fabricação local 1997 2001

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Projeto Fabricação Local João Pessoa-PB, Brasil Conceito | Dyógenes Chaves | Francisca Vieira Produção de moda | Ricardo Olavo Programação visual | Dyógenes Chaves Vídeo | Fabiana Veloso | Sandoval Fagundes Artista convidada | Daluz Chaves Lordão Impressão serigráfica dos tecidos | Dyógenes Chaves Assistentes | Flauberto | Moisés Farias Confecção de peças | Simetria Confecções Estilista | Francisca Vieira Modelagem | Eny Câmara Design têxtil | Dyógenes Chaves Fotografia | Bertrand Lira | Roberto Coura Still | José Altino Acessórios | Max Bijouteria | Arezzo (sapatos) Apoio | Pantera Costa Modelos | Drica Soares | Fábia Dias | Juliana Oliveira Apoio institucional | Associação Le Hors-Là Paraíba | Centro Cultural de São Francisco | Financiadora de Estudos e Projetos-Finep | Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Paraíba-Fapep | Fundação Espaço Cultural da ParaíbaFunesc | Galeria Archidy Picado | Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas-Patme | Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas-Sebrae Agradecimentos | Ativa Art | Costura Rápida | C&S Confecções | Durand Fashion | Giovana Loi | Gyulianna Pronta Entrega e Decoração | Hugo Peregrino | Jambo Confecção | Padre Ernando Carvalho | Rosires Andrade | Simetria Confecções | Vestes Confecções

Marselha, França Conceito | Dyógenes Chaves Produção | Catherine Kieffer | Patrícia Prunelle | Pedro Lino Programação visual | Dyógenes Chaves Vídeo | Pedro Lino Artista convidada (vídeo) | Corinne Vicari Impressão serigráfica dos tecidos | Dyógenes Chaves Design têxtil | Dyógenes Chaves Fotografia | Catherine Kieffer | Isabelle Borme | Pedro Lino Apoio | Corinne Vicari | Luiz Barroso Apoio institucional | Ministério da Cultura do Brasil/ Fundo Nacional de Cultura | Consulat Général de France à Recife | Consulado do Brasil em Marselha | Ministère des Affaires Étrangères, AFAA, CNOUS, École Supérieure des BeauxArts Luminy, Ville de Marseille, Conseil Général des Bouches du Rhône e Association Culturelle Le Hors-Là Agradecimentos | Amélia Couto Córdula | Antenor Bógea | Antonio Moreira | Associação Le Hors-Là Paraíba | Catherine Kieffer | Claude Simonetti | Corinne Vicari | Daniel Résal | Débora Chaves | Didier Tisseyre | Eric Unglas | François da Silva | Isabelle Borme | Jacques Cuzin | Jenny Millot | Juruna | Koki Watanabe | Luiz Barroso | Marc Boucherot | Martine Lahondes | Patrícia Prunelle | Pedro Lino | Pedro Osmar | Raul Córdula | René Richier | Richard Grigorian

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Fabricação Local / Fabrication Locale | Dyógenes Chaves (ABCA-AICA)

