Diário da Cuesta
“EU NASCI
NAQUELA SERRA...”
ANGELINO DE OLIVEIRA
É um orgulho para Botucatu possuir o TRIO PIONEIRO DA MÚSICA RAIZ: Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, que praticamente fazem de Botucatu e região o BERÇO DA MÚSICA CAIPIRA OU MÚSICA RAIZ. Sim, porque é pacífico o entendimento de que Piracicaba é a Capital da Música Caipira e o caipirês está enraizado em Piracicaba e já é patrimônio imaterial da cidade. E o registro do sotaque caipira como patrimônio reúne expressões em Piracicaba...
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TRIO DE OURO DA MÚSICA RAIZ
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 771 QUINTA-FEIRA , 27 DE ABRIL DE 2023 Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br 168
Raul Torres
Angelino de Oliveira Serrinha
RAMIRO VIOLA & PARDINI: Sucesso na TV Globo!
RAMIRO & PARDINI tem feito sucesso no nosso estado e pelo país todo. Sempre se apresentando com grande audiência, a dupla carrega o que há de melhor em nossa música raiz.
Saudades de Botucatu
Autor: Angelino de Oliveira
Nunca esquecerei de ti, oh minha terra, Berço onde o amor nasceu.
És princesa lá da serra, Terra dos carinhos meus.
Não mais poderei viver longe de ti.
Tu és a minha adoração. Oh! Botucatu, Cidade dos meus sonhos, Terra do meu coração.
Com o programa “AROMA SERTANEJO”, Ramiro e Pardini tem feito uma verdadeira “garimpagem” sobre a nossa música raiz. Tanto na TV Alpha como em seus programas radiofônicos, fazem sucesso contínuo Pode-se afirmar que possuem o maior acervo de nossa música raiz.
Recentemente, na TVTEM/GLOBO, no horário nobre, participaram da matéria “Centro-Oeste Paulista se destaca como berço dos nomes famosos da música caipira de raiz”, como parte do jornal regional da emissora. E deram verdadeira aula de nossa música raiz: desde Raul Torres, o grande Angelino de Oliveira, Serrinha, Carreirinho, Pardinho, Tião Carreiro, Zé da Estrada e Pedro Bento até a dupla famosa de Tonico & Tinoco Todos tendo Botucatu e região como ponto de partida ou de retorno para revigorar a criatividade musical
TONICO & TINOCO
AINDA RESTOU A GRANDE POLÊMICA DE QUAL SERIA O LOCAL DE NASCIMENTO DA DUPLA MAIS FAMOSA DO BRASIL DE TODOSOS TEMPOS: TONICO & TINOCO ?!?
RESPOSTA CERTA: BOTUCATU!!!
Simplesmente, porque do município de Botucatu é que se originaram os municípios de São Manuel e Pratânia. Primeiro a se emancipar foi o de São Manuel. Depois, foi o de Pratânia, que se emancipou de São Manuel. MAS quando nasceram os violeiros da “dupla famosa”, TUDO era BOTUCATU!!!
Portanto, nasceram no Distrito de Pratânia que, à época, pertencia a Botucatu, da mesma forma que
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NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO
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o Distrito de São Manuel pertencia a Botucatu.
Reproduzimos, abaixo, parte da matéria “A RAIZ DE BOTUCATU”, que está linkada no final do post juntamente com outros posts ligados a esta matéria:
“
3. BOTUCATU ( 3ª raiz)
Dos sete Distritos desmembrados de Itapetininga, o que mais se desenvolveu foi Botucatu. Dotada de clima muito bom, nasceu a “Freguesia do Cimo da Serra”, a 19 de fevereiro de 1846. Para ali afluíram políticos influentes, bons educadores, alguns jesuítas, criando-se bons Colégios, Seminário, Bispado e o primeiro Serviço do Correio para toda a região. A Lei nº 17, de 14 de abril de 1855, de José Antonio Saraiva, elevou a “Freguesia do Alto da Serra” à categoria de Vila, com o nome de Botucatu. Em 16 de março de 1876, foi elevada à categoria de cidade pela Lei nº 18. Como centro importante, Botucatucontava com 16 a 18 distritos e vilas, quando os mais progressistas deram início às emancipações e que foram os cinco primeiros:
a. LENÇÓIS, em 1865;
b. AVARÉ, EM 1875;
c. BOFETE, em 1885;
d. SÃO MANOEL, em 1885;
e. PIRAMBÓIA, em 1890.”
