Diário da Cuesta ANO IV
Nº 975
QUINTA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2023
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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O GRANDE HERÓI Grande Herói Mundial, Grande Herói da Inglaterra, Grande Herói do Povo Árabe e Grande Herói da Cuesta de Botucatu!
Lawrence da Arábia foi o grande lançamento cinematográfico de dezembro de 1962, é um filme épico baseado na obra de T. E. Lawrence, dirigido por David Lean. É um clássico indiscutível no gênero aventura. O filme está na lista de filmes culturalmente relevantes a serem preservados para a posteridade. Protagonizado por Peter O’Toole e Omar Sharif ganhor 7 prêmios OSCARs, entre eles o de melhor filme e melhor diretor.
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A moto desenvolvia alta velocidade na estreita e tortuosa estradinha rural. O vento lhe açoitava o rosto, mas ele mantinha a visão nítida graças ao óculos protetores que usava... Lawrence era apenas um homem comum correndo de moto, numa estrada comum, como comumente ocorre em tantas e tantas pequenas e comuns cidades de tantos países... Naquele momento, ele não queria se lembrar de Lawrence da Arábia, o herói idolatrado da 1ª Grande Guerra Mundial, nem do sonhador que conseguiu unificar as tribos nômades e rivais, constituindo a Nação Árabe... Não, definitivamente, não� Até seu nome ele mudara, acrescentando Shaw, passando a assinar Thomaz Edward Lawrence Shaw. Era preciso apagar a imagem do Grande Herói. Do Herói que unificou os árabes e mobilizou os ingleses, mas e principalmente, o Herói que serviu para a entrada dos Estados Unidos da América como decidido apoio aos ingleses, garantindo a vitória contra os eternos adversários alemães. Tudo isso ele precisava apagar de sua memória... E acelerava com volupia a moto... De ascendência nobre, loiro, Lawrence passara toda a sua infância e adolescência buscando respostas para a sua origem: sua mãe nunca lhe dera a necessária segurança de quem era seu pai. Sempre ouvira o comentário de que Thomaz Chapmam, amigo da casa
Comentários sobre Lawrence da Arábia: 1)”O “Lawrence” é material para novela. Que história mais fantástica...” Alcides Nogueira, escritor e dramaturgo (19/01/2000); 2) “Há décadas cheguei a esboçar um romance “A Fazenda” que não sendo a do Conde seria aquela. O antigo editor Diaulas Riedel, menino-jovem passou ali férias de verão e com entusiasmo e minúcias,
e também ele de ascendência nobre, seria seu pai, apenas não acontecera o casamento por questões menores... Será? Nunca vira no relacionamento de sua mãe e Mr. Thomaz qualquer resquício de amor : eram apenas e tão somente muito bons amigos, só amigos, sempre amigos...Tão amigos eram que Mr. Thomaz, solteirão inveterado, deixava que o “boato” corresse solto na rígida sociedade inglesa do início do século. O Império Britânico ainda era um império e sua influência era indiscutível no mundo todo. Como todo inglês de nobre ascendência, Lawrence tivera sua instrução secundária e superior em Oxford. Convocado pelas Fôrças Armadas de Sua Majestade, serviu de 1910 a 1914 em Carchemish, no Rio Eufrates, como assistente nas escavações do Museu Britânico. Em seguida, atuou no Departamento Árabe, eis que era um estudioso e entusiasta da causa árabe. Sua atuação no “front” da guerra, ajudando os árabes contra os turcos, começou discreta, ainda como Tenente, foi promovido a Major, encerrando-a como Coronel. Lawrence da Arábia conseguiu unificar as tribos árabes. Liderou-os pessoalmente, vestiu-se como eles, viveu como eles, foi seviciado barbaramente pelos turcos, enfrentou desafios inimagináveis e os venceu. Virou Herói Mundial. Seu ideal para a Nação Árabe, no descreve-a. A Condessa, idosa, mantinha quiosque no Boi de Bologne no qual, no inverno, oferecia café brasileiro. De certo, da fazenda. Imagine escravos abrindo picada do Porto Martins à fazenda, veludos italianos, mudas de pinho de Riga, piano alemão para a casa sede. Boa tarefa será um volume - elaborado sem pressa - para a tal casa, a mais importante da região. Abraço, obrigado. Hernâni Donato, escritor e historiador (20/01/2000).” 3 – Dos Aventureiros do Túneis , o registro histórico que José Carlos Basseto fez do túmulo de Lawrence da Arábia, na Inglaterra:
