- LUNÁRIO PERPÉTUO -
VOL.I
ARQUIVO E FICÇÃO LUNÁRIO PERPÉTUO
- 2 -
Sumário Pag.2 e 3 ................................................. Arquivo Público do Estado da Bahia. Arquivos da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (1952 – 1994). Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.8 ..................................................... A Caça mágica, Ana Pato Pag.10 e 11 ............................................... Documentação do Arquivo Público do Estado da Bahia. Inventário: Fundo Colonial, seção de Arquivos Coloniais e Provinciais, Maço 1568 Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.14 e 15 ............................................... Paulo Bruscky, Conceitos, frases impressas e pintadas, 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.16 .................................................... Em 08/03/2014 9:47, Ana Pato escreveu: Pag.21..................................................... Em 12/02/2014 8:57, Omar Salomão escreveu: Pag.22 .................................................... Em 01/03/2014 10:52, Ana Pato escreveu: Pag.26 .................................................... Documentação do Arquivo Público do Estado da Bahia. Carta, Georg Ad. Stolze – Cachoeirinha 22 de Junho de 1882 – Rio Pardo. Inventário: Fundo Colonial, seção de Arquivos Coloniais e Provinciais, Maço 1568. Pag.32 .................................................... On March 18, 2014 9:36:58 PM GMT – 03:00, Maria Campos-Pons wrote:
Pag.33, 34 e 35............................................ Maria Magdalena Campos-Pons & Neil Leonard, Conversando a Situ/Acted, performance sonora e corporal, 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.36 .................................................... On Sunday, February 2, 2014 8:09 PM, Ana Pato wrote:
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 4 -
Pag.37 .................................................... On Feb 3, 2014, at 10:14 AM, Eustáquio Neves wrote: On April 2, 2014, at 03:02 PM, Eustáquio Neves wrote: On Tuesday, April 8, 2014, at 09:10 AM, Ana Pato wrote: Pag.38 e 39 ............................................... Ação para inventariar o Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima, Polícia Técnica do Estado da Bahia. Equipe de museologia do MAM-BA e Grupos de trabalhos do Núcleo Arquivo e Ficção. Foto: Alfredo Mascarenhas e Ana Clara Araújo Pag.40 e 41 ............................................... Paulo Bruscky, Conceitos, frases impressas e pintadas, 2014. Foto: Alex Oliveira
Pag.42, 43 e 44 ........................................... Em May 8, Ana Pato escreveu: Pag.45 .................................................... Eustáquio Neves, Jogos e Costumes, livro de artista, 2014. Foto: Eustáquio Neves Pag.46 e 47 ............................................... Eustáquio Neves, Jogos e Costumes, 2014. Foto: Alex Oliveira Pag.50.................................................... On Jun 4, 2014, at 10:01 AM, paulo nazareth wrote:
Pag.51 .................................................... Desenho de Paulo Nazareth para montagem da obra URNA, madeira, cal e crânios, 2014. Pag.52 e 53 ............................................... A casinha de Exú. Viagem de pesquisa de Estácio de Lima à África s/dd. Fotografia do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima. Pag.54 e 55 ............................................... Pequeninos sacerdotes. Viagem de pesquisa de Estácio de Lima à África s/dd. Fotografia do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima.
- 5 -
Arquivo e Ficção
Pag.56 e 57 ............................................... Paulo Bruscky, Conceitos, frases impressas e pintadas, 2014. Foto: Alex Oliveira
Pag.78 e 79 ............................................... Reforma do Arquivo Público do Estado da Bahia, em julho de 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas
Pag.59 .................................................... Ícaro Lira, Mapa, 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas
Pag.84 .................................................... Em 8 de março, 2014 Omar Salomão escreveu:
Pag.58 .................................................... Uma Pequena História, Ana Pato
Pag.61 .................................................... Montagem das vitrines do Museu Estácio de Lima, no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues s/dd. Fotografia do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima. Pag.62 .................................................... Lampião aos 10 anos de idade. Fotografia do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima. Pag.63 .................................................... Cópia. On Jun 4, 2014, at 21:42, Ícaro Lira wrote: Pag.64 e 65 ............................................... Cabeça de Lampião, 1938. Fotografia do Acervo do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima. Pag.68 e 69 ............................................... Gaio Matos, Platôs, site specific, 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.70 e 71 ............................................... Rodrigo Matheus, Amparo Refletido, peças de espelho sobre andaime, 2014. Foto: Alex Oliveira. Pag.72 e 73 ............................................... Rodrigo Matheus, Intervalo, recipiente plástico, água da chuva e plantas aquáticas, 2014. foto: Alex Oliveira. Pag.74 e 75 ............................................... On July 1, 2014 8:49 AM, Ana Pato wrote: Pag.76 e 77 ............................................... Gaio Matos, Platôs, site specific, 2014. Foto: Alex Oliveira
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 6 -
Pag.80 e 81 ............................................... Gaio Matos, Platôs, site specific, 2014. Foto: Alex Oliveira
Pag.85 .................................................... Giselle Beiguelman, Memórias Corrompidas, postais, 2014. Pag.87 .................................................... Maços de memória, Laura Castro Pag.92 .................................................... Arquivo, José Rufino Pag.94 e 95 ............................................... José Rufino, Pulsatio, mobiliário de metal, 2014. Foto: Alfredo Mascarenhas Pag.98 e 99 ............................................... Giselle Beiguelman, Beleza Convulsiva Tropical, site specific (Moss Grafite, audiolivro e impressos), 2014 Pag.100 ................................................... Giselle Beiguelman, Perguntas às Pedras, pôsteres e lambelambes, 2014. Pag.102 e 103.............................................. Luis Bérrios-Negrón, Laguna, aparição, 2014. Foto: Patricia Almeida Pag.104 ................................................... Laguna, Luís Berrios-Negrón + GT Bibliotecas Pag.108 e 109 ............................................. Dominique Gonzalez-Foerster, M.2062 (Ludwig II), 2013. Imagem: 303 Gallery, New York
Pag.110, a 115 ............................................ Paulo Nazareth, REZA, 2014. Foto: Alex Oliveira
- 7 -
Arquivo e Ficção
A CAÇA MÁGICA Ana Pato1
Recordação é evocação, e evocação eficaz é bruxaria2 Ruth Klüger
Sempre que entro, pela primeira vez, num arquivo ou acesso uma base de dados sem saber o que estou procurando, sou tomada por uma sensação angustiante de cegueira. Sinto a vista embaralhada, diante dos infindáveis inventários de nomes e termos que organizam os conteúdos para consulta. O efeito de página em branco, causado pelas listas, sempre me intrigou; às vezes opto por fechar os olhos e escolho aleatoriamente uma entrada. Foi por esse desejo de achar outras maneiras de acessar os arquivos que não pelas listas, árvores e teias de palavras, que comecei a imaginar a possibilidade de entrar num arquivo pelos olhos de outra pessoa. “Até agora não foi possível passear pelo pensamento dos outros”3, lembra-nos Monika Fleischmann. Então, como empreender essa operação? Haveria uma chave mágica para abrir os arquivos?
diariamente nos sistemas de busca, nas bases de dados. Assim, não faz mais sentido pensarmos que quem pesquisa sabe o que está procurando; é preciso rever a forma como o processo de experimentar o que se sabe, ou não, acontece. Para tal, uma mudança de rota é urgente. Devemos partir da noção de que o conhecimento acontece no processo de encontrar algo; o Arquivo torna-se, então, uma máquina de encontrar!
... Notas (1) Pesquisadora. Processo FAPESP: 2013/08130-0 (2) Assmann, A. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Tradução: Paulo Soethe. Campinas: Editora da Unicamp, 2011, p. 277. (3) Miekus, K. (ed.). Performing Data. Monika Fleischmann & Wolfgang Strauss. National Centre for Culture and Laznia Centre for Contemporary Art, Warszawa, 2011. (“So far it hasn’t been possible to stroll through thoughts of others.”)
Acredito que sim! Mas, para que essa operação aconteça, o arquivo deve ser entendido como uma máquina de pensar, e articulado como um espaço onde o conhecimento acontece pela experiência de encontrar coisas. Não estamos mais no campo das palavras-chave, mas de chaves mágicas, que dão acesso a um conhecimento que se baseia na experiência de encontrar o inesperado, o imprevisível. Distinto da ideia de que o arquivo é o lugar para procurar o que já se tem em mente, modelo coerente quando quem procura é o pesquisador por profissão. Hoje, somos todos pesquisadores amadores, navegando
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 8 -
- 9 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 10 -
- 11 -
Arquivo e Ficção
Outra questão que sempre me incomodou na relação das instituições culturais com seus arquivos é que se, por um lado, a memória representa peça-chave na construção dos discursos institucionais, por outro, os arquivos permanecem afastados do público. A invisibilidade dos arquivos, ou melhor, do acesso aos mesmos, pode ser estendida aos profissionais que se dedicam a cuidar dos arquivos: estes se tornam, também, com o tempo, figuras invisíveis dentro das instituições. O paradoxo é ainda mais grave quando se trata da urgência em estabelecer novos parâmetros para preservação da arte contemporânea. O distanciamento desses profissionais mascara um problema central na gestão dos arquivos de museu hoje: o fato da prática arquivista, no campo da arte contemporânea, ter sido muito pouco desenvolvida, permanecendo mesmo relegada a segundo plano. Como aproximar artistas e “arquivistas”? Com efeito, a exploração do arquivo pelo artista pode colaborar de forma bastante proveitosa, seja na criação de novos sentidos para o uso dos arquivos, na convergência entre as áreas, na valorização cultural do arquivo, ou mesmo no estabelecimento de novos critérios de organização e visibilidade dos documentos e imagens do arquivo.
descritos e analisados por sua natureza testemunhal e informacional, para os artistas os documentos possuem, ainda, a capacidade de emocionar e de problematizar. O reconhecimento dessa qualidade revela, segundo o teórico, uma dimensão até então oculta para a arquivística, e tem como potencial criar caminhos para possibilitar o acesso do público aos arquivos. Para Lemay, os arquivistas devem apoiar programas de residência artística nos arquivos, levando em conta que essas iniciativas permitem aos profissionais observar, descrever e examinar uma nova forma de utilização dos arquivos, bem como desenvolver uma tipologia para essas ações. Em suas palavras, este tipo de encontro representa uma fonte profícua de investigação para a arquivologia, ao trazer perspectivas novas tanto para a prática do arquivista como para os fundamentos teóricos da disciplina. Nesse sentido, essa proposta coloca em evidência a necessidade de procurarmos pistas para a questão do arquivo, dentro de um panorama global e transdisciplinar.
