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DIARIOdePERNAMBUCO Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
marcas
do golpe O fim dos quase 21 anos ou 7.565 dias do regime militar brasileiro não eliminou as marcas deixadas pelos anos de repressão iniciados com o golpe que completa, hoje, 50 anos. Histórias de torturas, perseguições e mortes permeiam os depoimentos de pessoas que, na época, ousaram se opor ao que os ho homens da cas caserna, erna, emp empresári sário os e pr prod odu utores rurais rurais ra rapidam damen entte se se habiituar hab tuaram am a chamar chamar de de “re “revolução de 1964 1964”.”. Oposição Oposição a um co conjun juntto de de práti ráticcas e inicia iniciati tiv vas que que tinham Per Per--
nambuco como um dos principais celeiros do Brasil. Com o golpe, caíram por terra os ideais de uma divisão mais justa das terras, defendidos pelas Ligas Camponesas, idealizadas pelo advogado pernambucano Francisco Julião. Saíram de cena também o Movimento de Cultura Popular, criado por Pelópidas Silv Silveir eira, a, então então pr prefei eitto do do Reci Reci eci-fe, e a políti políticca vo volta tada da para para as cama camadas das mais pobr pobres, pr prec eco oniza nizada da pelo pelo go gover er-nad na dor Migu Miguel el Arra Arraes. Per Perd der eram am es espa pa-ço ainda ainda as pr propo posstas edu educaci cio onais COORDENAÇÃO EDITORIAL: SUE SUET T O NI SOUT SO UTO O MAIO MAI O R DESIGN: CHRIS CHRISTIAN TIANO O MASCAR MASC ARO O
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de Paulo Freire e o sonho de desenvolvimento da região, idealizado pelo economista paraibano Celso Furtado. Prejuízos irreparáveis para Pernambuco e para o Nordeste, que tinha no estado algumas de suas melhores mentes naquela época. Para contar essa história, os repórteres do Diario cons nsul ultar ul taram am arqui arqui quiv vos, bus busccar aram am do documen cum enttos e ou ouvir viram am te te stem emunhas unhas ocularees e es ocular especialis pecialistas tas à pr procur ocuraa de de histórias his tórias inéditas inéditas para para traçar traçar um re retraato do tr do que que signifi significcou ess essee episódi episódio o.
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2 marcas do golpe
de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014 REPRODUCAO/PETRONIO LINS/ARQUIVO
ARQUIVO/DP/D.A.PRESS
ARQUIVO/DP/D.A.PRESS
Tropas militares ocuparam as ruas e cercaram as saídas do Recife
a queda da Efervescência política em Pernambuco transformou o estado em um dos pivores do golpe militar
democracia T SUETONI SOUTO MAIOR soutomaior.pe@dabr.com.br
rinta e cinco horas as dividir dividiram o instante em que o general Olympio Mourão Filho, em Juiz de Fora (MG), colocou suas tropas a caminho do Rio para a deposição do presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, e a prisão do governador Miguel Arraes, no Recife. Mas o processo para que isso ocorresse, permeado de intrigas, contrapropaganda e agitação política foi iniciado bem antes, com papel fundamental de Pernambuco, encarado pelos militares como foco de “subversão”. Dois fatores iniciados quase uma década antes contribuíram para isso: a criação das Ligas Camponesas, lideradas pelo advogado e posteriormente deputado federal Francisco Julião, e uma sucessão de vitórias de políticos de esquerda para o comando do estado e da capital. Um processo iniciado com a eleição de Pelópidas Silveira para prefeito do Recife, em 1955, com apoio da recém-
cronologia do golpe ARQUIVO/DP/D.A PRESS
criada Frente de Esquerda. mo e temiam uma nova Cuba. Esses acontecimentos, aliados à A desconfiança aumentou após Guerra Fria entre Estados Unidos a chegada do embaixador nortee União Soviética (hoje Rússia) e à americano Lincoln Gordon ao país, chegada de João Goulart (PTB) ao em 1961. Os relatórios enviados à poder, após a renúncia de Jânio Casa Branca narravam clima de Quadros, em 25 de agosto de 1961, agitação no campo, com as Ligas foram suficientes para pôr em ris- Camponesas, e a “ameaça comuco a ainda frágil democracia bra- nista”. Pernambuco recebeu atensileira. Jango estavaa em missão ofi ofi- ção especial porque o então gocial na China no momento da re- vernador Miguel Arraes era visto núncia e assumiu o governo em como comunista por ter determimeio a muita nado, entre oupressão. Norte-americanos tras coisas, que A desconfian desconfiano pagamento ça da ala mais temiam que o país do salário míniconservadora mo fosse estenfez com que o se tornasse uma dido aos camCongresso Na- nova Cuba poneses. cional adotasse Os Estados o sistema parlaUnidos, por ismentarista, com Tancredo Neves so, montaram uma superestrutuassumindo o cargo de primeiro ra no consulado do Recife, com ministro. Nesse cenário de insta- um cônsul, 15 vice-cônsules e cinbilidade, Jango assumiu o poder co assessores de imprensa. A proem 7 de setembro de 1961, mas paganda foi a primeira arma dos só a partir de 6 de janeiro de 1963, ianques para combater o que chaquando um plebiscito sepultou o mavam de “ameaça comunista”. parlamentarismo, passou a ter er pleple- Eles criaram o Instituto Brasileiro nos poderes para comandar o país. de Ação Democrática (Ibad) para Os Estados Unidos achavam que disseminar a tese anticomunista Jango levaria o Brasil ao comunis- no Brasil. A entidade bancou cam-
Como Pernambuco acabou ocupando papel de destaque na trama que resultou no golpe militar ARQUIVO/DP/D.A PRESS
dor do estado, também dentro do campo de esquerda
Pelópidas Silveira (PSB) vence as eleições para a Prefeitura do Recife, abrindo caminho para uma série de vitórias da Frente de Esquerda
1958
Com Silveira na vice, Cid Sampaio (UDN) foi eleito governa-
13 de março de 1964
Miguel Arraes é eleito prefeito do Recife, com o apoio de Pelópidas Silveira
Arraes participa do comício na Central do Brasil, no Rio, quando o presidente João Goulart deu uma guinada à esquerda. Ele saiu de lá convencido de que haveria golpe
1961
18 de março de 1964
1959
1955
panhas políticas, programas radiofônicos e televisivos. Ela funcionou como ovo da serpente, preparando o país para o golpe. Apesar de toda a efervescência política e das promessas de Jango de implantar as reformas de base, que previam, entre outras coisas, a reforma agrária, só a partir de 13 de março de 1964 o risco de golpe se tornou factível. Naquele dia, em comício na Central do Brasil, no Rio, com a participação de 150 mil pessoas, ele fez seu discurso mais à esquerda. Os conservadores, então, passaram a acusá-lo de planejar um golpe. O contraponto veio em 19 de março do mesmo ano, na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, com a participação de 500 mil pessoas. O governador Miguel Arraes, ciente de que o golpe estava na rua e tinha o apoio norte-americano, tentou convencer Jango a reagir. Fez o mesmo em relação a outros governadores, mas sem sucesso. Restou esperar o Palácio das Princesas ser cercado no dia 1º de abril, quando, às 16h, ele foi preso e depois mandado para o cárcere.
No dia 25 de agosto, Jânio Quadros renuncia ao cargo de presidente da República, enquanto o vice, João Goulart, estava em visita oficial à China
1961
Em 7 de setembro, Jango assume a presidência, mas quem governa é Tancredo Neves após o Congresso adotar o Parlamentarismo, que valeu até janeiro de 1963
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1962
Miguel Arraes é eleito governador de Pernambuco, em período de grande efervescência política
1963
Pelópidas Silveira é eleito prefeito do Recife e ocupa o cargo pela terceira vez. A primeira foi por indicação, em 1946
Arraes vai a Brasília encontrar Jango e, depois de dizer que o golpe estava na rua, cobra reação do então presidente. Ele retorna a Pernambuco para organizar uma reação, mas percebe que ela não vem e aguarda o golpe
19 de março de 1964
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que alardeava
GERALDO VIOLA/EM/D.A PRESS
31 de março de 1964
Os Estados Unidos põem em prática a Operação Brother Sam, orquestrada pela Marinha. A esquadra iria para as imediações de Santos (SP)
1º de abril de 1964
o “risco” comunista, reúne 500 mil pessoas em São Paulo
Jango deixa o Rio às 12h15 rumo a Brasília. Antes, recebe a informação de que o governo norte-americano daria apoio ao golpe militar
31 de março de 1964
1º de abril de 1964
Às 5h, o general Olympio Mourão Filho determina que as tropas mineiras sigam para o Rio de Janeiro, onde Jango se encontrava
Às 16h, em um Palácio das Princesas já cercado por tropas do Exército, o governador Miguel Arraes recebe voz de prisão. Na mesma noite, a Assembleia Legislativa aprova o impeachment dele
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marcas do golpe
de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
Confira o que mudou no Brasil em várias áreas ao longo dos últimos 50 anos
um Brasil diferente
● ● ● Confira quem foram os presidentes militares e fatos que marcaram o governo deles 15/04/64 a 15/03/67
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1897/1967) Foi eleito pelo Congresso Nacional, em 11 de abril de 1964. No seu governo foram editados quatro dos cinco Atos Institucionais que vigoraram no país. Ele prometeu, mas não cumpriu, entregar o governo a um presidente eleito democraticamente
15/03/67 a 31/08/69
Marechal Artur da Costa e Silva (1899/1969) Ocupou o governo na fase mais dura e brutal do regime militar. Foi durante a sua gestão, em 1968, que foi promulgado o AI-5, que lhe deu poderes para fechar o Congresso Nacional, cassar políticos e institucionalizar a repressão
Os defensores do golpe gostam de dizer, hoje, que a tomada de poder pelos militares, em 1964, foi um remédio amargo, mas necessário para aquele momento histórico. Amargo, como os anos de chumbo demonstraram, foi, mas o que eles chamam de “remédio” só foi possível por causa de condições muito especiais, que não encontrariam repercussão hoje. O Brasil é muito diferente daquele de 50 anos atrás. E o fracasso da reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada semana passada em 200 cidades, mostra isso. O comparecimento foi ínfimo se comparado com o ato que pavimentou o golpe militar. O Brasil de 50 anos atrás tinha bases
agrárias fortes es e vivia sob a influência inf luência dos latifundiários. Além disso, quase 40% da sua população era analfabeta e curso de nível superior era um luxo possível só para alguns poucos privilegiados. Não mais que 1% da população. Além disso, a Igreja possuía um poder de convencimento bem maior sobre a população, abrindo espaço para que os discursos do deputado estadual Monsenhor Arruda Câmara, por exemplo, tivessem grande ande inf influência luência sobre a avaliação popular em relação ao real significado da palavra comunismo. No dia 27 de março de 1964, o Diario publicou matéria na qual o Vaticano dizia que “a ética do marxismo-leninismo é incompatível com a moral Católica”.
Brasil
1964 H
21 estados
H
3
A esperança de vida ao nascer passava pouco de 52 anos e os trabalhadores rurais só há pouco, durante o governo de Miguel Arraes, haviam conquistado o direito de receber um salário mínimo, na época o equivalente a pouco mais de 22 dólares. A mortalidade infantil passava de 116 mortes por mil crianças nascidas vivas. A baixa formação educacional e as condições precárias de vida formaram um ambiente propício para o golpe que se seguiu. (Suetoni Souto Maior)
2014
4 territórios e H Distrito Federal
26 estados (foram criados Acre, Roraima, Amapá, Rodônia e Tocantins) e H Distrito Federal H
30/10/69 a 15/03/74
Emílio Garrastazu Médici (1905/1985) Antes de ser escolhido, exigiu que o Congresso Nacional fosse reaberto. Foi eleito em 25 de outubro de 1969 e foi empossado cinco dias depois prometendo restabelecer a democracia até o fim de sua gestão. A promessa não foi cumprida
15/03/74 a 15/03/79
Ernesto Beckmann Geisel (1907/1996) Coordenou o início da abertura política. Na gestão dele, foi reduzido o rigor na repressão aos opositores do regime. Ele foi responsável pela extinção dos efeitos do temido AI-5 e plantou a semente para que se chegasse à Lei da Anistia
Guanabara
População
1964 2014
78.874.399 201.032.714
Urbanização
15/03/79 a 15/03/85
João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918/1999) Concluiu o processo de abertura iniciado pelo antecessor. Pouco depois de assumir, houve a concessão de uma anistia ampla geral e irrestrita aos políticos cassados com base em atos institucionais. Saiu do poder dizendo: “Eu quero que me esqueçam”
H
população urbana
H
1964 2014
população rural
55%
45%
Fecundidade
Mortalidade infantil
1964
1964
por mulher
116 por mil nascimentos
6,3 filhos
2014
por mulher
16,1 por mil nascimentos
1,9 filhos
Expectativa de vida 74 anos
2014
Salário mínimo
52,4 anos
Inflação
1964
91,9%
CR$ 42 mil (o equivalente a U$ 22,3 na cotação de março)
projeção pelo IPCA
mas o poder de compra seria hoje de R$ 956
JOSÉ CARLOS VIEIRA/EM/D.A PRESS
2014
6,11%
R$ 724 (o equivalente a U$ 314,7)
Composição do PIB
H
agropecuária
1964 H
indústria
1964
2014
H
H
H H
16,3% 33,7% 50%
H H
H
serviços
2014
Crescimento do PIB 3,4%
5,7% 24,9% 69,4%
1964
segundo a prévia do Banco Central
1964 2014 Analfabetismo
1964 2014
17% do PIB 37,65% do PIB
2 de abril de 1964
Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara, é empossado presidente da República, às 2h
2 de abril de 1964
Às 3h45, o avião de Jango chega ao Rio
9,02% da população
84,36% 36%
Carro mais vendido
1964
VW Fusc Fuscaa
13 (Os principais eram PSD, PTB, PRP, UDN, PTN, PSB, PSP e PST) HHHHHHHHHHHHH
9 de abril de 1964
* Antes do bipartidarismo, quando eram permitidos apenas Arena e MDB
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade é realizada no Recife com a participação de aproximadamente 200 mil pessoas para apoiar o golpe
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VW Gol
32 (PMDB, PTB, PDT, PT, DEM, PCdoB, PSB, PSDB, PTC, PSC, PMN, PRP, PPS, PV, PTdoB, PP, PSTU, PCB, PRTB, PHS, PSDC, PCO, PTN, PSL, PRB, PSOL, PR, PSD, PPL, PEN, PROS e SDD)
11 de abril de 1964
O Congresso Nacional elege o general Humberto de Alencar Castelo como presidente da República. Ele promete entregar o cargo no início de 1966 a um sucessor legitimamente eleito, mas não o faz. A próxima eleição direta será a de 1989
2014
2014
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
filmes em cartaz A queda do Império Romano (EUA) Deus e o Diabo na terra do sol (Brasil)
2014
O presidente do Senado, Moura Andrade, para institucionalizar o golpe, convoca sessão extraordinária no Congresso. A Presidência é considerada vaga
39,7% da população
1964*
1964
1º de abril de 1964
Grande do Sul. De lá, ele embarca com a família rumo ao Uruguai, no dia 4
2014
2014
Partidos Políticos Jango abandona a Granja do Torto num avião da FAB, em direção a Porto Alegre
1964
2,5%
Carga tributária
1º de abril de 1964
15,64%
84,36%
300 - A Ascensão do Império (EUA) Alemão (Brasil)
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marcas do golpe
de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS
Miguel Arraes é comunicado pelos militares sobre a sua deposição do governo
a vitória dos vencidos
Afastados do poder, apenas os perseguidos do regime militar conseguiram encaminhar seus herdeiros na política
Governadores de Pernambuco na ditadura e principais herdeiros
Ex-governador é retirado do cargo, abrindo espaço para a posse do vice, Paulo Guerra ARQUIVO/DP/D.A PRESS
ram-se no poder as lideranças forjadas pelo regime, que, a partir da redemocratização, saíram de cena. “Os atores políticos que serviram à ditadura desapareceram da cena porque não têm como participar da construção da democracia. Foram impostores em um tempo sombrio, de medo e violência”, afirma a historiadora Socorro Ferraz. Quem fez carreira política durante a ditadura em alianças com os militares descarta qualquer associação ao regime. “A carga negativa é muito pesada para transportar enquanto o país ainda tenta entender os acontecimentos de seu passado recente”, comenta o cientista político Túlio Velho Barreto. A história não é feita de “se” e nem de indivíduos, mas permite traçar paralelos. As trajetórias políticas de Miguel Arraes e Eduardo Campos, separadas por 50 anos, guardam similaridades, embora façam parte de momentos distintos. Arraes era colocado como alternativa à sucessão de Jango, embora fosse da base de apoio do então presidente, tentando neutralizar Juscelino Kubitschek. Eduardo vai disputar o cargo, oriundo do mesmo campo de forças da presidente Dilma Rousseff (PT).
