Revista
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Função A voz do Reisado “MEUS SENHORES , BOA NOITE BOA NOITE EU VENHO DAR QUERO QUE ME DÊ LICENÇA PARA O BAILE APRESENTAR ALGUMA FALTA QUE HOUVER TODOS QUEIRAM DESCULPAR E HAJA MÚSICA COM ALEGRIA PARA O MEU REISADO APRESENTAR”
MARIA DE LOURDES SAMPAIO, PROFESSORA APOSENTADA, FILIADA AO SINDICATO DOS PROFISSSIONAIS EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SERGIPE - SINTESE, PARTICIPANTE DO GRUPO DE DANÇAS TRADICIONAIS DOS APOSENTADOS, REPRESENTANDO O PERSONAGEM “MATEUS” DO REISADO (APELIDADO DE O PALHAÇO “LETRADO”).
1
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
2
Revista
Função
editorial
A
Revista Função é um produto laboratorial da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, editada pelo graduando Milton Raimundo Leite do Curso de Licenciatura em Dança, do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de Sergipe. Em sua primeira edição, a linha editorial proposta é a de apresentar fontes informativas sobre o Reisado (Folia de Reis) numa perspectiva interdisciplinar, tendo em vista a preservação da diversidade cultural e o fomento ao debate público sobre esse patrimônio imaterial. A publicação reúne pesquisadores e agentes culturais comprometidos com a difusão e preservação das manifestações culturais tradicionais. Dentre os artigos desse número especial encontram-se textos escritos pelo graduando Milton Leite: uma produção que versa sobre a questão da cultura popular e o turismo com ênfase nos desafios dos gestores públicos para proporcionar visibilidade as manifestações culturais sergipanas em autoria com a tecnóloga em turismo Marília Barroso. Um artigo que apresenta os benefícios da utilização da dança (Reisado) com grupo de idosos, reflexões fruto de sua vasta atividade nessa área, e um relato de experiência sobre o seu estágio supervisionado realizado em escola pública estadual, no qual apresenta o trabalho desenvolvido junto aos educandos na perspectiva de utilização dos folguedos populares como mediação pedagógica no contexto escolar. Destaque-se que essas produções sinalizam as inquietações do graduando em duas direções, por um lado, a defesa intransigente na cena contemporânea pelo resgate cultural dos folguedos (Reisado) e por outro, o compromisso social com a sua difusão para as novas gerações, a exemplo da publicação desse fascículo e da produção do CD que reúne músicas dos brincantes do reisado em Sergipe, além da elaboração da monografia intitulada “O Reisado como mediação didático-pedagógica no contexto escolar: Possibildades e Desafios”. A revista apresenta uma seção de depoimentos com três educadores sergipanos sobre a utilização do Reisado no contexto escolar. Inicialmente, a fala do professor Antônio Amaral apresenta a sala de aula como um espaço fundamental para o educando conhecer as suas raízes, o que possibilita uma ponte com o global. Associar o Reisado a uma prática educacional mediante a utilização dos personagens do folguedo, constituem-se elementos provocadores do conhecimento sobre a cultura popular revestindo-se de sentido a sua identidade cultural. O professor também contribui nessa edição com um artigo “Uma festa, uma lembrança” em que presta homenagem a Maria Aurelina dos Santos, ilustre pesquisadora da cultura popular sergipana. Por sua vez, a professora Aglaé Alencar entende que a cultura do povo tem que entrar pela porta da frente da escola. A utilização do Reisado, um folguedo rico em dramaticidade tem do ponto de vista social um significado para a formação e identidade cultural dos educandos. A professora Virgínia Lúcia, destaca os desafios da inserção da Arte na educação formal e alerta para os cuidados do uso da mesma como ferramenta, pois corre-se o risco de um uso mecânico e funcional ao retirar-lhe os seus elementos constituti-
3
vos. O uso dos folguedos (Reisado) como uma ação comunicativa educativa de temas transversais permite que a comunidade conheça a sua história, e a mediação dos personagens permite significado na relação dialógica-pedagógica. Nessa direção, a revista de forma específica pretende no universo da arte educação, contribuir com uma inadiável discussão sobre a utilização dos folguedos (Reisado) como mediação educativa junto as perspectivas pedagógicas. Para tanto, além dos artigos, a revista apresenta partituras e letras cifradas das músicas utilizadas pelos brincantes dos grupos de Sergipe, uma vez que se identifica variantes linguísticas nas diversas regiões do país. A proposta é a de oferecer aos educadores informações que possam subsidiar uma abordagem sobre o Reisado no contexto escolar. Ao aprender sobre as manifestações culturais populares, os educandos podem identificar no processo de montagem do Reisado, elementos problematizadores sobre a sua realidade de vida. A escola como palco de tensões e no desafio de articular diferentes áreas do saber, a exemplo do que recomenda os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), tem no Reisado um leque de possibilidades de produção de significados e reflexões sobre a diversidade cultural. Ao conhecer o folguedo, os seus simbolismos e ao dialogar com os conteúdos das disciplinas, educadores e educandos no contexto de representação teatral, músicas e danças, permitem-se a construir diálogos entre ações e palavras que contribuam para um repensar sobre as transformações societárias, a sua história, o seu lugar e a sua condição social numa sociedade marcadamente desigual. Portanto, é nessa perspectiva que as contribuições desse número seguem. O texto do professor Paulo Roberto apresenta as características fundamentais do Reisado e a diversidade de manifestações pelas diversas regiões do país. Ao final, a revista apresenta uma galeria de fotos dos (as) mestres(as) do reisado sergipano (In Memorian), com o objetivo de reverenciar o legado desses(as) brincantes ao oportunizar as novas gerações o contato com os folguedos. Esses(as) mestres(as) são os(as) responsáveis pela transmissão oral do reisado, vários(as) dos(as) brincantes das novas gerações são seus descendentes consanguíneos e artísticos, proporcionado o (re) significado dos valores e simbolizações do saber das comunidades. Por fim, afirmamos a importância do sistema educacional em desenvolver projetos que viabilizem alternativas para o desenvolvimento do pensamento crítico e fomento a participação política e social, o auto popular é uma mediação pedagógica para tal. Boa leitura, e deixe-se levar nessa viagem de sabedoria porque a “brincadeira” vai começar!... Rosangela Marques dos Santos romarques020@gmail.com Professora da Universidade Federal de Sergipe/DSS/CCSA Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do grupo
REISADO DE SANTO ANTONIO NOVA DESCOBERTA ITAPORANGA D’JUDA SERGIPE - acervo do Grupo
NESTA EDIÇÃO 6
DANÇA NA TERCEIRA IDADE
26
LETRAS E PARTITURAS
9
O REISADO E O REPENTE: DUAS MANIFESTAÇÕES POPULARES AINDA EXISTENTES EM ARACAJU
38
REISADO NO AGRESTE SERGIPANO
39
CORAL UNIMED: SAÚDE, CULTURA E ARTE EM SINTONIA
12 15 16 17 20 21
TURISMO CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL
UMA FESTA UMA LEMBRANÇA
40 42
CANÇÕES DO NOSSO POVO
46
MESTRES DE SERGIPE “GALERIA IN MEMORIAM”
DEPOIMENTOS
47
IMAGENS E RAÍZES
HISTÓRIA DE REISADO
47
GLOSSÁRIO
MANIFESTAÇÃO POPULAR REISADO
Revista
Função
RELATO DE EXPERIÊNCIA O REISADO COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO ESCOLAR
EXPEDIENTE
Ano 1, nº1
Críticas, elogios e sugestões de pauta, entre em contato
Editorial: Profa. Dra. Rosangela Marques
Tiragem: 1000 exemplares
pelo e-mail: milton.leite.cultura@gmail.com
Projeto Gráfico: Diego Oliveira (DRT - 1094/SE)
Impressão: Gráfica Editora J Andrade
Ilustração: Larissa Vieira Santos, Rafael Rocha Silva
Esta Revista tem cunho pedagógico e é dedicada a todos
Editor : Milton Raimundo Leite
Partituras: Carlinhos Meneses
os mestres e mestras e brincantes da cultura popular
Jornalista Responsável : Cândida Oliveira (DRT - 1169/SE)
COLABORADORES NESTA EDIÇÃO: Aglaé D’avila Fontes
sergipana, nordestina e brasileira. Sua distribuição é gra-
Revisão: Marília Barroso
de alencar, Antonio Amaral, Paulo Roberto Gomes do
tuita e está disponível online.
Produção Executiva : Milton Raimundo Leite
Nascimento, Vir-gínia Lúcia da Fonseca Menezes
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Revista Função.
4
Revista
Função
acervo do grupo
QUEM SOMOS NÓS A Revista Função surge como resultado de mais de 30 anos de pesquisa sobre as manifestações folclóricas em Aracaju, Sergipe, e nordeste do Brasil, é também fruto das observações desenvolvidas a partir do trabalho com professores no projeto Sintese Cultural nas aulas de danças tradicionais ministradas por Milton Leite, pesquisador da cultura popular, professor de dança, ator e dançarino. Todavia, foi quando ingressei como aluno portador de diploma na UNniversdiade Federal de Sergipe - UFS para cursar licenciatura plena em dança que senti a necessidade de trazer à tona uma discussão remota sobre as referidas danças folclóricas no nosso Estado e Aracaju como porta de entrada do turismo. Por que essas manifestações não fazem parte do cenário cultural em outros momentos a que não no mês de agosto entendido por boa parte das pessoas como o mês do folclore? O dia ou mês do folclore é todo dia, todo mês, o ano inteiro, por que as escolas não utilizam esses conhecimentos, muitas vezes acumulados na bagagem do aluno e proporciona uma discussão a partir desses assuntos, os quais estão mais próximos das comunidades onde as escolas estão localizadas? Esse questionamento foi realçado quando realizei meu estágio em uma escola onde boa parte dos alunos vinham de lugares distintos onde a dança tradicio-
5
nal ainda sobrevive, entretanto seu conhecimento era subaproveitado, quando não, era, simplesmente, ignorado. Essa revista é resultado da colaboração e dedicação da Maestrina Corina Santos, o apoio e disponibilidade da Professora Aglaé Fontes, da contribuição dos Professores e Pesquisadores Paulo Roberto e Antônio Amaral, dos Mestres Jocélio, Sabal, Luciene, Antônio, Cilene, pois não mediram esforços para conceder entrevistas e contar um pouco sobre suas histórias e suas artes, do consentimento das Professoras Maria de Lourdes, Girlene , Edvalda e demais professoras do Projeto SINTESE Cultural pelo uso das imagens que marcam algumas das páginas dessa revista. É decorrência da contribuição de todos os professores do curso de Licenciatura em Dança da UFS e a incomensurável colaboração da orientadora Professora Doutora Rosangela Marques dos Santos e da Professora Mestra Edna do Nascimento em co-orientação. O primeiro número da Revista Função é resultado de muitos anos de observação e pesquisa voltada para a luta incansável dos diversos mestres e grupos de reisado existentes em Aracaju e no estado de Sergipe.
Milton Raimundo Leite - editor
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do grupo
Este trabalho destaca a contribuição que a dança possibilita na melhora da qualidade de vida de idosos e idosas, no que se refere à dignidade, autonomia, reconhecimento de seu potencial, autoestima e à cidadania. Relatam-se aspectos vivenciados ao longo dos anos com grupos de idosos que se aproximam da dança como mera atividade física e descobre na arte um rol de ações socializadoras, que resgatam suas memórias, relembram antigos costumes, com os quais se identificam e se realizam no cotidiano. A perspectiva é traçar um panorama da dança como instrumento para que as pessoas na terceira idade, ainda guardados por seus familiares em um casulo, renasçam para a família e para a sociedade como cidadãos ativos, pensantes, agentes, brincantes e dançarinos.
