Diário da Cuesta ANO IV
Nº 976
SEXTA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2023
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br
DOMINGOS SOARES DE BARROS - O Benemérito de Botucatu -
Falecido em 22/12/1890, foi sepultado no Cemitério num túmulo simples que consta de um tronco de árvore (em pedra), decepado ao meio e com a seguinte inscrição: “Gratidão da Igreja Presbiteriana de Botucatu. De hoje em diante, diz Espírito, que descansem dos seus trabalhos, porque as obras deles os seguem. Apoc. XIV – 13” Maçon, Fundador da Igreja Presbiteriana de Botucatu e seu primeiro Pastor juntamente com o Reverendo João Ribeiro Braga. Foi político, ocupando a Câmara Municipal como Vereador e foi, com destaque, um grande benemérito de Botucatu: doou prédios para a constituicão da Igreja Presbiteriana e doou o terreno onde se instalou a Misericórdia Botucatuense, além de outros imóveis para sua manutenção. Foi um dos representantes de Botucatu na 1ª. Convenção Republicana, realizada em Itu. Página 3
A IGREJA PRETA - 1ª IGREJA PRESBITERIANA DE BOTUCATU
Fundada em 1885, pelo Reverendo George Anderson Landes, em 1890 teve sua sede instalada e, em 1935 foi inaugurada a nova sede da atual Igreja, a IGREJA PRESBITERIANA DE BOTUCATU – A Igreja Preta ! – é data histórica: 138 Anos!
Botucatu está no “meio-dia” da sua existência e de seu progresso... “Botucatu não se encontra mais na calada da noite e muito menos nas asas da alvorada, uma vez que é uma cidade que já se encontra no meio dia da sua existência e do seu progresso: com sol a pino, que aponta a sua pujança, o seu progresso, tendo tudo de bom que uma cidade pode desejar”. Reverendo Antonio Coine Página 2
2
artigo
Diário da Cuesta
BOTUCATU ESTÁ NO “MEIO-DIA” DA SUA EXISTÊNCIA E DE SEU PROGRESSO...
Reverendo Antonio Coine. Já é tradicional a participação da ABL – Academia Botucatuense de Letras nas comemorações do Aniversário de Botucatu e a participação do Reverendo Coine , como Orador Oficial da ABL, nas festividades do Aniversário de Botucatu, ficou marcado como importante retrato histórico de nossa cidade. O Reverendo Coine destacou o desenvolvimento da cidade desde 1719, com a criação das fazendas jesuítas que originaram o município “Queridos Concidadãos: costume, entre nós, quando uma pessoa muito querida aniversaria, parabenizarmos e promovermos uma grande festa celebrativa. Pois bem! A nossa querida cidade de Botucatu, comemora, hoje, o seu aniversário. Isso é uma grande alegria e bênção para todos nós. Porque dissemos: para todos nós? Porque somos, todos nós, de maneira total e indistinta, filhos dessa amada cidade, que nos acolheu no seu seio como o faz a mãe, quando acolhe seus filhos para dar-lhes proteção, amor e carinho. E é justamente isso que Botucatu tem feito para cada pessoa que aqui tem chegado e feito dela o seu lar e estabelecido sua família. É certo que a nossa querida Botucatu, como a vemos hoje, não é a mesma que foi no passado, ou até mais, como já nos escreveram nossos ilustres historiadores, cujos registros se encontram nos fartos e famosos escritos do nosso ilustre concidadão Dr. Armando Delmanto e outros historiadores nossos. Por esse motivo gostaria de convidá-los, neste momento, a que dirijam seus pensamentos em páginas importantes, como se estivessem folheando um álbum de família. Ali poderemos vislumbrar, na primeira página, o nosso passado. Mais adiante poderemos nos defrontar com o nosso presente. E na página seguinte observaremos o nosso futuro, bem como de nossas gerações seguintes. NO PASSADO Nos depararemos com os nossos pioneiros. Ali se encontram as primeiras sementes daquilo que hoje usufruímos. Se olharmos para o passado, poderemos ver nossa querida cidade de Botucatu retratada de maneira bem simples e humilde, dentro de um sertão incomensurável. Nas fotos dessa primeira página do nosso álbum teremos a oportunidade de voltar no tempo e ali encontrarmos, primeiramente, os jesuítas, quando, lá pelo ano de 1719, a famosa e elitizada Companhia de Jesus, numa fazenda, havia