a deposição de Arraes
20
de dezembro de 1963. A primeira página do jornal Última Hora estampava o lançamento da candidatura do então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, à Presidência da República durante uma “concentração popular” na Paraíba. Até slogan existia: Arraes 65. Pouco mais de três meses depois, Arraes foi deposto do governo pelos militares no primeiro dia do golpe de 1964. Passados 50 anos, o estado está prestes a assistir à despedida de mais um governador. Eduardo Campos vai deixar o cargo pela mesma porta do Palácio do Campo das Princesas por onde saiu seu avô. Sai, democraticamente, como précandidato à sucessão presidencial. Com a deposição e prisão de Arraes, seis governadores indicados pelos militares administraram o estado. Comandaram a máquina uina pública com influên inf luência em todos os níveis, da indicação dos servidores até a eleição dos parlamentares. Apesar de todo o poder que detinham, a história foi implacável com
eles. Meio século depois, não há herdeiros políticos deles na cena estadual. As forças que depuseram Arraes, hoje, são uecoadjuvantes no processo político. Aqueles que “sobreviveram” migraram para o lado dos antes opositores do regime. O golpe militar representou uma ruptura. Pernambuco vivia um momento de efervescência política e social. Em pouco tempo, os militares desarticularam a mobilização social – as organizações da sociedade civil foram colocadas na clandestinidade, os sindicatos sofreram intervenção e a esquerda e outros setores democráticos foram desmantelados. “E os políticos que ficaram no poder após a ‘revolução’ assumiram uma postura passiva diante dos acontecimentos”, afirmou o historiador Severino Vicente. Nas cinco décadas após 1964, 14 governadores comandaram o estado. Nenhum, à exceção de Eduardo, chegou tão perto de concorrer à presidência. Sucessor político do avô, o atual governador trilha, talvez, o caminho interrompido de Arraes e, de certa maneira, representa uma vitória para as gerações banidas da política pelos militares. Durante os 21 anos da ditadura, mantive-
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ANDREA PINHEIRO andreapinheiro.pe@dabr.com.br
OS HERDEIROS
PAULO GUERRA (1964 - 1967) Foi eleito vice-governador na chapa de Miguel Arraes em 1962. Com a deposição de Arraes, assumiu o governo. Ligado aos ex-governadores Agamenon Magalhães e Etelvino Lins, antes de ser eleito vice, foi deputado federal e estadual em mandatos sucessivos. Chegou a ser presidente da Assembleia. Em 1970, foi eleito senador. Morreu em 9 de julho de 1977
NILO COELHO (1967 - 1971) Em maio de 1966, durante a convenção estadual da Arena pernambucana, Nilo Coelho, com apoio de Castelo Branco - foi indicado pelo governador Paulo Guerra para as eleições indiretas ao governo do estado. Depois de deixar o governo, passou alguns anos sem mandato até ser eleito senador, em 1979. Morreu vítima de um infarto em 9 de novembro de 1983
Moura Cavalcanti (ex-governador) Marco Maciel (ex-governador)
Oswaldo Coelho (ex-dep. federal) Roberto Magalhães (ex-governador)
ERALDO GUEIROS (1971- 1975) Desde muito cedo, teve ligação com os militares. Após o golpe de 1964, assumiu, no Rio de Janeiro, a Procuradoria Geral da Justiça Militar. No ano seguinte, foi nomeado ministro do Superior Tribunal Militar. Em 1970, teve o nome homologado pela Arena para o governo de Pernambuco, tendo sido eleito indiretamente. Morreu em 5 de março de 1983
Fausto Freitas (ex-deputado federal e ex-presidente do TJPE)
MOURA CAVALCANTI (1975 - 1979)
Gustavo Krause (ex-governador) Carlos Wilson (ex-governador) Joaquim Francisco (ex-governador) José Jorge (ministro do TCU)
Chegou ao governo do estado por indicação do então presidente general Ernesto Geisel. Antes de ocupar o cargo, foi governador do Amapá, em 1961, por indicação do presidente da época, Jânio Quadros. Ele permaneceu no cargo até a renúncia do presidente. Morreu no Recife em 28 de novembro de 1994
MARCO MACIEL (1979 - 1982) Foi deputado, governador biônico de Pernambuco, senador e vice-presidente da República (de 1995 a 2002). Exerceu o cargo de senador de 2003 até 2011. Assumiu o governo do estado por indicação de Ernesto Geisel
André de Paula (deputado federal)
ROBERTO MAGALHÃES ( 1983-1986) Foi o primeiro governador eleito pelo voto direto do estado após o golpe de 1964. Na época, estava em vigor a Lei Falcão, que determinava a vinculação do voto. Herdou o gosto pela política do tio, o ex-governador do estado Agamenon Magalhães, mas exerceu o primeiro cargo público na gestão de Nilo Coelho, em 1967. Encerrou a carreira política, após 40 anos
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Fernando Bezerra Coelho (ex-ministro) José Múcio (ministro do TCU)
31 de março
1º de abril
Arraes conversou, por telefone, com o então presidente João Goulart, que comentou sobre a difícil situação política em Minas Gerais
Manhã Como o golpe já era um fato iminente, ninguém dormiu no palácio. Arraes permaneceu reunido com alguns assessores e dona Madalena, sua mulher, passou a noite arrumando as malas das crianças para que fossem passar uns dias na casa da avó
O almirante Dias Fernandes, comandante do 3º Distrito Naval, garantiu que os militares baseados em Pernambuco resistiriam ao golpe
Arraes distribui uma nota à imprensa, dizendo ser tranquila a situação no estado e defendendo a democracia e a legalidade À noite, ele reuniu assessores no Palácio do Campo das Princesas, onde também residia David Capistrano e José Leite, ambos dirigentes do PCB, sugeriram que o governador fosse para o município do Palmares, na Mata Sul, onde teria condições de resistir. Ele recusou Em seguida, escreveu um manifesto e enviou a todos os governadores do Nordeste, pedindo que eles resistissem à quebra de legalidade e que apoiassem o presidente Jango. Não houve ressonância
O dia amanheceu com o Palácio do Campo das Princesas sob a mira de canhões, colocados em posições estratégicas no Cais do Apolo e na Rua da Aurora Os filhos de Arraes foram ao colégio normalmente, mas foram orientados a não voltar ao Palácio depois da aula Estudantes organizaram uma passeata, mas foram recebidos à bala pelo Exército. Três pessoas foram mortas e várias ficaram feridas O comandante do IV Exército, Justino Alves Bastos, telefonou para Arraes, que reclamou do cerco. O comandante ignorou a queixa No fim da manhã, dona Madalena deixou o Palácio para encontrar os filhos de Arraes
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de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
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ARQUIVO/DP/D.A PRESS
um estranho no ninho Jarbas de Holanda encampou fuga cinematográfica para evitar prisão após voto solitário contra impeachment de Pelópidas
capturado pelos militares que já rondavam a sede do Legislativo. ego de um olho, Aproveitou que o plenário da CaJarbas de Holanda sa estava em festa, abrigando a faz questão de di- solenidade de posse de Augusto rigir o próprio car- Lucena como novo prefeito do Rero até o trabalho, cife, e saiu pela tangente, tomanno Centro de São do o caminho de um esconderijo Paulo. Aos 75 em Pau Amarelo, Paulista. anos, o advogado e jornalista moHoras antes, naquela mesma ra sozinho, e detesta depender de tarde, ejetado a fórceps da cadeioutras pessoas para se deslocar. ra de mandatário da cidade, PelóUma vez, há 50 anos, não houve pidas Silveira teve o cargo consijeito. Aceitou, sem pestanejar, derado vago durante uma votauma carona que o desviou de um ção massacrante de 20 votos a fadestino certo: a vor e apenas prisão. Então Vereador deixou a um contra a vereador do Resua saída. Cocife, conseguiu Câmara escondido munista, líder escapar de um da bancada gocerco co no fim fim da para não ser preso vernista e figutarde de uma ra de proa na pelos militares quinta-feira, dia defesa da ges2 de abril de tão do prefeito 1964, quando deixou a sede da afastado, Jarbas esperneou soziCâmara Municipal, na Boa Vista, nho na tribuna contra a manocom o rosto parcialmente som- bra engendrada pelos militares. breado pela aba de um chapéu. Filiado ao Partido Comunista Aboletado no banco do passa- Brasileiroo (PCB), isolado no flan f langeiro de um jipe emprestado pe- co mais à esquerda possível do delo vereador Aristófanes de Andra- bate ideológico da Casa, o milide, que além do veículo cedeu-lhe tante comunista tornou-se um alo motorista particular para aju- vo presumível do regime que não dar na fuga, Jarbas deixou o tra- afastou apenas o prefeito. A dois balho de fininho, temendo ser quarteirões dali, na Assembleia ANDRÉ DUARTE andreduarte.pe@dabr.com.br
C
General Justino Alves Bastos (C), do IV Exército, coordenou a operação que depôs Arraes
Após a chegada deles, o almirante Dias Fernandes comunicou a deflagração do golpe O cerco ao Palácio pelas tropas do Exército se intensifica Pelópidas Silveira tenta voltar à Prefeitura do Recife, mas é impedido de sair Dona Madalena tenta retornar, mas é impedida de entrar Os coronéis João Dutra Castilho, do 14º Regimento de Infantaria, e Ivan Rui de Andrade Oliveira, do 7º Regimento de Obuses, chegaram ao palácio para comunicar que Jango havia sido deposto Arraes se nega a deixar o Palácio Noite Os militares voltam ao Palácio para prender Arraes. No local só restavam Arraes, o tio Antonio Arraes de Alencar e Valdir Ximenes, diretor da Companhia de Revenda e Colonização, casado com uma prima de Arraes
A ordem de prisão foi levada pelo coronel Dutra de Castilho, que escoltou Arraes do Palácio ao 14º Regimento de Infantaria, em Socorro, em Jaboatão dos Guararapes. Arraes deixou o palácio em um fusca dirigido por Ximenes Antes de ser deposto, Arraes deixou uma fita gravada para ser divulgada nas estações de rádio, mas as emissoras já estavam sob controle dos militares e não foi possível veiculá-la Nesse mesmo dia, a Assembleia Legislativa realizou uma sessão extraordinária, acompanhada por militares dentro do plenário. Por 45 votos contra 16 e um em branco considerou a vacância do cargo de governador
“
Vi a situação de Cuba e notei que o diabo do marxismoleninismo estava superado
2 de abril Manhã Em um comunicado veiculado nas rádios, os militares anunciaram que Arraes havia sido transferido para o arquipélago de Fernando de Noronha
Legislativa, os deputados estaduais também decretaram o fim do mandato do então governador Miguel Arraes, despachado naquele dia para a prisão no Arquipélago de Fernando de Noronha. Em menos de dois dias, as duas casas legislativas se tornariam apêndices do IV Exército, comandado pelo general Justino Alves Bastos. No dia anterior à votação, a Casa de José Mariano era uma panela de pressão prestes a azedar o mandato de Pelópidas, cujo alinhamento com Arraes preocupava os militares. O líder do governo no Legislativo entrou na câmara naquele 1° de abril disposto a abrandar a fritura, mas o máximo que conseguiu foi sair no dia seguinte às pressas, com a mesma roupa do dia anterior e barba por fazer. Temendo ser preso e, as-
sim, impossibilitado de acompanhar a votação do dia 2, Jarbas resolveu dormir no seu gabinete. Nas primeiras costuras internas, o então presidente da Câmara, vereador Liberato Costa Júnior, avisou ao comunista que a votação ocorreria de qualquer jeito. Os militares não invadiram, mas mandaram emissários para preparar o terreno. Na manhã do dia 2 de abril, Jarbas foi procurado pelo deputado estadual Fábio Corrêa, espécie de braço direito do (novo) governador Paulo Guerra: “Ele falou que se eu me comportasse na votação, não seria levado de forma violenta, apenas encaminhado numa boa. Mas não havia nenhuma garantia de que eu não seria preso. Não aceitei”. Da carona no jipe até a reta final da redemocratização, foram
Jarbas de Holanda, ex-vereador comunista
O então vice-governador Paulo Guerra é empossado governador Fontes: Livro Arraes, de Tereza Rozowykwiat, jornais da época
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De “agitador comunista” a liberal social, Jarbas de Holanda é hoje um antagonista do seu próprio passado. Defensor da economia de mercado, antipetista convicto e crítico ferrenho dos regimes políticos de Cuba e Venezuela, pulou fora do partidão na virada das décadas de 1980 e 1990. A ficha capitalista caiu aos poucos, quando passou a ser enquadrado na legenda como representante da ala reformista, que questionava os dogmas vermelhos. “Achava que o comunismo era o pós-capitalismo. Na década de 1970 vi que era justamente o contrário: era o précapitalismo. No fundo, estavam propondo a troca de uma ditadura militar por uma ditadura cubana”. Presidente do PCB em São Paulo, membro da executiva nacional do partido e secretário de relações internacionais do comitê central, percorreu o mundo absorvendo e compartilhando os ideais comunistas até perceber que não comungava mais naquilo. Radicalmente contra a luta armada, passou a figurar como um patinho feio. “Vi a situação de Cuba e notei que o diabo do marxismo-leninismo estava superado. Propus a convocação de um congresso extraordinário para acabar o PCB e criar um partido social democrático no lugar”, recorda Holanda, que, com mulher e três filhos, entrincheirou-se na batalha diária de profissional liberal. O tempo e o afastamento da vida partidária decantaram novas ideias, inclusive sobre a postura dos colegas que votaram pela substituição de Pelópidas em 1964, sobretudo a do ex-vereador Liberato Costa Júnior, que, mesmo governista e presidente da Câmara, não apenas levou a cabo a votação do afastamento como votou contra o ex-prefeito. “Depois entendi a postura dele (Liberato). Eu não faria isso,
várias idas e vindas entre São Paulo e Recife, com duas escalas na prisão. Capturado pela repressão uma semana depois de deixar a Câmara, foi trancafiado em uma cela da antiga Casa de Detenção, e solto no início de 1965. Com o clima pesado no Recife, rumou para o Sudeste, com uma parada de dois meses no Rio de Janeiro, onde ficou de molho no apartamento do cineasta e documentarista Eduardo Coutinho. Mesmo sem prisão decretada, pegou a ponte aérea para viver em São Paulo como um semiclandestino, inventando pseudônimos para trabalhar como jornalista. Em 1968, foi julgado e condenado a cinco anos de prisão por subversão. Preso e levado ao Recife, cumpriu menos de um ano e foi solto, retornando de vez à capital paulista.