Danças Na Terceira Idade: Mémorias E Costumes, Uma Realidade No Cotidiano Milton Leite1 Ano após ano, as pesquisas anunciam o crescente processo de envelhecimento da população mundial, situação também presenciada no Brasil. O aumento do número de idosos acentua a necessidade de atividades e cuidados que absorvam suas ansiedades e os problemas associados ao envelhecer. Desde o final da década de 1980, as pesquisas já discutiam a contribuição ativa dos idosos, manutenção de sua autonomina e dignidade. Segundo Alexandre Kalache (1987, on line) “há uma
necessidade premente de métodos inovadores e imaginativos, que possam contribuir para uma atenção ao idoso, em bases humanísticas e, ao mesmo tempo, compatíveis com a realidade socioeconômica do país”. Enquanto a ciência cria métodos de descobrir e combater com eficácia doenças, prolongando a vida humana, as novas tecnologias sociais favo-
recem o envelhecimento saudável com o desenvolvimento de pesquisas que consideram experiência e convivência como vieses da qualidade de vida. No ambiente social circulam diferentes visões do que significa idoso. Uma delas é a realidade dos asilos tradicionais, que tentam amenizar o abandono das famílias cuidando da alimentação,
1 Graduado em Tecnologia de Gestão de Turismo pelo Instituto Federal de Sergipe/IFS. Graduando em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de Sergipe/UFS. Produtor Cultural e Pesquisador do Folclore Sergipano.
6
Revista
Função
hospedagem, saúde e lazer dos idosos. Outra perspectiva é a emergência dos clubes sociais, associações de idosos; grupos da maioridade, clubes da maturidade, grupos de idosos; as nomenclaturas são variadas, todavia os princípios são os mesmos: oferecer aos senhores e senhoras da terceira idade um ambiente saudável de convivência, troca de experiências, lazer, saúde, promoção de um envelhecimento ativo e a preservação da capacidade e do potencial do indivíduo. Esses fundamentos são empregados de maneiras diferentes, porém se destaca na dança. Será durante as aulas de arte, leia-se dança, quando ocorrerá a junção da atividade física à potencial socialização, à efetiva relação interpessoal e diversão, colaborando para o surgimento de novas amizades, inclusão social e integração familiar. Segundo Souza et al. (2010, p.1) a dança é uma atividade de descobertas. Ao realizar os movimentos, o idoso conhece suas articulações, limites, descobre o prazer de extravasar suas emoções e seus “sentimentos”. Dessa forma, entende-se a dança como essencial instrumento para a superação de preconceitos e formação de novos conceitos a cerca do envelhecer e dos saberes que a terceira idade carrega. Este trabalho objetiva relatar a experiência cotidiana vivenciada durante os últimos vinte anos realizando aulas de danças folclóricas e de dança de salão para pessoas da terceira idade.
Durante todos esses anos a procura dos idosos por uma atividade que os tirassem de seus lares e os colocassem em diferentes desafios mostrou-se como motivação inicial para as inscrições nas aulas de dança. Certamente, que em um primeiro momento a atividade e os desafios eram físicos e partiam de uma recomendação médica, porém no encontro de gerações e no decorrer das aulas os objetivos transformavam-se. Emergia a vontade por ser reconhecido por carregar conhecimento dos folguedos de seu Estado. Reconhecimento este, que se espalha para fora da sala de aula, quando o grupo se apresenta e familiares, amigos, conhecidos os cumprimenta com brilho nos olhos. Para aqueles que não tinham tanta afinidade com a cultura popular surge uma ansiedade por conhecê-la mais profundamente, conversar com os mestres, repetir seus passos, difundir o folclore. Então, a dança deixa de ser somente uma atividade física para ser uma ferramenta de resgate da autoestima, valorização de conhecimento, aprendizagem, diálogo, de bem estar. É a arte da dança que os remete às memórias de infância, os relembra dos seus potenciais criativos e que os estimula a desenvolver outras atividades dia-a-dia. Segundo Ana Mae Barbosa (1998, [s.p]) a): “a arte contribui para desenvolver o sentido de cidadania. [...] Se você conhece, culturalmente, seu país terá mais chances de respeitá-lo, e isso é cidadania”. Nesse sentido, compreende-se que a aproximação de idosos e idosas da dança possibilita a sua plena cidadania, visto que além do bem estar físico estarão mantendo vínculos sociais e afetivos, resgatarão seus costumes, exercerão autonomia e lutarão por sua dignidade, considerando que comumente a maioria desses idosos tiveram seus anseios e desejos cerceados, seja por sua família ou pela ausência de espaços que oportunizassem vivências artísticas, tal como teatro, artesanato, poesia, canto coral e a própria dança. Em busca dessa dignidade, ou melhor, da qualidade de vida as pessoas da terceira idade começam a prática da dança como meio de resgatar suas memórias prazerosas da adolescência suscitando um aconchego na descoberta dos movimentos, a interação com diferentes pessoas, a realização de bailes, a retomada do hábito dos saraus, contribuindo para uma socialização cada vez maior. Entende-se que pela constante interação dos grupos da terceira idade com jovens e adultos em suas apresentações haverá a ruptura da insistente tentativa de manter os idosos resguardados, enclausurados, assumidos como fardo para a família e ascenderá a opção mais perspicaz para tamanha sabedoria que requer mais cuidado. Observando as famílias cujos idosos são atuantes em grupos sociais, já se percebe essa diferença. A vitalidade dessas pessoas é perceptível através da convivência, existe disposição, vontade, empenho e consequentemente uma vida diária com mais qualidade.
“DONA DO BAILE QUERER VADIAR OLHA PRA TRÁS SEM QUERER, SEM QUERER VADIAR”
Nesse sentido, a observação é elemento fundamental na pesquisa de campo, nesse caso realizou-se a análise das conversas entre os participantes dos grupos de dança, os diálogos com o professor e os debates com os profissionais convidados durante esses anos de atividade. Parte do resultado desse dia-a-dia já foi utilizado em projetos com idosos em municípios de Sergipe como, por exemplo, no clube de Mães, no povoado São José, Japaratuba/SE, em que, além das reuniões, momentos de artesanatos, chás da tarde, as idosas tem aulas de dança e ensaiam para o Reisado das Mães que apresentam nas festas do povoado e nos municípios vizinhos. Outra vertente dessas aulas considera apenas as danças folclóricas e compõe trabalho de graduação pelo Departamento de Dança da UFS que será submetido posteriormente.
7
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
“MEU AVIÃO ELE É DO CEARÁ ELE VAI POUSAR NO CAMPO DE AVIAÇÃO EU DEI COM A MÃO, EU DEI COM A MÃO PARA ELE PARAR, ELE PAROU
De fato essas experiências tem apresentado resultados, há anos entidades como Serviço Social do Comércio (SESC), Legião Brasileira de Assistência (LBA), Fundação de Desenvolvimento de Sergipe (FUNDESE), atualmente essas duas últimas instituições são representadas pela Secretaria de Estado da Inclusão e Desenvolvimento Social de Sergipe (SEIDS), desenvolvem pelo Estado de Sergipe e pelo Brasil ações com os idosos e a adesão é crescente, os grupos viajam, fazem exercícios, dançam, interagem e mostram viver da melhor forma. Esse exemplo é repetido pelas prefeituras municipais através de suas Secretarias de Assistência Social que contratam professores de dança para atender ao público idoso na tentativa de desenvolver uma política pública que proporcione qualidade de vida no cotidiano dessas pessoas. Nota-se, na atualidade, que os idosos, quando não são afastados da sociedade, interagem porque assumem as responsabilidades dos filhos para com os netos, voltam à fase do corre-corre, trânsito na hora do “rush”, reuniões e festas escolares, todavia o foco está equivocado. A presença do idoso na vida das crianças deve ser ativa, claro, mas na construção de conhecimento, na troca de experiência e na experimentação diária. É preciso preencher as horas de ociosidade das pessoas da terceira idade com atividades gratificantes e prazerosas. A
acervo do grupo
PARA O MOTOR E DEVAGAR POUSAR NO CHÃO”
REISADO BAILE ESTRELA JAPARATUBA-SE ACERVO DO GRUPO
ideia não é criar uma obrigação e sim usar as atividades de artes como ferramenta de estímulo, reconhecimento e troca de experiências. A dança, por ser uma realidade do cotidiano dos idosos, traz consigo memórias, resgata tradições, estimula as relações intergeracionais, mostra-se como uma atividade artística a qual melhora o desenvolvimento físico, as relações interpessoais, interfere no processo de ativação da memória e de estímulo intelectual e na transformação dessas pessoas no sentido de proporcionar mais qualidade de vida. Compreende-se, portanto, que as danças folclóricas e as danças de salão podem ser utilizadas diariamente na vida da terceira idade, ambas são espontâneas, estão na base da formação cultural das comunidades e podem ser executadas por qualquer pessoa, criando laços entre homens e mulheres, entre jovens e idosos. Por conseguinte, as pessoas da terceira idade que participam de experiências como a dança tornam-se cidadãos atuantes, respeitados na sociedade em que vivem.
8
Revista
Função
Referências BARBOSA, Ana Mae. Programa Roda Viva.São Paulo, Fundação Padre Anchieta. FAPESP, 18 out. 1998. Entrevista a Paulo Markun. Disponível em: < http:// www.rodaviva.fapesp.br/materia/370/ entrevistados/ana_mae_barbosa_1998. htm> Acessado em 12 mai. 2015 KALACHE, Alexandre. Envelhecimento populacional no Brasil: uma realidade nova. Caderno Saúde Pública. vol.3 no.3 Rio de Janeiro July/Sept. 1987. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1987000300001&script=sci_arttext> Acesso em 08 out. 2015. SOUZA, Mônica Ferreira de. et al. Contribuições da dança para a qualidade de vida de mulheres idosas. EFDeportes. com. Revista Digital. Ano 15. Nº 148. Buenos Aires, Set. 2010. Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd148/ contribuicoes-da-danca-para-mulheres-idosas.htm> Acessado em 09 out. 2015.
DUAS MANIFESTAÇÕES POPULARES AINDA EXISTENTES EM ARACAJU:
O REISADO E O REPENTE
acervo do grupo
1
Marília Barroso2 e Milton Leite3 O Estado de Sergipe na atualidade apresenta cerca de 30 grupos folclóricos, sendo a maior parte desse universo composta por grupos parafolclóricos. Dentre estes, alguns utilizam da diversidade cultural do folclore sergipano para constituir produções artísticas como, por exemplo, os grupos de teatro: Cia Mafuá, Grupo Imbuaça e o Instituto de Artes Cênicas de Aracaju (IACEMA). Esses grupos em suas apresentações privilegiam figuras, músicas e dramatizações de vários folguedos, sendo, portanto, divulgadores dos grupos 1 Texto elaborado à partir de Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação Ciência oficiais de folclore que estão sue Tecnologia de Sergipe – IFS para aquisição de grau em Tecnologia em Gestão de Turismo, Julho cumbindo em meio à cultura de de 2010. 2 Graduada em Letras/Português pela UNIT. Graduada em Gestão de Turismo/Ecoturismo pelo massa, impelidos a apresentações IFS. mariliandbar@gmail.com pontuais e irrisoriamente pagas e 3 Ator, bailarino, pesquisador de folclore. Graduado em Gestão de Turismo/Ecoturismo pelo IFS. vitimados pela periferização. milton.leite.cultural@gmail.com
9
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do grupo
“TRÊS DE LÁ, TRÊS DE CÁ SOZINHA NO MEIO NÃO POSSO BAILAR SE EU SOUBESSE QUE HAVIA FUNÇÃO TRAZIA UM MORENO NO MEU CORAÇÃO”
REISADO DO MARIMBONDO - PIRAMBU - SE, MAIS DE UM SÉCULO DE RESISTÊNCIA. ACERVO DO GRUPO
A periferização cultural se caracteriza pela dispersão dos grupos tradicionais para áreas periféricas dos centros urbanos. Os grupos folclóricos da Grande Aracaju/SE são exemplo dessa situação. Anteriormente concentrados próximos às áreas com público e os locais onde se apresentavam, esses grupos foram segmentados pela massificação da cultura urbana e aqueles que ainda conservam os traços tradicionais se aglomeram na periferia ou em áreas distantes dos centros urbanos. Observa-se que os grupos remanescentes estão em povoados ou em áreas centrais, sendo reconhecidos apenas por comunitários e raras pessoas alheias ao lugar. Dessa forma passam despercebidos pela maioria da população e lutam cotidianamente para os mais jovens, mesmo tentados pela cultura de massa, identificarem-se com a tradição e permanecerem brincantes e fazedores daquela arte. Na diversidade cultural sergipana há destaque também para os repentistas e as festas juninas patrimônios imateriais. Estas, espalhadas por todo o Estado, incorporam-se à tradição da celebração de São João e à promoção do turismo. Frisa-se a mescla entre o momento religioso e o profano, característica comum na cultura do
Nordeste. Fenômeno apropriado pela atividade turística servido de atrativos culturais, religiosos e de lazer. O Repente tem origem desconhecida, acredita-se que proveniente da cultura árabe, ‘‘foi introduzido no Brasil a partir dos portugueses como herança dos trovadores medievais” (ESSINGER, 1999, p.1). No Nordeste, inclusive no Estado de Sergipe, observa-se o canto independente do acompanhamento musical. Os instrumentos tocam exclusivamente quando ninguém está cantando. Essa poética do improviso costuma atrair grupos de populares e o interesse dos turistas. Os repentistas são trovadores, ou cantadores de versos, que improvisam (o “Repente”), sobre os mais variados temas, ao som de uma música simples tocada em violões ou violas. Ao final de um verso de geralmente seis a dez linhas, os ouvintes viram “doutor” e “doutora” e são objetos de comentários produzidos pela prodigiosa imaginação dos repentistas. Estes se espalharam pelo Nordeste, em Sergipe costumam frequentar áreas de visitação turística principalmente na Capital. É possível encontrá-los nos Mercados Centrais de Aracaju e na orla da praia de Atalaia, realizando suas rimas e encantando os espectadores.
