Diário da Cuesta ANO IV
Nº 954
SEGUNDA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 2023
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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Episódio vivido por Vital Brasil: uma lição, por Hernâni Donato
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Sensei botucatuense, Campeão Brasileiro de karatê, vai representar a Seleção Paulista Competição contou com a participação de 2188 atletas de todo o país, realizado período de 14 até 19 de novembro, na cidade de São Bernardo do Campo
O Sensei Rogério Pires, instrutor de Karatê do Instituto Suman, sagrou-se Campeão Brasileiro na categoria luta individual e Vice-Campeão na categoria luta equipe, no Campeonato Brasileiro realizado período de 14 até 19 de novembro, na cidade de São Bernardo do Campo. A competição contou com a participação de 2188 atletas de todo o país, onde o Sensei Rogério Pires foi o único classificado para representar Botucatu e a Seleção Paulista de Karatê. “É com muito orgulho que coloco o nome de Botucatu no lugar mais alto do pódio. Esta conquista era um sonho de criança que virou realidade, e sem falar que é um incentivo para os mais de 300 alunos que ministro aulas de karatê através do Instituto Suman”, comentou o Sensei. O Instituto Suman é conveniado a Prefeitura de Botucatu através da Secretaria Municipal de Esportes e Promoção da Qualidade de Vida. As aulas são gratuitas e acontecem nos polos dos prédinhos do CDHU, na Vila Jardim; na Associação Pérola Negra, no Parque Marajoara; na Praça da Juventude, na Cohab I ; no Instituto IDE, na Cohab 5, na Associação dos Moradores da CECAP e no Projeto Crescer, no Jardim Peabiru. (Tribuna de Botucatu)
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Diário da Cuesta
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O Auto Retrato (O homem escreve o que é)
E o homem começou a falar. Claro que como resultado de ser animal inteligente e social. Pensando – único animal pensante – pôde, igualmente, transmitir seus pensamentos, através de sons convencionais, e de outros sinais, igualmente convencionais. A literatura desde os tempos primitivos é uma forma de o ser humano transmitir suas experiências, seus conhecimentos, sua vivência, enfim, tudo aquilo que pode conhecer e sentir. A prosa e a poesia foram processos de que se utilizou para levar aos seus semelhantes aquilo que, em seu sentimento e o seu cérebro, era digno de ser conhecido pelos outros. O homem é o que é. O que ele é. Se é sonhador, um vidente, o vate, como diziam os latinos – vaticinador, profeta, em português, torna-se poeta. Se transmite seu raciocínio, sua lógica, é prosador. Se é capaz de dramatizar, no sentido grego da palavra, isto é, se é capaz de dar movimento à ação, então é dramaturgo. Em todos os tempos, admiramos os homens geniais, capazes de transmitir seu “pathos” aos ouvintes ou leitores. Desde Homero, até aos mais modernos escritores, os homens geniais são respeitados, admirados, queridos e, mesmo, amados. Todos esses pensamentos nos vem à mente nos dias presentes, quando as autoridades do setor educacional cometem e admitem tantos erros e tantas leviandades. O homem almeja evoluir. Quem não tem educação, quer ter. Degrau a degrau, o ser humano almeja chegar, ele e os seus, ao nível de igualdade com os seus semelhantes. Ou não é isso o que prega a nossa Constituição? Que todos são iguais