se estabelecido. Escreve-nos Armando Delmanto que: Em pesquisas realizadas em Sorocaba, o escritor botucatuense, Hernâni Donato, comprovou que os primeiros botucatuenses nasceram nessa fazenda”. (in “Memórias de Botucatu I”, de Armando M. Delmanto, págs. 16/17, 2ª edição 1995); O passado da nossa cidade deveria, em muito, aguçar as nossas mentes, nos dias de hoje, para entendermos o seu real valor. Uma vez que sabemos que esta cidade nasceu sob o signo da cruz, “segundo o Prof. Plínio Airosa, da USP” isso deve nos levar a refletir naquilo que o Supremo Deus, o Criador disse, cerca de dois mil e
EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO
quatrocentos anos atrás, através dos lábios do Profeta Malaquias, que não devemos desprezar “o dia dos humildes começos”. Ao falar isso Ele quer nos dizer que nele, no passado, foram plantadas as sementes de uma visão futura, daquilo que nossos antepassados, os nossos pioneiros, os nossos colonizadores sonharam para essa cidade: Progresso, Amparo, Proteção, Saúde, Educação, para todos, indistintamente. Isso quer nos lembrar ainda, que esta cidade, no seu passado, teve aqueles que a fizeram, que a construíram: e foram os braços fortes dos escravos e dos livres; dos proprietários e dos trabalhadores. Todos eles, homens, mulheres e crianças fortes, dignas de serem lembrados e homenageados por nós cidadãos da modernidade. Pobre povo aquele que não conhece e pouco se interessa pelo seu passado. Lembramo-nos de uma frase do ilustre educador e pastor presbiteriano que aqui esteve por volta do ano de 1868, Revdo. Prof. George Whitehill Chamberlain, recém formado pela Universidade de Princeton. Ele esteve hospedado na casa de Domingos Soares de Barros, pois este estava interessado em conhecer as doutrinas contidas nas Sagradas Escrituras, a Bíblia. Quando estabelecia a primeira Escola Americana, na rua Líbero Badaró, em São Paulo, que se tornaria a hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, Chamberlain uma belíssima e importante frase que se encontra registrada nos livros de história do presbiterianismo: “Nós trabalhamos na calada da noite, mas outros virão ao nosso encontro no alvorecer”. Poderemos, com absoluta certeza, parafraseá-la pensando no que os nossos pioneiros, tais como o Capitão José Gomes Pinheiro, dentre outros, disseram também: “Trabalharemos com afinco na calada de noite, mas outros virão até nós, para nos ajudar, nas asas da alvorada”. Hoje, queridos concidadãos, Botucatu não se encontra mais na calada da noite e muito menos nas asas da alvorada, uma vez que é uma cidade que já se encontra no meio dia da sua existência e do seu progresso: com sol a pino, que aponta a sua pujança, o seu progresso, tendo tudo de bom que uma cidade pode desejar. O PRESENTE E O FUTURO Ao olharmos, agora, para a página do nosso álbum que aponta o nosso presente, entendemos melhor o lugar onde já nos encontramos situados podendo contemplar aquilo que estamos usufruindo. Aquilo que temos recebido, aquilo que tem nos abençoado e nos tem feito progredir. Quem se encontra no presente, deve também, à semelhança dos nossos antepassados pioneiros, com DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
o olhar de agradecimento, ter uma visão do futuro. Aquilo que usufruímos hoje da honestidade do caráter, como fruto do trabalho laborioso conquistado pelo suor do nosso rosto e abençoado pelo Criador é a base no solo da herança que deixaremos para aqueles que nos substituirão. E essas vidas já se encontram nos ventres maternos, nas crianças que se movem em nossa cidade, nos adolescentes e jovens alegres que caminham festivos e satisfeitos em nossas ruas povoando nossas escolas. Por isso é necessário que, olhando ao nosso redor vejamos se há ainda uma única pessoa com fome, uma única criança sem a educação devida, alguém desabrigado ou desamparado pelas circunstâncias da vida, e não nos omitirmos. Não podemos encher os nossos bolsos com as riquezas honestas, pelas quais lutamos e angariamos, sabendo que há fome, falta