A ideia inicial do projeto Fabricação Local surgiu na primavera de 1995, em Marselha, no Sul da França, quando participava do programa de intercâmbio promovido pela Association Culturelle Le Hors-Là. Em visitas às lojas de tecido provençal – muito comum na decoração têxtil (copa-cozinha) e bem típico da região –, fui descobrindo, aos poucos, que a estamparia de imagens miúdas sobre fundo escuro era algo que me remetia a lembranças de minha infância. Entre as décadas de 1940-60, meus pais foram proprietários de uma mercearia (pequeno armazém) no interior da Paraíba (entre as cidades de Guarabira e Araçagi), onde se vendia de tudo, inclusive tecido (ou fazenda, como se fala no interior). Daí, ao visitar as lojas de tecidos de Marselha, pude observar que as estampas dos tecidos franceses eram realmente as mesmas dos tecidos existentes no comércio da Paraíba. Essa coincidência foi, de fato, o que me despertou para o mundo da moda, da arte-moda. Daí, passei a pesquisar e estudar as estampas de tecidos, iniciando pelo tecido provençal e pelas chitas e chitões... E o círculo foi se fechando quando surgiram dois novos eventos: 1) o convite de Raul Córdula, então representante da Le Hors-Là no Brasil, para cumprir uma bolsa de estudos em Marselha; 2) o encontro com a estilista Francisca Vieira que me sugeriu apresentar um projeto ao Sebrae Paraíba para oferecer consultoria a empresas do setor de confecção têxtil. Finalmente, entre junho e agosto de 1997, executei o plano de consultoria para oito micro empresas de João Pessoa – Simetria Confecções, Gyulianna Pronta Entrega e Decoração, C&S Confecções, Durand Fashion, Jambo Confecção, Ativa Art, Costura Rápida e Vestes Confecções – com o projeto intitulado de Fabricação Local: o uso da serigrafia na estamparia têxtil, que tinha por objetivo o aperfeiçoamento e racionalização do produto e do processo a partir do uso da técnica serigráfica. Esta assistência tecnológica foi objeto de convênio de cooperação técnica e financeira estabelecido entre a Financiadora de Estudos e ProjetosFinep, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas-Sebrae e o Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas-Patme, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Paraíba-Fapep. O resultado da consultoria foi apresentado ao público na exposição-desfile Fabricação Local, na Galeria Archidy Picado, da Fundação Espaço Cultural da Paraíba-Funesc, em 28 de agosto de 1997. Logo após, entre setembro e dezembro, desenvolvi a segunda etapa do projeto, Fabrication Locale, na École Supérieure des Beaux-Arts Luminy, de Marselha, como convidado do programa de estágios para artistas estrangeiros, por meio de uma bolsa de estudos concedida pelo Ministère des Affaires Étrangères (França) e CNOUS (França), numa realização das associações Le Hors-Là (de Marselha e da Paraíba), com apoio do Ministério da Cultura do Brasil, do Conselho Geral do Bouches du Rhône e da Prefeitura de Marselha. A mostra Anthropophagie foi inaugurada em 16 de dezembro de 1997, na galeria Le Hors-Là (Ancyen Presbytère, do bairro do Canet), em meio a um happening em que as mulheres presentes ao vernissage se apropriavam das peças de tecidos exibidas para criar novas vestimentas. As performances foram registradas por mim com uma camêra Polaroid e exibidas nas paredes da galeria. Em 4 de julho de 2001, encerrei o ciclo Fabricação Local com a exposição Fui ao supermercado pegar o extrato da minha conta..., no Centro Cultural São Francisco-CCSF, em João Pessoa, nos mesmos moldes do happening acontecido em Marselha, quatro anos antes, em que os visitantes também poderiam interagir com as peças de tecido. Esta mostra havia sido selecionada no Programa Artes Visuais 2001 do CCSF. Fica registrado, com o presente catálogo impresso, todo o processo de execução do projeto Fabricação Local, desde as etapas de conceituação/ideia até sua realização final culminando com as exposições/performances/desfile na França e no Brasil.

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A fabricação de Dyógenes Chaves | Eudes Rocha Jr. (ABCA-AICA)

A prática da serigrafia, o estudo do desenho e da separação de cores levou Dyógenes Chaves a novas experiências. Depois de anos fazendo o trabalho de impressão de serigrafias para grande parte dos pintores da Paraíba e de outros estados, Dyógenes decidiu trabalhar para sua própria obra. Após obter muito sucesso ao imprimir sobre papel, ele passou a pintar sobre tela utilizando a serigrafia e alcançando resultados surpreendentes. Mas Dyógenes não se limitou a produzir imagens apenas com a serigrafia, ele começou a adicionar figuras e uma série de pinceladas e grafismos obtendo extraordinário efeito de luz, resultando numa rica matéria e uma criatividade muito inventiva. Persistente e disciplinado, o artista dedica-se a uma pesquisa visual cujo conteúdo estético, por uma questão de geração, é um legado da Pop Art, cuja técnica apresenta recursos introduzidos de maneira criativa e corajosa, que nos atrai, nos provoca e nos agrada a todos, e isso, graças à consciência do que Dyógenes faz ou em razão da precisão e da intuição plástica que lhe é próprio. O certo é que Dyógenes Chaves tem crescido constantemente em um gênero que ele mesmo desenvolveu, e se os saltos qualitativos continuarem neste ritmo, ele promete ser uma das principais revelações dos anos 90.

