CD João Omar_ Ao Sertano

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Barukh ata Adonai Eloheinu, malekh ha’olam, que me ensinaste os esconderijos da música e que me deste um filho, João Omar, para executar estas peças que compus lá muito atrás, quando ele ainda era pequenino em algum lugar, nem sabia falar, contudo já golpejava pequenos trechos de melodias sinuosas e complexas... Estas peças características, telas de mortas paisagens talhadas em minha alma durante a grande travessia de mia infância pobre, porém cheia de luz até estes dias escuros que ora assisto, foram guardadas para serem executadas por ele, que trazendo nas veias o sangue dos cavaleiros progonais que habitavam estes ermos semidesérticos, veio também como arauto anunciador pela geração que (em parte) está de agora até o porvir, sedenta de valores de uma pátria sua e verdadeira e que sonha em um dia não mais ter que clamar: quousque tandem, quousque tandem.

Casa dos Carneiros, ming. de Janeiro 2015 Elomar


Este disco é o primeiro registro da obra completa para violão solo de Elomar Figueira Mello. São composições criadas na sua juventude e ao longo de sua vida, agora reunidas em um caderno com 13 peças. Elomar Figueira Mello teve uma formação musical peculiar como autodidata, com poucas aulas no período de estudos em Salvador, quando cursou arquitetura e adentrou nos Seminários de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA) por curto período. Ao longo de sua formação, já denotava uma aspiração para as formas eruditas; essa característica está presente em suas canções, dada a complexidade da organização composicional que apresentam nos desenvolvimentos melódicos, na harmonia e nos contrapontos que permeiam cada uma delas. O violão elomariano, dentre os compositores para este instrumento no Brasil, encontra lugar tão diferenciado quanto encontrou Villa-Lobos quando Andrés Segovia o considerou “a grande novidade para o violão no século XX”. As composições aqui apresentadas têm estilística composicional que se diferencia pela forma ímpar como aborda elementos próprios da cultura musical do nordeste do Brasil, especialmente do sertão baiano, como também pelas construções temáticas, sem que as mesmas se deixem caracterizar simplesmente como música instrumental ou temas instrumentais. Tratam-se de peças originais que revelam um perfeito domínio na escrita para violão, com elaborada complexidade, beleza e virtuosismo. Com uma retórica que se articula com os modos de vida da localidade onde habita e transita – o sertão –, Elomar integra estes elementos à sua obra sem artifícios que utilizam material de culturas tradicionais, e as ideias musicais são de tal forma urdidas que dão vida própria e autenticidade fluente ao seu discurso composicional.

As peças que formam a suíte “Labuta sertaneza” aludem à jornada de trabalho do homem do campo. A peça “Trabalhadores na destoca” trata da preparação da terra para o plantio. Momentos de lamentação e resignação pela inclemência do clima do sertão são evocados em “Duvê esse chão quema meus pé”. “Joana, vai chiquerá minhas cabra” simboliza o recolher do rebanho de cabras para o chiqueiro ao final do dia. Outro conjunto de peças é o de “Três tiranas para el Quedah”, dividido em “A seca”, “A fome” e “A retirada”, inspirado em conversas com Turíbio Santos quando, em visita à fazenda Casa dos Carneiros, o mesmo discorria sobre uma possível origem do nome “Guitarra” e as transformações que sofreu ao longo dos séculos. As composições “Batuque na Serra da Tromba” e “Batuque no Panela” reportam às proximidades de onde vive o compositor. São repletas de elementos rítmicos presentes na região, característica recorrente nas peças para violão de Elomar, inevitavelmente absorvendo e traduzindo impressões culturais que se tornam balizadoras da sua composição violonística, à sua maneira. Ainda sob a influência das conversas com Turíbio, nasce a ideia de homenagear Villa-Lobos ao saber do seu Sexto Prelúdio, perdido em viagens pela Europa ou pela Amazônia. Não se sabe ao certo. Destarte, Elomar visualiza a partitura do prelúdio afundando nas águas do rio Amazonas, e, valendo-se de uma faceta de seu estilo musical que permeia o impressionismo, recolhe uma composição antiga inacabada e compõe o “Prelúdio nº sexto”, com temperos estilísticos do violão villa-lobiano. “Lagoa da porta” é uma outra composição que também numa característica impressionista descreve uma lagoa seca enchendo gradativamente até transbordar, fechando o ciclo retornando ao período de estio.


