Fechamento autorizado. Pode ser aberto pela ECT
A Saúde como prioridade tem que deixar de ser um slogan de campanha para ser um objetivo dos gestores federais e estaduais que assumem em janeiro de 2011. São eles que vão definir os avanços e recuos de toda a próxima década. A AHESC-FEHOESC estão empenhadas em apresentar diagnósticos e rumos que consolidem uma parceria entre os setores público e privado da Saúde. Só com essa reformulação do modelo de gestão será possível vencer as ameaças que impedem o povo catarinense de ter pleno acesso à saúde de qualidade.
DEZEMBRO 2010
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< EDITORIAL
CARTA ABERTA AOS ASSOCIADOS
O CAMINHO DAS BOAS INTENÇÕES
O
governador eleito em 3 de outubro, que assume em janeiro, enfatizou durante toda a campanha eleitoral que a Saúde seria a “prioridade n° 1” de sua gestão. Desconsiderando a redundância da expressão, é auspicioso que Raimundo Colombo tenha a sensibilidade para reconhecer que o setor precisa de um “choque de gestão”, e esteja escolhendo entre os melhores quadros de pessoal o nome que vai gerir a Saúde catarinense nesse início de nova década. Nós, gestores das Instituições privadas de Saúde, desejamos sucesso ao governador – e desejamos também parceria, pois entendemos que o Governo Estadual necessita dela.
Uma entrevista com o governador eleito Raimundo Colombo nessa edição de Saúde Catarinense descortina com absoluta clareza que o novo mandatário está repleto de boas intenções para com o setor da Saúde. Por outro lado, confessa desconhecer os caminhos que podem conduzir aos resultados práticos pretendidos por tais intenções. No entanto, se realmente desejar acertar o rumo, o governador já terá em mãos um bom guia. Durante a campanha eleitoral, a AHESC-FEHOESC desenvolveram encontros com os candidatos ao governo catarinense a respeito das principais apreensões e necessidades do segmento da Saúde privada no estado. À época, alegando conflito de agenda, o candidato
Raimundo Colombo não compareceu, porém o candidato a vice – agora eleito – o médico Eduardo Pinho Moreira, requisitou o documento da AHESC-FEHOESC que continha as reivindicações da categoria patronal e o recebeu em mãos na sede das instituições.
Os gestores associados da AHESC-FEHOESC costumam concordar na análise de que não há uma relação clara entre a Secretaria de Estado da Saúde e as duas entidades, para que se estabeleça uma mudança nos rumos da assistência e atenção à saúde em Santa Catarina. O governo convive muito bem com a retórica da mudança - o que o exime de mudar. Se dependesse apenas das boas intenções em que ficamos, já estaríamos no paraíso.
Mas os fatos desvirtuam a intenção. E a realidade estraga tudo. As reformas urgentes no Sistema de Saúde parecem não ter sido feitas ainda justamente porque todos os governantes são a favor dela. Pelo menos, ninguém se levanta para declarar que é contra.
Um exemplo: municiar a rede de hospitais privados e filantrópicos espalhada por todo o estado com incentivos que permitam aumentar a capacidade e a complexidade dos atendimentos é uma ideia boa e justa. Mantê-la em mente enquanto a negam em fato é uma maneira que governantes escolheram de conviver com essa ideia como um ideal retórico. Persiste a percepção de que as coisas podem mudar não mudan-
do, ou que só o vizinho tem que mudar. Como se os serviços privados não fossem a maior força em movimento de promoção da saúde no estado e, ao contrário, atrapalhasse.
A AHESC-FEHOESC decidiram quebrar esse paradoxo, mobilizando a força política dos mais de três mil associados para exigir ações transformadoras do governo estadual no que se refere à gestão da saúde. Definiu uma pauta de compromissos exigidos da esfera estadual e defende a participação ativa do setor no planejamento e execução das reivindicações.
Reconhecemos que, na retórica, os governadores que passaram tentaram assegurar liberdade de diálogo entre poder executivo e o segmento privado da Saúde. Mas essa é uma pseudo-liberdade porque é consentida – e porque é inconsequente. A AHESC-FEHOESC, frente ao novo governo, vão se apresentar como entidades que não aceitam mais diálogos sem consequências práticas. Decidimos instituir não somente uma ação forte junto aos gestores públicos, mas também uma relação com os parlamentares verdadeiramente interessados na saúde pública. Para que a democracia seja construída ouvindo a voz de quem luta pela Saúde. Como deve ser em um país em que as instituições agem sobre o poder em vez de apenas importuná-lo.
Dario Staczuk Presidente AHESC | Tércio Kasten Presidente FEHOESC
Expediente Saúde Catarinense Presidente AHESC Dario Staczuk Presidente FEHOESC Tércio Kasten Diretor Executivo AHESC-FEHOESC Braz Vieira
Gerente Administrativo AHESC-FEHOESC Carlos Alberto de Liz Medeiros
Editor-chefe Iuri Grechi
Assistente Financeiro AHESC-FEHOESC Silvana Hoffmann
Jornalista Responsável Rute Enriconi DRT-SC 434
Assessor Jurídico AHESC-FEHOESC Rodrigo de Linhares (OAB/SC 8630)
Reportagem Simone Bastos
Projeto Gráfico e Diagramação Gabriel Bourg Direção Comercial Dinei Vicente dinei@dineivicente.com
Este informativo é produzido e publicado pela Associação e Federação dos Hospitais de Santa Catarina, com veiculação dirigida a associados e instituições da área de saúde.
Telefone: (48) 3224-5866 E-mail: ahesc-fehoesc@ahesc-fehoesc.com.br Twitter: @ahesc_fehoesc www.ahesc-fehoesc.com.br
AHESC-FEHOESC em números Associados Hospitais Laboratórios Clínicas Serviços de Saúde Total
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COLUNA
DR. RODRIGO DE LINHARES Advogado, Assessor Jurídico da AHESC-FEHOESC e membro do Conselho Jurídico da CNS
UM NOVO RUMO À ASSISTÊNCIA HOSPITALAR
R
PELA LEI ESTADUAL DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS epetiu-se nesta última
um hospital público, em busca do socorro de algum
sobre a necessidade de modernizar a gestão da
rais para melhoria do
com pessoal assim permita. Ou quando o leito de
pois, na verdade, a administração hospitalar
eleição a concentração
de propostas eleito-
desempenho do governo na execução de políticas
na área da saúde, que
é tema de recorrente preocupação de todos, ocupando o primeiro lugar no ranking dos problemas nacionais.
Na verdade, o SUS, mesmo sendo uma
referência global em termos de equidade so-
cial, ainda deixa muito a desejar nos quesitos integralidade, universalidade e qualidade.
Conceitualmente, apresenta inúmeros atribu-
tos, mas na prática, ainda merece importantes aprimoramentos que possam corrigir suas severas deficiências.
Diante desse cenário, imputar responsa-
bilidade exclusivamente ao gestor público é
conclusão simplista, pois seria o mesmo que afirmar a incapacidade de todos que participam ou participaram da construção do SUS. Torna-se necessário, portanto, a identi-
ficação de outros fatores que influenciam na qualidade dos serviços de saúde oferecidos
pelo Estado. E, sob o ponto de vista jurídico, o que se observa é que as normas e regras que norteiam os diversos setores da administração pública, quando aplicadas no gerenciamento de hospitais e de serviços de saúde, não atendem aos princípios do SUS.
Vejamos a Lei de Licitações (8.666/93),
as regras para contratação e de estabilidade
de servidores públicos, o limite de gastos com
pessoal da Lei de Responsabilidade Fiscal, são todos mecanismos criados sob o fundamento dos importantes princípios da impessoali-
dade, publicidade e economicidade dos atos
administrativos, previstos no caput do art. 37 da Constituição Federal.
Porém, todo esse regramento se torna
inútil quando aportamos na emergência de
profissional que será contratado somente na con-
clusão do concurso público, caso o limite de gastos
UTI aguarda decisão sobre os recursos interpostos pelos licitantes à manutenção do respirador. São exemplos simples, mas que servem
para demonstrar que as normas usuais, quando aplicadas na assistência saúde, vão de encontro
ao princípio da eficiência, também do artigo 37 da Carta Constitucional.
Além disso, o nível de complexidade de uma
organização de saúde é enorme e só tende a
crescer, por conta de fatores como envelhecimento da população e novas tecnologias. Quanto mais
complexo um sistema, maior o número de conflitos. Imagine um Estado pesado, com natureza licitató-
ria lenta, com rigidez de contratações de pessoal e,
portanto, sem vocação para lidar com essas demandas, querendo atuar com um mínimo de qualidade. No dever de buscar modelos de gestão que
garantissem a necessária agilidade dos serviços públicos, o Governo Federal editou a Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998, disciplinando a qualificação, em âmbito federal, de entidades privadas como
Organizações Sociais. Com a mesma necessidade,
estados e municípios editaram legislação de conteúdo semelhante.
Em Santa Catarina, por iniciativa do então
Secretário da Saúde, Fernando Coruja, foi aprovada e sancionada, no ano de 2004, a Lei Estadual nº
12.929, que permitiu a qualificações de entidades privadas, sem fins lucrativos, como Organizações
Sociais, para atuarem na gestão de unidades hospitalares do Poder Público, por meio de contrato de gestão.
Desde então, três unidade de saúde - o
HEMOSC, o CEPON e o Hospital Infantil de Joinville - passaram a ser administradas por OS`s, obtendo resultados superiores aos serviços oferecidos diretamente pelo Poder Público.
Portanto, o Governador eleito agiu com acerto
ao se manifestar, em inúmeras oportunidades,
saúde pública catarinense, reforçando o modelo
de gestão de hospitais públicos por meio de OS`s, por entidades não-estatais sem fins lucrativos é um dos poucos instrumentos em experimento no país que tem trazido resultados positivos à gestão pública.
Trata-se de um modelo que exige fiscalização
constante e atenta, e inclui instrumentos como o controle do poder público sobre os repasses
e o compromisso das entidades gestoras com o cumprimento de metas e prazos. Caso deixem
de cumprir o estabelecido, há sanções como o
desconto no repasse de dinheiro e a inabilitação. Com isso, naturalmente se atinge a almejada gestão por resultados.
De outra parte, as entidades privadas, sem
fins lucrativos, dispõem de instrumentos jurídi-
cos que lhe conferem a agilidade exigida em serviços de natureza médico/hospitalar, incluindo
a celeridade na aquisição de bens e serviços e a
contratação de empregados pelo regime celetista. Admitir que a saúde possa aguardar os trâmites burocráticos usuais, é premiar a incompetência
que limita a capacidade criativa de quem deve, a rigor, ser monitorado dentro de indicadores de eficiência.
