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TERCEIRIZADAS FACILITAM A GESTÃO CONDOMINIAL

Empresas de soluções em terceirização de mão de obra de segurança, portaria e limpeza para condomínios desafogam a rotina do síndico, mas não o exime de acompanhar o trabalho da contratada

Por Isabel Ribeiro

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RECRUTAMENTO e seleção de funcionários, atualização das carteiras profissionais, elaboração de controle de escalas de serviço, de férias, troca de uniformes, entre outras tarefas típicas de RH (Recursos Humanos), são atribuições que não fazem parte do cotidiano de condomínios que contam com empresas de soluções em terceirização de mão de obra de segurança, portaria e limpeza. Delegá-las não é a única vantagem dos síndicos. Há que se considerar aspectos facilitadores da gestão como redução de despesas com a folha de pagamento, treinamentos e reciclagem a cargo da contratada, facilidade de cobertura de membros da equipe durante faltas, licenças ou férias. Mas terceirizar a contratação de colaboradores não quer dizer que os gestores ficarão longe de tudo que diz respeito a eles.

Claro que desafoga um pouco a rotina de síndicos, porém como em toda parceria bem-sucedida é preciso caminhar lado a lado com a terceirizada.

A síndica profissional Miriam Rocha aprova o modelo de mão de obra terceirizada, o qual emprega no Alpes D’Itália, empreendimento residencial de 108 unidades localizado em Arujá, na Grande São Paulo. No Edifício Louis Pasteur, condomínio comercial da avenida Paulista sob sua administração desde 2011, pretende em breve substituir funcionários orgânicos por terceirizados. “Quero fazer essa troca pela minha experiência com terceirizada, especialmente com a atual prestadora do condomínio do Arujá, que já é a terceira desde que assumi a gestão em 2017. Gostaria de contar com ela também no Louis Pasteur pois conheço o seu serviço há um ano e meio e estou satisfeita. Falha sempre existe, ninguém é perfeito, porém eu tenho um respaldo e retorno muito rápido com a prestadora atual”, constata.

Tempo Otimizado

Dentre as vantagens de mão de obra terceirizada sobre a orgânica, Miriam aponta haver menos desgaste na relação com os colaboradores. “Se tem algum problema eu não preciso ficar fazendo reuniões, nem falar com um a um sobre situações que surgirem. Eu posso me dirigir a uma só pessoa, o supervisor da empresa de terceirização, que é o profissional que visita os condomínios para conferir o trabalho e interage com a equipe. Isso me poupa tempo e desgaste, permitindo que eu me dedique a outras atividades em prol do condomínio”.

Outra vantagem mencionada por Miriam são os treinamentos dos funcionários por conta da empresa de terceirização. “Eles precisam ser constantemente treinados porque a modernização chega a todo momento e síndicos têm muitas demandas, fica difícil assumir mais esse compromisso”, comenta a gestora. Ela cita também a questão de o condomínio ser indiciado por ex-funcionários e poder contar com o suporte das empresas parceiras nessa hora.

“O condomínio é corresponsável, pode acabar tendo de lidar com um passivo trabalhista caso a empresa não cumpra com o seu papel, mas o risco é menor do que quando há funcionários orgânicos. Uma boa empresa parceira age logo para preservar o condomínio em questões trabalhistas. No Alpes D’Itália, há pouco tempo um funcionário foi desligado pela prestadora e entrou com ação indenizatória. O condomínio foi notificado, mas a terceirizada rapidamente fez o acordo com ele e encerrou o processo. Foi tudo bem tranquilo”.

Miriam comenta que não foi o caso desse prestador, cuja dispensa ocorreu por questões da própria contratante, mas a facilidade de poder trocar um funcionário do condomínio que não tenha se adaptado ao ambiente ou não esteja rendendo o esperado é outra das facilidades que os gestores encontram na terceirização de mão de obra. “Com funcionário orgânico, às vezes trabalha cinco, seis meses e você precisa demitir porque não está acompanhando o ritmo do condomínio e aí tem uma despesa inesperada. Na terceirização não ocorre esse problema, você tem a liberdade de solicitar a substituição de colaboradores quantas vezes forem necessárias”.

Embora consiga elencar várias vantagens e seja favorável à terceirização, Miriam adverte tratar-se de uma excelente opção para o condomínio desde que os síndicos acertem na escolha da parceira, o que requer muita pesquisa de mercado e análise de documentação. Algumas das questões que precisam ser verificadas antes da contratação é a solidez financeira da empresa, se existem passivos trabalhistas, se a mesma tem sede própria e se possui frota própria de veículos, bens que poderão ser convertidos em verba para pagamento dos funcionários na hipótese de falência pois, caso eles não recebam da empresa, o condomínio arca com a despesa.