de educação, abrigo e outras coisas que constituem o bem dos seres humanos, nossos irmãos. Se bem que podemos dizer com orgulho santo que a nossa Botucatu tem servido de exemplo nessas áreas para outras cidades. Por isso somos chamados de Cidade dos Bons Ares, das Boas Escolas e das Boas Indústrias, e, porque não dizer de Bons e Caridosos Corações. É certo de que não poderemos nos deleitar tranquilamente na poltrona do nosso sucesso, com a consciência tranquila, enquanto milhares de brasileiros vivem na necessidade. Deus mesmo disse que devemos ser o amparo das viúvas, dos órfãos, dos pobres, dos enfermos, dos estrangeiros e de todos que necessitam da nossa ajuda, do nosso amor, do nosso carinho, da nossa caridade. Por isso, devemos continuar a realizar este grande empreendimento, seja aos nossos munícipes, como também, de outros municípios, aos quais temos estendido nossas mãos com amor cristão. Para quem não sabe, daqui têm saído toneladas de roupas e alimentos para o sustento de tribos indígenas e pessoas carentes em rincões muito afastados da nossa cidade, no Mato Grosso do Sul e, até no Amazonas e Nordeste Brasileiro. Finalizamos usando as palavras do salmista que dizia, há cerca de três mil anos atrás: “Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o SENHOR!” (Sl 144.15) E Deus mesmo nos concita através dos lábios do profeta Jeremias: “Procurai a paz da cidade para onde vos fiz transportar e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz” (Jeremias 29.7). Que Deus, o Supremo Criador, Mantenedor e Sustentador do Universo abençoe nossa querida cidade, nossa mãe amorosa. Parabéns querida BOTUCATU!!! Muitíssimos anos de vida e progresso.” Acadêmico Reverendo Dr. Antonio Coine, Membro Honorário da Academia Botucatuense de Letras e Pastor Emérito da Igreja Presbiteriana do Brasil. Acervo Peabiru
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
Diário da Cuesta
DOMINGOS SOARES DE BARROS - O Benemérito de Botucatu –
Domingos Soares de Barros não era botucatuense nato, mas o era de coração. Quando aqui chegou, em 1860, mais ou menos, vinha de São Manuel, onde fora grande fazendeiro, juntamente com seus irmãos. Veio com fama de “Podre de Rico”. Tinha vendido o latifúndio que era a FAZENDA SOBRADO. Sua residência era num prédio que foi demolido, onde se ergue o sobrado da família Peduti, em frente ao BOSQUE. Solteirão, celibatário empedernido, trouxe para serví-lo um casal de escravos – Caetano e Marina –fidelíssimos. Gostava de passear a cavalo, possuindo ótimos animais. Protestante, crente de fato, tudo fazia para difundir sua religião. Tornou-se um dos esteios da Igreja Presbiteriana, fundada em 01/08/1885, e da qual foi fundador e primeiro pastor, o Reverendo João Ribeiro Braga, que, também foi, o primeiro Intendente ou Prefeito Municipal de Botucatu – República. Para a formação do patrimônio da Igreja recém-fundada, doou parte dos seus bens. À Misericórdia Botucatuense, destinou alguns prédios, localizados nas ruas centrais. Esses prédios foram vendidos e o dinheiro apurado foi empregado nas obras do Hospital. Domingos Soares de Barros era político. Em 1864/1865 foi Vereador à Câmara Municipal. Republicano histórico, desde sua mocidade; tomou parte na grande CONVENÇÂO DE ITU, em 18/04/1873, batalhando pela implantação do regime republicano no Brasil. Domingos Soares de Barros, José Rodrigues César e Bernardo Augusto Rodrigues da Silva ( bisavô do Dr. Rivaldo Assis Cintra ), compunham a representação botucatuense ao conclave. Domingos Soares de Barros, sem ter tido grande instrução, era um homem inteligente e de visão. Espírito arrojado e progressista. Com idéias avançadas para a época. Preocupado coma melhoria das condições dos seus semelhantes, não se limitava a atos de filantropia e religião. Ia mais longe. Observando a deficiência educacional da cidade, com carência absoluta de ensino médio e superior, o que ocasionava o êxodo da mocidade para a Capital, Campinas, Itu e outras cidades adiantadas, tomou uma resolução arrojada: - Instalar aqui um colégio, com métodos modernos, possibilitando o preparo de ricos e pobres, para ingresso nas escolas superiores, o que só era possível, então, aos filhinhos de papai. Bem assessorado, Domingos Soares de Barros trouxe para Botucatu um notável professor alemão, Constantino Carlos Knuppel, que imigrado ( não conheço as razões ), vivia no sul do Brasil. O Prof Knuppel, na Alemanha, tinha sido mestre de Bismark, o famoso