...
É nessa direção que o arquivista Yvon Lemay (2009) propõe examinar minuciosamente a “reutilização do arquivo” proposta pelos artistas, como forma de trazer para a prática do arquivista um olhar mais crítico. Enquanto para os arquivistas os documentos são
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 12 -
- 13 -
Arquivo e Ficção
Em 8 de março de 2014 09:47, Ana pato escreveu: Olá a todos, Escrevo para contar notícias da 3ª Bienal da Bahia, um breve relato do andamento das coisas por aqui. Achei importante escrever para todos vocês juntos, pois, apesar de cada um participar com propostas independentes e alguns fazerem parte de outros núcleos, todos estão ligados ao pensamento que estou propondo na Bienal, para o Campo Gravitacional Arquivo e Ficção. As ações deste núcleo tem como pressuposto a problemática do arquivo, tendo a arte contemporânea como fio condutor. A proposição é observar e discutir as práticas artísticas e os procedimento arquivísticos em torno dos espaços da memória, mais especificamente, dos arquivos e bibliotecas. O projeto é desenvolvido em três linhas: práticas artísticas no arquivo, formação de grupos de trabalho interdisciplinar e oficinas de pesquisa e literatura. Quando propus esta pesquisa para a Bienal tinha como desejo transpor para o campo da arte um modelo de curadoria que se aproximasse de uma pesquisa acadêmica com pesquisas de campo, grupos de trabalho, estudos de caso e que resultasse na publicação de um documento, uma espécie de “manual de uso” disparador das questões urgentes, que estamos nos deparando no processo: Por que nossos arquivos estão em situação de risco?; Como tornar público, o arquivo público?; Qual a chave-mágica para abrir os arquivos? O campo discursivo/expositivo do projeto: o Arquivo Histórico Municipal, o Arquivo Público do Estado, o Centro de Memória da Bahia, as Bibliotecas Públicas do Estado e o Instituto de Ciência da Informação (UFBA).
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 16 -
Expor no Arquivo Público do Estado e nas Bibliotecas impõem desafios grandes, como por exemplo, ter que lidar com a situação alarmante do prédio do Arquivo (tombado pelo IPHAN) e interditado as pressas, na semana passada, por risco de desabamento,os documentos não puderam, ainda, ser retirados – o Arquivo fechou as portas temporariamente e aguarda com urgência o “escoramento do prédio”. Ontem, perguntei a diretora do Arquivo, se teríamos que desistir desse espaço, ela acha que não e me mandou a seguinte mensagem: “Certamente, a presença dos artistas / obras a serem expostas nos espaços do APEB representará um momento histórico. Estamos na torcida!” Para nós, aqui, a questão diária tem sido sobre de que maneira conseguir trabalhar, realizar um projeto justo não “apesar” dessas circunstâncias, mas sobretudo “com” essas circunstâncias, se aproximando da Bahia e suas questões a partir do encontro, do contato, perseguindo uma ideia de conversa permanente; sem falsear o processo, mas o revelando, sem esconder o que há de frágil, mas procurando entender qual conhecimento ele pode nos fornecer quando reconhecemos uma inteligência nessa mesma fragilidade. É essa certeza que tem nos guiado em todo o processo de realização dessa Bienal que não é a 1ª, mas a 3ª Bienal da Bahia, 46 anos depois de sua última edição. Vou mandando notícias. Obrigada! Ana
- 17 -
Arquivo e Ficção
Em 12/02/2014 8:57, Omar Salomão escreveu:
Oi Ana, tudo bem? Ao receber o convite para ser uma das curadoras da 3ª Bienal da Bahia, fiquei bastante interessada pela proposta de trabalhar a partir de uma biblioteca de artistas, uma grande lista de nomes e pensamentos que deveriam nortear as pesquisas da curadoria. Pensar o mundo como uma biblioteca – talvez Jorge Luis Borges tenha sido, de fato, o único a prever toda essa circulação de informação: o mundo como uma grande biblioteca, como coloca Dominique Gonzalez-Foerster. Essa proposição é algo que venho pesquisando há alguns anos, na tentativa de encontrar um ponto de ligação entre uma força da literatura que se conecta profundamente à forma como a circulação da informação na internet, hoje, acontece. [Pato, 2012] Uma literatura que se expande, aqui, para o espaço do arquivo: descobrir no arquivo o lugar da ficção.
...
Estava aqui pensando,e tem uma idéia que não para de rondar a minha cabeça desde que a gente conversou no Pompéia. Eu cheguei a comentar quando você mencionou algo de uns rappers (já não tenho certeza do que era) que improvisavam tirando livros da estante. E a idéia de uma estante com livros conectados a sensores, e que ao serem retirados, disparem um som. O livro inerte na estante. O movimento. A literatura escrita e a literatura oral. Arquivo. Fiquei ligando isso ao culto dos eguns na ilha de itaparica. Um culto aos ancestrais (arquivo?). Um culto sem um grande livro de regras, mas cheio de regras e segredos, disponíveis apenas para iniciados. Pensei ainda no Mestre Didi (que era Egungun), e no meu pai (que era de Xangô. Xangô que é fundador do culto a Egugun). Existem dificuldades, não sei nada a respeito além do que eu li, mas gosto dessa ideia. é isso. bjs, o.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 20 -
- 21 -
Arquivo e Ficção
Em 01/03/2014 10:52, Ana Pato escreveu:
Oi Omar,
Olha, estou lendo um livro do Risério e me lembrei da sua pesquisa. Textos e Tribos (1993) Se tiver aí, dê uma olhada no artigo dos Textos Tropicais (poemúsica e os textos extra-literários) Minhas pesquisas sobre Arquivo têm me levado a ideia de que o trauma (exclusão/ abandono) encerrado nos arquivos precisa ser evocado, no sentido de bruxaria; tenho pensado que talvez essa evocação seja oral. A ideia do culto x oculto está ligada ao que venho pensando. Tenho procurado o sobrenatural/magia nos arquivos.
Bjs
LUNÁRIO PERPÉTUO
Como construir um arquivo que não existe? Ao retomar o projeto de Bienais na Bahia, a 3ª Bienal teve como missão estruturante criar seu próprio arquivo, até então inexistente. Uma memória que precisou ser garimpada entre recortes de jornal, testemunhos orais e coleta de documentos dispersos. O desejo de narrar as histórias das edições primeira e segunda da Bienal”(1966 e 1968, respectivamente) guiou o pensamento da edição de 2014, retomada no ano em que o país recorda os cinquenta anos do golpe militar. Como falar do trauma? Com o fechamento traumático da 2ª Bienal, a prisão dos organizadores, e a apreensão e desaparecimento de obras consideradas subversivas pelo regime militar, qualquer documentação que existisse no período sobre o evento sumiu ou foi esquecida. O processo de retomada das histórias das Bienais permitiu-nos compreender que o fechamento da 2ª Bienal da Bahia representa, possivelmente, o maior ato de repressão da história da arte brasileira. Fato até então pouquíssimo estudado, e que figura ainda como nota de rodapé da história da arte nacional. Essas são algumas das motivações que me levaram a propor à Bienal uma linha de pesquisa em torno do tema “Arquivo e Ficção”. Investigar a relação entre arte contemporânea e arquivo, tendo como premissa entender a lógica que norteia a cultura institucional dos espaços de memória, com o objetivo de tornar visível o conteúdo invisível dos arquivos. A curadoria acontece a partir do encontro entre os artistas4 Eustáquio Neves, Gaio, Giselle Beiguelman, Ícaro Lira, José Rufino, Magdalena Campos-Pons & Neil Leonard, Omar Salomão, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth e Rodrigo Matheus. Além de três Grupos de Trabalho, envolvendo pesquisadores, arquivistas, museólogos, comunicadores, arquitetos e profissionais das instituições participantes. A ideia inicial foi levar os artistas para arquivos e bibliotecas, e propor situações que priorizassem a colaboração e o choque de práticas e procedimentos, com o objetivo de discutir a problemática do arquivo no contexto brasileiro. Por que nossos arquivos estão em situação de risco?
- 22 -
- 23 -
Arquivo e Ficção
A intenção, aqui, é apresentar uma espécie de inventário ficcional, organizado a partir de ideias, documentos, imagens e conversas trocadas entre o grupo de colaboradores envolvidos durante o processo de realização do projeto curatorial. A tentativa é expor o emaranhado de fios que foram se cruzando e nos guiando, a todos, muitas vezes pelo acaso, com descobertas inesperadas, e outras nem tanto. A contaminação entre as propostas artísticas e o contato com os Grupos de Trabalho transformou o Arquivo e Ficção em uma ação coletiva para ocupação do Arquivo Público do Estado da Bahia e da Biblioteca Pública dos Barris. Cada chave mágica aberta representa um caminho possível para imaginar, re/inventar os espaços de memória. Diante da ficção, toda realidade pode ser narrada.
Notas (4) Participaram, ainda, os artistas Alex Oliveira, S. da Bôa Morte, Juraci Dórea, Juarez Paraíso, Flávio de Barros, Pierre Verger e a curadora Lisette Lagnado que, durante a residência artística no Instituto Sacatar, acompanhou o grupo de artistas residentes envolvidos no projeto Arquivo e Ficção.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 24 -
Na minha primeira ida ao Arquivo Público, fiquei bastante surpresa ao encontrar uma pasta inteira dedicada à participação da Bahia nas exposições universais. Afinal, esse tema é uma premissa recorrente para aqueles que se dedicam ao estudo das histórias das exposições e, no meu caso, das Bienais da Bahia. Encontrei um maço de documentos sobre a participação da Bahia em diversas exposições no final do século XIX 5. Minha curiosidade pela antropologia me levou a ler mais atentamente o maço dedicado às cartas trocadas entre os organizadores da Exposição Antropológica Brazileira, de 1882, e os responsáveis pela participação da Bahia. À primeira vista, uma documentação que não se distinguia muito do tipo de documento que as exposições de arte produzem hoje – convites, recibos, nomes de participantes, listas de objetos, solicitações de envio de catálogos, cartas pedindo mais recursos e informações.
... Notas (5) Inventário: Fundo Colonial, seção de Arquivos Coloniais e Provinciais, Maço 1568.
