Diário da Cuesta
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O Dia da Árvore é comemorado no dia 21 de Setembro. Esta data foi escolhida por anteceder o início da primavera no Hemisfério Sul que, dependendo do ano, pode ocorrer entre os dias 22 e 23 de setembro.
O objetivo deste dia é conscientizar sobre a importância da preservação das árvores e das florestas, incentivando a proteção do meio ambiente com atitudes que trazem benefícios à natureza. Com destaque, o DIÁRIO DA CUESTA homenageou a EMBAÚBA: Árvore Símbolo da Cuesta de Botucatu!
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No início de 2021, o Diário da Cuesta destacava que o maior eucalipto do Brasil está na Fazenda Lageado, com 100 anos mede 50 metros de altura e 9 metros de diâmetro.
A conquista da FAZENDA LAGEADO é um marco na História de Botucatu. Fruto da atuação positiva de dois representantes parlamentares de Botucatu em períodos distintos, a FAZENDA DO LAGEADO, hoje, é importante campus da UNESP. No livro “Memórias de Botucatu III”, de 2000, à página 107, temos o registro dessa importante conquista no texto ao lado:
Que a Embaúba é uma árvore típica do cimo da Cuesta de Botucatu? Pois é, a Embaúba que também é conhecida por Umbaúba, Ambaíba, Ambaúba, Imbaúva ou Imbaúba, é árvore da família das Moráceas (cecropia palmata); é árvore de tronco indiviso. Embaubal é o bosque de embaúbas. Também é chamada de árvore-dos-macacos ou árvore-da-preguiça ou torém. O antigo traçado férreo da Sorocabana passava por Vitória (Vitoriana), Lageado e...Embaúba... Sim, Embaúba é uma pequena Vila pertencente a Botucatu que até hoje é procurada pelos amantes da pesca por ser um local ideal e piscoso. Hoje, o descuido e o desrespeito à natureza reduziu muito o número de Embaúbas em nossa região, mas podem ser encontradas na Cuesta e em vários pontos verdes de nossa cidade.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
Contato@diariodacuesta.com.br
Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
No princípio de uma manhã, soltei-me da ponta de uma folha de embaúba, lá do cimo da Cuesta. No início, quase devagar e flutuando, meu corpo começou a girar e a cair. Não havia escolhido o percurso a seguir e nem aonde queria chegar, mas, mesmo assim, atirei-me ao desafio que o destino havia escolhido, com a vontade férrea, que é comum aos seres determinados. Ao primeiro balanço da folha, dei um leve rodopio no ar e já pude divisar, do alto em que me encontrava, um cenário antes nunca imaginado. Pude observar, com os olhos de um menino curioso, os contornos de uma Cuesta extraordinária. À medida que eu viajava, pude ver a união exuberante da natureza. Eram árvores frondosas, médias, miúdas, todas em perfeita harmonia. Eram flores grandes e pequenas, frutos bonitos e outros nem tanto, mas o conjunto dessas diferenças, mostrava um resultado indescritível, uma aquarela divina, que jamais um ser humano conseguiu registrar numa tela ou num escrito. E fui caindo. E fui descendo.
Quanto mais ia me aproximando das copas das árvores, pude ir distinguindo as peculiaridades de cada uma. Era o amarelo puro de um Ipê, o rosado de uma Paineira, o verde claro de um Pau-de-Santo, as rugas de um Barbatimão, as folhas enfileiradas de um Cedro, o tronco tortuoso e comprido da Bracatinga, as bolinhas do Cinamomo, o amarelo do Bambu Canário, os espinhos da Mamica de Porca, o brilho das folhas miúdas do Sangue Negro, as vagens do Ingazeiro, as folhas de sobre tom da Fruteira de Lobo, a cor branca dos frutos do Salta Martim.
Nesse meu vôo livre, pude perceber, que por entre todo esse emaranhado de árvores e de vegetação rasteira, outro tipo de vida existia. Eram Preás em atividades incessantes, Pacas num contínuo remoer, Veados em bandos, Tamanduás escarafunchando cupinzeiros, Cachorros do Mato em matilhas, Gatos do Mato ariscos no
ambiente, Capivaras no tijuco, Sanhaços nos pés de amora, Sabiás, Coleira, Laranjeira e Póca nos pés de Guabiroba, Almas de Gato com ares de sonhadores, Jandaias arrelientas, Siriemas correndo atrás de pequenos insetos, e pude ouvir o zumbido do frenético vai e vem das abelhas e sentir o aroma do mel que produziam.
