REVISTA DE COMUNICAÇÃO VISUAL
andré carrilho
MUITO MAIS DO QUE UM ILUSTRADOR
INVERNO 2010 | EDIÇÃO 05
simon frederick
FOTOGRAFIA COM ATITUDE
alberto plácido ESCREVER COM LUZ
€ 9,95 |INVERNO 2010 | EDIÇÃO 05 layout_capa_B.indd 2
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índice exposição
10 Alberto Plácido “A importância da fotografia na percepção da paisagem”
entrevista
20 André Carrilho – Traço distintivo e seguro como ilustrador
passaporte
28 Simon Frederick – The Image Maker
portfólio
48 Rita Botelho “Design que marca a diferença” 58 Beto Fiori – Ilustrador brasileiro que escolheu Portugal
artigo
66 IP Solutions: Propriedade Intelectual 68 Pictoralismo Português #2 94 Richard Avedon – Um ícone americano
novos talentos 74 Hugo Abreu 80 Fred aka Klit 86 Liliana Lisa
Capa – Fotografia de Vitor Fonseca por Simon Frederick ““Acreditarmos em nós é tudo o que temos.” A verdadeira característica de um campeão é alguém que é generoso. Tenho essa frase na parede do meu escritório”.
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editorial
Feliz Ano Novo, ou devo antes dizer Feliz Nova Década? É habitual encararmos o novo ano com optimismo e uma nova esperança, pois com ele vêm oportunidades e mudanças. Aqui na Directarts também estamos a passar por esse processo. Algumas são para melhor e outras serão desafiantes. Mas como um sábio professor me disse uma vez, “se valer a pena, então vale a pena fazer bem!”. E é precisamente isso que vamos fazer este ano. Vamos continuar a trazer os melhores talentos nas artes aplicadas que a comunidade portuguesa tem para oferecer ao país e ao mundo.
CMAD – CENTRO DE MEDIA ARTE E DESIGN, LDA. Rua D. Luís I, Nº6 1200-151 Lisboa, Portugal Telefone: 932 530 139 Ext.301 Direcção Editorial/Criativa Carlos Duarte carlos_duarte@directarts.com.pt
Neste número é com orgulho que lhe mostramos o talento do ilustrador André Carrilho, que tornou o seu nome internacional através do seu trabalho para publicações como New York Times e Vanity Fair, entre outras. André também é o vencedor de muitos prémios, incluindo o Gold Award for Illustrator’s Portfolio da Society for News Design, não esquecendo as inúmeras exposições pela Europa, Brasil e Estados Unidos. Trazemos também até si Alberto Plácido. Um fotógrafo e especialista em pós-produção, mas acima de tudo um talentoso artista. A Casa de Sonhos para o Porto 2001, Capital Europeia da Cultura foi uma proposta bastante interessante de conjugação de meios. O seu trabalho é genuinamente inspirador. E claro que não podemos esquecer uma vez mais os inúmeros artistas que escolheram o nosso país para trabalhar e viver. Neste número é com satisfação que apresentamos o inglês Simon Frederick, um dos muitos artistas (fotógrafo) que escolheu Lisboa para viver e trabalhar sem deixar de fazer os seus trabalhos internacionais. A sua exposição com músicos nacionais deixou definitivamente uma marca na nossa comunidade criativa.
Direcção Adjunta Editorial/Criativa Lia Ramos lia_ramos@directarts.com.pt
Acredito que começámos o Novo Ano com a qualidade que é esperada da Directarts, vamos mudar o rotulo trimestral e passar ser sazonal mantendo a mesma assiduidade mas primando pela diferença das estações e de forma a manter a qualidade a que estão habituados iremos aumentar o nosso preço de capa para €9,95. Uma subida radical? Talvez, mas necessária para uma revista coleccionável de qualidade como esta. Esperamos que os nossos leitores compreendam e continuem a apoiar-nos.
Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas Rua Consiglieri Pedroso, nº90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena - Portugal Tel: +351 21 434 54 00 Fax: +351 21 436
Departamento Comercial/Marketing rv_comercial@directarts.com.pt Direcção Financeira Vasco Costa Edição/Jornalismo Catarina Vilar Paginação Alexandre Santos
Até à próxima…
Distribuidora Logista Distribuição Edifício Logista, Expansão da área Industrial do Passil Lote 1 A - Palhavã, 2894 - 002 Alcochete Telm.: +351 91 725 04 91 Telef.: +351 21 926 78 00 Fax: +351 21 926 78 10 www.logista.pt Tiragem: 7000 exemplares Preço (IVA incluido): € 9,95 Periodicidade: Trimestral Registo de Publicação: nº 436566
Carlos Duarte
www.directarts.com.pt
E assim arrancamos em 2010, sabendo que a crise económica continuará connosco, mas em Portugal vivemos com a mesma desde 1640, e que tal habituarmo-nos... Sim, continuam a existir guerras pelo mundo; mas terá havido alguma altura em que não houve um conflito armado a rebentar algures no planeta? A guerra contra a fome e a doença também continuam, recomeçou novamente a 1 de Janeiro, para os que se interessam. Agora vejamos o lado positivo: teremos sempre aquilo que merecemos e temos a Directarts.
info@directarts.com.pt anunciantes@directarts.com.pt
RMD
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É designer, fotógrafo, criativo de qualquer uma das áreas que encontra na directarts?
Fórum
Então temos uma proposta a fazer. Que tal uma visita ao nosso site para deixar comentários, opiniões ou críticas (nós aguentamos!). Está a dar os primeiros passos na profissão? Esperamos pelo portfólio. Somos uma revista que pretende divulgar os trabalhos dos leitores e talentos, os novos e os já estabelecidos. Contacte-nos em: www.directarts.com.pt ou info@directarts.com.pt
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exposição Alberto Plácido
ALBERTO PLÁCIDO DESENHAR, ESCREVER A LUZ Texto de Jorge Velhote
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O que ver quando olhamos a paisagem. O que observamos
Esta manipulação tem o objectivo claro de evidenciar a utiliza-
quando olhamos uma fotografia. Quem vê o que se observa ou
ção de mecanismos e materiais que captam uma ilimitada paleta
olha. Quem, neste rigor assim rarefeito e difundido, ocupa a pai-
de cores ou luz, ou a sua ausência, e com isso levar a assumir que
sagem? Onde, neste instante, localizar esse lugar para sempre
o desenho, a imagem e a escrita são processos convergentes que
desocupado?
transmitem ao observador, através de um suporte e ambiente artísticos, a intencionalidade de desencadear uma infinitude de
Ao introduzir, nesta aproximação ao trabalho fotográfico de
olhares. Ou seja, a arte do fotógrafo leva até ao olhar sensível do
Alberto Plácido, este cerrado interrogatório, que ousamos no-
espectador, não só a evidência do modo de desenhar o que vê
mear como introspectivo, procuramos percorrer as deambula-
para captar e reproduzir essa luz que o persegue, como o con-
ções secretas do fazer e do olhar íntimos de um fotógrafo.
duz, pela sua percepção singular, à nua infinitude da paisagem, tornada espaço de conquista, oscilante entre a incontornável
“Desenhar, escrever a luz” tenta intitular a forma através de uma
distância que luz e cor aproximam e a imponência da sua meta-
expressividade gráfica, logo tangível, como Alberto Plácido ex-
morfose.
plora e interage manipulando o espaço e a paisagem.