Aliás, a inserção da iniciativa privada, por
meio de parcerias com o Poder Público, em
modelos mais avançados que o nosso e de maior justiça social não é novo. A Espanha o faz há
muitos anos, como acontece em outros países
europeus, onde os indicadores de qualidade de
vida e de desempenho são superiores aos nossos e aos dos EUA.
Ao final, sobressai a expectativa do cidadão
comum, de ver cumprida a previsão constitu-
cional que impõe ao Estado o dever de garantir
eficiência aos serviços de saúde, que torna irrelevante a natureza jurídica, pública ou privada, do prestador.
MERCADO>
O IMPÉRIO
CONTRA-ATACA >
O avanço da concorrência multinacional - com vantagens de importação - e a verticalização dos serviços de Saúde pressionam Laboratórios, obrigam redução de custos e interferem na
qualidade desejada e exigida pelo governo. É fogo de todo o lado. Como virar a batalha a favor?
N
o decorrer dessa primeira década
Os empregadores de todas as áreas, daqui para fren-
do século XXI, foi possível obser-
te, devem contratar muito mais planos de saúde para
operadoras de planos de saúde
podem ser desperdiçados por causa da falta de assistên-
var no Brasil um fenômeno que se
consolidou em tendência: grandes
adquiriram ou incorporaram outras
empresas menores, em um processo
de centralização do setor. A verticalização do mercado seguiu-se como uma consequência da busca desses
grandes grupos em reduzir custos e dominar nichos de mercado antes exclusivos das unidades operadoras de serviços hospitalares.
Davi e Golias Hospitais, clínicas e laboratórios vêm sendo
agregados às empresas que operam planos de saúde, resultando em grandes organizações médicas. Este
contexto revela que o mercado não é restrito. O Brasil é o segundo maior mercado de saúde suplementar do mundo. Nessa ponta estão grandes grupos que pouco
os funcionários do que tudo o que já foi feito até agora. Talentos cultivados e produtivos para as empresas não cia médica. Os empreendedores reconhecem que isso equivale a jogar dinheiro pela janela.
Essa tendência também tem um impacto meteórico
sobre a gestão das unidades hospitalares. Novas normas e resoluções da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) constantemente são criadas para impor proce-
dimentos e inclusão de serviços na cobertura mínima
dos planos. É, certamente, legítimo e desejável do ponto de vista da Saúde Pública, uma proteção salutar para o
usuário, mas que no final acaba também prejudicando as operadoras de pequeno e médio porte, redundando em graves consequências para a estabilidade econômico-financeira do próprio sistema. Um círculo vicioso, portanto.
concorrem entre si. Do outro lado, atuam as pequenas
Dois Caminhos, pouca escolha
essas empresas carecem de melhor estruturação ge-
mente, muito acirrada. As pessoas acabam se acostu-
operadoras de planos de saúde, com mensalidades
mais acessíveis. No entanto, ressalvadas as exceções, rencial e de assistência aos seus beneficiários.
Com o avanço da verticalização, é natural que a
sociedade se questione sobre a qualidade na provisão de serviços, uma vez que a operadora tem poder para cortar os custos mesmo em setores que a prudência recomenda o contrário - investimento.
A concorrência entre as operadoras não é, historica-
mando com os médicos que frequentam e estabelecem
um relacionamento pessoal, o que dificulta a troca. Como não há o hábito da maioria dos usuários em procurar outro profissional, a mudança de operadora torna-se ainda mais remota. Como as empresas são proibidas
de oferecer tarifas promocionais, os beneficiários dos
planos de saúde não veem motivos para se movimentar desta para aquela operadora.
Imagens: Photoxpress
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Países Desenvolvidos? Nos países desenvolvidos as operadoras de planos de saúde também não conseguem suprir a alta demanda, oferecem poucos serviços, apresentam longas filas de espera e efetuam procedimentos sem necessidade.
A
Ney Junqueira revela que, em Santa Catari-
iniciativa de permitir a portabilidade de
carências foi um avanço, mas não seduziu
na, cinco operadoras da Unimed já investiram
opções, tem apenas dois caminhos: pa-
que se repete nas Unimeds que possuem mais
em serviços próprios. No Paraná, também cinco;
muito os consumidores. Portanto este
e no Rio Grande do Sul, oito. “É uma tendência
cenário, apesar de oferecer numerosas
de 50 mil usuários”.
gar altos preços por um bom serviço ou aceitar condições inferiores a um custo
O presidente da Unimed Criciúma, em visita
acessível. O mercado impõe situações
recente de trabalho à União Européia, constatou
que levam precisamente a essas duas
que nos países desenvolvidos as operadoras de
alternativas pouco atraentes.
planos de saúde também não conseguem suprir a alta demanda, oferecem poucos serviços,
Pela exigência de capital intensivo do próprio
apresentam longas filas de espera e efetuam
negócio, as fusões e aquisições rumam sempre no
procedimentos sem necessidade.
mesmo sentido. As grandes organizações ficam
maiores. E se fortalecem. Assim, conseguem dri-
blar os obstáculos e dar um atendimento de quali-
O Dólar deles é mais verde
dade superior, a julgar pelos critérios do mercado brasileiro, aos
Segundo a presiden-
seus beneficiá-
te do Sindicato dos
rios.
Laboratórios de Aná-
Segundo a
lises Clínicas, Patolo-
ONG Câmara Americana
S
de Comércio
(AMCHAM), que reúne sócios
de pequenas,
médias e gran-
des empresas, a
Unimed foi clara ao dizer que a verticalização
é positiva, mas
o investimento demora a ser recuperado.
OS GIGANTES FICAM MAIORES>
Corporações juntam-se a outras corporações, o capital estrangeiro se instala no país concorrendo com importações diretas e os laboratórios nacionais ficam acuados. Hobbes tinha razão: o homem é o lobo do homem.
gia Clínica, Anátono-Citopatologia no Estado de Santa
Catarina (SINDILAB-SC), Marineusa
Gimenes Hidalgo, os laboratórios
igualmente têm
encontrado enormes dificuldades, a co-
meçar pela entrada no país de grupos constituídos por
capital estrangeiro. Essa condição, que
Um levantamento da Unimed ao longo da última
deveria impossibilitar o acesso ao mercado, é
tos em serviços próprios, hospitais, laboratórios,
para os laboratórios de pequeno e médio, por
década sobre a tendência de verticalização das
operadoras de saúde – considerando investimencentros de imagem e fisioterapia – mostra que
90% dos membros da rede nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul que aderiram
a essa estratégia levaram cerca de cinco anos para recuperar os recursos aplicados.
Walter Ney Junqueira, presidente da Unimed
Criciúma e integrante do Conselho de Administra-
propícia para a compra de insumos através de importação direta, um processo impraticável que se configura uma concorrência desleal.
Outra enorme dificuldade é a demora no rea-
juste das tabelas praticadas pelos laboratórios,
defasadas há anos. “Somente nossa folha de pagamento soma um reajuste que ultrapassa aos
300% durante esse período”, calcula Marineusa. A verticalização das operadoras de planos
ção da Unimed Santa Catarina, crê nos benefícios e
de saúde afeta igualmente os laboratórios. Para
proporciona que os planos de saúde sobrevivam
têm buscado soluções na união de forças e no
na necessidade desse tipo de investimento. “Apesar de exigir muito capital, a verticalização hospitalar no mercado e melhorem o atendimento prestado
ao paciente. Os equipamentos de saúde vivem uma fase de robotização e aplicações tecnológicas e os
hospitais que não evoluírem junto em breve serão descartados pelo mercado”.
suportar a perda de clientes, e buscar mais
economia de escala, os pequenos laboratórios
desenvolvimento do atendimento personaliza-
do ao cliente, voltado totalmente à satisfação do usuário, com intuito de fidelizá-lo.