E fui descendo em queda livre até que toquei numa folha de amendoizeiro e escorri pelo seu tronco. Dali, precipitei-me novamente no vazio.
Agora minha viagem já se fazia mais rápida.
Fui girando.
Fui dando voltas e mais voltas.
Sabia que estava bem mais próximo a ter contato com uma nova realidade antes nunca experimentada.
E cheguei.
Bati numa rocha de cor escura e pelas suas fendas fui deixando parte de mim.
Deslizei rápido, mas não tão rápido que me impedisse de observar a realidade que se mostrava. Passei por grotas maravilhosas e encantadoras, que, se vistas por poetas ou escritores, com certeza se tornariam o centro de uma obra prima.
Despenquei de uma pedra lisa para a imensidão, não sei precisar quanto tempo fiquei no ar, mas foi o suficiente para ver que por um pequeno vão da mata, um grupo de pessoas caminhava. Consegui observar que não eram mais que três figuras e não estavam sós.
Junto a eles, cinco animais caminhavam. Eram burros carregados com tralhas, pelo que pude perceber, bem pesadas.
Os homens caminhavam lentamente, e de forma ritmada buscavam o acesso mais fácil não tocando nas vegetações à volta. Verifiquei que respeitavam-se mutuamente, a natureza permitia a passagem deles e eles, em contrapartida, não a agrediam.
Sei que não é possível, mas senti lágrimas correrem de mim, um casamento perfeito.
De repente, deixei de ver os homens e pude sentir que estava en-
trando em contato com outros iguais. Entrei num turbilhão de irmãos. Todos unidos, presos a um só rumo. Segui, não me opus.
Com essa união me senti mais forte e mais rápido, a cada momento sentia encantamento diferenciado. Em determinado momento estava no centro de um redemoinho, em outro fazia parte de uma correnteza, em outro nas voltas dos remansos e, num relance, fui sumindo.
E fui me desfazendo.
Fui me sentindo mais leve.
Alcei vôo por entre as árvores em forma de neblina e fui alcançando suas copas.
E fui caminhando.
Num relance, senti que estava vendo a folha da Embaúba que me recolhera.
Fui-me distanciando.
Subi.
Viajei.
E como viajei.
Não sei quanto tempo girei pelos ares e por onde, só sei que divisei mundos diferentes, mundos verdes, secos, floridos, frios, agradáveis e indiferentes.
Não sei se foi por causa do meu nascimento, mas nunca deixei de pensar na minha folha de Embaúba e da Cuesta de minha infância. Nunca achei outra vista tão bela quanto àquela da primeira experiência.
Num momento, que para mim foi mágico, fui me formando como no início.
Senti que tomava corpo. Senti que os meus pedaços estavam se unindo novamente.
Em meio a fortes barulhos e clarões pude ir distinguindo meus novos rumos.
Foi rápido.
Desci felozmente num redemoinho e parei sobre uma superfície lisa. Quando abri os olhos novamente, vi que me encontrava numa folha de embaúba, no cimo da Cuesta.
Fiquei radiante de alegria.
Até que enfim estava de volta ao lugar que mais me agradava.
Aguardei ansioso para a viagem que por certo iria fazer.
Fiquei por um bom tempo repousando na minha folha mãe, sentindo a ternura e a carícia do amor materno.
Enfim o momento tão aguardado chegou.
Soltei-me com o maior prazer no devido momento, agora iria rever o meu cenário de sonho. Eu queria ver minha natureza estampada na retina dos meus olhos.
Onde, onde se escondera a minha infância?
Não conseguia mais ver muitas das árvores, irmãs de nascimento.
Aonde estavam os Sangues de Negro, as Paineiras, os Gravatás, os Ingazeiros?
Aonde estavam?
E os Sanhaços, os Bem-te-vis?
Cadê as Codornas, as Perdizes, cadê?
Muito pouco pude encontrar em meu retorno, e o que encontrei, estava todo escondido, camuflado, amedrontado.
Procurei pelas flores, pelos frutos e nada. O muito pouco é o nada para mim. Vestígios, nada mais que vestígios.
Dos homens, que observei respeitando o meu mundo, nem os rastros. Agora, percebi cicatrizes imensas encravadas na carne de minha Cuesta. Pude sentir o cheiro acre da poluição que as máquinas deixam ao subir pelas costas desse corpo sagrado.