Parabéns ao trabalho sério e artístico da dupla RAMIRO VIOLA & PARDINI ! Parabéns MÚSICA RAIZ!
Oh! Botucatu, Cidade dos meus sonhos, Terra do meu coração.
“SAUDADES DE BOTUCATU” é o Hino da cidade de Botucatu
Tristeza do Jeca
Autor: Angelino de Oliveira
Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Pra você quero cantar
O meu sofrer, a minha dor
Eu sou como o sabiá
Que quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola eu canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buraco
Onde a luz faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no alto a passarada
Principia um barulhão
Nesta viola eu canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Lá no mato tudo é triste
Desde o jeito de falar
Quando riscam na viola
Da vontade de chorar
Não tem um que cante alegre
Tudo vive padecendo
Cantando pra se aliviar
Nesta viola eu canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Vou parar com a minha viola
Já não posso mais cantar
Pois o jeca quando canta
Tem vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as águas vão pro mar
Nesta viola eu canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Diário da Cuesta 2
“EU NASCI NAQUELA SERRA...”
do Dialeto Caipiracicabano” ( Arco, Tarco, Verva ).
No dicionário, TARCO ”é o mesmo que talco. Piracicabano, como se sabe, sempre fica em dúvida, no barbeiro, entre tarco (talco), arco (álcool) e Acqua Verva (Velva). Mas, com muié , prefere tarco Muié diz: “Depois do banho meu marido sempre qué qui eu use tarco!..
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada Lá no mato a passarada Principia o barulhão Nesta viola eu canto
E gemo de verdade
Cada toada representa Uma saudade
Lá no mato tudo é triste Desde o jeito de falar
Pois o jeca quando canta
Dá vontade de chorar
ANGELINO DE OLIVEIRA
É um orgulho para Botucatu possuir o TRIO PIONEIRO DA MÚSICA RAIZ: Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha , que praticamente fazem de Botucatu e região o BERÇO DA MÚSICA CAIPIRA OU MÚSICA RAIZ.
Sim, porque é pacífico o entendimento de que Piracicaba é a Capital da Música Caipira e o caipirês está enraizado em Piracicaba e já é patrimônio imaterial da cidade. E o registro do sotaque caipira como patrimônio reúne expressões em Piracicaba...
Isso é muito bom. Os bons empresários e as prefeituras espertas estão partindo para a valorização do nosso interior. Em Piracicaba tem um escritor, Cecílio Elias Netto , que publicou o “Dicionário
Quem é nascida ou nascido no interior sabe dar valor às boas coisas e causos da gente simples da zona rural. A mais famosa música caipira é a “Tristeza do Jeca”, do Angelino de Oliveira, de Botucatu. Essa música é conhecida no mundo todo, na 2ª Grande Guerra Mundial foi tocada nas tropas aliadas, era um código. Ela retrata muito bem como era o homem simples e de como ele via e vivia a vida. Já foi gravada pelos melhores cantores do Brasil. Vejam que linda letra:
“Nestes versos tão singelos Minha bela, meu amor
Pra você quero contar
O meu sofrer a minha dor
Sou igual o sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola eu canto
E gemo de verdade
Cada toada representa
Uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho a beira-chão
Todo cheio de buraco
BIOGRAFIA / WIKIPÉDIA
Angelino de Oliveira (Itaporanga, 21 de abril de 1888 - São Paulo, 24 de abril de de 1964) foi um compositor e instrumentista brasileiro
Compôs Tristeza do Jeca,[1] Moda de Botucatu e Incruziada, entre outras canções, regravadas extensamente por artistas da MPB e da música sertaneja [2]
Foi em Botucatu que Angelino desenvolveu a maior parte da sua atividade musical, sendo o músico local mais cultuado
E o choro que vai caindo
Devagar, vai se sumindo Como as águas vão pro mar
E o choro que vai caindo Devagar, vai se sumindo Como as águas vão pro mar”
É a riqueza do interior deste Brasilzão!
É o valor da raça brasileira!
