Entrevista de Diego Martínez Lora a Laura Costa

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Para sempre e mais um dia

d e g e n t e

Editorial 100

A ENTREVISTA Diego MartĂ­nez Lora

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1 - A entrevista a Laura Costa por Torre de Gente

Laura Costa

t o r r E


(Marรงo/2011)

Entrevista a Laura Costa por Torre de Gente

2 - A entrevista a Laura Costa por Torre de Gente


Entre o romance e a poesia Romance é uma história, onde eu invento...reinvento e marco o destino dos meus personagens. No romance eu sinto-me dona da situação e dou largas à minha imaginação. Posso ser tudo aquilo que eu quiser e como quiser e sei que é exactamente essa a mensagem que estou a passar. Nos meus livros gosto que o leitor se identifique com as personagens, as situações, os locais. Se isso acontecer, já valeu a pena. Na poesia, tudo o que escrevo tem um sentido muito próprio, muito meu e não tenho sequer a preocupação que alguém me adivinhe. Se não perceberem o que está por detrás desse meu estado de alma, tanto

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Disciplina de escritora A disciplina é uma das palavras que menos gosto, apesar de ser uma das que tento seguir ao máximo. O facto de não gostar provém duma certa rebeldia que me é inerente. O facto de a seguir provém da vontade que tenho que dê certo quase tudo aquilo em que me empenho. No que toca à escrita, não é fácil ter uma disciplina rígida, porque a vontade de escrever nem sempre acontece. Mas, no que me diz respeito, eu escrevo porque sou impelida a fazê-lo, como se houvesse algo a provocar-me essa necessidade. Nunca soube explicar porque não consigo passar um dia sem escrever, seja o que for. Apenas escrever. Está dentro de mim. Faz parte de mim. E acaba por ser, de certa forma, uma necessidade física como qualquer outra com que nos deparamos obrigatoriamente.


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melhor. Na maioria das vezes trato a poesia como um desabafo. Por isso prefiro o romance, onde me sinto mais livre e onde sou o que sou e o que só consigo ser...a escrever.

alguém de quem eu nada sei. Tentar uma imparcialidade que é sem dúvida, muito dificil de conseguir. Se eu gostar, então acho que valeu a pena. E parto para a etapa seguinte.

A ficção corrige a realidade, a completa ou nos ajuda a fugir dela. Na minha escrita, faço questão de transformar a realidade em ficção e vice-versa.Gosto de tocar esses dois limites e de principalmente baralhar o leitor, que normalmente me pergunta o que está ali de verdadeiro e de falso. Quem escreve romance, não pode dissociar a ficção da realidade, senão os textos tornar-se-iam jornalísticos e deixariam de ter a magia que os caracteriza. Na minha opinião, a realidade não necessita de ser corrigida e sim complementada. Não adianta também usar a ficção para nos alhearmos da realidade, porque ela está presente, ela existe de verdade. Para quem escreve, a ficção é uma bênção, porque com ela podemos ir sempre mais além. Para quem lê...é sempre um mistério, porque cada leitor usa e interpreta a ficção e a realidade à sua maneira.

Qual é o teu leitor ideal? O meu leitor de eleição, é aquele que me diz que leu os meus livros em dois dias. Seja que tipo de pessoa for. Se não o largou enquanto não chegou ao fim...foi porque se sentiu de certa forma identificado com a história, com os personagens, com os locais onde ela decorre ou até eventualmente com a minha forma de escrita.

O que é o que mais te preocupa quando escreves? Tenho a preocupação, que é comum a quem escreve, de o fazer correctamente em termos gramaticais. Mas também procuro que a minha escrita seja acessivel a todo o tipo de leitor, pretendendo assim que a mensagem (porque todo o livro tem uma mensagem) seja entendível pela maioria de quem lê. Aparte isso, tenho apenas mais uma preocupação e que é para mim essencial: Tentar ler o livro que acabei de escrever como se o autor fosse

Que tipo de literatura gostas de ler? Que autores? Eu leio de tudo. Jornais, revistas, livros, banda desenhada e é exactamente essa a mensagem que passo aos meus filhos. Só lendo de tudo, se pode fazer o filtro daquilo que vale ou não a pena. Mas falando de tipo de literatura, confesso que prefiro o romance. Isto porque eu sou uma eterna romântica e porque gosto de ler uma boa história. Os meus autores de eleição são, sem dúvida, os sul-americanos. Passo a citar Luis Sepúlveda, Mario Vargas Llosa, Isabel Allende, Pablo Neruda, Gabriel García Marques, entre outros. Existe também um autor cubano de quem tenho a obra toda que já foi traduzida em português e que se chama Pedro Juan Gutiérrez, que eu admiro imenso pela sua escrita fluente e exuberante. Ele consegue trazer os hábitos das ruas de Havana para as suas páginas, onde existe violência, pobreza, luxúria e sexualidade. De vez em quando, leio alguns