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Alberto Plácido tem vindo a produzir e a desenvolver o seu trabalho
trabalhos, e factor que foi ganhando, expressivamente, cada vez mais
fotográfico e simultaneamente criador de instalações a partir de uma
peso com o passar do tempo. “Quando comecei a olhar para os milha-
reflexão sobre a paisagem e, mais especificamente, da importância da
res de fotografias que tinha, percebi que era a paisagem que eu traba-
fotografia na percepção da paisagem. “Paisagem não é apenas o mun-
lhava. E as pessoas começaram a desaparecer! Normalmente, trabalho
do que vemos, mas uma construção, uma composição desse mundo”,
com céu, mar e montanhas, e não preciso de pessoas nem para indicar
considera.
a escala. A sua presença é indiferente, desnecessária. Ao escolher o
E este é um denominador que se foi tornando comum a todos os seus
tema da paisagem, a presença humana está implícita”.
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exposição Alberto Plácido
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Entre 1998 e 2001, na zona abrupta e rude do Cabo Espichel, Alberto
ser pelos outros visto. Na verdade, a percorrer esse trajecto denso de
Plácido realiza um trabalho que visa fotografar, durante a noite, entre as
uma luz negra que se revela apenas como momento anterior e desejado
23 e as 4 horas da madrugada, com poses que variaram entre 1 e 4 horas
(e esta palavra tem aqui um peso específico), e que nos revela e ao fotó-
esse espaço de escuridão e vento, relâmpagos e chuva, que o seu olhar
grafo espectador para a surpresa ainda não identificada.
diurno assinalou. Assim surgiu Paisagem Invisível, título que indicia desde logo essa atracção pelo envolvente e o seu desconhecido, mas
O resultado final será uma impressiva surpresa para o próprio fotógrafo,
não ignorando a possibilidade de encontrar o que lá, fantasticamente,
acessível apenas depois de reveladas as fotografias. E, esses momentos
existe e que se deseja ver e quer dar a ver. “Todas foram realizadas em
de afecto com essas paisagens fantasmáticas, quase diria, incólumes
dias de tempestade, frequentemente tempestades violentas, e respon-
ao trato do visível, revelam um olhar não mecânico e expressivamente
diam a um programa que implicava a marcação durante o dia do local
fundador de um trajecto que, creio, visa alcançar a mais sublime das
a fotografar e o enquadramento, que era pré-definido.”
interrogações e dádiva. “Assim a fotografia tem a capacidade de criar realidades específicas, fora do alcance dos sentidos humanos e aqui
Neste projecto impunha e desconstruía a relação entre o fotógrafo e o
o que ela regista é a luz, apenas a luz.” Neste sentido aparentemente
objecto, pois a câmara era colocada no tripé perante a escuridão, mas
simples e tão directo, se, para o fotógrafo, não há melhor forma de tocar
não perante a não ausência de luz, dessa luz que se deseja buscar para
a luz que trabalhar a preto e branco, diz, convicto, na realidade, o que
nela se olhar e se retratar. Ou, melhor, se ver retratado como quem bus-
Alberto Plácido realiza é essa metáfora inacessível que se projecta na
ca na ignorância de si o que uma sombra ou reflexo de nós é capaz de
morte e no seu espaço que é o corpo – ou seja, alcançar o inacessível
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que existindo não é tangível e não tem regresso. Na verdade, a máquina
estruturas que o impelem numa pesquisa de sentido vário e de uso de
captou do espaço visíveis instantes e imagens irrepetíveis fisicamente,
matérias e matérias que, justapostos ou fabricados, impõe, pela sua pró-
mas manipuláveis mecanicamente ou no laboratório, mesmo que, para
pria materialidade, como se de uma máquina de captar luz se tratasse,
tal, e apesar disso, tenha demarcado o território ou mapeado o con-
ao observador ou espectador um posicionamento que o leva ao conflito
tinente. E esta aproximação às raízes da fotografia é abraçada de tal
e à ruptura com o estabelecido físico e orgânico. Ou seja, a estrutura
forma que, até há um ano, não reenquadrava nada na ampliação. Nesta
impõe-se perante um desejo de conhecimento que provoca instantes de
confissão, expõe-se um caminho de acerto com o real, com o mundo
ignorância e surpresa e mesmo repetição.
que se deseja ver ou observar, mas que, somente pela fotografia, se pode e poderá rever – como espelho de um processo de conhecimento e
Neste sentido, a instalação funciona como meio para que a luz, visível
intimidade que o absorve e compagina com a matriz de escala humana
ou invisível, interior ou exterior, seja esse catalisador que medeia e faz
que é a arquitectura.
alternar e recoloca o homem no centro do seu ser e ignorância. Por isso, “nas instalações, às vezes, já estou fora da fotografia e tenho de dar um
Esta base estrutural do seu trabalho e projectos é não raras vezes fun-
passo atrás. É uma linguagem mais abrangente.”
dida ou descontinuada com quebras ou deslocações dessas mesmas
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exposição Alberto Plácido
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Num outro projecto titulado Entre o Mar e o Céu, que desenvolve des-
zonte. A segunda série foi realizada ao longo vários anos, em viagens
de 2004, explora estes dois elementos naturais e para o qual, afirma,
de barco em alto mar, sem qualquer contacto visual com terra. Por fim,
não vê um fim, pois a incessante recolha de imagens é sinónimo, ali-
cada uma destas fotografias é acompanhada por local e data de rea-
ás, do conceito work in progress como algo incrustado no seu próprio
lização que, no caso das que foram realizadas no mar, correspondem
olhar físico e metafísico – o que observa e o que deseja alcançar, fixado
a latitude, longitude, data e hora. E, em algumas dessas imagens, é
como instante para ser visto como registo, logo como memória e reco-
difícil perceber se é dia ou noite, a que hora foram captadas, e é atra-
nhecimento ou metáfora cinzeladora de um desejo de ainda continuar a
vés desta escuridão que a luz se manifestou”. E, poeticamente e verso
ver e a observar-se vendo.
muito belo, poder dizer:
E isto como uma espécie de novelo visual adubado por uma parca que
--“Atravessei a escuridão para, no outro lado, encontrar a luz--, como
não pára de tudo registar. Aqui, a luz, é uma vez mais o tema central,
na pintura se pode por vezes sentir a textura espessa da tinta e as
explorada com todo o esplendor do preto e branco, implicam e levam-
pinceladas do autor, aqui a luz toma essa forma, torna-se matéria es-
nos ao conflito e ao seu contrário, o apaziguamento, mas não há indife-
pessa” – quase sangue, apetece dizer.
rença ou superficialidade, são imagens poderosas e que se impõem para nos expandir o olhar, nos dar a ver um pouco mais desse seu inefável
Num outro projecto, Costa, uma instalação, Alberto Plácido consolida
desejo de luz inatingível e separadas em duas séries instintivamente
uma forma de pensar a fotografia, a luz e a paisagem, “fragmentando
assim justificadas: “A primeira é realizada na zona de fronteira entre
as suas partes para encontrar relações e dependências, através de uma
a terra e o mar, a costa. Sempre observando o mar de forma frontal, de
reconstrução mental desses elementos”. Aqui desconstruiu-se a com-
costas viradas para a terra e estruturam-se a partir da linha do hori-
posição da luz.