3
chanceler do REICH. Apesar da distância e dos acontecimentos, conservou-se inalterada a amizade entre o professor e o discípulo célebre. Consta que na velhice, doente e empobrecido, Knuppel recebia uma pensão do governo alemão. Knuppel, falecido, repousa no cemitério botucatuense. O Colégio começou a funcionar em fevereiro de 1881, instalado em prédio de Domingos Soares. Mas houve um desentendimento entre Domingos e o Professor. Este era materialista e aquele era mui religioso, crente mesmo. Barros exigiu que Knuppel se filiasse aos presbiterianos. O alemão resistiu e o protestante não teve duvidas e nem meias- medidas:- despejou professor e escola de seu prédio, arranjou-se como pode (conta Hernâni Donato ) e com professores leigos, intransigente em matéria de religião e ensino, tocou o colégio para frente. Em 1869, Domingos Soares de Barros, doou terras para aumentar o patrimônio da Vila de Sant’Anna. Ao falecer, em 22/12/1890, foi sepultado no cemitério local. Seu túmulo simples, foi levantado pelos amigos e consta de um tronco de árvore ( em pedra ), decepado ao meio e com a seguinte inscrição: - “Gratidão da Igreja Presbiteriana de Botucatu. De hoje em diante, diz Espírito, que descansem dos seus trabalhos, porque as obras deles os seguem. Apoc. XIV- 13”.
4
Diário da Cuesta
A PRIMEIRA IGREJA
Os anais presbiterianos, no entanto, atribuem a Domingos Soares de Barros o mérito de ter se transformado no propagador do Culto Evangélico e incentivador de sua organização na cidade. Maçon, Domingos Soares de Barros, travou conhecimento com a Palavra de Deus, através da Bíblia da Loja Maçônica local, livro que servia para os votos e cumprimentos maçons. Destacado agricultor, Domingos Soares de Barros, teve grande participação na comunidade, tendo sido um dos signatários do Manifesto Republicano de 1873, resulta-
A foto da lápide do túmulo de Lee Milton, no Cemitério das Três Cruzes, é o registro da homenagem da Família Meriwether, em 1895, ao lendário General Lee. Em 1988, quando eu editava o jornal “FOLHA DE BOTUCATU”, fiz uma pesquisa sobre os descendentes americanos enterrados em Botucatu. O túmulo do jovem Lee Milton estava em péssimo estado, impossível de ser fotografado para registro. Na ocasião, contratei uma Marmoraria da cidade que fazia lápides no cemitério para que fizesse a restauração desse túmulo. Pela foto do Dallas (Dalanesi), feita especialmente para o jornal, pode-se ver que é um túmulo original e diferente dos demais: �picamente em es�lo dos americanos do sul dos EUA. Essa foto é uma preciosidade histórica a re-
do da Convenção de Itú, que passou à História do Brasil como um dos fatos mais importantes da Nação. Em Botucatu, e na ausência de qualquer Casa de Oração, conta-se ser dele um voto a Deus: “Se aparecesse alguém em Botucatu, que pregasse as doutrinas da Bíblia, ele construiria uma casa para aquele Livro”. Apareceu!!! O Reverendo Chamberlain, fundador da Escola Mackenzie, em S. Paulo, tomou conhecimento desse voto, durante uma de sua viagens a Lençois Paulista e, aproveitando a curta distância entre as cidades, resolveu aqui chegar. Do contato com Domingos Soares de Barros, feito durante um jantar, incentivou-o a levar adiante sua proposta. Nasceu desse contato e do esforço dele resultante, a primeira Casa de Oração Presbiteriana de Botucatu. Desconhece-se a data dessa reunião, porém, é muito significativo o fato de ter residido em Botucatu, por quatro anos (1881,82,83,84), o reverendo George Anderson Landes, vindo de Nova York. Faltam registro mas, como o período foi anterior à fundação da Igreja (1885), é muito provável que o reverendo americano, tenha servido como “Moderador” na organização da Igreja local. O primeiro templo estava localizado à Rua Cesário Alvim (Rua João Passos), no mesmo terreno onde hoje se ergue o Ins�tuto Educacional, tendo sido membros do primeiro Conselho, o pastor Rev. João Ribeiro de Carvalho Braga e os presbíteros, João Tomás de Almeida e Alberto Araújo, sendo diáconos Eduardo José Duarte e Domingos Soares de Barros. (História Botucatu)