Imagens: Dreamstime | Photoxpress
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O
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ARTIGO
DR.LUIZ CARLOS NEMETZ
Advogado, graduado em direito pela FURB e pós-graduado em direito econômico pela FGV/RJ, sócio gestor e fundador da Nemetz & Kuhnen Advocacia Empresarial
O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA E OS SERVIÇOS DE SAÚDE
O
INOVAÇÕES E TENDÊNCIAS novo Código de Ética Médica
– CEM, trouxe aos serviços
de saúde, várias e importantes inovações, sinalizando,
também, para um novo con-
junto de tendência, compor-
tamentos e procedimentos. O
Conselho Federal de Medicina – CFM é uma
Autarquia Federal e por isto detém competência para regular e regulamentar o exercício
da medicina no Brasil. As resoluções do CFM e dos CRM’s têm força de lei. Assim sendo,
o novo CEM é de natureza cogente. A mais
importante e a mais sensível das inovações
trazidas pelo novo CEM é a que diz respeito a
relação médico-paciente, especificamente em relação a chamada “autonomia do paciente”
e o “dever de informar”. E, o que isso significa na prática? Para compreendermos isso de forma didática, precisamos entender um
pouco melhor a natureza jurídica da relação
médico (serviço de saúde), paciente (inclusive seus familiares). O paciente é aquele que “tem
esperança”. E, “tem esperança” de que? De que seja observada e cumprida, a “promessa” que
se espera do atuar médico (equipe de saúde): de evitar a morte. A medicina atua enquanto
profissão/missão, com uma utopia. A utopia é
algo que não temos ainda, e precisamos trabalhar arduamente, geração após geração, para
conquistarmos. Todos sabemos que não existe “vida biológica eterna”. E isso, sob o ponto
de vista psicológico, é um drama para quase
todos os seres humanos. Para conseguirmos conviver com esta certeza da morte, para
tolerar este limite biológico, aceitamos um
“não morrer”, pelo menos “agora”. É isso o que a maioria dos pacientes espera ao procurar os serviços de saúde. Não uma “promessa”, mas um esforço, que evite o “morrer agora”. Este é o fio da navalha, o alto risco que envolve a
relação médico-paciente. Um tem esperança de não morrer agora, os outros atuam para
contemplar, no limite de suas possibilidades, esta esperança. O novo CEM, ao inovar e
introduzir a “autonomia da vontade do pacien-
quando esta decisão estiver nos limites daquilo
peso da responsabilidade pela obtenção de bons
realidade, para o cumprimento de certas cautelas
te” e o “dever de informar” socializou entre o médico (equipe de saúde) e seus pacientes o
e maus resultados. Ou seja, o novo Código tirou
da equipe de saúde a percepção de responsabili-
dade exclusiva que tacitamente a grande maioria dos pacientes e familiares depositavam sobre os ombros dos seus doutores. Assim, os pacientes
passam a ser senhores do seu destino. Ou seja, o médico sempre deve se empenhar na busca do melhor possível em favor do paciente, usando
todos os meios dos quais dispõe, sem, contudo,
se comprometer a alcançar a cura e respeitando a opinião dos pacientes e familiares. Alguns dirão: mas esta interpretação já decorria do Código de
Defesa do Consumidor - CDC, não sendo daí, uma inovação. Esse raciocínio está parcialmente cor-
reto. O CDC, já previa o “dever de informar”. Mas, não impunha ao médico este dever. O novo Códi-
go, “obriga” o médico a informar, o que vale dizer,
que aquele que não informa, além de contrariar o CDC, passa a cometer uma transgressão ética de natureza grave. E, informar significa: esclarecer
detalhadamente. E este esclarecimento detalhado, deve ser provado, documentadamente, não
bastando, em tese, simples afirmação. Em relação a autonomia, estando o paciente informado e
esclarecido do seu diagnóstico, prognóstico e
tratamentos disponíveis, a ele e aos seus familiares caberá a escolha e decisões sobre seu futuro terapêutico, sempre com apoio da equipe de
saúde que lhe presta assistência. Essa inovação
traz um choque e insegurança aos médicos, tendo em vista que estes profissionais missionários
tendem a atuar constante e intensamente para buscar sua utopia do “não morrer agora”. En-
tretanto, a partir do novo CEM essa decisão não
pertence mais ao médico, mas sim ao paciente e/ ou seus familiares. Evidentemente, a autonomia
da vontade não é absoluta e somente poderá ser respeitada e proferida por pacientes lúcidos e
civilmente capazes. O paciente e seus familiares,
por exemplo, não estão autorizados a estabelecer limites para a vida. Não é isso! Mas é quase isso,
que a Constituição Federal designa de “vida
digna”. Há que se ter cuidado, diante desta nova
de ordem legal. Dentre elas: a verificação, sempre e indubitável, de que o paciente está lúcido,
tem capacidade civil de decidir sobre o próprio destino e vontade; e/ou que seus familiares e
responsáveis legais, estejam em sintonia e em
consenso absoluto, com a conduta escolhida; que as informações sejam esclarecidas e documentadas. E, finalmente, que, uma vez tendo capacida-
de civil de expressar livremente sua vontade, esta seja rigorosamente observada pela equipe de
saúde, ainda que esta opção volitiva manifestada pelo paciente ou familiares não esteja de acordo
com os princípios pessoais, morais ou religiosos dos integrantes desta equipe. A matéria ainda é árida a e irá gerar muitas controvérsias e inter-
pretações, temos certeza. Exemplo destas contro-
vérsias é o caso de um médico, internado com um aneurisma cerebral, que manifestou sua vontade expressa de não submeter-se à cirurgia. Entrou em coma e seus familiares, contrariaram sua
vontade e autorizaram a cirurgia. Operado, saiu
do coma com o prognóstico de possíveis lesões e seqüelas. O tempo dirá, se este médico/paciente irá se conformar, ou não, em ter sido contrariado. Se irá aceitar viver em condições que pode
entender não serem “dignas”. Se irá cobrar pelo
seu sofrimento, pelos custos do seu tratamento. A equipe de saúde que atendeu este paciente
esteve e segue no fio da navalha: sob o ponto de vista humano, salvou uma vida. Sob o ponto de
vista ético, pode ter desatendido um comando da vontade do seu paciente. Como os Tribunais irão interpretar a conduta e situação dos protagonistas desta história, será outra história.
Luiz Carlos Nemetz, advogado especialista em Direito Médico e da Saúde, sócio fundador da Nemetz & Kuhnen Advocacia Empresarial. Mais informações pelo site www.nkadvocacia.com.br ou através do e-mail lcnemetz@nkadvocacia.com.br.
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222 ANOS IHC >
A CARIDADE
NUNCA FALHA
13
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, essas três, mas a maior dessas é a caridade” I Cor. 13:13
>
O Imperial Hospital de Caridade completa 222 anos
em 2011. Originado a partir de um ato de abnegação e renúncia, o Hospital atravessou os séculos sendo mantido pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos.
E
xaminando em retros-
pectiva, com a ajuda da Ciência e da História,
tudo faz sentido. Mas, à época, foi espantoso. A inauguração do Impe-
rial Hospital de Caridade na Vila do Desterro
no dia 1º de janeiro de 1789 não parecia um feito meramente humano.
A Saúde no Brasil praticamente inexistia
nos tempos de Colônia. O modelo exploratório de ocupação portuguesa nem se preocupava
com isso. O pajé, com suas ervas e cantos, e os boticários que viajavam pelo Brasil Colônia
eram as únicas formas de assistência à saúde.
E só muito mais tarde, em 1808, quando o Rei Dom João VI veio exilar-se no país é que seria fundado na Bahia o primeiro Colégio Médico-Cirúrgico do Brasil, no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador.
< MAJESTOSO
Encastelado no alto do
morro, em Florianópolis, o Hospital de Caridade é referência geográfica da
Ilha e farol de competência da medicina.
Erguido inicialmente através da arreca-
dação de esmolas, concebido espiritualmente por uma mulher que doou todos os seus bens à caridade, inaugurado à sombra do Ilumi-
nismo e mantido através de séculos por uma
irmandade fiel, o Hospital de Caridade em
Florianópolis é uma expressão da Fé Viva que
se materializa em obras, conforme preconizou o Apóstolo Paulo.
Talvez seja necessário recorrer à biologia
e à moderna física quântica para compreender a magnitude dos acontecimentos que forjaram essa instituição, majestosamente instalada no
alto de um morro em Florianópolis, referência geográfica da cidade, farol de competência e qualidade na Saúde catarinense.
Os alemães têm uma palavra – Zeitgeist –
que significa algo como “o espírito da época”. Em 1789, esse espírito era de ruptura. Na
França convulsionada, o rei Luiz XVI e a rainha Maria Antonieta, autora da frase “quem não
tem pão, que coma brioches”, eram decapitados em praça pública por revolucionários influen-
ciados pelo Iluminismo, precursores dos atuais conceitos de Direitos Humanos nascidos da utopia de “Liberté, Egalité, Fraternité”.
A irradiação deste Zeitgeist, de alguma
forma, atravessou os oceanos e influenciou
os pensamentos na então remota e provincial Ilha de Santa Catarina. Há uma teoria que
explica isso. O biólogo inglês Rupert Sheldrake sustenta a tese de que campos de Ressonância Mórfica moldam os sistemas do mundo
material e proporcionam saltos quânticos de
evolução humana ao permitir que conhecimento adquirido por grupos de pessoas torne-se patrimônio coletivo, memória e consciência coletiva da espécie. Essa tese é conhecida e
estudada no mundo inteiro como a “Teoria do Centésimo Macaco” (veja quadro).
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A Teoria do Centésimo Macaco O biólogo inglês Rupert Sheldrake ilustra a Teoria do Centésimo Macaco, sobre os saltos evolu-
cionários, com um exemplo da natureza. Em um arquipélago formado por ilhas que não têm contato entre si, um certo macaco da Ilha A descobre uma maneira engenhosa de quebrar cocos, que lhe
permite aproveitar melhor a água e a polpa. Ninguém ainda tinha partido os cocos dessa forma. Por
imitação, o procedimento rapidamente se difunde entre os seus companheiros e logo uma população de 99 macacos domina a nova metodologia. Quando o centésimo símio da ilha A aprende a técnica
recém-descoberta, os macacos das Ilha B,C,D,E... começam espontaneamente a quebrar cocos da
mesma maneira. A explicação é que a partir do momento em que uma certa massa crítica de seres
adota o mesmo comportamento cria-se uma consciência no hábito da espécie - um campo mórfico.
dos Passos, colocada na Capela Menino
dos limites da Corte e
gem do próximo navio para a cidade do Rio
da Saúde para além
da nobreza, rompendo um secular sistema de
privilégios baseado nos
critérios de casta, os fundadores do Imperial Hospital de Caridade foram também, ao
seu modo, revolucionários. Disseminaram
dignidade e bem-estar aos desvalidos locais,
os “sans-culottes” do Brasil Colônia, famintos, miseráveis e doentes.
Toda a história do Hospital de Carida-
de começou com Joana de Gusmão, uma
senhora que distribuiu todos os seus bens e
integrou-se na Ordem Terceira da Penitência, em peregrinação com a imagem esculpida em madeira do Menino Deus.
Ela inaugurou em 02 de maio de 1762,
na Vila do Desterro (atual Florianópolis), a
Capela do Menino Deus. Ao lado foi constru-
Deus, com o intuito de abrigá-la até a passaGrande. Porém, depois de algumas tentativas frustradas para entrar à barra do Rio Grande do Sul, a permanência da escultura na Vila
do Desterro foi negociada, em 1764, entre o capitão do barco e seus moradores. A partir
daí, a Capela tornou-se o berço da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos.
Simultaneamente ao trabalho de Joana
de Gusmão, a Irmandade iniciou a presta-
ção de assistência aos doentes pobres, com alimentação e cuidados médicos, através
de seu irmão Antônio da Silva Gomes, que gratuitamente oferecia seus serviços. O
número de atendimentos aumentava a cada dia e havia necessidade de um local maior e
mais adequado para o desenvolvimento dos trabalhos.
Metade dos recursos gastos para finali-
ída sua residência, onde criou um pequeno
zar a construção da Santa Casa, que ocorreu
interrompeu o trabalho de atendimento aos
do através da arrecadação de esmolas. A
colégio de meninas. Joana de Gusmão só
necessitados e de construção do nosocômio
em 16 de novembro de 1780, aos 92 anos de idade, quando faleceu.
Anos antes, durante a passagem de uma
das embarcações vindas da Bahia, veio com Francisco das Chagas a imagem do Senhor
em 31 de dezembro de 1788, foi adquiri-
inauguração aconteceu em 01 de janeiro de
1789. Por determinação do Governo, a Casa foi chamada de Hospital Militar, em março de 1818. No entanto, em julho do mesmo ano, o Hospital voltou aos cuidados da Irmandade.
Imagens: Sxc.hu | Wikimedia Commons | Divulgação | Fabrício Boppré
A
o expandir o domínio
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LIBERDADE >
Liberdade, Liberdade, abre os braços sobre nós: um espírito de revolução varre o mundo e, na cidade de Desterro, ilumina “sans-culottes” nativos com a benção da Saúde.