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Se há algo que o fascina são os espelhos e a capacidade de se atingir uma outra realidade através de um só plano. “Têm tudo aquilo que a realidade apresenta, mas no fundo, não existe. São bidimensionais como a fotografia e, tal como ela, reproduzem a realidade visível”. E esta estranha dimensão é explorada na exposição ECO, que esteve em Espanha e no Porto, em Junho de 2008, na Galeria Arthobler. “É uma Instalação que recorre à fotografia que, quando sujeita a um sistema óptico (os espelhos), prescinde da sua identidade individual, para se relacionar com reflexos de si própria, criando uma nova percepção, com uma multiplicidade de interpretações que oscilam entre a realidade e a ilusão, numa reflexão sobre o papel da fotografia como meio de representação da realidade, e a sua importância na noção de Paisagem”, explica, definindo. E, assim, defendendo que o seu trabalho tem de ser claro, falar por si, para não ter de o explicar por palavras. “Se conseguir transmitir essa clareza, a ideia fica.” – assume, como desejo e programa, por isso a materialidade das suas fotografias aproximam-nos desse seu objecto de 13
nos dar a ver a luz.
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exposição Alberto Plácido
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16 Projectos: 01 e 02 / 11 a 14) - ECO 03) - Paisagem Invisível 04 a 07) - Entre o Mar e o Céu 08 a 10) - Costa 15 a 19) - Casa dos Sonhos
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Em 2001, para Porto Capital Europeia da Cultura, Alberto Plácido concebeu Casa dos Sonhos, uma instalação que consistia numa casa completamente negra, sem portas nem janelas, forrada em tela de projecção preta, onde eram projectadas imagens de céus durante o fim de tarde e noite que descreve com prazer e ironia: “Esta casa criava uma relação com a paisagem envolvente evidenciando os limites visuais impostos pela colocação de um volume negro na paisagem, que se altera radicalmente com a projecção de imagens, permitindo redefinir o espaço físico possibilitando, até ao limite, leituras de visão infinita, no limite do onírico.” Durante o dia era um volume opaco e negro, um sólido objecto ali despojado e obsceno na sua imobilidade, na sua densidade luminosa e irredutivelmente imposta a negro ao nosso olhar diurno. Durante a 17
noite imagens de céus eram projectadas a partir do seu interior irisando de súbitos desejos o nosso olhar nocturno e inscrevendo na pele do céu os nossos dedos. “Quando se pretende colocar um volume sem portas nem janelas, em forma de casa, numa qualquer paisagem, torna-se este objecto em algo inatingível, inacessível ao tacto, subsiste apenas a forma e o que esta sugere. A casa e a paisagem estão intimamente ligadas, é a representação do homem na paisagem.” E quando a projecção tem início, transporta-nos para o mundo dos sonhos. Para um lugar onde um instante é a perenidade de um olhar breve e acutilante. “Esta abre-se ao mundo e fecha-se para o mundo. Aqui estabelece-se uma cooperação entre o real e o irreal, numa fusão, mais do que numa alternância.” E geraram-se romarias em volta desta curiosa instalação: “Foi fascinante ver o movimento das pessoas em torno da casa. Quase todos a queriam tocar, mas era impossível, porque estava no meio de um lago.”
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Alberto Plácido tem agora um novo projecto, uma exposição em Junho, no Palácio de Tancos, em Lisboa. Aqui mantém os aspectos que mais gosta de explorar, mas entra por novos e irresistíveis caminhos: “Desta vez entro no campo do vídeo. Aqui o meio escolhido sugere um afastamento da fotografia. É uma instalação realizada especificamente para este espaço e desta relação nasceram imagens em movimento, fora do meio característico da fotografia, talvez para , de fora, a poder olhar”. Pela luz, para escrever e desenhar a luz. Para podermos ver um pouco mais.
Alberto Plácido – albertoplacido@mac.com 19
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entrevista André Carrilho
André Carrilho Entrevista por Catarina Vilar
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É mais conhecido pelas suas caricaturas, mas gosta de explorar todas as vertentes da ilustração. Desde os livros infantis à paixão pelo Vjing, o que quer é ilustrar conceitos, sejam eles sonoros ou visuais. André Carrilho é lisboeta e já passou por Macau. Andou pelo Design Gráfico e marcou a sua posição com um traço distintivo e seguro como ilustrador. Internacionalizou-se e trabalha para os jornais e revistas de referência, do Independent ao New York Times, passando pela Vanity Fair. Exibiu os seus desenhos em exposições de grupo e individuais, em Portugal, Espanha, França, Brasil e EUA. Recebeu vários prémios, entre os quais o Gold Award for Illustrator’s Portfolio da Society for News Design. Confessa-se tímido, por isso faz com que a sua arte fale por si. É por isso que nunca se veria como artista plástico, gosta de passar as fronteiras de uma galeria e gritar ao mundo a sua forma de o interpretar.
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Trabalha para diferentes sítios diferentes, certamente com vá-
quando dão ajuda, para me aproximar mais da ideia. Convém ter o tom
rios briefings ao mesmo tempo. Como se organiza?
certo do texto para eu conseguir opinar, mas é mais nos Estados Unidos
As minhas encomendas fixas são quase sempre nos mesmos dias, fora
que costumam enviar, em Portugal não tanto.
do Diário de Notícias, em que tenho de estar mais de plantão, ou colaborações mais pontuais como a New Yorker, que são coisas mais pon-
É a liberdade de criar o que pode distinguir um autor?
tuais e nunca sei quando aparecem. Sei que tenho sempre de trabalhar
Eu acho que é mais a maneira de pensar do que o desenho em si.
à Sexta e Sábado, e tenho um calendário no computador onde escrevo todas as encomendas, para não me perder. Preciso de pelos menos três
Encontra formas muito diferentes de trabalhar entre Portugal,
dias de antecedência para fazer o desenho.
os Estados Unidos e Inglaterra? Eu agora em Portugal só estou a trabalhar para o Diário de Notícias
E os briefings já chegam muito concretos ou dão-lhe espaço para
porque me desliguei do resto, e com eles há uma comunicação muito
criar?
fluida, não há problemas na engrenagem. Já nos conhecemos muito
A menos que haja uma encomenda específica tenho espaço para as
bem e funciona. Mas nos Estados Unidos valorizam muito o trabalho,
minhas ideias. Normalmente dão-me um tema, raramente o texto, mas
pagam à tabela, não há negociações. Também só trabalhei para publi-
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entrevista André Carrilho
“É muito importante ter alguém que olha para o trabalho com uma visão profissional. Se mostramos o desenho a um art director que faz uma análise crítica, às vezes é mesmo o que precisamos de ouvir. Disso há muito no estrangeiro, e quando querem uma alteração explicam sempre porquê, e faz sentido, mesmo que eu não concorde”.