gistrar a passagem dos americanos sulistas por Botucatu. Na matéria “OS AMERICANOS”, publicado no livro “MEMÓRIAS DE BOTUCATU”, em 1990, todo o histórico da passagem dos americanos sulistas por Botucatu está registrada. Acabara a guerra e se buscava a concórdia entre sulistas e nortistas. Mas sempre ficam os ressentimentos e a intolerância. Os sulistas não tiveram condições de uma recomposição total. Muitos preferiram o exílio voluntário ou a busca de uma nova pátria. Famílias inteiras, inclusive com seus escravos, imigraram para outras terras. Assim, muitos americanos sulistas acabaram no Brasil. Assim, muitos sulistas americanos acabaram em Botucatu. Corria o ano de 1865 e os confederados sulistas americanos começavam a imigrar. Para o Brasil vieram no mesmo ano do término da Guerra Civil e durante o ano de 1866. No link colocado no post “A IMIGRAÇÃO DOS AMERICANOS/REGISTRO HISTÓRICO”, procuramos mostrar como foi a vinda deles para Botucatu e a influência que tiveram nos costumes e na religião, com o Protestan�smo. Vale a leitura. (AMD)
5
ARTIGO
Diário da Cuesta
NATAL DO MENINO DE RUA Olavo Pinheiro Godoy
A multidão martelava passos na calçada da rua Amando de Barros, indiferente ao choro do garoto. A preocupação dinâmica deste século tirou, parece-me, a sentimentalidade popular. O garoto podia ter, no máximo, 8 anos e soluçava convulso, colado à parede do Banco do Brasil como si se protegesse ao movimento brusco dos transeuntes apressados. Seu pranto comoveu minha sensibilidade de emotivo. Acerquei-me dele: - Por que chora, garoto? Ele levantou o rosto onde dois olhinhos pretos, bem vivos, brilharam úmidos, através das lágrimas que escorriam abundantes pelas faces. Passei carinhosamente a mão pelos seus cabelos desalinhados e, como se tal gesto lhe desse confiança,respondeu-me entre soluços: - Meu padrasto me bate. . . - Por que? -Porque perdi o dinheiro, éeee. . . E aí aumentou o choro. Já não chorava, berrava... Populares fecharam-se em roda, curiosos. O garoto, lavando o rosto com as lágrimas, causava dó. - E quanto era o dinheiro perdido? Indaguei ainda. Ele coçou a cabeça, procurando lembrarse. Depois cortando a palavra num soluço me respondeu: -Bastante! Dei-lhe uma nota de dez mil. Os outros populares imitaram o meu gesto. Num instante o garoto ficou com as mãos cheias. Nem sabia agradecer o coitadinho. Lá o deixei e fui tratar da minha vida, pensando nas misérias alheias. As horas passaram-se lentamente. À tarde, de volta, ao dobrar a esquina do antigo Cine Paratodos, vi o garoto chorando outra vez. Havia escolhido, agora outro ponto para a sua choradeira. Uma desconfiança assaltou-me o espírito: seria aquilo esperteza do menor? Aproximei-me dele e indaguei novamente: - Por que choras, menino? Sem levantar a cabeça dos braços sujos,
respondeu-me soluçando: - Meu padrasto me bate. . . - E porque teu padrasto te bate? - Porque perdi o dinheiro. . . - Outra vez, perdeste o dinheiro? Ele olhou-me, então, com o espanto nos olhos vivos. Reconheceu-me e recobrando a confiança em si, retrucou-me: - Ah! Senhor. . . Perdi. . . Perdi, sim senhor. Vendo que seus bolsos estavam cheios, volumosos, disse-lhe: - E esses bolsos, de que estão cheios? Rápido o garoto pôs as mãos sobre os bolsos, como se os quisesse proteger. Por isso, numa explosão sincera, incontida, saída do mais intimo de seu coração de menino de rua, confessou num desabafo, entre-cortado de soluços: - Ninguém me dá presente de Natal! Ninguém. . . Não tenho pai... Minha mãe é pobre, vive no Jardim Brasil... Não vê que eu queria comprar uma bicicleta usada?
