta foi convidado a ser candidato a vice-prefeito. Não foi eleito mas abriu caminho seguro para outros vilenses chegarem ao topo do Poder.

LÍDER COMUNITÁRIO II

Quando do movimento das Diretas Já, o então PMDB, começou a tomar proporções invencíveis em nosso estado. Em Botucatu, sob a liderança de Progresso Garcia, optou por buscar na Vila dos Lavradores o candidato a vice-prefeito, repetindo a iniciativa realizada com Jaqueta. Foi procurado, primeiramente, o João Pilan, popular futebolista pertencente a tradicional família vilense. Diante da negativa absoluta do mesmo que não queria entrar para a política, optou-se pelo nome de Joel Spadaro, também

futebolista e, novidade e orgulho para o bairro, pertencente à primeira turma de formandos da nossa Faculdade de Medicina. O Joel Spadaro elegeu-se vice-prefeito, posteriormente elegeu-se , vindo a ocupar a Diretoria da Faculdade de Medicina/UNESP. A Vila dos Lavradores ou Bairro da Estação representa, sem dúvida, um bairro com características próprias. É um bairro/cidade que polariza o comércio de tantos outros bairros em seu entorno.

O

Mago

e o Desenho

O Prof. Benedito Vinício Aloise

Aloise já é bastante conhecido de todos. Foi o principal ilustrador dos livros dos autores botucatuenses Militou e deixou saudades na Escola Normal, na CESP e na UNESP (ex- FCMBB). Foi Membro Honorário da ABL – Academia Botucatuense de Letras e colaborou com os jornais e revistas da cidade. Foi um Cidadão Prestante!

A folha da EMBAÚBA, ÁRVORE SÍMBOLO da CUESTA DE BOTUCATU, foi desenhada por ele e tem sido destaque nas publicações da Revista PEABIRU e, agora, passa a ter destaque nas publica ções do DIÁRIO DA CUES TA. A ilustração da folha da Embaúba foi a motiva ção para que o nosso jornal buscasse nessa típica árvore do cimo da cuesta, o símbolo a marcar a caminhada jornalística estreitamente ligada às suas origens, ao seu povo e à sua história.

É uma raridade, podem crer É coisa de artista No entanto, como já dissemos, a Embaúba aí está, em vários pontos, como a querer mostrar que aqui é o seu lugar...e é!!! O antigo traçado férreo da Sorocabana passava por Vitória (Vitoriana), Lageado e...Embaúba! Sim, Embaúba é uma pequena Vila pertencente a Botucatu que até hoje é procurada pelos amantes da pesca por ser um local ideal e piscoso.

Prof. Vinício: o Mago do Desenho a registrar a História de Botucatu!

AS INDÚSTRIAS LUNARDI

Juntamente com Petrarca Bacchi, o Cavalheiro Virgínio Lunardi implantou um rol de indústrias em nossa cidade e – isso é importante! – fez questão que todas ficassem localizadas no Bairro da Estação ou Vila dos Lavradores. O complexo industrial Lunardi era muito poderoso. Cresceu tanto que teve que buscar seu irmão Mansueto Lunardi , na Itália, para viesse ajudá-lo. Era o orgulho não só da Vila dos Lavradores mas de toda a cidade de Botucatu. O Cavalheiro Virgínio Lunardi ocupou os principais cargos ligados ao setor industrial, presidiu com competência a Sociedade Italiana e foi uma pessoa de boa e firme presença cívica em Botucatu. Após o fechamento das Indústrias Lunardi , um de seus netos, Fúlvio Chiaradia , recuperou o antigo complexo industrial e adaptou-o para o comércio, sendo hoje ponto importante e referencial do comércio do bairro. Fica o registro histórico, destacando que em nossos dias a má informação e o descuido, repetidas vezes, ao citar o nome desse importante industrial ou da praça da igreja que leva o seu nome, escreve-se erroneamente Virgílio em lugar de Virgínio...

Diário da Cuesta 5

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