entanto, não conseguiu motivar as grandes Nações vitoriosas. Nem os Estados Unidos, nem a Inglaterra estavam tão preocupados com a independência árabe a ponto de esquecerem o mar subterrâneo de petróleo que existia nas terras a serem entregues aos árabes. Nem o futuro Rei Faiçal queria uma independência maior do que a formal dependência das grandes Nações... Os dirigentes das grandes Nações e os líderes árabes se compuseram facilmente e o descarte milionário daquele que conseguira a unificação e a vitória árabe era conveniente a todos... Possuidor de grande cultura, Lawrence escreveu o livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, no qual narrou com o coração a sua participação no movimento nacional árabe contra a opressão turca. Entregou os originais à Editora no ano de 1926 e a 1ª edição foi publicada em 1935. Do livro, a sentença maior e definitiva foi dada por Sir Winston Churchill :”Um dos maiores livros já escritos na língua inglesa...” Pertence aos clássicos da Literatura do Império Britânico... A moto ia a mais de 200 km/h. O verde dos campos ingleses enchia os olhos de Lawrence... A vida perdera sentido para o Grande Herói. Com vida abastada, Lawrence nunca mais conseguira levar a vida como um homem comum, nunca mais pudera ter uma vida igual a de seus contemporâneos... E um uomo qualunque era tudo o que Lawrence queria ser : comum, só comum, com as comezinhas preocupações do dia-a-dia do homem comum, cujo horizonte e cujos sonhos não iam, com certeza, além dos limites do cotidiano. E acelerava a moto, mais e mais, sem ver, antes da curva, os dois ciclistas que vinham ou entravam em sua mão de direção. Procurou desviar, inútil... Ali, Lawrence da Arábia deixava os seus pesares e o mundo e os sonhos... Ali, o Grande Herói descansava sem ver concretizado o seu ideal, sem ter a resposta da sua origem, mas deixando, com certeza, gravado em ouro o seu perfil de herói que soube acreditar no seu sonho, que trabalhou para a vitória contra todas as previsões dos “experts” e que deixou para a posteridade, inteira e grandiosa, a imagem imorredoura de Lawrence da Arábia... (AMD)
O Aventureiro do Túnel Zé Basseto, encontrou o túmulo do Botucatuense Lawrence da Arábia - Cemitério de Moreton perto do Rio Frome. Inglaterra - Lawrence, herói da 1ª Guerra, Tenente do exército Inglês.
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UM APAIXONANTE CASO DE AMOR...
Ilustrações do Prof. Vinício Aloise sobre os domínios do Conde de Serra Negra, a chegada da Estrada de Ferro Sorocabana - EFS, o Dr. Costa Leite de trole e as paisagens da Vila de Vitória (Vitoriana). A presença do Conde de Serra Negra na sede da fazenda chamara a atenção dos moradores da região e, principalmente, da pequena Botucatu. A curiosidade cabocla aumentava, quando se sabia da presença já por mais de três meses de uma jovem nobre inglesa e de sua dama de companhia... A presença naquela bela noite e por toda a noite, do jovem médico, Dr. Costa Leite, mandado buscar pelo Conde, deixava os curiosos de plantão fazendo mil conjecturas. Agora, o que mais aguçara a curiosidade de todos, era a presença do Delegado Pedro Egídio, conhecido por sua rigidez e pelo convívio subalterno com os poderosos. Tudo sinalizava para um acontecimento importante, muito importante... Que era parto anunciado da inglezinha, todos já sabiam... Só não sabiam do porquê da presença do médico. Os partos que ocorriam na região, nas mais importantes famílias, sempre eram assistidos pelas parteiras de reconhecida prática e competência... A presença do jovem médico só podia ser levada à conta da “postura européia” do Conde de Serra Negra... Todavia, a ausência da Condessa com tão ilustres visitas era estranha, muito estranha... O Dr. Costa Leite chegara à cidade de Botucatu no ano de 1886, seguindo o caminhar do progresso que a ferrovia implantava... Hoje, na Estação da Vitória (Vitoriana) e com certeza e em cima das promessas dos poderosos chefes políticos locais, para o ano de 1889, os trilhos estariam vencendo a morraria e chegando a Botucatu. O Che-