cações que já estão muito oleadas, e para eles
por trabalhar para o New York Times Book
Estados Unidos não senti nada disso, foi mais
a ilustração é uma mais-valia, não é algo a
Review, que na altura me disseram ser o sí-
“Tens trabalho? Mostra”. Como é uma eco-
que se recorre quando não há foto! A verda-
tio mais cobiçado pelos ilustradores. Sendo
nomia mais baseada no dinheiro e no merca-
de é que nunca tive grandes problemas em
aquela a melhor montra de ilustração que
do, olha-se para a possibilidade de fazerem
Portugal, mas o que noto nos outros países é
existe, as pessoas começaram a ver o meu
dinheiro connosco. Portanto, se eu for de
que tenho interlocutores que percebem muito
trabalho e a contactar-me. Em Inglaterra foi
Portugal mas for bom e os fizer ganhar di-
daquilo que eu faço. Já viram muita ilustração
o Independent, porque eu fazia capas sema-
nheiro, tanto melhor.
e não se deixam enganar. Se fazemos um tra-
nais para o suplemento dominical durante três
balho um pouco abaixo do nosso nível notam
anos. Eram montras sem paralelo. E hoje em
Já conheceu as pessoas com quem traba-
logo. Às vezes posso não concordar com eles,
dia já não conseguia isso, porque por exemplo
lha, ou é tudo à distância?
mas aprendo sempre. É muito importante ter
o Independent já não tem ilustração nas capas
Algumas já. Mas os Estados Unidos é um
alguém que olha para o trabalho com uma vi-
do suplemento. Houve ali uma conjuntura es-
país tão grande que até eles raramente se
são profissional. Se mostramos o desenho a
pecífica, e além disso eu já estava preparado
encontram! (risos) Em Inglaterra já fui ao
um art director que faz uma análise crítica,
para a internacionalização. Andava a pensar
Independent, e da Vanity Fair já disseram
às vezes é mesmo o que precisamos de ou-
nisso há dois anos mas ainda não tinha sido
para passar na redacção, mas ainda não fui
vir. Disso há muito no estrangeiro, e quando
muito activo. Já tinha preparado um portfolio
a Nova Iorque desde que colaboro com eles.
querem uma alteração explicam sempre por-
para enviar, e quando me apareceu a opor-
quê, e faz sentido, mesmo que eu não con-
tunidade de irem receber o meu prémio nos
Actualmente vai à procura de trabalho?
corde. Quando trabalhava como freelance em
Estados Unidos, já tinha algo para entregar a
Ainda recebo, mas a verdade é que nunca fui
Portugal às vezes pediam-me para mudar uma
publicações estrangeiras. Se não tivesse esse
muito à procura. Sempre que o fiz dei-me mal
cor sem se saber bem porquê, mas por outro
portfolio pronto se calhar não tinha arranjado
e nunca me davam trabalho! (risos) A minha
lado cá também me davam mais liberdade.
trabalho e o New York Times não me tinha
carreira foi em crescendo até 2001, depois
contactado.
houve uma crise e cortaram nos orçamentos
Então agora trabalha mais com jornais e
para ilustração, e resolvi ir a um jornal gene-
revistas estrangeiras.
Se não tivesse sido assim, ia enviar na
ralista nacional mostrar o portfolio. Eles dis-
Trabalho com o DN em Portugal, e no estran-
mesma o portfolio para as publicações?
seram que gostaram muito, mas que eu devia
geiro trabalho com publicações regularmente
Eu já me tinha andado a informar com outros
era ir lá para fora. Eu só pensei: então mas eu
e outras esporádicas, como a New Yorker ou
ilustradores e percebi que tinha de fazer isso.
estou é aqui! Bem, mas de facto fui lá para
a New York Magazine.
Então reuni um portfolio com um site bem
fora e pelos vistos resulta… Houve pessoas
visível, criando uma estratégia de marketing
que me deram trabalho cá, mas parece que só
A sua chegada ao mercado internacional
que incluísse várias plataformas. Agora tudo
por se trabalhar no estrangeiro se ganha logo
foi curiosa, por ter ganho um concurso
me parece muito lógico, mas na altura não me
outro estatuto.
em Nova Iorque, terem entregue o seu
parecia nada evidente conseguir trabalho nos
portfolio a alguns meios e de seguida es-
Estados Unidos! (risos)
tes o terem contactado. Depois foi uma
E como é o processo de trabalho? Passa só pelo computador ou desenha à mão?
bola de neve?
Houve ali uma porta aberta.
Começo sempre por desenhar à mão e depois
Tudo aconteceu por ter entrado no mer-
Essa é outra coisa que é diferente. Na Europa
trato em Photoshop. Não consigo desenhar
cado internacional por publicações muito
vamos a uma publicação e perguntam-nos
directamente no computador.
importantes. Nos Estados Unidos comecei
de onde vimos, quem é o nosso tio… Nos 22
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entrevista André Carrilho
Já recebeu alguns prémios, entre eles o do World Press Cartoon
E gosta de variar o género.
em 2008, trazem-lhe mais visibilidade?
Sim, aliás há uns tempos andava a sentir que me estava a copiar a
São importantes porque vamos sendo falados e tornamo-nos um nome
mim próprio e a fazer auto-plágio. O Hitchcock dizia que auto-plágio
corrente, e nesse caso quando um jornalista precisa de um ilustrador
é estilo, mas aborrece-me, porque é limitativo, acaba por não haver
mais facilmente se lembra de nós, mas nunca tive trabalhos que
descobertas nem experimentação. Quando somos contratados para
viessem directamente de prémios. Só o trabalho do Independent é que
fazer aquilo que as pessoas conhecem não podemos fugir a isso, por
veio depois do prémio, mas também a directora de arte do jornal estava
isso eu vou fazendo pequenas variações, incrementos graduais, e as
no júri e depois contactou-me especificamente para trabalhar para ela.
coisas vão evoluindo. E quando me aborreço muito passo para outra
Até porque os salões de caricatura são frequentados por caricaturistas
área e faço uma coisa completamente diferente, animação, ou Vjing,
e ilustradores, e não por art directors!
onde posso experimentar.
Sente que o seu ponto forte é as caricaturas?
Como correu a animação Um Jantar em Lisboa?
Talvez seja aquilo que eu faço de forma mais inata, mas gosto da
Eu era muito inexperiente e nem sabia no que me estava a meter. Hoje
multidisciplinaridade. Comecei pela caricatura, diziam-me para ficar
em dia quando faço animação é num ambiente muito controlado, tendo
por ali e não entrar pela ilustração, mas eu sou teimoso e enveredei
em conta essa experiência. Foi o equivalente a uma escola de animação,
também por ai. Aconteceu o mesmo também com a banda desenhada,
mas enquanto auto-didacta.
mas essa ainda não cheguei a desenvolver. E também me dizem para não me meter nisso. Depois comecei a fazer animação e já me aceitam
E como surgiu o Spam Cartoon, na SIC Notícias?
como animador, por isso deixei de ouvir o que as pessoas dizem,
Foi uma ideia que eu e o João Paulo Cotrim tivemos de tentar fazer com
porque notei que ficam muito assustadas quando as confrontamos com
que o cartoon pudesse estar presente nos novos suportes tecnológicos.
a sua inércia. Se elas não fazem, gostam que os outros também não
Eu acho que os jornais vão deixar o papel, ou pelo menos vão ter um
façam. Mas eu sou teimoso!
forte suporte audiovisual, internet. A partir do momento em que se tem
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06 01) Francis Bacon
06) Billie Holiday
02) Queen Victoria
07) Frida Kahlo
03) Morrissey
08) Bono
04) Clint Eastwood
09) Hedy Lamarr
05) Nicole Kidman
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entrevista André Carrilho
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um ecrã e um suporte multimédia, para mim não faz sentido utilizar
estraga. Tento não me preocupar muito com isso, senão não fazia mais
as suas potencialidades. No Spam Cartoon fazemos um cartoon de
nada.
actualidade que tenha som e animação. São experiências que estão a ser feitas agora porque a animação é muito cara de fazer. Nós conseguimos
A internacionalização foi há 8 anos. Até agora já muito aconte-
arranjar uma forma mais barata, muito controlada, e baseada na minha
ceu…
experiência com o filme de animação, em que aprendi tudo o que não
Desde os meus 20 anos que dizia que queria trabalhar no estrangeiro,
devia fazer!
nunca percebi porque é que não havia de ser possível.