La fabrication de Dyógenes Chaves | Eudes Rocha Jr. (ABCA-AICA) La pratique de la sérigraphie ainsi que l’étude du dessin et de la répartition des couleurs ont conduit Dyógenes Chaves à de nouvelles expériences. Après des années passées à faire des travaux sérigraphiques pour une grande partie des peintres de la Paraíba et d’autres états, Dyógenes a décidé de travailler pour lui-même. Peu après des débuts très réussis dans la sérigraphie sur papier, Il en est venu à commencer à peintre sur toile en utilisant la technique sérigraphique, obtenant ainsi des résultats surprenants. Mais Dyógenes n’en est pas resté là, aux imagens produites par la sérigraphie, Il s’est mis à ajouter une série de coups de pinceaux et de graphismes qui donnent à l’ensemble un effet de lumière extraordinaire, et des figures, résultantes d’une matière riche et d’un esprit créatif très inventif. Persévérant et discipliné, cet artist se consacre à une recherche visuelle dont le contenu esthétique, ne serait-ce que pour une question de génération, est un héritage du Pop-Art et dont la technique présente des éléments, introduits de manière créative et courageuse, qui nous attirent, nous provoquent et nous charment tous; et cela, grâce a la maîtrise consciente de ce que Dyógenes fait ou en raison de la justesse de l’intuition plastique qui lui est propre. Ce qui est sûr, c’est que Dyógenes Chaves n’a cessé de progresser dans un genre qu'il a lui-meme développé; et si les sauts qualitatifs se porsuivent à ce rythme, Il promet d’être l’une des grandes révélations des années 90.

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Serigrafia por opção | Giovana Loi Na área artística o acesso ao processo de produção da obra de arte é um momento essencial. A arte é um fazer, um saber que é construído na firmeza do trabalho em função de uma determinada questão. Também é importante falar do convívio diário em lugares de intensa produção artística, onde, de certa maneira pode ser assimilada a pluralidade de soluções oferecidas pelo trabalho artístico. No Brasil, ainda não existem instituições maduras o suficiente para incluir num processo educativo de larga escala esta prática individual, estendendo para uma prática coletiva. (Agnaldo Farias)¹

A prática de ateliê coletivo que Dyógenes Chaves adquiriu durante seus anos de trabalho produzindo gravuras em serigrafia para outros artistas deu-lhe um raro senso do fazer artístico, em razão das discussões e reflexões sobre o processo de produção e outros assuntos do dia a dia, já que sempre é comum a presença de vários artistas nesses espaços criativos. Por se tratar de uma técnica de impressão gráfica muito comum na área da publicidade, da indústria têxtil e de embalagens, a serigrafia lhe oferece mais do que qualquer outra técnica, a oportunidade de discutir, de trocar, de aprender sobre as múltiplas possibilidades dessa técnica e torná-la um instrumento para a realização de obras de arte seja em papel, tecido, plástico ou outros materiais. O que mais lhe interessa é unir a tecnologia industrial à arte – artesanato – para produzir obras únicas. A partir da opção pela técnica da serigrafia, Dyógenes Chaves decidiu estudar as “semelhanças e diferenças” entre as imagens/signos/sinais/símbolos do Nordeste do Brasil e do Sul da França (Provence). Daí passou a usar e imprimir estas imagens de forma irregular, em justa ou sobreposição, até que as mesmas “desaparecessem” ou fossem “devoradas” por elas mesmas (como num rito canibalista), talvez na ideia de destruir e/ou negar essas imagens. Ou então, quem sabe, uni-las de forma definitiva? L’option pour la sérigraphie | Giovana Loi Dans le domaine artistique l’acces au processus de production de l’oeuvre d’art est un moment essential. L’art est un faire, un savoir qui s’édifie dans la fermeté ou travail en fonction d’une question donnée. Aussi faut-il absolument conseiller la fréquentation quotidienne d’endroits à l’intense production artistique, de cette maniere pourra être assimileé la pluralité des solutions qu’offré le travail artistique. Au Brésil, il n’existe pas encore d’institutions assez mûres pour pouvoir inclure dans un processus éducatif de plus grande ampleur cette pratique individuelle en l’étendant a une pratique collective. (Agnaldo Farias)