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fe dos trabalhos era o Engenheiro Schmidt, de origem alemã, que seria o encarregado de recepcionar a visita do Conde D’Eu e que era homem de confiança e fiel escudeiro do Conde de Serra Negra... Sem ser político, o Conde de Serra Negra era a maior expressão do poderio econômico no final da monarquia e continuaria intocável pela República até seu falecimento... Com os primeiros raios de sol, a sede da fazenda se iluminara com o nascimento de um robusto e belo menino. A notícia correu rápido, aguçando a curiosidade e aumentando a fantasia do povaréu que se deliciava com o acontecido. A chegada da estrada de ferro na pequena Vitória propiciou a criação de uma linha de trole entre a Estação e Botucatu, aumentando os negócios e a presença de pessoas nas imediações das terras do Conde. E mais não se soube, pois ninguém entrava ou frequentava os domínios do Conde, sabidamente vigiado por peões de alta competência... Esse era o cenário dos domínios e do poderio do Conde de Serra Negra. E nem poderia ser diferente para quem tinha só na região de Botucatu mais de dois milhões de pés de café, sendo que tinha o triplo disso nas 15 fazendas de café que possuia no Estado de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro. Somente mês e meio a família do Conde vivia na região. No mais, estando no Brasil, o Conde percorria as suas propriedades, enquanto a Condessa cumpria as suas obrigações sociais e assistenciais na Corte, no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde a família convivia com DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
o Poder Político e com os grandes financistas paulistas. No ano anterior, 1887, o Conde de Serra Negra mantivera seguidos contatos com o Barão de Parnaíba, Presidente da Província, obtendo a promulgação da Lei que autorizava a extensão do traçado da Sorocabana (Lei nº 25, de 19 de março de 1887), até Botucatu e São Manoel. O evento ficou registrado. O nascimento ocorrido, cercado de toda a pompa, foi comentado como mais um desempenho “exótico” do Conde de Serra Negra. Da boca do Dr. Costa Leite, nunca se ouviu uma palavra sobre os detalhes do parto ou das pessoas visitantes, apenas que ele assistiu ao parto levado a bom termo por parteira habilitada... Era menino, robusto e sem problemas... Mesmo sendo anglicana, a jovem nobre cedera à sugestão do Conde e recebera a visita do Padre Ferrari, amigo da família do Conde desde a sua chegada a Botucatu onde residiam seus familiares, sendo que seu irmão Estevam Ferrari, era casado com Dona Alcinda Cardoso de Almeida, irmã do rico comerciante Antonio Joaquim Cardoso de Almeida, um dos poucos de Botucatu a frequentar as reuniões do Conde na Capital e a ser considerado um amigo. Padre Ferrari dera a sua bênção ao recém nascido e, também dele, nunca se soube sobre o assunto... A jovem inglesinha ainda permanecera por mais dois meses na fazenda, partindo em seguida para o velho mundo, levando as imagens gravadas de um país diferente, de uma gente diferente da sua, mas que lhe deixaram marcada a mais sublime experiência feminina: a maternidade. (AMD)
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LAWRENCE DA ARÁBIA
Thomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia. E não é que Lawrence, ele mesmo, o da Arábia, nasceu em Botucatu ? A Revista Cultural Botucatuense - PEABIRU, em suas edições de nºs 06, 07, 08 apresentou estudo sobre a trajetória desse herói mundial. Na história, ou na “lenda”, diz-se que Lawrence da Arábia, nasceu na CUESTA DE BOTUCATU. CUESTA é uma forma de relevo em que colinas e montes têm um declive não simétrico, ou seja, suave de um lado e íngreme do outro. A de Botucatu guarda em sua história, o começo da caminhada de um herói mundial, Lawrence da Arábia, que nasceu numa fazenda em Vitoriana, subdistrito de Botucatu. Esta fazenda era do Conde de Serra Negra, e fora muitos empreendimentos, tinha 15 fazendas de café, no Estado de São Paulo e no Rio de Janeiro, onde hospedava a família imperial brasileira. Ele foi nos séculos XIX e XX, o maior produtor mundial de café, tendo também uma grande torrefação e uma distribuidora deste produto