A Celebração dos 222 anos, por Dr. Felipe Otávio Boabaid, Provedor do IHC “Em julho passado inauguramos o
serviço de Endoscopia no IHC como forma de prestar mais um serviço relevante para a comunidade de Florianópolis. Até o final
de 2010 será concluída a obra física do novo
Bloco Intensivo que disponibilizará mais oito salas cirúrgicas e 40 leitos de Unidade de
Terapia Intensiva, sendo 20 de UTI geral e 20 de UTI Coronariana.
Estamos também reformando uma área,
que se chamará Ala Ana Neri, e vamos ofere-
cer para a comunidade florianopolitana mais 13 apartamentos de excelente padrão de
acomodação. A reforma desta Ala está sendo feita graças à parceria estabelecida com a
empresa Tractebel Energia. A lavanderia do Hospital também está sendo ampliada para
atender a maior demanda que teremos com o novo bloco e a nova Ala de Internação.
Buscamos oferecer aos pacientes, e toda
a população que necessita de serviços de
saúde, um padrão de alta qualidade, capaci-
tando nossos profissionais para a prática de
atendimento humanizado, priorizando também a segurança e a integridade de nossos
pacientes. Independentemente de convênio, o atendimento que todos recebem é o mesmo, assim como as refeições, a rouparia, os
medicamentos e os materiais. Por sermos uma Instituição Filantrópica trabalhamos para o cumprimento da meta de atendi-
mento estabelecida no decreto 7.300, que vigora desde 14 de Setembro de 2010, e
é a legislação que regulamenta a questão. Pelo decreto, para que a instituição man-
tenha o certificado de filantropia, ela deve
reservar ao SUS (Sistema Único de Saúde) 60% de sua capacidade instalada.” Outra meta do nosocômio para os próximos
anos é a parceria com a Telemedicina na interiorização dos serviços. Segundo o
Provedor, esta idéia faz parte do Planejamento Estratégico do Hospital, realizado em 2006, mas que no momento torna-se
difícil, já que o foco é a finalização do bloco intensivo. “Por enquanto esta possibilida-
de ainda está em segundo plano. Para que isso se concretize precisamos de vários investimentos, parcerias e isso agora é
impossível, já que a prioridade é a obra
em andamento. Isso acontecerá em outra ocasião”.
Em 2011, o Hospital completa 222
anos de existência. Nada de glamour está
sendo preparado para as festividades. Será realizada, como em todos os anos, uma
missa com a presença de parceiros, funcionários, pacientes e a comunidade.
>
Dr. Felipe Otávio Boabaid, Provedor do Imperial Hospital de Caridade.
Filantropia As instituições filantrópicas são
entidades da área da Saúde, da Educação e da Assistência Social que, em troca de
vantagens tributárias, têm a obrigação de proporcionar benefícios à população. No
Brasil, existem 6.775 dessas instituições,
que recebem as seguintes isenções fiscais: 22% da folha de pagamento da contribuição previdenciária patronal, Imposto de
Renda, contribuição salarial sobre o lucro líquido da empresa, IPVA e IPTU. Na área da Saúde existem 1.158 filantrópicas.
16
IMPERIAL HOSPITAL DE CARIDADE
222 ANOS 1762: A Capela do Senhor Jesus dos Passos
1994: A Crise
“ E eu, com minhas obras, te
marcado para sempre na história dos catarinenses.
mostrarei a Fé” Joana de Gusmão - dentre as
diversas tarefas para concretizar
a construção do Hospital fundou a pequena Capela do Menino Deus, em 02 de maio de 1762. André Vieira
da Rosa e Muller doou o terreno para construção da Capela. Irmão Antônio da Silva Gomes - Prestava
gratuitamente seus serviços as enfermarias do Hospital e contratou as Irmãs (freiras) da Divina Providência.
Gov. Francisco Antônio Cardoso de Menezes e Souza – Foi um dos fundadores da Irmandade do Senhor dos Passos, em 1º de janeiro de 1765.
1789: O ano que não terminou O Imperial Hospital de Caridade foi inaugurado em
primeiro de janeiro de 1789, o ano que mudou o rumo
da história ocidental com ideais que perduram até hoje.
As estruturas da grandiosa obra foram abaladas por um trágico acidente. O dia 05 de abril de 1994 ficou Um incêndio sem explicações destruiu 70% da área construída. A população não mediu esforços para
salvar o Hospital e as vidas das pessoas que se encontravam presas entre os destroços.
Quase um ano após o incêndio foi criada a Fundação Cultural Senhor dos Passos, em 24 de outubro de
1995, com o objetivo de restaurar e apresentar ao
público o patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, religioso, hospitalar e natural, pertencente à Irmandade.
Referência no estado como modelo médico-hospitalar, o Imperial Hospital de Caridade, atualmente conta com mais de 200
leitos ativados e com uma
completa lista de serviços hospitalares.
1845: Um novo começo
2011: O histórico IHC
Meio século após sua construção, o Hospital de Carida-
A administração do Hospital de Caridade é gerida
uma nova edificação. Em 30 de julho de 1845 esta foi
por votação direta com mandato bianual. O atual
de encontrava-se em estado de ruína e necessitava de
aprovada. O lançamento da pedra fundamental contou com a presença do Imperador D. Pedro II, de Dona
Teresa Cristina e outras autoridades. O Hospital foi autorizado, por carta, a usar o título de “Imperial” em 18
pela Mesa Administrativa da Irmandade, eleita
Provedor é o Dr. Felipe Otávio Boabaid , que comanda a equipe Gerencial do Hospital e seus mais de 800 colaboradores.
de junho de 1846. O ato ocorreu a 05 de março de 1854 casa para a nova, sendo a velha demolida.
Imagens: Sxc.hu | Divulgação IHC
e culminou com a transferência dos doentes da velha
17
INSTITUTO SANTÉ>
VIVA E NÃO DEIXE MORRER “No futuro haverá dois tipos de gestores - os rápidos e os mortos”
O
DAVID VICE, NORTHERN TELECOM
colunista Luís Nassif, da Folha
competitiva. “Os resultados provêm do
uma historinha para ilustrar
da solução dos problemas. A solução de
de São Paulo, costuma contar qual o significado da expressão “vantagem competitiva”: um americano e um japonês
perambulam por uma savana africana e topam de frente
com um leão faminto a menos
de um metro. O americano ajoelha e reza. O
japonês ajoelha e troca as botas por tênis de corrida. O americano zomba: - você é louco! Acha mesmo que vai conseguir correr mais
que o leão? E o japonês responde: - Não preciso correr mais que leão, né? Só preciso correr mais que você!
O pai da gestão moderna, Peter Ferdinand
Drucker, elabora de forma mais requintada
o conceito de gestão que produz a vantagem
aproveitamento das oportunidades, e não problemas só restaura a normalidade. As
oportunidades significam explorar novos caminhos”, ensina Drucker.
Porém Drucker completa essa lição com
um insight: “nenhuma empresa é melhor do que o seu administrador permite”.
Ser melhor, alcançar padrões de quali-
dade e excelência na atenção dos serviços
de saúde deixou de ser uma atitude isolada e tornou-se um imperativo técnico e social. Para começar esse processo é necessário
criar e monitorar indicadores que predigam a qualidade da assistência em saúde presta-
da, avaliar a assistência provida aos clientes, mediante variação de critérios pré-estabelecidos. Um conjunto de práticas de gestão
Imagens: Dreamstime | Divulgação
18
19
COMPROMISSO COM A EXCELÊNCIA >
Critérios de avaliação Os critérios de avaliação são direcionados
Um processo contínuo, e
diretamente aos administradores.
infindável, de aprendizado e
execução das técnicas de gestão
LIDERANÇA
que resultam em redução de
ESTRATÉGIAS E PLANOS
custos, aumento da produtividade
CLIENTES
e satisfação dos públicos externo
SOCIEDADE
e interno.
INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO PESSOAS
PROCESSOS
RESULTADOS
PREMISSAS DA OMS
As aulas presenciais terminarão em dezembro de 2010 e as visitas de autoavaliação
padronizadas, logicamente interrelacionadas
como um título de competição de ganhar
produzir resultados.
pontos” diz Carlos Alberto de Liz Medeiros,
tem a finalidade de gerir uma organização e É o que o Programa de Melhoria Contí-
nua na Gestão e Assistência dos Estabeleci-
mais pontos, mas sim de quem obtém os
gerente administrativo da AHESC-FEHOESC. O PROGESS nasceu da busca de ferra-
mentos de Saúde de Santa Catarina
mentas para auxiliar os gestores hospitala-
em Serviços de Saúde têm como finalidade.
São José, de Criciúma, tinha sido premiado
(PROGESS) e o Prêmio Santé de Excelência Ram Charan, consultor indiano em Gover-
nança Corporativa e especialista em Estraté-
gia Empresarial enfatiza que “na maioria dos casos de fracasso, que nós estimamos ser
de 70%, o problema de fato não foi uma má estratégia, foi uma má implementação”.
No 32º Encontro Catarinense de Hos-
pitais, no Centro Multiuso em São José, em
14 de abril de 2010, ocorreu o lançamento
PROGESS e do Prêmio Santé. Em julho deste
res. “Tomamos conhecimento que o Hospital e participava do Movimento Catarinense de Excelência (MCE). Então, nos aproximamos do MCE, nos inteiramos do funcionamento do projeto e a partir das definições de um
comitê gestor específico, fez-se adaptações para o setor Saúde, culminando assim na
criação do PROGRESS e do Prêmio Santé,
consequência do processo de implantação desse programa”.
Neste momento estão acontecendo os
ano aconteceu o primeiro seminário do
seminários com o intuito de qualificar estes
Carneiro de Castro, membro do Movimento
presenciais serão realizados acompanha-
PROGRESS. O programa é dirigido por Alice Catarinense para Excelência (MCE). Ela é
responsável por capacitar os participantes a conhecer e implementar o Modelo de
Excelência da Gestão (MEG) e da Funda-
ção Nacional da Qualidade (FNQ) em suas empresas no nível “Compromisso com a Excelência”.
O Prêmio não objetiva a concorrência,
nem a competição entre os hospitais, e sim competir com ele mesmo. Não funciona
profissionais. Após o término das “aulas” mentos para implementação. “Vai ter um processo de acompanhamento e depois serão feitas auditorias para identificar
qual nível de pontuação o hospital obteve”, diz Carlos. A auditoria será realizada por alguém designado pelo MCE e o Comitê
Gestor (formado por membros do MCE e da AHESC-FEHOESC). Esses auditores irão aos
nosocômios e verificarão a pontuação obtida com base nos critérios de avaliação.
iniciarão em fevereiro de 2011.
Quem pode participar?