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“O Pensador”, de Auguste Rodin (1840 – 1917). A escultura foi criada inicialmente para ficar sobre “A Porta do Inferno” e com direitos iguais. Mas ao ensinar errado a língua que se fala, o governo está condenando as novas gerações a ficarem sempre um degrau abaixo, inferiorizadas. Uma geração medíocre! Com o pretexto de consolidar “o jeito que o povo fala”, o educador formado na filosofia marxista objetiva, tão somente, “desconstruir” a sociedade para, depois, “implantar” a “verdadeira sociedade socialista”... A literatura é sempre uma expressão da sociedade, já afirmava o velho De Bonadi. Do íntimo e da formação de cada um é que surgem as obras nos campos da literatura e do teatro: cada um faz, em sua obra, o auto retrato que merece... E o brasileiro merece o melhor auto retrato! Merece a melhor educação, sem erros grosseiros de linguagem e sem picaretagem política! (AMD)
“ O fim último“
Custei a entender e é tão simples. A vida, ao menos pra mim, é uma canoa rio abaixo. Vai pra lá , vem pra cá, descontrola, raspa o barranco à direita, à esquerda, rodopia no poço, enrosca no galho, bate no tronco, mas segue o rio. O canoeiro, às vezes, sente-se dono dela, guia dela. Ledo engano; quem a
conduz é a correnteza do rio, assim como nossa vida é conduzida pelos desígnios de Deus ou pelos mistérios do destino. Também já acreditei em livre arbítrio, inteligência, vontade. Hoje, só peço que o Oceano do rio seja a FELICIDADE. José Maria Benedito Leonel
EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689 O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
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Episódio vivido por Vital Brasil: uma lição
Hernâni Donato A grandeza de um homem referencial bem pode ser revelada por um pequeno-grande episódio. Foi o que sucedeu com Vital Brasil Mineiro da Campanha, no final do século dezenove, em ocorrência aparentemente simples, acontecida na Botucatu de então. Transpareceu o homem, o médico o cientista. Para o bom entendimento, uma curta explicação. Naqueles dias (ele residiu ali entre 1895 e 1899), a cidade, porta-de-sertão, cabeça de comarca estendida entre os rios Tietê e Paranapanema, dividia-se, para tudo, entre católicos e protestantes, estes chegadiços. Havia escola, clube, comércio, professores de uma ou outra postura religiosa. E uma “cidadela” protestante no coração da cidade. Os protestantes chamaram professores e médicos protestantes. Como protestante para servir seus irmãos é que Vital Brasil foi para lá. Para que também atendesse nas fazendas cafeeiras, deram-lhe trole e troleiro. E escala de linhas ou direções ou bairros a serem atendidos. Troleiro, foi o mocinho Sebas-
tião Pinto Conceição. Este vindo a terminar a vida como titular de cartório, ademais de pai de professora de história, de médico e escritor, de político deputado e Secretário de Estado, , orgulhava-se também dos dias vividos troleando Vital Brasil. De quanto lhe ouvi a respeito, garantindo-lhe o crédito gosto de repetir o sucedido com o campeiro mordido por cobra. Acho que revela o caráter de Vital Brasil e ajuda a compreendê-lo e à sua vida e obra. O troleiro conhecia a estrada e a gente ao longo do traçado. Colonos, retireiros, agregados. Onde branquejasse um pano branco, troleiro e doutor liam a mensagem: “precisamos de médico”. O trole enfiava pelo caminho, balizado pela alvura dos panos. Um dia, o branquejar de toalhas e lençóis encaminhou o trole à casa de um campeiro notório. Mesmo tendo patrão fervorosamente protestante, teimava em continuar católico e em não renunciar ao largo renome de caçador, de beberrão de fim de semana e de exercitado e convicto adúltero. Com sério agravante: zombava dos esforços de quantos empreendiam convertê-lo ao protestantismo, adesão que sua esposa dera e mantinha com ardor de neófita. Ele, seguia convictamente “mergulhado na superstição romana”, conforme disse a mulher ao médico. E nos pecados com que se deliciava. Encontraram-no deitado, mais bêbado do que ferido. Cheirava, e o quarto, a fumo de corda e à cachaça. A mulher explicou: - Anteontem, no meio da tarde, foi picado por uma cascavel. O médico sério e reprovativo, observou: - Anteontem!? Por que não o levaram para a cidade? Ela levantou o lençol, exibindo a perna do marido. Sobre a pica-
VOCÊ SABIA?