RAFAEL NEDDERMEYER/DIVULGAÇÃO
de agitador comunista a liberal
ARQUIVO/DP/D.A PRESS
Tarde Arraes recebeu Pelópidas Silveira, então prefeito do Recife, e Celso Furtado, presidente da Sudene, no Palácio
Jarbas de Holanda (C), quando líder estudantil, dando entrevista na redação do Diario
Ex-vereador diz não acreditar mais no comunismo mas era compreensível. Dez, quinze anos depois de 1964, comecei a entender que estávamos contaminados por um clima de radicalização”, ameniza. Há dez anos Jarbas não pisa em Pernambuco e pergunta se Pelópidas Silveira ainda está vivo - o exprefeito faleceu em 2008. Divorciado, mora em um apartamento em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, onde diz viver um cotidiano modesto. “Trabalho porque gosto e preciso”. Em meio a freelancers e bicos como jornalista e editor, há mais de três décadas atua como espécie de ghostwriter da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas. Foi, garante ele, injustamente lembrado como um alguém que ‘trabalhou para a direita’, já que nunca ingressou em governos ou partidos depois da guinada ideológica. Graças a uma lente de contato alemã, passa o tempo que lhe sobra lendo, jogando xadrez e, claro, dirigindo o próprio carro.
testemunha de Liberato Aos 96 anos e dez mandatos no currículo, Liberato Costa Júnior recorre a um atalho semântico para explicar a votação que culminou na troca de Pelópidas Silveira por Augusto Lucena na Prefeitura do Recife naquele 2 de abril de 1964: “Não houve cassação. O cargo de Pelópidas é que foi considerado vago. Como presidente, minha tarefa era conduzir os trabalhos”, disse o ex-vereador, alegando que a Câmara votou a matéria com base em um parecer favorável da Comissão de Justiça, encaminhado pelo
vereador Luiz Gonzaga de Vasconcelos, que faleceu este ano. O projeto, segundo Liberato, foi motivado por um ofício enviado pelo IV Exército dando conta que Pelópidas já estava preso. “Votei porque quis. Podia não ter votado que a matéria seria aprovada do mesmo jeito. Fui da base de Miguel Arraes. Pelópidas tinha pouco tempo (de governo). Eu não era ligado a ele”. O caso foi noticiado pelo Diario, na época, com o título de “Câmara impediu Pelópidas com votação surpreendente: 20 x 1”.
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marcas do golpe
de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
morte de estudantes em passeata Os estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas Albuquerque são considerados pela historiografia oficial como as primeiras vítimas do regime militar. Os dois foram mortos em 1º de abril de 1964, um dia após o Golpe de Estado de 31 de março. Na
ocasião, ambos participavam de uma manifestação nas ruas do Centro do Recife em favor do então governador Miguel Arraes, que foi deposto pelos militares, quando foram assassinados à bala. Na época, os dois foram apontados como “subversivos”. Recentemente, familiares dos estudantes foram anistiados pela Comissão Nacional da Anistia, em evento realizado na Unicap
agressão a Gregório Bezerra Militante desde a década de 1930, pela então Aliança Nacional Libertadora (ANL), o líder de esquerda e ex-deputado federeal Gregório Bezerra (1900-1983), foi uma das maiores vozes de oposição ao regime militar no Brasil e em Pernambuco.
Sua defesa em torno da manutenção do governo de Miguel Arraes, deposto pelos militares em 1964, custou uma das piores cenas já registradas sobre o período. Gregório foi preso no dia 1º de abril enquanto tentava organizar um movimento de resistência com sindicalistas e camponeses. Foi levado a um quartel em Casa For-
te, no Recife, e lá foi recebido a pancadas pelo comandante da unidade, coronel Darcy Ursmar Villocq Vianna. Foi arrastado pelos militares com cordas amarradas ao pescoço pelas ruas do bairro, mas antes, teve que caminhar sobre solução de bateria, o que deixou os pés em carne viva, segundo relato dele próprio. Os torturadores também usaram alicates para arrancar os cabelos dele
marcas do golpe
atentado no Aeroporto do Recife O jornalista Edson Régis de Carvalho foi morto, juntamente com o Almirante Nelson Gomes Fernandes, no atentado à bomba no saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, em 25 de julho de 1966. O alvo da explosão seria o
“
Muitos nem eram comunistas e não há o registro da prisão nas delegacias”
Pablo Por Porfírio fírio,, aut autor or do livr livro o Medo, comunismo e Revolução em Pernambuco
No dia 28 de abril de 1969, o então presidente da União Estadual dos Estudantes de Pernambuco (UEP), Cândido Pinto, foi vítima de um atentado à bala na Ponte da Torre, Zona Norte do Recife, que o deixou paraplégico. O ex-major José Ferreira dos Anjos chegou a ser acusado pelo atentado, mas acabou não sendo denunciado por falta de provas. A Comissão da Verdade acredita que o crime tenha ligação com a morte do padre Antônio Henrique e que, assim como o caso do religioso, a ação seja de autoria do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e ao grupo Tradição, Família e Propriedade Privada (TFP)
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ma estr estrutur uturaa comcomplexa, plex a, com direit direitoo a inves investig tigador adores, es, carrr os, equipa car equipa-mentos ment os de ponta ponta e até um cartório cartório que funcionav funcionava 24 horas horas por dia paraa produzir par produzir documentos documentos e, claclaro, pro provas contra contra os “inimigos da lei”. Est Esta era era a estr estrutur uturaa do “quadrilát “q uadriláter eroo da repr repressão”, essão”, esespaço que que ocupav ocupav a quase quase um quar uartteirão e que que servia ao extinextinto Depart Departament amentoo de Ordem Ordem Po Política e Social (Dops), em inst instala ala-ções de prédios públicos na Rua da Aur Auror ora, a, no Centro Centro do Recif Recife. e. A unidade foi foi planejada ainda na Era Era Var Varggas, na década de 1930, 1930, mas foi foi no regime regime militar militar (1964(19641985) que que alcançou o seu “au“auge”. Oficialment Of icialmente, e, pelo menos três militant militantes es de esquer esquerda da fo foram tor tortur turados ados e assassinados no órgão órgão na década de 1970. 1970. A serviço dos militar militares es e do gogover erno no do est estado desde os primeiprimeiros meses do Golpe de 1964, 1964, o Dops contou contou com uma tecnologia tecnologia prepar pr eparada ada por instituições instituições inter inter-nacionais. Na Na época, era era o que que havia ha via de mais “moderno” “moderno” em ter ter-mos de espionagem espionagem e métodos métodos de tor tortur tura. a. A prof professor essoraa da Univ Univer er-sidade Feder Federal al Rural Rural de Per Pernam nam-buco (UFRPE), Marcília Marcília Gama, que que concluiu em 2007 a tese tese intitulaintitulada Inf Infor ormação, mação, Repr Repressão essão e MemóMemória no prog progrrama de pós-gr pós-graduação em história história da UFPE, indica que, que, quando houve houve o golpe, a estr estrutu utu-ra de repr repressão essão já est estava pront pronta, a, inclusive, inclusiv e, com o av aval de institui institui-ções como a nort norte-americana CenCentral tr al Intellig Intelligence ence Ag Agence (CIA). “O for forttaleciment alecimentoo do Dops se inicia em 1939 1939 com a descoberdescoberta de um plano de que que Adolf Adolf HiHitler (ditador (ditador alemão) queria queria ocuocupar a Venezuela, Venezuela, a Arg Argentina e o
Brasil, tendo Brasil, tendo como rot rotaa de enentrada tr ada o Recif Recifee e a região região Nor Nordes des-te”, rele relevvou a hist historiador oriadora. a. “Foi “Foi nestte período que nes que agent agentes es da CIA (dos Est Estados Unidos) Unidos) e da KGB KGB (do serviço de inteligência inteligência da URSS) vieram vieram ao Recif Recifee e acabaacabaram treinando treinando os agent agentes es do Dops”. A estr estrutur uturaa robus robustta já esestava pront prontaa para para o regime regime de exexceção na década de 1960. 1960. Na Na dédécada de 1950, 1950, eram eram quase quase 5 mil funcionários na ativa. ativa. A espionagem espionagem do Dops est estava nas ruas, ruas, escolas e diversas diversas insinstituições. Ag Agent entes es infiltr infiltrados, ados, esescutas cut as telefônicas telefônicas e perseguições fizer izeram am part parte da história história do órórgão, cujo desfec desfecho ho ter termina mina com as tor tortur turas as e mort mortes de três mimilitant lit antes es em sua estr estrutur uturaa no Re Recife. cif e. Pelo Pelo menos o que que se tem tem coconhecimentoo até hoje. Estão nheciment Estão nesnesta list lista Odijas Odijas Carvalho Carvalho de SouSouza, mort morto em 197 19711, Albertino Albertino JoJosé de Oliveir Oliveira, a, em 1972, 1972, e AnatáAnatália de Souza Alv Alves de Melo, em 1973. O doutor doutor em história história Pablo Pablo Por orfírio fírio (UFRJ) e autor autor do livro livro Medo, comunismo e Re Revolução em Per ernambuco nambuco des desttaca, por outro outro lalado, que que o órgão órgão também também atuav atuava no interior interior do est estado. “O que que havia havia no interior interior era era uma associação do Exércit Exércitoo com os gr grandes latifundiários. Era Era uma relação que que envol envolvia via inclusive inclusive o for orneciment necimentoo de armas. armas. A polícia funcionavva como um braço funciona braço desses inter int eresses. esses. Quem tent tentou ou rom romper per isso foi foi Arr Arraes na época, mas não obteeve sucesso”, relat obt relata. a. “O Dops funcionavva em nível funciona nível est estadual, ou seja, não era era só no Grande Grande Reci Reci-fe. O que que acontece acontece é que que a histó histó-ria e até os jornais jornais se esquecer esqueceram am desses trabalhador trabalhadores es do campo. campo. Isso porque porque a esquer esquerda da urbana que fazia fazia oposição ao regime regime conconquis uisttou o poder na redemocr redemocrati ati-zação e passou a valorizar valorizar só parparte dessa história”. história”.