Qualquer hospital, clínica ou laboratório, tanto do setor privado quanto do público pode aderir ao
PROGRESS espontaneamente. Por se tratar de um
programa de adesão voluntária, importa o esforço organizacional em busca da excelência.
Local
Todos os encontros acontecerão na sede da Associação de Hospitais do Estado de Santa
Catarina (AHESC) e Federação dos Hospitais e
Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Santa Catarina (FEHOESC), na Av. Almirante Tamandaré, nº 94, Ed Coral Center – Sala 805, Coqueiros – Florianópolis (SC) - 88080-160
Premiação O Prêmio Santé de Excelência na Gestão de Saúde tem como objetivo reconhecer o trabalho de
excelência dos Estabelecimentos de Saúde que alcançarem os patamares do PROGRESS. Será
conferido anualmente durante uma cerimônia
específica realizada no Encontro Catarinense de
Hospitais e Estabelecimentos de Saúde. O Prêmio Santé terá validade limitada. Este será concedido às empresas que alcançarem e mantiverem os patamares de compromisso com a excelência.
Modelo de Excelência da Gestão
As organizações consideradas como referen-
ciais de excelência em nível internacional são aquelas que têm prosperado e alcançado a
liderança em suas respectivas áreas de atuação
e que são exemplos reconhecidos de atuação em
harmonia com o meio ambiente e integração com a sociedade.
PROTOCOLO MANCHESTER>
O PROTOCOLO DA VIDA >
Já implantado nas emergências de hospitais do norte de SC,
o Protocolo de Manchester define prioridades em atendimentos, identifica rapidamente os riscos dos pacientes e reduz o índice de óbitos por causas indeterminadas. O Protocolo tende a se consolidar como uma linguagem única em todos os Postos de Atenção à
A
Urgência e Emergência.
gestão da Urgência é,
talvez, o mais delicado e sensível desafio diário nos hospitais. Pois
ali, onde o paciente
encontra-se entre a vida e a morte, as equipes
médicas não têm margem de manobra, não têm margem de erro. Em 1997, um grupo multidisciplinar
de profissionais de
saúde criou, na cidade de Manchester,
no noroeste da Inglaterra, um Protocolo de Classificação de Risco no Serviço de
Urgência e Emergência. Trata-se de uma
metodologia com a finalidade de reduzir os
Implantar o Protocolo, no entanto,
índices de óbitos por causas indetermina-
não é fácil nem barato. Para seguir os
Uma de suas premissas é estabelecer um
de 40 profissionais treinados trabalharia
das, a partir de referências estabelecidas
e sistemas de prioridade no atendimento. tempo de espera pela atenção médica.
Após identificar a queixa inicial do
usuário, o Protocolo de Manchester, como
ficou mundialmente conhecido, preconiza
seguir um fluxograma de decisão e por fim
critérios originais, os hospitais deveriam
ter uma sala de triagem onde uma equipe em dupla, identificando os pacientes com
uma pulseira que indica por uma cor qual o grau de gravidade do paciente e quanto tempo pode esperar.
O método chegou ao Brasil em 2008,
estabelecer o tempo de espera que varia de
quando o Hospital João XXIII, de Belo Ho-
diagnosticados, e os casos mais graves são
do sistema por R$ 48 milhões.
acordo com a gravidade. Assim, os doentes são rapidamente identificados, porém não atendidos na frente, em contraste com o
modelo mais adotado no Brasil, de ordem de chegada.
rizonte, maior Centro de Politraumatismo de América Latina, comprou um software Em Santa Catarina, o Protocolo foi
eleito por Joinville e pelos municípios
Imagens: PhoroXpress | Divulgação: House | Fox
20
21
das macrorregiões Nordeste e Planalto
de pulso) e principalmente, profissionais
cia. Douglas Calheiros Machado, gerente
24 horas disponíveis no trabalho da clas-
Norte como a linguagem a ser utilizada nos Pontos de Atenção à Urgência e Emergên-
regional da 23ª Gerência Regional de Saúde de Joinville, enfatiza que, além da triagem, também é feito o encaminhamento às
unidades hospitalares que são referência
médicos ou enfermeiros em número suficiente e capacitados para permanecerem
sificação, o que pode obrigar a instituição
a aumentar ou remanejar o quadro desses profissionais”, pondera o gerente regional de saúde.
em cada caso.
O coordenador geral do Hospital São
“Inserimos as referências do Protoco-
Vicente de Paula, em Mafra e presidente da
lo nas regiões Norte e Nordeste de Santa
AHESC, Dario Staczuk, explica que o maior
Catarina em maio de 2010, após uma
beneficiado com o Protocolo é o paciente.
constatação de gestores de hospitais de
“Esse instrumento irá ajudar a diagnos-
que até 50% dos atendimentos nas urgên-
ticar, ou mesmo identificar as falhas na
de saúde dos municípios”, revela Douglas
de usuários submetidos a uma ‘triagem’
cias e emergências eram de pacientes que
poderiam estar sendo atendidos nos postos Machado. Por isso, um dos objetivos do Protocolo de Manchester é educar os
pacientes a procurar a unidade certa para cada problema específico.
“Lógico que o Protocolo de Manches-
ter exige algumas alterações mínimas nas instituições, tais como um local minima-
Atenção Básica. A realidade encontrada
nas unidades de urgência e emergência era empírica que levava em conta a ordem
de chegada - um critério sem qualquer
caráter técnico. O Protocolo, ao contrário, assegura o rápido atendimento daqueles
que passaram pela classificação, que consi-
dera os riscos imediatos de vida”.
O administrador Darci Ferreira da
mente adequado para a realização da
Costa Filho, do Hospital de Caridade São
tura auricular, glicemia capilar e oximetria
gastos, estruturas e as outras ferramentas
classificação, equipamentos, acessórios
para garantir algumas medições (tempera-
Braz de Porto União, embora considere o
Protocolo um avanço, preocupa-se com os
COMO EM HOUSE >
Protocolo uniformiza procedimentos, auxilia no rápido diagnóstico e dá suporte às decisões.
necessárias para fazer efetivamente o sistema funcionar. “A equipe especializada, o espaço para o atendimento e a estrutura exigem investimentos
substanciais. E quem fará a classificação estará habilitado? Percebo que poucos
profissionais desejam se deslocar para o interior, o que cria dificuldades para
formar equipes”, avalia o gestor. “O programa é perfeito, mas não foi calculado o grau de complexidade do Protocolo.
Hoje uma determinada região precisa de
um valor; e amanhã? Mas reconheço que precisamos dar este passo”.
GRAUS DE EMERGÊNCIA
&yGLJR $PDUHOR 8UJHQWH PLQXWRV
&yGLJR 9HUGH 3RXFR 8UJHQWH PLQXWRV
&yGLJR $]XO 1mR 8UJHQWH PLQXWRV
&yGLJR 9HUPHOKR (PHUJrQFLD PLQXWRV
&yGLJR /DUDQMD 0XLWR 8UJHQWH PLQXWRV
EMERGÊNCIA >
O Protocolo de Manchester. Criado em 1997, no Reino Unido, chegou ao Brasil só em 2008.
22
“A implantação do Protocolo de Manchester propiciará a
organização, classificação e priorização dos atendimentos
de urgência e emergência de acordo com os níveis de risco e complexidade. Teremos estatísticas para comprovar a
JOSÉ FRANCISCO BERNARDES >
DOUGLAS CALHEIROS MACHADO >
José Francisco Bernardes, presidente do CREMESC.
da em conceitos de qualidade na assistência à saúde,
Para o presidente do CREMESC, médicos ainda não estão familiarizados com o Protocolo.
sua eficácia,bem como identificar a procura indevida que
regional de Saúde de Joinville
momento nós teremos que aceitar este desafio e esclarecer a população queninguém vai deixar de ser atendido. O que vai existir daqui para frente é um critério para os atendi-
A vida em prim
mentos nas urgências e emergências. Quando o paciente for atendido será atendido bem”. Dario Staczuk, presidente da AHESC.
De acordo com a gerência
na região do Planalto Norte não existe
regional de saúde de Joinville, os
demandam às urgências e emergências.
SES. A contratação dos enfermeiros,
V
que são as maiores especialidades que amos solicitar aos
deputados estaduais
e ao governador que
deem continuidade nesse processo, originado
do Plano Nacional das
Urgências e Emergências,
de Monte Claros, Minas Gerais. No início não
vai ser fácil mesmo. Se as duas
horas da manhã chego ao Hospital com meu filho berrando de dor é claro que
não vou aceitar muito bem este critério de atendimento. Quem vai atender é a
recepcionista, o enfermeiro, o médico? É complicado, mas temos que tentar”, afirma Dário Staczuk.
já que recentemente publicações têm demonstrado a
ta tecnologia”. Douglas Calheiros Machado, gerente
ou ausência de Atenção Básica nos municípios. Em algum
referência em Trauma, Cardio e Neuro
validação bibliográfica é hoje uma prática não admitiredução de mortalidade nas urgências com o uso des-
gera a sobrecarga dos serviços de emergência, por falhas
O presidente da AHESC concorda que
“Não utilizar um sistema de classificação de risco com
custos de capacitação para quase 200 profissionais foram absorvidos pela
no entanto, e a adequação das áreas físicas às diretrizes do Protocolo
de Manchester são bancadas pelos hospitais. A implantação do Proto-
50 Atendimento de casos graves
O Hospital Joã Horizonte,d atendiment Protocolo d de atendi de 35% e para 50 repre s o índ
%
colo permite que a saúde estadual
condições de adotar o Protocolo “já que
pios da macrorregião Nordeste e Planalto
de estrutura física adequada”. José Francisco
avance com a Rede de Atenção à Saúde
(RAS) definindo no âmbito de 23 municí-
Norte os pontos de atendimento que serão Referência para casos de traumas e urgên-
cias cardiovasculares, incluindo o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Segundo a enfermeira e secretária do
Conselho Regional de Enfermagem
(COREN/SC), Felipa Amadigi, as institui-
ções terão que se preparar para as exigên-
cias previstas pelo Protocolo. Ela questiona se o sistema de saúde catarinense tem
diariamente nos deparamos com greve de
médicos, falta de equipes, de equipamentos,
Bernardes, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de SC, relata que o
CREMESC vem trabalhando com os segmentos envolvidos no processo de implantação
do Protocolo. “Procuramos sanar dúvidas a
respeito da operacionalização desse sistema nas unidades de saúde e, desse modo, dar
orientação adequada aos médicos” O Conselho entende que há um período de adapta-
ção ao modelo que, certamente, implica em
Imagens: Divulgação
DÁRIO STACZUK >
23
organização do percurso do paciente tanto dentro do serviço de urgência, quanto
numa possível rede integrada de serviços de urgência.