10
Revista
Função
Na percepção dos trovadores de Aracaju o problema de um espaço adequado e da divulgação não é exclusivo do Reisado, para o repentista José Angelim precisava que houvesse cobertura dos gestores da cultura, um olhar para os repentistas e dar determinada cobertura, fixar um local, porque de certa forma impossibilitados de cantar com satisfação. É importante ressaltar que a cultura do cordel existente em Aracaju é importada de outros Estados do Nordeste, como Alagoas e Pernambuco. Porém, esse fato não desmerece a grandiosidade dessa manifestação singular de origem popular. No Repente em Sergipe se destacam algumas personalidades como Vem-Vem do Nordeste, Neve Branca e Rouseiná, Chiquinho do Além Mar (também cordelista), Curió e Pena Branca, João Batista, Angelim, Zé Luiz e Teobaldo. Os repentistas no estado costumam cantar em duplas ou tercetos a depender do público a que vão exibir-se. Algumas vezes apresentam-se um a um. A formação Cultural de Aracaju assemelha-se à do Estado, as influências dos grupos étnicos fundiram-se às advindas da transformação local e da inserção da cultura dos moradores de outras cidades que vieram comercializar ou morar na Capital. Na antiga Aracaju, aconteciam no mês de dezembro as feirinhas natalinas tinham início no dia 8 de dezembro e iam até as Festas de Reis. Carregadas de tradições, cultura e lazer, a Feirinha de Natal era momento de festa na praça do parque Teófilo Dantas, havia um parque infan-
til, à época o “Carrossel do Tobias” e um Presépio, além da tece quinze dias antes do Carnaval de Salvador/Bahia. No realização da Missa do Galo. Nessa época, os grupos folcló- mês de junho é a vez dos festejos juninos, a Capital sergiricos se apresentavam nas feirinhas, entre eles o Reisado, pana vira um verdadeiro arraial, nesse período é montado que homenageava o nascimento do Cristo e contagiava as o “Arraial do Povo”, na Orla de Atalaia, constituído por vápessoas ali presentes. rios anos por duas estruturas consecutivas. A primeira no Em Aracaju destaca-se como manifestação que preser- formato de uma vila e um arraial, onde há apresentação de va a cultura da dança dramática o Reisado de Dona Hele- autêntico forró pé de serra, folguedos e quadrilhas juninas, na, no Mosqueiro, Zona de Expansão da Capital. Segundo contidos pelos grandes shows com artistas de renomes naessa mestra após a morte do Mestre que fazia o “caboclo” cionais e locais ocorridos no palco ao fundo do arraial. há alguns anos, o Reisado de Nossa Senhora da Conceição Na opinião de Isaac Enéas Galvão (2010, entrevista, p.iv), do Mosqueiro começou a se desfazer, na atualidade existe Diretor do Centro de Criatividade, a questão da cultura muo Reisado dos Pequenos, descendente da formação original, nicipal, as festas e o turista percorrem um roteiro que foge composta por neto e netas de Dona Helena e meninas da das singularidades aracajuanas, divulgando-se o macro, havizinhança que se apresentam com maior frequência. vido em outros lugares e esquecendo-se do carro de frutas, É interessante ressaltar a identido artesão, do brincante de Reisado. dade coletiva, nas palavras de pesFica claro, então, que essas grandes quisadora Maria Aurelina dos Santos festas encobrem, mimetizam e camu“SOU UMA LINDA CABOCLA (2010, entrevista, p.II), criado pela Seflam a cultura das festas promovidas nhora Helena, desde o início dos popelos moradores nos bairros duranDE LINDA SOU FEITICEIRA voados na região do Mosqueiro o seu te os festejos de Santo Antônio, São Reisado é conhecido e elogiado (2010, João, São Pedro e São Paulo. Nessa ANDO NO MEIO DA MATA entrevista, p.III). Segundo Antônio Carépoca as pessoas costumam observar los, mestre de Reisado, “o Reisado do e participar das comemorações das PROCURANDO QUEM ME Mosqueiro é único, não havendo ramicomunidades da Capital. Inclusive no ficações ou influências dos externos, bairro Mosqueiro, Zona de Expansão QUEIRA” inclusive os instrumentos utilizados de Aracaju, há uma festa em que o têm suas peculiaridades, como o uso samba de coco, manifestação do ciclo do reco-reco”. Outra particularidade junino local se apresenta. Na ocasião, desse grupo, destacada por Maria Aurelina dos Santos, “é a as figuras remanescentes do Reisado de Nossa Senhora da dupla indumentária e a coloração da roupa”. O azul e o en- Conceição e os personagens do Reisado dos Pequenos, amcarnado são trocados pelo verde mar e o encarnado para bos do Mosqueiro, movidos pela vontade de brincar e expor apresentação em festa profana, havendo os dois cordões e a arte que fazem, também participam dos festejos, embora o partidário. Quando a apresentação é religiosa a veste é fora do ciclo natalino. E, entre tantos outros momentos em composta apenas pela cor verde mar (usada por todas as que as manifestações aparecem para que sejam vivenciafiguras). Conforme a pesquisadora não há outro Reisado em das pelos aracajuanos, estes ainda optam por ignorar o som Sergipe com esse desempenho. da zabumba do Reisado e o reco-reco do samba de coco. No que se refere a este Reisado e pode ser estendido às Por fim, diante do que foi posto pergunta-se: por que demais manifestações de Aracaju, o mestre Antônio Silva essas manifestações precisam ser abandonadas, periferi(ibdem, ibdem) conceitua a dança, o canto e a representação zadas, deixadas à mercê de suas autossuficiências? Ou os que produzem como arte e precisa de um espaço para ser fazedores da cultura popular não deveriam ter sido excluímostrado, pois, a área onde brincam o Reisado é de difícil dos dos centros urbanos e sim enaltecidos e reconhecidos acesso, de fato escondida. Aurelina Santos legitima essa cotidianamente por serem autênticos e respeitarem as oriindagação e afirma que há necessidade de divulgação para gens? Por que se contratam inúmeras atrações de que as pessoas de Aracaju, inclusive, estejam cientes da renome nacional pagando valores exorbitantes e existência da manifestação. se retribuem com migalhas os grupos folclóricos, Aracaju atualmente está famosa pelas festas populares patrimônio histórico, cultural e humano que o Esque já fazem parte do calendário nacional, como o “Pré-Ca- tado possui e Aracaju, quase não consegue conju”, evento considerado parte do roteiro turístico, que acon- servar?
11
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do grupo
TURISMO CULTURAL E INCLUSÃO SOCIAL:
O REISADO E O REPENTE DE ARACAJU
1
Marília Barroso2 e Milton Leite3 Sustentabilidade, replicação, participação dos munícipes, parcerias com a iniciativa privada, educação, envolvimento comunitário e capacitação estão entre os princípios que fazem do Turismo de Inclusão Social uma rica experiência de exercício da cidadania, enquanto cuida de preservar a memória e a cultura brasileira. E se isso é possível, não se pode, então, negar a importância do resgate cultural das manifestações e produções populares para o desenvolvimento real do turismo. Partindo desse pressuposto e frisando a importância de se conceber que todo turismo é cultural, pode-se inferir a inexistência do estímulo contínuo aos brincantes, tocadores, cantadores e descendentes como defla-
gradora de uma ascendente aversão à manutenção de manifestações culturais. Ao mesmo tempo, o fenômeno capitalista pressiona atividades tradicionais para as periferias das cidades e o folclore passa a não ser mais praticado com frequência, sobrevivendo alguns grupos. Uma característica evidente é o desprezo dos jovens em relação às brincadeiras de pais e avós, dessa forma não há transmissão de saberes e as manifestações são extintas gradativamente. Esse processo de exclusão das culturas tradicionais para periferias ou áreas afastadas dos centros urbanos pode apresentar duas vertentes
analíticas claramente opostas. Uma primeira verifica o isolamento desses grupos folclóricos como meio através do qual a tradição consegue ser mantida. Argúi-se essa visão partindo da premissa de que cultura é algo dinâmico e a corrente isolacionista defenderia que com a finalidade de se conservar as manifestações tradicionais seria imprescindível colocá-las em uma redoma tão estranha à sociedade quanto às massas, permanecendo estas alheias à tradição. A segunda corrente pressupõe o questionamento dos processos homogeneizadores da produção cultural em função de suas consequências so-
Texto elaborado a patir de Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação Ciência e tecnologia de Sergipe (IFS) para aquisição de grau em Tecnologia em Gestão de Turismo, Julho de 2010. 2 Graduada em Letras/Português pela UNIT. Graduada em Gestão de Turismo/Ecoturismo pelo IFS. mariliandbar@gmail.com 3 Ator, bailarino, pesquisador de folclore. Graduado em Gestão de Turismo/Ecoturismo pelo IFS. milton.leite.cultura@gmail.com 1
12
Revista
Função
acervo do grupo
ciais tais como a perda de identidade e massificação cultu- de que há a possibilidade de se revalorizar essa cultura e ral. Dessa forma o que se vê na realidade não é a conserva- aproveitá-la como parte do produto turístico sergipano. ção das tradições, por certo se tem que as manifestações A partir do Turismo Cultural com Base Local há a posfolclóricas necessitam estar em uma dinâmica de interação sibilidade de se estar inserindo essas comunidades remacontínua com as sociedades, o afastamento dos brincantes nescentes e estimulando o surgimento de seguidores, ou a áreas periféricas tem como consequência a necessidade seja, de novos grupos brincantes. Desde que a atividade deles se submeterem à cultura de massa cogitada prin- esteja fundamentada na educação patrimonial, no respeito cipalmente pelos mais jovens. Isto é, ao invés de deseja- às culturas pode-se chamar a atenção de jovens, crianças rem prosseguir a tradição de pais e avós, sentem-se fora e adultos que pela desvalorização local da cultura não se de moda e se envergonham da arte produzida, deixando de sentem à vontade ao brincar um samba de coco, o Reisado praticá-la. ou apreciar o Repente. Aracaju é um exemplo desse fato. A sugestão é utilizar a geração Já houve dezenas de grupos folclóride renda através de apresentações cos brincando nos bairros da Capital e culturais para que essa possibilicomo se pode notar são remanescendade atraia a comunidade aracates os grupos que permaneceram na juana de maneira a aproveitar a Cidade e se encontram em área pericultura manifesta e conservá-la. férica, ou Zona de Expansão, tentando O estímulo do Turismo Cultural sobreviver do desejo das próprias coao brincante não está engessado munidades de brincar, pois os incentino setor econômico. A valorização vos governamentais são raros. Outros da cultura local poderá promover se encontram nos municípios vizinhos a autovalorização das famílias e sofrendo o mesmo processo de desinsuas culturas, transformando cosMESTRE SABAU E REISADO DO MARIMBONDO tegração. São minoria os jovens que tumes em atrativos valorativos. -100 ANOS DE HISTORIA participam dos grupos tradicionais, É de fato imprescindível conhegeralmente os grupos são familiares e cer