Águas de Março
Na edição de 20 de março de 1973 do jornal Última Hora, a escritora Rachel de Queiroz (1910 - 2003) dedica uma crônica à canção, descrevendo-a como “coisa bela e estranha, dura; fere o coração com um toque de pedra e depois o afoga na cheia das águas Promete e recorda, memória de infância e angústias da força do homem”. Chico Buarque (1944), por sua vez, sentencia: “É o samba mais bonito do mundo”.
A letra escrita por Jobim, com versos que alternam pessimismo e otimismo, torna-se objeto frequente de análise. “A cada estrofe, a cada verso busca-se um equilíbrio entre extremos”, diz o crítico Augusto Massi. Já seu colega Arthur Nestrovski destaca que prevalece na canção o verbo ser, conjugado na terceira pessoa. “Tudo é, nada faz. Um ou outro fazer, quando aparece, vira qualidade, formulada em gerúndio, quase sempre para sublinhar uma essência: ‘é o vento ventando’, ‘é o pingo pingando’, ‘é uma prata brilhando’”, comenta o crítico. Eis a letra:
“É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
EXPEDIENTE
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração”.
A engenhosidade dos versos acompanha a concepção musical. Os pesquisadores Zuza Homem de Mello (1933) e Jairo Severiano (1927) chamam a atenção para uma estrutura harmônico-melódica que aparenta simplicidade mas possui grande sofisticação. “Essa estrutura apoia uma melodia caracterizada pela obstinada repetição de uma pequena célula rítmico-melódica, construída basicamente com duas notas (a 3ª e a fundamental do acorde de tônica), harmonizada por um encadeamento de quatro acordes, com o uso de inversões e outras diferenças sutis – e é nesse ponto que se situa a parte mais rica da criação de Jobim – que se resolve invariavelmente no acorde de tônica de cada final de frase, ou seja, de quatro em quatro compassos, nada menos que 18 vezes durante toda a peça”, explicam os pesquisadores.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
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"Tudo é questão de despertar sua alma"
Gabriel Garcia Marques
Maria De Lourdes Camilo Souza
Sai com algumas amigas para um encontro depois de alguns meses, na noite desta quintafeira.
E depois de nos cumprimentarmos e confraternizarmos, já na saída da Casa do Líbano, uma das amigas perguntou ao grupo: - "Quem aqui escreve?"
Eu disse "eu escrevo"
Ela me perguntou: "e o que escreve?"
Pausei pensando: essa não sabe que escrevo e nunca leu nada que já escrevi.
Respondi "escrevo estórias".
Ela retrucou, eu também ando escrevendo.
São coisas curtas, na maior parte coisas engraçadas.
Poderíamos nos encontrar dia destes e ler o que escrevemos.
Eu respondi que sim, seria interessante.
Nos despedimos em seguida, sem fixarmos uma data para o encontro para essa leitura.
Fiquei com isso na lembrança, imaginando um sarau onde faríamos a leitura.
O engraçado é que quando ela fez a pergunta olhou direto para mim como se já soubesse a resposta.
Penso que algumas pessoas atualmente sentem-se despertas para novos dons adormecidos.
Tenho já tantos textos armazenados, que quando releio alguns deles, até duvido que fui eu mesma que o escreveu.
Leio várias vezes querendo entender como de repente isso se passou.
Buscando na memória vejo que eu desejei isto desde muito criança, o que prova que o que desejamos, um dia se torna realidade.
Já dizia Paulo Coelho : " Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que o seu desejo se realize."
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Acordo entre Palmeiras e São Paulo levará o Tricolor mandar um jogo no campo do rival após 28 anos
Com o Morumbi cedido para realização de série de shows, São Paulo voltará a mandar uma partida no campo do rival
As quartas de nal do Campeonato Paulista de 2023 terão o seu início no neste nal de semana.
A disputa começa no sábado (11) com o Palmeiras recebendo o São Bernardo no Allianz Parque, às 19 horas.
No dia seguinte, mais duas partidas: Corinthians x Ituano, na Neo Química Arena às 16 horas e às 19:30 será a vez de Bragantino x Botafogo-SP irem a campo no Nabi Abi Chedid.
Fechando a disputa, na segunda-feira (13), será a vez do São Paulo enfrentar o Água Santa às 20 horas. No entanto, o duelo não será disputado na casa Tricolor como de costume, mas sim, na arena palmeirense.
Isso ocorre por dois fatores: O São Paulo está impossibilitado de atuar no Morumbi por conta dos shows que a banda Coldplay realizará no local e também por conta um acordo com o Palmeiras, que topou em ceder seu estádio para o clube rival disputar o seu jogo, retribuindo o gesto do tricolor, que cedeu o estádio para o alviverde disputar o clássico contra o Santos.
Desta forma, o Tricolor voltará a atuar como mandante no estádio de seu rival após 28 anos.
A última vez do clube do Morumbi jogando com o mando de campo no estádio do rival foi no ano de 1995. Na ocasião, era disputada a 4 ª rodada do Paulistão daquela temporada.
No dia 12 de fevereiro, o São Paulo atuou na antiga casa palmeirense, o Palestra Itália, também conhecido por Parque Antárctica para um duelo contra a Portuguesa de Desportos.
Na disputa, melhor para a Lusa, que saiu com os três pontos após vencer por 2 a 1.
Os gols dos visitantes foram anotados por Jorginho e Tiba, enquanto Caio Ribeiro, hoje comentarista da TV Globo descontou para o São Paulo.
Placar à parte, aquela partida tem como curiosidade a participação de dois personagens fazem parte dos dias atuais do cotidiano tricolor.
Atual técnico do São Paulo, Rogério Ceni, então reserva de Zetti, atuou como titular e não conseguiu impedir a derrota. Na época, o goleiro não havia adicionado as cobranças de falta e pênalti a seu repertório.
Além disso, no banco, quem dirigiu o time foi o atual Coordenador de Futebol do São Paulo, Muricy Ramalho, que à época era auxiliar xo de Telê Santana, que se ausentou dessa partida e depois retomou o comando tricolor normalmente.
Em seu histórico de jogos como mandante na casa palmeirense, o São Paulo ainda conta com jogos amistosos contra Libertad (Paraguai), Flamengo e Grêmio. Disputou ainda partidas do antigo Troféu Roberto Gomes Pedrosa contra o Fluminense e Flamengo, ambos em 1969, e também duelou com o Atlético-MG pelo Brasileirão de 1990, entre outras tantas partidas que foram realizados no local entre 1936 e 1995.
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