Edição 864

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Diário
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 864 SEGUNDA-FEIRA , 14 DE AGOSTO DE 2023 Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br Sim! E com extrema criatividade... No jornalismo e na reconstrução histórica de uma cidade sempre existirão exemplos da criatividade artística na reconstrução honesta dos fatos. Página 2
da Cuesta

OBRA DE ARTE NO JORNALISMO?!? Sim ! E com extrema criatividade...

Nos jornais que dirigi e em meus livros de história, entre tantos exemplos, 5 se destacam com a criatividade do saudoso

mestre Vinicio Aloise e do Marco Antonio Spernega e Sebastião Pires Mendes

1- O logotipo do JOR-

dos os fundadores de Botucatu, segundo a versão oficial atual;

3 - A FAZENDA DO LAGEADO - Pedi ao Vinicio a “revitalização” de um dos retratos que definem a Fazenda do Lageado. Mas pedi que fosse um “retrato vivo” da fazenda, no seu auge quando produzia mais de 1 milhão de pés de café. E o Vinicio criou a ilustração que se tornou o PERFIL

DA FAZENDA DO LAGEADO. Fiz desse magnífico trabalho a capa de meu livro “MEMÓRIAS DE BOTUCATU III”.

- A DISPUTA NA PORTEIRA

NAL DE BOTUCATU, em 1980: Foi um sucesso em Botucatu. Pedimos ao Professor Vinicio Aloise - Mestre da Ilus tração - que eternizasse a Igrejinha de Santo Antônio, em Rubião Jr., como logotipo do jornal. Até meados dos anos 90, permaneceu como o melhor jornal e com a maior tiragem da cidade. Circulou até 2005/6; 2

- Esse histórico acontecimen to da disputa entre o colonizador e posseiro Joaquim Costa e o fazendeiro e proprietário das terras José Gomes Pinheiro. A Famosa Disputa da Porteira, consagrada por um dos maiores escritores botucatuenses e ilustrada pela pena mágica de Vinicio Aloise, procura retratar a disputa entre as partes. José Gomes Pinheiro fez um acordo e doou os terrenos em disputa. São considera-

4– O logotipo da revista Peabiru foi feito por José Sebastião Pires Mendes (Tião Mendes) que buscou no Brasão do Centenário de Botucatu a inspiração. E fez estilizado o Caminho do Peabiru, com as Três Pedras (os pés do Gigante Deitado). 5- O logotipo do Diário da Cuesta foi uma criação do Marco Antonio Spernega que idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo seu simbolismo: a escarpa e o verde representando as nossas matas e o azul do céu...

No jornalismo e na reconstrução histórica de uma cidade sempre existirão exemplos da criatividade artística na reconstrução honesta dos fatos. Com as ilustrações de Vinicio Aloise, Marco Antonio Spernega e José Sebastião Pires Mendes trazemos belos exemplos de “OBRA DE ARTE NO JORNALISMO”... É Registro Histórico! (AMD)

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta com br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

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DIA 11 DE AGOSTO - DIA DA ADVOCACIA

“ Nasceu num convento, no velho mosteiro de São Francisco” - Des. Mário Hoppner Dutra - Alvará Régio editado por Dom Pedro I, por graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, decreta:

“Lei do Império de 11 de agosto de 1827 – cria dois Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, introduz regulamento, estatuto para os Cursos Jurídicos; dispõe sobre o Título (grau) de doutor para o Advogado”.

Nos Anais legislativos constam registros de que o Deputado José Feliciano Fernandes Pinheiro – futuro Visconde de São Leopoldo tomou a iniciativa de apresentar um Projeto para ser criado no Império uma Universidade na cidade de São Paulo, com as cadeiras de Direito Romano, Direito Público Constitucional e Economia Política. ( Projeto apresentado em 12 de junho de 1823 sofreu Emenda de redação pelo também Deputado Martim Francisco de Andrada, incluindo a cidade de Olinda, Estado de Pernambuco, transfigurou-se na Lei de 11 de agosto de 1827).

Como sabemos, até 1827 brasileiros vocacionados ao estudo do Direito só poderiam cursar deslocando-se para Portugal na sempre e festejada Faculdade de Direito de Coimbra, mas ficava claro, somente aqueles possuidores de condições econômicas para tanto. Hoje os tempos são outros e no Brasil problemas financeiros selecionam mal os candidatos.