Sente essa necessidade de passar para a animação?
Agora está a trabalhar em algum projecto pessoal?
Já quando eu estava na faculdade e começaram a aparecer os softwares
Sim, a desenvolver o meu próprio software para Vídeo Jack, a ligação
3D comecei a perceber que a se estavam a abrir novos limites. Sempre
entre o áudio e a imagem. Por isso é que digo que sou ilustrador, porque
achei que a animação e a utilização do desenho nas novas tecnologias
tanto pode ser de texto, música, tendo liberdade para interpretar como
era o futuro. A tecnologia está a democratizar-se tanto que já se
eu quero. Gosto que as pessoas vejam o meu trabalho, que esteja
consegue fazer coisas com poucas pessoas com qualidade. O avanço
numa revista ou jornal que circule, se espalhe, e as novas tecnologias
tecnológico cada vez mais vai democratizar os meios de produção.
permitem isso, a Internet. A verdade é que eu sempre fui muito tímido, e o meu trabalho comunica por mim, não gosto que ele fique numa
É um grande consumidor de animação e cartoons?
parede ou metido numa galeria.
Já fui mais, até aos 30 anos enchi a casa de livros, e depois achei que já chegava! Claro que quero sempre comprar tudo. E às vezes também
Há mercados onde quisesse entrar?
é preciso parar de ver coisas e concentrarmo-nos, às vezes fico muito
Acho que já entrei em todos, gostava era de os desenvolver mais. Acho
obcecado em arranjar material para ver, outras em que tenho de parar.
que a banda desenhada é a que está menos desenvolvida e no fundo é a minha maior paixão.
Sente a concorrência?
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Não, nada. Às vezes fico lixado quando acho que me plagiam, mas não faço nada em relação a isso. Antes ser o plagiado que o plagiador! E é difícil estabelecer as barreiras entre o que é o plágio, ou a forte influência. Aliás eu não assino os meus desenhos, porque acho que
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André Carrilho – www.andrecarrilho.com
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Desde os meus 20 anos que dizia que queria trabalhar no estrangeiro, nunca percebi porque é que não havia de ser possível.
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passaporte Simon Frederick
Simon Frederick Entrevista por Directarts
Simon Frederick é um antigo atleta internacional. Trabalhou em editoras, televisão e marketing de marcas na Time Out, ELLE e BBC. Simon foi responsável por lançar as revistas Untold e Drum e criou campanhas de publicidade e branding para a The Royal Navy, Guinness Foreign Extra, The Department of Health, Levis e Sony BMG, assim como teve o prazer de trabalhar com Jamiroquai na tourné Synkronized antes de se tornar um artista visual.
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A carreira fotográfica de Simon começou na música, a trabalhar com
Simon Frederick is a former international athlete. He has worked in
a MTV Europe, a BBC e diversas companhias discográficas e seus
publishing, broadcasting and brand marketing at Time Out, ELLE for
artistas, normalmente recolhendo imagens ao vivo e andando com eles
seven years and the BBC. Simon has been responsible for launching
nas tournés. Não sendo alguém que gosta de estar parado, começou
the magazines Untold and Drum and has created advertising and bran-
a mover-se para outras áreas da fotografia que fizeram com que ele
ding campaigns for The Royal Navy, Guinness Foreign Extra, The
depressa desenvolvesse uma habilidade única de criar imagens que
Department of Health, Levis and Sony BMG; as well as having the
misturam uma narrativa ilustrada com fotografia.
pleasure of working with Jamiroquai on the Synkronized tour before becoming a visual artist.
Trabalhou em áreas como arte, publicidade, moda, interiores, retrato e música. É um fazedor de imagens, artista visual e foto-conceptualista.
Simon’s photographic career started in music working with MTV
Actualmente Simon vive em Lisboa e trabalha com clientes nacionais
Europe, the BBC and a number of record company’s and their artists,
e internacionais
usually making live music images and touring with these artists. Not being someone who is happy standing still, Simon started moving into
Directarts – Por que veio para Portugal?
other areas of photography that soon found him developing a unique
Simon Frederick – Por que não? (risos) A primeira vez que vim foi
ability to create images that mix an illustrative narrative with photo-
em 2004 para fotografar o Rock in Rio e o Super Bock Super Rock,
graphy.
para fotografar especificamente o Lenny Kravitz. Trouxe um pequeno portfólio e fui falar com o Pedro Ferreira, que na altura era director
Simon Frederick works in the areas of art, advertising, fashion,
criativo na Bates Red Cell. Mostrei o meu trabalho ao Albano Homem
interiors, portraits and music. He is an image maker, visual artist and
de Melo, que era director criativo da Y&R e depois fui à BBDO. Fui a
photo conceptualist. At this moment Simon is based in Lisbon Portugal
cerca de seis agências aqui em Lisboa. Todos pareceram gostar do meu
working with clients nationally and internationally.
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passaporte Simon Frederick
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trabalho. Em Londres não era conhecido como fotógrafo de publici-
Directarts - Why did you come to Portugal?
dade, era considerado demasiado cru, o quer que isso signifique. No
Why not (Laughs). The first time I came to Portugal was in 2004
entanto em Portugal os directores criativos avaliaram o meu trabalho
to photograph Rock in Rio and Super Bock Super Rock, to specifi-
de forma completamente diferente, aqui o meu trabalho foi avaliado
cally photograph Lenny Kravitz. I brought with me a small Portfolio
pela sua composição, luz e nível emocional, que era uma nova lin-
and arranged to see Pedro Ferreira who was at the time the Creative
guagem para mim. Voltei a Londres depois do Rock in Rio e comecei
Director at Bates Red Cell. Then I showed my work to Albano Homen
a receber telefonemas das agências de Lisboa para lhes mandar orça-
de Melo who was the creative director at Y&R before Pedro Ferreira,
mentos para trabalhos de publicidade de marcas para as quais nunca
and then I went to see BBDO. I saw about six or seven agencies here
tinha sido considerado em Londres. Foi por isso que vim para Portugal,
in Lisbon. They all seemed to really like my work. In London I wasn’t
este país abriu-me as portas para trabalhar em diferentes áreas.
known as an advertising photographer, I was considered to be too “raw”, What ever “raw” means. However here in Portugal the creative
E como entrou na fotografia?