Das peças, a “Calundú e cacorê” é a mais antiga, iniciada aos 17 anos e retomada na década de 1980. Expressa dois estados de espírito do tropeiro em sua labuta solitária. O sentimento de mau humor com tristeza, sem motivos aparentes, e um mais catártico no qual extravasa sua raiva interior. Esta peça lembra as valsas antigas, porém com um desenvolvimento composto posteriormente no qual se insere um ambiente mais sertanez. Ainda no período de estudos em Salvador, Elomar teve contato com muitas partituras para violão, dentre elas “estudos” de vários autores. Na observância de que compor estudos para violão era uma prática muito comum, fez, com uma certa ironia aos inúmeros estudos compostos por muitos autores, um único estudo para violão intitulado “Estudo nº único”. A última peça deste disco, “São João xaxado”, evoca as festas de São João tradicionais do nordeste brasileiro, animadas pelo trio nordestino – sanfona, triângulo e zabumba. Na porção intermediária desta peça, o compositor refere-se ao cochilo, momento em que o sanfoneiro, sem a devida atenção dos convivas em abastecê-lo com comida e bebida, perde o interesse em tocar bonito, permanecendo apenas em poucos toques, até que lhe reanimem, suprindo-o com o indispensável para a sua disposição e para que volte a tocar com vigor, animando a festa. Do ponto de vista interpretativo, as peças para violão solo de Elomar Figueira Mello têm em muitas passagens uma retórica própria que se aproxima da oralidade no sertão: narrativas de estórias ou comentários corriqueiros da vida destes habitantes do semiárido, conservando dinâmicas que estão presentes nos falares e cantares desta região, em diálogo estrutural nas composições. Já a partir dos títulos das peças entende-se que a maioria aflorou da imersão do compositor no casulo cultural sertanez, rico em formas e sonoridades, fonte de inspiração para que Elomar revelasse em música os encantamentos que sua criatividade e musicalidade singulares capturaram. A obra para violão solo de Elomar enriquece o repertório violonístico mundial e amplia com uma nova geografia o universo do violão brasileiro.

“Quando a escola entrava em recesso, eu e meu irmão íamos com frequência à fazenda. Passávamos nossas férias na marcenaria ou no campo, fazendo cercas, cuidando da criação, ora aventurando-nos com pequeninos facões, como se fôssemos habilidosos peões. Ir fazer cerca para mim, em especial, era uma aventura. Tinha que acordar bem cedo, fazer os preparativos, coar café, amolar as ferramentas na pedra com um pouco d’água, pegar chapéu, bota para se proteger das cobras para poder escolher o trecho a ser demarcado pelas balizas. Galhos, espinhos, veredas sombreadas, pequenos riachos de estação chuvosa. Enquanto eu imaginava aventuras nesses cantos, meu pai e os peões demarcavam o lugar e iniciavam o cercado. Em uma certa altura do trabalho, eu era designado a ir até a casa fazer café e trazer em uma lata de litro de óleo reaproveitada, ou num bule de alumínio pequeno, enrolado em um pano. Trazia também farinha de goma com requeijão cortado em pedaços... Desde o trabalho mais pesado, com o cavador ou a lebanca, ao mais leve, nada escapou de minha lembrança. No final das tardes, depois de ter chiqueirado as cabras, entrava na casa pela cozinha, e já ouvia alguns acordes que vinham do peitoril. Era meu pai compondo. Ouvia os pedaços sendo lapidados, as passagens musicais, os “trechos” sendo buscados como uma indaga de alguém que espera ouvir a resposta confessada pelas nuvens em brasa, ou no afago da noite que avança “com suas mãos serenas”. Assim como a cerca era feita, acho que tudo era uma só coisa para mim. E é deste modo que interpreto as músicas aqui reunidas, com minha memória de uma coisa só, como o despertar de impressões adormecidas...” João Omar de Carvalho Mello