ARQUIV AR QUIVO O/DP /DP/D /D.. A PRESS PRE SS
TÉRCIO AMARAL t er ercioamar cioamaral.pe al.pe@ @ dabr dabr.. c om.br
Preso no dia 30 de janeiro de 1971, foi levado para o Dops, onde foi espancado e brutalmente assassinado, conforme relatos orais de testemunhas à Comissão da Verdade. O estudante de agronomia da UFRPE, então com 26 anos, morreu no Hospital da Polícia de Pernambuco e a versão do regime militar sobre a morte foi embolia pulmonar. No ano passado, depois das investigações, o Ministério Público de Pernambuco deu parecer favorável sobre a mudança no atestado de óbito, que constará morte por assassinato e tortura
atentado a Cândido Pinto
rastro de mortes, dor e perseguição Nos anos mais duros do regime militar, “quadrilátero da repressão” deu suporte à caça aos adversários
morte de Odijas Carvalho
então ministro do Exército e candidato à Presidência da República, General Costa e Silva. Investigações posteriores apontaram como autores do crime o ex-deputado federal Ricardo Zarattini e o professor Edinaldo Miranda, ambos inocentados depois das investigações da Comissão. O caso ainda não foi solucionado
de P E R N A M B UC O DIARIOd Recife, segunda-feira, 31 de março de 2014
as mortes dos estudantes e vicepresidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gildo Macedo Lacerda e José Carlos Mata Machado. Na época, a polícia afirmou que os dois detidos teriam um encontro com um companheiro, que teria percebebido a chegada dos agentes e acusado os militantes de traição. Os familiares, no entanto, dão outra versão e afirmam que os dois morreram após sofrer torturas durante dez dias seguidos no DOI-CODI no Recife
Em janeiro de 1973, a guerrilheira paraguaia Soledad Barret Viedma é raptada por desconhecidos numa loja de roupas em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. As compras e sua gravidez são interrompidas pelo sequestro. Um dia depois, seu corpo e os de outros cinco militantes de esquerda são encontrados com sinais de tortura e marcas de tiros em uma chácara em Abreu e Lima, no Grande Recife. A militante era namorada de José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, que estava infiltrado se passando pelo fotógrafo “Daniel”
Um dos religiosos mais próximos do então arcebispo de Olinda e Recife, d. Helder Camara (1909-1999), o padre Antônio Henrique Pereira foi encontrado morto em 27 de maio de 1969 com marcas de tortura e ferimento à bala na Cidade Universitária, no Recife. O regime militar tentou espalhar a versão de que tratava de um crime passional. A Comissão da Verdade solucionou o caso e apontou como responsáveis Rogério Matos do Nascimento, Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues, na época com 17 anos, Rivel Rocha e Humberto Serrano de Souza
Com a missão de inves investig tigar ar cacasos de crimes políticos e denúndenúncias de violação de direit direitos os humahumanos em Per Pernambuco nambuco entre entre os anos de 1946 1946 a 1988, 1988, a Comissão Est Estadual da Memória e da Ver Verdade dade dom Helder Camara Camara é alv alvo de crícríticas e elogios de acadêmicos e de gr grupos sociais org organizados. O colegiado inves investig tigaa cerca cerca de 50 casos individuais, como o assassiassassinatoo do padre nat padre Antônio Henrique, Henrique, em 1969, 1969, e conta conta com números números preciosos pr eciosos em quase quase um ano e meio de trabalho. trabalho. For Foram am realiza realiza-das mais de 100 100 atividades, como sessões públicas e reserv reservadas, adas, além de 67 depoimentos depoimentos colhidos de militant militantes es e tes testtemunhas. Nos Nos corrredor cor edores es do gov gover erno no do est estado, já se fala fala em reno renovvação. O gr grupo pode ter ter o trabalho trabalho pror prorrrog ogado ado por mais dois anos. O president presidentee da Comissão, o exdeputado deput ado Fer Fernando nando Coelho (PSB) diz que que o gr grupo av avançou em didiversos casos e que que a av avaliação ininter erna na é positiva, positiva, mesmo sofren sofren-do críticas de que que o trabalho trabalho é popolítico e direcionado direcionado para para casos que envol envolvvam militant militantes es de parpartidos de esquer esquerda. da. “Est “Estamos tra tra-
morte de dirigentes da UNE Em 28 de outubro de 1973, um possível tiroteio na Avenida Caxangá, nas proximidades da Cidade Universitária, no Recife, teria causado
Padr adree Henrique, um doss auxiliare do auxiliares de dom Helder Camar Camara, a, foi foi morto mor to e tev teve o corpo corpo abandonado na Cidade Univ Univer ersitária sitária
to” da Aeronáutica comprovando a hipótese de sequestro ou prisão dos militantes da Ação Popular Marxista-leninista (APML) no dia 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro
morte de dirigentes do PCR Três militantes e fundadores Partido Comunista Revolucionário teriam sido mortos após uma troca de tiros com a polícia militar de São Paulo em 29 de agosto de 1973. Manoel Aleixo da Silva (Ventania), Emanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura foram presos no Recife e levados à capital paulista pelo agente Luiz Miranda, sendo entregues ao delegado Sérgio Fleury, que montou o cenário para encobrir a morte dos dirigentes sob tortura no DOI-CODI. O caso ainda está em conclusão na Comissão da Verdade Dom Helder Camara. Os familiares aguardam resposta para o que aconteceu a eles
expulsão do padre Vito Miracapillo O padre Italiano Vito Miracapillo era vigário na cidade de Ribeirão, na Mata Sul. Ele foi expulso do país porque, em 1980, se recusou a celebrar uma missa nos festejos em comemoração ao Dia da Independência. Ele disse, na época, que não poderia participar da comemoração pois, na sua ótica, o povo não era livre. A expulsão foi pedida pelo então deputado estadual Severino Cavalcanti (PP) e assinada pelo então presidente João Baptista Figueiredo. Só recentemente ele recebeu o direito ao visto permanente do Brasil
dura tarefa de buscar a verdade
A militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR) Anatália de Souza, então com 28 anos, foi encontrada nas dependências do Dops, no Recife, em 22 de janeiro de 1973. Até o começo do ano passado, quando a Comissão da Verdade solucionou o caso, a causa oficial da morte era suicídio. A militante teria se enforcado com uma bolsa e colocado fogo no próprio corpo. Um documento do Instituto Médico Legal (IML), datado de 1973, apontou que Anatália foi assassinada e possivelmente abusada sexualmente. A Comissão procura os responsáveis pela crime
assassinato do padre Henrique
bem o poder de destr destruição uição da repr epressão. essão. Seu irmão, irmão, o estudan estudan-te Ivan Ivan Roc Rocha, ha, foi foi mort morto ao lado de Jonas Barr Bar ros, no dia 1º de abril, na Av Avenida Dantas Dantas Barr Barreto, no Centro Centro do Recif Recife, e, numa manifes manif esttação estudantil estudantil contra contra a deposição de Arr Arraes. “Eu parparticipei da manifes manifesttação e meu irmão ir mão foi foi atingido pelos tiros tiros muitoo pert muit perto de mim”, lembra. lembra.
Os militantes de esquerda Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz (na foto abaixo) são pernambucanos, mas ambos desapareceram em 23 de fevereiro no Rio de Janeiro. O regime militar reforçou a versão de que os dois teriam praticado crimes e fugido em seguida. Quarenta anos após o ocorrido, familiares receberam um documento “secre-
massacre da Granja São Bento
morte de Anatália de Souza no Dops
O hist historiador cita cita o exem exemplo plo do Sebastião Sebastião Durval, Durval, tor tortur turado ado e assinado em 1965, 1965, em Fer Ferrreir eiros os (na época, distrit distritoo de Itambé). Itambé). “Muitos “Muit os nem eram eram comunist comunistas e não há o regis registr troo da prisão nas delegacias. deleg acias. Até Até para para pedir repa repa-ração é difícil para para os familia familia-res”, cita cita Pablo. Pablo. O militant militantee de esesquer uerda da Danúbio José da Roc Rocha ha Aguiar guiar,, por exem exemplo, plo, conhece
eduardo Collier e Fernando Santa Cruz
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zendo, além das inves investig tigações, ações, uma ref ref eflexão lexão da sociedade sobre sobre a ditadur ditadura. a. Intelectuais Intelectuais como DarDarcy Ribeiro, Ribeiro, que que foi foi ministr ministroo do gogover erno no depost deposto de João Goulart, Goulart, analisavva a ditadur analisa ditaduraa no Brasil Brasil cocomo fat fatoo isolado e não foi. foi. Tem Tem to todo um context contextoo na América LatiLatina”, dest destaca. Entree os principais av Entr avanços, o president pr esidentee da Comissão cita cita o cacaso do padre padre Antônio Henrique, Henrique, cujos documentos documentos inéditos inéditos colecoletados no extinto extinto Centro Centro Nacio Nacio-nal de Inteligência Inteligência (CNI) aponta apontaram os principais responsáv responsáveis. eis. Desde a década de 1960, 1960, o caso ga ganha as páginas dos jornais. jornais. “Mos“Mostramos tr amos que que o Ministério Ministério Público interviu int erviu diret diretament amentee na inves investi ti-gação”, pontuou. As inves investig tigações ações do colegiado apontar apontaram am quatr quatroo acusados. Alguns ainda vivos. vivos. Fa Familiares miliar es do padre, padre, que que também também for oram am tor tortur turados, ados, cobram cobram a punipunição e julgament julgamentoo dos criminosos. O impediment impedimentoo seria a Lei da Anistia, Anis tia, que que perdoou perdoou os crimes da direit direitaa e da esquer esquerda da no regi regi-me militar militar (1964(1964-11985). O secretário-g secretário-ger eral al do colegiacolegiado, o conselheiro conselheiro da Ordem Ordem dos
Adv dvog ogados ados no Brasil Brasil (OAB), (OAB), HenHenrique riq ue Mariano, no entant entanto, o, se mostr mos traa otimist otimista na ques questão tão para para estte e outros es outros casos inves investig tigados ados pelo gr grupo. “A “A qualq qualquer uer momenmomento a OAB OAB pode recor recorrrer do acóracórdão do Supremo Supremo Tribunal Tribunal Feder Federal al (STF) (S TF) de 201 2010. Contamos Contamos com o apoio da Comissão Nacional Nacional da Ver erdade dade nest neste processo. processo. Est Estamos fazendo o nosso papel porque porque a Comissão não tem tem o papel juridijuridicantee (de julgar)”. cant julgar)”. Henrique Henriq ue dest destaca que que 70% dos casos for foram am solucionados ou av avan an-çaram çar am considera consideravelment elmente. e. “Nes “Nes-ta fase, fase, est estamos com dificuldades dificuldades da liberação liberação dos arquiv arquivos os milita militares. Est Esta também também é uma nov nova babatalha. Est Este é um caso para para ser tra trabalhado junto junto ao Conselho Nacio Nacio-nal de Justiça Justiça (CNJ). A Lei de Aces Aces-so à Infor Informação mação gar garant antee isso e não vem vem sendo cumprida. cumprida. O órgão órgão militar milit ar que que não cumprir cumprir pode ser processado pr ocessado por impr improbidade obidade adadministr minis trativ ativa”. a”. Entre Entre os arquiv arquivos os mais cort cortejados pelo gr grupo está está o do comando do IV Exércit Exército, o, no Recif ecife, e, responsáv responsável el pela coorde coorde-nação militar militar em part parte da região região Nor ordes destte. (T.A.) ARQUIVO/DP/D.A PRESS
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3. Secr ecretaria etaria de Segur Segurança ança Pública Pública
2. Espaço onde fica ficava a área área da De D e-
2. Dur Durant antee o regime, regime, funcionav funcionava no
prédio ao lado da Secr Secretaria etaria de Segu Segu-rança Pública. Pública. O Dops Dops foi foi criado na dédécada de 1930 1930 e serviu serviu como como espaço espaço de tor tortur tura, a, espionagem espionagem e inv investiga tiga-ção do regime regime até a década década de 197 1970. Atualment tualmente, e, part parte da es estrutur truturaa é ocuocupada pela Associação Associação dos dos Delegado Delegadoss de Polícia Polícia de Per Pernambuc nambuco o
RUA DA AURORA, Nº Nº 405
legacia de Ordem Ordem Polític Políticaa e Social Social (Dops) (D ops) usada como como bunker bunker para para ininter errrogatório e tor tortur tura. a. A es estrutur truturaa foi derrubada derrubada na década década de 1990 1990 por militantees e tor militant tortur turado adoss pelo regime regime
4. O prédio anex anexo da secretaria secretaria de
Segur egurança ança Pública Pública funcionav funcionava ononde funciona atualmente atualmente a chefia da Polícia Civil Civil de Per Pernambuc nambuco o e da DiDiret etoria oria da Polícia Polícia Civil Civil
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tituto de Identificação tituto Identific ação de Per Pernam nam-buco buc o (atual Institut Ins tituto o de Identifica Identific ação Ta Tavar aree s Buril, o IITB) fica fic ava ao lado,, no outro lado outro lado da rua, da antiantiga Secr S ecretaria etaria de Segur S egurança ança PúbliPúblic a e do Depar D epartament tamento o de Ordem Ordem Polític olíticaa e Social S ocial (Dops). (D ops). Funciona Funciona-va como como braço braço inv inve s tigati tigativvo e na produção pr odução de documento documentos e laudos laudos
RUA DA AURORA, Nº Nº 387
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1. Dur Durant antee o regime, regime, a sede do InsIns-
sobre crimes sobre crime s . Hoje o prédio é ocuocupado pelo Denar D enarcc
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Atentado no Aer Aeropor oporto to dos dos Guar Guarar arape apess re resultou na morte morte do jornalista Edson Edson Régis
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RUA DA UNIÃO, Nº Nº 217
Rua do Ria
Veja no mapa ao lado como funcionava a estrutura que ficou conhecida como o quadrilátero da repressão
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FOTOS: ARQUIVO/O CRUZEIRO/EM | MEMORIALDAINCLUSAO/ REPRODUCAO DA INTERNET | EDITORA UNIVERSITARIA – UFPE/DIVULGACAO | IEVE/DIVULGACAO | TORTURANUNCAMAIS-RJ.ORG.BR/REPRODUCAO DA INTERNET | ARQUIVO/DP/D.A PRESS
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morte de estudantes em passeata Os estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas Albuquerque são considerados pela historiografia oficial como as primeiras vítimas do regime militar. Os dois foram mortos em 1º de abril de 1964, um dia após o Golpe de Estado de 31 de março. Na
ocasião, ambos participavam de uma manifestação nas ruas do Centro do Recife em favor do então governador Miguel Arraes, que foi deposto pelos militares, quando foram assassinados à bala. Na época, os dois foram apontados como “subversivos”. Recentemente, familiares dos estudantes foram anistiados pela Comissão Nacional da Anistia, em evento realizado na Unicap
agressão a Gregório Bezerra Militante desde a década de 1930, pela então Aliança Nacional Libertadora (ANL), o líder de esquerda e ex-deputado federeal Gregório Bezerra (1900-1983), foi uma das maiores vozes de oposição ao regime militar no Brasil e em Pernambuco.
