Edição 82

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

Semana de Arte Moderna e os Italianos de São Paulo!

ano I Nº 82

SEXTA-FEIRA, 12 de fevereiro de 2021

Estamos quase comemorando os 100 Anos da SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO (1922/2022). Então, nada mais apropriado do que focarmos a realidade de São Paulo na década que antecedeu ao grande evento e na década seguinte. Página 4

O interior também era “una piccola Italia...”

Botucatu, como a Capital, possuía nos primeiros anos deste século uma das maiores e mais expressivas colônias italianas do interior, possuindo também o 5º parque industrial (formado principalmente pelos pioneiros imigrantes). Tinha o Teatro Santa Cruz (Espéria), a Società Italiana, a Escola Dante Alighiere, a Loja Maçônica Italiana e, entre outras atividades, a Banda Italiana... Página 3 Foto Rodrigo Amat Scalla

DRIVE-THRU NO LARGO DA CATEDRAL PARA VACINAÇÃO DE IDOSOS ENTRE 85 ANOS A 89, SÁBADO (13), À PARTIR DAS 8H.


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Diário da Cuesta

ARTIGO Marcelo Delmanto Roma Eterna !!! Estaria correto esse adjetivo a bela capital italiana? A resposta a essa questão só pode dar quem já conheceu essa linda cidade “in loco”. Esse era o meu caso. Eu, juntamente com um amigo, decidirmos ir à Roma e já na chegada, depois de adquirirmos mapas e dicas nas informações turísticas, fomos para o hotel, enquanto caminhávamos, possamos em frente ao majestoso Coliseu... a pausa para contemplação foi inevitável, o que chegou a causar arrepios de emoção. Assim que nos instalamos no hotel encontramos dois guias turístico de Maceió que foram para a Itália não só para conhecer os locais, como também aprender como os guias turístico na Itália fazem. Fomos todos juntos. Começamos pela Piazza di Spagna e Trinità dei Monti, que nessa ocasião, ou seja, primavera, estava maravilhosamente florida e muito colorida, simplesmente fantástica, e sendo assim eu tive certeza que é a melhor época do ano para visitar a majestosa Trinità dei Monti, seguimos pela rua onde tem as melhores lojas e que vai dar na, não menos surpreendente, Piazza del Popolo; depois de um breve descanso avançamos até o Coliseu e o Foro Romano, onde tivemos uma visita guiada com uma guia que falava espanhol, mas como meu amigo é formado e fluente em espanhol ele traduzia o que não entendíamos para o português. Esse meu amigo fez a mesma coisa na visita que fizemos ao Castelo di Sant’ Angelo que é um castelo localizado na margem direita do rio Tibre, diante da Ponte de Santo Ângelo, próximo do Vaticano, lá a visita guiada era eletrônica, isto é, através de uma espécie de fone, que conforme a pessoa se move e passa bem defronte a algo importante este fone dá explicação já gravada. Naquele dia, quanto anoiteceu ainda estávamos na rua, foi quando aproveitamos para ver algumas pontes que são pontos

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ROMA ETERNA !!! turísticos, como a ponte quebrada e outras que tiveram passagens importantes na história da cidade. Uma curiodade, a palavra “ponte” em italiano é um substantivo masculino então ficava meio estranho e engraçado ao se referir a elas, falando “in ponte”, ou seja, o ponte. Posteriormente chegamos à Piazza Venezia que abriga o monumento em homenagem ao Rei da Itália Vittorio Emanuele II ele foi o último rei da Sardenha (1849 a 1861) e o primeiro rei da Itália (de 1861 a 1878). De 1849 a 1861 foi também Duque de Saboia, Príncipe do Piemonte e Duque de Gênova. Ele ainda é lembrado hoje como rei Galantuomo por manter o Estatuto Albertino. Auxiliado pelo Presidente do Conselho Camillo Benso, Conde de Cavour, ele completou o Risorgimento (Unificação Italiana) Nacional com a Proclamação do Reino da Itália. No dia seguinte fomos ao Vaticano e lá tivemos a grande sorte de assistirmos a uma missa completa na Basílica de São Pedro, foi algo indescritível. Depois da missa descemos ao subsolo da Basílica onde visitamos o túmulo de São Pedro. Aqui abro um parêntese: quando retornei a Roma na nossa viagem de Lua de Mel eu e minha esposa visitamos o túmulo do Papa João