É muito importante lembrar a mais famosa parceria da música raiz nacional: Raul Tôrres e João Pacífico. Raul Tôrres , botucatuense que trabalhou na então Estrada de Ferro Sorocabana , era um poeta nato e um músico de mão cheia: “Moda da Mula Preta”, “Cabocla Tereza”, “Pingo D’Água”, “Chico Mineiro” são algumas das suas músicas que alcançaram sucesso nacional, com destaque especial para “Saudades de Matão”, cuja letra é comprovadamente de Raul Tôrres e a melodia atribuída a Jorge Galati e Antenógenes Silva. E Antenor Serra (Serrinha) , seu sobrinho que
da cidade, embora outros tenham alcançado maior fama como Raul Torres e Antenor Serra, o Serrinha.[3]
Em sua obra destacam-se canções, tangos, valsas , sambas-canções , e até um fox trot . O que mais se aproxima da música sertaneja são suas toadas, como a famosa Tristeza do Jeca . Uma das edições desta música, da década de 1920 , traz na capa a indicação de gênero: canção. O ritmo da melodia é dife -
também trabalhou na Sorocabana e que fez dupla com Raul Torres e outros parceiros. Serrinha foi autor de cerca de 300 composições. As composições preferidas de Serrinha merecem destaque: “Chitãozinho e Chororó”, “Bom Jesus de Pirapora” e “O que tem a Rosa”. Pela voz de Serrinha a toada sertaneja nascida em Botucatu percorreu os mais distantes rincões.
Nesse cenário é que a Prefeitura Municipal de Botucatu fará a construção do MEMORIAL DA MÚSICA CAIPIRA . Esse local será um grande atrativo turístico a consolidar a memória da nossa música raiz , fazendo com que as trajetórias de grandes compositores como Angelino de Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Zé da Estrada e os irmãos Tonico & Tinoco (nascidos em Pratânia , portanto em Botucatu , eis que o então Distrito da Prata pertencia ao município de Botucatu ).
O MEMORIAL será localizado na Cohab 1 ( Residencial Humberto Popolo ), que terá como estrutura arquitetônica uma recepção com área para exposições itinerantes + 3 salas onde serão ministradas aulas e cursos de música e terá até um pequeno Coreto. Uma escultura de uma VIOLA com 5 metros de altura ficará, imponente, à frente do MEMORIAL. (AMD)
rente do que hoje se canta, bem como o andamento sugerido na partitura: lento. Até uma parte da melodia está em altura diferente do que hoje se canta, modificação provavelmente introduzida pela gravação-versão de Tonico e Tinoco, fato já apontado por Paulo Freire em seu livro sobre o compositor).
Além de Tristeza do Jeca, Caboclo Velho, Sabiá e Prece, são verdadeiros clássicos sertanejos.
Diário da Cuesta 3
Um aristocrata da música popular
Aleixo Delmanto
“- Sabiá que canta triste Lá na mata do sertão, Ele canta pra esquecer a mágoa do seu coração»
Cerrou-se o canto sertanejo do conhecido e “aristocrata” cantor da nossa gente e de nossa terra.
Apresenta o Brasil dois típicos, genuínos e inigualáveis “músico-poetas” populares: Catulo, no Norte e Angelino, no Sul. O nosso, o sabemos, com rudimentares conhecimentos de técnica musical, autodidata, incapaz de compor sobre uma folha o que lhe ardia, gravado profundamente, no âmago do coração e da alma.
Quantas composições de extraordinário valor artístico, de “cór e de cabeça”, depositadas no cofre aberto de uma memória incomum e, por isso, às dezenas, inéditas e desconhecidas pelo público em geral!
Típicas, “só dele”, genuínas, próprias, originalíssimas. Como as de Chopim, no campo oposto, o clássico, jamais superadas ou imitadas.
Comprova-se que, mesmo na música popular e folclórica, há diferença de estilo, de inspiração, de arte, de insuflação divina.
Raríssimos, outrossim, são os que, como Angelino de Oliveira e Catulo da Paixão Cearense, nasceram com a bossa de poeta e de músico, ao mesmo tempo e graças a Deus...
Música popular que poderemos dividir em duas categorias principais: a caipira e a sertaneja.
A primeira, mais simples, modesta na melodia e no conteúdo poético; a segunda, mais nobre, elegante, enlevada, aristocrata.