- 25 -
Arquivo e Ficção
Cópia.IlmoeExmo Sr. Presidente da Provincia.
Secretaria da Presidencia da Provincia da Bahia
Escellentissimo Senhor. Confirmando o meo telegrama de 17 destemez, sigo amanhã para o sertão, esperando algum êxito; pois desejo provar a V. Exª, que os desejos de V. Exª. são ordens para mim, como tambem ajudar com as minhas fracas forças aos athletas das sciencias. Sinto que o tempo é tão limitado; pois si eu tivesse tido, mais cedo as ordens de hoje, julgo, que V. Exª, remetteria a Exposição Anthropologica do Rio de Janeiro, craneos e mais objectos de 6 à 7 tribos dos Rios Pardo e Jequitinhonha. Logo, que volte do Sertão, farei a mais prompta remessa dos objectos que por ahi devo encontrar. Não deve V. Exª contar com nada da 2ª secção pois os Indios d’aqui, tanto os bravos como os mui selvagens se achão ainda no estado do homem, o mais primitivo. Esforçarei-me, com as remessas dos objectosdoscraneos, de dar as explicações das tribus que aquiexistão. Com a mais subida estima e consideração, tenho a honra de assignar-me como de V. Exª humilde creado. – Georg Ad. Stolze. – Cachoeirinha 22 de Junho de 1882 – Rio Pardo. –
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 26 -
- 27 -
Arquivo e Ficção
Ao encontrar a pista deixada por Eustáquio Neves, um pedido que eu entrasse em contato com o Departamento de Polícia Técnica para que pudéssemos visitar o arquivo do Museu Estácio de Lima, o impacto para o projeto foi tremendo. A descoberta dos arquivos do Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima 6 mudou completamente o rumo de pesquisa não só do projeto curatorial, mas também das pesquisas dos artistas e dos grupos de trabalho envolvidos. Tínhamos, à nossa disposição, cinco caixas de documentos e quase seiscentos objetos, entre eles, um Di Cavalcanti, objetos do cangaço, da Guerra de Canudos. De repente, a força de encontrar algo que não procurávamos transformou radicalmente o projeto. A importância de ter nas mãos um arquivo de museu, seus livros de registro, de entrada e saída de peças, uma pequena biblioteca, fotografias, recortes de jornal, enfim, um vasto universo de investigação.
Notas (6) O Museu Antropológico e Etnográfico Estácio de Lima, aberto em 1958 na Faculdade de Medicina, tinha como proposta ser um espaço de investigação do comportamento humano na ótica da Medicina Legal, fundamentado nas teorias raciais do final do século 19.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 28 -
Bibliografia Assmann, Aleida, Espaços da recordação: Formas e transformações da memória cultural, tradução Paulo Soethe. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2011. Miekus, Krzysztof. (ed.). Performing Data. Monika Fleischmann & Wolfgang Strauss. National Centre for Culture, in collaboration with Laznia Centre for Contemporary Art, Warszawa, 2011. Lemay, Yvon, “Art et Archives: une perspective archivistique”, R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, n. esp., 1. Sem, 2009. Pato, Ana, Literatura expandida: arquivo e citação na obra de Dominique GonzalezFoerster. São Paulo: Edições SESC SP : Associação Cultural Videobrasil, 2012. Schwarcz, Lilia Moritz, O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Risério, Antonio, Textos e tribos: poéticas extraocidentais nos trópicos. Rio de Janeiro: Imago, 1993. Serra, Ordep, “Sobre psiquiatria, candomblé e museus”, Caderno CRH, 19(47), Salvador, maio/agosto, 2006.
- 29 -
Arquivo e Ficção
On March 18, 2014 9:36:58 PM GMT-03:00 Maria Campos-Pons wrote: Dear Ana I found common ground with your point of departure for the 3rd Biennial and my own investigation on the paradoxes of the proximity within the distance in the expansive black Diaspora . As an artist i am very engaged in looking the archive and through it making sense of our present conditions and the future. I see myself as cartographer of images in where the interaction of body spaces and our collective memories , construct possibilities for survival and even the potential for happiness and dreams. I am interested in the parallel of the journey of the soul the things we yearn for and the limitations and entrapment’s of our terrenal journey. I dream of tracing an imaginary map of going back and for from Cuba to Brazil to China, Africa ,America, getting lost and gasping for air and a for a sense of place. Making a map of a journey guided from the stars in the skies and the ones hidden in the heart. That work i wish to do for your team in Bahia. Neil always tunes it to perfection. Will be lovely to work together in the city that people perceive as so close to Matanzas Cuba, in Brazil. lest talk soon after Neil visit you with gratitude Magda
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 32 -
- 33 -
Arquivo e Ficção
On Sunday, February 2, 2014 8:09 PM, Ana Pato wrote: Oi Eustáquio,
On Feb 3, 2014, at 10:13 AM, Eustáquio Neves wrote: Ei Ana, bom dia!
Tudo bom?
Entre os arquivos que estou trabalhando tem uma coleção de objetos religiosos que foram apreendidos pela polícia, nos terreiros de candomblé, durante a primeira metade do século XX. A história da formação dessa coleção é impressionante, há uma ausência total de documentação.
Um dos projetos que farão parte da Bienal é do Marcelo Cunha, pesquisador da UFBA que trabalha a história dessa coleção, são aproximadamente 200 objetos e que serão expostos no MAFRO museu afro da UFBA. Estou te mandando alguns links, me diga se te interessar. Beijos, Ana
Bahia: conjunto de peças sobre o candomblé é retirado do DPT http://atarde.uol.com.br/materias/1530334
Peças de cultura e religião afro vão sair do DPT http://mundoafro.atarde.uol.com.br/?tag=museuestacio-de-lima Texto: A Tenacidade do Racismo (traça percurso histórico do processo de formação da coleção e sua ida para o Museu Afro):
http://www.koinonia.org.br/tpdigital/ uploads/24_A_TENACIDADE_DORACISMO_ORDEP_Rev.pdf
Me interesso muito por esse material, vou ver com bastante carinho e voltamos a conversar. Beijos,E.
On April 2, 2014, at 03:02 PM, Eustáquio Neves wrote: Ei querida, o Augusto falou agora com um cara da polícia civil que deu o telefone do vice diretor da polícia civil que pode autorizar o acesso as peças aprendidas do candomblé. Bjos
On Tuesday, April 8, 2014 9:10 AM, Ana Pato wrote: Oi Eustáquio,
Ontem você deve ter recebido as fotos, não tivemos como abrir os objetos e fotografá-los como você tinha pedido.Foi tudo muito intenso, encontramos um museu-depósito.Na terça vou passar o dia lá com o GT dos arquivistas e a museologia do MAM. A proposta é fazer um inventário e dar início a solicitação de transferência dessa coleção para o MAM ou outro lugar. Minha vontade é montar uma exposição do arquivo do Museu Estácio de Lima. Penso que ao montá-lo no Arquivo Público podemos fazer uma operação de desconstrução do imaginário que este Museu propunha na época. Seria uma operação inversa, se pensarmos que o Museu é o espaço de construção do imaginário de um povo.O seu trabalho seria a chave-mágica para essa história. A coleção de fotografias que o Estácio de Lima fez na África são incríveis, temos muitas coisas ainda para abrir. Dê uma olhada nas fotos e vamos falar antes de terça para saber suas impressões e que tipo de foto você gostaria que fizéssemos. Beijos, Ana
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 36 -
- 37 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 38 -
- 39 -
Arquivo e Ficção
Em May 8, Ana Pato escreveu: Oi Lisette, Segue um primeiro rascunho do que estou pensando para a exposição. Serão 3 seções: 1. Estácio de Lima - perfil e fatores psicológicos, sociais, biológicos e cósmicos que constituíram a formação e a gênese do seu pensamento para a construção desse Museu (exibição de livros, citações, anotações, referências, fotografias, recortes de jornal, discursos, objetos das seções do museu ligados a criminalística, medicina legal e polícia técnica) 2. Antropologia do Cangaceiro (o Ícaro Lira me propôs trabalhar a montagem dessa seção). Estou particularmente interessada na relação do médico com o bando de Lampião e embate público entre a família de Lampião, Maria Bonita e Corisco e o Estácio de Lima para a liberação das cabeças (acabamos de descobrir que as cabeças foram enterradas em 1969, no Cemitério Baixa de Quintas, aquele que fica logo acima do Arquivo Público coincidências!?). Em 1938, quando o bando de Lampião é derrotado, os cangaceiros que sobrevivem ao combate são presos e enviados para prisão, o médico responsável por analisá-los foi Estácio de Lima, que na época era o Presidente do Conselho Penitenciário, estou tentando localizar nos Arquivos do Conselho Penitenciário da Bahia, essas entrevistas que ele fez com o bando por mais de cinco anos resultam no livro “O mundo Estranho dos cangaceiros”, 1965. É o Prof.Estácio Lima que vai conseguir o livramento condicional dos integrantes do bando e assumir a responsabilidade pela liberdade condicional deles.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 42 -
Estácio de Lima não só assume a responsabilidade como fiscaliza e controla suas vidas e trabalho fora da cadeia. Alguns se tornaram vigias e porteiros do Museu Estácio de Lima, do Conselho Penitenciário e do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. Estou interessada neste processo de “re-inserção” do bando de Lampião ao convívio social. (Laranja Mecânica!) 3. Antropologia do Negro (A história com esse Museu começou quando eu convidei o Eustáquio Neves para trabalhar a Coleção Estácio de Lima que está hoje no MAFRO/UFBA e do contato que tive com Marcelo Cunha (museólogo da UFBA e professor do Centro de Estudos Afroorientais, ele foi diretor durante muitos anos do MAFRO e pesquisa essa coleção). http://atarde.uol.com.br/materias/1530334 sobre a transferência em 2013 dessa coleção para o MAFRO. Estou interessada em trabalhar aqui duas questões:- A ausência de documentos e a ficcionalização dos arquivos a partir da obra de Eustáquio Neves - as peças no Museu Estácio de Lima eram expostas sem nenhuma informação, sem contexto. Eustáquio está trabalhando na criação de documentos ficcionais sobre os objetos religiosos de matriz africana, foi justamente no processo da pesquisa dele na Bahia que localizamos a documentação referente aos objetos que estão, hoje, no MAFRO. Mas mesmo assim a documentação ainda diz muito pouco. - A relação entre as exposições universais e o racismo científico (a marginalização do negro, do índio e do sertanejo - o outro) A cristalização das teorias raciais a partir da antropologia médica – por exemplo, Cesare Lombroso (1835-1909) e sua pesquisa sobre a Frenologia - estudo da natureza biológica do comportamento criminoso, a criminalidade como um fenômeno biológico e hereditário.
