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Diculdades diária para quem é cadeirante: Pesquisa do IBGE revela carência de políticas públicas para garantir acessibilidade

Voz Ativa

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Dimitry Lima - Repórter

É preciso coragem e muita força de vontade para quem precisa sair todos os dias para os seus afazeres diários em Fortaleza - Ceará, além de ter que passar por cima do preconceito, falta de solidariedade das pessoas e as barreiras encontradas nos locais públicos e privadas. “O governo deveria investir muito mesmo, pois muitas coisas ainda precisam ser feitas para melhorar a vida de quem usa cadeira de rodas, assim como eu”, conta Maria Lucia, 49 anos, residente no Parque Santa Cecília em Fortaleza. A revista Acessibilidade narrou de forma exclusiva a história de Maria Lucia, 49 anos, a cadeirante teve como ponto de partida o bairro Santa Cecilia, em Fortaleza, com destino ao Fórum Clóvis Beviláqua. “Justo hoje em que está acontecendo a greve dos motoristas de ônibus precisei me deslocar do bairro onde moro para o Fórum, pois estou resolvendo alguns problemas familiares. É como uma maratona mesmo, ter que sair de casa todos os dias comparado a uma pessoa normal é nada fácil. São muitos obstáculos que enfrento ao sair de casa, são carros estacionados nas calçadas, ruas e avenidas esburacadas, quando alguns locais possuem rampas, estas são feitas de forma muito inclinada, em hospitais e ônibus a situação é bem mais precária, apenas os banheiros de alguns locais não encontro tanta dificuldade. Tudo pra mim é complicado, mas o governo só trata bem quem tem dinheiro, quem não tem ele trata como um cachorro”, relata a aposentada. O caminho até o Fórum Clóvis Beviláqua, trajeto que serviu de base para analisarmos a realidade da aposentada, apesar de curto, traz uma série de problemas, como calçadas inclinadas, que exigem grande esforço físico, pois sobrecarregam só um lado da cadeira. Em várias esquinas não há rampas e, quando existem, estão deterioradas, com buracos e desníveis. Outro problema frequente é o acúmulo de água na base das rampas, que impede a saída das cadeiras. Há também rampas improvisadas que, por não terem a largura necessária, podem travar as rodas das cadeiras e causar acidentes.

A revista ouviu a opinião de pessoas de várias idades e classes sociais, de acordo com os entrevistados o governo precisa investir mais em melhorias para os deficientes físicos. Para Pedro Mikael, 18 anos, estudante de Ciências Contábeis, “São questões que abrangem tanto consciência coletiva, assim como demanda recursos. Deveriam investir mais nisso. A questão dos ônibus para cadeirantes. É uma serie de problemas. Vão desde os ônibus, rampas, ruas à consciência das pessoas”. Elissandra Sales, 20 anos, estudante de Jornalismo. “Eu acho que o governo deveria investir bem mais, deveriam investir nos locais públicos em rampas, os ônibus deveriam ser mais adaptados aos cadeirantes, às vans, os hospitais, tudo isso um investimento que pudesse garantir a acessibilidade maior das pessoas com deficiência que passam por muitas dificuldades de se deslocar de um local a outro. Para Tafarel Silva, 25 anos, que atualmente é autônomo, a copa é uma perca de tempo enquanto pessoas estão precisando de apoio. “Deveriam investir mais, por que os cadeirantes precisam de livre acesso a tudo que é dificultoso as eles. Elaborar projetos para melhorar a vida deles e, que eles não sofram muito preconceito. O governo só se preocupa com a copa do mundo. Quando você abre a tevê, não se fala em outra coisa, a não ser a copa. Então, deveria investir mais nas pessoas que tem direito de viver com dignidade. Essa copa é perda de tempo. Enquanto os jogadores correm atrás de uma bola, tem gente precisando de apoio”. Índice de acessibilidade - A dificuldade enfrentada por Maria Lucia é a mesma de milhares de cadeirantes. Segundo o IBGE, mais de 45 milhões de brasileiros (23,9% da população) possuem algum tipo de deficiência física no Brasil – o órgão não especifica quantos são cadeirantes. Dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE revelam que o Brasil ainda carece de políticas públicas para garantir acessibilidade a quem usa cadeira de rodas, mesmo em locais com alto índice de urbanização e disponibilidade de serviços públicos.

De acordo com o estudo, nos municípios brasileiros, a maioria das faces de quadras (cada um dos lados da quadra, contendo ou não domicílios ou estabelecimentos) possui ruas pavimentadas (81,7%), dispõe de meio fio (77%) e oferece calçadas para circulação de pedestres (69%). Mas uma ínfima parcela (4,7%) possui rampas de acesso para cadeirantes. Esse índice sobe para 5,6% em locais onde há maior incidência de moradores com idade acima de 60 anos. A p.esquisa, realizada de 1º de agosto a 30 de outubro de 2010 nas áreas urbanizadas dos 5.565 municípios brasileiros, apresenta um nível de detalhamento inédito, com foco em aspectos importantes da infraestrutura urbana, como questões referentes à circulação e o meio ambiente.


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