João Omar de Carvalho Mello Natural de Vitória da Conquista, sertão da Bahia. Graduado em Composição e Regência e Mestre em Regência Orquestral pela UFBA. Participou de curso de regência orquestral com abordagem na fenomenologia da música pela l’Association Celibidache na República Checa. Iniciou os estudos de violão em 1982, aprimorando-se com instrumentistas como Betuca, Turíbio Santos, Leonardo Boccia, Mário Ulloa e Henrique Pinto, em Salvador e Rio de Janeiro. Apresentou-se em muitos concertos no Brasil e em alguns países na Europa, interpretando Villa-Lobos e Elomar Figueira. Seu primeiro disco, “Corda Bamba”, foi gravado em 2007 com apoio do Petrobras Cultural.

João Omar de Carvalho Mello Born in Vitória da Conquista, the sertão of Bahia. He holds a degree in Composing and Conducting and is a master in Orchestral Conducting, from UFBA. He participated in the course of orchestral conducting with an approach in the phenomenology of music by the l’Association Celibidache in the Czech Republic. He began his guitar studies in 1982, with Carlos Alberto (Betuca), improving with instrumentalists such as Turíbio Santos, Leonardo Boccia, Mario Ulloa and Henrique Pinto, in Salvador and Rio de Janeiro. He has performed many concerts in Brazil and in some countries in Europe, performing Villa-Lobos and Elomar Figueira. His first album, “Corda Bamba” was recorded in 2007 with the support of Petrobras Cultural.


Capa - Arte Em 1982, o arquiteto e artista visual Juracy Dórea visitou a fazenda Casa dos Carneiros para encontrar Elomar, após ter feito a capa do seu disco “Fantasia Leiga Para um Rio Seco”, gravado em Salvador sob a regência e auxílio na orquestração de Lindembergue Cardoso. Na fazenda, ao folhear um caderno de composições das peças para violão de Elomar, encontrou uma página sem escrita musical e rascunhou um rebanho de bodes com linhas que emergiam paralelas aos pentagramas. Passados 27 anos, foi este o desenho escolhido para ser a capa do disco que vos apresento. O encarte é ilustrado também com imagens retiradas de uma filmagem que Juracy fez em câmera Super 8, na mesma fazenda, nos finais da década de 70.

Cover - Artwork In 1982, the architect and visual artist Juracy Dórea visited the farm Casa dos Carneiros to met Elomar, after he did the art of Elomar’s album “Fantasia Leiga Para um Rio Seco”, recorded in Salvador, conducted and with support in the orchestration by Lindembergue Cardoso. On the farm, while flicking through a book of parts of the musical pieces for guitar by Elomar, he found a page with no written music and drafted a herd of goats with lines that emerged parallel to the pentagrams. 27 years later, this was the drawing chosen for the album cover that I present to you, and the art inside this album has the images extracted from a Super 8 (movie) that he did in the end of 70s.


FICHA TÉCNICA / Factsheet Violão / Guitar - João Omar Produção Executiva / Executive Producer - Mônica Koester Projeto gráfico / Graphic design - Dinha Ferrero Desenho de capa / Cover design - Juracy Dórea Engenheiro de gravação / Recording engineer - Poli Brandani Masterização / Mastering - Carlos Freitas, the Studio Classic Master - SP

Agradeço a todos que contribuíram para realizar este disco: a Mônica Koester, um presente em minha vida; ao querido Poli Brandini, por sua sensibilidade e sua linda família; a Marcelo Rezende e a equipe do MAM, em especial a Dinha Ferrero, pelo renascimento duma visão sobre o sertão brasileiro; aos amigos preciosos Nehle e Roberto, pelo olhar e o ouvir desse meu fazer artístico, plenamente; à minha mãe Adalmária, pelo incentivo desde menino... Agradeço muito a Deus por nascer nesse berço artístico no qual me criei, e, finalmente, a meu pai Elomar, por esse belíssimo legado musical que lhe apresento agora como músico e filho. João Omar