esses fazedores, saber suas outras pessoas não se sentem estimuladas a ter o compro- necessidades, onde estão, em que condições sobrevivem, a misso de perpetuar aquela tradição. fim de se melhor aproveitar sua cultura ou arte para a proQuando se trata do Repente, no que diz respeito a essa dução de entretenimento, geração de renda e a promoção transformação e isolamento urbano, nota-se uma maior da valorização do fenômeno cultural. Depreende-se que os aproximação da manifestação com a realidade urbana, prin- reflexos negativos os quais por anos têm acompanhado o cipalmente, por ser desenvolvido por um ou no máximo três turismo são fruto do descaso do patrimônio humano respessoas facilita inclusive o deslocamento. E mesmo tendo ponsável por cada traço do produto turístico. A atividade como vitrine o Mercado Central de Aracaju, não há impedi- turística possui no centro um homem que está em um meio mento para que os repentistas se desloquem por todo Esta- físico, rodeado por uma cultura e, por isso mesmo, é único. do interagindo com pessoas diversas e culturas infinitas. O Desta forma, o lugar, a cultura e o ambiente transformado maior problema continua sendo a visão de que são os ges- para garantir a sobrevivência tornam-se atrativos e turistitores os responsáveis por pagar condução e alimentação, camente viáveis. isso suscita a preferência das iniciativas públicas e privadas Os temas contemporâneos fundamentais em relação à por deixá-los em um ponto turístico apenas, ao invés de fi- atividade turística, tais como: Turismo e Desenvolvimento nanciar a difusão dos prosadores para toda a cidade. Sustentável e Cidadania, Participação Comunitária e DesenEm situação menos favorável se encontra o Reisado, volvimento Local podem ser reunidos em três eixos: Turisporque mesmo havendo grupos parafolclóricos na Capital mo, Cultura e Comunidade. Assim, o conceito de sustentareacendendo essa cultura, os grupos tradicionais reconheci- bilidade assume uma importância central, na reavaliação do dos não podem levar a brincadeira para o público, devido às papel do turismo na sociedade, ao exigir uma visão de longo condições inapropriadas para a apresentação dos grupos, prazo da atividade econômica, considera o imperativo do à ausência de transportes ou indumentária que terminam crescimento econômico contínuo e garante que o consumo por desestimular os brincantes. Enfim, estão abandonados do turismo não vá exceder a capacidade de um destino anà mercê da boa benesse de gestores ou à espera do São fitrião de satisfazer futuros turistas. Acompanha também a João e do Natal. Por outro lado, o fato de ainda persistir esse recomendação de um olhar da comunidade sobre si própria. folclore apesar das pressões para seu fim culmina na ideia Verificando-se como os gestores, contratadores dos re-
13
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do Grupo
acervo do grupo
pentistas para apresentar seu número, veem as condições de vida ou de trabalho desses atores infere-se que analisam essas questões da mesma forma com a qual os tratam: sem questionar, desprendidos de qualquer atenção maior do que o contrato temporário. Há uma crença de que o significado de estimular a cultura tem relação com a elaboração e venda de um pacote com todas as manifestações para que, como objetos de vitrine, um mês no ano, exponham seu patrimônio material ou imaterial para satisfazer curiosos ou apreciadores alienados. A análise e a averiguação dos fenômenos que ocorrem no lugar são advogadas como primeiros passos para se romperem com o empirismo e a aleatoriedade até então vivenciados na atividade turística. O envolvimento da população local introduz a ideia de que é possível administrar o destino, a atividade, os impactos e os recursos. Os profissionais e empresas do turismo deveriam ter a obrigação de incluírem na oferta de produtos de Aracaju: as festas, danças e os folguedos que a população
VAILTON CABOCLO DO REISADO DO MOSQUEIRO Foto: Marília Barroso
do lugar realiza. É importante pensar em turismo cultural e turismo sustentável de forma a conservar a cultura e os aspectos materiais e simbólicos da Cidade a partir da organização, preparo e estruturação da comunidade a fim de gerar emprego e renda pela promoção da sua arte sem, contudo, descaracterizá-la. É imprescindível entender que não é possível haver turismo sem trocas, a importância da comunidade não está baseada em seus serviços prestados, e sim, no seu caráter receptor, na simpatia e prestatividade, até mesmo sua solidariedade perante os turistas. Tem-se como verdade que todo
REISADO DE SANTO ANTONIO NOVA DESCOBERTA ITAPORANGA D’JUDA SERGIPE
14
Revista
Função
turismo é cultural e em sua ânsia de satisfazer os desejos dos clientes/ turistas faz-se preciso entendê-los como parte de uma cultura. E ainda mais, compreender que o local visitado como celeiro de patrimônios humanos, os quais podem ser aproveitados e incluídos merecidamente como parte dos atrativos. Acredita-se que na possibilidade do Turismo Cultural ser utilizado como estratégia de revalorização das manifestações folclóricas de Aracaju dentre elas o Reisado e o Repente e, ao mesmo tempo, promover a inclusão e o desenvolvimento, desde que haja o olhar dos gestores públicos e privados no mesmo foco, voltado para as comunidades produtoras de cultura, respeitando suas singularidades e suas necessidades e construindo juntos (gestores e comunidade) o receptivo da Capital Sergipana. Diante dessa análise, indaga-se: quanto é que falta para que essa ideia floresça entre os gestores e a comunidade aracajuana seja presenteada com o que há de melhor: o bem estar de seu capital humano, seu patrimônio cultural?
MANIFESTAÇÃO POPULAR
Paulo Roberto Gomes do Nascimento1
acervo do grupo
REISADO Os colonizadores assim que chegaram ao Brasil trouxeram contribuições culturais e uma das manifestações foram o Reisado, e outras que traduziam o comportamento religioso da Europa. Todo continente brasileiro tem conhecimento do Reisado, tendo em vista uma manifestação religiosa e profana, que para cada região ou estado se apresenta em procissões, festas de padroeiros e conforme as necessidades em eventos culturais. O Reisado é formado por músicos, cantores e brincantes que desenvolvem evoluções e percorrem as ruas da comunidade e contam histórias através das figuras que se apresentam principalmente nas zonas rurais. Durante o período natalino o reisado se apresenta com características diferentes das comuns em festas fora de época. Reisado é uma grupo de dança tipicamente natalino e possui as cores conforme sua própria história azul e vermelho simbolizando o manto de Maria e o sangue de Cristo. Tem variações como já citei anteriormente conforme as regiões. Podemos encontrar nos estado de Sergipe, Alagoas e Bahia como também em outros estados com variações. Boi Bumbá, Bumbá meu Boi, Boi de Minas, entre outros. Em São Paulo conhecido como Folia de Reis. Componentes do Reisado: Boi Janeiro, Dona Deusa, Palhaço (Mateus), viuvinha, cabocla, Mestre Contra Mestre, Rei, Rainha, personagens que fazem parte da comunidade e tem a presença de animais como O Boi, Jaraguá e outros conforme a região.
15
Durante a evolução do folguedo podemos observar encenações, diálogos entre Dona Deusa e o Palhaço Mateus fazendo referências aos animais e as figuras brincantes e aproveitam fazem homenagens aos políticos e contam histórias engraçadas de pessoas próximas e ilustres da cidade conforme o momento festivo. O folguedo durante sua evolução apresenta várias partes: a abertura, ou abrição de porta, entrada, louvação ao divino, chamadas do rei, peças da sala, danças, combate: amor, guerra, religião entre outros e encerramento da função. Quem sempre comanda é o Mateus ou a Rainha Dona Deusa ou Dona do Baile, fazendo perguntas e convidando as figuras para o centro da dança. Quanto aos instrumentos são utilizados sanfonas, tambor e triângulo, em regiões diferentes podemos observar uso de pífano, viola, zabumba, rabeca, entre outros. Indumentária muito rica com fitas coloridas com exceção do preto (luto), chapéus com bastante fitas e espelhos, saias rodadas, tênis e meias brancas (tamancos). O mestre é o regente do espetáculo e faz com que as músicas sejam respondidas pelos brincantes e dançados com rebolados. Sempre com mais mulheres no folguedo, e coreografados conforme o desejo do responsável do grupo. Em Sergipe os Reisados mais famosos encontramos em Laranjeiras, Pirambu e Aracaju (Mosqueiros), Em todos os municípios se dançam Reisados um diferente do outro conforme o seu mestre e sua origem. Nos dias atuais as características foram alteradas devido a evolução e os meios de comunicação. Professor Paulo Roberto Gomes do Nascimento é graduado em Geografia Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Sergipe. Renomado pesquisador da cultura popular no Estado de Sergipe. 1
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Uma festa e uma
lembrança
Antonio do Amaral *
E
m meio ao brilho dos fogos na inauguração do Largo da Gente Sergipana, uma bela homenagem às danças e folguedos da cultura popular de Sergipe, Lambe-sujos e Caboclinhos, Bacamarteiros, Cacumbi, Parafusos, Batucada Pisa-pólvora, Reisado, Chegança, Taieiras e São Gonçalo, lembrei de você, companheira de tantas jornadas, Maurelina Santos. Por certo, estaria muito feliz com o resultado do projeto idealizado pelo Presidente do Instituto Banese, Ézio Déda, e que contou com a sensibilidade administrativa do Governador do Estado, Jackson Barreto. Porque a sua paixão, a sua entrega ao trabalho relacionado à cultura po-
pular era exemplar. Não importava a hora, nem o dia, estava em povoados e cidades, no contato com os mestres para participação dos grupos nos mais diversos eventos organizados pela Secretaria de Estado da Cultura, a exemplo do Arraial do Povo, realizado no mês de junho, na Orla da praia de Atalaia. Bastava um contato e lá vinham eles. Repentistas, Bandas de Pífanos, grupos de Samba de Coco, Bacamarteiros, Batucada Pisa-pólvora chamavam a atenção de sergipanos e turistas que prestigiavam a programação. Defensora ferrenha das tradições, ficava contrariada ao ver alguma manifestação da cultura popular alterar as cores das fitas, dos chapéus ou das indumentárias. Procurava o mestre e conversa sobre a necessidade de manter as cores originais para que não fossem modificados os traços identitários. Outro aspecto que a preocupava em demasia era o recebimento dos cachês. Então, acompanhava o trâmite
16
Revista
Função
para manter os grupos bem informados. Uma pena que não tenha vivenciado uma grande festa dedicada às danças e folguedos sergipanos. Mas tenho certeza, Maurelina, que seu nome povoou a memória dos mestres e integrantes de cada grupo homenageado naquela tarde e noite do dia dezessete de março de dois mil e dezoito. Créditos da fotografia: http://www. jornaldacidade.net/noticia-leitura/130/86783/corpo-de-- maurelina-santos-sera-sepultado-hoje.html * Professor, pesquisador e compositor sergipano.