valiosíssimo, em Paris. O Conde e sua família moravam num belíssimo palacete em Paris, mas iam muitas vezes a Londres, onde o Conde negociava o café de suas fazendas. Numa dessas visitas o Conde se encontrou com uma jovem nobre inglesa, e nesse encontro a moça ficou grávida. Para resolver a situação e proteger a reputação da moça, decidiram trazê-la para o Brasil, para passar a gravidez numa das fazendas do Conde. Lá ela esperou o tempo que faltava para o nascimento. O parto, cercado por toda a pompa, foi assistido pelo Dr. Costa Leite que foI chamado para ajudar a parteira. A jovem mãe ainda ficou mais dois meses na fazenda, e foi embora para a Europa, depois da situação ter sido muito bem preparada e o segredo bem guardado . Ela carregava nos braços um menino, que seria o orgulho do Império Britânico, o Grande Herói. Afinal ele era Lawrence da Arábia! Lawrence estudou nos melhores colégios ingleses e se formou em História. Influenciado por um arqueólogo es-
A famosa Fazenda do Conde de Serra Negra sendo visitada pelos integrantes do "Grupo Papa Trilhas" e, em um segundo momento, já sendo restaurada pela Usina São Manoel. atual proprietária
pecialista em Oriente Médio, viajou para a Síria, a fim de trabalhar em sítios arqueológicos hititas. Ali, percorrendo quase 1.400 quilômetros a pé durante 4 anos, começou a conhecer e a estudar as línguas e os costumes da região. Em fevereiro de 1914 Lawrence se uniu à uma expedição arqueológica ,cuja verdadeira missão era conseguir informações sobre o exército otomano. Quando começa a Primeira Guerra Mundial, Lawrence ingressa na Seção de Geografia do alto escalão do exército inglês. Apesar de indisciplinado, seus oficiais superiores e companheiros o admiravam Em 1916, recebeu a Legião de Honra por seu trabalho. Lawrence ajuda a desenvolver uma guerra de guerrilha contra os otomanos e a partir do sucesso consegue a união de várias tribos árabes. Preso e torturado pelos turcos, consegue fugir. Trabalha no campo diplomático e volta a Oxford para escrever o livro Os Sete Pilares da Sabedoria, sobre sua experiência com os árabes.
Mais tarde, já na Força Aérea, serve na Índia como mecânico, além de continuar a escrever livros. Lawrence foi uma das figuras militares mais controvertidas, complexas e brilhantes da História Britânica . Morre em um acidente de moto, em 19 de maio de 1935. Um dos maiores feitos de Lawrence como líder estrategista integrado aos árabes foi a organização de guerrilhas de bandoleiros nômades, que faziam ataques surpresas, apesar de poucos recursos, neutralizando e estrangulando as movimentações dos exércitos rivais. As ações de T. E. Lawrence tornaram-se ainda mais célebres após serem retratadas no filme de David Lean, Lawrence da Arábia, lançado em 1962, com atuação de PeterO’Toole. (Blog Quase Pedagógico) Fontes: www.educacao. uol.com.br/biografias www.ptwikepedia.org/wiki/ lembrancadaarabia www.blogdodelmanto.blogstop.com
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ARTIGO
O MENINO
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Elda Moscogliato Nascera também, num estábulo. Contara-lho a mãe, ao embalar-lhe amorosamente os anos de infantis. Sufocavam-na as dores e a criança não nascia. Inesperadamente penetrou a mansão, dirigiu-se à câmara onde sofria, um ser desconhecido e velado. Deu uma só ordem, ás camareiras : “Levem-na ao estábulo. Lá é que deverá nascer o filho de Pedro Bernardone”. Obedeceram, pressurosas e assustadas, as açafatas da dama. E Francisco nasceu entre palhas, numa manjedoura. Lá fora, pelas ruas estreitas de Assis, o mesmo desconhecido mensageiro proclamava entre os aldeões