da, escandalizava um feio emplastro tresandando à fumo mascado e à pinga, arruda, breu e talo de bananeira. Tudo isso envolto pelas contas de rosário de carapiá. Na região, tinha-se por certo que nada melhor para sustar a “subida” do veneno de cobra do que “laço” de rosário de carapiá. Como reforço absoluto, uma oração endereçada a São Lázaro. Mais envergonhada pelo rosário, o santo, a cachaça e o resto do que pelo molesto, confusa diante do médico ilustre e do protestante convicto, a dona de casa e do ferido católico, tentou justificar: - Desculpe, doutor. Ele não quis ir para a cidade. Teimou na bebida e nessa abominação... Dizendo-o, ensaiou arrancar o rosário, o emplastro. Vital deteve-lhe o gesto: - Deixe tudo como está, por mais uma hora. Procure acordá-lo. Depois, limpe bem a ferida e faça o seguinte... Mais tarde, tão logo acomodou-se na boléia do trole, ao lado do médico, continuando a peregrinação em busca de panos
Que teria sido brasileiro o famoso herói inglês que marcou presença na Primeira Grande Guerra Mundial? Teria sido botucatuense esse herói? Teria nascido na Cuesta de Botucatu esse herói que encantou gerações com sua bravura e idealismo? A Revista Peabiru apresentou minucioso estudo sobre a trajetória desse herói mundial. Na história ou na “lenda” de Lawrence da Arábia, temos como berço natal do herói a Cuesta de Botucatu, mais precisamente, a Fazenda do Conde de Serra Negra, localizada em Vitoriana. Verdade ou lenda ?!? Segredo guardado ou sonho “botucudo” surgido antes da virada do século passado?!? Mas fica – com certeza! – a imagem positiva e heroica de Lawrence da Arábia: um brasileiro nascido na CUESTA DE BOTUCATU.
brancos, o troleiro observou, entre curioso e ousadamente reparador: - Não entendi, doutor Vital. Tenho visto o senhor tão enérgico quando se trata de cuidados médicos ou emprego de crendice como remédio, mas nesse caso, mesmo sendo de mordida de cascavel...parece que o senhor concordou com o homem. Rosário de carapiá, então, é bom para curar mordida de cobra? Pois Vital explicou, como se diante, não do troleiro, mas de alunos atentos ou de compungida comunidade evangélica: - Não, não acredito que fumo, cachaça e rosário disto ou daquilo possam mais do que veneno de cascavel em corpo humano. Mas se a cobra picou anteontem e o homem na verdade só padece de forte ressaca, devo concluir que a bolsa da cobra estava sem veneno no instante da mordida. Ele nem precisaria de tratos. Mas quis se tratar e nessa precisão pôs fé no emplastro e no rosário. Mostrou-se homem de expediente e de fé. Por enquanto, não tenho nem medicina nem ensinamento para substituir o que ele tem e usa. O que não posso, como médico e homem religioso é deixar uma criatura sem os remédios nos quais confia e retirar-lhe a fé na qual descansa. Ele está salvo e com a fé rebustecida. Que desejar para um homem? O troleiro não esquecera daquele dizer de Vital Brasil. Desde que me contou o fato, eu também não. Mas não é verdade que vale a pena conservar tal pensamento transmitido por um grande homem, em testemunho de de humildade, humanidade e religiosidade, a um humilde mocinho troleiro a respeito de um humilde campeiro? Hernâni Donato – Acervo Peabiru
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INCERTEZAS
Diário da Cuesta
Bahige Fadel Não devo ser só eu. Muita gente deve ter as mesmas incertezas que tenho agora. Aliás, o mundo é de incertezas. Parece que a única coisa certa do mundo são as incertezas que ele tem. Incertezas que atingem a pobres e ricos, a letrados e analfabetos, aos judeus e aos cristãos. Na verdade, não estou certo sequer de que eu seja dono de meus próprios pensamentos. Serei mesmo dono deles ou eles são o resultado de influências externas? Sou eu que penso o que penso ou apenas penso aquilo que os outros querem que eu pense? Na minha juventude, quando insistia em escrever alguns versos, me veio esta frase: Sou o resultado do que desejei ser e do que os outros me fizeram. Desde aquele tempo, eu tinha a certeza de que eu não era bem o que desejava ser; era também produto dos desejos dos outros. Na verdade, com os anos e os trancos da vida, fui perdendo muitas certezas. Quando entrei na política, tinha certeza de que, através dela, poderia mudar o mundo. Doce ilusão! Quase me mudaram. Saí rápido, para não sofrer esse desmanche. Descobri que, na política, não se quer mudar muita coisa. Os poderosos querem que os outros mudem para se adaptarem aos desejos deles. Você tem que mudar, para que eu possa permanecer do jeito que eu quero. É esse o pensamento político. Só que não dizem isso. As segundas intenções vêm sempre mascaradas de fantasia. A realidade não interessa a quem deseja mudar os outros, para que possa permanecer como
