Entrevista maria lucia 1

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Voz Ativa

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‘’ As muitas diculdades já começam aonde moro’’ Dimitry Lima - Repórter A revista Acessibilidade conta com exclusividade a história da aposentada Maria Lúcia, que desde criança é deficiente por conta de uma paralisia infantil, a cadeirante estava aguardando ser chamada para uma audiência no Fórum Clóvis Beviláqua em Fortaleza – CE. Muito tímida Maria decidiu falar com nossa equipe de reportagem e relata anos de desafios como deficiente. De dez a doze por cento da população mundial, algo em torno de 700 a 800 milhões de pessoas tem alguma deficiência física. Destas, perto de 90% vivem nos chamados países em desenvolvimento e o mesmo percentual vale para os mais jovens, mas vivem desempregados. A acessibilidade é garantida por lei. No entanto, as cidades brasileiras contam com infraestrutura quase inexistente para garantir a mobilidade das pessoas com deficiência. O decreto 5296, de 2 de dezembro de 2004, que regulamentou as leis 10.048/00 e 10.098/00, determinou a adequação dos espaços públicos às necessidades de pessoas com limitações. No Ceará, 17,3% da população tem algum tipo de deficiência, de acordo com o Censo 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que corresponde a 1,3 milhão de pessoas. Só em Fortaleza, existem cerca de 350 mil portadores de deficiência que não têm seus direitos atendidos. Maria Lúcia, 49 anos, é cadeirante e enfrenta muitas dificuldades de locomoção. “Estou aqui no Fórum Clóvis Beviláqua porque vim resolver um problema familiar e tive muitas dificuldades para me locomover de casa até aqui, justamente hoje em que os ônibus coletivos da capital estão parados por conta da greve dos motoristas”. Acessibilidade: Quais os desafios que você enfrenta ao sair de casa? Maria Lucia: As dificuldades já começam no bairro onde moro, Santa Cecília em Fortaleza – CE, as ruas são esburacadas, com muitos obstáculos, como árvores, carros impedindo a passagem e não são asfaltadas. Também tive problemas na hora de me aposentar, lutei muito, mas consegui. O governo deveria investir mais em obras de acessibilidade para deficientes físicos, pois a estrutura de todo o país, em especial o Ceará é justamente esta: Poucos investimentos resultando em uma cidade mal planejada para quem é portador de necessidades especiais. O governo só trata bem quem tem dinheiro quem não têm eles tratam iguais a um cachorro. Sem contar à insegurança que está grande na cidade para quem já é normal, imagine para mim. Já cai da cadeira de rodas uma vez por conta da rua mal feita e sempre tenho muito cuidado. Agradeço e muito ao jornalista Ferreira Aragão e a seus telespectadores da TV Diário, canal 22, que me ajudou a conseguir a cadeira de rodas, pois não tenho condições financeiras de comprar.

FOTO: Maria Ivoni

Acessibilidade: Ao andar pela cidade você conta com o apoio das pessoas? Maria Lucia: Eu não costumo sair sozinha de casa, geralmente conto com ajuda da minha família para me direcionar a algum lugar, às vezes é meu marido ou minhas filhas que saem comigo. Fico muito constrangida ao sair de casa, pois as pessoas não são solidárias, me observam com a cara feia e isso é muito triste para mim. Às vezes fico pensando que não somente eu, mas milhares de outras pessoas passam pela mesma dificuldade que eu diariamente, é como uma maratona, tudo pra mim é complicado. Nos ônibus tem lugar reservado para pessoas como eu, mas infelizmente alguns param o ônibus outros não e não tratam bem a gente. Acessibilidade: Acha que a cidade está preparada para lidar com os deficientes? Maria Lucia: A cidade não está preparada para lidar com os atuais e nem com os visitantes que a cada dia chegam a nosso Ceará, principalmente por se tratar de um estado lindo, com belas praias e cidades encantadoras. Como disse anteriormente são muitos obstáculos que encontramos nas ruas, avenidas, calçadas, lojas, supermercados, hospitais, banheiros e muitos outros locais que constantemente precisamos passar. É claro que foram feitas algumas obras de acessibilidade, mas precisa melhorar muito.a.


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