Gravado com violão José Ramirez Recorded with guitar Jose Ramirez Gravado e mixado no Estudio Bordão da Mata - Borda da Mata - MG Recorded and mixed at Studio Bordão da Mata - Borda da Mata - MG I wish to thank everyone who has contributed to the making of this album: to Mônica Koester, a blessing in my life, to the dear Poli Brandini, for his sensibility and his beautiful family; to Marcelo Rezende and the team of the MAM,especially Dinha Ferrrero, for the renaissance of a vision of the Brazilian Sertão; to my precious friends Nehle and Roberto, for the watching and listening of my artistic produce, entirely; to my mother Adalmária, for the motivation since I was a child…. I thank God a lot for being born into this artistic cradle which I was raised in, and, finally, to my father Elomar, for this beautiful musical legacy which I now present to you as a musician and son. João Omar


“Barukh ata Adonai Eloheinu, malekh ha’olam”, that you have transmitted to me the nuances and understanding of music and that you have given me a son, João Omar, to perform these pieces that I composed a long time ago, when he was still small somewhere, and could not even speak; yet he was already hitting out small pieces of winding and complex melodies... These characteristic pieces, paintings of dead landscapes carved into my soul during the great crossing of my poor childhood, though full of light to these until these dark days which I now watch, were kept to be performed by him, that by bringing in the veins the blood of the original knights, who inhabited semidesert wastelands, he also came as a voice of the generation that is (in part), now and moving into the future, thirsty for the values of their own, real country and who dream of one day not having to cry “quousque tandem, quousque tandem” anymore.

Casa dos Carneiros, waning moon of January, 2015 Elomar


This album is the first record of the complete works for solo guitar of Elomar Figueira Mello. They are pieces written in his youth and throughout his life, now gathered in a book with 13 pieces. Elomar Figueira Mello had a peculiar musical training, being self-taught, with a few lessons in his period of studies in Salvador, where he studied architecture and entered the musical seminaries of the Federal University of Bahia (UFBA) for a short period. Throughout his training, he demonstrated an aspiration for the scholarly forms; this characteristic is present in his songs, given the complexity of the compositional organization that they present in the melodic developments, harmony and counterpoints that permeate each one. The Elomarian guitar, among the composers for this instrument in Brazil, finds itself in a place as differentiated as Villa-Lobos found when Andrés Segovia considered him “the big revelation for the guitar in the twentieth century.” The compositions presented here have a compositional style distinguished by the unique way in which it deals with the very elements of musical culture of the northeast of Brazil, especially in the Sertão of Bahia, as well as the thematic constructions, which without they allow themselves to be characterized simply as instrumental music, or instrumental themes. These are original pieces that reveal a perfect dominion of writing for guitar, with elaborate complexity, beauty and virtuosity. With a rhetoric that is linked to the way of life of the place where he lives and moves through - the Sertão - Elomar integrates these elements into his work, without artifices which use traditional cultural material, and the musical ideas are so woven that they give life and a fluent authenticity to his compositional speech.