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Depois de ter escrito os teus dois romances, em que projecto literário estás a trabalhar? Quase todos os dias me penitencio por este meu terceiro romance não estar mais adiantado. A minha vida profissional e pessoal preenche-me o tempo de tal forma que, há dias em que nada me resta para me sentar a escrever. Mas esta situação acaba por ser um incentivo ainda maior, porque eu não sou pessoa de desistir e considero um desafio esta minha luta contra o tempo para poder fazer o que mais me dá prazer: escrever. Este próximo livro tem uma vertente jurídica, que eu não domino bem e vai por isso obrigar-me a fazer muita investigação. Apenas posso dizer que o tema é polémico, que se trata dum triângulo amoroso e que vai ter passagens em Espanha. Não me queria adiantar na divulgação do enredo, porque considero prematuro. Até porque

Lourenço

clássicos portugueses e alguma poesia de Ary dos Santos, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner. No que toca a romancistas portugueses, posso destacar os que tenho apreciado ao longo dos últimos anos: Rosa Lobato Faria, Miguel Sousa Tavares, José Rodrigues dos Santos, António Alçada Baptista, José Jorge Letria, Manuel Alegre, Lidia Jorge...etc Dos autores brasileiros, gosto de ler João Ubaldo Ribeiro, Chico Buarque e Jorge Amado. Não me posso esquecer do escritor moçambicano Mia Couto e do angolano José Eduardo Agualusa, de quem li praticamente toda a obra.


interessante e é também aí que eu me sinto realizada, porque faço aquilo que todo o escritor gosta: inventar!

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A preocupação pelo leitor não é uma limitação expressiva para ti? Nem por isso. Eu escrevo com alma, com paixão e com vontade que o livro seja lido por todo o tipo de leitor. Eu, como leitora, também faço questão de ler de tudo um pouco. Só assim te apercebes de todas as realidades/ ficções.

quando começo um livro nunca sei que voltas ele vai dar e muito menos como vai acabar. Até posso ter vontade que as coisas sejam duma determinada maneira, mas por vezes são os próprios personagens que tomam conta da história e decidem por eles próprios todo o seu desenrolar. Gostas de inventar ou de contar coisas que sucederam ? Há sempre uma base de realidade no que escrevo. Baseio-me geralmente na minha experiência de vida, que é já alguma, quando construo as minhas personagens e as minhas histórias. Mas só misturando ficção na porção certa é que o enredo se torna mais

Entre ética e estética? Como assumir a leitura dum texto literário de um autor cuja conduta, opiniões e atitudes são contrarias ao direitos humanos? Á ética está directamente ligada a regras de conduta, moral, etc. A estética trata do belo em geral e do sentimento que ele desperta em nós. Há escritores que não conhecem nem a ética nem a estética e pura e simplesmente extravasam sem qualquer preocupação o que lhes vai na alma. Por vezes é na escrita que encontram a fuga para as suas frustrações e o trabalho nem sempre sai gratificante. Terão com certeza um leitor muito específico. Apesar de gostar de ler todo o tipo de leitura, apenas me identifico com uma parte dela. Aí exijo a tal ética e a tal estética para achar que aquele livro valeu a pena ser lido. Na leitura dum texto, cuja conduta seja contra os direitos humanos, não me identifico, com toda a certeza. O que é do que mais gostas do teu processo criativo literário? Sem dúvida, dos personagens que crio. Ao longo do meu trabalho eles


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Entre a pornografia e o erotismo, alternativas para descrever o recriar a sexualidade das personagens nos teus textos? Quando existe uma vertente pornográfica num livro, a intenção na escrita é de provocar uma certa excitação, de cariz sexual. Há pouca beleza na pornografia. O erotismo existe para excitar a alma, fazendo referência ao corpo, ao belo e ao prazer. Eu sou uma eterna romântica por isso escrevo histórias de amor. Na pornografia, não existe esse amor. É tudo carnal e duma certa forma grotesco. E isso vai contra o perfil dos personagens que eu crio. Qual foi a pior crítica que tens recebido e a melhor? A pior crítica foi talvez o facto de a partir dum determinado momento da história ...o leitor sentir que há uma certa urgência do escritor em chegar ao final do enredo. A melhor foi dizerem-me que riram, sorriram e choraram com as minhas histórias. O fazer despertar da emoção no leitor...faz com que a minha escrita tenha valido a pena. O que representa para ti Portugal? Sentes orgulho por seres portuguesa e porque? Apesar de não ser uma pessoa demasiado agarrada às minhas raízes, porque costumo dizer que a minha terra é onde me sinto bem, acho que posso dizer que me orgulho