A síndica profissional Miriam Rocha diz que na relação com os colaboradores terceirizados há menos desgaste

Servi Os Inadequados

A gestora entrega alguns insucessos do passado. “Quando eu assumi a gestão do condomínio de Arujá, já havia uma empresa de terceirização, que também era a administradora. Mas não havia estrutura nem para uma coisa, nem para outra, então cancelei o contrato. Entendo que uma terceirizada de mão de obra tenha de focar nos cuidados e responsabilidades que fazem parte do serviço que oferece”, diz Miriam.

Também não deu certo a parceria da síndica com uma terceirizada que se mostrou prestativa no início, mas aos poucos foi deixando de entregar o prometido: uniformes, EPIs, treinamento, entre outros. “O síndico precisa ficar bem atento à maneira como a contratada atua”, aconselha Miriam, e acrescenta. “Eu já me deparei com situações graves, com terceirizadas que não recolhiam INSS e FGTS dos funcionários no prazo, eu tinha de ficar cobrando algo que era obrigação delas. Uma dica, inclusive, é que os condomínios paguem às terceirizadas somente após certificarem-se de que os recolhimentos mensais dos funcionários foram efetuados”.

Miriam comenta que hoje está tranquila com a prestadora que atende o condomínio de Arujá, mas nem por isso deixou de conferir os recolhimentos, que “enviam sem que eu precise solicitar”. Também manteve o hábito de perguntar se os funcionários estão recebendo seus benefícios em dia. “Hoje isso não ocorre, mas em experiências anteriores vi grande desmotivação dos colaboradores envolvendo essa questão – o que ocorre também com funcionários orgânicos quando o condomínio deixa de cumprir com suas obrigações. É algo a mais para o síndico ficar atento”.

Síndico profissional com dez condomínios em carteira, André Mantovani corrobora as observações de Miriam Rocha. “O condomínio precisa saber se a terceirizada faz os recolhimentos em dia, se efetivamente paga vale-transporte e vale-alimentação dos colaboradores, se atrasa o salário etc. Já fui procurado por funcionário muito angustiado porque não tinha dinheiro para pegar o ônibus, depois, outros colegas dele me procuram com queixas semelhantes e constatei que pagávamos a prestadora corretamente, mas ela descumpria sua parte com os funcionários”. O episódio relatado pelo síndico aconteceu no início de sua gestão em um condomínio de poucas unidades na zona leste. “Como o contrato estava vigente quando assumi a gestão, inicialmente não quis rompê-lo, mas diante dos acontecimentos, cancelamos o compromisso”, explica. Ele conta que a questão da condução foi a ponta do icerberg porque ao pesquisar a empresa, encontrou vários processos trabalhistas. “Algo que já me chamava a atenção antes desses fatos eram os uniformes dos funcionários e os calçados em péssimas condições. Tudo bem uma peça rasgar, mas a empresa não repõe? Uniforme é cartão de visitas”.

Além de estar de olho em aspecto pragmático na relação condomínio-terceirizada-colaboradores, André levanta outra questão:

“Nós, síndicos, cuidamos de pessoas, não só do condômino, mas do colaborador também, seja ele próprio ou não. Na terceirização de mão de obra, existe o supervisor da empresa em contato com o colaborador, mas às vezes ele se sente mais à vontade para falar sobre um problema com o síndico, por exemplo, e nosso papel é escutar e conforme o caso contactar a empresa”, sentencia André, ilustrando que em uma das vezes em que algo semelhante lhe aconteceu foi possível interceder pelo colaborador e, ainda, evitar um provável processo por assédio moral para o condomínio.

O fato se deu em uma edificação na Penha, zona leste, constituída por sete torres de 13 andares e 364 unidades ao todo. Dois vigilantes, ótimos no ofício, haviam se desentendido sobre uma troca de turnos, sendo um deles, muito benquisto pelos moradores, que tomaram partido; o outro, mais reservado, acabou alvo de insultos e provocações. Sem saber do ocorrido, André notou apenas que havia algo diferente no funcionário mais calado. “Os olhos dele perderam o brilho, esse vigilante passou a andar cabisbaixo. Quando eu quis saber o motivo, ele falou da discussão, da perseguição dos moradores, do clima insustentável”, narra André. A solução encontrada pelo síndico foi propor à empresa que transferisse esse colaborador para um condomínio de perfil mais tranquilo, também administrado por André e servido pela mesma terceirizada. “Eu disse a ele que seria mais valorizado no outro condomínio, e de fato tudo acabou bem. Mas se ele fosse um funcionário orgânico, não seria possível ter resolvido a situação dessa maneira”.