Sua defesa em torno da manutenção do governo de Miguel Arraes, deposto pelos militares em 1964, custou uma das piores cenas já registradas sobre o período. Gregório foi preso no dia 1º de abril enquanto tentava organizar um movimento de resistência com sindicalistas e camponeses. Foi levado a um quartel em Casa For-
te, no Recife, e lá foi recebido a pancadas pelo comandante da unidade, coronel Darcy Ursmar Villocq Vianna. Foi arrastado pelos militares com cordas amarradas ao pescoço pelas ruas do bairro, mas antes, teve que caminhar sobre solução de bateria, o que deixou os pés em carne viva, segundo relato dele próprio. Os torturadores também usaram alicates para arrancar os cabelos dele
marcas do golpe
atentado no Aeroporto do Recife O jornalista Edson Régis de Carvalho foi morto, juntamente com o Almirante Nelson Gomes Fernandes, no atentado à bomba no saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, em 25 de julho de 1966. O alvo da explosão seria o
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Muitos nem eram comunistas e não há o registro da prisão nas delegacias”
Pablo Por Porfírio fírio,, aut autor or do livr livro o Medo, comunismo e Revolução em Pernambuco
No dia 28 de abril de 1969, o então presidente da União Estadual dos Estudantes de Pernambuco (UEP), Cândido Pinto, foi vítima de um atentado à bala na Ponte da Torre, Zona Norte do Recife, que o deixou paraplégico. O ex-major José Ferreira dos Anjos chegou a ser acusado pelo atentado, mas acabou não sendo denunciado por falta de provas. A Comissão da Verdade acredita que o crime tenha ligação com a morte do padre Antônio Henrique e que, assim como o caso do religioso, a ação seja de autoria do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e ao grupo Tradição, Família e Propriedade Privada (TFP)
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ma estr estrutur uturaa comcomplexa, plex a, com direit direitoo a inves investig tigador adores, es, carrr os, equipa car equipa-mentos ment os de ponta ponta e até um cartório cartório que funcionav funcionava 24 horas horas por dia paraa produzir par produzir documentos documentos e, claclaro, pro provas contra contra os “inimigos da lei”. Est Esta era era a estr estrutur uturaa do “quadrilát “q uadriláter eroo da repr repressão”, essão”, esespaço que que ocupav ocupav a quase quase um quar uartteirão e que que servia ao extinextinto Depart Departament amentoo de Ordem Ordem Po Política e Social (Dops), em inst instala ala-ções de prédios públicos na Rua da Aur Auror ora, a, no Centro Centro do Recif Recife. e. A unidade foi foi planejada ainda na Era Era Var Varggas, na década de 1930, 1930, mas foi foi no regime regime militar militar (1964(19641985) que que alcançou o seu “au“auge”. Oficialment Of icialmente, e, pelo menos três militant militantes es de esquer esquerda da fo foram tor tortur turados ados e assassinados no órgão órgão na década de 1970. 1970. A serviço dos militar militares es e do gogover erno no do est estado desde os primeiprimeiros meses do Golpe de 1964, 1964, o Dops contou contou com uma tecnologia tecnologia prepar pr eparada ada por instituições instituições inter inter-nacionais. Na Na época, era era o que que havia ha via de mais “moderno” “moderno” em ter ter-mos de espionagem espionagem e métodos métodos de tor tortur tura. a. A prof professor essoraa da Univ Univer er-sidade Feder Federal al Rural Rural de Per Pernam nam-buco (UFRPE), Marcília Marcília Gama, que que concluiu em 2007 a tese tese intitulaintitulada Inf Infor ormação, mação, Repr Repressão essão e MemóMemória no prog progrrama de pós-gr pós-graduação em história história da UFPE, indica que, que, quando houve houve o golpe, a estr estrutu utu-ra de repr repressão essão já est estava pront pronta, a, inclusive, inclusiv e, com o av aval de institui institui-ções como a nort norte-americana CenCentral tr al Intellig Intelligence ence Ag Agence (CIA). “O for forttaleciment alecimentoo do Dops se inicia em 1939 1939 com a descoberdescoberta de um plano de que que Adolf Adolf HiHitler (ditador (ditador alemão) queria queria ocuocupar a Venezuela, Venezuela, a Arg Argentina e o
Brasil, tendo Brasil, tendo como rot rotaa de enentrada tr ada o Recif Recifee e a região região Nor Nordes des-te”, rele relevvou a hist historiador oriadora. a. “Foi “Foi nestte período que nes que agent agentes es da CIA (dos Est Estados Unidos) Unidos) e da KGB KGB (do serviço de inteligência inteligência da URSS) vieram vieram ao Recif Recifee e acabaacabaram treinando treinando os agent agentes es do Dops”. A estr estrutur uturaa robus robustta já esestava pront prontaa para para o regime regime de exexceção na década de 1960. 1960. Na Na dédécada de 1950, 1950, eram eram quase quase 5 mil funcionários na ativa. ativa. A espionagem espionagem do Dops est estava nas ruas, ruas, escolas e diversas diversas insinstituições. Ag Agent entes es infiltr infiltrados, ados, esescutas cut as telefônicas telefônicas e perseguições fizer izeram am part parte da história história do órórgão, cujo desfec desfecho ho ter termina mina com as tor tortur turas as e mort mortes de três mimilitant lit antes es em sua estr estrutur uturaa no Re Recife. cif e. Pelo Pelo menos o que que se tem tem coconhecimentoo até hoje. Estão nheciment Estão nesnesta list lista Odijas Odijas Carvalho Carvalho de SouSouza, mort morto em 197 19711, Albertino Albertino JoJosé de Oliveir Oliveira, a, em 1972, 1972, e AnatáAnatália de Souza Alv Alves de Melo, em 1973. O doutor doutor em história história Pablo Pablo Por orfírio fírio (UFRJ) e autor autor do livro livro Medo, comunismo e Re Revolução em Per ernambuco nambuco des desttaca, por outro outro lalado, que que o órgão órgão também também atuav atuava no interior interior do est estado. “O que que havia havia no interior interior era era uma associação do Exércit Exércitoo com os gr grandes latifundiários. Era Era uma relação que que envol envolvia via inclusive inclusive o for orneciment necimentoo de armas. armas. A polícia funcionavva como um braço funciona braço desses inter int eresses. esses. Quem tent tentou ou rom romper per isso foi foi Arr Arraes na época, mas não obteeve sucesso”, relat obt relata. a. “O Dops funcionavva em nível funciona nível est estadual, ou seja, não era era só no Grande Grande Reci Reci-fe. O que que acontece acontece é que que a histó histó-ria e até os jornais jornais se esquecer esqueceram am desses trabalhador trabalhadores es do campo. campo. Isso porque porque a esquer esquerda da urbana que fazia fazia oposição ao regime regime conconquis uisttou o poder na redemocr redemocrati ati-zação e passou a valorizar valorizar só parparte dessa história”. história”.
ARQUIV AR QUIVO O/DP /DP/D /D.. A PRESS PRE SS
TÉRCIO AMARAL t er ercioamar cioamaral.pe al.pe@ @ dabr dabr.. c om.br
Preso no dia 30 de janeiro de 1971, foi levado para o Dops, onde foi espancado e brutalmente assassinado, conforme relatos orais de testemunhas à Comissão da Verdade. O estudante de agronomia da UFRPE, então com 26 anos, morreu no Hospital da Polícia de Pernambuco e a versão do regime militar sobre a morte foi embolia pulmonar. No ano passado, depois das investigações, o Ministério Público de Pernambuco deu parecer favorável sobre a mudança no atestado de óbito, que constará morte por assassinato e tortura
atentado a Cândido Pinto
rastro de mortes, dor e perseguição Nos anos mais duros do regime militar, “quadrilátero da repressão” deu suporte à caça aos adversários
morte de Odijas Carvalho
então ministro do Exército e candidato à Presidência da República, General Costa e Silva. Investigações posteriores apontaram como autores do crime o ex-deputado federal Ricardo Zarattini e o professor Edinaldo Miranda, ambos inocentados depois das investigações da Comissão. O caso ainda não foi solucionado
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as mortes dos estudantes e vicepresidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gildo Macedo Lacerda e José Carlos Mata Machado. Na época, a polícia afirmou que os dois detidos teriam um encontro com um companheiro, que teria percebebido a chegada dos agentes e acusado os militantes de traição. Os familiares, no entanto, dão outra versão e afirmam que os dois morreram após sofrer torturas durante dez dias seguidos no DOI-CODI no Recife
Em janeiro de 1973, a guerrilheira paraguaia Soledad Barret Viedma é raptada por desconhecidos numa loja de roupas em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. As compras e sua gravidez são interrompidas pelo sequestro. Um dia depois, seu corpo e os de outros cinco militantes de esquerda são encontrados com sinais de tortura e marcas de tiros em uma chácara em Abreu e Lima, no Grande Recife. A militante era namorada de José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, que estava infiltrado se passando pelo fotógrafo “Daniel”
Um dos religiosos mais próximos do então arcebispo de Olinda e Recife, d. Helder Camara (1909-1999), o padre Antônio Henrique Pereira foi encontrado morto em 27 de maio de 1969 com marcas de tortura e ferimento à bala na Cidade Universitária, no Recife. O regime militar tentou espalhar a versão de que tratava de um crime passional. A Comissão da Verdade solucionou o caso e apontou como responsáveis Rogério Matos do Nascimento, Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues, na época com 17 anos, Rivel Rocha e Humberto Serrano de Souza
Com a missão de inves investig tigar ar cacasos de crimes políticos e denúndenúncias de violação de direit direitos os humahumanos em Per Pernambuco nambuco entre entre os anos de 1946 1946 a 1988, 1988, a Comissão Est Estadual da Memória e da Ver Verdade dade dom Helder Camara Camara é alv alvo de crícríticas e elogios de acadêmicos e de gr grupos sociais org organizados. O colegiado inves investig tigaa cerca cerca de 50 casos individuais, como o assassiassassinatoo do padre nat padre Antônio Henrique, Henrique, em 1969, 1969, e conta conta com números números preciosos pr eciosos em quase quase um ano e meio de trabalho. trabalho. For Foram am realiza realiza-das mais de 100 100 atividades, como sessões públicas e reserv reservadas, adas, além de 67 depoimentos depoimentos colhidos de militant militantes es e tes testtemunhas. Nos Nos corrredor cor edores es do gov gover erno no do est estado, já se fala fala em reno renovvação. O gr grupo pode ter ter o trabalho trabalho pror prorrrog ogado ado por mais dois anos. O president presidentee da Comissão, o exdeputado deput ado Fer Fernando nando Coelho (PSB) diz que que o gr grupo av avançou em didiversos casos e que que a av avaliação ininter erna na é positiva, positiva, mesmo sofren sofren-do críticas de que que o trabalho trabalho é popolítico e direcionado direcionado para para casos que envol envolvvam militant militantes es de parpartidos de esquer esquerda. da. “Est “Estamos tra tra-
morte de dirigentes da UNE Em 28 de outubro de 1973, um possível tiroteio na Avenida Caxangá, nas proximidades da Cidade Universitária, no Recife, teria causado
Padr adree Henrique, um doss auxiliare do auxiliares de dom Helder Camar Camara, a, foi foi morto mor to e tev teve o corpo corpo abandonado na Cidade Univ Univer ersitária sitária
to” da Aeronáutica comprovando a hipótese de sequestro ou prisão dos militantes da Ação Popular Marxista-leninista (APML) no dia 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro
morte de dirigentes do PCR Três militantes e fundadores Partido Comunista Revolucionário teriam sido mortos após uma troca de tiros com a polícia militar de São Paulo em 29 de agosto de 1973. Manoel Aleixo da Silva (Ventania), Emanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura foram presos no Recife e levados à capital paulista pelo agente Luiz Miranda, sendo entregues ao delegado Sérgio Fleury, que montou o cenário para encobrir a morte dos dirigentes sob tortura no DOI-CODI. O caso ainda está em conclusão na Comissão da Verdade Dom Helder Camara. Os familiares aguardam resposta para o que aconteceu a eles
expulsão do padre Vito Miracapillo O padre Italiano Vito Miracapillo era vigário na cidade de Ribeirão, na Mata Sul. Ele foi expulso do país porque, em 1980, se recusou a celebrar uma missa nos festejos em comemoração ao Dia da Independência. Ele disse, na época, que não poderia participar da comemoração pois, na sua ótica, o povo não era livre. A expulsão foi pedida pelo então deputado estadual Severino Cavalcanti (PP) e assinada pelo então presidente João Baptista Figueiredo. Só recentemente ele recebeu o direito ao visto permanente do Brasil
dura tarefa de buscar a verdade
A militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR) Anatália de Souza, então com 28 anos, foi encontrada nas dependências do Dops, no Recife, em 22 de janeiro de 1973. Até o começo do ano passado, quando a Comissão da Verdade solucionou o caso, a causa oficial da morte era suicídio. A militante teria se enforcado com uma bolsa e colocado fogo no próprio corpo. Um documento do Instituto Médico Legal (IML), datado de 1973, apontou que Anatália foi assassinada e possivelmente abusada sexualmente. A Comissão procura os responsáveis pela crime
assassinato do padre Henrique
bem o poder de destr destruição uição da repr epressão. essão. Seu irmão, irmão, o estudan estudan-te Ivan Ivan Roc Rocha, ha, foi foi mort morto ao lado de Jonas Barr Bar ros, no dia 1º de abril, na Av Avenida Dantas Dantas Barr Barreto, no Centro Centro do Recif Recife, e, numa manifes manif esttação estudantil estudantil contra contra a deposição de Arr Arraes. “Eu parparticipei da manifes manifesttação e meu irmão ir mão foi foi atingido pelos tiros tiros muitoo pert muit perto de mim”, lembra. lembra.