- 43 -
Arquivo e Ficção
Lombroso tinha contato direto com Nina Rodrigues. São teóricos da mesma linha do Estácio de Lima. No Arquivo Público encontrei cartas sobre a participação da Bahia nas exposições universais e quero trabalhar especificamente a Exposição Antropológica Brasileira de 1882, no Rio de Janeiro, nessa exposição a intenção era dissecar o índio selvagem. Mando em anexo a minha carta-chave-mágica. - Nessa seção entra ainda: - trabalho do Paulo Nazareth que me propôs aplicar os procedimentos do “racismo científico” de Estácio de Lima para tentar descobrir se ele é um criminoso. - Os crânios. - “Baiana” – pintura atribuída a Di Cavalcanti - Foto-montagem do Juarez Paraíso dos anos 1980 uma mulher negra parindo pela boca uma criança raquítica (período de campanha sobre a fome na África, Juarez quis mostrar que a fome estava na Bahia também). - Pintura de Juraci Dórea (guerra de Canudos). + Rodrigo Matheus, ainda não sei como será essa relação, penso que um caminho seria aproximá-lo das exposições universais. Aqui me interessa a escora/a sustentação de algo insustentável. Adoraria te ouvir sobre esse roteiro. <Transcrição_ cartaExposição Antropológica. docx> Bjs
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 44 -
- 45 -
Arquivo e Ficção
On Jun 4, 2014, at 10:01 AM, paulo nazareth wrote:
Oi Ana --- logo logo fico bom ---- fico aqui nessa extensao de Bahia --- a perna cocha--manca -- bamaba ---bamba me recordando a faca----essa noite sonhei com eguns --eguns numa festa de gcongando ---- eles avanzavam sobre o teto de um onibus velho onde eu me encontrava---- e passavam sobre mim --- me tocavam ao mesmo tempo que nao era toque ---- me lembrei de um projeto de urna que fiz quando viajava ao norte---- uma urna para meu enterro como os guaranis ------os kaiowas nao fazem assim--- ou ja nao fazem ....... sim , me parece bonito ver o panfleto e o video antropologia do negro no Museu Etnográfico, junto as urnas mortuárias dos índios ---- me lembra as marca indigenas em minha cara ----- creio que estarei bem ate os proximos dias ----- ainda quero visitar o Museu Etnografico antes da abertura ---e ir ao arquivo ----- havia dito a heraclito que gostaria que meu trabalho na bienal fosse um processo que durace ao longo da mesmo ---reintero isso junto a ti para dizer que ainda quero trabalhar com aqueles passaportes de escravos ----- ___ tambem nao quero deixar de fazer aquele trabalho com os cranios/ cabezas e a cal [efu] ----- a galinha de angola ---- seguimos trabalhando ---- sempre penso nessas conexoes --- o trafico interno de escravos --- o caminho bahia minas .... a pequena africa y bahia instalada no bairro da gamboa no rio de janeiro ..... o negocio ingles-------- sigo tecendo essa historia ---------------grato ---- beijo enorme Paulo PAULO NAZARETH - ARTE CONTEMPORÂNEA / LTDA
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 50 -
Copiar antes de mais nada! Copiar documentos, textos, livros, falas, ideias. Copiar antes de mais nada e sรณ, entรฃo, pensar um pensamento que jรก esqueceu que era cรณpia.
UMA PEQUENA HISTÓRIA1 Ana Pato
Um mapa do mundo que não inclua utopia não merece ser olhado. Oscar Wilde2
Criar um enorme inventário, uma lista colaborativa, produzir um arquivo com momentos da história do Brasil, em que seja possível enxergar uma força capaz de mudar o rumo dos acontecimentos. Um mapeamento de manifestações populares, de projetos sociais, de ações comunitárias e individuais. O critério para entrar na lista? A capacidade, mesmo que por um breve intervalo de tempo, de deixar transparecer que algo está fora da ordem. Buscar,na acumulação obsessiva de projetos utópicos, a ação do Estado contra movimentos libertários, sejam eles a Revolta dos Malês, a Revolta do Buzu, a Guerra de Canudos ou o projeto de Anísio Teixeira para a Escola Parque. Porque Lampião e Marighella foram enterrados no mesmo cemitério, na Baixa de Quintas? Um cemitério para indigentes. Porque nossas ruas, viadutos e avenidas ainda têm nomes de bandeirantes, de torturadores, de ditadores? Sim, eu sei, “Não há saídas, só ruas, viadutos, avenidas”, escreve Régis Bonvicino. Reunir uma lista interminável de projetos populares que tenham como proposta um Brasil outro, um país que mire suas entranhas.“Há urubus no telhado e a carne seca é servida. Escorpião encravado na sua própria ferida. Não escapa, só escapo pela porta da saída.” Ensejo enterrado no umbigo da poesia de Torquato Neto.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 58 -
A hipótese é que, talvez, assim possamos perceber a falaciosa atmosfera pacífica que nos habita. Violenta é a força de uma docilidade construída estamos diante de um momento de ruptura, acredito que não haja mais tempo para voltarmos atrás. Seria possível aproximar Lampião, Marighella e Marcola? Corre o boato de que os blackblocs se inspiraram na Revolta da Chibata. Mas o que foi mesmo a Revolta da Chibata? Boato ou não, pouco importa!O que me interessa é a atualização das histórias de luta, afinal não somos mais tão cordiais. Encontrar, na mobilização popular, novas saídas para um problema real; “…empilhar sobre minha cabeça as cabeças do cangaço, empilhar sobre minha cabeça,cabeças dos negros de África y Bahia” é o que propõe Paulo Nazareth como (re)ação. Encontro-me, neste instante, numa expedição mental: arquivar o maior número possível de tentativas para aniquilar projetos populares. A expulsão de Lina Bo da Bahia, a interrupção de seu projeto do Museu para Arte Popular. A morte,causada pela ditadura militar, de Anísio Teixeira e o aborto prematuro de seu projeto de escola-comunitária. Hoje, são as grandes avenidas que separam vizinhos,cimentadas da noite para o dia pelo poder da especulação imobiliária. É essa mesma força que promove a perseguição religiosa e que justifica a desapropriação de terreiros de candomblé e a destruição da vida comunitária e de resistência que os terreiros-terrenos garantem. Não posso deixar de pensar que o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues foi construído em cima de um terreiro. Esse seria outro mapa instigante – desenhar um mapa com todos os terreiros que foram expulsos, desapropriados, soterrados para dar lugar a shopping centers, vales e viadutos.
Contudo, é preciso lembrar que a solução não está no mapeamento nem na coleta, mas no envolvimento de todos em torno dele. Sim, eu também desconfio LUNÁRIO PERPÉTUO
- 60 -
da força que a arte tem para resistir ao mercado! Porém, jamais de sua capacidade de emocionar, de seu radicalismo suave. A questão talvez não seja desistir, abrir mão, mudar de rumo, mas criar formas de resistir.
Seriam mesmo os missionários os primeiros etnógrafos? Ou apenas mais um boato? Mas,de novo, que diferença faz? Sigo acreditando que o arquivo é uma máquina de pensar e que a única saída para lidarmos com o futuro de nossas listas infindáveis é a possibilidade de transformar o arquivo em ficção! Este seria, então, o ato mais radical, a liberdade de narrar a história de novo, de novo e de novo. Notas (1)Conversas com Ícaro Lira sobre o projeto Cidade Partida Controle Social e Isolamento, 2014. (2)Apud Tariq Ali no artigo “O espírito da época”. In: Harvey, David et al. Tradução João Alexandre Peschanski et al. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2012.
- 61 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 62 -
- 63 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 64 -
- 65 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 66 -
- 67 -
Arquivo e Ficção
On July 1, 2014 8:49 AM, Ana Pato wrote: Queridos, Fiquei pensando se deveria escrever este email para vocês. Resolvi que sim, pois se o que me interessa é a cultura institucional dos espaços de memória. Precisava, então, continuar dividindo com vocês mais um momento surreal do Arquivo e Ficção.Todo este projeto tem sido feito em colaboração e com a força e o pensamento de vocês, por isso para que eu possa retomar meu fôlego precisava relatar a situação kafkaniana que estamos vivendo por aqui.Ontem, trabalhava no Arquivo Público, na montagem da exposição, quando a diretora do Arquivo me chamou e me disse:
- Ana, acho bom você vir aqui, acabou de chegar um engenheiro, de uma construtora dizendo que o projeto de reforma emergencial do Arquivo foi aprovado e que a reforma começa amanhã! Encontrei o engenheiro na sala da pedra, com a equipe fazendo medições e tentando colocar uma escada entre a Beleza convulsiva tropical e a parede.
- Moço, por favor, cuidado, isso é um trabalho de arte. Bom, o responsável me informou que a reforma começaria hoje (1/7). Disse a ele que não seria possível começar a reforma, hoje, sem uma reunião.
Ontem à tarde fui convocada para uma reunião com a presença de um técnico responsável pela obra, um grupo de engenheiros, eu e a diretora do arquivo. A reunião foi no pátio do APEB para eles nos apresentarem o cronograma e o plano de ação.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 74 -
Listo abaixo as propostas iniciais: 1. Transformar o pátio, o da fonte, onde teremos a escultura do Rufino e a performance da Maria Magdalena, num estacionamento. 2. Transformar o estacionamento em um canteiro de obras, (na frente do trabalho do Omar, Gaio e Hermano) 3. Transferir o Acervo do Arquivo para a área coberta do pátio (aquele corredor, onde hoje trabalham os arquivistas no pátio) e envolver as estantes com lona para evitar que tomem chuva. 4. Interromper as atividades da equipe do Arquivo, no período da reforma. Assim, a Bienal poderia ocupar os outros espaços. Não preciso dizer que este projeto só tem sentido se for realizado em parceria com a equipe do Arquivo (que está cada dia mais envolvida!) e que a questão é justamente: Como tornar público, o arquivo público? Eu disse a eles que isso era impossível e que tinha em mãos um laudo técnico detalhado produzido pelo próprio órgão responsável pela obra, nos autorizando a ocupar as áreas do Arquivo, que não estávamos lá clandestinamente. Conclusão da reunião: a questão será levada à instâncias superiores.