O resultado disso é a redução da
mortalidade como demonstrado em artigo publicado no Emergency Medical Journal, no ano passado. A utilização em Joinville
foi feita por recomendação do Ministério
da Saúde, mas a entidade responsável pela formação e manutenção do padrão no país
MAURÍCIO SOUTO-MAIOR >
ROBERTO HESS >
cado é desperdício de recursos, e no panorama atual
uma metodologia que veio para ficar, não por decisões
“Implantar o Protocolo de Manchester sem prover
recursos para estruturação física e de pessoal qualifinão vejo como implantar com sucesso esse protocolo em nossa região e em nosso Estado”.
Maurício Souto-Maior, diretor administrativo do
Hospital e Maternidade São José de Jaraguá do Sul
Para o secretário de Estado da Saúde de Santa Catarina, Dr. Roberto Eduardo Hess de Souza “Esta é
administrativas, mas pelos resultados do protocolo em vários países. A metodologia está em constante
avaliação e vem recebendo melhorias pontuais, por
isso não acredito na possibilidade de que Santa Catarina retorne ao método antigo de triagem”.
meiro lugar
ão XXIII, de Belo ivulgou um balanço dos os desde a implantação do de Manchester. O índice mento de casos graves era em julho de 2008 e passou 0%. Casos pouco graves sentavam 62% do total e ice baixou para 43%. adequações e ajustes.
Douglas Calheiros Machado explica
que algumas unidades foram obrigadas a rever suas rotinas e fluxos internos, e
mensalmente discutem entre si os pontos positivos e negativos encontrados durante a implantação do Protocolo de Man-
chester. “Esse é um poderoso mecanismo de gestão pois as unidades de urgência e emergência são um observatório muito interessante de como está organizado
todo o sistema de saúde de um municí-
pio”, analisa o gerente regional de saúde. Também a Atenção Primária de
Saúde tem, com o Protocolo, o resgate da
sua importância ao ser instigada a atender os pacientes de forma organizada, efetiva e resolutiva. “Porém, sabemos que se faz
necessário mais investimentos nessa área,
mudanças radicais no seu processo de trabalho, maior qualificação dos profissionais que lá atuam e vínculos empregatícios menos precários”, pondera Machado.
O Grupo Brasileiro de Classificação de
Risco (GBCR), órgão que tem como mis-
são garantir que a instituição que utiliza o Protocolo de Manchester cumpra os
requisitos mínimos, explica que a tecnolo-
gia vem sendo utilizada há mais de 10 anos em vários países e com mais de 10 milhões de pessoas sendo avaliadas anualmente
com essa metodologia, mantendo o mesmo
padrão de utilização, formação do executante e auditoria do processo de execução com
metas de aferição da assertividade. Segundo o presidente do grupo, Dr. Welfane Cordeiro Júnior, constata-se que a utilização de sistemas de classificação de risco como o Protocolo de Manchester tem grande impacto na
é o GBCR, ligado ao grupo internacional do protocolo que reúne hoje 12 países.
“Um sistema de classificação de risco
tem potencial para organizar tanto os
fluxos internos do serviço de urgência, iniciando um processo de gestão clíni-
ca, quanto a identificação de ‘falhas’ do sistema de saúde, já que normalmente
essas falhas apresentam como sintomas a burocracia dos serviços de urgência -
aqueles que garantem acesso às pessoas 24 horas. Um bom exemplo disso é a grande prevalência de pacientes de baixo risco
(por exemplo, os classificados como azuis
e alguns verdes) nos serviços de urgência. O simples fato de mensurar esse dado nos dá uma visão do acesso (ou da falta dele) aos serviços de atenção primária. Confir-
mamos que os serviços de urgência estão
abarrotados de pessoas que poderiam ser atendidas em outros pontos de atenção
do sistema de serviços de saúde”, afirma
Cordeiro Júnior. A implantação do Proto-
colo de forma isolada, sem reflexão crítica e sem visão de política sistêmica poderia, segundo o presidente do GBCR, causar
tensões inusitadas, pela clareza dos dados apresentadas, o que expõe o sistema de saúde como um todo.
O diretor administrativo do Hospital e
Maternidade São José de Jaraguá do Sul/ SC, Maurício Souto-Maior, acredita na
proposta do Protocolo, mas alerta sobre os fatores a serem consolidados para que a
ferramenta opere bem. “Torna-se necessá-
24
Redução de Mortalidade
10
Experiência avaliada com 10 milhões de pessoas no mundo confirma que Protocolo de Manchester é ferramenta eficaz para salvar vidas.
mi
caso contrário será mais uma tentativa
frustrada de otimizar os recursos e dar
agilidade ao atendimento das urgências e emergências”, acredita Maurício. “Im-
plantar o Protocolo de Manchester sem
prover recursos para estruturação física e de pessoal qualificado é desperdício de recursos, e no panorama atual não
vejo como implantar com sucesso esse protocolo em nossa região e em nosso estado”.
Maurício Souto Maior observa que o
Comitê Gestor das Urgências e Emer-
gências das Regiões Norte e Nordeste
Catarinense, fórum que deveria contar com a participação e poder de decisão
de todos os envolvidos - prestadores de serviço e gestores públicos, começou
com uma condução unilateral de deci-
sões, que terminaram em uma proposta equivocada. “Em nossa análise pessoal, os prestadores mais uma vez não
tiveram oportunidade de colaborar na
decisão, haja vista que os recursos para atendimento ao trauma, por exemplo, não foram disponibilizados para Jara-
e Nordeste de SC – Comitê do Trauma Norte e Nordeste de SC”.
Para o secretário de Estado da Saúde
de Santa Catarina, Dr. Roberto Eduardo
Hess de Souza, o Protocolo de Manchester é uma experiência que deu certo. “Esta é
uma metodologia que veio para ficar, não por decisões administrativas, mas pelos
resultados do protocolo em vários países. A metodologia está em constante avalia-
ção e vem recebendo melhorias pontuais, por isso não acredito na possibilidade de que Santa Catarina retorne ao método antigo de triagem”.
Para o Secretário, o Protocolo não é
um mecanismo de gestão. É um método testado e aprovado que ajuda no geren-
ciamento de PAs e Postos de Saúde. “Santa Catarina sempre esteve preparada para
enfrentar desafios e esse é um que já foi
vencido. O próximo passo é a consolida-
ção do método. A mudança cultural virá à medida que a população for percebendo os resultados através da divulgação do novo instrumento”.
Hess quer difundir o conhecimento
guá do Sul, que sabidamente necessita
de que a diferença básica entre o Proto-
considerando-se o estudo do Dr. Niso
sempre tem o seu atendimento garantido.
desse novo aporte financeiro para
melhorar o atendimento que já realiza, Eduardo Balsini, sobre a “Idealização
dos Centros de Trauma na Região Norte
colo e o atual sistema de triagem é que,
no Protocolo de Manchester, o paciente
Cabe ao paciente decidir se quer ou não
aguardar, quando a classificação definir a
prioridade de atendimento. Outra ques-
tão importante é que o protocolo ajuda a
saúde pública a cumprir uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), que é a equidade. “Ao mesmo tempo em que
oferece atendimento, não permite que um
paciente em estado grave aguarde enquanto outro, ambulatorial, é atendido”.
ANOTE NA AGENDA: Já estão abertas as inscrições para o 33º Encontro Catarinense de Hospitais e Prestadores de Serviços de Saúde, que vai ocorrer nos dias 14, 15 e 16 de setembro, no Centro Multiuso em São José. Nesta edição, o tema do encontro será “Novas tendências de gestão na saúde” e promoverá seminários e plenárias para discutir assuntos relacionados a custos hospitalares, RH, filantropia, questões jurídicas hospitalares e central de compras. A realização é da Associação de Hospitais do Estado de Santa Catarina (AHESC), Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de SC (FEHOESC), Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas de SC (FEHOSC) e a Federação Brasileira de Administradores Hospitalares. Mais informações: (48) 3224-5866 www.ahesc-fehoesc.com.br
Imagens: Wikimdia Commons
ria uma revisão urgente dessa proposta,
25
PERFIL>
PERSONAGEM
MIRIAN UNBEHAUN SILVA Secretária Municipal de Saúde de Rio do Sul, SC COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOAS A capacidade de liderança de Miriam Unbehaun Silva criou à sua volta equipes vencedoras. Na área privada, remodelou a gestão do Hospital Regional Alto Vale. E, no serviço público, vem implementando conceitos de excelência na secretaria municipal de Saúde de Rio do Sul. A influência dessa gestora tem sido reconhecida por dezenas de hospitais que já se beneficiaram de seus serviços de consultoria. Múltipla, inquieta, dona de uma visão estratégica rara, Miriam ajuda a FEHOESC a expandir conhecimentos essenciais ao sucesso dos administradores hospitalares.
M
irian Unbehaun Silva, 51
Nos dez anos seguintes, Miriam Silva
anos, ex-diretora geral do
dividiu as atenções profissionais entre o
no período de 1995 a 2005,
classistas na diretoria da AHESC-FEHOESC.
Hospital Regional Alto Vale
é formada em Administração
de Empresas com especializa-
ção em Administração Hospitalar e Gestão de Serviços em Saúde. Comanda hoje a Secretaria Municipal de Saúde de Rio do Sul.
Mirian iniciou as atividades na FUSAVI
como Administradora Hospitalar. “Eu tinha a formação e eles, a vaga. Mas não queria assumir o hospital. Resisti bastante de
janeiro a julho, até assumir realmente. O hospital estava carregado de problemas.
Nada funcionava. Fiz, então, um trabalho na recepção que era o maior ponto de atrito
com a comunidade. Desenvolvi um trabalho de diagnóstico do hospital e foi muito bom.
Eu estava muito motivada. Neste momento, o apoio da equipe da instituição foi fundamental”, recorda a ex-diretora.
desafio diário de gerir o hospital e as funções Foi presidente do Sindicato Patronal do Alto-
-Vale, cumprindo a agenda de reuniões dos 17 hospitais do Alto-Vale.
Em 2002, essa rotina pesada cobrou o
preço na forma de um profundo cansaço físi-
co, que obrigou Miriam a desacelerar. “Foram dez anos de dedicação exclusiva, abdicando
muitas vezes da família, e chega o momento
em que o corpo e a mente emitem um alerta”.