Em 1977 quando recebi minha Carteira de Advogado formado pelas Faculdades Metropolitanas Unidas, os Cursos de Direito completavam 150 anos de História no Brasil; um dos passeios (facultativo) aos novos Bacharéis era uma visita à Faculdade de Direito a “velha e sempre nova Academia” do Largo de São Francisco, do “Território Livre de São Francisco”. Berço de poetas, romancistas, oradores, ensaistas, jornalistas, escritores, historiadores, filósofos, professores e juristas comungando o mesmo ideal de Justiça e Direito. Como estudante, muito devo aos Professores que eram Titulares nas Arcadas do Mosteiro, e emprestaram notável saber jurídico às FMU/São Paulo, de agradável memória e imorredouras saudades.

No voluntário passeio, andando sob as Arcadas e seus corredores surge o padroeiro, um Santo cuja vida foi feita de humildade, respeito e amor aos seus semelhantes, sob sua proteção a mocidade provinciana de São Paulo foi chamada para cursar a primeira Escola de Direito do Brasil. A Faculdade de Direito em Olinda só teve início em 1828 sendo posteriormente transferida para a cidade de Recife em 1854.

A TUMBA TOMBADA...

Excursionando pelo Mosteiro minha atenção foi chamada para a existência de um túmulo – e de quem seria ? túmulo no interior do Mosteiro? – algum figurão do Império ? – Não, não era de nenhuma autoridade e sim, de um modesto Professor, de origem alemã que na condição de imigrante chegou ao Brasil em 1828, sendo preso após o desembarque por desavenças com o Capitão do navio. Libertado após alguns dias, viaja do Rio de Janeiro para Sorocaba para trabalhar na Fundição Ipanema, siderúrgica brasileira e administrada por alemães que facilitaram sua admissão. Tratava-se de Johann Julius Gottfried Ludwig Frank conhecido no Brasil como JÚLIO FRANK. (8/12/1808 – 19/6/1841)

Na Alemanha tendo pendores para estudos aliados ao seu elevado nível de inteligência, desde os 12 anos de idade lecionava aulas particulares para se manter sem ajuda dos pais e aos 17 foi aprovado para cursar Universidade de Gottingen, na Baixa Saxônia. De Sorocaba para São Paulo Júlio Frank, morando em “república” de estudantes, para seu sustento dava aulas particulares para interessados em ingressar na Faculdade. Em 1834 ele mesmo é aprovado para lecionar História Universal no Curso Anexo da novel Instituição de Ensino.

Trabalhou durante 10 anos, falecendo muito jovem aos 32 anos vítima de pneumonia. No período laborativo sugeriu e colocou em prática uma Associação de alunos e ex-alunos para ajudar financeiramente os menos favorecidos ingressarem na Faculdade. Essa Associação recebeu o nome de “Bucha Paulista” e seguia experiências germânicas; também considerada “secreta” porque era proibido revelar o nome de seus integrantes.

Por ocasião do seu falecimento não tendo nenhum familiar ou parente na Capital, naturalizado brasileiro e sendo Protestante de nascimento houve oposição ao seu sepultamento em Cemitério católico. Somente com a intervenção do Conselheiro José Maria de Avellar Brotero (1798-1873), amigos e alunos com apoio do Bispo foi possível sepultá-lo em um dos pátios do Mosteiro, e com auxílios mútuos custearam a construção do seu túmulo em estilo neoclássico.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) do Estado de São Paulo pela Resolução de 17.4.1978, no Processo 20320/77 registrou no LIVRO DO TOMBO HISTÓRICO a inscrição nº 118, p. 18, de 28/6/1979 como sendo o Túmulo de JÚLIO FRANK, e encontra-se no pátio interno da Faculdade de Direito, do Largo de São Francisco em São No dia de hoje celebra-se em nosso País o DIA DA ADVOCACIA e este subscritor não poderia deixar de fazer esta crônica em homenagem à data e aos Colegas – Advogadas, Advogados e Estagiários que, ao longo de mais de 40 anos tive o privilégio de conviver e aprender, nos escritórios e salas de audiências nos diversos Fóruns de militância profissional.