As comitivas se tornaram predadoras.
Minha Cuesta foi rasgada.
Tiraram dos meus olhos a beleza da minha infância e, em seu lugar, nada puseram.
Desta vez foi rápido.
Não consegui caminhar devagar, não tinha onde me segurar, desci velozmente.
Minha Cuesta, sou um pequeno pingo d’água que perdeu seu brilho porque você foi violentada, foi açoitada e não consegue mais mostrar sua beleza natural.
Minha Cuesta, você foi rasgada e não consegue mais viver feliz. Eu também não consigo mais viver, não consigo mais completar meu ciclo natural de vida.
Tudo mudou.
Os meus irmãos não podem ser normais, eles vivem se alternando, mudando suas trajetórias.
E assim ocorreram as inundações, surgiram os estios infernais, e minha Cuesta nunca mais foi igual.
Estou em peregrinação constante pelos céus, atento a tudo que acontece na terra. No dia em que minha Cuesta receber o curativo, para fechar a sua ferida, volto à minha folha mãe, da Embaúba, e começo minha vida de pingo d’água, feliz, brilhante, e sei que, meus irmãos, generosos como são, se unirão a mim e assim retornarão as estações normais na Cuesta.
Eu fui um pingo d’água e hoje sou vapor, mas posso retornar se você trabalhar para reunir meus pedaços.
As feridas podem ser curadas e para isso necessitam de muito amor e carinho. Sei que cicatrizes ficam, serão restos de uma história infeliz, da ação de ignorância violenta. Espero que, em minha próxima viagem, possa descer tranquilamente em minha folha mãe, e nunca tenha que atravessar um buraco de telhado para repousar, sobre a tela de quadro de Museu, que tenta retratar uma folha de Embaúba...extinta.
S. O .S.
S. O .S.....Cuesta
Cláudio de Almeida Martins (Acervo Peabiru)
Acredita-se que o maior eucalipto e talvez um dos mais antigos do Brasil, esteja aqui em Botucatu, na Fazenda Lageado. As estimativas e estudos foram do professor Valdemir Antonio Rodrigues, falecido em 2019. O professor era docente aposentado do Departamento de Ciência Florestal em Botucatu e fundador do projeto “Trilha”
Segundo os estudos “O Gigante da Floresta”, como foi apelidado, é da espécie Eucalyptus robusta, tem aproximadamente 100 anos, mais de 50 metros de altura e 9 metros de circunferência e veio parar em Botucatu por conta de estudos de celulose realizados há mais de um século na região.
O projeto “Trilha” tem o intuito de incentivar a visitação da população a essa árvore centenária. O projeto que agora esta nas mãos da Professora Renata Fonseca, esta em remodelação e será aberto ao público no próximo ano.
Docente do Departamento de Ciência Florestal, a professora Renata Fonseca nos conta como foi a chegada do eucalipto no Brasil:
“O início dos eucaliptos no Brasil aconteceu em 1904, por intermédio do engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, que foi quem se interessou pelo estudo e cultivo da espécie por conta da sua pesquisa para a Companhia Paulista
de Estradas de Ferro. Ele precisava desenvolver um projeto de criação de Hortos Florestais, nesse intuito foram plantadas várias espécies para experimento, até ser escolhido o eucalipto, árvore nativa da Austrália.”
Paulo Ayres de Almeida Freitas, nasceu em Botucatu em 31 de agosto de 1889, filho de Luiz Ayres de Almeida Freitas e Tereza de Jesus Figueiroa Alves. Seu pai era baiano e foi juiz de direito em Botucatu, posteriormente se transferiu para a capital como juiz e desembargador, chegando a ser Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo em 1928.
Iniciou seus estudos ainda em Botucatu e em 1905 já na capital ingressou como interno na Escola Americana de São Paulo, formou-se em Comércio no ano de 1907 no Makenzie College.
Ainda em 1907 começa a trabalhar na Exposição do Centenário da Abertura dos Portos, no Rio de Janeiro. Em 1909 passa a trabalhar na Companhia Sílex de ferro esmaltado da família Pontual, a partir de 1915, ingressa na Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo, passando a gerenciar a Laminação de Ferro e Aço de São Caetano. Entrou como sócio na Fundição Progresso em 1922 e em 1943, quando a empresa passou a ser uma sociedade anônima, assumiu o cargo de Diretor Superintendente.