Os militantes de esquerda Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz (na foto abaixo) são pernambucanos, mas ambos desapareceram em 23 de fevereiro no Rio de Janeiro. O regime militar reforçou a versão de que os dois teriam praticado crimes e fugido em seguida. Quarenta anos após o ocorrido, familiares receberam um documento “secre-
massacre da Granja São Bento
morte de Anatália de Souza no Dops
O hist historiador cita cita o exem exemplo plo do Sebastião Sebastião Durval, Durval, tor tortur turado ado e assinado em 1965, 1965, em Fer Ferrreir eiros os (na época, distrit distritoo de Itambé). Itambé). “Muitos “Muit os nem eram eram comunist comunistas e não há o regis registr troo da prisão nas delegacias. deleg acias. Até Até para para pedir repa repa-ração é difícil para para os familia familia-res”, cita cita Pablo. Pablo. O militant militantee de esesquer uerda da Danúbio José da Roc Rocha ha Aguiar guiar,, por exem exemplo, plo, conhece
eduardo Collier e Fernando Santa Cruz
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zendo, além das inves investig tigações, ações, uma ref ref eflexão lexão da sociedade sobre sobre a ditadur ditadura. a. Intelectuais Intelectuais como DarDarcy Ribeiro, Ribeiro, que que foi foi ministr ministroo do gogover erno no depost deposto de João Goulart, Goulart, analisavva a ditadur analisa ditaduraa no Brasil Brasil cocomo fat fatoo isolado e não foi. foi. Tem Tem to todo um context contextoo na América LatiLatina”, dest destaca. Entree os principais av Entr avanços, o president pr esidentee da Comissão cita cita o cacaso do padre padre Antônio Henrique, Henrique, cujos documentos documentos inéditos inéditos colecoletados no extinto extinto Centro Centro Nacio Nacio-nal de Inteligência Inteligência (CNI) aponta apontaram os principais responsáv responsáveis. eis. Desde a década de 1960, 1960, o caso ga ganha as páginas dos jornais. jornais. “Mos“Mostramos tr amos que que o Ministério Ministério Público interviu int erviu diret diretament amentee na inves investi ti-gação”, pontuou. As inves investig tigações ações do colegiado apontar apontaram am quatr quatroo acusados. Alguns ainda vivos. vivos. Fa Familiares miliar es do padre, padre, que que também também for oram am tor tortur turados, ados, cobram cobram a punipunição e julgament julgamentoo dos criminosos. O impediment impedimentoo seria a Lei da Anistia, Anis tia, que que perdoou perdoou os crimes da direit direitaa e da esquer esquerda da no regi regi-me militar militar (1964(1964-11985). O secretário-g secretário-ger eral al do colegiacolegiado, o conselheiro conselheiro da Ordem Ordem dos
Adv dvog ogados ados no Brasil Brasil (OAB), (OAB), HenHenrique riq ue Mariano, no entant entanto, o, se mostr mos traa otimist otimista na ques questão tão para para estte e outros es outros casos inves investig tigados ados pelo gr grupo. “A “A qualq qualquer uer momenmomento a OAB OAB pode recor recorrrer do acóracórdão do Supremo Supremo Tribunal Tribunal Feder Federal al (STF) (S TF) de 201 2010. Contamos Contamos com o apoio da Comissão Nacional Nacional da Ver erdade dade nest neste processo. processo. Est Estamos fazendo o nosso papel porque porque a Comissão não tem tem o papel juridijuridicantee (de julgar)”. cant julgar)”. Henrique Henriq ue dest destaca que que 70% dos casos for foram am solucionados ou av avan an-çaram çar am considera consideravelment elmente. e. “Nes “Nes-ta fase, fase, est estamos com dificuldades dificuldades da liberação liberação dos arquiv arquivos os milita militares. Est Esta também também é uma nov nova babatalha. Est Este é um caso para para ser tra trabalhado junto junto ao Conselho Nacio Nacio-nal de Justiça Justiça (CNJ). A Lei de Aces Aces-so à Infor Informação mação gar garant antee isso e não vem vem sendo cumprida. cumprida. O órgão órgão militar milit ar que que não cumprir cumprir pode ser processado pr ocessado por impr improbidade obidade adadministr minis trativ ativa”. a”. Entre Entre os arquiv arquivos os mais cort cortejados pelo gr grupo está está o do comando do IV Exércit Exército, o, no Recif ecife, e, responsáv responsável el pela coorde coorde-nação militar militar em part parte da região região Nor ordes destte. (T.A.) ARQUIVO/DP/D.A PRESS
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3. Secr ecretaria etaria de Segur Segurança ança Pública Pública
2. Espaço onde fica ficava a área área da De D e-
2. Dur Durant antee o regime, regime, funcionav funcionava no
prédio ao lado da Secr Secretaria etaria de Segu Segu-rança Pública. Pública. O Dops Dops foi foi criado na dédécada de 1930 1930 e serviu serviu como como espaço espaço de tor tortur tura, a, espionagem espionagem e inv investiga tiga-ção do regime regime até a década década de 197 1970. Atualment tualmente, e, part parte da es estrutur truturaa é ocuocupada pela Associação Associação dos dos Delegado Delegadoss de Polícia Polícia de Per Pernambuc nambuco o
RUA DA AURORA, Nº Nº 405
legacia de Ordem Ordem Polític Políticaa e Social Social (Dops) (D ops) usada como como bunker bunker para para ininter errrogatório e tor tortur tura. a. A es estrutur truturaa foi derrubada derrubada na década década de 1990 1990 por militantees e tor militant tortur turado adoss pelo regime regime
4. O prédio anex anexo da secretaria secretaria de
Segur egurança ança Pública Pública funcionav funcionava ononde funciona atualmente atualmente a chefia da Polícia Civil Civil de Per Pernambuc nambuco o e da DiDiret etoria oria da Polícia Polícia Civil Civil
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tituto de Identificação tituto Identific ação de Per Pernam nam-buco buc o (atual Institut Ins tituto o de Identifica Identific ação Ta Tavar aree s Buril, o IITB) fica fic ava ao lado,, no outro lado outro lado da rua, da antiantiga Secr S ecretaria etaria de Segur S egurança ança PúbliPúblic a e do Depar D epartament tamento o de Ordem Ordem Polític olíticaa e Social S ocial (Dops). (D ops). Funciona Funciona-va como como braço braço inv inve s tigati tigativvo e na produção pr odução de documento documentos e laudos laudos
RUA DA AURORA, Nº Nº 387
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1. Dur Durant antee o regime, regime, a sede do InsIns-
sobre crimes sobre crime s . Hoje o prédio é ocuocupado pelo Denar D enarcc
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Rua do Ria
Veja no mapa ao lado como funcionava a estrutura que ficou conhecida como o quadrilátero da repressão
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FOTOS: ARQUIVO/O CRUZEIRO/EM | MEMORIALDAINCLUSAO/ REPRODUCAO DA INTERNET | EDITORA UNIVERSITARIA – UFPE/DIVULGACAO | IEVE/DIVULGACAO | TORTURANUNCAMAIS-RJ.ORG.BR/REPRODUCAO DA INTERNET | ARQUIVO/DP/D.A PRESS
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8 marcas do golpe
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BLACKZEBRA BLA CKZEBRA/DP CKZEBRA /DP
armas para silenciar a cultura
sem política nas rádios
Confira alguns itens disponibilizados pelo MCP Sede no Arraial do Bom Jesus, em terreno desapropriado pelo então prefeito Pelópidas Silveira, em 1955. Além do escritório do MCP, havia um centro cultural, com o Teatro do Arraial Velho (o primeiro ao ar livre do Recife) e espaços para eventos, oficinas e cursos
202 escolas de alfabetização e três escolas profissionalizantes, com quase 20 mil alunos alfabetizados
Escolas radiofônicas, projeto pioneiro de alfabetização de adultos que atingiu mais de 30 mil pessoas. As aulas eram transmitidas pelas rádios Clube e Continental
Galeria de Arte do Recife, na Rua do Sol, às margens do Capibaribe, destruída por uma cheia na década de 1960
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ois tanques de guerra para a tomada da sede do Movimento de Cultura Popular (MCP). Naquele 1º de abril de 1964, militares do 4º Exército lançaram mão de aparato bélico para apreender basicamente papéis, utilizados na educação de quase 20 mil pessoas. Ocupar o prédio do Arraial do Bom Jesus (Sítio da Trindade) era uma estratégica política. Com aquela ação, o governo militar dizimava as bases dos direcionamentos educacionais e culturais da gestão de Miguel Arraes, visto como comunista pelos militares. Voltado para as parcelas mais humildes, o movimento, fundado em 13 de maio de 1960 (propositadamente coincidente com a abolição da escravatura) tinha como objetivo maior a alfabetização do povo e a difusão da cultura e fundou as bases para a rede municipal de educação no Recife. O Departamento de Ordem Política e Social (Dops) acompanhava os passos do grupo desde a criação. O prontuário do movimento no arquivo público reúne até hoje desde as primeiras matérias publicadas em jornais até fichas de aulas apreendidas - e com possíveis marcas de fogo, de acordo com Diogo Barreto, coordenador do acervo -, passando por fotos e documentos oficiais. “Era um novo conceito, que unia educação e cultura. O Recife não tinha escolas públicas e o MCP fundou escolas em sacristias, clubes de dominó, de sueca. Havia a preocupação didático-pedagógica e de reconhecer a criatividade da cultura popular. Ao descobrir que fazia parte da história, o povo começou a perceber sua importância e a desenvolver um conceito bom de si mesmo”, analisa Severino Vicente, professor da Universidade Federal de
Pernambuco, preso em 1973. Incluir os excluídos era o lema principal do movimento. Nos mangues, alagados e morros, a experimentação era sempre bemvinda. Ideias aparentemente antagônicas eram vistas como complementares. No MCP, coexistiam as aulas baseadas no Livro de alfabetização para adultos, das pedagogas Josina Godoy e Norma Coelho, e o sistema sem cartilha de Paulo Freire - desenvolvido na Secretaria de Extensão Cultural da UFPE, do qual era coordenador, e no Centro de Cultura Dona Olegarinha, do MCP -, ambos baseados no vocabulário do educando. O Livro de alfabetização para adultos foi classificado pelo jurista e educador Anísio Teixeira como a melhor cartilha educacional. “O voto é do povo”, ensina a primeira lição da obra, considerada subversiva pelos militares. O MCP agregava artistas, intelectuais e estudantes que viriam a se insurgir contra o endurecimento do regime, especialmente após o Ato Institucional nº 5, em 1968. Centenas de pessoas se juntaram aos 102 sócios-fundadores responsáveis pelo registro em cartório, em 19 de setembro de 1961. A lista de membros, encabeçada pelo idealizador Germano Coelho e por Paulo Freire, vai de figuras atuantes, como o escultor Abelardo da Hora, preso mais de 70 vezes, a outros que assumiram cargos de gestão durante o regime militar, como Ariano Suassuna e César Leal, passando por Hemilo Borba Filho, Francisco Brennand, Vicente do Rego Monteiro, José Cláudio e, detalhe que chama atenção, o ator José Wilker, então com 17 anos, como membro do Teatro de Cultura Popular. “O MCP era ligado à cultura e à educação do povo. Nossa fonte era o contato permanente com o povo, que faz realmente a cultura da nação”, define Abelardo. Apesar da derrocada precoce,
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Grupo teatral ligado ao MCP, durante apresentação. No detalhe da foto, o ator José Wilker ARQUIVO/DP/D.A PRESS
estrutura do MCP
LUIZA MAIA luizamaia.pe@dabr.com.br
CEPE/DIVULGACAO
Tanques de guerra foram usados para cercar e tomar a sede do MCP no primeiro dia após o golpe
Papéis apreendidos pelos militares e tachados de “subversivos” pelos comandantes da operação
vestígios do MCP permanecem vivos. Em 1963, o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) decidiu reproduzir o modelo do MCP nos Centros de Cultura Popular. As escolas foram incorporadas pelo ex-prefeito Augusto Lucena, sucessor de Pelópidas Silveira após o golpe, como Fundação Guararapes, e formaram a base para a malha da educação municipal. O pioneiro sis-
tema de escolas radiofônicas ainda é utilizado em vários países, como a Colômbia. A teoria da pedagogia do oprimido de Freire, estudada e aplicada até hoje, o rendeu o título póstumo de patrono da educação brasileira, através da lei 12.612, de 2012. Mas o principal objetivo do MCP ainda está longe de ser atingido: 16, 3% dos pernambucanos e 9,02% dos brasileiros são analfabetos.
Apesar da importância nacional de Pernambuco, as emissoras de rádio principal veículo à época - não acompanhavam o cenário político. “Todos tinham muito medo, até os artistas. O clima era péssimo”, recorda o radialista, pesquisador e escritor Renato Phaelante. A televisão, ainda incipiente, seguia a mesma linha, com teleteatros e telenovelas sem nenhuma referência ao governo. “Havia papéis com restrições por todos os lados”, recorda o jornalista e escritor Jorge José de Santana. A música internacional fazia sucesso: o galã Elvis Presley, os Beatles, que estouraram mundialmente em 1964, e a italiana Rita Pavone - ela fez uma turnê brasileira naquele ano - eram obrigatórios. Erasmo e Roberto Carlos e Wanderléia já tocavam e, no ano seguinte, lançaram a Jovem Guarda. É proibido fumar é do ano do golpe. A bossa nova enquanto movimento já experimentava os últimos acordes, mas foi em 1964 que Tom Jobim estreou em álbum, com The composer of Desafinado, Plays, que trazia The girl from Ipanema. A geração da MPB da chamada música de protesto ocupava festivais estudantis, mas só Geraldo Vandré tinha lançado disco. O primeiro álbum de Caetano Veloso é de 1965, e o de Chico Buarque, de 1966. Entre os pernambucanos, Luiz Gonzaga lançou dois discos: Sanfona do povo e A triste partida. Nos cinemas, o ano marca a revolução de Glauber Rocha com Deus e o diabo na terra do Sol.
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marcas do golpe
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a lista de dom Helder Diario teve acesso à primeira relação de perseguidos políticos ajudados pelo religioso, antes de virar “subversivo” JAILSON DA PAZ jailsonpaz.pe@dabr.com.br
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aquele domingo, o Recife vivia sob clima de apreensão. Nem se completara duas semanas da tomada de poder pelos militares e as ruas vazias do Centro davam lugar a uma multidão que caminhava rumo à Pracinha do Diario. Antes das 15h do 12 de abril, a pracinha estava à espera do novo arcebispo de Olinda e Recife. Dom Helder Camara subiria ao palanque montado em frente à Matriz de Santo Antônio rodea-
do das “mais altas autoridades” políticas e militares. Conhecedor das prisões que aconteciam no país, ele discursou que não estranhassem vê-lo ao lado de pessoas da direita ou da esquerda. A declaração se tornou senha para quem sofria com os efeitos da repressão. Nos primeiros dias do pastoinéreio, como mostra documentoo inédito obtido pela reportagem, o arcebispo tinha uma “lista de detidos” com 42 nomes, sendo grande parte de prisões relacionadas a questões políticas. O documento é pouco legível, mas dá para identificar vários dos nomes.