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

Paulo II, que está e um túmulo de vidro transparente em um dos nichos da Basílica de São Pedro, aqui fecho o parêntese. Visitamos também o Museu do Vaticano e a Magnífica Capela Sistina que é uma capela situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade-Estado do Vaticano. É famosa pela sua arquitetura, inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, e sua decoração em afrescos, pintada pelos maiores artistas da Renascença, incluindo Michelangelo, Rafael Perugino e Sandro Bo�celli. Poucas pessoas sabem, tanto que quando a nossa guia do Vaticano perguntou porque a Capela Sistina tinha esse nome, eu fui o único que se manifestou, pois eu sabia que a Capela Sistina, grafado em italiano como Cappella Sistina, faz referência ao Papa Sisto IV que, entre os anos de 1477 e 1480, foi responsável pela restauração da Capela Magna, capela medieval demolida da qual foram utilizados os alicerces para a construção da Capela Sistina. Mais tarde fomos visitar as mais famosas fontes, fomos primeiro na Piazza Navona que é uma das mais célebres praças de Roma localizada no rione Parione, que tem uma fonte como esculturas lindíssimas e que também abriga, em um de seus prédios, a Embaixada do Brasil. Paro “Gran Finale” deixei a majestosa Fontana di Trevi, ela foi idealizada pelo escultor italiano Nicola Salvi e foi construída há mais de 300 anos. Fontana di Trevi é um dos pontos turísticos mais visitados de Roma e também da Itália, por tradição as pessoas costumam jogar moedas em troca de algum desejo, que quase sempre é de retornar a Roma. Não se isso funciona, mas eu também joguei as famosas moedinhas e quando morei na Itália, retornei à Roma por quatro vezes. Visitamos outros pontos que tínhamos no livro guia (em português), que tínhamos comprado no Foro Romano, mas a cada viagem a Roma a emoção se repete, a fé se renova e se descobre mais curiosidades e belezas da Cidade Eterna!!!

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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O interior também era “una piccola Italia...”

O pesquisador e historiador botucatuense, Trajano Carlos de Figueiredo Pupo (revista “Peabiru”, nº 13/1999), registrou que em 1914, eram grandes a importância das Bandas para as comunidades interioranas e também a movimentação popular a favor da ajuda oficial para essas bandas. E um pequeno jornal, ”O Riso”, em 1914, publica o desabafo de Juó Laranjére, representando a vontade da colônia italiana que era muito expressiva e atuante: “Signor Preffeto. Salute e figli maschi. Io vegno intó apidi in nomi delle signori-

ni fitêre di facer la bandigna dello Lazigno vegna una altra volta atocá nu giardino uns dumingo. Io credo Signor Preffeto chi si o signor inda anamurasse dava tutos os fiorins da Câmera pra u Lasigno atocá. Má, esta falta di miglioramento é pur causa dus giornale. U “Curreio” é vostro, u “butucatuenze” ta cum mico na caxola purque illo qué una altra volta ristaurá amunarchia nisto Brasile chiinho di Hermeses i di Pigneroses i di Ruyses. U “Curreio Du Sud” é mezimo um cureio só parla di prete frate vescove e tutta a bella compagnia. Ma in tuttos caso noi no abbiamo musica nu giardino. Nu carnavale us moços chiriam afazê uma vacca pra cumpra um rigalegio é i atucá nu giardino. Ma a vacca num dêo lette i si dessi ficava feígno pro Preffeto. Io pido agora pru signore no si azangá perchê nu papele e na tinta inda num chegô a crisi. Di Vostra Excellenza, Criadino. Juó Laranjére.” E junto com os dois escritores, um antes e o outro durante e após a Semana de Arte Moderna, temos a figura ousada, criativa e brilhante de Oswaldo de Andrade. Assim, ao registrarem o “dialeto macarrônico ítalo-paulista”, tanto Alexandre Ribeiro Machado (Juó Bananére) quanto Antônio de Alcântara Machado, estavam traçando, com perfeição, o per-