A Diretoria e o Diretor Técnico da FUSAVI,
em parceria com Miriam, de certa forma
reconstruiram o Hospital Regional do Alto
Vale. “A resistência dos médicos quanto à nova realidade – o Hospital-Empresa – era imensa, já que eles sempre haviam trabalhado com
a administração do Sistema Único de Saúde
(SUS). “Tivemos várias conquistas, como um convênio com o Governo do Estado, monta-
Imagens: Divulgação
26
27
PERSONAGEM
mos um laboratório próprio de Análises
muito bem. É um mundo totalmente a parte.
alta complexidade, 20 leitos de UTI. Plane-
resgatar o que a cidade tinha de melhor. Uma
Clínicas, um Banco de Sangue, exames de
jamos tudo com visão no futuro, como era o planejamento inicial”.
Mas, o cansaço e a desmotivação
começam a ser empecilhos para os anseios de Mirian. Surgiu então a oportunidade
de trabalhar com consultoria, junto com
o diretor executivo da AHESC-FEHOESC, Braz Vieira, o consultor administrativo
da AHESC-FEHOESC, Ragnar José Jacob, e
outros integrantes na Adhocracia Administração S/S Ltda, uma empresa de consultoria hospitalar consolidada no mercado. “A consultoria leva você a estudar mais. Em 1998 fiz mais uma especialização. Atual-
O Prefeito levantou Rio do Sul, conseguiu
alavancagem de progresso. Como devo muita coisa a ele, com tudo que passamos para er-
guer a FUSAVI, pensei: são só dois anos, passa
rápido. Meu foco são as pessoas dos hospitais. Todas precisam de uma atenção especial.
Desde a área de higiene e limpeza até a área médica, enfermagem, equipes multidiscipli-
nares... Enfim, precisam de atenção e carinho. São pessoas especiais. Não é demagogia. Faço
isso com tanta paixão que tudo que me preponho a realizar sempre acaba dando certo. Há
a preocupação com o ser humano dentro dos objetivos da gestão”, analisa Miram
Miriam foi a primeira mulher do Brasil à
mente, tive que segurar um pouquinho a
frente de uma distribuidora de produtos de
Saúde. Hoje faço apenas consultoria ao
nacional no setor - e é a única mulher a ocupar
consultoria em virtude da Secretaria de
Hospital Dona Helena, de Joinville, que é
particular, da comunidade evangélica. Não atende pelo SUS”.
À época do trabalho na FEHOESC, o
presidente Tércio Egon Paulo Kasten a convidou para ser vice-presidente da Federa-
ção. “Para o Tércio a gente nunca consegue dizer não”.
Em julho, o atual Prefeito de Rio do Sul
propôs a ela o cargo de Secretária Municipal de Saúde. Ela tentou explicar que
não entendia muita coisa da área política. Mas acabou sendo convencida a assumir.
“Não estava nos meus planos a Secretaria
da Saúde. Ainda não consegui me adaptar
limpeza hospitalar, a OGM, uma referência uma cadeira na Confederação Nacional de Saúde.
“Acho motivador ter várias atividades.
Não vejo isso como um problema. Claro que
sempre que você ganha de um lado e perde de
outro. Você tem que abrir mão de algumas coisas. Não consigo ir a alguns eventos com meu
marido, o cansaço tem impossibilitado minhas caminhadas. Esse é o lado que tenho perdido.
Mas percebo concretamente as pessoas sendo beneficiadas na Atenção Básica municipal
em razão do trabalho que minha equipe e eu desenvolvemos, e essa satisfação compensa todo o resto”.
GESTÃO HOSPITALAR>
O HOMEM
QUE CALCULAVA >
Gestores dos hospitais de pequeno e médio porte vão se beneficiar de um software de custos hospitalares que ajuda a reduzir as despesas operacionais. O credenciamento para receber o
sistema já está aberto. E a oportunidade para investidores também.
S
Imagens: Dreamstime | Photxpress | Sxc.hu
28
S
29
uponha por um momento que
estamos em 2004 e uma empre-
sa recém-criada está oferecendo uma IPO – oferta pública inicial
– na bolsa de valores. A empresa
precisa de capital para investir num software que permita “organizar a
informação mundial e torná-la uni-
versalmente acessível e útil”. Parece impossível. Parece utopia. Para um
investidor, é risco ou oportunidade? Os visionários que acreditaram
na proposta de Larry Page e Sergei
Brin e investiram nessa empresa de
nome inexplicável – Google – faturaram, em um ano, 650 dólares por cada dólar investido em ações.
Mantidas as devidas proporções entre este case
– que virou um dos maiores negócios do século XXI
– e a realidade regional, o dado concreto é que agora os administradores de médio e pequeno porte têm
igualmente uma oportunidade de investimento em um software capaz de gerir os custos hospitalares.
Projeto de custos hospitalares A AHESC-FEHOESC e a FEHOSC desenvolveram
o Projeto de Custos Hospitalares tendo como base o Planejamento Estratégico Interinstitucional, criado
entre os anos de 2008 e 2009. Direcionado ao setor
privado da saúde de Santa Catarina, esse planejamen-
to tem como um dos objetivos estratégicos a redução de custos das unidades hospitalares.
O consultor administrativo da AHESC-FEHOESC,
Ragnar José Jacob, informa que, na busca de instru-
mentos de gestão para os hospitais, a AHESC-FEHOESC e a FEHOSC instituiram uma Comissão composta por
representantes técnicos (da área contábil e de custos) e
de gestão de diversos hospitais do estado para, embasados nos seus conhecimentos e nos sistemas de custos já
implantados, definir as bases operacionais de uma nova ferramenta de controle dos custos hospitalares.
“Não há a possibilidade de negociar com as Operado-
ras de Saúde Suplementar, os planos de saúde, ou com as próprias Secretarias Municipais de Saúde, sem o conhecimento real do custo dos produtos, no caso os serviços médico-hospitalares”, pondera Ragnar Jacob.
As atividades da Comissão iniciaram-se em junho de
2010. Foram contatadas empresas de softwares de ges-
tão do setor hospitalar que possuíam módulos de gestão de custos. Entre as empresas contatadas, a Inovadora –
www.inovadorasistemas.com.br – foi a selecionada para formatar uma parceria.
A Inovadora possui o módulo de custos flexível ne-
cessário às customizações de formatação da ferramenta.
“A empresa e a Comissão estiveram reunidas em diversas oportunidades. Na primeira fase, ficou definido o palco
de trabalho, sendo o Hospital Salvatoriano Divino Salva-
dor, em Videira. Lá, o módulo da empresa já foi aplicado”, relata o consultor administrativo da AHESC-FEHOESC.
Na segunda fase foram identificadas discrepâncias
no projeto original e feitas as devidas customizações. Os novos resultados foram apresentados na segunda reu-
nião. O software agora está na terceira fase de adequa-
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ções que são produzidas e discutidas durante os novos encontros. “Este software
facilitará bastante a vida da administração hospitalar” afirma o gerente administrativo da AHESC-FEHOESC, Carlos Alberto
de Liz Medeiros. “Os hospitais-piloto são aqueles que fazem parte da Comissão
de Custos Hospitalares”, anuncia Carlos.
Todos os hospitais já podem se credenciar para investir no software de gestão de
custos hospitalares. O público-alvo são
as unidades hospitalares de pequeno e
médio porte, pois os grandes hospitais já possuem um sistema próprio.
um dos fundamen-
Tudo tem seu preço
Qual o custo real de cada serviço médico-hospitalar prestado? Modelos contábeis do passado já não servem para mensurar pelos gestores é que a adequadamente. É preciso um sistema economia de recursos se dá com os modernos processos gerenciais em dois momentos: quando se para facilitar a administração de hospitais de pequeno e médio porte. compra e quando se gasta. Com tos econômicos
mais reconhecidos
uma contabilidade minuciosa, pla-
nejada e bem administrada, dá até para
fazer sobrar onde antes estava faltando.
O que pode ser a diferença entre a vida e a morte para uma unidade hospitalar.
O software liberado pela
é possível mensurar. Temos que
AHESC-FEHOESC e FEHOSC
aguardar mais resultados. O que
já terá, de início, um acerto de
podemos afirmar agora é que o
95%. Os outros 5% dependem
público-alvo conseguirá organizar
de adaptações à realidade de
seus gastos, como saber quanto
cada hospital.
gasta de energia elétrica, de água, compra de medicamentos entre
Nesse momento, o sistema
outros.”, diz Carlos. Após os resul-
encontra-se em um procesJá foram acertardos com
a Inovadora os valores de
investimentos e identificados
os consumidores, entre outras
A DIFERENÇA ENTRE A VIDA E A MORTE >
A redução de custos hospitalares proporciona sobrar onde estava faltando.
providências. “Não pretendemos apenas entregar o software e pronto. Temos de
encaminhar profissionais altamente qualificados, com conhecimentos para fazer a identificação e acompanhar a adapta-
ção de custos do sistema” explica Carlos Medeiros.
O que se observa em Santa Catarina
é que as instituições de saúde –princi-
palmente as públicas, é verdade – estão
alheias do processo de modernização gerencial. A maioria utiliza métodos contá-
beis tradicionais, que não levam ao conhecimento de seus custos reais. Em outras
palavras, não fazem uso de um sistema de custos que oriente e ofereça parâmetros
para suas decisões administrativas e para o controle de suas atividades. Entretanto,
tados positivos demonstrados, o
software começou, em dezembro, a ser levado ao mercado, comercializado entre os associados.
No dia 29 de outubro,em Florianópolis,
a AHESC - FEHOESC e FEHOSC e a empresa
Inovadora assinaram o contrato. Representantes de oito Hospitais tomaram conheci-
mento de como será a base de operações de custos. O mês de novembro serviu para os
treinamentos, capacitação e cadastramento de todos os dados dos hospitais-piloto. A sede da AHESC-FEHOESC será o
Centro de Treinamento. Todas as dúvidas e suporte são fornecidos pelo acesso remoto
ou telefone, e-mail, entre outros, através de consultor técnico. O maior objetivo deste
projeto é fazer o gerenciamento dos custos dos hospitais, ou seja, ser uma ferramenta de Gestão Hospitalar, principalmente aos
hospitais de pequeno e médio porte que necessitam deste serviço. “Haverá uma redu-
TREINAMENTO E SUPORTE >
Sede da AHESC-FESHOESC servirá como Centro de
treinamento e suporte visando a melhora da Gestão Hospitalar no Estado.
Imagens: Dreamstime | Divulgação
so eminentemente técnico.
ção nos custos, só que ainda não
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ARTIGO
ADM. CARLOS ALBERTO DE LIZ MEDEIROS ¹ ADM. RAGNAR JOSÉ JACOB ²
GESTÃO HOSPITALAR NO “ACHISMO”
UM VOO CEGO
U
m dito popular diz que: “contra fatos não há argumentos”. Traduzido-o na realidade da gestão hospitalar pode-se afirmar: “contra informações não há contestações”. Porém, o que de fato isto quer dizer?