Canções
DO NOSSO povo MEUS SENHORES BOA NOITE MEUS SENHORES BOA NOITE BOA NOITE EU VENHO DAR MEUS SENHORES BOA NOITE BOA NOITE EU VENHO DAR EU QUERO QUE ME DÊ LICENÇA PRA O BAILE “ARREPRESENTAR” PRA O BAILE “ARREPRESENTAR” LICENÇA SENHORA DONA E TODOS QUE AQUI ESTÃO LICENÇA SENHORA DONA E TODOS QUE AQUI ESTÃO POIS AGORA EU VENHO SABER SE EU POSSO BRINCAR OU NÃO SE EU POSSO BRINCAR OU NÃO
HOJE É NOITE DE NATAL NINGUÉM SE DEITA EM COLCHÃO NINGUÉM SE DEITA EM COLCHÃO QUE NASCEU MENINO DEUS QUE NASCEU MENINO DEUS E MARIA PELO CHÃO E MARIA PELO CHÃO QUE ESTELAS SÃO AQUELAS QUE ESTRELA SÃO AQUELAS QUE VEM DO FORTE DO MAR QUE VEM DO FORTE DO MAR SÃO OS TRÊS REIS MARIANTES SÃO OS TRÊS REIS MARIANTES A JESUS VEM ADORAR A JESUS VEM ADORAR UM RAMINHO, DOIS RAMINHOS UM RAMINHO, DOIS RAMINHOS CADA RAMO A SUA FLOR CADA RAMO A SUA FLOR
AH SENHORA CONTRAMESTRA ME DIGA DE ONDE VEM AH SENHORA CONTRAMESTRA ME DIGA DE ONDE VEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SITIO DO MEU BEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SITIO DO MEU BEM AH SENHORA CONTRAGUIA ME DIGA DE ONDE VEM AH SENHORA CONTRAGUIA ME DIGA DE ONDE VEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SITIO DO MEU BEM
ENTREMOS, ENTREMOS ENTREMOS, ENTREMOS EM JARDIM DE FLOR ENTREMOS, ENTREMOS EM JARDIM DE FLOR É DO NASCIMENTO, É DO REDENTOR É DO NASCIMENTO, É DO REDENTOR MINHA CONTRA MESTRA QUEM FOI QUE PASSOU MINHA CONTRA MESTRA QUEM FOI QUE PASSOU FOI O REI DE FRANÇA MAIS NOSSO SENHOR FOI O REI DE FRANÇA MAIS NOSSO SENHOR PARA SER LOUVADO É DE SER TODAS TRÊS PARA SER LOUVADO É DE SER TODAS TRÊS NATAL, ANO BOM E ATÉ DIA DE REIS NATAL, ANO BOM E ATÉ DIA DE REIS ENTREMOS, ENTREMOS EM BELO JARDIM ENTREMOS, ENTREMOS EM BELO JARDIM VIEMOS ADORAR AO SENHOR DO BOMFIM VIEMOS ADORAR AO SENHOR DO BOMFIM
BENDITO BENDITO LOUVADO SEJA BENDITO LOUVADO SEJA O MENINO DEUS NASCIDO O MENINO DEUS NASCIDO QUE NO VENTRE DE MARIA QUE NO VENTRE DE MARIA NOVE MÊS TEVE ESCONDIDO NOVE MÊS TEVE ESCONDIDO ESCONDIDO SEM ACHAR ESCONDIDO SEM ACHAR MISSA NOVA VEM CANTAR MISSA NOVA VEM CANTAR HOJE É NOITE DE NATAL HOJE É NOITE DE NATAL HOJE É NOITE DE NATAL
EU TAVA APANHANDO CAFÉ
SETE ESTRELINHAS
LÁ NO SITIO DO MEU BEM
OI CHEGOU AS SETE ESTRELINHAS OI CHEGOU AS SETE ESTRELINHAS ÔH NESSA TERRA DE AMOR ÔH NESSA TERRA DE AMOR ELA VEM COM RAIO DOURADO ELA VEM COM RAIO DOURADO ELA VEM CANTANDO LOUVOR ELA VEM CANTANDO LOUVOR OI CHEGOU AS SETE ESTRELINHAS OI CHEGOU AS SETE ESTRELINHAS ÔH NESSA TERRA DE AMOR ÔH NESSA TERRA DE AMOR ELA VEM COM RAIO DOURADO ELA VEM COM RAIO DOURADO ELA VEM CANTANDO LOUVOR ELA VEM CANTANDO LOUVOR APANHAR CAFÉ AH SENHORA DONA DEUSA ME DIGA DA ONDE DE VEM AH SENHORA DONA DEUSA ME DIGA DA ONDE DE VEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SÍTIO DO MEU BEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SÍTIO DO MEU BEM
17
AH SENHOR MEU MATEUS ME DIGA DE ONDE VEM AH SENHOR MEU MATEUS ME DIGA DE ONDE VEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SITIO DO MEU BEM EU TAVA APANHANDO CAFÉ LÁ NO SITIO DO MEU BEM
TRABALHA NÊGO MEUS SENHORES BOA NOITE OH LELÊ MEUS SENHORES BOA NOITE OH LELÊ BOA NOITE EU VENHO DAR BOA NOITE EU VENHO DAR QUERO QUE ME DÊ LICENÇA OH LELÊ QUERO QUE ME DÊ LICENÇA OH LELÊ PRA MEU REISADO BRINCAR PRA MEU REISADO BRINCAR TRABALHA NÊGO TÔ TRABALHANDO TRABALHA NÊGO TO TRABALHANDO TRABALHA NÊGO TÔ TRABALHANDO TRABALHA NÊGO TO TRABALHANDO
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
ÊH BOI JANEIRO MARCHEI AO SERTÃO MARCHEI, MARCHEI AO SERTÃO ASSIM MESMO EM TRAJE DE MULHER MARCHEI, MARCHEI AO SERTÃO ASSIM MESMO EM TRAJE DE MULHER O GARROTE ASSIM QUE ME VIU NÃO FUGIU, ELE FICOU DE PÉ O GARROTE ASSIM QUE ME VIU NÃO FUGIU, ELE FICOU DE PÉ LEVANTA PASTORA, LEVANTA VEM VER LEVANTA PASTORA, LEVANTA VEM VER VEM VER MEU GARROTE QUE JÁ VAI MORRER VEM VER MEU GARROTE QUE JÁ VAI MORRER EU TAVA TÃO TRISTE AGORA TÔ CONTENTE EU TAVA TÃO TRISTE AGORA TÔ CONTENTE EM VER MEU GARROTE NO MEIO DA GENTE EM VER MEU GARROTE NO MEIO DA GENTE
CHEGOU, CHEGOU MEU BOI CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA O MEU BOI É BONITINHO É BONITINHO, É UM PRIMOR ANTES DE MEU BOI MORRER VAI VISITAR O TOCADOR CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA O MEU BOI É BONITINHO É BONITINHO É UMA BELEZA ANTES DE MEU BOI MORRER VAI VISITAR A DONA DEUSA CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA EU SEI ENTRAR, EU SEI SAIR EU SEI SAIR, EU SEI ENTRAR, ANTES DE MEU BOI MORRER VAI VISITAR O PESSOÁ CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA CHEGOU, CHEGOU, CHEGOU MEU BOI AGORA SE QUISER QUE EU DANCE EU DANÇO SE NÃO QUISER EU VOU EMBORA
EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS EU BEM DISSE A JANEIRO QUE NÃO FOSSE LÁ NO PASSAR DA PORTEIRA LEVAVA MANGUÁ EU BEM DISSE A JANEIRO QUE NÃO FOSSE NÃO NO PASSAR DA PORTEIRA LEVAVA FERRÃO EU PEGUEI NO FOCINHO ELE TEM UM ESPINHO EU PEGUEI NOS DENTES MORREU DE REPENTE DO COURO DO BOI FAÇO MEU COBERTOR E O SEU CORAÇÃO ELE É MEU EU NÃO DOU AS TRIPAS GAITEIRA É PRA MULHER DA FEIRA A TRIPA MAIS GROSSA É DA MULHER DA ROÇA A TRIPA MAIS FINA É PRA’QUELA MENINA REPARE A DANA QUE TÁ TODA MUFINA O PESO DO COXÃO VAI PARA SEU JOÃO O PESO DO FILÉ VAI PARA SEU MANÉ O PEDAÇO DELGADO VAI PRO DELEGADO FOI QUEM LIBEROU PRA EU DANÇAR MEU REISADO O PESO DA RABADA É PRA RAPAZIADA O OSSO CORREDOR VAI PRO MEU TOCADOR EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS
JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PRA MULHER DA ROÇA JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DA TRIPA MAIS GROSSA JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PRA MULHER DA FEIRA JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DA TRIPA GAITEIRA JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA O MEU VIZINHO JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DO PESO DO FOCINHO JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA A MINHA AVÓ JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DOS QUATRO MOCOTÓ JANEIRO RIÁ EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS EH BOI JANEIRO DE MINA ACABOU-SE JANEIRO FULÔ DAS MENINAS
ADEUS MEU POVO TODO JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA O SEU JOÃO JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DO PESO DO COXÃO JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA O DELEGADO JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DO PEDAÇO DELGADO JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA A RAPAZIADA JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DO PESO DA RABADA JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA O TOCADOR JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DO OSSO CORREDOR JANEIRO RIÁ EU MANDEI UM BILHETE JANEIRO RIÁ PARA AQUELA MENINA JANEIRO RIÁ PRA MANDAR O DINHEIRO JANEIRO RIÁ DA TRIPA MAIS FINA Revista
18
Função
ADEUS MEU POVO TODO ATÉ QUANDO EU TORNAR A VOLTAR ADEUS MEU POVO TODO ATÉ QUANDO EU TORNAR A VOLTAR ADEUS ATÉ PARA O ANO ATÉ A NOITE DE NATAL ADEUS ATÉ PARA O ANO ATÉ A NOITE DE NATAL VAMOS DAR A DESPEDIDA COMO DEU A SARACURA VAMOS DAR A DESPEDIDA COMO DEU A SARACURA BATEU ASAS E VOOU COISA BOA NÃO HÁ CURA BATEU ASAS E VOOU COISA BOA NÃO HÁ CURA VAMOS DAR A DESPEDIDA CHAPÉU FORA DA CABEÇA VAMOS DAR A DESPEDIDA CHAPÉU FORA DA CABEÇA MEUS SENHORES MINHAS SENHORAS NÃO SEI COMO LHE AGRADEÇA MEUS SENHORES MINHAS SENHORAS NÃO SEI COMO LHE AGRADEÇA
EU VOU EMBORA EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO VOU ANDANDO VOU OLHANDO PARA TRÁS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS MEU POVO REISADO NÃO VOLTA MAIS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO EU VOU OLHANDO PARA TRÁS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS MEU POVO REISADO NÃO VOLTA MAIS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO VOU OLHANDO PARA TRÁS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO EU VOU OLHANDO PARA TRÁS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS MORENA REISADO NÃO VOLTA MAIS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO VOU OLHANDO PARA TRÁS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO EU VOU OLHANDO PARA TRÁS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO VOU OLHANDO PARA TRÁS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS MORENA REISADO NÃO VOLTA MAIS
RAPAZIADA ADEUS ADEUS RAPAZIADA ADEUS ADEUS ADEUS ADEUS EU JÁ ME VOU EU LEVO PENA E SAUDADE DESSE POVO QUE FICOU RAPAZIADA ADEUS ADEUS ADEUS ADEUS EU JÁ ME VOU EU LEVO PENA E SAUDADE DESSE POVO QUE FICOU O MEU AMOR BRIGOU COMIGO E ME CHAMOU RABO DE PEIXE ENTÃO EU RESPONDI PRA ELE SE NÃO ME QUISER ME DEIXE RAPAZIADA ADEUS ADEUS ADEUS ADEUS EU JÁ ME VOU EU LEVO PENA E SAUDADES DESSE POVO QUE FICOU RAPAZIADA ADEUS ADEUS ADEUS ADEUS EU JÁ ME VOU EU LEVO PENA E SAUDADE DESSE POVO QUE FICOU RAPAZIADA ADEUS ADEUS ADEUS ADEUS EU JÁ ME VOU EU LEVO PENA E SAUDADES DESSE POVO QUE FICOU
acervo do grupo
EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO VOU OLHANDO PARA TRÁS EU VOU EMBORA TÃO ME CHAMANDO EU VOU ANDANDO EU VOU OLHANDO PARA TRÁS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS TOCADOR REISADO NÃO VOLTA MAIS TENHO SAUDADES DESPEDIDA LEVO PENA ADEUS TOCADOR REISADO NÃO VOLTA MAIS
19
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
DEPOIMENTOS que a gente pode valorizar [...] só se valoriza aquilo que se conhece. Não há outra forma de se entender o que seja valorização, o que seja o culto a sergipanidade”.
escolas [...] nos deparamos com
gundo origem do fato que nos leva a colonização e aí você já entra em
(Entrevista concedida a Milton Leite “[...] nós professores de artes nas
[...] primeiro, a narração do fato, se-
pelo Professor e pesquisador Antonio Amaral/ julho de 2018)
toda a história do Brasil e a história também sergipana [...] outra coisa importantíssima é a música e a dança que são elementos fortes na pre-
vários desafios. Primeiro que é a
sença do reisado e as músicas são
novidade de você está numa escola
muito bonitas, geralmente são mar-
com autonomia de conduzir um pro-
chas, são xotes, são [...] elementos
jeto da inserção da arte na educa-
rítmicos importantes que você pode
ção formal. Mesmo com a base cur-
trabalhar nessa direção pedagógica
ricular determinando, a gente sabe
com a formação musical, com o tra-
da limitação da escola enquanto
balho da percepção [...]
espaço para receber algumas ativi-
os grandes vultos, os mestres dos
dades, embora a gente saiba [...] que a criatividade também do professor poderá facilitar muito a sua vida”.