fil dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil em busca de seus sonhos e, carregados de esperanças e com muito trabalho, souberam realizar a grandeza da nossa Paulicéia. Juó Laranjére é o Juó Bananére de Botucatu... A referência no texto ao personagem Juó Laranjére, que faz com humor e de forma típica autênticas reivindicações da população às autoridades da época, é mostra indiscutível da influência cultural da Capital nas cidades do interior. O personagem Juó Laranjére era inspirado no famoso Juó Bananére – popular morador do Bexiga ! – criação do poeta e jornalista Alexandre Ribeiro Machado que veio de Pindamonhangaba para estudar engenharia na Escola Politécnica da Capital. Chegando a São Paulo, notou que era muito expressiva a presença dos imigrantes italianos que trouxeram toda a sua alegria e entusiasmo para a nova Pátria... Notou também que tinham grande dificuldade para se fazerem entender em português e, nesse esforço, criaram um inusitado dialeto. Esse personagem criado era “CAV.UFF.ON JUÓ BANANÉRE: poeta, barbiére i giurnaliste. Membaro da Gamedia Baulista di Letteras i Socio da Palestra Intália...” Em seu vocabulário próprio, Juó Bananére chamava São Paulo de Zan Baolo e a Pátria saudosa passava de Itália para Intália... Botucatu, como a Capital, possuía nos primeiros anos deste século uma das maiores e mais expressivas colônias italianas do interior, possuindo também o 5º parque industrial (formado principalmente pelos pioneiros imigrantes). Tinha o Teatro Santa Cruz (Espéria), a Società Italiana, a Escola Dante Alighiere, a Loja Maçônica Italiana e, entre outras atividades, a Banda Italiana... Juó Laranjére, com seu inusitado dialeto, fazia sucesso na Botucatu do início do século passado, e banda virava bandigna, o maestro Lazinho virava Lazigno, tudo isso registrado no “Curreio” (jornal “O Correio de Botucatu”) e no Butucatuense (jornal “O Botucatuense”). (AMD)

É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!


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Semana de Arte Moderna e os Italianos de São Paulo!

Juó Bananére e “Brás, Bexiga e Barra Funda” crônicas do cotidiano com o pseudônimo de Annibale Scipione. “Migna terra tê parmeras / Che ganta inzima o sabiá”... A italianidade de uma São Paulo em grande transformação urbana foi, com os chamados ítalo-paulistas (interior) e os ítalopaulistanos (capital), nas primeiras décadas do Século XX, fontes de inspiração para dois jovens escritores do Modernismo no Brasil:

Estamos quase comemorando os 100 Anos da SEMANA DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO (1922/2022). Então, nada mais apropriado do que focarmos a realidade de São Paulo na década que antecedeu ao grande evento e na década seguinte. E era na revista dirigida por um dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna, Oswaldo de Andrade, que era retratada a sociedade paulistana – com um percentual de 35% de imigrantes ou descendentes de italianos – além, claro, dos imigrantes de outras nacionalidades, que dariam vida aos “arquétipos populares”, como o português da padaria, o espanhol do ferro-velho, o sírio das prestações, o japonês da tinturaria... A revista era “O Pirralho” (1911/1917), onde Oswaldo de Andrade escrevia

MIGNA TERRA (Juó Bananére) Migna terra tê parmeras, Che ganta inzima o sabiá, As aves che stó aqui, Tambê tuttos sabi gorgeá. A abobora celestia tambê, Chi tê lá na mia terra, Tê moltos millió di strella Chi non tê na Ingraterra. Os rios lá sô maise grandi Dus rio di tuttas naçó; I os matto si perdi di vista, Nu meio da imensidó. Na migna terra tê parmeras, Dove ganta a galligna dangolla; Na migna terra tê o Vapr’elli, Chi só anda di gartolla. O personagem Juó Bananére ficou famoso e muito popular, afinal mostrava, com bom humor e criatividade, a aculturação dos imigrantes italianos que se expressavam, tanto na linguagem falada como na escrita, misturando as duas culturas, a italiana e a brasileira.

Alexandre Ribeiro Machado, em 1915 (“La Divina Increnca”) que se firmou com pseudônimo de Juó Bananére, e Antônio de Alcântara Machado, em 1927, por seu livro “Brás, Bexiga e Barra Funda”. Ambos se dedicaram a retratar os imigrantes italianos. “Juó Bananére”, apresentado como “poeta, barbieri e soldato”, que escrevia sátiras famosas de obras famosas. A “Canção do Exílio”, por exemplo, de Gonçalves Dias ganha, em uma língua macarrônica, grande popularidade:

Para esse sucesso, a criação artística do personagem era indispensável. E foi o ilustrador e chargista João Paulo Lemmo Lemmi (1884/1926) – imortalizado como VOLTOLINO ! – que criou a imagem de Juó Bananére. Seria dele, também, as primeiras charges do pai da boneca Emília, Monteiro Lobato, que datam da década de 1910. (AMD)


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