Queria dizer que não estou parando absolutamente NADA! Este email não é para desanimá-los, PELO CONTRÁRIO!
Hoje, começamos a construir a escultura do Gaio na pedra. Sigo em frente até que me digam o contrário.
Lembrei-me do “enigma baiano”, expressão usada nos anos 1950. Estou começando a acreditar nessa ficção. Não desisti, não, estou só tomando ar. Beijos, Ana
- 75 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 78 -
- 79 -
Arquivo e Ficção
Em 8 de março, 2014 Omar Salomão escreveu: Assunto: dos rastros deixados pelos olhos do meu pai ao trilhar certas entrelinhas
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 84 -
MAÇOS DE MEMÓRIA Laura Castro1 1/6 A moça abre os arquivos com delicadeza. Examina um papel muito antigo, chamando atenção para as linhas que fazem a dobra. Perigosa marca do tempo, ela me diz. Ali nas dobraduras sou capaz de ver o tempo, a olhos nus, visível no vinco do papel. No rastro de mãos, vejo o gesto delas dobrando o documento, enfiando no bolso de um paletó antigo. Mãos negras sob um passaporte de escravo. Uma materialidade que fica, ao mesmo tempo em que está prestes a desaparecer. Anoto em letras garrafais: ESPÍRITO DO TEMPO. A moça me narra uma história de pescador. É com uma linha de costura que ele pesca o peixe, no mar da Pituba.... uma linha, ela repete e faz um movimento de mãos que agora remonta outro gesto. O ato engendra uma poética e continuamos brindo os arquivos, seus fundos, suas fontes. Parece líquido, parece pescar, mas somos nós as iscas. No laboratório de restauração, examino a fragilidade do real, apalpo as partes faltantes, sinto o sabor do arquivo público. Tudo correndo o risco o tempo todo de desaparecer, de desabar. 2/6 passado a memória, o arquivo, o oculto, os mortos, - 87 -
Arquivo e Ficção
o sobrenatural. presente a leitura e a reescrita; a evocação e a bruxaria; desterrar, enterrar e esquecer. futuro a previsão, o oráculo, a ficção científica. 3/6 Ele me provoca e diz que, na verdade, o arquivo é uma questão de futuro. Por que arquivar senão para o futuro, me pergunto. No presente, trilho caminhos pelo passado. Lá os personagens me procuram num arquivo desorganizado de um museu fechado. Percorro os documentos e descubro coleções de cabeça, de objetos de culto, de rastros de crime, objetos pessoais. Coisas de escritório e folhas batidas a máquina. Uma pequena ruína. O real me atravessa e o rei está nu. A moça aponta, certeira, um limite, uma impossibilidade: arrota História Oficial a invenção desse museu. Nos sobram os personagens, todos mortos, da história vulgar, das ficções. A medicina também está ali. E a polícia. E a religião. Nenhuma delas escapou da invenção que era aquele museu. 4/6 A memória do passado era o que possibilitava a minha construção narrativa. Tinha sonhos recorrentes com os personagens daquele museu fechado. LUNÁRIO PERPÉTUO
- 88 -
- 89 -
Arquivo e Ficção
Era impossível não ouvir o que narrava aquele arquivo caótico. Ao mesmo tempo, eu oscilava tanto entre o real e o ficcional, o arquivo e a literatura, que fui começando a perder o controle. Seria eu uma historiadora do futuro, como ele queria? 5/6 Enquanto abrimos arquivos, lemos aquilo que nos chama atenção, em voz alta, uma para outra. Desenlaçamos juntos aquele segredo. Os documentos narram perícias, exames de corpo delito. Tratados de sexologia falam de amor, pinças escrutinam corpos de mulheres. Lá encontro Soledade, o corpo feminino encenado em novelas regionais, em mesa de necrotério frio, da literatura. Copio em letras cursivas: “Soledade riu, com satisfação, permitindo que os mais belos dentes de Geremoabo aparecessem no estojo rubro das gengivas. Todavia, o repetido gritar do cantor ousado daquelas alvoradas lhe despertou, em brandas auras, ondas de pudor, como se alguém tivesse, mesmo, espiando as suas formas de jovem, no esplendor dos dezessete anos. - Bem-te-vi! Bem-te-vi!... clarinava o pássaro indiscreto. Corando, ela trouxe, de logo, a mão direita e cobriu, num gesto simples e casto, a mama virginal. Os dedos indicador e médio mantiveramse afastados, e por aí escapuliu medroso, buscando liberdade, o bico pálido do mamilo rudimentar, quase infantil ainda.”2 O pássaro me olha lá de fora, numa árvore, como um fantasma. A moça, que me ouve, me conta, secretamente, que já esteve ali antes. Para ser examinada, ela me diz. Como reescrever a história no futuro, de outro jeito, me pego pensando. E a arquivista não para de dizer, veja, filha, vocês são a voz.
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 90 -
6/6 A Bahia me aparece num envelope retangular, com bordas verde amarelo, para colocar seu dedo na história. Real, visível e cultuada está ali o Iroko, árvore sagrada do povo iorubá. O documento me desvela que o terreno da polícia, onde funcionava o museu fechado, era antes um terreiro de candomblé. Narradores me puxam pelo braço e me levam para rodar em volta daquela árvore. No movimento, me lembram histórias muito velhas, dos escravizados que antes de entrarem nos navios negreiros, davam voltas em torno de uma grande árvore, para que se esquecessem quem eram, de onde vinham. Ali, embaixo, em torno do Iroko, evocamos o tempo, fazemos da árvore memória viva, o revés da árvore do esquecimento. Finalmente narradores, finalmente vozes preenchendo aquela mudez, aquele sequestro de oralidade, aquela tentativa de aculturação. Foi quando passei a digitalizar documentos, copiar trechos, transcrever falas, descrever gestos e, no final, com uma pequena edição, envolver aquilo tudo em 6 maços. Já era trama suficiente pra arquivar numa ficção. Notas (1) Escritora e curadora assistente do Núcleo de Arquivo e Ficção. (2) LIMA, Estácio. “A filha do vaqueiro”. A Aeromoça e outras novelas regionais. Salvador, 1962
- 91 -
Arquivo e Ficção
ARQUIVO
José Rufino
Treze horas e trinta minutos. Estávamos fermentando o almoço, como fazemos todos os dias, contado casos, falando de futebol, traições, acidentes, assaltos e um ou outro assunto de trabalho. Quase nunca falávamos do Arquivo, mas, naquele início de tarde do dia 17 de julho de 2014, o assunto principal era o início da tão esperada reforma no nosso edifício. Chovia fino e eu olhava para o velho chafariz. Pensava vagamente na quantidade de água que já havia escorrido de sua taça de mármore quando vi, e todos também viram, aquele homem esguio vindo em nossa direção. Andava rápido, desequilibrando-se na irregularidade das pedras do velho pátio. Enquanto trocávamos olhares que significavam o que será que essa figura vem fazer aqui? o elegante senhor já estava plantado bem na nossa frente, emoldurado pelo arco do terraço e tendo sobre sua cabeça a taça de mármore e, mais alto e lá ao fundo, o verso do frontão do Cemitério dos Lázaros. O conjunto arquitetônico lhe caíra como uma espécie de coroa. O estranho senhor vestia camisa e calça social brancas e sapato de bico fino também branco, além da tal coroa, que nem era dele. Sua pele de ébano destacava-se na indumentária branca e seu cabelo baixo era cinzento como um resto de coivara. Não havia nenhum vestígio de lama em seus sapatos e parecia saído de um veículo invisível, pois não portava guardachuva e estava completamente seco. Permaneceu ali, parado, bem na nossa frente, até que Fátima, responsável pelo setor de restauração, tomou a iniciativa: posso ajudar, senhor? É consulta? O arquivo está fechado para reforma, somente uma parte do acervo da biblioteca está disponível, mas estamos em horário de almoço. Ele olhou para os lados, como se procurasse um rumo para escapar, encarou Fátima, como se os outros não estivessem ali e, ignorando a informação de que a instituição estava fechada para consultas, disse, com voz segura e grave, que precisava consultar documentos coloniais. Senhor, o acervo colonial foi todo acomodado num salão
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 92 -
provisório, por causa da reforma. Não estamos com acesso a nada. Ele insistiu, precisava consultar documentos da Bahia colonial. Mas o que é mesmo que o senhor está procurando? Novamente o elegante senhor olhou para os lados como se fosse dar meia-volta, pigarreou, passou a mão no queixo e começou a contar: Eu tive uma visão, uma coisa como um sonho. Estava acordado, bem acordado. Tinha acabado de levar o gado pro pasto,a Fazenda Fonte Nova, onde sou vaqueiro, quando vi o campo todo ficando mais seco e uns matos diferentes crescendo. Então foi aparecendo um monte de gente de cor, assim como eu, vestindo uns panos enrolados e as mulheres com panos na cabeça, entrando e saindo de umas casas feitas de barro, enfeitadas com desenhos brancos. Parou a história, de repente, e voltou a olhar para os lados e para trás. Pode continuar, senhor, disse Fátima. Era como se eu tivesse vendo minha gente lá da África, nos tempos que nosso povo ainda andava livre por lá. Mas aí aconteceu uma coisa muito estranha, uma mulher bem velha, toda encolhida, entortada pra frente, se aproximou e me chamou por um nome estranho. Eu disse que não era meu nome, que eu era Sebastião. Ela disse que não, que ela sabia que meu nome era aquele e que eu era descendente de um certo rei, feito escravo pela tribo dela e vendido aos portugueses como escravo de brancos. Novamente parou a história e olhou para trás, como se temesse a chegada de alguém indesejado. E ela falava português com o senhor? Perguntou Pedro, nosso colega mais gaiato. Não sei senhor, era como um sonho, não conheço aquela fala, mas eu entendia e a velha também me entendia, porque era uma visão e quando não é de verdade mesmo, é só visão, a gente entende tudo que a visão quer dizer. Só não consigo repetir o nome do tal rei e o meu, na fala que ela usava. A narrativa parecia terminada ali, pelo menos deveria. Sei, estou entendendo, disse o irônico Pedro. Então ela levantou uma vara que usava como bengala, encostou bem aqui – demonstrou colocando a mão na boca
- 93 -
Arquivo e Ficção