A administração é uma das áreas de formação mais modernas, tendo seu início no final do século XIX. Assim como as demais, iniciou-se com a compilação de técnicas, agora voltadas para o desempenho organizacional, alternando o foco das ações de gestão entre uma e outra escola até os dias atuais. Ainda no inicio do século 20, Frederick Winslow Taylor, considerado o “pai” da administração científica, já considerava imprescindíveis para o sucesso empresarial as informações organizacionais e a substituição dos métodos empíricos pelas técnicas científicas consolidadas pela aplicação prática. Mesmo as diferentes escolas de administração como as de Ford, Weber, Mayo entre outras, foram uníssonas nesse aspecto. A administração é uma ciência e como tal, não comporta o “achismo”. O empirismo não cabe na gestão profissional, ainda mais se tratando de organizações complexas.
Tratando da realidade hospitalar, Peter Drucker, o maior expoente contemporâneo da gestão empresarial, destaca a complexidade dessas organizações. Para ele “poucos processos industriais são tão complicados quanto o hospital” (Drucker, 1975). Destaca
ainda que “o hospital é a mais complexa organização humana já concebida e também, nos últimos trinta ou quarenta anos, um dos tipos de organização de mais rápido crescimento nos países desenvolvidos” (Drucker, 2002). Assim, o alerta é evidente: diante do reconhecimento de tal complexidade gerencial não cabe um vôo cego. Administrar hospitais sem informações organizacionais é assinar sua sentença final. O insucesso é inevitável. As informações construídas com base nos dados empresariais são a fórmula do sucesso gerencial. O turnover, os índices de produtividade e de qualidade, o giro do leito, o número de pacientes-dia, as internações por especialidade médica, por clínica etc. são informações que devem municiar o administrador para o processo decisório. No entanto, há que se destacar a importância da gestão de custos posto que estamos inseridos num mercado onde o comprador é quem define quanto pagará pelos serviços médico-hospiralares. Um sistema de custos adequadamente implantado permite gerar informações que fornecerão subsídios indispensáveis aos administradores, proporcionando uma visão mais minuciosa de cada setor da empresa
e o controle de suas atividades (Zanluca, 2009).
Não se descarta o subjetivismo na gestão, pelo contrário, o feeling, a percepção baseada na experiência, são fatores importantes para a administração, mas devem ser utilizados a partir de informações fidedignas da situação organizacional, uma vez que os dados apontarão as tendências e conseqüências do processo decisório. Nas organizações hospitalares não cabe a “tentativa e erro”. O profissionalismo gerencial e o investimento no levantamento de informações empresariais são imprescindíveis para a sobrevivência da entidade frente às particularidades do mercado. 1. Adm. Carlos Alberto de Liz Medeiros, administrador de empresas, especialista em gestão hospitalar, gerente administrativo da AHESC-FEHOESC.
2. Adm. Ragnar José Jacob, administrador de empresas, especialista em gestão hospitalar, sócio e consultor da Adhocracia Administração em Serviços de Saúde.
CAPA>
O GOVERNADOR
EM SEU LABIRINTO
A
Saúde como prioridade de governo é um antigo mote de campanhas eleitorais. E será assim até o fim dos tempos, porque a Saúde é um bem de expectativa infinita. As pessoas sempre querem viver melhor, e viver mais. Quando o novo governador catarinense se elegeu, foi enfático em sublinhar a relevância que o tema teria em seu governo.
Raimundo Colombo, porém, encontra-se em um labirinto: precisa encontrar a saída entre receita reduzida e aumento crescente da demanda por serviços de Saúde. AHESC-FEHOESC conversaram com o governador que vai conduzir os destinos da saúde em Santa Catarina no início da próxima década sobre a sua visão estratégica para o setor. Raimundo Colombo anunciou, no início de dezembro de 2010, o nome do médico joinvillense Dalmo Claro de Oliveira, do PMDB, para ocupar o cargo de Secretário Estadual da Saúde. Dalmo, como é chamado no meio político, notabilizou-se como
eficiente gestor à frente da Federação das Unimed`s de Santa Catarina. É um homem acostumado a gerir pessoas e processos. “Reconheço que não tenho a experiência da gestão em setor público, mas os processos que conduzem à produtividade e à excelência são os mesmos na iniciativa privada e pública. O que devemos fazer, então, é começar a implantá-los”, disse Dalmo Claro de Oliveira no dia em que seu nome foi apresentado ao público, no auditório da Secretaria da Administração do Centro Administrativo do Estado.
Imagens: Dreamstime | Divulgação
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Ao aceitar o convite para o cargo, o novo secretário recebeu do governador eleito uma missão: ampliar o acesso a exames e tratamentos de média complexidade para a população catarinense. A forma escolhida por Raimundo Colombo para fazer isso é por meio da criação de Policlínicas em pólos regionais. “Também acho ótima a ideia de expandir a capacidade de atender a população nos casos de médica complexidade aproveitando as estrutura já existentes de hospitais privados e filantrópicos”, afirmou Raimundo Colombo durante o encontro da Federação Catarinense de Municípios, no CentroSul, em Florianópolis. A AHESC-FEHOESC entregaram ao vice-governador, o também médico
AHESC-FEHOESC - No que consiste a sua visão estratégica de Saúde para os Catarinenses? Raimundo Colombo -Disse isso durante a campa-
nha e reafirmo meu compromisso: vamos investir para que nenhum catarinense fique distante mais de uma hora de carro de uma unidade de saúde de referência. Para que esse cidadão tenha atendimento de qualidade, sem que precise se locomover até os grandes centros. Queremos dar opções para que as pessoas tratem e cuidem da sua saúde, perto das suas casas.
AHESC-FEHOESC - Quais os primeiros passos para tornar essa visão uma realidade?
Raimundo Colombo -Instalar Policlínicas -
exemplos que deram certo - a cada 100 mil habitantes. Equipar e tornar hospitais regionais em referência no tratamento de especialidades de média complexidade. Na grande Florianópolis, região que recebe pacientes de todo o estado e até de outros estados, construir mais um hospital público, capaz de atender a todos os Raimundo Colombo tipos de intervenções de alta complexidade. A transformação dos 11 hospitais próprios estatais em “Organizações Sociais” (OS). Os postos de saúde vão atuar na prevenção e no cuidado da saúde como médicos de família
“Reafirmo meu compromisso: vamos investir para que nenhum catarinense fique distante mais de uma hora de carro de uma Unidade de Saúde de referência”
Eduardo Pinho Moreira, um documento contendo uma análise acurada do setor hospitalar no estado e as considerações dos gestores sobre as políticas públicas que, uma vez iniciadas, acarretarão em um avanço sistêmico da produção de Saúde em Santa Catarina. No entender dos associados da AHESC-FEHOESC, esses anseios de ações políticas e técnicas são urgentes por representarem a manutenção do SUS e a sobrevivência do setor hospitalar privado e filantrópico, que responde por 77% dos leitos instalados no estado.
Apesar de ser chamado de “serviço complementar” para o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), o setor privado vai muito além disso. Os associados da AHESC-FEHOESC estão postulando junto ao Poder Executivo catarinense, alicerçados na importância de sua representatividade, que o setor participe das definições de rumos e planejamento das ações de saúde. Essas são as respostas do governador Raimundo Colombo sobre as primeiras ações de governo na área da saúde.
Para o Secretário de Saúde Dalmo Claro de Oliveira, a transformação de hospitais estatais em Organizações Sociais é um modelo que vem mostrando resultados positivos em São Paulo e Minas Gerais. “Quando se entrega a administração hospitalar a uma Fundação, ou Instituição – ou Irmandade -, essa entidade se desembaraça de algumas amarras que paralisam a administração pública. As Organizações Sociais podem comprar equipamentos e estruturas sem passar pelo lento processo licitatório”, explicou Dalmo Claro de Oliveira em sua primeira exposição pública no Centro Administrativo. “As experiências
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AS PROPOSTAS DA AHESC-FEHOESC PARA AMPLIAR O ACESSO À SAÚDE EM SC – PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS: Revisão da Contratualização Revisão dos valores da Tabela do SUS Atualização da série histórica com revisão da remuneração per capita (SC) Criação do Sistema de Referência e Contra-referência Isenção do ICMS Apoio a Projetos de Lei como: PL 0105/2007 e PL 276/2007 Assento para a discussão do Salário Mínimo Regional (LC nº 459/09) Iniciativas Estatais para o fomento do Setor Saúde Privado/Filantrópico Incentivos para novos leitos de UTI Regulamentação da EC29 Instituir um Plano para a Gestão de Crises Gestão Técnica da SES/SC Instituir um Conselho Consultivo para o Plano SC Saúde Terceirização da gestão das Unidades Hospitalares Públicas.
demonstram que ocorre um aumento da produtividade e queda dos custos”.
Está em curso outra ação da Secretaria da Saúde para reduzir o tempo e as distâncias entre o paciente e o diagnóstico. Trata-se do Centro de Telemedicina, que atua de forma integrada com a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE). Atualmente, 230 cidades já são beneficiadas pela rede de laudos à distância, que permite que os exames sejam realizados nas próprias cidades onde o paciente reside e enviados, via internet, para a Central do Projeto, em Florianópolis. No mesmo dia em que o exame é realizado, um especialista prepara o laudo e em seguida reencaminha à cidade de origem, evitando que o paciente precise se deslocar até a Capital ou outro centro de referência em alta complexidade. Nesse processo, são elaborados raios-x, ressonância magnética, ultrassonografia, tomografia, endoscopia e exames laboratoriais. No entanto, desde 2005, apenas as especialidades de Dermatologia e
ALTA COMPLEXIDADE >
Prover estruturas hospitalares já existentes nas
diversas regiões do estado com capacidade tecno-
lógica e recursos humanos qualificados é uma das
maneiras mais seguras e eficientes de disseminar o acesso à saúde por Santa Catarina.
Cardiologia são da Telemedicina. O passo seguinte seria a introdução das áreas de Oftalmologia, Ortopedia e Neurologia. A ampliação incorpora hospitais que dispõem de equipamentos de imagem, como o Hans Dieter Schmitz e a Maternidade Darci Vargas, em Joinville; Hospital Tereza Ramos de Lages; Hospital Miguel Couto, em Ibirama e os quatro grandes centros de complexidade de Florianópolis (Hospital Infantil Joana de Gusmão, Hospital de Caridade, Hospital Universitário e o Hospital Florianópolis).
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