O contraste é evidente e num exemplo elucidativo, embora indireto, tem-se a impressão, caipira, de um modesto cantor de microfone, interpretando uma trova comum, repleta de monótono estribilho.
Na segunda, a sertaneja, de uma “Casa Pequenina” ou da “Tristeza do Jeca”, através das vozes melodiosas, de uma Bidu Sayão ou de uma Inezita Barroso.
Poeta, pois, e músico popular e “aristocrata”, Angelino soube interpretar fielmente e com suma arte e inspiração musical, a vida do nosso humilde homem do campo, de suas dores, de suas queixas, amores, ciúmes e tristezas.
Pintor eficaz e feliz do rancho de sapé ao pé da serra, dos luares sulinos e prateados, rebrilhando sobre a colina verdejante e o riacho tranquilo e cristalino.
Cantor mavioso das encruzilhadas da mata, ponto de encontro furtivo dos pares amorosos. Daquela conhecida “Encruzilhada”, mergulhada no silêncio noturno da mata tropical e despertada, ao alvorecer, pelo canto ciumento do malvado bem-te-vi, pássaro cúmplice e maldoso:
“-Hoje eu passo a encru[zilhada Me lembrando só de ti, E o malvado passarinho
Ainda grita: - Bem-te-vi!”
Boêmio incorrigível e impenitente, coerente, consigo próprio, continuava a declamar, idoso, com o mesmo entusiasmo juvenil, os versos de A Storni, a poetisa argentina:
“...enche de vinho este cristal sonoro nós beberemos esse licor de ouro ao celebrar a noite e a sua doçura...”
E naqueles instantes, como por um milagre, o repentista exímio improvisava, em se transfigurando. As notas e melodias, como manancial inesgotável, se transformavam em música enlevada, em valsas primorosas de evocação chopiniana.
Dedilhava, então, sobre as cordas amareladas do velho instrumento com atavio, elegância e a experiência de um artista do teclado, mormente quando acompanhado ao violão pelo já falecido e outro ilustre autodidata, o saudoso Zé Maria Peres, seu velho companheiro de mocidade e de arte.
Que rendilhado sonoro! Que noitadas de inspiração artística! Quantas belas composições, olvidadas pelo próprio Autor, eram então relembradas pelo fiel Zé Maria, que as conhecia de cór, música e letra!
Respirava-se novamente um fresco perfume de juventude cabocla, o fresco aroma do cravo rubro, enfeitando cabelos ou roupagens; a fragrância renovada do primeiro sol; o verde perfume do musgo dos troncos, da resina brilhante, das gotas de orvalho resplandecentes na alegria festiva da primeira manhã...
E a fisionomia do Zé Maria a comover-se, a emocionar-se! E lágrimas furtivas, escorregadias, a se deslizarem brilhando através dos sulcos das rugas, aglomerando-se e tombando, enfim, sobre o violão ressequido...
Como gotas de chuva, tamborilando sobre o teclado verde das folhas da bananeira silente...
Alcançava-se o auge, o diapasão do astro poético, dos acordes musicais, quando o “duo”endiabrado” parecia querer cantar, em alemão, os versos de Mombert:
“Hier ist die Gipfel, suche Keine andern...”.
“Aqui está o cimo, não procure alhures...”
Porque após da costumeira visita ao rancho do Jeca ao pé do monte, subindo pela encosta íngreme, já no cume da serra, descortinavam os cantores o panorama magnífico da Princesa da Serra, meta do trovador, com seu casario amplo e luminoso e suas torres, no triunfo das luzes rubras do ocaso.
Era também o triunfo do aedo! Reminiscência da juventude nas notas musicais das peraltices
do garoto, do reencontro saudoso com os amigos do peito, na centenária cidade do poeta e velho amigo Trajano...
Mudara-se Há tempos para São Paulo, o botucudo violonista, mas, amiúde, aqui aportava para abraçar os amigos, relembrar as velhas canções e tornar conhecida a sua última composição... Alquebrado, arquejando, retornou pela última vez. Foram os seus últimos dias!
“Hoje eu choro a desventura Que o destino veio dá, Separando os coração Como as viola da canção E as estrelas do luá”.