incrédulos: “Paz e Bem!” . . . “Paz e Bem!” E sumiu-se. No fundo de seu coração sempre puro, guardou Francisco o estribilho da narrativa materna: - “Como o Filho de Deus!. . . Você nasceu, como o Filho de Deus!” Pelos anos em fora foi-se-lhe gravando a humildade da Manjedoura, a simplicidade tocante de um Deus nascido entre as obras da Natureza: o silencio da noite, a esplendente beleza dos céus, a passividade dos animais, a humildade e singeleza dos pastores. A narrativa materna encouraçava-lhe o casto coração contra as seduções do mundo. No entanto, foi rico, inteligente, herói. A mocidade despontou-lhe pródiga e feliz. O jovem Bernardone era o alegre menestrel das noites de Assis. Tudo lhe sorria : os bens da fortuna, os dotes do espírito, a improvisação artística nos acordes do alaúde, a palavra fácil, o riso franco e leal. Mas a lúcida inteligência alicerçada na pureza do coração, provava-lhe a inconstância dos bens terrenos, a falácia dos poderosos, a insegurança do saber e a infinita grandeza da alma imortal. Destro nas armas, ei-lo em campanha na defesa do torrão natal. Num amanhecer radioso, ouve entre as brumas do dia, uma voz que lhe segreda : “Não o heroísmo terreno, mas o heroísmo por Mim!. . . Vai Francisco, abandona tudo e luta pela minha igreja!. . .” Levanta-se um outro homem. Já não é o descuidado e rico jovem da brilhante sociedade de Assis. Suaviza- lhe o olhar o semblante da humildade. Despoja-se dos bens terrenos como se alijasse de um fardo. O trovador dos saraus galantes, percorre os caminhos saudando a mãe Terra, o irmão Sol, as avezitas do céu e o fero lobo de Gobio. Ao pestilento mendigo da estrada, não tem mais o que dar. Na luta intima entre o Homem e o Anjo, vence o último. Francisco beija o miserável. E sua alma alça-se leve e diáfana, como um ser celestial. É o ósculo supremo da Caridade. Quem o entenderá? É o homem das contradições! Desherda-o o pai enfurecido, afastam-se os companheiros de festas, desertam os amigos. Ele sai a percorrer os bosques, meditando as narrativas maternas. Sempre a cantar-lhe aos ouvidos, o mesmo lindo
estribilho : - “Como o Filho de Deus! Você nasceu como o Filho de Deus!” Invade-lhe a alma a mística alegria dos anjos. Despojou-se, para se enriquecer. Humilhou-se, para alçar-se. Aniquilou-se para dominar por toda a face da Terra. Sua voz de cancioneiro de Cristo, seduziu e atraiu. Dominou o mundo e exaltou o Homem. Para Deus. Em pouco eram já muitos os que lhe seguiam a voz vestidos da estamenha e do grosseiro cordão. De uma feita, regressava de Roma. O Papa abençoara-lhe a Ordem Seráfica. O frio enregelava. A neve caia em flocos pelos caminhos. Era Dezembro. Nas terras de Greccio, ele quis pernoitar. Pede a João Velita, franciscano também, o bosque umbroso que circunda o castelo tornado agora convento. No bosque há uma gruta. Na gruta, abrigam-se animais : o boi e o jumento. Há feno, também. O eterno estribilho canta-lhe na brisa do anoitecer : -“Como o Filho de Deus!”. . . Francisco reúne os frades e o povo das aldeias. Todos seguem cantando, pela noite a dentro, em caminho da gruta de Greccio. Há harmonias misteriosas no silencio dos caminhos. Há perfumes no ar. Gorjeios velados de avezitas friorentas. Lá longe, o balido de ovelhas que se juntam. Francisco os leva à Manjedoura. E fala-lhes do Deus que se fez Menino e veio habitar entre os homens. Arde-lhe o coração em chamas de amor ao Recém-Nascido. Como quisera apertá-lo em seus braços amorosos. E senti-lo no aconchego de seu coração. Súbito, um estranho murmúrio irrompe dentre os que o escutam. Volvem-se os olhares para o Presépio. Lá está a imagem do Menino. À luz mortiça das pobres tochas, a Criança se agita e sorri. Alvoroçado, Francisco se aproxima. Mal compreende a força extraordinária de seu Amor. Inclina-se ante o Presépio, olhos úmidos, voz embargada, o coração em êxtase... O Menino sorri-lhe. O franciscano inclina o rosto em oração. As tépidas mãozinhas afagam-lhe as lágrimas. Naquele Presépio humilde, pela vez primeira, Deus-Menino estava presente.