“A cultura do povo tem que entrar pela porta da frente da escola. Não pode ser uma coisa como uma
conhecer
reisados, a forma orquestral que acompanha as músicas do reisado, a presença da sanfona, do bombo, do pandeiro [...] é tão rico como se
(Entrevista concedida a Milton Leite pela educadora Virgínia Lúcia da
curiosidade, ou então que só se
Fonseca Menezes/ julho de 2018)
comemora no mês de agosto porque
mãos, muitos braços para que você
se convencionou chamar o mês de
pudesse em cada momento você
folclore”.
trabalhar além da história, da origem, da formação, da chegada no
(Aglaé D’Ávila Fontes de Alencar Pesquisadora e Escritora sergipana. Entrevista concedida a Milton Leite/ julho de 2018)
país, também essa questão musical que é riquíssima porque ele tem orquestra, tem vozes e tem dança”. (Aglaé D’Ávila Fontes de Alencar Pesquisadora e Escritora sergipana. Entrevista concedida a Milton Leite/
“Essa é a forma da gente valorizar
julho de 2018)
as nossas raízes e assim conceber aquilo que nós chamamos de sergipanidade, porque se a gente não conhece aquilo que tem como é
fosse assim que tivesse muitas
20
Revista
Função
Histรณria de reisado
21
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
22
Revista
Função
23
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
24
Revista
Função
25
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
26
Revista
Função
Partituras
27
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
28
Revista
Função
Partituras
29
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
30
Revista
Função
Partituras
31
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
32
Revista
Função
Partituras
33
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
34
Revista
Função
Partituras
35
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Partituras
36
Revista
Função
Partituras
37
ANO 1, Nยบ1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
REISADO NO
acervo do grupo
AGRESTE SERGIPANO
O
grupo folclórico Reisado Baile Estrela é fruto de um sonho do José Roberto, um jovem amante da cultura popular sergipana. Sempre foi fascinado por Reisado e a essa paixão se revelou desde muito criança, por isso costuma dizer que está no sangue, e que Deus, ao criá-lo, implantou uma fascinação incurável pelas tradições populares. Quando pequeno, ouvia a avó entoar canções de Reisado, aprendidas na infância quando ainda havia muitos grupos. Cresceu alimentando a esperança de resgatar o Reisado no município de Moita Bonita. Em 2007, tomou a iniciativa de formar o grupo e sair à procura de crianças, adolescentes e jovens que quisessem fazer parte desta missão. Conseguiu reunir alguns participantes, iniciou a jornada de ensaios e no dia 7 de abril de 2007 estreou o Reisado Baile Estrela. Hoje o grupo é composto por 25 membros,
em sua maioria adolescentes e jovens, e tem uma estrutura familiar, sendo também composto por irmãos, sobrinho e primos do líder. O Reisado Baile Estrela já foi premiado pelo Ministério da Cultura no edital de Intercâmbio Cultural do Minc no ano de 2010 para participação na 46° edição do Fefol – Olímpia/SP, bem como, participou também da 48° edição do mesmo evento. O Baile Estrela participou de sete edições do Encontro Cultural de Laranjeiras/SE e da Feira de Sergipe
38
Revista
Função
realizada todos os anos pelo SEBRAE/ SE na capital sergipana, além de incontáveis apresentações em diversos eventos culturais, em colégio e festas de padroeiros. Por José Roberto, Brincante do Reisado Baile Estrela, de Moita Bonita-SE
coral unimed:
O CORAL UNIMED UTILIZA EM SEUS ESPETÁCULOS MÚSICAS DO CANCIONEIRO POPULAR EM ESPECIAL, DA CULTURA SERGIPANA.
A música tem o poder de dissolver as tensões e aliviar a alma, assim como desenvolver e promover integração social, concentração e até combater o stress. Justamente por isso, a Unimed Sergipe, através do Dr. José Augusto Bezerra, criou o grupo do Coral Unimed Sergipe no ano de 2000. Dr. Bezerra tinha uma excelente bagagem profissional, pois, além de médico cirurgião geral, tinha em seu currículo, pós-graduação em música na Escola de Música da Universidade Católica, o que lhe proporcionou grande capacidade e desenvoltura para reger corais. Infelizmente, Dr. Bezerra nos deixou no dia 22 de junho de 2010, em Aracaju, aos 72 anos. No mesmo ano, a maestrina Maria Corina Santos, que também era regida pelo Dr. Augusto Bezerra, assumiu o seu posto com muita dedicação, no qual realiza até hoje diversos trabalhos junto aos participantes, dentre eles, orientações técnico-vocais e relaxamento, impostação de voz e expressão corporal, estímulo ao desenvolvimento da percepção rítmica e melódica, além da integração social, disciplina e criatividade. Atualmente, o Coral Unimed é composto por colaboradores, clientes
e pessoas da comunidade em geral e, desde então, vem desenvolvendo belíssimas apresentações, algumas que já viraram tradição em alguns eventos conhecidos, a exemplo do CantiGRUPO DE DANÇAS FOLCLORICAS DO SINTESE E CORAL UNIMED nho da Arte (evento da Unimed Sergipe para promover a arte e a cultura sergipanas), INCRA e coral de Adolescentes da PriEncontro Nacional de Corais, Canta meira Igreja Batista de Aracaju, além Sergipe, Encontro Nacional de Corais de dirigir a música e coro dos musina Barra dos Coqueiros, CANTAJU, cais - O corcunda de Notre Dame, Os dentre outros. saltimbancos, O Mágico de Oz e O Maria Corina Santos, regente dos Caminho para Eldorado, durante sua corais Emanuel, da Igreja Batista Copassagem pelo colégio Nossa Escola, roa do Meio, Mãe Peregrina, da Igreja como Educadora musical, durante os N. Sra. de Lourdes e Unimed, é formaúltimos dezoito anos. Sempre atuanda em Regência Coral pelo Seminário te no meio musical de nossa cidade, de Educadoras Cristãs, Recife e LiAracaju, o coral Unimed utiliza em cenciada em Música pela Universidaseus espetáculos músicas do canciode Católica do Salvador, pós graduaneiro popular em especial, da cultura da em Arte pela Faculdade São Luiz sergipana. de França. Atua na área da regência coral desde 1986, quando assumiu o Por Nínive de Paula coral do Tribunal de Justiça do EstaAssistente Social da Unimed (SE) do de Sergipe, passando por outros como: Petrobrás/SE, Energipe, Hemolacen, instituição de ensino Nossa Escola, Correios , Nova vida,do SESC,
39
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
acervo do grupo
saúde, cultura e arte em sintonia
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Folguedos Populares como mediação pedagógica em contexto escolar Por Milton Leite Este texto apresenta de forma sucinta aspectos do relatório do Estágio Supervisionado III da disciplina vinculada ao Departamento de Dança da Universidade Federal de Sergipe, realizado numa instituição escolar pública estadual, localizada no bairro Getúlio Vargas, no município de Aracaju/SE. O referido estágio realizou-se no período de 19 de junho a 24 de agosto de 2017 com alunos do 9º, 1º, 2º e 3º anos, distribuídos em 07 turmas, ou seja, aproximadamente 40 alunos cada, em um total de 280 alunos, para uma carga horária de 4 horas diárias, às terças, quartas e quintas, em um total de 25 dias, durante os meses de junho, julho e agosto, completando assim 100 horas de aulas práticas. Ao adentrar em sala de aula, observou-se que os educandos já haviam sido orientados pela professora de artes e estavam trabalhando na pesquisa, montagem e apresentação sobre os festejos juninos cujo tema era abrangente indo de Luiz Gonzaga a Aviões do Forró. As turmas foram divididas em pequenos grupos e instigados a prepararem pequenas coreografias com músicas do cancioneiro junino nacional e sergipano a exemplo de “Prenda o Tadeu”, de Clemilda, “O boiadeiro”, “Que nem jiló”, “Cintura fina” de Luiz Gonzaga, entre outras. A partir daí, como já tinham sido estabelecidos os grupos que iriam fazer suas apresentações, além da quadrilha junina que estava sendo ensaiada com alunos de todas as séries da escola, o estagiário encarregou-se de orientar, acompanhar e facilitar o andamento desses trabalhos. A escola já estava decorada com bandeirolas manufaturadas pelos próprios alunos sob a orientação da professora de artes, a quadrilha junina e as coreografias estavam ensaiadas, e assim com a definição da programação e a ordem de apresentação das salas. O estagiário de dança ficou responsável pela marcação da quadrilha junina improvisada, colocando à disposição
um sanfoneiro para acompanhamento dos festejos. Nesse panorama mais uma porta se abria, os alunos começavam a compreender a importância do conhecimento das tradições populares juninas como parte de suas histórias, emergindo a necessidade de conhecerem-se como indivíduos dentro de sua comunidade, buscando entender e se colocar dentro desse novo conceito que se estabelecia a “sergipanidade”. A realização dos festejos juninos e a participação como facilitador permitiu ganhar ainda mais a confiança dos educandos, fazendo-os questionar quando teria mais coreografias, quando estariam dançando novamente, ampliando as possibilidades para as realizações do projeto referente ao mês do folclore. Durante o mês de julho em acordo com a professora de artes iniciou-se outra etapa do estágio, cuja a temática proposta foi a seguinte: “A cultura popular e o folclore sergipano”. Para desenvolvimento do tema se dividiu a atividade em quatro momentos: i) palestras; ii) pesquisa; iii) aulas práticas; iv) apresentações dos seminários, tendo como base as manifestações rítmicas: a) Samba de Coco; b) Bacamarteiros; c) Parafusos; d) São Gonçalo; e) Reisado, este último sendo trabalhado com objeto de estudo do Trabalho de Conclusão de Curso do estagiário, o qual defende a compreensão de que os folguedos populares podem ser utilizados como mediação pedagógica em sala de aula inserindo-os de foram transversal em diversos conteúdos curriculares. A partir dessa proposta os educandos foram instigados inicialmente a escolherem uma das manifestações e a realizarem pesquisas, em seguida passariam pelas aulas práticas que serviriam de base para a apresentação dos seminários. A primeira etapa do trabalho levou todas as turmas do “9º ano A, 1º A, B e C, 2º A e B e 3ª A” a assistirem às palestras sobre cultura popular e o folclore sergipano ministradas pelo estagiário, seguindo os planos de aula elaborados anteriormente. No decorrer dessas palestras percebeu-se a interação didático-pedagógica dos alunos aguçados de curiosidade. Além da apresentação oral, as palestras eram acompanhadas por slides com tópicos e conteúdos específicos. Por conseguinte,
40
Revista
Função
esses educandos formaram grupos e puderam escolher uma manifestação com a qual mais se identificassem para desenvolverem suas pesquisas. A segunda etapa dessa ação consistiu na orientação, supervisão, acompanhamento das pesquisas. Destaque seja dado que era necessário para cada grupo apresentar duas fontes de pesquisa diferentes para seus temas. Ficou claro que houve um amplo envolvimento dos educandos na etapa da pesquisa, inclusive por diversas vezes o estagiário era abordado nos corredores pelos educandos para sanar as dúvidas. Observou-se que alguns dos educandos se mostraram mais dedicados que outros, considerando um prévio conhecimento sobre o tema, pois havia manifestação popular em sua comunidade, alguns até mesmo já haviam dançado um folguedo ou outro dos sugeridos para a pesquisa. Ressalta-se que durante todo esse processo a professora de artes esteve presente focada no processo de ensinoaprendizagem, sempre orientando o estagiário para o desenvolvimento dessas ações no dia a dia, destacando como articular as pesquisas e o aprendizado em artes ao ensinoaprendizagem das demais disciplinas, dividindo a atenção com educandos, a fim de não prejudicá-los e não interferir no andamento das demais disciplinas. A terceira etapa desse projeto foi desenvolvida a partir das aulas práticas. Todas as turmas passaram pela prática da dança. Cada uma dentro de seu horário se deslocava para o auditório onde participavam de aulas práticas de dança. O desenvolvimento dessas aulas seguiu o plano de aula e aconteceu da seguinte forma: recepção dos alunos; alongamento corporal; aula lúdica de salsa e a prática de cada manifestação folclórica conforme roteiro das manifestações rítmicas definidas inicialmente. Nesse período identificou-se a timidez de algumas meninas, o uso do corpo, muitas vezes de forma equivocada, a ausência de conhecimento do corpo individual e o desrespeito ao indivíduo no coletivo, barulho, algazarra, desconcentração são questões corriqueiras, ainda assim, foi possível desenvolver as aulas conforme o planejado, auxiliado pelo fato de apesar de não haver