A flexibilidade de poder substituir colaboradores que trabalham nos condomínios realmente é um dos grandes trunfos da terceirização, conforme aponta André Mantovani. “Algumas pessoas dizem que existe grande rotatividade de colaboradores nos condomínios em que a mão de obra não é própria, mas não precisa ser necessariamente dessa maneira. Às vezes é possível, sim, manter a mesma equipe por um bom tempo e sem o ônus de acumular anos de casa e depois onerar o condomínio com rescisão trabalhista, como vemos acontecer muito no segmento condominial”.

Na opinião do síndico, é interessante poder ‘moldar’ os trabalhadores e criar um time de funcionários, uma vez que existe plena possibilidade de substituição dos colaboradores pelas terceirizadas.

“Se eu tenho contrato com uma empresa de mão de obra, não corro o risco de empregar, em regime CLT, um candidato que se destacou em um processo seletivo, mas que depois de seis meses, se acomodou, ou começou a se envolver demais na vida dos condôminos, por exemplo”, aponta André. Ele comenta que uma ação estratégica é investir naqueles colaboradores que demonstram afinco com o trabalho, moldá-los, e ir trocando os demais. “Embora os colaboradores já cheguem aos condomínios preparados e instruídos pelas empresas que os contrataram, cada condomínio é único, com suas Convenções, Regimentos e particularidades. Então é necessário moldá-los de acordo com a expectativa do condomínio”, sugere o síndico.

Rela O De Afeto

O síndico profissional André Mantovani acredita que por receio de substituição os terceirizados sejam menos acomodados

Nos condomínios mais antigos, em especial, impera a relação de afeto e confiança dos condôminos para com os funcionários próprios. Falar em terceirização de serviços como zeladoria e portaria é arrumar confusão, porém pode ser necessário. “Nesses condomínios, os moradores se sentem confortáveis porque o porteiro é conhecido de longa data, identifica todos os moradores, transmite uma ideia de segurança, e cria-se uma relação afetiva, com direito a presentes em datas especiais. Por outro lado, o funcionário pode se acomodar e ter seu desempenho comprometido, o que é ruim para o condomínio. Com o colaborador terceirizado isso é mais difícil ocorrer porque caso ele se acomodar, se houver declínio, sabe que poderá ser substituído”, analisa o gestor.

Fora a afetividade, André nota que a questão do hábito influencia muito na resistência à troca de equipe própria pela terceirizada. “Existe o perfil de morador que não participa da vida do condomínio, que sai para trabalhar de manhã, acena para o porteiro, volta para casa à noite e, no dia seguinte, repete o movimento. Ele se habitua a ver um rosto conhecido, e resiste à ideia de mudança, sem imaginar que talvez esse profissional tenha se acomodado e esteja deixando a desejar em sua função. Não tem conhecimento sobre a operacionalidade do condomínio”, comenta o síndico. Justamente por muitas vezes enfrentar resistências na troca de modalidade dos colaboradores, síndicos precisam acertar na ‘escolha da parceira’, até mesmo para não ficarem desmoralizados entre os condôminos caso contratem uma empresa sem estrutura adequada, com problemas trabalhistas e financeiros. Além de precauções já mencionadas na reportagem, André sugere aos síndicos que antes da contratação, visitem condomínios servidos pelas empresas cotadas, porém sem avisar quando irão ao edifício. “Vale pedir uma relação de condomínios para a terceirizada, contatar alguns deles, expressar o interesse da visita, mas deixar para chegar de surpresa no prédio e, assim, identificar os problemas, do contrário o visitante será sempre recebido com sorrisos. Problemas todo lugar tem, é um fato, mas onde se constatar uma menor incidência deles, melhor”. Da mesma forma que é preciso seguir determinadas recomendações antes de contratar a prestadora, André recomenda tomar cuidado com as palavras e ter muito tato ao romper contratos – obviamente quando o motivo não for infrações e irregularidades. “É preferível um divórcio amigável a um litigioso”, compara André. Ele explica que, no caso do síndico profissional, é possível que ao assumir um novo empreendimento, ele se depare com a empresa preterida. E mais: pode surpreender-se com o desempenho dela. “Se a empresa não agradou em um condomínio, não significa que será igual em outro. Eu mesmo já deixei de renovar um contrato e depois contratei essa mesma terceirizada para outro condomínio, de padrão diferente, e deu supercerto”, finaliza.

PRÓXIMA EDIÇÃO: TERCEIRIZAÇÃO - SERVIÇOS ESPECIALIZADOS

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