Não abraçou, como de costume, o seu instrumento! Dedilhou, no ar livre, uma harpa invisível, ou o dedo em riste, como se empunhasse uma batuta de orquestra. Ou declamado, inaudível, uma frase do teuto Lutero:- “A música é o melhor refrigério de um desconsolado. Por sua causa o coração se acalma, se revigora, se renova”. Mas a música cessara e o coração, amargurado, não sobreviveu àquela que foi a fiel companheira espiritual de toda a sua vida.
Não conseguiu, sequer, assobiar, entre os lábios trêmulos, a saudosa música de outrora:
- “Lá na mata do sertão quando o sol vai descambá, a saudade vai chorando do peito do sabiá...”
De nossos corações “sai chorando” também a tua imensa saudade, ó seresteiro poeta!
]E as vozes, botucatuenses e orfeônicas do nosso grande “Coral”, levarão sempre, por toda a parte, em suas triunfais peregrinações, o espírito de tua arte inconfundível.
Para Vitor Hugo, sumo escritor e poeta, “...la musique est la vapeur de l´art.
Elle est à la poésie ce que la rêverie est à la pensée, ce que le fluide est au liquide, ce que l´ocean desnuées est à l´ocean des ondes. Elle est l´indefini de cet infini”.
Para Angelino de Oliveira, autodidata e boêmio, a música foi tudo. Três novos Reis Magos o previram em sonho.
Nasceu ela, por insuflação divina, sem sêmem, no fundo do seu coração.
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Angelino de Oliveira
MÚSICA RAIZ E A BOIADA CUIABANA
A reportagem especial da última edição da Revista Peabiru, “Turismo Rural ou Turismo-Raiz em Botucatu “ repercutiu de forma surpreendente. De início, vamos destacar a manifestação do Mestre da Viola de nossa cidade, o João Tavares. Reforçando o destaque dado para as comitivas do passado e a ligação de Botucatu com esse tipo de atividade rural que tanto propiciou o desenvolvimento do nosso Estado, conseguimos do Mestre Tavares a letra da moda de viola, Boiada Cuiabana. Essa música já havia sido lembrada pelo Prof. Vinício, uma vez que ela destacava a presença de Alambari (Piapara), como ponto de partida das comitivas.
Não foi fácil a pesquisa para se encontrar a letra dessa música que é do consagrado músico brasileiro Raul Tôrres.
Graças à atenção do Mestre Tavares, conseguimos a letra de Boiada Cuiabana, que reproduziremos no final desta reportagem. O Mestre Tavares é preciso que se destaque que é um dos mais expressivos professores de viola e violão, para música caipira ou música-raiz, de todo o Estado. No Vale do Paraíba temos o Braz da Viola, na região de Botucatu temos o Mestre Tavares.
Na casa do Mestre Tavares e nas Academias em que ele ensina a verdadeira música-raiz já passaram os grandes destaques da música caipira: Sampaio (da dupla Teodoro e Sampaio), Pardinho (que fez dupla com Tião Carreiro e João Mulato), Carreiro e Carreirinho, Jacó e Jacózinho, Zé Matão e Matãozinho e Zita Carreiro e Praiana, entre tantos outros que se dedicam só a divulgarem a música-raiz. De se destacar, também, os nomes dos cururueiros, Zito Moreira, Jonata Neto, Waldir Boiadeiro, Dito Carrara e Gusto Belo.
Também digna de registro a emoção vivida pelo legendário Lauro Branco com a matéria da qual ele é parte de destaque.
Já com o Moacir Fabiano, um dos mais consagrados Tropeiros do Brasil, conseguimos o texto da matéria publicada pela Revista Hippus (Edição n° 42, de março/83, páginas 40 e 41, com o título de “Tropeirismo em Botucatu”) , sobre O Museu do Boiadeiro que ele fundou e mantém bravamente em Rubião Junior.
Reproduzimos a matéria da importante revista brasileira que divulga e promove o nosso turismo-raiz
Cada vez mais e mais se consolida a ideia de que é possível, e mais, de que é viável a implantação do turismo-raiz de forma empresarial na cidade de Botucatu.
Com a implantação das Comitivas-Turísticas, com o roteiro que sugerimos, partindo do Rio Bonito (Porto Martins), passando por Vitoriana e descendo para Alambari (Piapara), o turismo-raiz já teria o seu roteiro.