A “lista de detidos”, escrita de próprio punho por dom Helder, traz nomes de pessoas, em sua maioria, desconhecidas. São nomes que não constam nas relações usualmente divulgadas por militâncias dos partidos de esquerda, de sindicatos ou de movimentos e pastorais da Igreja. “É uma espécie de lista dos pobres”, analisa a historiadora do Instituto Dom Helder Camara (Idhec), Lucy Pina. Com a lista em mãos, a próxima etapa é confrontar os nomes citados na relação com as agendas oficiais do arcebispo. Ela acredita que tais nomes dificil-
mente constarão nelas. Por razão simples: o arcebispo evitava expor familiares dos detidos. Entre os detidos estava Clóvis Assunção de Melo, então funcionário do Instituto do Açúcar e do Álcool (IA (IAA). A). O pedido de ajuda veio da mãe e da noiva da vítima no dia 24 de abril de 1964. Clóvis estava preso na sede da Secretaria de Segurança Pública. Em outra página aparece o nome do barbeiro José Florêncio de Carvalho junto às frases “não é comunista” e os “três filhos passam fome”. Mas há também referência a estudantes, profissionais liberais e desemprega-
dos. Ao tempo em que anotava os pedidos, dom Helder e outros bispos do Nordeste percebiam o azedar da relação com os militares. Um dos motivos para o primeiro estremecimento foi a prisão de militantes de movimentos ligados à Igreja. Isso levou 17 bispos presentes na posse de dom Helder a assinarem uma carta conjunta. Nela, dizia que a Igreja não estava vinculada a regimes e governos. O historiador Newton Cabral, autor do livro Onde está o povo está a Igreja?, reforça a tese de confrontos. Segundo ele, “apesar do apoio inicial que recebem (os militares)
de setores da Igreja, há uma tomada de posição muitas vezes fortemente antagônica entre a Igreja e o Estado”. O antagonismo é visto em diversos momentos dos governos militares. Foi assim com as críticas dos religiosos à repressão a padres e leigos envolvidos em organizações sindicais, estudantis e dos movimentos populares. Ilustra bem isso o caso de Cajá, apelido do universitário Edival Nunes da Silva, integrante da Pastoral da Juventude, em 1978. De tanta repercussão, o sequestro e prisão de Cajá uniu a hierarquia da Igreja e teve divulgação internacional.
Nas anotações anotações de dom Helder lê-se lê-se:: “Florêncio de Car arv valho (barbeiro). (barbeiro). 3 filhos filhos passando pas sando fome. fome. Não é comunista. comunista. Prisão na Rua Rua do Bispo
igreja X militares 1966, no dia 14 de agosto, a imprensa revela conteúdo da Informação Secreta 144/66, do general da 10ª Região Militar, Gouveia do Amaral, que acusa dom Helder de “agitador” 1969, padre Antônio Henrique, auxiliar de dom Helder para trabalhos junto á juventude, foi assassinado em maio. O corpo tinha a marca de um tiro à queima-roupa e sinais de estrangulamento 1970, no dia 26 de maio, convencido por amigos franceses, dom Helder Camara muda o tema de conferência que faria em Paris, no Palácio dos Esportes, passando a denunciar as torturas no regime militar. A partir daí, as críticas do regime ao arcebispo crescem 1970, agentes do Dops e do I Exército invadem, em outubro, as sedes da Juventude Operária Católica (JOC) e do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades) no Rio de janeiro e maltratam religiosos jesuítas 1971, prelado de São Félix do Araguaia (Mato Grosso), dom Pedro Casaldáliga é detido e conduzido à Brasília para depor no Ministério da Justiça por denunciar “o latifúndio e a marginalização social” na Amazônia 1973, no dia 6 de maio, bispos de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte publicam Eu ouvi os clamores do meu povo, documento crítico ao modelo econômico e às políticas sociais. No mesmo ano, oito colaboradores diretos de dom Helder foram sequestrados e torturados por policiais 1973, 17 de março, o estudante da USP Alexandre Vanucchi morreu horas após ser preso e torturado, gerando protestos dos bispos católicos.
intolerância e tensão contra a Igreja Os governos militares apresentavam sinais de esgotamento, em 1980, quando ocorreu um dos mais ruidosos conflitos entre o regime e a Igreja. A razão do confronto, como mostra edições do Diario de Pernambuco, foi um pedido do ex-deputado estadual Severino Cavalcanti ao Ministério da Justiça para expulsar o padre italiano Vito Miracapillo do Brasil. O sacerdote atuava na Paróquia de Ribeirão, Diocese de Palmares. A acusação do parlamentar, então apoiado pelo prefeito de Ribei-
rão e parte dos produtores de cana do município, era de que Miracapillo havia sido antipatriótico por se negar a celebrar missas em ação de graças pela independência do país. Detalhe: os horários das celebrações, previstas para os dias 7 e 11 de setembro de 1980, foram programados pela prefeitura sem qualquer consulta ao padre ou à secretaria da paróquia. A tramitação do processo de expulsão, aponta o historiador Julio Reinaux Freitas Silva, foi rápida. Sumária. Começou na Assembleia Legislativa, em 5 de setembro, com
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o requerimento de Severino Cavalcanti para o plenário aprovar o envio do pedido de expulsão ao ministro da Justiça. Quatro dias após a solicitação, a casa deu aval e o documento foi para Brasília. Em 15 de outubro de 1980, o presidente da República, general João Figueiredo, havia assinado o decreto de expulsão. Em consequência, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), que referendou o decreto. Ao italiano, hoje anistiado, restou voltar para Europa.
1975, a Igreja adota posição contrária ao regime quando dom Paulo Evaristo Arns e dom Helder Camara, arcebispos de São Paulo e de Olinda e Recife, concelebram culto ecumênico no qual condenam a morte do jornalista Wladimir Herzog em uma cela do II Exército 1976, o bispo de Nova Iguaçu (RJ), dom Adriano Hipólito, foi sequestrado em 22 de setembro. Depois de ter os olhos vendados, espancado e acusado de comunista, o bispo foi jogado nu, atado e corpo pintado de spray vermelho em uma calçada da cidade 1977, a Superintendência da Polícia Federal no Recife abre inquérito contra o padre Romano Zufferey, assistente eclesiástico da Ação Católica Operária (ACO), referendada por dom Helder e pela CNBB. Acusado de marxista, o padre foi ameaçado de expulsão do país 1980, o padre Vito Miracappilo, da Paróquia de Ribeirão, Diocese de Palmares, em Pernambuco, é expulso do Brasil sob a acusação de ter se negado a celebrar uma missa pela Independência do país
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NE foi quem mais perdeu com o golpe Região era a mais pobre da América Latina e vivia um período inédito de luta pelo desenvolvimento VANDECK SANTIAGO vandecksantiago.pe@dabr.com.br
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ca, foi a região mais prejudicada pelo golpe. O Nordeste foi surpreendido com uma política em andamento, um movimento social, através das Ligas Camponesas, da Sudene e da Igreja Católica, que apontava para uma outra direção. Tudo isso foi destruído”, disse ele em entrevista publicada em 31 de março de 1964 (O Estado de S. Paulo). “No Nordeste as consequências [do golpe] foram mais graves, pois a repressão exercida acabou com o movimento social existente, as Ligas e a Igreja Católica. A região do país que havia acumulado maior atraso social era o Nordeste. O atraso aumentou ainda mais com a mudança. O movimento de 1964 passou desapercebido em várias partes do país. Foi um golpe a mais, mesmo em São Paulo houve atendimento de certos interesses econômicos e a região se acomodou”, completou ele. Furtado morreria em 20 de novem-
bro de 2004, oito meses depois dessa entrevista. A tese de “o Nordeste mais prejudicado pelo golpe” ainda não virou objeto de estudos. Outro intelectual de nome nacional, o sociólogo Francisco de Oliveira, que em 1964 trabalhava com Furtado (era superintendente-adjunto da Sudene), e hoje mora em São Paulo, segue pela mesma trilha dele. “O Nordeste pagou o pato”, afirmou Oliveira em entrevista ao Diario. “O golpe não foi um movimento feito a partir do Nordeste nem muito menos conf lito já pelo Nordeste. Eraa um conflit no Sudeste, em São Paulo sobretudo, devido ao novo papel das multinacionais”. Entre a criação da Sudene, 1959, e o golpe de 1964, o Nordeste tornou-se foco da agenda governamental al com uma influência inf luência que nunca tivera antes nem teria depois. A Sudene, por exemplo, tinha status ministerial - era vincu-
lada diretamente ao presidente da República, e não subordinada a um ministério (como viria a ser logo depois do golpe). A melhor tradução dessa nova fase, a fase da ditadura, com políticos presos e cassados, e os movimentos extintos, veio em frase do ministro da Fazenda em 28 de julho de 1970. Ele fora secretário da Fazenda do governo de São Paulo (1966-1967) e viria a ser depois (1967-1974) o ministro mais poderoso da área econômica do regime militar. Pois bem, em 20 de julho de 1978, os governadores do Nordeste encontraram-se com ele e lhe fizeram reivindicações específicas para a região. A resposta de Delfim Netto soa como um epitáfio para o período que o Nordeste vivera antes do golpe. “O Brasil é uma nação”, respondeu o ministro. “E a proposta do governo é desenvolver todas as regiões, e não apenas esta ou aquela”.
ACERVO PAULO FREIRE
ACERVO PAULO FREIRE
alta algo nas avaliações feitas sobre o golpe de 1964. Cinquenta anos depois do episódio, é hora de direcionar a atenção para o item que está faltando: a constatação de que a região mais prejudicada com o golpe foi o Nordeste. Baseados em que se pode fazer irmação? Nos fatos (veja quaestaa af afir dro abaixo). A região passava por um inédito processo em que as forças mais diversas empenhavam-se pelo seu desenvolvimento econômico e social; assistia a uma pioneira ascensão de movimentos sociais no campo; contava com uma geração de políticos profundamente engajados em ações para melhorar a vida do povo, e bem-sucedidos nas disputas eleitorais; era palco para experiências pioneiras nas áreas da educação e cultura e, por
fim, dispunha da inteligência engajada de três intelectuais de nível mundial - o economista Celso Furtado, o médico Josué de Castro e o educador Paulo Freire. Em nenhuma outra região essas características se juntaram de forma tão acentuada quanto no Nordeste. De uma tacada só tudo foi destruído: os movimentos, postos na ilegalidade; as experiências inovadoras, extintas; a luta pelo desenvolvimento, sufocada; os políticos, presos e cassados (alguns, torturados) e os três intelectuais, perseguidos, cassados e forçados ao exílio. A ideia de que o “Nordeste foi quem mais perdeu com o golpe” tem como patrono a pessoa com as melhores credenciais para o posto: Celso Furtado. Ele defendeu esse ponto de vista não em 1964, mas no último ano de sua vida, em 2004. “Tenho a impressão de que o Nordeste, onde eu estava na épo-
Paulo Freire
Educador teve que abandonar o país após o golpe
Celso Furtado
Era um dos mais respeitados economistas do mundo
Josué de Castro
Médico era uma das melhores mentes do estado
Por que fomos os mais prejudicados 1) Pela primeira vez na história o Nordeste tornara-se prioridade nacional. Formara-se um consenso na política, na cultura e na imprensa de que era imprescindível para o progresso do país vencer o atraso da região. O sentimento vinha desde a segunda metade do governo Juscelino Kubitschek, no qual se dera a criação da Sudene (1959). Continuou na breve gestão de Jânio Quadros e aumentou no governo João Goulart 2) As próximas eleições aconteceriam em 1965. Pesquisa feita pelo Ibope nas 8 capitais mais importantes do país apontava o PTB (partido de Goulart) como o preferido do eleitorado, com 29%, seguido pela UDN (oposição), com 14% e o PSD (7%). Para presidente a tendência do eleitorado era por um candidato de centro. O nome com o melhor percentual era Juscelino Kubtischek, vindo a seguir (de longe), Carlos Lacerda (direita) e num distante 3º lugar, Miguel Arraes (esquerda). Independentemente de pesquisas, JK era o favorito. Mas fosse quem fosse o presidente, nada indicava que o Nordeste viesse a perder o “prestígio” então adquirido
3) A região assistia a um acelerado crescimento eleitoral de candidatos de esquerda e de centro-esquerda, que tinham como principal bandeira os interesses da região (e bandeira da qual dependiam para continuar sendo eleitos). Em Pernambuco, por exemplo, governava o estado (com Arraes) e a Prefeitura do Recife (Pelópidas Silveira). O melhor exemplo dessa ebulição eleitoral é que um nome da região - Arraes - aparecia como presidenciável 4) A grande novidade daqueles anos, no terreno dos movimentos sociais, fora a ascensão dos camponeses, que pela primeira vez na história conseguiram ter suas reinvidicações incluídas na agenda de reformas do país - e com a principal delas, a reforma agrária. Começou com as Ligas Camponesas, em 1955, e depois expandiu-se para o sindicalismo rural, com a participação da esquerda, da Igreja Católica e do governo federal 5) Ações criadas no Nordeste - particularmente em Pernambuco - chamavam a atenção do país e ganha-
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vam versões nacionais. Aqui surgiu o MCP (Movimento de Cultura Popular), que inspiraria os famosos CPCs (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes). A campanha de alfabetização com o método Paulo Freire, iniciada no Nordeste, foi oficializada para aplicação nacional pelo governo Goulart em janeiro de 1964. Não era uma alfabetização alienada, e sim um modelo que procurava alfabetizar conscientizando. Na época analfabeto não votava. Em uma população de 80 milhões de habitantes, havia 30 milhões de analfabetos - a grande maioria no Nordeste. Com o golpe houve o desmonte de toda essa política. 6) Se para um país a perda de nomes como os de Josué de Castro, Celso Furtado e Paulo Freire já representariam uma perda extraordinária, imaginem o que significa a perda para uma região paupérrima (a mais pobre da América Latina, na época). 7) Toda uma geração de políticos e sindicalistas submissos à ditadura ascendeu ao poder, ocupando mu-
nicípios, estados, repartições e entidades de classe. Ficaram lá durante 21 anos. É algo assim como se no campeonato brasileiro os times da Série A fossem afastados, e em seu lugar entrassem os das séries B e C. 8) Os políticos mais comprometidos com os pobres e com a região foram cassados, presos e exilados. A oposição que surgiu ao regime foi crescendo aos poucos, mas restringida por uma série de limitações. Nesse quadro, a ditadura pôde implantar sem contestação seu modelo de desenvolvimento, marcado pelo arrocho salarial e concentração de renda - características mais nocivas para regiões mais pobres. 9) O debate sobre a desigualdade regional foi extinto. Nunca mais foi retomado. Ainda hoje, mesmo depois do crescimento regional verificado nos dois governos Lula, a desigualdade permanece praticamente inalterada. O Nordeste tem 28% da população mas produz apenas 13% do PIB nacional.