cidadania como uma prática social cotidiana, que perpassa os diferentes âmbitos da vida, articula o cotidiano, o conjuntural e o estrutural, assim como o local e o global, numa progressiva ampliação do seu horizonte, sempre na perspectiva de um projeto diferente de sociedade e humanidade. (CANDAU, 2013, p.15)
acervo do grupo
conhecimento e entendimento das manifestações populares por parte de alguns educandos, estes participaram ativamente das aulas. Verificou-se também que há educandos sem noção de lateralidade, direito, esquerdo, não conhecendo o próprio corpo, inibindo-os de participarem das coreografias. A ausência de concentração, conversas, o fundamentalismo religioso, os preconceitos e a estrutura de sala de aula foram outros aspectos notados durante esse processo, dificultando a ação ensino-aprendizagem. A última etapa desse processo se deu com apresentação dos seminários, nos quais o estagiário em conjunto com a professora de artes suscitava debates e pontuava aspectos das apresentações. Em seguida ocorria a caracterização dos grupos com indumentárias, cedidas pelo estagiário, logo após era apresentada uma célula do que haviam estudado como a dança daquela manifestação. É válido ressaltar que foi necessário levar a sonorização para cada uma das salas e as respectivas músicas das manifestações apresentadas. Na sala de aula, ocorreram discussões sobre o tema, observaram-se alguns preconceitos sobre as manifestações populares e sobre a dança de maneira geral nesses debates. Outro aspecto relevante foi a constatação de que os corpos que estão em sala de aula são corpos cansados, desestimulados, de ser, estar, participar, vivenciar, apesar de jovens. Todavia, ainda se encontram educandos dispostos a experimentar as ações lúdicas dançantes e artísticas desenvolvidas na escola, exemplo disso é o horário de intervalo quando uma caixa de som é colocada no pátio com músicas previamente escolhidas e os pequenos grupos dançam em espaços específicos. Além dos dançarinos de hip hop espalhados por toda a escola. Concluído dia 24 de agosto de 2017, uma quinta-feira, com êxito, havendo a sensação de que todos foram agraciados, educandos por terem ampliado seus conhecimentos, o educador e o estagiário por terem plantado a semente da arte popular como parte da identidade daqueles estudantes. A concretização de projetos, como ocorreu nos dois momentos do estágio que foram os festejos juninos e o mês do folclore, apresenta-se como possibilidades de mediação para a viabilização de outras ações, o estímulo coletivo de atividades que envolvem a maior parte da escola tem como consequência positiva o crescimento da confiança entre educador-educando e um posterior apoio consciente para
projetos que não necessariamente precisem ser executados fora da sala de aula. Destaque-se que um dos pontos mais importantes para o discente/ futuro profissional no período de realização do estágio supervisionado é a compreensão do processo pedagógico desenvolvido pelo professor/educador em sala de aula, a clara compreensão de que o processo de ensinoaprendizagem é recíproco, ensina-se ao mesmo tempo em que se aprende. No século XXI as transformações societárias ocorrem de forma mais intensa e a cada década há necessidade de mudanças no formato do ensino no país, prova desse fenômeno, é a alteração do Ensino Médio, reforma que tem por finalidade mudar a configuração de como se escolhe a profissão no Brasil. A metodologia para o país apresentou-se inadequada, todavia é um formato antigo, mas em outras nações capitalistas até então tem apresentado resultados positivos. Nessa perspectiva, com relação ao processo de formação educacional, surgem alguns questionamentos: Quem controlará a educação brasileira? Por que estão sucateando as escolas? Por que o desprezo pelo profissional de educação? Por que as criança/ alunos são tão maltratadas nas escolas públicas? Qual o verdadeiro papel das famílias brasileiras perante a educação? Diante dessas indagações, sabemos que é necessário reinventar a educação, assim cita Vera Lúcia Candau: Na reinvenção da escola, a questão da cidadania é fundamental. Não de uma perspectiva puramente formal do tema, mas a partir de uma abordagem que concebe a
41
Comprova-se assim que a escola é um espaço vivo que agrega sentimentos, vivências diferenciadas, problemas diversos, necessidades e saberes, não importando quais sejam. A escola assim concebida é um espaço de busca, construção, diálogo e confronto, prazer, desafio, conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades de expressão e linguagem, aventura, organização cidadã, afirmação de dimensão ética e política de todo o processo educativo. (idem, 2013, p.15) O desenvolvimento do Estágio Supervisionado III possibilitou um novo olhar perante a escola e a sala de aula, pois se observou que o processo de ensino-aprendizagem é amplo e precisa ser questionado cotidianamente. Percebeu-se também que as manifestações folclóricas podem ser desenvolvidas em sala de aula e que seriam exitosas se houvesse uma política efetiva para a inclusão da cultura popular na escola Por fim, durante os três meses dessa experimentação algumas angústias foram superadas, vivenciaram-se momentos de alegrias e descobriramse diferentes medos, os quais até então não se apresentavam, desse modo, conclui-se esse terceiro estágio com os seguintes questionamentos: Como se saber se está pronto para assumir uma sala de aula? Como será o educando da próxima década, será que haverá escolas preparadas para desenvolver disciplinas artísticas de fato? Se há respostas para essas indagações, talvez, mas por que não seguir tentando?! O essencial é continuar experimentando, vivenciando o que há por vir. “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”. (Olga Benário Prestes)
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
O REISADO COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO ESCOLAR:
POSSIBILIDADES E DESAFIOS Por Milton Raimundo Leite 1
trata do “Reisado como discussão da
elaboração de cordéis acerca do que é
O Brasil é um país multicultural,
africanidade em sala de aula”.
o reisado, visita a grupos, neste caso
diversas são as propostas para um
ensino
inovador,
Sergipe apesar de ser o menor
os alunos conhecerão a comunidade
sejam
estado da federação tem uma das
detentora
através de teorias, ou por meio de
mais ricas e variadas manifestações
realizando uma troca de saberes, a
práticas. A verdade é que a cultura
folclóricas do Nordeste. Existem
recepção de grupos ou mestres na
renova-se
alguns
interessados
escola, ou ainda, a participação de
científica
diariamente,
devido
acadêmicos
daquele
conhecimento
à sua dinamicidade, exigindo a
em
à
vivências rítmicas dançantes em que
necessidade de o educador buscar
cultura popular. Chama atenção as
aprenderá passos desenvolvidos nos
novas ferramentas e conteúdos
monografias de Maria de Lourdes de
espetáculos dos grupos tradicionais,
paradidáticos para aprimorar seu
Menezes Teixeira: Cultura Sergipana
incorporando-o como ferramenta na
desempenho em sala de aula e
enquanto
discussão de identidade.
cativar um novo aluno a cada dia.
[Universidade Tiradentes, Dezembro
dar
conotação
disciplina
escolar
No
que
corresponde
ao
Nessa temática de diferentes
de 2002, (MG 37-T266C)] e de Adelfa
reisado
propostas de ensino há alguns
Eliana Batista: Dança como atividade
pedagógico a primeira etapa é a
trabalhos, dissertações ou teses
complementar na pedagogia (MG
sua contextualização como dança
relacionadas com as manifestações
37 – A357D, Junho de 2003). Ainda
tradicional, descrever sua história,
folclóricas envolvendo a capoeira, a
assim, as propostas encontradas
seus personagens, a função de cada
congada, as catiras. Neste caso, por
destacam dança, folclore e cultura
elemento. Em comunidade que já
exemplo, em Brasília/DF, há uma
popular como conteúdo, exemplo, e
possui esse contato com um grupo
pesquisa de Claudiana Francisco
não como uma ferramenta de ensino.
envolvê-lo
Candido, defendida em 2007, que
O reisado pode ser utilizado em
analisa “Danças Folclóricas em Sala
sala de aula de diversas formas,
também cultural dos alunos, que é o
de Aula: um contexto escolar”.
a depender se ele é conteúdo ou
caso da Escola Municipal de Ensino
ferramenta. Ideia defendida por
Fundamental
Mirabel Portinari “Danças folclóricas
no bairro Mosqueiro, município de
diversos os trabalhos nessa área.
fornecem
teses
Aracaju, considerando que os alunos
Frequentemente pesquisa-se acerca
universitárias, especiais televisivos
convivem com os brincantes dos
de frevo, maracatu, bumba-meu-
e publicidades turísticas. Não há
reisados, a exemplo do Reisado Céu
boi. Em Juazeiro do Norte/CE, Cícera
povo sem dança. [...] Alguns países
Estrelado de Dona Neuza.
Nunes, também no ano de 2007,
obtém verbas para a manutenção
Outra forma é inserir o reisado
dos grupos folclóricos.” (PORTINARI,
em situações específicas, trabalhar
1989, p. 267, grifo nosso).
a poética nas aulas de português
No Nordeste, palco de grande efervescência
popular,
são
Texto retirado do 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe para aquisição de grau em Licenciatura em Dança, Setembro de 2018.
assunto
Enquanto
para
conteúdo
pode
como
no
contribuindo
e
meio
literatura,
cotidiano para
a
Tenisson
a
didático-
escolar formação
Ribeiro,
musicalidade,
e
ser ensinado através de aulas
dramaticidade nas aulas de Artes,
expositivas,
vídeos,
e nas práticas de Educação Física,
palestras, exposições fotográficas,
permitindo que os alunos vivenciem
pesquisa,
42
Revista
Função
os passos e os ritmos dessa
Na perspectiva de se oportunizar
manifestação. É possível, também,
essas experimentações a formação
colocar os personagens do reisado
do
professor
como protagonistas dos temas a
O
educador
serem apresentados em sala de
sensibilidade artística e cultural,
aula. Para tanto, pode-se utilizar
pois trabalhar com arte e folclore na
somente as personagens Mateus
sala de aula exige aprimoramento,
e Deusa ou os demais existentes
conhecimento e acima de tudo
nessa dança tradicional criando um
vivências. Nas palavras de Verderir
diálogo e inserindo músicas que
(2009,
contenham citações da temática
conscientizar-se de que o movimento
estudada. Lembrando-se de que
é de inovar e ousar que os termos de
essa manifestação popular permite
cópias já se afastaram juntamente
variações e suas músicas podem
com
adequar-se a cada disciplina em
enquadram mais nas novas visões
discussão.
de uma pedagogia preocupada com a
O boi é também papel importante
p.50),
é
imprescindível.
necessitará
professor
“o
paradigmas
que
ter
deve
não
se
formação integral do educando”. O processo de instigação na
apresenta-se como uma ferramenta
sala de aula é perene precisa ser
a mais na didática pedagógica, pois
revisitado, remodelado, adapta-se
dentro do assunto a ser estudado atrai de forma lúdica o interesse da turma e veste-se de diferentes personagens. Em uma aula de higiene bucal ele pode ganhar o nome de boi dentinho, já o boi afrodescendente fala
sobre
identidade
e
raça.
No reisado cada brincante está disponível
para
ser
trabalhado
dentro de um tema na sala de aula. A cabocla discute sobre as matas ou a questão indígena. A cigana trata de geografia, raças, identidade, ou de moda, a flexibilidade da dança tradicional pertence também às suas figuras. Tendo em vista a vivacidade e dinamismo do reisado e seus personagens nota-se ser possível criar um ambiente lúdico que estimule e envolva o alunado em pesquisas direcionadas pelo professor, ora ator, ora pesquisador, ora estimulador de ideias, agente instigador em busca de reflexões aluno-professor a partir das artes e da ludicidade.
acervo do grupo
do reisado. O denominado Boi Janeiro
ao cotidiano dinâmico e evolutivo da escola. Geralmente as atividades extracurriculares contribuem para
Na perspectiva de Schultz, Muller e Domingues (sd. p.5), “O brincar envolve conversa, interação entre os alunos e o professor, gerando “barulho” e movimentação em sala de aula”.
Pensamento reforçado
por Roloff (2010, p. 4), “O brincar enriquece a dinâmica das relações sociais na sala de aula. Possibilita um fortalecimento da relação entre o ser que ensina e o ser que aprende”. A dança na escola, na vanguarda a dança tradicional popular, facilita o aprendizado através da recreação, possui um compromisso social e permite vivências corporais do aluno no coletivo. Nesse processo o aluno (passivo) torna-se autor, ator, agente pensante e curioso (produtor). Na linguagem do folclore transformase no fazedor, brincante, aquele que dança na cultura popular, e faz arte a partir das suas experiências.