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LEITURA DINÂMICA
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– Lawrence da Arábia conseguiu unificar as tribos árabes. Liderou-os pessoalmente, vestiu-se como eles, viveu como eles, foi seviciado barbaramente pelos turcos, enfrentou desafios inimagináveis e os venceu. Virou Herói Mundial. Seu ideal para a Nação Árabe, no entanto, não conseguiu motivar as grandes Nações vitoriosas. Nem os Estados Unidos, nem a Inglaterra estavam tão preocupados com a independência árabe a ponto de esquecerem o mar subterrâneo de petróleo que existia nas terras a serem entregues aos árabes. Nem o futuro Rei Faiçal queria uma independência maior do que a formal dependência das grandes Nações... Os dirigentes das grandes Nações e os líderes árabes se compuseram facilmente e o descarte milionário daquele que conseguira a unificação e a vitória árabe era conveniente a todos...
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– Foto original de Lawrence da Arábia e foto do Colégio de Oxford onde ele estudou na Inglaterra. De ascendência nobre, loiro, Lawrence passara toda a sua infância e adolescência buscando respostas para a sua origem: sua mãe nunca lhe dera a necessária segurança de quem era seu pai. Sempre ouvira o comentário de que Thomaz Chapmam, amigo da casa e também ele de ascendência nobre, seria seu pai, apenas não acontecera o casamento por questões menores... Será? Nunca vira no relacionamento de sua mãe e Mr. Thomaz qualquer resquício de amor : eram apenas e tão somente muito bons amigos, só amigos, sempre amigos... Tão amigos eram que Mr. Thomaz, solteirão inveterado, deixava que o “boato” corresse solto na rígida sociedade inglesa do início do século. Foto original de Lawrence da Arábia e foto do Colégio de Oxford onde ele estudou na Inglaterra.
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– O filme LAWRENCE DA ARÁBIA foi o grande sucesso cinematográfico do Século XX. Vencedor de 7 Oscar. Consagrou a carreira de Peter O’Tolle
– Ilustrações do Prof. Vinício Aloise sobre os domínios do Conde de Serra Negra, a chegada da Estrada de Ferro Sorocabana - EFS, o Dr. Costa Leite de trole e as paisagens da Vila de Vitória (Vitoriana).
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– O Conde de Serra Negra era filho do Barão de Serra Negra e genro do Barão de Valença (um dos maiores cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba), sendo que seu irmão, Dr João Batista da Rocha Conceição, permaneceu proprietário da Fazenda Nazareth – sede da família do Barão em Piracicaba -, constando que o mesmo também tivera propriedade no município de Botucatu ( as Fazendas Lageado e Edgardia, chegaram a ter mais de 1 milhão de pés de café). Em Piracicaba (Villa da Constituição), a família do Barão de Serra Negra tinha “status” e poderio econômico: além de grande proprietário rural e produtor de café, o Barão era presidente do Banco de Piracicaba e grande benemérito. Até um Bairro Serra Negra havia em homenagem à família. Fotos da Fazenda Nazareth (Piracicaba )
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– Lawrence era apaixonado um por motos... “E a moto desenvolvia alta velocidade na estreita e tortuosa estradinha rural. O vento lhe açoitava o rosto, mas ele mantinha a visão nítida graças aos óculos protetores que usava... Lawrence era apenas um homem comum correndo de moto, numa estrada comum, como comumente ocorre em tantas e tantas pequenas e comuns cidades de tantos países... E acelerava a moto, mais e mais, sem ver, antes da curva, os dois ciclistas que vinham ou entravam em sua mão de direção. Procurou desviar, inútil...”
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– O “Aventureiro do Túnel”, Zé Basseto, encontrou o túmulo do botucatuense Lawrence da Arábia, no Cemitério de Moreton – perto do Rio Frome/Dorset/Inglaterra.