directors evaluated my work in a completely different way than it was
Isso é uma história engraçada. Em 2003 fui fotografar um concerto
being evaluated in London. Here my work was evaluated for its com-
para uma banda chamada Damage, que era uma boyband inglesa R&B
position, light and emotional level which was a new language to me. So
cujos managers são meus amigos. Iam dar um dos últimos concertos no
I went back to London after Rock in Rio and started to get calls from
Jazz Café em Londres e eu levei uma câmara pequena para fotografar
the agencies here in Lisbon to send them budgets for advertising jobs
o concerto. No dia seguinte os meus amigos ligaram-me para perguntar
for brands which I would never have been considered for in London
se eu tinha alguma fotografia boa do espectáculo, pois o jornal The
at that point. So that’s why I came to Portugal, this country opened the
Independent precisava de imagens. E o jornal acabou por me comprar
door for me to work in different areas.
as fotografias e publicá-las. Três semanas depois, a editora de fotografia do Independent ligou-me para ir à Brixton Academy e fotografar
And how did you get into photography?
o concerto de Erykah Badu. Eu disse-lhe que não era fotógrafo profis-
That’s a funny story. In 2003 I went to photograph a concert for a band
sional, e que nem tinha equipamento adequado. Então ela ofereceu-me
called “Damage” which was an R&B British boy band whose mana-
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1000 libras para fotografar as três primeiras canções do concerto. Levei
gers are friends of mine. They were going to give one of their last
novamente a minha pequena câmara, que muito divertiu os fotógrafos
concerts at the Jazz Café in London. So I took a small camera to pho-
profissionais que lá estavam naquela noite. Fiz o melhor que podia com
tograph the concert. The next day some friends called to see if I had
ela, e cada imagem que fiz com a minha Sony estava espectacular. Não
any good pictures of the show for the newspaper “The Independent”
sei como nem porquê, mas foi assim que surgiu o bichinho. Sou auto-
which needed images from the concert. So the newspaper ended up
didacta e comprei livros de fotografia, não tanto livros técnicos, mas
buying some of the photographs from me and publishing them. Three
aqueles que tinham fotografias de fotógrafos como Mario Testino ou
weeks later the picture editor from the Independent called me to go to
Albert Watson, para ver o trabalho deles. O meu background vem das
the Brixton Academy and Photograph Erykah Badu in concert. I told
revistas. Em moda trabalhei sete anos para a revista Elle em Londres.
her that I wasn’t a professional photographer, and didn’t even have proper equipment. She offered me 1000 pounds anyway to photograph
O que fazia na Elle? Comecei por vender espaço de publicidade e quando saí tinha a cargo projectos especiais, que me permitiam trabalhar com fotógrafos. Por isso o meu interesse pela fotografia já se tinha manifestado muito antes de pegar na câmara. Tinha ganho uma admiração pelos fotógrafos; pelo modo como trabalhavam; as capacidades e a forma como agiam; em especial os fotógrafos de moda que trabalhavam na área editorial.
the first three songs of the concert. So I took my small camera again, much to the amusement of the other professional photographers that were photographing the show that night. So I did the best I could with the camera that I had. Every frame that I had shot with my small Sony camera was spectacular. I don’t know how and I don’t know why but that is how I caught the photographic bug. I began to buy books on photography; not so much technical books, but books that showed the
Em que altura percebeu que não podia usar mais a câmara Sony e teve de investir em algum material? Foi mesmo antes da minha viagem a Portugal, pelo final de 2004. Na altura tinha criado uma empresa de consultoria de marcas com dois amigos que estava a correr muito bem. Tínhamos clientes como a Playstation, Sony e Levi’s. Mas tinha apanhado o bichinho da foto-
photographers work, like Mario Testino and Albert Watson. Of course my experience at Elle magazine was also important in my visual training. Basically I’m self taught. What did you do at Elle Magazine? I started selling advertising space and when I left I was in charge of special projects which allowed me to work with photographers. So
01) Simon Frederick 02) Kwan-Yin - The Goddess of Compassion para Egoísta 03) Summer Love - Reprezent Magazine 04) Rita Pereira 05) Traveling Without Moving - Reprezent Magazine 06 e 07) Afro Football para Revista Chocolate 08) Compal 09) Afro Power para Revista Chocolate 10) Volvo Magazine / LIV 11) Equipa de Querido Mudei o Visual 12) ASK 78 A/W09 Catálogo 13) Sofia Baessa para Revista Chocolate 14) Fantasy Forest para Revista Chocolate 15) ECO Parking - ANA Aeroportos 16) Lenny Kravitz para Getty Images 17) Amy Winehouse para MTV Networks Europe 04
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grafia, por isso comprei uma câmara melhor e comecei a sair à noite
my interest in photography had already manifested itself long before
e a fotografar nas discotecas de Londres. É estranho, porque foi onde
I picked up the camera. I had gained an admiration for photographers;
comecei a minha aprendizagem a fotografar bandas ao vivo. Não tinha
the way they worked, there skill and the way they carried themselves;
ninguém a dizer-me as regras da fotografia. Em vez de fotografar com
especially fashion photographers who worked in the area of the maga-
ISO elevado usava um baixo, como 50 ou 100, e tirava fotografias fan-
zine business that I worked in.
tásticas muito focadas com pouca luz. As pessoas diziam “como conseguiste isso, devias estar a usar ISO elevado”. E não conseguia explicar; ainda não consigo, tudo o que eu sabia era que não queria aquilo a que chamava fotografias suaves com muito grão. Por isso melhorei o meu equipamento para uma câmara Olympus SLR, comprei luzes baratas e pratiquei. Basicamente ensinei a mim mesmo iluminação e comecei a experimentar com filtros de cor e comprei mais livros para estudar como os fotógrafos fotografavam. Eventualmente tirava fotos muito boas, mas nunca me via como fotógrafo. Não fui para a escola para estudar isso, não tinha nenhuma licenciatura na profissão e não conhecia a linguagem da fotografia. Alguns fotógrafos profissionais perguntavam-me coisas técnicas como que abertura tinha usado numa foto específica ou que rácio de luz tinha criado para outra e sentia-me uma fraude, porque não tinha sido formalmente treinado. Eu falava da composição e da emoção por trás do meu trabalho.
It was just before my trip to Portugal around the end 2004. At the time I had set up a brand consultancy company with two friends which was going very well. We had clients like Play station, Sony and Levis. But I had already gotten the photographic bug to make more pictures. So I bought a better camera and started to go out at night and photograph the nightclubs in London. It’s strange, because that is where I began my apprenticeship, photographing live bands. I didn’t have anyone telling me what the rules of photography should be or shouldn’t be. Instead of shooting with high ISO’s I would use really low ISO’s like 50 and 100 and get very sharp low light amazing photographs. People would say “how did you do that at such low levels, you should be using high ISO’s”. And I couldn’t explain it to them; I still can’t explain it, all I knew is that I didn’t want what I call soft pictures with lots of grain. So I went out and upgraded my equipment to an Olympus SLR camera
Não tem nenhuma formação em artes? Na verdade tenho. Os meus cursos são em design gráfico, design e marketing/publicidade e relações públicas; e em criança estava sempre a desenhar.
and also bought some cheap lighting and just practiced. So basically I taught myself lighting and started to experiment with coloured gels and filters, and bought more books to study how other photographers photographed. Eventually I was taking very good photos. But never really
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At what stage did you decide that “I can’t use my Sony camera anymore and have to invest in some real equipment”?
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“Como fotógrafo podemos trabalhar em qualquer lado no mundo.”