6
ARTIGO
OS CREDORES DE JESUS ELDA MOSCOGLIATO (Conto Argentino de Severine )
Tudo repousava no silencio da Noite Santa. Deitado o Menino na pobre Manjedoura, adormeceram, ao lado da Criança, os santos esposos. O cansaço e o frio os abatera. O pequenino Infante babujava insone. Tinha frio também. O terno corpinho enregelava. Lá fora, a planície nevada perdia-se sem fim. O canto dos anjos deixara harmonias na brisa do amanhecer. Entre as frestas da rude gruta, penetravam os reflexos da Estrela que do Alto, apontava para a Humanidade o caminho de Belém. Tinha frio o Pequenito. Súbito, na obscuridade silenciosa do Presépio, sentiu, à sua direita, um hálito quente, reconfortante. Ergueu-se a mãozinha gelada e sentiu a maciez de umas orelhas grandes contornando um par de olhos mansos, tranquilos e bons. - Quem és? Perguntou. Ele era o Deus-Vivo. Entendia os animais. -Sou o asno, respondeu-lhe o olhar tranqüilo do gerico. À sua esquerda, áspera porém, carinhosa e quente, uma língua enorme lhe acarinhava os pezinhos enrigecidos pela friagem da noite. -E tu, quem és? Indagou o Menino. -Sou o boi. Moro aqui. O Infante sorriu agradecido. Ao doce conchego daqueles tépidos e acariciadores cuidados, dormiu o Redentor. As horas da madrugada corriam. -Como vieste até aqui? Perguntou o boi. O asno respondeu : - José cuida das cocheiras de meu amo. Maria sempre o acompanha na faina. Sempre me acariciou o focinho e reservou-me sempre tenras alfaces. Compreendi a aflição do casal, na iminência do Nascimento do Filho e na necessidade de viajarem, a pé, para Belém. Então corri, ganhei meio caminho, a não permitir que, em me achando voltassem para devolver-me. Ao retorno, se houver, voltarei ao meu curral. -Por que, se houver?
Diário da Cuesta -Porque Herodes mandou matar as crianças, e só eu sei como varar os desertos, a caminho do Egito... Já pertenci às caravanas de meu amo . . . -És sábio, hein? Retrucou o boi. -Minha espécie inteira é assim. A Bíblia conta que Sansão se livrou dos inimigos com uma queixada de um antepassado meu . . . O Menino acordara e, no tépido conchego das palhas, olhinhos semicerrados, ouvia a conversa dos animais. Disse o boi : -Você sabe quem é este Menino? -Sim. É o Messias! Pobrezinho! Sendo Deus, se fez Homem. Vai derramar Seu Sangue pela Humanidade. -E!? . . . Então, se Ele é Deus, por que não lhe pedirmos que melhore nossa espécie? -Não devemos pedir-lhe nada. Dir-se-ia que lhe estamos cobrando o suave calor da Manjedoura... -É certo. Mas nem eu, nem tu queremos cobrar-lhe nada. Apenas pedir-lhe que se compadeça da nossa pobre espécie. Olhe : nós, os bois, perdemos de há muito, a nobreza dos dias da Criação. Degenerou-se-nos a raça, e caímos nas mãos cobiçosas dos homens. Somos suas vitimas. Exploram-nos em vida e, pior ainda, depois de estarmos mortos. Eles nos condicionam à sua desmedida cobiça. . . -E nós? Retrucou o asno. Não passamos de infatigáveis alimárias. Não temos direito ao repouso. . . Onde são ínvios os caminhos, ali nos põem arquejantes e sofridos... Jesus ouvira tudo e adormecera. Os anos passaram. Jesus se fizera o Pregador. Realizara milagres sem fim. Mas os homens não O salvaram da Cruz. No Alto do Calvário já agonizante, Ele ouve que se aproxima o sincero estrídulo de uma alimária. Seu olhar dolorido encontra com outros olhos mansos, tranquilos e bons. Um frêmito sacode-lhe as entranhas. Fizera tanto pelos Homens e ali estava ... Esquecera-se de redimir os pobres animais da humilde Gruta de Belém...