do estômago -, e me garantiu que eu era o herdeiro do reino daquele meu antepassado, trazido para o Brasil como escravo, trazido exatamente para Salvador. Depois de uma janela de silêncio, Pedro soltou sua verdadeira verve: então a majestade veio até o arquivo pra ver se encontra a prova que é o rei da Bahia? Pois é, majestade, não vai dar não, o setor que tem os documentos dos seus antepassados reais está interditado. E tem mais, meu rei, na Bahia todo mundo é rei. Outro vão de silêncio tomou conta da situação e o nobre senhor, novamente, virou-se para ver se chegava alguém. Mexeu-se um pouco e saiu do enquadramento que me permitia a visão homem-arcochafariz-cemitério. Eu continuava calado, dedilhando besteiras no meu Smartphone Samsung Galaxy para não atrair a atenção do visitante. O vão de silêncio alastrou-se, ocupou todo o pátio, avançou pelos gramados, pelo estacionamento, guarita, portão, pela rua, por toda a Baixa de Quintas. Enfiei discretamente o celular no bolso e respeitei aquele silêncio todo. Meu pensamento atravessou o corpo daquele que se imaginava rei, ou príncipe, e como uma bolha translúcida e quente, cresceu pelos flancos da baixa e estourou pelo vale das quintas. Como se fosse uma experiência da mesma categoria daquela vivenciada pelo estranho homem, o príncipe-vaqueiro, eu experimentei, por um instante ínfimo, a visão do nosso edifício, nosso arquivo público, quando era uma quinta do século XVI, a Quinta do Tanque. Provavelmente influenciado pelo meu conhecimento textual e iconográfico, recriei, em surto de historiador-rei, uma cena completa dos jesuítas atravessando o pátio da quinta, em cortejo. Seguiam em grupo de uma dezena, enfileirados, bem próximos, cabisbaixos. O preto de suas vestes longas era fosco, mas o da pele dos três escravos que os seguiam, carregando cestos vazios, era reluzente. Quem sabe um deles não era o antepassado do nosso misterioso príncipe-vaqueiro. Assim como na visão do príncipe-vaqueiro, eu entendia suas falas e mais, sabia o que iam fazer. Caminhavam para coletar laranjas, pimenta-do-reino e cascas de canela. A quinta tinha os pomares mais caprichosos e produtivos de toda a região do entorno da Salvador colonial. E claro, o trabalho escravo passara a ser essencial para a manutenção do empreendimento jesuíta. O homem então LUNÁRIO PERPÉTUO
- 96 -
retomou a palavra: eu contei essa história para a filha do meu patrão, o falecido poeta Eurico Alves. Foi ela que me trouxe aqui, que me deixou aqui, pra ver se alguém podia descobrir alguma coisa. Aquilo me soou como uma pancada bem forte. Eu mesmo estivera, dias antes, na fazenda de Eurico Alves. Não havia me dado conta quando ele falou o nome da fazenda onde era vaqueiro. Aquela missão era minha, sem dúvidas. Chamei o pesquisador inesperado até minha sala improvisada no próprio terraço, tomei-lhe os dados pessoais e anotei os nomes que trazia de antepassados não tão distantes, os avôs e avós e dos dois bisavôs, sendo que desses últimos sabia apenas os prenomes. Dei-lhe minha palavra de empenho na busca e que levaria qualquer dado diretamente até ele, pois que era para mim um prazer visitar a Fazenda Fonte Nova. Despediuse apressado com receio de atrasar sua patroa, já que era trabalhador herdado, e eu fiquei com a missão de encontrar aquela filiação de nobreza nos alvéolos do nosso acervo de documentos da escravaria. Desde então, conto os dias, acompanho cada passo da reforma, ansioso para ter acesso ao arquivo colonial. Sei que me cabe ser neutro, imparcial, mas confesso meu desejo profundo de descobrir a prova de que a visão daquele homem esteja amparada em documentos do nosso acervo. Quero sair por ai alardeando que ajudei a provar que a Bahia tem um príncipe verdadeiro. Por enquanto, me cabe criar entradas classificatórias para o recém-chegado acervo de documentos da polícia. Tenho que me contentar com posse de delegado, agressão física, abuso de poder policial, agressão física, homicídio, prostituição, procedimento irregular de agente policial e conduta imoral.
João Pessoa, 27 de julho de 2014
- 97 -
Arquivo e Ficção
LAGUNA
Luis Berríos-Negrón + GT Bibliotecas*
Vamos aos fatos: numa quarta-feira de julho do ano de dois mil e catorze – as aparições devem, na medida do possível, ser bem documentadas –, fomos convidados por uma funcionária da Biblioteca Pública dos Barris, a visitar o Setor de Jornais, no segundo andar, para um possível contato com o sobrenatural. Depois de falarmos rapidamente sobre os fantasmas que habitam a biblioteca, passamos a percorrer, calmamente, toda a extensão da sala, caminhando entre as estantes que acumulam milhares e milhares de periódicos. No último corredor, avistamos a obra do artista portoriquenho Luis Berríos-Negrón, concebida algumas semanas antes para aquele mesmo espaço. O artista pretendia criar ali uma laguna e a única questão técnica indispensável era que fosse feito de forma que o fundo não pudesse ser visto, para que a real profundidade permanecesse como um mistério. A materialidade do trabalho chegou a ser esboçada, mas as conversas foram interrompidas diante da constatação de que não havia orçamento para viabilizar sua execução. Mas, para nossa surpresa, nenhum centavo era necessário. Bastava que a laguna fosse encontrada. E foi o que aconteceu naquela tarde. A proposta de criar uma laguna em meio ao acervo da Biblioteca Pública dos Barris surgiu em Berlim, numa conversa entre Luís Berrios-Negron e Ícaro Vilaça, que estava na cidade a trabalho, tendo viajado logo depois de um período em Salvador dedicado a visitar sistematicamente as bibliotecas públicas da cidade. As visitas faziam parte de um processo de investigação para o qual a 3ª Bienal da Bahia mobilizou um grupo que envolvia arquitetos, artistas e uma pedagoga. Nessas visitas, o grupo foi atravessado pelo esvaziamento das bibliotecas – equipamentos hoje praticamente ociosos – e passou a dialogar com esta realidade, aguçando o olhar para perceber os espaços vazios, os corpos ausentes e o silêncio. Num contexto cultural com forte influência da matriz africana, em que a cultura oral tem papel central, o grupo começou a desnaturalizar a positividade com que se costuma ver as bibliotecas e passou a levar em conta que elas também estão a serviço de um projeto de modernização que nunca procurou dialogar efetivamente com a oralidade em que
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 104 -
está baseada a cultura trazida da África e cultivada na Cidade da Bahia. Tendo Ícaro como porta-voz, as questões do Grupo de Trabalho Bibliotecas viajaram até Berlim e foram apresentadas ao artista, que foi convidado a dialogar com o processo, possivelmente produzindo alguma interferência a ser realizada na biblioteca. Durante a conversa, BerríosNegrón lembrou-se de sua infância, quando era repreendido pelos professores ao parecer distraído ou esquecer-se de um conteúdo previamente estudado. Diziam: “tienes una laguna, Luis!”. Ao resgatar essa memória, o artista intuiu que as lacunas em relação à oralidade poderiam se manifestar materialmente na biblioteca como uma laguna. La premonición ocurre cuando el GT Bibliotecas me invita a proponer una intervención para el proyecto de las bibliotecas. Yo, sin pensar, reaccioné con “¡Laguna... un cuerpo líquido sin fondo!”. Fue el reflejo mental de un fantasma que habita en mi mente. Un fantasma que, a pesar de mis atesoradas experiencias, intuiciones e instintos, aun se asoma como una sombra subconsciente de ausencias de lo que sé, del conocimiento que sé que poseo, pero que no puedo recobrar. Cuando dije “laguna” - como término académico en mi país de Puerto Rico - me referí, y aun me refiero, a una condición de deficiencia, una falta de retención y recuperación de conocimiento en el proceso educativo occidental, donde lo lineal del aprendizaje académico es interrumpida por un espacio supuestamente vacío, una inhabilidad de poder recordar y poner ese conocimiento en uso en contextos más “avanzados”. Yo siempre me sentí agredido por esa reclamación. Al ser examinado, este reclamo me causaba incertidumbre al ser forzado a tener que recolectar e implementar esa “deficiencia”. Pero, en otros momentos más íntimos, y de mayor importancia personal, esas lagunas me daban curiosidad, porque siento que aun poseo un cierto acceso a ellas, pero de un modo desconocido - ni técnico, ni creativo. Su vacío sí contiene información, y aun hasta más presencia por su ausencia... de que la laguna no es una deficiencia, si no una curiosa deformación en el campo mental en el que su energía e información no operan en lo racional ni lo calculable. Entonces.... la aparición la viven mis camaradas del grupo GT Bibliotecas... que aunque esa experiencia acontece “luego” de la premonición, la Laguna de la Biblioteca dos Barris ya estaba allí... un espectro Derridiano, una manifestación aun más exacta de lo que pude imaginar: como - 105 -
Arquivo e Ficção
su superficie refleja su entorno, que no permite entender su profundidad, y más importantemente, que ocurre en un llanto de la Biblioteca propiciado por las lluvias creando de por sí un bello empozo de sus lágrimas al ser ignorada.
de expresión humana y no-humana, principalmente en la indispensable faena de deformar la máquina antropológica, sacando del medio al ser humano como la figura protagonista de la forma ambiental, en el encause de la vida planetaria.
Ese empozo, que es temporero y solo aparece en momentos indeterminados, de repente incorpora una Laguna más allá de lo imaginable y controlable. Que, en primer plano, lo que parece ser una “deficiencia”, es en realidad una evidente manifestación fantasmagórica y simultánea de la conciencia social-natural, de nuestro campo mental, donde continua aislada la individualización del espacio público que causa lagunas entre todos nosotros.
En el caso de la Laguna para la Biblioteca dos Barris en Salvador de Bahía, el asunto de abandono – no a la memoria, pero a la subconsciencia institucional, la continua y horrorosa amnesia moral del colonialismo – quizás nos permitirá acorralar nuestras propias lagunas para así reprogramar las funciones, y disfunciones, de nuestros archivos y bibliotecas, reconstruyendo nuevas nociones de un accesible espacio público más allá de lo físico o lo digital.