Acrescente-se a isso, a presença dos tropeiros, de vacas para leite fresco, da presença dos mestres da viola, da visita às antigas fazendas da região (especialmente a do Conde de Serra Negra, do Lageado, da Monte Alegre) da visita monitorada ao Museu do Boiadeiro, em Rubião Junior, e o sucesso será garantido.
-Para completar, a típica comida do tropeiro e a comida caipira em geral e teríamos a certeza do sucesso dessa empreitada no campo promissor do turismo.
Registro Histórico:
Boiada Cuiabana
Vou contar a minha vida, do tempo que eu era moço. De uma viagem que eu fiz, lá pro sertão de Mato Grosso. Fui buscar uma boiada, isso foi no mês de Agosto. Meu patrão foi embarcado, pra linha Sorocabana. Capataz da comitiva, era o Juca Flor da Fama. Foi tratado pra trazer uma Boiada Cuiabana. Eu saí do Alambari, na minha besta ruana. Só depois de trinta dias é que cheguei em Aquidauana Lá fiquei enamorado de uma marvada baiana.
No baio foi João Negrão, no tordilho Severino.
Zé Garcia no alazão, no pampa foi Catarino.
A madrinha e o cargueiro, quem puxava era um menino.
Na volta de Campo Grande, no Cassino fui entrando.
Uma linda paraguaia na mesa tava jogando.
Botei a mão na argibeira, dinheiro tava sobrando.
Ela mandou pra mim que fosse chegando.
Eu virei, disse pra ela: vá bebendo, eu vou pagando.
Eu joguei nove partida, meu dinheiro foi andando.
De Campo Grande parti, com a Boiada Cuiabana.
Meu amor veio na anca, da minha besta ruana.
Hoje eu tenho quem me alegre, na minha véia chopana.
Fomos buscar no Pequeno Guia de Botucatu (1988), o curriculum vitae de Raul Torres, com o desenho do Prof. Benedito Viníciuo Aloise (Vinício), retratando fielmente o consagrado autor botucatuense:
“Raul Torres (1906/1970), nascido em Botucatu, Raul Torres começou no rádio em 1927, na primeira emissora paulista: a Rádio Educadora, ao lado de Paraguaçu e Arnaldo Pescuma, Canhoto e outros. Convidado pelo Maestro Francisco Mignone, então diretor artístico da gravadora Parlophon, começou a gravar em 1930 Além desta, pertenceu ao quadro de outras gravadoras : Columbia, RCA-Victor, Odeon, Caboclo, Chantecler e Continental.
Raul Torres foi compositor, cantor e diretor de vários conjuntos regionais, desfrutando prestígio e popularidade por todo o Brasil e Paraguai. Cantou em duplas e trios com Florêncio, Serrinha, Rieli, Nininho e Castelinho.
Deixou gravadas 456 músicas de sua autoria e em parceria com João Pacífico
Raul Torres perdura entre nós através de suas músicas, das quais destaca-mos: “Boi Amarelinho” “Chico Mulato”, Cabocla Tereza” e “Mula Preta”
A Moda de Viola e a Toada Sertaneja Botucatuense estão tipicamente representadas em Raul Torres”. (AMD).
SERRINHA: Antenor Serra, nasceu em Botucatu (26/06/1917 – faleceu 19/08/1978). Desde cedo tocava viola e participava de festas na comunidade. Trabalhou na Estrada de Ferro Sorocabana com seu tio Raul Tôrres e foi seu tio que o encaminhou para o mundo mágico do música. Com mais de 300 composições, Serrinha atuou com Raul Tôrres, Caboclinho, Rielis, fazendo muito sucesso na então considerada “música sertaneja”. Cigana, Boiada Cuiabana, Coisa Mió do Mundo, Cavalo Zaino, Do lado que o Vento Vai, Chora Morena, Caboclo Magoado, Caipira Namorador e Mula Baia são composições que fizeram sucesso. Interessante destacar que compôs com Athos Campos a música Chitãozinho e Xororó, em 1947 que originou o surgimento anos depois da mais famosa dupla sertaneja: CHITÃOZINHO E XORORÓ ! (AMD) (Revista PEABIRU, nº 29, de março/abril de 2010)
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