de ser portuguesa. Portugal é um país cheio de problemas financeiros, mas mesmo assim é um país que nos vai oferecendo uma certa paz, harmonia e vontade de ficar. Olhando à nossa volta, devemos pensar na palavra paz sempre em primeiro lugar. É, depois da saúde, o mais importante de tudo. A Internet e especialmente as redes sociais têm influído na tu vida e na tua criatividade literária? Posso dizer que sim em relação à divulgação do meu trabalho mas não relativamente à minha criatividade literária. Essa vem mesmo de mim, da minha forma de olhar o mundo, do meu temperamento, da minha assertividade, da minha sensibilidade, do meu espírito expansivo e alegre e principalmente da paixão que tenho pela escrita. Pensas que é preciso ter certa idade para atingir o equilíbrio existencial? Se falarmos de idade mental, acho que sim. O equilíbrio existencial só se adquire com a maturidade. Há pessoas que nascem, vivem e morrem...sem nunca atingirem esse equílibrio. No entanto conheço jovens que ao chegarem à idade adulta... sabem exactamente o que querem da vida, que lugar ocupam na sociedade e principalmente o porquê de terem sido contemplados com a magia da vida. Como responde a Literatura em épocas de crise, como a actual que está a viver Portugal? A literatura não deixa de ser um reflexo da imagem da época. E é, por vezes, um factor de intervenção com sequências e consequências marcantes na cultura dum povo. O escritor vive e suga o meio em que vive e quanto mais controversa a época for, mais rico o mesmo se sente

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vão-se tornando uma família para mim. Fico sempre com saudades deles, quando o livro chega ao fim.


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em termos de matéria de escrita. A boa literatura é um incentivo à crítica o que não deixa de ser positivo em altura de mudanças, de ideias, de comportamentos, etc. Em tempo de crise, a criatividade vale mais. A leitura e a escrita é fundamental na formação das pessoas. O ser humano é um ser cultural e não podemos perder essa noção. O que farias tu para incentivar a leitura de obras literárias nos adolescentes e no público em geral? Na realidade, os adolescentes precisam de motivação para a leitura, porque a sua maioria prefere outro tipo de actividades, como dançar, ir ao cinema, ouvir música, etc. Para eles ler não deixa de ser um acto solitário que os aborrece. Preferem o convívio, a agitação e a adrenalina própria da idade. Muito se tem feito para combater isso e a prova está nos Planos de Leitura, nas Semanas de Leitura, nos Workshops de Escrita Criativa, que se vão criando e fomentando a nível escolar. Também não nos podemos esquecer que os interesses pela leitura dependem de vários factores, tais como factores sócio-económicos. É preciso criar condições para que o material em questão esteja facilmente disponível. Acredito que o interesse pela leitura aumentaria, se: Para os jovens adeptos da competição, fossem criados concursos em que a obra

escolhida fosse alvo de perguntas. Para os jovens que gostassem de teatro, fossem criadas condições para os alunos poderem teatralizar a obra lida, porque duma forma ou de outra, qualquer peça literária se pode adaptar ao teatro. Para os adeptos de música, fossem dadas oportunidades de poderem escolher os seus temas preferidos para acompanharem certos diálogos dum determinado livro. Para os adeptos do desenho, fosse dado a oportunidade de ilustrarem um livro que tenham lido. E porque não converter tudo isto num grande concurso? Em relação ao público em geral já não é tão fácil trabalhar esse incentivo, porque os livros continuam a ser um artigo de luxo ao qual nem toda a gente tem acesso. Mas os jovens de hoje serão os adultos de amanhã e o trabalho de incentivo que eu acabei de propor iria fazer com que os hábitos de leitura ficassem para o resto das suas vidas. Te preocupas pela paisagem e os espaços onde as tuas personagens se mexem? Tentas ser exacta nas tuas descrições? Eu não me perco muito em descrições pormenorizadas, quando escrevo. Tento enquadrar os meus personagens num meio ambiente que lhes seja favorável, porque isso me ajuda a caracterizá-los e a decidir-me acerca de alguns dos seus comportamentos. A paisagem e os espaços influenciam a personagem e ajudam a entendêla, a gostar, a não gostar, a perdoar ou não perdoar. A exactidão nas descrições passa apenas pelo


ambiente físico, para o leitor se poder situar nesse espaço. É importante que ele consiga transportar-se ao ambiente que eu crio e recrio. A descrição física dos personagens é também essencial, porque é comum o leitor acabar por se identificar com uma ou outra personagem. A descrição em termos psicológicos nunca é feita com exactidão, deixo essa tarefa para quem lê. Acontece, frequentemente, haver opiniões diversas em relação às personagens dum livro. Os vilões e os heróis podem assim ganhar adeptos diferentes.

Lourenço

Gostas de responder às minhas perguntas e em caso afirmativo... porquê? Claro que gosto. As tuas perguntas são incisivas e provocadoras...embora pertinentes. Abordas temas actuais, interessantes, polémicos e dás-me liberdade de expressão nas minhas respostas. Acabo por transmitir sentimentos e opiniões que nem imaginava que tinha...é giro pela descoberta de mim que me obrigas a fazer.

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Qual outra pergunta gostavas que te fizesse? (sorrio)... Talvez gostasse que me perguntasses se eu gosto de responder às tuas perguntas e em caso afirmativo... porquê?


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