La “Laguna”, por un lado, es como nos explica Tata Mutá Imê – “O futuro não existe...” – un presente que Tembu determina como continuidad en el tiempo. Por otro lado, puede ser también un tipo alternativo de ingeniería inversa (“reverse-engineering”) donde el objeto epistemológico existe en ese retorno eterno al reencontrarlo: nunca inventado. Y sin duda la Laguna, al igual que el Telar del Invernadero (o Tear do Terreiro, obra en el TCA para la misma 3ra Bienal), es un pedestal social, que en su reflejo y cuerpo, nos hace ver ambas dimensiones que confrontan lo cronológico... como la escala cuántica la cual nos confronta con lo irracional, lo impredecible, y aquello que elude su análisis al intentar observarlo, que el observarlo de por sí cuestiona hasta lo más profundo lo que llamamos insuficientemente la “realidad” (Double Slit Experiment, Feyman/Zeilinger, et al). Eso que no podemos definir, sin duda contiene información, como la superficie del horizonte de sucesos (“event-horizon”) del agujero negro... donde la energía ni la información pueden ser recuperadas ni destruidas, pero que permanecen en su superficie... una superficie del tiempo con un fondo invisible que da a otras dimensiones... algo completamente obvio para culturas como la Nación Angolão Paquetan, pero que son aun un misterio para los más sofisticados científicos. Sí, nuestra Laguna se puede reducir a una simple coincidencia, o a un simple argumento para recuperar un conocimiento, un asunto de memoria. Pero quizás esa recuperación de conocimiento no pertenece a los reglamentos mnemónicos de lo racional, si no que cuestiona la hypomnemata (Stigler), retándonos a la continua faena de deformar esos reglamentos de la memoria en el tiempo y espacio que con tanta frecuencia aíslan y segregan las diversas maneras LUNÁRIO PERPÉTUO
- 106 -
Bibliografia Feynman - “a phenomenon which is impossible […] to explain in any classical way, and which has in it the heart of quantum mechanics. In reality, it contains the only mystery.” Feynman, Richard P.; Robert B. Leighton; Matthew Sands (1965). The Feynman Lectures on Physics, Vol. 3. US: Addison-Wesley. pp. 1.1– 1.8. ISBN 0201021188. Nairz O, Arndt M, and Zeilinger A. Quantum interference experiments with large molecules. American Journal of Physics, 2003; 71:319–325. doi:10.1119/1.1531580 Stigler, Bernard - Nanomutations, hypomnemata et grammatisation, Ars Industrialis, http:// www.arsindustrialis.org, Paris, 2006 *Integram o GT Bibliotecas: Daniel Sabóia, Diego Mauro, Ícaro Vilaça, Marta Argolo, Patricia Almeida e Tiago Ribeiro
- 107 -
Arquivo e Ficção
apparition, aparição ludwig, lola, fitzcarraldo... architecture, opera, characters je devins un opéra fabuleux j’ai seul la clef de cette parade sauvage arthur rimbaud
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA / GOVERNMENT OF THE STATE OF BAHIA
DIREÇÃO EXECUTIVA / EXECUTIVE DIRECTION
Jaques Wagner
DIRETORA EXECUTIVA / EXECUTIVE DIRECTOR
SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA / BAHIA CULTURE SECRETARIAT
CONSULTORIA DE SISTEMAS E GESTÃO FINANCEIRA / SYSTEMS CONSULTING AND FINANCIAL MANAGEMENT Gina Leite
Antônio Albino Canelas Rubim
ASSESSORIA JURÍDICA / LEGAL AFFAIRS
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA / INSTITUTE FOR ARTISTIC AND CULTURAL HERITAGE OF BAHIA
GERÊNCIA EXECUTIVA / EXECUTIVE MANAGER
Elisabete Gándara Rosa
Luciana Moniz
Lopez e Vidal Thiago Pilloni
ASSISTENTE EXECUTIVA / EXECUTIVE ASSISTANT
Laize Reis
GESTÃO DE CONTRATOS / LEGAL AFFAIRS Larissa Uerba ASSISTENTE FINANCEIRO / ASSISTANT ACCOUNTANT ESTAGIÁRIAS FINANCEIRO / INTERNS ACCOUNTANT / Lyana Perez
Luciana Pires
3ª BIENAL DA BAHIA / 3rd BAHIA BIENNIAL
Leila Cardoso
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA / ADMINISTRATIVE AND FINANCIAL COORDINATION Sidnei Bastos
DIREÇÃO GERAL / GENERAL MANAGEMENT
COORDENAÇÃO DE RH / HUMAN RELATIONS
Museu de Arte Moderna da Bahia
ASSISTENTES ADMINISTRATIVO / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Fernanda Franco / Ian Cardoso / Paula Andrade
DIREÇÃO ARTÍSTICA / ARTISTIC DIRECTION DIRETOR ARTÍSTICO / ARTISTIC DIRECTOR CURADORA-CHEFE / CHIEF CURATOR CURADOR-CHEFE / CHIEF CURATOR
Marcelo Rezende
Ana Pato Ayrson Heráclito
CURADORA ADJUNTA / DEPUTY CURATOR CURADOR ADJUNTO / DEPUTY CURATOR
Alejandra Muñoz Fernando Oliva
ASSISTENTES DE CURADORIA / ASSISTANT CURATORS Anderson Cunha / Bianca Góis Barbosa / Carmen Palumbo / Carol Almeida / Daniel Sabóia / Giltanei Amorim / Laura Castro / Liane Heckert / Tiago Sant’Ana
Viviane Abreu
COMPRA E LOGÍSTICA / PURCHASING AND LOGISTICS
ASSISTENTE DE COMPRA E LOGÍSTICA / PURCHASING AND LOGISTICS ASSISTANT Michele Lima COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO / PRODUCTION COORDINATION Félix
- 116 -
Fernanda
ASSISTENTE DA COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO / PRODUCTION COORDINATION ASSISTANT Laís Araújo PRODUÇÃO EXECUTIVA / EXECUTIVE PRODUCTION Alana Silveira / Camila Farias / Inajara Diz / Juliana Freire / Talyta Singer ASSISTENTES DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANTS Carol Bomfim / Lara Rosa / Nany Lima / Tatiana Golsman COORDENAÇÃO TÉCNICA / TECHNICAL COORDINATION Oliveira
LUNÁRIO PERPÉTUO
Daniel Bastos
- 117 -
Daiane
Arquivo e Ficção
ASSISTENTE DA COORDENAÇÃO TÉCNICA / TECHNICAL COORDINATION ASSISTANT Marina Alfaya COORDENAÇÃO DE MONTAGEM / ASSEMBLY COORDINATION Borges / Gei Correia / Raquel Rocha
Fernanda
PRODUÇÃO DE MONTAGEM / ASSEMBLY PRODUCTION Fátima Passos / Guilherme Barsan / Marta Luna / Patrícia Bssa / Paulo Tosta / Vinícius Liberato TÉCNICOS DE MONTAGEM / ASSEMBLY TECHNICIANS / Jairo Morais
Agnaldo Santos
EQUIPE DE APOIO / SUPPORT TEAM Edy / Elcian Gabriel / Fernando Borges / Garlei Souza / Igor Albert Sampaio / Lazaro Luis Soares Sena / Marcus Vinicius de Carvalho Pereira / Melquesalém do Sacramento Santos / Sergio Luis Laurentino PRODUÇÃO DE MOBILIÁRIO / FURNITURE PRODUCTION Gei Correia Rios / Guilherme Barsan / Marcus Vinicius de Carvalho Pereira MARCENEIROS / CARPENTERS Pereira da Silva
Marcos Antônio da Silva / Reinaldo
PINTORES / PAINTERS Ademir Ferreira dos Santos / Antonio Jorge Ferreira / Cid Eduardo Ferreira ELETRICISTAS / ELECTRICIANS de Assis Alecrim
Jorge Bispo dos Santos / José
COORDENAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / PROJECT COORDINATION AND MANAGEMENT AND INSTITUTIONAL AFFAIRS Nara Pino GESTÃO DE PROJETOS E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / PROJECT MANAGEMENT AND INSTITUTIONAL AFFAIRS Paulo Victor Machado COORDENAÇÃO DE PUBLICIDADE / MARKETING COORDINATION Campodonico ASSESSOR DE T.I. / I.T.