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passaporte Simon Frederick saw myself as a photographer; I didn’t go to school to study it, I had no degree in the profession and I didn’t know the language of photography. Other photographers would ask me technical questions like what f. stop I had used for a particular photo or what ratio of lighting I created for another, and I would feel like a cheat because I hadn’t been formally trained. What I would talk about would be the composition and the emotion behind my work. So you don’t have any formal training in arts at all? Actually I do. My degrees are in graphic design and marketing/ advertising and public relations; and as a kid I drew all the time. Where did you study? In London; Central St.Martins and Barking College of Technology. You were born in London? Yes I was, in 1965. I also spent seven years in Grenada in the Caribbean. My parents are from Grenada one of the most beautiful islands in the world. When I’m there my heart is at rest it’s the place I feel most at home. Then my family moved back to London. Even though you were born in London and an Englishman you feel at home in Grenada? 08
Yes, because I consider myself Anglo/Caribbean. I have two cultures; I have an English culture and a Caribbean culture. My Caribbean Culture
Onde estudou? Em Londres, Central St.Martins e Barking College of Technology.
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Nasceu em Londres? Sim, em 1965. Também estive sete anos em Grenada, nas Caraíbas. Os meus pais são de lá, uma das ilhas mais bonitas do mundo. Quando lá estou o meu coração está em descanso, é o local em que mais me sinto em casa. Depois a minha família mudou-se para Londres. Mesmo tendo nascido em Londres sente-se em casa em Grenada? Sim, porque me considero Anglo/Caribenho. Tenho duas culturas; uma inglesa e uma caribenha. A segunda é mais forte, é do coração; a minha cultura inglesa é dos maneirismos, a minha atitude perante a vida. E crescer em Londres foi o que me deu confiança e a atitude agressiva perante o sucesso. Então estudou arte, foi para o mundo dos negócios e agora está de volta à arte. De que forma isso afectou a forma como gere a sua carreira? Houve uma grande parte da minha vida, que teve um grande impacto em mim, em que era muito ambicioso. Entre os 15 e os 25 anos era um desportista, saltava barreiras em 400 metros. Quando temos de saltar dez barreiras aprendemos depressa a não aceitar um não como resposta. Estudei, trabalhei e treinei ao mesmo tempo, o que me deu disciplina para ultrapassar todos os obstáculos e a não aceitar a derrota. Uma história curta. Estava a treinar no “Crystal Palace” e tudo corria mal; 34
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derrubava todas as barreiras, a ter maus tempos, um pesadelo. Então
is much stronger, it’s my heartbeat; my English culture is my man-
fui sentar-me no meio do campo a sentir pena de mim mesmo. Não é
nerisms, my ways and my attitude towards life. And growing up in
uma boa posição em que me colocar quando dois dias depois ia com-
London is what gave me my drive and aggressive attitude towards suc-
petir contra o grande corredor americano dos 400 metros Edwin Moses.
cess.
Então sentei-me lá, a desistir. Ele era um homem que provavelmente história do atletismo. Acho que foi invencível por dez anos seguidos.
So you studied arts, went into business world and are now back in the arts. How has that affected the way you handle your career?
Ali estava o melhor atleta do mundo, que não tinha de falar comigo,
There was also a big part of my life, which has had a great impact on
mas aproximou-se e sentou-se. E disse: “Acreditarmos em nós é tudo
me and where I get my drive and ambition. From the age of 15 to 25
o que temos.” A verdadeira característica de um campeão é alguém
I was a professional sportsman, a 400 meters hurdler. When you’re a
que é generoso. Tenho essa frase na parede do meu escritório. Quando
sportsman and especially a hurdler where you have ten barriers to over-
comecei a fotografar fiz um pequeno portfólio do qual estava orgulhoso
come you learn very quickly not to accept no for an answer. I studied,
e fui mostrá-lo ao meu ex-colega, que era o editor fotográfico da revista
worked and trained at the same time, which gave me the discipline to
Elle em Londres. Ele disse-me para não entrar nesse negócio. Disse
overcome all obstacles and not to accept defeat. Quick story. I was
que o nível que eu tinha de ter para entrar no negócio da fotografia era
training at the Crystal Palace and everything was going wrong; I was
inatingível para mim. Então mostrei o meu trabalho a mais pessoas no
knocking over all the hurdles, getting bad times, a real nightmare. So
meio, com quem tinha tido contactos profissionais e que respeitava, e
I went and sat in the middle of the field feeling sorry for myself. Not
todos disseram que eu não tinha o que era necessário para ser fotógrafo.
a good position to find myself in when two days later I was going to
Até fui pedir trabalho como assistente a um fotógrafo que conhecia e
compete against the great American 400 meter hurdler Edwin Moses.
ele disse-me que o assistente dele era melhor fotógrafo que eu.
So as I sat there, Edwin Moses comes across the field and sits down
Isso foi depois da sua experiência a fotografar músicos e bandas, e depois de comprar a sua SLR?
beside me and begins to talk to me about never giving up. Here is a
Sim. E todas essas pessoas já vieram ter comigo e disseram que estavam
the history of athletics. I think he went unbeatable for 10 years straight.
satisfeitas por eu não ter seguido os seus conselhos. Na verdade já tra-
Here was this great world athlete who didn’t have to talk to me, but he
teve o maior número de vitórias seguidas que qualquer outra pessoa na
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man who probably has the longest winning streak than anybody else in
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balhei com eles como fotógrafo e de facto gostámos do trabalho que
came over and sat down to chat for a while. He said, “Self belief is all
fizemos juntos. Mas a moral da história é que eu acredito em mim e
we have”. These words have always guided me. I have that quote up on
não desisti.
my wall in my office. Here was a true a champion, someone who can
Em que ponto percebeu que era a um fotógrafo a sério? Quando tinha 38 anos. Estava num churrasco de aniversário do meu pai, em casa dele. De surpresa tirei-lhe uma foto, imprimi-a, pus numa moldura e dei-lha pelos anos. Ele olhou para o retrato e ficou em silêncio algum tempo. Parecia que estava a olhar para a sua alma. Foi nessa altura que percebi que tinha um dom como fotógrafo. Faço fotografias que tocam as pessoas e que falam com elas a um nível emocional. Acho que essa é a minha missão. Não fui colocado neste planeta para apenas tirar lindas fotos, mas para comunicar uma história, um sentimento ou uma emoção numa só imagem. Acredita que com a fotografia que tirou do seu pai o fez ver-se de outra forma? Ele olhou para a foto dele e ela falou com ele. Ele viu-se numa fotografia de uma forma que mais ninguém o conhece. Isso é algo surreal.
together a small portfolio, which I was rather proud of and went to see my ex colleague who was the photo editor at Elle magazine in London. He told me not to get into this business. He said that the level that I had to be at to get into the photo business was unreachable for me. So I went and showed my work to more people in the business, with whom I had had professional contact with and really respected; and all of them said that I didn’t have what it took to be a photographer. I even went to ask for work has an assistant for a photographer I knew, who told me that his assistants were better photographers than I was. This was after your experience in photographing musicians and bands, and after purchasing you SLR? Yes. And all those people have now come back to me and said that they were glad that I didn’t take their advice. I’ve actually worked with several of them as a photographer since and we really enjoy the work we make together. But the moral of the story is that I believed in myself
Há quanto tempo está em Lisboa? Trabalho aqui desde 2005, quando fotografei a campanha para a Caixa Geral de Depósitos. Mas vivo aqui desde 2008.
and I didn’t give up. At what point did you decide that you were serious photographer? I was 38 years old and at a birthday barbecue for my father at his home.