Quando o Instituto Pinheiros, laboratório paulista grande produtor nacional de vacinas e soroterápicos, passou por uma crise financeira a partir de 1936, Paulo Ayres foi chamado a colaborar com a empresa. Em 1941 Paulo Ayres e seu filho, Paulo Ayres Filho, entraram como sócios da empresa e Paulo Ayres assumiu o cargo de Diretor Comercial, passando a Diretor Superintendente em 1947 e a Diretor Presidente em 1958.
Paulo Ayres foi diretor de diversas instituições filantrópicas, ressaltando o grande trabalho que realizou em prol dos “Sanatorinhos”. Foi também diretor de várias associações de classe, como a tradicional Associação Comercial de São Paulo. Como membro do Rotary Club de São Paulo, publicou além de diversos trabalhos sobre contabilidade, o ‘Catálogo Geral das Classificações e Subclassificações” para uso dos Rotary Clubs do Brasil e a “Sistematização das Classificações em Rotary”.
Paulo Ayres é um dos nomes mais conhecidos entre os filatelistas brasileiros, estudioso dos carimbos do império, lançou o Catálogo de Carimbos (Brasil-Império) em 1937, até hoje considerada por muitos como um dos melhores trabalhos já publicados sobre o assunto e obra de referência frequentemente citada nos meios filatélicos brasileiros e estrangeiros, sendo utilizado até hoje como referência. Seu nome é frequentemente citado, principalmente por aqueles que se dedicam ao estudo dos carimbos postais
do Império brasileiro. Dentro da filatelia, em 1935, conquistou o “Grande Prêmio de Honra” da Exposição Farroupilha no Rio Grande do Sul e o “Grande Prêmio Carlos Gomes” na Exposição de Campinas. Em junho de 1938, convidado pela Royal Philatelic Society, Paulo Ayres fez uma conferência e apresentou em Londres, sua coleção de Olhos de Boi com carimbos do Império. Na ocasião recebeu em sua apresentação a visita do Rei George VI da Inglaterra. Em outubro de 1938, no Rio de Janeiro, Paulo Ayres participou da BRAPEX I (Exposição Filatélica Internacional). A Exposição foi organizada pelo Clube Filatélico do Brasil (CFB), com patrocínio dos Ministérios da Viação e Obras Públicas, das Relações Exteriores e da Fazenda, além da Federação Internacional de Filatelia (FIP) e da Federação das Sociedades Filatélicas do Brasil, na ocasião Paulo Ayres foi premiado com o “Grande Prêmio Rio de Janeiro” com a mais completa coleção de selos brasileiros apresentada e recebeu também “Medalha de Ouro” por seu Catálogo de Carimbos. Em 1947 recebeu em Nova Iorque o “Primeiro Prêmio” na Exposição Filatélica Internacional comemorativa do centenário do primeiro selo dos Estados Unidos.
Em 1953 Paulo Ayres foi nomeado, pela Federação das Associações Filatélicas do Estado de São Paulo, como primeiro secretário da Comissão de Organização da Exposição Internacional de Filatelia em comemoração ao IV Centenário de São Paulo, que seria realizada no ano seguinte. Paulo foi membro ativo da Sociedade Filatélica Bandeirante e da Sociedade Philatélica Paulista da qual foi presidente no período de 1940 a 1945, sucedendo os grandes filatelistas Itamar Bopp (1940) e Mário de Sanctis (19381940). Em 1937, por indicação de G. S. F. Napier, Paulo Ayres foi eleito como membro da Royal Philatelic Society de Londres.
Paulo Ayres se casou duas vezes. O primeiro casamento foi em 1913 com Dona Ana Brígida Ribeiro e após sua morte, em 1946, Paulo casou-se com Dona Ignês Marinho. Do primeiro casamento teve cinco filhos, sendo um deles Paulo Ayres Almeida de Freitas Filho, grande administrador, diretor do Instituto Pinheiros assim como seu pai e mais tarde fundador do Instituto de Pesquisas Sociais (IPES). Com dona Ana tive um filho, Nelson Ayres conhecido na música por suas atividades de produtor musical, pianista e maestro arranjador.
Paulo Ayres de Almeida Freitas faleceu em 13 de março de 1958, em São Paulo. Em sua homenagem uma das avenidas de Taboão da Serra, onde ficavam os laboratórios do Instituto Pinheiros, recebeu seu nome.
(*com textos do artigo de Flavio Augusto Pereira Rosa)