Rafael Rêgo
SECRETÁRIAS / SECRETARIES Cristina de Jesus
LUNÁRIO PERPÉTUO
Cristiane Moreira / Sandra
- 118 -
Andrea
DIREÇÃO EDUCATIVA / EDUCATIONAL DIRECTION DIRETORA EDUCATIVA Aragão Simões
/ EDUCATIONAL DIRECTOR
Eliane Moniz de
PRODUÇÃO GERAL E GESTÃO DE PROJETOS EDUCATIVOS / GENERAL PRODUCTION AND EDUCATIONAL PROJECT MANAGEMENT Felipe Dias Rêgo PRODUÇÃO / PRODUCTION
Lucas Lima
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANTS Carolina Morena / Igor Solares / Paloma Saraiva / Renata Soutomaior FOTÓGRAFO / PHOTOGRAPHER
Rafael Martins
COORDENAÇÃO DE PESQUISA DO MUSEU-ESCOLA LINA BO BARDI / RESEARCH COORDINATOR FOR THE MUSEUM-SCHOOL LINA BO BARDI Maria Ferreira CONSULTORIA PEDAGÓGICA/ PEDAGOGICAL CONSULTANT / Marcelo Faria / Priscila Lolata
Isa Trigo
PESQUISADORAS / RESEARCHERS Andreia Fabia Santos / Gabriela Fracassi de Oliveira / Mabell Fontes Silva / Paula Milena Lima / Rita Maria Fonseca Chaves / Samille Soares COORDENAÇÃO CURSO DE FORMAÇÃO DE MEDIADORES MAM-BA/UFBA / MAM-BA/UFBA MEDIATION TRAINING COURSE COORDINATION Mariela Brazón Hernández SUPERVISÃO TÉCNICA MEDIAÇÃO CULTURAL DO MAM-BA / MEDIATORS TECHNICAL SUPERVISOR (MAM-BA) Luis Augusto Gonçalves Silva SUPERVISÃO MEDIAÇÃO CULTURAL DA 3ª BIENAL DA BAHIA / MEDIATORS SUPERVISOR (3rd BAHIA BIENNIAL) Lídice Araújo Mendes de Carvalho ASSISTENTE DA SUPERVISÃO DA MEDIAÇÃO CULTURAL / MEDIATORS ASSISTANT SUPERVISOR Dominique Galvão de Jesus SUPERVISÃO PEDAGÓGICA DO MUSEU IMAGINÁRIO DO NORDESTE - FORMAS DE EDUCAÇÃO / PEDAGOGICAL SUPERVISION OF THE IMAGINARY MUSEUM OF THE NORTHEAST - FORMS OF EDUCATION Helena Magon RELAÇÕES PÚBLICAS / PUBLIC RELATIONS
- 119 -
Ítala Herta
Arquivo e Ficção
MEDIADORES CULTURAIS 3ª BIENAL DA BAHIA - MAM-BA / MEDIATORS FOR THE 3rd BAHIA BIENNIAL Àlex Santos Cardoso / Amanda Vila Kruschewsky / Ana Beatriz Henriques Brandão / Ana Elisa Improta / Ana Paula Fiúza Ana Paula Nobre / Ana Rachel Schimiti / Andreia Oliveira Bernardo Santos / Camila Santos da Silva / Camila Souza / Carolina Albuquerque / Caroline Silva Souza / Daiana Soares / Daniel Almeida / Daniel Souza Lemos / Diana Paiva / Douglas Saturnino / Ednaldo Gonçalves Junior / Eliane Silveira Garcia / Eva Souza Trochsler / Evanny Dantas Fernando Santos da Silva / Francisco Folle Beraldo / Gabriela Guedes Maia / Geisiane Cordeiro Ferreira / Gustavo Salgado Leal / Helaine Ornelas / Iandira Neves Barros / Isabela Santana / Jaison Santos da Conceição / James Barbosa Souza / Jéssica Maria Cordeiro / Jonatas Lopes / José Augusto Estrela Cordeiro / Jozias Almeida Cedraz / Karoline Santana Tavares / Laila Silva Fagundes Laura Cardoso / Layla Gomes Angelim Silva / Leandro Estevam / Letícia da Silva Almeida / Liliane Souza / Lucas Pereira Luciana Pimentel / Marcia Julieta Souza / Marcleia Santiago do Amor Divino / Maria Célia Pereira da Silva / Maria Lúcia Santos / Maria Terezinha Passo Noblat / Marisa Zulma Michelle Pontes / Misma Ariane Dórea / Naasson Oliveira Naira Rezende de Oliveira / Núbia Pinheiro / Patrícia Martins / Rafael Vasconcelos / Raquel Cardoso / Rebecca França /Rodrigo David / Romário Silva / Rose Souza Trochsler Roseli Costa Rocha / Rosemary Fontes Bastos / Tâmara Lira / Tarciana Paim Ribeiro / Telma Lívia Costa / Thassya Luz / Tiago Costa Moreira / Ulisses Junior / Verônica Macedo Virgínia Tertuliano / Wagner Oliveira / Yasmim Nogueira
ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Cláudia Muniz / Denise Fernandes / Keila Silva
COORDENAÇÃO E PESQUISA DAS OFICINAS DO MAM-BA E DA BIENAL / RESEARCH AND COORDINATION OF MAM-BA’S AND BIENNALE’S WORKSHOPS Felix White Toro
FOTÓGRAFOS / PHOTOGRAPHERS / Leonardo Pastor
PROFESSORES DAS OFICINAS DO MAM-BA / WORKSHOP TEACHERS Claúdio Pinheiro / Evandro Sybine / Hilda Salomão / Marlice Almeida / Olga Goméz / Renato Fonseca / Rener Rama PROJETO PINTE NO MAM / PINTE NO MAM PROJECT
Maninho Abreu
ASSISTENTES DAS OFICINAS DO MAM-BA / WORKSHOP ASSISTANTS Antônio Bento / Carmen Mayan / Gabriel Arcanjo / José D’Hora / Raimundo Bento / Sebastião Ferreira / Valter Lopes ASSISTENTE DE COMUNICAÇÃO / COMMUNICATION ASSISTANT Souza
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 120 -
Jamile
Ana
DIREÇÃO EDITORIAL E DE COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTION & COMMUNICATIONS DIREÇÃO EDITORIAL (Conteúdo) E COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTOR (Content) & CCO Eduardo Simantob DIREÇÃO EDITORIAL (Arte) E COMUNICAÇÃO / EDITORIAL DIRECTOR (Art) & CCO Dinha Ferrero DESIGNERS / DESIGNERS
Alberto Gonçalves / Ana Clara Araújo
COORDENAÇÃO EDITORIAL / EDITORIAL COORDINATION
Andréa Lemos
PRODUTORA DE CONTEÚDO EDITORIAL / EDITORIAL PRODUCER Nolasco COORDENAÇÃO AUDIOVISUAL / AUDIOVISUAL COORDINATION Carvalho
Hanna
PRODUÇÃO AUDIOVISUAL / AUDIOVISUAL PRODUCTION
Lara
Tais Bichara
PRODUÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL E EDIÇÃO DE IMAGENS / VIDEO CONTENT & EDITING Caio Rubens / Isbela Trigo Alfredo Mascarenhas / Gillian Villa
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO EDITORIAL / EDITORIAL PRODUCTION COORDINATION Noemi Fonseca ASSISTENTE DE PRODUÇÃO / PRODUCTION ASSISTANT Moreira PRODUÇÃO GRÁFICA / GRAPHIC PRODUCTION
Valdete
Herbert Gomes
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E REPORTAGEM / PRESS RELATIONS & REPORTING Cátia Milena Albuquerque ASSESSORIA DE IMPRENSA / PRESS OFFICE de Comunicação]
- 121 -
Antonio Moreno [Cia.
Arquivo e Ficção
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO / COMMUNICATIONS COORDINATOR Anne Pinto MÍDIAS SOCIAIS / SOCIAL MEDIA Blenda Tourinho PRODUÇÃO DE CONTEÚDO / CONTENT PRODUCTION Gess Alencar Marcos William / Thuanne Silva / Thais Seixas
DIREÇÃO MUSEOLÓGICA / MUSEOLOGICAL DIRECTION
Mota / Nilton Cavalcanti / Paula Alves / Poliana Duarte / Rebeca Fonseca / Suelene Bonfim / Suria Seixas / Taiane Rosário / Tamires Carvalho / Valdeíldes Santos / Uildemberg Cardeal COORDENAÇÃO BIBLIOTECÁRIA / LIBRARIAN COORDINATION Lucia Rodrigues
Vera
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO DE BIBLIOTECA / LIBRARY ASSISTANTS Aldemiro Rodrigues Brandão / Fábio Vasquez / Nadiene Lopes Raimundo Figueiredo
DIRETORA MUSEOLÓGICA E PESQUISA / MUSEOLOGICAL DIRECTOR & RESEARCH Sandra Regina Jesus
NÚCLEO ADMINISTRATIVO MAM-BA / MAM-BA ADMINISTRATIVE STAFF
COORDENAÇÃO MUSEOLÓGICA / MUSEOLOGICAL COORDINATION Sousa
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA / MANAGEMENT COORDINATION Santana Moreira
Rogério
PESQUISA MUSEOLOGICA / MUSEOLOGICAL RESEARCH Daisy Santos Etiennette Bosetto / Janaína Ilara / Priscila Leal / Priscila Povoas / Renata Cardoso ASSISTENTE DE MUSEOLOGIA / MUSEOLOGY ASSISTANT Cristina Resurreição
Tânia
COORDENAÇÃO DE RESTAURO / RESTORATION COORDINATION Lúcia Lyrio
Maria
ASSISTENTES DE RESTAURO / RESTORATION ASSISTANTS Alberto Ribeiro / Rafael Salvador / Rita Mota / Walfredo Neto SUPERVISÃO DOS MONITORES DE ACERVO / COLLECTION MANAGEMENT Diogo Vasconcelos / Eduardo Moleiro Ribeiro / Erasto Lopes / Jackson Queiroz / José Jesus / Robson José de Jesus / Ricardo Santos / Sérgio Silva
MONITORING / Emile Mário de Sílvio
MONITORES DE ACERVO / COLLECTION MONITORING Alda Sousa / Ana Caroline Reis / Andréa de Jesus / Áurea Santiago / Carmen Sena Celeste Melo / Edirlene Souza / Edmundo Galdino / Elioma Lima / Fabiana Vitório / Flávia Pedoroso / Giselle Almeida / Heloísa França / Ivonaide Costa / Ivonete Encarnação / Irlan Tripoli / Jamile Menezes / Lílian Balbino / Luiz Henrique Cruz / Luan Santos / Jaílson Queiroz / Jaqueline Sales / João Carlos Borges / Joilton Conceição / José Passos Jr. / Kátia Ribeiro / Luiz Augusto Sacramento / Márcio Ferreira / Maria Heloísa Lima / Maria Mel Santos / Maurício
LUNÁRIO PERPÉTUO
- 122 -
RECEPTIVO / RECEPTION STAFF
Dércio
Antonieta Pontes
ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS / ADMINISTRATIVE ASSISTANTS Fernando Nascimento Lopes / Luis Costa ALMOXARIFADO MAM-BA / MAM-BA STOCKROOM
Antônio Mascarenhas
SUPERVISÃO DE MANUTENÇÃO E LIMPEZA / CLEANING AND MAINTENANCE MANAGEMENT Alexsandro Muniz / Júlio César Santos CABOS DE TURMA / FOREMEN JARDINEIRO / GARDENERS
Antonio Moreira / Ramon Maciel Cláudio Pinheiro de Almeida
ASSISTENTES DE JARDINAGEM / GARDENING ASSISTANTS Lourenço de Jesus PEDREIROS / CONSTRUCTION WORKERS Vitório / José Inácio Santos COPA / KITCHEN
Antonio
Alex Ferreira / Francisco
Ângela Maria Pereira
TÉCNICOS DE LIMPEZA / CLEANERS Agnaldo José dos Santos Arão de Paula Santos / Cleonice Reis Cerqueira / Crovis Alves Gama Jr. / Emanuel Rubens Oliveira / Estela Maria Santos / Jailson Souza Conceição / Jussara Reis Souza / Raimundo Jose dos Santos / Simarley de Jesus Dias / Sueli Conceição Vera Lúcia Ferreira
- 123 -
Arquivo e Ficção
LUNÁRIO PERPÉTUO. VOL.01 / ARQUIVO E FICÇÃO CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO Ana Pato / Laura Castro EDITOR Eduardo Simantob EDITORA ASSISTENTE Hanna Nolasco DIREÇÃO DE ARTE Dinha Ferrero ARTE CAPA Dinha Ferrero / Liane Bruck Heckert TRATAMENTO DE IMAGEM Ana Clara Araújo
CO-REALIZAÇÃO
PRODUÇÕES