Diário da Cuesta 3

“Um sonho, um presságio, um naufrágio “

Carolina olhava tristonha as últimas imagens da terra querida, a medida que o navio se distanciava do Porto de Gênova

Seus filhos, crianças inocentes, brincavam próximo a ela, ali no convés, junto com algumas crianças que também partiam rumo ao Brasil.

O coração de Carolina estava triste pela partida da terra Natal, e ao mesmo tempo alegre, pois iam se juntar ao seu esposo Pietro no Brasil e fazer uma nova vida por lá.

A medida que o navio adentrava ao mar e a noite descia, pegou os filhos e a sobrinha que a acompanhava na viagem e os levou até sua cabine.

Os meninos ainda muito excitados pelas novidades da viagem demoraram a dormir.

Mas estavam exaustos e adormeceram sorrindo, pensando no pai que iriam encontrar.

Carolina dormiu logo, abraçada aos meninos.

Acordou assustada no meio da noite suando frio, após um sono agitado.

Ficou ali, deitada junto aos filhos, depois de tomar um pouco de água, enquanto recordava um sonho estranho que tivera.

Nesse sonho, seu pai o velho Genaro, falecido há muitos anos, alertava que acontecesse o que acontecesse, que ela nunca se afastasse de seus filhos e que os segurasse firmemente pela mão.

Os dias se passaram rapidamente, e numa noite de forte tempestade, ouviu-se um som horrível enquanto o barco era lançado ao sabor de ondas furiosas, a sereia de madeira, presa ao mastro se rompeu, e o barco começou a fazer água por todos os lados.

No meio do desespero, os tripulantes corriam por todos o convés em meio a chuva e vento assustados.

Carolina lembrou-se do sonho com seu pai, e agarrou-se firmemente aos dois filhos pequenos.

A sua sobrinha assustadíssima desobedeceu a Carolina e saiu correndo desabalada pelo convés do navio e foi tragada pelas ondas.

Muitas pessoas sumiram naquela noite de borrasca e naufrágio.

Após muitos dias ali no meio do mar agarrados a um enorme baú, foram resgatados junto á costa da África.

Ficaram entregues as autoridades que tentavam dar-lhes proteção e providenciar-lhes uma embarcação que os levasse para o Brasil ao encontro do pai.

Foram dias terríveis.

No Brasil, Pietro saira do interior de Minas em direção ao Porto de Santos, no lombo de um cavalo baio.

A viagem foi dura, mas ele sorria ao antecipar a imagem da esposa querida e dos filhos que não via há muitos anos.

Chegando a Santos, seu coração quase parou ao saber da desgraça do naufrágio.

Ficou ali parado, chorando muito, sem saber o que fazer da vida.

Mesmo sem entender o porquê Pietro se recusava a retornar a Minas.

Depois de uns dias chegou a notícia que alguns viajantes do navio naufragado haviam sobrevivido e estavam à caminho do Brasil.

O coração de Pietro se encheu de esperança.

Ficou em Santos, aguardando a chegada deles, rezando muito á Virgem Maria, pedindo o milagre da chegada da sua família sã e salva.

Até que chegou a manhã do grande dia.

Correu até o Porto e ficou ali aguardando a chegada do navio.

Demorou muitas horas, mas ele não desistiu.

Ficou ali aguardando até vê-lo aproximar-se ao longe.

Lentamente ia chegando e o coração de Pietro batia cada vez mais forte.

O grande navio branco atracou.

Após algum tempo os passageiros começaram a descer.

Tentava olhar entre todas as pessoas, encontrar os rostos amados, e nada.

Já estava desiludido, virando as costas, muito triste e ia se movendo devagar para a cidade, quando uma vozinha de criança gritou:

-Papá! Papá! em coro com uma outra voz infantil. Parou!

O coração aos saltos, e se virou encorajado, sobressaltado.

Dois menininhos vieram correndo e abraçaram suas pernas longas.

Viu entre as lágrimas que teimavam em rolar de seus olhos o rosto amado da sua Carolina também molhado de lágrimas de felicidade.

Seus braços se abriram para abraçá-la.

Tinham perdido tudo naquela viagem fatídica, mas tinham sobrevivido.

Ficaram ali os quatro por longo tempo unidos num enorme abraço feliz.

Diário da Cuesta 4

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