Edição 937

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Diário da Cuesta ANO III

Nº 937

TERÇA-FEIRA, 07 DE NOVEMBRO DE 2023

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

MASP

MAIOR VÃO LIVRE DO MUNDO

ARQUITETURA REVOLUCIONÁRIA: O EDIFÍCIO É MATERIALIZADO POR UM GRANDE VOLUME ELEVADO E ESTÁ SUSPENSO A 8 METROS DO SOLO. COM EXTENSÃO DE 74 METROS ENTRE OS PILARES, A OBRA CONSTITUIU O MAIOR VÃO LIVRE DO MUNDO EM SUA ÉPOCA. PROJETO DE LINA BO BARDI REPRESENTA UM MARCO NA ARQUITETURA BRASILEIRA. ACHILLINA BO, MAIS CONHECIDA COMO LINA BO BARDI, FOI UMA ARQUITETA MODERNISTA ÍTALO-BRASILEIRA.


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“Quando nada acontece há um grande milagre que não estamos vendo” Do conto “O Espelho” de João Guimarães Rosa

MARIA DE LOURDES CAMILO SOUZA

Dia de Finados é um daqueles dias que se resume exatamente assim. Um dia estranhamente quieto. As pessoas parecem se interiorizar mais. Olham-se no espelho da alma. Fica a sensação que nada está acontecendo. Já minha intuição me sussurra ao pé da orelha: não se engane. O olhar vago está invertido para dentro, onde toda a trama está se passando. É como no teatro. No palco a peça é encenada pelos atores. Você vê o que deve ser mostrado. Nos bastidores fica todo preparo para as cenas: vestuário, adereços, mudança de cenários. A grande mudança, ou grandes milagres acontecem de dentro para fora. As pessoas fazem suas visitas aos seus mortos, entram, oram e saem silenciosas, reverentes. Na verdade oram mais por si mesmas e pelos vivos. Hoje fiz uma visita interior aos meus. Sei que não estão mais lá onde foram enterrados seus corpos. A impressão que tive foi que eles sim me vieram visitar. Aquela música muito suave e até um perfume se espalhou. E toda a casa ficou cheia daqueles que partiram. Estavam todos muito lindos como foram um dia. Andavam pela casa, sentaram-se no sofá e pela sala de jantar. As irmãs se confraternizavam, os tios circularam pelo jardim e pela cozinha. E as avós se perguntavam não se come nesta casa? Os primos que partiram jovens se perguntavam, os avós não envelhecem? Buscando folhas de hortelã no canteiro da ponta, ao olhar o novo vaso que o menino do dedinho verde plantou, longe das patas e dentinhos gordos da Mindy, com alguns restos da renda portuguesa, vi claramente uns botões que já se mostravam. Começam como bolinhas verdes. Vi o rosto da minha mãe sorrindo para mim, como a dizer: - “Entre mortos e feridos parece que alguns se salvaram”. Silenciosos como chegaram esvanesceram no ar. Esse foi o meu pequeno milagre de hoje.

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

WEBJORNALISMO DIÁRIO

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O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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Museu de Arte Moderna de São Paulo

Considerado uma das mais importantes instituições culturais brasileiras. Localiza-se, desde 7 de novembro de 1968, na Avenida Paulista, cidade de São Paulo, em um edifício projetado pela arquiteta ítalobrasileira Lina Bo Bardi para ser sua sede. Famoso pelo vão de mais de 70 metros que se estende sob quatro enormes pilares, concebido pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz,[3] o edifício é considerado um importante exemplar da arquitetura brutalista brasileira e um dos mais populares ícones da capital paulista, sendo tombado pelas três instâncias de proteção ao patrimônio: IPHAN, Condephaat e Conpresp. Instituição particular sem fins lucrativos, o museu foi fundado em 1947, ao longo de sua história, notabilizou-se por uma série de iniciativas importantes no campo da museologia e da formação artística, bem como por sua forte atuação didática. Foi também um dos primeiros espaços museológicos do continente a atuar com perfil de centro cultural, bem como o primeiro museu do país a acolher as tendências artísticas surgidas após a Segunda Guerra Mundial. O MASP possui a mais importante e abrangente coleção de arte ocidental da América Latina e de todo o hemisfério sul, em que se notabilizam sobretudo os consistentes conjuntos referentes às escolas italiana e francesa. Possui também extensa seção de arte brasileira e pequenos conjuntos de arte africana e asiática, artes decorativas, peças arqueológicas etc., totalizando aproximadamente 8 mil peças. O acervo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O museu também abriga uma das maiores bibliotecas especializadas em arte do país. Foi com a presença ilustre da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip que o novo prédio do Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado, em 7 de novembro de 1968, no coração da Avenida Paulista. Os fundadores do museu, Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi, acompanharam a visita, ao lado de Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira responsável pelo prédio e esposa de Pietro, do então prefeito da cidade, José Vicente Faria Lima e do governador do estado, Roberto de Abreu Sodré. Por lá também estava a pintora nipo-brasileira Tomie Ohtake, que apre-