La pratique de l’atelier collectif, que Dyógenes Chaves a acquise au cours de ses années de travail de production pour d’autres artistes, de gravures en sérigraphie, lui a donné un rare sens du faire artistique, les raisons en sont les discussions et les réflexions permanentes sur les processus de production et d’autres sujets du quotidien artistique, auxquelles donne toujours lieu la présence d’artistes dans ces espaces de création. Du fait qu’elle est une technique d’impression graphique très usuelle dans la publicité, l’industrie textile et celle des emballages, la sérigraphie lui a offert encore plus que toute autre technique, la chance de discuter, d’échanger, d’apprendre sur les possibilités multiples de cette technique et d’en faire un instrument pour la réalisation de ses oeuvres d’art que ce soit sur papier, tissu, plastique ou autres suppórts. Ce qui l’intéresse le plus c’est de mêler la technique industrielle a l’art – artisanat – de produire des oeuvres uniques. A partir de l’option pour la technique sérigraphique, Dyógenes Chaves a decidé d’étudier les “ressemblances et différences” entre les éléments-signes du Nord-est du Brésil et ceux du Sud de la France (Provence). L’utilisation et impression de ces signes se fera de forme irrégulière en juxtaposition ou superposition, jusqu’à la disparition des images, comme dans une tentative de detruire et/ou de nier ces mêmes signes. Ou alors, quisait, de les mélanger définitivement? 1. Texto publicado na Galeria Revista de Arte, nº 11, São Paulo, 1988.

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Fabricação Local | Pedro Lino Agora, tudo deve caber em um comportamento significativo. (Hélio Oiticica)

Um dos filmes mais famosos da Nouvelle Vague brasiIeira é Como era gostoso meu francês. O filme trata da história do desembarque francês, no século XVI, em um Brasil já colonizado pelos portugueses, e repleto de índios gentis que “cozinhavam” os brancos e os “consumiam” para se apropriar de sua alma. Este “santo canibalismo” realmente não chocou os franceses que pensavam terem encontrado o paraíso na terra e tentaram prová-lo, enviando vários teólogos que fundaram uma comunidade no Rio de Janeiro. Alguns séculos mais tarde, no século do conceito, os canibais ressurgiram pela voz de Oswald de Andrade, para quem a “fundação” do Brasil está relacionada exatamente à “devoração” do bispo português Sardinha, que inspirou o diretor do filme. Aí então começa a aventura antropofágica da arte brasileira que penetrou, consumiu (consome), todas as formas de arte e de todas as fontes: Iocais, internacionais, conceituais, popuIares, políticas etc. A obra de Dyógenes Chaves é de alta linhagem antropofágica e consome seus antepassados: Pop – Mestiço – Posse Da língua, da cultura e das tradições de dois lugares do mundo muito distantes, mas relativamente próximos, culturalmente. Miscigenação – Bricolage – Precariedade Apropriação dos temas de decoração dos tecidos provençais, de fábulas, da literatura de Cordel do Nordeste brasileiro e das técnicas precárias de representação. Sensualidade – Corpo – Contato – Carnaval – Participação O espectador, sem o qual nada acontece, é simpIesmente observador: espectador do espetáculo, ou ator do mesmo espetáculo (mas, as artes pIásticas são o espetáculo mesmo quando eles são espetaculares?). Happening – Experiência – Ambiente – Parangolé – Samba Ainda assim o espectador será a matéria-prima de uma obra que será realizada ao longo da noite de abertura. Antropofagia – Atitude – Fantasia – Emoção – Liberdade A cultura são corpos. O índio vendo chegar o homem branco, totalmente diferente, vestido de cores, andando a cavalo, encontra uma maneira de se apropriar (comer) de toda essa beleza divina. O homem branco, encontrando um negro nu com algumas jóias e riqueza, vivendo na natureza, feito Adão, leva-o como um animal e o empalha para carregá-lo e exibi-lo em suas feiras e museus e, em seguida, tenta explorá-lo como ele explora o cavalo, mas aí é outra história... O canibalismo é um libelo à nudez, ao calor, à sensualidade, ao gosto; erotismo, tabu, fantasia que se perpetuam em todos os pais com seus filhos quando eles correm depois do banho a gritar: “Ahhhhhh, eu vou te comerrrrrrrr...”