The pieces that make up the suite “Labuta sertaneza” allude to the working day of a man in the field. The piece “Trabalhadores na destoca” speaks of the preparation of the land for planting. Moments of mourning and resignation to the inclemency of the harsh climate of the Sertão are evoked in “Duvê esse chão queima meus pé”. “Joana vai chiquerá minhas cabra” symbolizes the collecting and driving of the herd of goats to the sty in the evening. Another set of pieces is the “Três tiranas para el Quedah”, divided into “A seca”, “A fome” and “A retirada”, inspired by conversations with Turíbio Santos when, on a visit to the farm Casa dos Carneiros, he spoke about a possible origin of the name “Guitar” and the redesigns and transformations it has undergone over the centuries. The compositions “Batuque na Serra da Tromba” and “Batuque no Panela” report the proximities of where the composer lives. They are full of rhythmic elements found in the region, a recurrent feature in the pieces for guitar by Elomar, inevitably absorbing and translating cultural impressions that become guiding lights through his guitar composition, in its own way. Still under the influence of the conversations with Turíbio, the idea to honor Villa-Lobos is born, when discovering his Sixth Prelude, lost while traveling in Europe or the Amazon. No one knows for sure. Thus, Elomar sees the sheet of music of the prelude sinking in the waters of the Amazon River, and, taking advantage of a facet of his musical style that permeates of impressionism, collects an old, unfinished composition and composes the “Prelúdio nº sexto” with the stylistic flare of the VillaLobos guitar style. “Lagoa da porta” is another composition that also describes, in an impressionist manner, a dry pond gradually filling up to the point of overflowing, closing the cycle by returning to the summer period.


Of the musical pieces, the “Calundú e cacorê” is the oldest, started when he was 17 years old and restarted in the 1980s. It expresses two states of mind of the rancher in his solitary toil. The bad mood, with sadness, for no apparent reason; and one which is more cathartic; in which he spills his inner rage. This piece reminds us of the old waltzes, but with a later compound development which incorporates a more ‘sertanez’, or Sertão, environment. Still in the period of his studies in Salvador, Elomar had contact with many scores for guitar, among them “studies” of several different composers. Observing that composing studies for guitar was a very common practice, he, with a certain irony to the numerous studies composed by many writers, wrote a single study for guitar entitled “Estudo nº único”. The last piece of this album, “São João xaxado”, evokes the traditional celebration of St. John in the northeast of Brazil, animated by the traditional northeastern trio of accordion, triangle and bass drum. In the intermediate portion of this piece, the composer refers to the nap, a time when the accordionist, without due attention of the guests in supplying him with food and drink, loses interest in playing beautifully, starting to play only a few notes, until you motivate him, supplying him with the essentials for his motivation and to make him return to play with a new-found energy, thus animating the party. From the interpretive point of view, the pieces for solo guitar by Elomar Figueira Mello have, in many places, their own rhetoric, which approaches orality in the Sertão: narratives of stories or habitual comments of the life of these inhabitants of the semi-arid, preserving dynamics that are present in the speech and songs of this region, in a structural dialogue within the compositions. Yet from the titles of the musical pieces we can understand that the majority of them were born from the composer’s immersion in the Sertão cultural cocoon, rich in shapes and sounds, a source of inspiration so that Elomar could reveal, in music, the enchantment that your creativity and unique musicality captured. The work for solo guitar by Elomar enriches the world guitar repertoire and expands with a new geography the universe of Brazilian guitar.

“When the school went into recess, my brother and I went frequently to the farm. We spent our holidays in the workshop or in the field, making fences, taking care of the animals, sometimes going on adventures with little knives, as if we were skilled laborers. Making fences, for me in particular, was an adventure. You had to wake up early, make preparations, filter the coffee, sharpen tools on stone with a little water, get your hat and your boots to protect you from the snakes to be able to choose the section to be marked by the posts. Branches, thorns, shaded paths, small streams of the rainy season. As I imagined adventures in these parts, my father and the laborers demarcated the area and started the fencing. At a certain moment in the work, I was assigned to go to the house and make coffee, and bring a one-liter can of recycled oil, or in a small aluminum pot, wrapped in cloth. I would also bring gum flour with cheese cut into pieces... From the heaviest work, with the digger or digging bar, to the lighter, nothing escaped from my memory. In the late afternoons, after herding the goats, I would enter the house through the kitchen, and I would already be able to hear some chords that came from the window sill. It was my father composing. I could hear the pieces being polished, the musical passages, the “parts” being discovered as if it were an interrogation by someone waiting to hear the answer confessed through the clouds on fire, or in the affection of the advancing night “with its serene hands.” Just as the fence was made, I think that everything was just one thing to me. And this is how I interpret the songs gathered here with my memory of one, as the awakening of dormant impressions...” João Omar de Carvalho Mello


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