sentou sua obra, em exposição na abertura do museu, à monarca inglesa. O encontro, registrado numa fotografia, gerou grande orgulho para a artista. “Ela mandou a fotografia para todos os parentes no Japão, que não acreditavam que ela fosse uma pintora conhecida”, conta, aos risos, um dos filhos de Tomie, o arquiteto Ricardo Ohtake, que hoje dirige o Instituto que leva o nome da mãe, em São Paulo. O paraibano Assis Chateaubriand, fundador e proprietário dos Diários Associados - à época o maior conglomerado de veículos de comunicação do Brasil – foi uma das figuras mais emblemáticas desse período. Comandava um verdadeiro império midiático, composto por 34 jornais, 36 emissoras de rádio, uma agência de notícias, uma editora (responsável pela publicação da revista O Cruzeiro, a mais lida do país entre 1930 e 1960) e se preparava para ser o pioneiro da televisão na América Latina - e futuro proprietário de 18 estações. Dono de um espírito empreendedor, Chateaubriand manteve uma postura ativa no processo de modernização do Brasil e utilizava-se da influência de seu conglomerado para pressionar a elite do país a auxiliá-lo em suas iniciativas, quer fossem políticas, econômicas ou culturais. Em meados dos anos quarenta, criou a “campanha da aviação”, que consistia em enérgicos pedidos de contribuições para a aquisição de aeronaves de treinamento a serem doados ao aeroclubes do país. Como fruto da iniciativa, cerca de mil aviões foram comprados e doados às escolas para formação de pilotos. Terminada a campanha, Chateaubriand iniciaria uma nova e ousada empreitada: a aquisição de obras de arte para formar um museu de nível internacional no Brasil.

Prefeito Faria Lima, Pietro Bardi, Rainha Elisabeth e Governador Abreu Sodré


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Momentos Felizes

Roque Roberto Pires de Carvalho

SOM DO REALEJO Infância e adolescência foram vividas em sítios, fazendas e pequenas cidades. A família numerosa não era nômade. Submetia-se à iniunções. Quando acontecia o encerramento de um arrendamento de terras o pai ia em busca de lugar apropriado para se estabelecer com a família, dando continuidade aos serviços de pequeno agricultor. O ano de 1942 foi marcado por geadas de grande intensidade - “geadão” como diziam os sitiantes, dizimando milhares de pés de café e por conseqüência a grande família deixa os pagos, transferindo-se para os arredores de pequena cidade. Se não o melhor local para viver foi o lugar mais apropriado para a escolaridade inicial dele e de outros irmãos. Lugar das casas caiadas, luzes fracas pelas ruas, igreja no tope de uma elevação, quiosque servindo de coreto, prédio do Grupo Escolar, comércio de secos e molhados, estação

ferroviária com trens em dias alternados, telégrafo para correspondências urgentes, ambulatório de saúde com atendimento precário. Neste lugar era comum a reclamação da falta de tudo... no sítio, dada a inexistência desses melhoramento ninguém reclamava de nada! Aos domingos muitos moradores dirigiam-se à pracinha para passear, encontrar amigos, jogar conversas fora, falar do tempo, da política e das melhorias que se faziam urgentes para desenvolvimento do lugar. Desse tempo ele guardou na memória o som de um realejo. Instrumento musical que poucas pessoas do século passado até este, conheceram ou ouviram falar dele.. Na memória ficou também o velhote que transportando uma geringonça sob quatro rodas levava também um periquito, uma caixa contendo cartões numerados ou com previsões e, se alguém perguntasse qualquer coisa à respeito da vida, da sorte, do poder ou da felicidade o periquito caminhava até a caixa e retirava, com o bico, um cartão com a informação desejada. Entre o pedido feito, a jornada do periquito e o resultado da busca o realejo, cujo fole e teclado são acionados por um cilindro dentado, movido a manivela, lançava ao espaço o som de um acordeão repetindo a exaustão, uma valsa sentimental. Na noite de ontem ele rememorava todos esses fatos ocorridos na adolescência ; dormiu e sonhou que o tal periquito havia ordenado jogar uma moeda pela janela e a seguir seria contemplado com dinheiro para escapar das aflições, poder para não receber e sim, dar ordens, felicidade, um salário do qual não pudesse reclamar tanto e em havendo remorsos que fossem indolores. Pura quimera! - habitualmente sereno, em sobressalto acordou. Olhou para o relógio, 6 horas da manhã, o sol em final de primavera anunciava temperaturas altas, Sentiu saudades das geadas de antigamente e do som do realejo. Atualmente é considerado extinto. O lado bom desta história é que dela sou, além de saudosista, contemporâneo!


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