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Fabrication Locale | Pedro Lino Tout doit désormais s’intégrer dans un comportement significatif. (Hélio Oiticica)

L’un des films les plus célebres de Ia nouvelle vague brésiIienne s’appelle: “Comme il était gouteux mon français”. Il raconte I’histoire des français débarcant au seizième siècle dans un Brésil déjà colonisé par les portugais et plein d'indiens gentils qui cuisinaient les blancs et les dévoraient pour s’approprier Ieur âme. Cette sainte anthropophagie n’a pas vraiment révolté les français qui pensaient avoir trouvé le paradis sur terre et tentaient de le prouver en y envoyant plusieurs théologiens qui ont fondé une communauté dans Ia baie de Rio de Janeiro. Quelques siècles plus tard, au siècle du concept, Ies anthropophages ressurgissent par Ia voix de Oswald de Andrade, pour qui Ia fondation du Brésil se situe justement à Ia consomation de l’éveque portugais Sardinha, dont s’est inspiré le réalisateur du film. Alors commence Ia grande aventure anthropophage de I’art brésilien qui pénetre, consomme, consume, toutes les formes d’art et de toutes les sources: qu’elles soient Iocales, internationnales, conceptuelles, popuIaires, politiques etc. Le travail de Dyógenes Chaves est de haute lignée Anthropophagique et consume ses ascendants: Pop – Métisse – Appropriation De Ia langue, Ia culture et les traditions de deux endroits du monde très éloignés mais relativement proches culturellement. Miscigénàtion – Bricolage – Précarité Appropriation des themes de décor des tissus provençaux, des fables, de Ia litérature de Cordel du Nordeste brésilien et des téchniques précaires de représentation. Sensualíté – Corps – Contact – Carnaval – Participation Du spéctateur sans lequel rien ne se fait, qu’iI soit simpIement regardeur: spéctateur au spéctacle, ou acteur du même spéctacle (mais Ies arts pIastiques sont-ils du spéctacle, même quand ils sont spéctacuIaires?). Happening – Expérience – Environnement – ParangoIé – Samba Toujours est-il qu’ici Ie spéctateur sera Ia matière première d’une oeuvre qui se fera tout au long de Ia soirée de vernissage Anthropophagie – Attitude – Fantaisie – Emotion – Liberté La culture sont des corps. L’indien voyant arriver l’homme bIanc, teIIement différent, habillé de couleurs, montant des chevaux, trouve le moyen de s’approprier toute cette beauté divine en Ia mangeant. Le blanc, trouvant un homme noir nu, avec quelques parrures pour richesse, vivant dans Ia nature, adamique, le prend pour un animal et l’empaille pour le transporter et le montrer dans ses foires et ses musées, puis il cherche à l’exploiter tout comme il expIoite le cheval, mais, c’est une autre histoire. Celle de l’anthropophagie est un rapport à Ia nudité, Ia chaleur, Ia sensualité, au goût; à l’érotisme, phantasme tabou, que tous les parents perpétuent avec leurs enfants quand ils Ieur courrent après dans Ia salle de bains en criant: “Ahhhhhh, je vais te mangerererrr...”

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Fabricação Local

Galeria Archidy Picado Funesc João Pessoa, Paraíba 28 agosto - 22 setembro 1997

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Fabrication Locale

Ancien Presbytère du Canet Galerie Le Hors-Là Marselha, França 12 dezembro 1997 - 24 janeiro 1998

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Fui ao supermercado pegar o extrato da minha conta... Centro Cultural São Francisco João Pessoa, Paraíba 4 julho - 4 agosto 2001

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