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Francisco Julião e a mulher, Alexina Crespo, ao lado de Fidel Castro, em Cuba. Abaixo, uma das ocupações de terra das Ligas Camponesas
uma história mal contada Historiografia nacional sobre o golpe civilmilitar de 1964 negligencia os acontecimentos do Nordeste
por causa de Brizola. É natural que isso aconteça: a maior parte penas dois governa- dos trabalhos sobre o episódio é dores foram depos- produzida lá, onde se encontram tos e presos nos pri- as principais editoras, universidameiros momentos des, centros de pesquisa, jornais, do golpe de 1964. De revistas e número de leitores. Ononde eram? Do Nordeste: Mi- de está a maior fatia do PIB e de guel Arraes (PE) e Seixas Dória onde, pelo conjunto dessas carac(SE). Três prefeitos de capitais terísticas, a capacidade de reverforam depostos no mesmo perío- beração do que se diz tem força do. De onde eram? Do Nordes- predominante em todo o país, cote: Recife (Pelópidas Silveira), locando na posição de coadjuvanSalvador (Virgildásio Senna) e tes os fatos e personagens de ouNatal (Djalma Maranhão). tras regiões. Agora vejam o Ato InstitucioNas análises do golpe de 1964, nal nº 1, de 9 de abril de 1964, sempre é lembrada a interferêncom as primeiras 102 cassações cia americana nos assuntos interda ditadura. O nome que vem em nos do Brasil, e o apoio militar primeiro lugar é o de Luiz Carlos que os EUA tinham preparado paPrestes, o líder do PCB, partido ra dar sustentação aos golpistas, que foi o espantalho brandido pe- caso houvesse resistência. Proculos golpistas na campanha do an- rem nesses relatos (livros, docuticomunismo. mentários, reEm segundo lu- Ação dos EUA no portagens) algar vem o presiguma referêndente deposto, NE é praticamente cia aos aconteJoão Goulart. cimentos do Em terceiro, o desconhecida Nordeste e vopresidente que cês vão enconno Brasil renunciou poutrar no máxicos meses após mo alguma notomar posse, Jânio Quadros. Em ta de pé de página ou um parágraquarto lugar vem Miguel Arraes, fo genérico. E no entanto a interque não era comunista, nunca fa- ferência dos EUA no Brasil, na épolara em luta armada e se manti- ca, começou pelo Nordeste. Foi a vera sempre em defesa da legali- situação do Nordeste que chamou dade, posição que se chocava com a atenção do presidente John Kena de outros líderes da esquerda, nedy para o Brasil - e aqui, mais como Leonel Brizola, criador dos do que em qualquer outra região, chamados “Grupos dos Onze”, deu-se uma interferência direta agrupamento de características dos americanos (com homens e para-militares. dólares) nos assuntos internos de Há uma singularidade do Nor- cada estado, mediante acordos asdeste nos acontecimentos pré e sinados com o governo dos EUA. pós golpe de 1964, mas essa ca- Houve uma época, por exemplo, racterística só aparece residual- em 1962, em que nomeações da mente nos relatos sobre o perío- Secretaria da Educação de Perdo. A história do golpe privilegia nambuco passavam antes pela os acontecimentos do eixo Brasí- agência dos EUA instalada no eslia-Rio-São Paulo, com uma ou ou- tado para coordenar a aplicação tra incursão ao Rio Grande do Sul, do acordo.
a interferência dos EUA
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Robert Kennedy (irmão do presidente John Kennedy), durante visita a Carpina, Pernambuco, em 1965
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a primeira ação concreta da Aliança para o Progresso consistia na aplicação aqui de
US$ 131 milhões em valores da época; hoje, o equivalente a cerca de
US$ 900 milhões
Nas edições de 31 de outubro e de 1º de novembro de 1960 o New York Times publicou duas reportagens que tiveram grande repercussão nos EUA. A primeira, com chamada de capa, dizia no título: “Pobreza no Nordeste do Brasil gera ameaça de revolta”. Nas duas o tom era de que, depois de Cuba (1959), um novo barril de pólvora poderia surgir na América Latina. O senador John Kennedy era candidato a presidente, leu a matéria, chegou a mencionar dados sobre o Nordeste num discurso de campanha e a primeira missão que enviou ao exterior como presidente teve o Brasil como destino - com a tarefa principal de analisar a situação na região. Vivíamos a época da Guerra Fria, quando EUA e URSS disputavam a hegemonia no mapa mundial. Nesse cenário, o Nordeste, como região (e não o Brasil, como país), tornou-se a bola da vez do principal programa criado por Kennedy para tentar conter o avanço do comunismo na América Latina, a Aliança para o Progresso. Em 13 de abril de 1962, Kennedy e João Goulart assinaram em Washington o Northeast Agreement (Acordo para o Nordeste) - o primeiro acordo dos EUA para uma região específica de um país da
América Latina, e a primeira ação concreta da Aliança para o Progresso. Consistia na aplicação aqui de US$ 131 milhões (em valores da época; hoje, o equivalente a cerca de 900 milhões). O acordo previa a construção de obras de curto e longo prazo. “Nenhuma área em nosso hemisfério tem maior e mais urgentee ne ne-cessidade de atenção do que o vasto Nordeste do Brasil”, disse Kennedy em pronunciamento na Casa Branca em 14 de julho de 1961. Depois do acordo, em 1962, ele enviou carta a João Goulart, dizendo-se confiante em que a ação conjunta dos dois países iria “mudar a face do Nordeste brasileiro”. A partir de 1962 houve uma escalada na ação dos EUA na região, incluindo apoios a candidatos locais (por meio de uma organização fechada após denúncias, o Ibad - Instituto Brasileiro de Ação Democrática). O governo dos EUA também assinou acordos diretos com os estados, passando por cima do governo federal - enfraquecido politicamente, o presidente João Goulart não reagiu. Os acontecimentos pré e pós golpe de 1964 em Pernambuco e no Nordeste viraram história - mas uma história praticamente desconhecida no Brasil. (V. S.) ARQUIV QUIVO/DP/D.A PRESS QUIV
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em defesa da “revolução” Impedidos de comemorar a tomada de poder, militares se orgulham de terem afastado o “risco comunista” ANDRÉ DUARTE andreduarte.pe@dabr.com.br
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uiz de França Cordeiro, 75 anos, interrompe a entrevista concedida ao Diario pelo ex-colega de caserna Edvaldo Pereira, 81, e solta a seguinte declaração, recheada em meio a uma intervenção de quase 40 minutos: “Me orgulho de dizer que fiz parte da revolução. Passei muito tempo no Serviço de Informação do Exército. Cumpri todas as missões que me deram, e posso dizer que nunca dei um tapa em ninguém”, declarou, incendiando uma sala pequena da Associação dos Militares de Pernambuco, onde entrou no intuito de resolver uma pendência trabalhista e saiu com um “desabafo” a menos da garganta. Luiz e Edvaldo são capitães da reserva e se enfileiraram nas Forças Armadas na primeira metade da década de 1950. Em vez de armas, passaram a maior parte do serviço militar empunhando chaves de fenda e outras ferramentas as em oficinas oficinas mecânicas de batalhões, cuidando da manutenção de viaturas. Ambos garantem ter er ficado ficado bem longe das ações violentas da repressão, mas não admitem que chamem de “golpe” o episódio mais doloroso da história recente do país. Longe das fardas e do cotidiano metódico dos quartéis, eles não almejam a volta do regime verde-oliva, mas, ainda assim, de-
fendem a estratégia de abril de 1964 como a única saída pra evitar que o Brasil fosse tingido com o vermelho do comunismo. Em circunstâncias diferentes, Luiz e Edvaldo aceitaram opinar sobre o período conturbado, algo que a cúpula de quatro estrelas evita a todo custo desnudar. Sem posto de comando, livre de sanções disciplinares por não estarem na ativa, a dupla de veteranos não representa, necessariamente, o sentimento da tropa atual, mas oferece um bom termômetro da insatisfação entre os saudosos. Além da revelação de uma fatia do seu passado na obscura área de inteligência do Exército, a atividade atual de Luiz Cordeiro também o coloca em uma trincheira à parte no debate ideológico, cinco décadas depois da tomada do poder pelos generais. Ele é político, eleito por voto direto após a redemocratização, sendo quatro vezes vereador e uma prefeito de Poção, no Agreste, onde nasceu. Guarda também uma curiosidade que o tempo lhe conferiu: uma razoável semelhança física com o militante comunista Gregório Bezerra, falecido em 1983. Entrou como soldado em 1955 e só deixou a caserna em 1981 como capitão da reserva. Servia no Batalhão de Engenharia de Natal quando o que chama de “revolução” estourou: “Houve suor, sangue e lágrimas. Tudo isso houve, mas o que me deixa triste é uma
meia dúzia de pessoas estar querendo promover revanchismo. O que muita gente chama de ditadura, eu chamo de revolução mesmo. Houve excessos de um lado, e houve excessos do outro”. Rodou o Brasil com escalas em Porto Velho, em Fortaleza e, no Recife, bateu continência nas companhias de Intendência e de Comunicações até ser designado para um curso de assuntos civis e relações públicas no Rio de Janeiro, de onde voltou em 1966 com uma função sigilosa: “Minha missão era buscar as pessoas: ia lá e trazia. Dizia a elas que, enquanto eu estivesse ali, ninguém tocaria nelas. Hoje eu posso falar que fui do serviço”. Capitão França, nome de caserna adotado por Luiz na vida política, oferece poucos detalhes da atividade, mas deu a entender que buscava pessoas intimidadas para interrogatórios, além de levantar informações de campo: “Sempre preservei a integridade física dessas pessoas que passaram por mim”. Luiz se revela incomodado com o silêncio dos comandantes: “O pessoal está bisbilhotando e ninguém do nosso lado tem coragem de falar. Não pode haver dois pesos e duas medidas. Tem que ter coerência. A Comissão da Verdade quer apurar, mas só foi o Exército, só as Forças Armadas? Não. Por que aconteceu a revolução? Alguém provocou”, declarou o reservista.
Edvaldo Pereira diz se orgulhar da “revolução”. Quanto às denúncias de tortura nos quartéis, alega nunca ter visto ninguém ser agredido
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O que muita gente chama de ditadura, eu chamo de revolução mesmo” Luiz Cordeiro, capitão da reserva do Exército
imposição do silêncio Ao contrário do visitante inesperado em sua sala, o capitão da reserva Edvaldo Pereira estava disposto a falar quantas vezes fosse preciso. Com o discurso de prontidão, citou Cuba sete vezes para exemplificar o que o Brasil seria sem a intervenção militar. “O que seria de nós, brasileiros, sem a revolução? Seria Cuba. Tinha que acontecer. ‘Ah, porque mataram’. Não é assim, não. Eu tenho companheiros que foram mortos enquanto dormiam no alojamento
no Araguaia. Aí veio o revide e (o regime) matou também”. Em 1951, Edvaldo Pereira era cobrador de ônibus quando, aos 18 anos, ingressou nas Forças Armadas com o único objetivo de tirar a carteira de motorista. Só aposentou a farda em 1986 como capitão. Mecânico, coordenou a manutenção de viaturas em vários estados. Na reserva, foi corretor de imóveis, taxista e, por fim, fundador da Associação dos Militares de Pernambuco.
Confira o especial Filhos do Golpe, com vídeos que apresentam os relatos dos familiares de perseguidos políticos
Sem revelar nomes, faz questão de dizer que foi catapultado ado por cocolegas da ativa a reverberar uma queixa que, segundo ele, encontrou eco nos batalhões Brasil afora: “Se nós estamos em uma democracia, por que os militares não podem comemorar o aniversário da revolução nos quartéis?”, questiona, referindo-se à orientação do governo federal para evitar celebrações em instalações militares. Questionado sobre a violência da repressão, Edvaldo admite “fa-
lhas” que estariam além do seu alcance e da sua patente: “Não vi ninguém bater em ninguém. Houve prisão e tivemos falhas dos dois lados. Se houve anistia, ela tem que ser geral”. Em relação aos relatos de tortura e desaparecimentos de militantes de esquerda, o capitão patina entre o “teve” e o “deve ter existido”: “Se houve (tortura) - não tou dizendo que não houve, deve ter existido -, a maioria dos militares nunca concordou com essas coisas”.
EXPEDIENTE COORDENAÇÃO EDITORIAL: SUETONI SOUTO MAIOR | DIREÇÃO DE ARTE/DESIGN: CHRISTIANO MASCARO CEDOC: FERNANDO CORREIA | EDIÇÃO/FOTOGRAFIA: HEITOR CUNHA E GIL VICENTE ILUSTRAÇÃO DA CAPA: GREG | INFOGRAFIA: LAERTE SILVINO
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longe da Comissão da Verdade Em Pernambuco, nenhum militar, na ativa ou na reserva, reivindicou indenização por perseguição ou atos praticados por militantes da esquerda armada durante o regime militar. Nas gavetas da Secretaria de Direitos Humanos do Estado repousam 475 processos movidos entre 2000 e 2001 por ex-presos políticos, além de civis ou parentes, que cobraram reparação por perdas diversas, que vão desde demissões do emprego até assassinatos cometidos pela repressão. A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Camara, a primeira instalada no país para apurar as violações aos direitos humanos, também tenta encontrar algum militar disposto a revelar o passado dos porões da ditadura. Assessora da comissão, Lília Gondim, 63 anos, conta que a procura por uma voz da caserna tem sido em vão: “A gente está com muita dificuldade de encontrar militares ligados à repressão, seja porque a maioria já morreu ou porque os que estão vivos não querem falar. Seria fundamental, uma vez que nós queremos resgatar os dois lados: o de quem sofreu, o que já temos bastante; e o de quem provocou sofrimento”. Militante de esquerda durante os anos de chumbo, Lília foi presa duas vezes, em 1969 e em 1972. Na última delas, estava grávida quando foi torturada no Doi Codi. A lista preliminar divulgada pela Comissão da Verdade registra 49 pernambucanos entre mortos e desaparecidos durante o regime, mas nenhum deles pertencia ao quadro das Forças Armadas.