43
um contato superficial com arte a exemplo das comemorações alusivas às datas comemorativas, gincanas, desfiles cívicos.
Entretanto, esses
projetos não são elaborados dentro de uma política de formação cultural e inclusiva abrangente, são situações pontuais, adentrando e saindo do sistema educacional por um dia, uma semana ou apenas naquele mês. Em outras palavras, não há uma continuidade nesse segmento do processo de ensino, ou seja, na área cultural. Os projetos políticospedagógicos
estão
repletos
de
atividades tecnicistas tradicionais, levando
os
estudantes
ao
ultrapassado sistema de decorar para passar sem se ater a fatos cotidianos que contribuem essencialmente para seu entendimento como pessoa, produzindo
raciocínios
lógicos,
eficientes e soluções criativas.
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
O
ensino
integral
inovador
linhas
um
cenário
que
tem
aumentado no processo de formação
pela repetição e utiliza a criatividade
docente
e afinidade dos estudantes para suas
autonomia, produto de ensino sem
formações. Nessa linha e com base
dialética. Os problemas encontrados
em sua experiência de formação no
na formação em artes, não são
reisado a mestra Luciene dos Santos
exclusivos, todavia por seu papel
do Reisado Baile Estrela, do município
articulador entre as demais ciências
de Japaratuba/SE utiliza em seu
exige do licenciado ou bacharel
trabalho de educação artística nos
conhecimento amplo e questionador.
projetos sociais de sua comunidade
Inclusive porque as barreiras para as
a linguagem da dança tradicional
artes e para o professor dessa área
para
ressocializar
crianças
em
situação de vulnerabilidade tanto em
acervo do grupo
desmistifica essa ideia de formar
no
país:
alunos
sem
ainda não foram derrubadas. Embora o Ministério da Educação
relação às drogas, como às questões
tenha editado o PCN com Artes,
socioafetivas.
exigido a contratação de especialistas
Cita a educadora “Quando nos chamam
para
apresentar
e licitados livros didáticos para a
em
disciplina ainda a trata de forma
gincanas, só por apresentar, eu não
generalista, de maneira que os
vou. Digo que só iremos quando
livros, por exemplo, são generalistas,
quiser aprender sobre o reisado”.
sequer relacionam a existência das
(Entrevista
concedida
Milton
danças populares nem brancas,
Raimundo
Leite,
pesquisa
indígenas, negras, ou brasileiras.
a
em
acadêmica, 16 de junho de 2018). As possibilidades de fazer uso da dança popular como meio didáticopedagógico são tão amplas quanto à própria história do reisado. As danças
populares
e
folguedos
representam para o sergipano a essência dos saberes dos ancestrais, devendo ser referenciadas como um método empírico, servido como uma ferramenta de aprendizado para o aluno, tendo em vista a necessidade humana
de
experimentar
uma
educação inovadora, que resgate o passado desafie o conhecimento no presente e provoque melhoras para o futuro. A ideia de utilizar o reisado como meio-pedagógico é interessante e viável, todavia para se colocar em prática
essa
obstáculos
ferramenta se
alguns
sobressaem.
A
dificuldade das escolas de seguirem
as recomendações do PCN e respeitar a disciplina de artes tanto quanto se interpela pela matemática. A escola não entende ainda a arte como disciplina. Outro desafio é a formação dos professores, em artes cênicas, em especial em dança, sendo, portanto, complicado a existência de uma equipe que se envolva com o projeto pedagógico da escola. Nesse sentido traz
à
luz
Márcia
Strazzacapa
um questionamento sobre essa formação: Um dos desafios na formação de professores é justamente o de possibilitar a cada licenciando que encontre sua própria palavra. Mas, como querer que futuros professores encontrem sua própria voz, se aquela que lhes fala também não tem autoria? (STRAZZACAPA, 2012, [s.p.]). A autora reproduz em poucas
44
Revista
Função
Observados esses aspectos, estarse-ia na vanguarda da educação, se os profissionais da educação em artes conseguissem ser proativos todos os dias como é exigido pela disciplina. Ainda é um problema observado na escola a falta de organização prévia de um calendário de eventos, que planeje e discuta a inclusão do tema em estudo. Sem esse planejamento, atividades folclore
que
envolveriam
cotidianamente,
o
deixam
de fornecer novas experiências ao alunado. Plano Político Pedagógico - PPP é uma realidade, na teoria. Há gestores para os quais PPP representa um pró-forme, cumprido por exigência legal (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB, de 1996). Razão para que se prepare o documento às pressas, sem fazer as pesquisas essenciais para retratar
as reais necessidades da escola,
mais significativos.
ou simplesmente copie um modelo
Quanto aos profissionais e a
pronto.
elaboração de um projeto pedagógico sensível à inserção da cultura popular
letivo os professores se reúnem
como viés educacional nota-se que
e determinam quais as temáticas
o obstáculo está na contratação
gerais que a escola discutirá e quais
dos
os eventos. Entretanto as prioridades
formação acadêmica básica, saindo
começam a mudar de acordo com as
da universidade com pensamento
intercorrências diárias e os planos
exclusivo
mudam. É preciso manter o foco nas
Para muda esse quadro se fazem
metas, ter mais responsabilidade
necessários treinamentos na área
e
comprometimento
com
de artes para todos os profissionais.
a
formação
Sendo
As secretarias municipais e
necessário que o PPP seja completo:
a estadual devem criar um plano
satisfatório para não deixar dúvidas
artístico
sobre os planos; e flexível o bastante
los e distribuir a arte pela escola,
para
principalmente nessa nova escola
e
do
adapta-lo, adequando
para
aluno.
acrescentando elementos
às
necessidades de aprendizagem dos alunos. Outros
dois
obstáculos
acervo do grupo
Em teoria no início do ano
professores
em
advindos
suas
cultural
da
disciplinas.
para
capacitá-
de tempo integral estimada pelo Ministério
da
Educação
como
verdadeira formadora.
para
Será uma alternativa plausível
utilizar esse meio didático são: ter
do uso de ventiladores, as quadras,
para essa política manter uma
uma escola que construa espaços
quando existem, são descobertas e
relação
contagiantes e tenha salas de aulas
próximas às salas, não havendo uma
cultura popular, os pesquisadores,
preparadas para o desenvolvimento
estrutura de apoio como banheiros
professores, alunos e escolas na
dessas atividades artísticas; e a
próximos.
perspectiva de discutir os produtos
entre
os
mestres
da
elaboração do plano pedagógico por
No que se refere aos laboratórios
artísticos a serem confeccionados
profissionais sensibilizados com a
de artes em geral são espaços de
no ano letivo em suas escolas
cultura popular e capacitados para o
bibliotecas adaptados ou a sala
partindo de um conhecimento nato
auxílio a professores que já utilizem
padrão em que as carteiras são
e acessível a qualquer necessitando
essa ferramenta.
colocadas ao fundo gerando um
simplesmente de um plano de ação
As escolas precisam ser mais atrativas, espaços
aconchegantes, adequados,
áreas
pequeno espaço para a criação, ao
e a catalogação da manifestação
ter
mesmo tempo, esses ambientes
escolhida.
de
não
o
Nessa catalogação e ensejando
convívio, laboratórios para atividades
desenvolvimento das atividades sem
novos pensamentos sobre a cultura
artísticas respeitando as vivências
reverberar nas classes vizinhas.
popular propôs-se como parte desse
possuem
acústica
para
e as necessidades dos alunos para
As escolas ainda não possuem
trabalho de conclusão de curso o
cada comunidade onde a escola está
uma biblioteca completa onde se faça
lançamento da Revista “Função”. Esta
inserida. Atualmente, as instituições
uma pesquisa aprofundada, havendo
publicação aborda as manifestações
escolares no município de Aracaju
acesso
computadores
folclóricas, em especial o reisado e
foram
seguindo
funcionando e acesso à internet.
tem em seu conteúdo informações
um padrão que não respeita as
Os sucateamentos dos colégios
que poderá servir de orientação e
características climáticas da cidade,
em relação a esse espaço também
embasamento teórico e prático para
com pouca circulação e ar, sendo
impossibilitam um trabalho com
os profissionais interessados no
quentes e abafadas, necessitando
artes que obtenha resultados ainda
assunto.
construídas
a
livros,
45
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018
Galeria IN
memoriam LARANJEIRAS - SERGIPE
MESTRE EUCLIDES
GUERREIRO TREME TERRA ARACAJU - SERGIPE
MESTRE DUVALZINHO REISADO VENCEDOR ARACAJU - SERGIPE
MESTRA BIZU
REISADO BAILE ESTRELA JAPARATUBA - SERGIPE
MESTRE OLIVEIRA
REISADO DAS MORENINHAS ARACAJU - SERGIPE
46
Revista
Função
MESTRE NEGO CACUMBI
CABOCLO DO REISADO BAILE ESTRELA JAPARATUBA - SERGIPE
MESTRE ANTERO
REISADO DO MOSQUEIRO ARACAJU - SERGIPE
acervo do grupo
REISADO DE DONA LALINHA
Imagens raízes
GLOSSÁRIO
e
acervo do grupo
ABOIO: Especie de gritos tirados pelo Mateus nas brincadeiras. BOI DE REISADO: Armação de madeira coberto com tecido ornamentado com fitas e espelhos, elemento fundamental na realização da brincadeira do reisado. BRINCANTE: Todos os componentes da dança tradicional do reisado. CAJADO: Bastão enfeitado de fitas e tecido colorido que o Mateus carrega na mão durante a brincadeira, tipo um cetro. CARCAÇA: Armação em madeira ou ferro em formato de recipiente onde o miolo ou tripa fica para fazer a manipulação do boi e do jaraguá . CORDÃO AZUL: Fileira de brincantes cuja indumentária é predominantemente azul e representa os mouros, no enredo épico do reisado. CORDÃO ENCARNADO: Fileira de brincantes com vestes predominantemente vermelhas, representando os cristãos. CORTEJO: Trata-se de uma comitiva cultural dos componentes da dança em sua passagem para o local de apresentação. DEUSA: Personagem do reisado, gênero feminino, organizadora dos partidários e do figurá. ENTREMEIOS: Espaço de tempo entre uma música e outra em que acontecem os diálogos entre o Mateus e a Deusa. ESPELHO: Pedaços de espelho emoldurados em formato distinto e de variados tamanhos utilizados para ornamentar as roupas e os chapéus de vários grupos folclóricos em especial o reisado. FIGURÁ: Personagens que formam os cordões no reisado – o grupo. FITAS COLORIDAS: Tiras de tecidos em várias cores utilizadas na ornamentação dos chapéus e vestidos dos grupos folclóricos. FUNÇÃO: É a execução da dança do reisado, desde a saída do grupo em cortejo para o local da apresentação à retirada do grupo. Na linguagem dos brincantes quando há apresentação do grupo eles usam o termo “hoje vai ter função” GURITA: Chapéu em formato de cone com fitas coloridas utilizado pelo Mateus JARAGUÁ: Carcaça de uma cabeça de jegue ou cavalo com armação de madeira onde o miolo ou o tripa entra para manipulação. JORNADA: Parte ou etapa integrante do enredo de danças como reisados e guerreiros. LOUVAÇÃO: Pedido de licença para se rezar em uma casa ou lugar, nas apresentações geralmente as figuras fazem uma louvação para pedir licença para começar a brincadeira. MATEUS: Brincante vestido de palhaço . MICAELA: Nome dado ao Jaraguá em alguns grupos, a exemplo do Reisado Baile Estrela de Japaratuba. MIOLO (ou Tripa): Brincante que desenvolve a manipulação do boi, Jaraguá ou outros personagens que exigem manipulação. PARTIDÁRIO: Estandarte com as bandeirolas representando dois cordões: o azul e o encarnado PEDIÇÃO DE SALA: Momento de canto e reza para salvaguardar o lugar das brincadeiras PISADA: Sapateado desenvolvido pelos cordões vermelho ou azul após o canto de algumas músicas. PRÉSTITO: Procissão. PRIQUITINHA: Sandália de couro com sola de borracha, bastante utilizada para compor a indumentária dos grupos tradicionais.
47
ANO 1, Nº1, AGOSTO/SETEMBRO DE 2018