deseja. O pior de tudo é que não descobri uma solução para o problema. Fosse eu capaz de ter soluções para todos os problemas! Mas não tenho, e isso me angustia. As incertezas são históricas. Pilatos não tinha certeza de nada, quando lavou as mãos e condenou a Cristo. Tivesse ele todas as certezas necessárias, não tomaria essa atitude. E quantos Pilatos observamos no mundo de hoje? Pilatos de todos os níveis. Pilatos que lavam as mãos e deixam corruptos e corruptores livres, para continuarem o seu sujo trabalho. Pilatos que lavam as mãos, para que os incompetentes continuem desfilando a sua incompetência em prejuízo de milhares e milhões. Pilatos que lavam as mãos, para deixarem que as guerras persistam, matando culpados e inocentes. Pilatos que lavam as mãos, para permitir que a miséria perdure, para que a ignorância perdure, para que o medo perdure. É que é muito mais fácil dominar miseráveis, ignorantes e medrosos. Certeza de quê, my friend? Certeza de que eu ainda consigo me indignar. Não é muita coisa, mas estou certo disso. Certeza de que a bondade vale a pena. Não para ter prêmios, lucros ou reconhecimento. Bondade apenas para satisfação pessoal. Certeza de que é uma obrigação de cada um ser honesto. Não para obter lucros, mas para que os outros não tenham prejuízos. Certeza de que é preciso ter paz. Só assim você poderá espalhar a paz, distribuir a paz, semear a paz. Certeza de que precisamos da felicidade. Precisamos ser felizes. Os felizes constroem um mundo melhor; os infelizes procuram destruir o que ainda existe de bom.
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Diário da Cuesta
Vitória da democracia contra os abusos do STF Com o voto favorável e empenho do nosso senador Eduardo Girão desde o início do projeto, o Senado aprovou ontem uma emenda à Constituição que impede ministros do STF de suspender atos e leis por meio de decisões individuais, sem a validação do colegiado da Corte. É um importante passo em direção ao equilíbrio dos Três Poderes e contra a juristocracia que vem ameaçando a democracia brasileira. Com a nova regra, não serão mais possíveis interferências como a praticada pelo ministro Ricardo Lewandowski em março, quando suspendeu parte da Lei das Estatais e tornou o presidente Lula livre para indicar pessoas despreparadas para as empresas públicas. Agora, só o presidente do STF pode suspender atos de forma monocrática – mas isso se o Supremo estiver em férias e em casos de urgência. Se os outros ministros não validarem a decisão em um mês, ela perde o efeito. A regra vale para leis ou atos do presidente da República, do Senado, da Câmara dos Deputados e das assembleias estaduais. O Congresso, enfim, toma coragem e começa a atender à demanda da sociedade para impor freios aos abusos de autoridade praticados por integrantes das cortes superiores. Essa postura deve continuar: ainda há um bom trabalho a fazer para resgatar o equilíbrio de poderes e moralizar o Judiciário brasileiro. O bom funcionamento da democracia exige uma Suprema Corte imparcial, que exerça a autocontenção de seu poder, siga a Constituição e o devido processo legal e não per-
siga opositores. Não é que o STF vem oferecendo ao país. Um levantamento publicado pela Genial/Quaest esta semana mostra que apenas 17% dos brasileiros aprovam o trabalho da instituição. Ministros não conseguem andar livremente por aeroportos: despertam protestos de cidadãos enfurecidos. Sem falar em crimes e ameaças radicais, como a invasão do prédio da instituição em 8 de Janeiro. É verdade que juízes não devem tomar apenas decisões populares, pois muitas vezes o que é juridicamente certo não agrada a maioria da população. Um bom juiz segue a lei, e não ao desejo de popularidade. Mas isso não dá aos ministros a prerrogativa de participar de votações das quais deveriam se abster, ter escritórios de advocacia adjuntos ao cargo, cancelar investigações sobre sua própria conduta, impor censura a empresas e pôr em risco a vida de cidadãos, como a de Cleriston Pereira da Cunha, que foi preso preventivamente por decisão monocrática de Alexandre de Moraes e morreu esta semana na prisão. Além de limitar decisões individuais, o Congresso precisa aprovar a CPI do Abuso de Autoridade do STF e TSE, proposta pelo nosso deputado Marcel van Hattem e apoiada num abaixo-assinado por mais de 530 mil brasileiros. Precisa exigir transparência dos negócios privados dos ministros, incluindo contratações para eventos e atuações de escritórios de seus familiares em casos que correm no tribunal. A democracia corre risco se as cortes superiores não inspiram confiança nos cidadãos. (Editorial / Partido Novo)