Qual foi o trabalho mais desafiante até agora? Esse trabalho da Caixa Geral, foi uma transição de Londres para Lisboa. Era diferente trabalhar com uma equipa estrangeira e também fazer 36
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give back to others and be selfless. When I started photography I put
As a surprise I took a picture of him, printed it and put it in frame and gave it to him for his birthday. He looked at his portrait and just fell
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12 18) Tânia Correia para Central Models 19) Catálogo da exposição “By Invitation only” 20 The Gift 21) Da Weasel 22) David - One Flag – Projecto pessoal 23) Maria João 24) Da Weasel 25) Zé Pedro 26) Banif 27) Fontana Park Hotel 13
retratos íntimos de celebridades em muitos casos durante as filmagens.
silent for the longest time. He seemed as though he was staring at his
Estarei sempre agradecido ao Pedro Ferreira por ter a visão e a coragem
soul. It was at that time that I knew that I had a gift as a photographer.
de me contratar para este trabalho e estou muito orgulhoso do resultado
I make pictures that touch people and that speak to them on an emo-
final da campanha. E trabalhar para a Brandia e o director criativo Tiago
tional level. I think that’s my purpose. I was put on this planet not only
Veigas no cliente ANA Aeroportos. Tivemos de criar um jardim num
to make beautiful images but to communicate a story, a feeling or an
parque de estacionamento. Foi uma mistura de CGI e produção. Foi a
emotion in a single frame.
primeira vez que utilizámos tecnologia em vez de Photoshop para criar a nossa ilusão. Ficou fantástico e o cliente estava muito satisfeito. A maior parte das vezes eu resolvo os problemas aos clientes. Eles têm uma ideia já pré-concebida na cabeça e o meu trabalho é pegar nela e recriá-la fotograficamente. Isso claro que é sempre um desafio. É o trabalho que o mantém em Lisboa; podia ter escolhido qualquer outro país com bom clima. Sendo um criador de imagens tenho sorte de poder viver em qualquer lado. Queria ficar na Europa e viver num sítio quente. Portugal parecia ter muitas semelhanças com Grenada. O clima, a comida e a luz. Tenho uma pequena queixa em relação a Portugal. Ouço os portugueses queixarem-se do seu país; mas não têm nada por que se queixar. Os portugueses deviam estar agradecidos pelo que têm. O país é lindo, as mulheres são lindas, a luz é linda; adoro o estilo de vida daqui. É um prazer viver cá. Posso estar em Nova Iorque em oito horas ou em qualquer capital europeia em duas horas e meia ou três horas; quando sinto falta da família e dos amigos é muito barato ir a Londres a qualquer altura. Geograficamente é muito conveniente
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Do think that with the picture that you took of your father that you made him see him self in a different way? He looked at his own picture and it spoke to him. He saw himself in that photo in a way that no one else knows him. That’s really a surreal thing. How long have you been in Lisbon? I’ve been working here since 2005 when I shot the advertising for Caixa Geral de Depositos. But I’ve been living here since 2008. What has been your most challenging job so far? That Caixa Geral job was a transition from London to Lisbon. It was different working with a foreign crew in a foreign country and also making intimate portraits of celebrities during an allocated time during the filming in most cases. I’ll always be indebted to Pedro Ferreira for having the vision and the courage to book me for this work and I’m also really proud of the end result of the campaign. Another challenge was working for Brandia and the Creative Director Tiago Veigas for
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Quais são as desvantagens de viver aqui?
the client ANA AEROPORTOS. We had to create a garden in a car
A atitude das pessoas; a maior parte dos estrangeiros que eu conheço
parking lot. It was a mixture of CGI and actual set production. This was
que vivem cá são surpreendidos com o quão negativos os portugueses
the first time that we utilized different technology other than Photoshop
são acerca de tudo. Quando surjo com um projecto ou uma ideia muito
to create our illusion. It turned out fantastic and the client was very ple-
boa e tento concretizar, a desculpa para isso não acontecer é a frase:
ased. Most of the time I’m problem solving for the client. They have an
“Ah, mas sabe que Portugal é um país pequeno.” Mas que raio significa
idea already pre-conceived in their mind and my job is to take that idea
isso? E outra coisa é que a revolução do 25 de Abril vem sempre ao
and re-create it photographically. That of course is always challenging.
caso quando algo na infra-estrutura da sociedade não funciona bem.
So is it the work that keeps you in Lisbon; you could have chosen any
A ditadura em Espanha também caiu e não os ouvimos estar sempre
other country that has good weather.
a dizer isso como desculpa para os seus problemas. Por outro lado,
Being an Image maker I’m lucky that I can live anywhere. I wanted
há muita gente talentosa a trabalhar aqui. E a cultura deste país devia
to remain in Europe and I wanted to live somewhere warm. Portugal
ser celebrada e aplicada a todas as áreas das artes. O Governo devia
seemed to have a few similarities to Grenada. The climate, the food and
activamente apoiar as artes moral e financeiramente, porque a longo
the natural light. However I do have to make a small observation about
prazo as artes trazem receitas e status ao país. O governo britânico é
the Portuguese. They are always complaining about their country;
um grande apoiante das artes neste sentido. Devia acontecer aqui e
really you have nothing to complain about. The Portuguese should be
não acontece. Há muitos países na Europa que são mais pequenos que
grateful for what they have. The country is beautiful, the women are
Portugal; Noruega, Suécia, Suíça, Luxemburgo e Holanda, apenas para
beautiful, the light is beautiful; I just love the lifestyle here. It is a ple-
referir alguns. Não se vêem como países pequenos. São conhecidos
asure to live here. I can be in New York in eight hours or in any other
pelo comércio, indústria e pelas artes por todo o mundo. Amesterdão é
European capital in two and half to three hours; when I really miss my
conhecida mundialmente como um gigante na publicidade, criatividade
friends and family it’s very cheap to fly to London at a moments notice.
e moda. O que trava Portugal ou Lisboa é uma mentalidade de medo ou
Geographically it’s very convenient.
uma inferioridade. Não é o país que é pequeno, mas a pequena mentalidade que impede os portugueses de serem o melhor que podem.
What are the disadvantages to living here?
Por que acha que isso acontece?
surprised by how negative the Portuguese are about everything. I find
É uma espécie de insegurança. Impede as pessoas de correrem riscos.
that when I come up with a project or a real good idea and try to make
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People’s attitudes; most of the foreigners that I know that live here, are
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“Neste mundo confuso, a imagem é algo que claramente define um ponto de vista.”
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it happen, the excuse for it not happening is the line: “ah but you know Portugal is a small country.” What the hell does that mean? And the other thing is the 25th of April revolution is always brought up when something in the infrastructure of the society doesn’t work properly. Spain’s dictatorship fell as well, and you don’t hear them always bringing it up as an excuse for their problems. On the other side of the argument, there are really many very talented people working here. And this country’s culture should be celebrated and applied to all areas of the arts. The government here should actively support the arts morally and financially, because in the long run, the arts bring revenue and profile to the country. The British government is a very big supporter of the arts in this way. It should happen hear and it doesn’t. There are many other countries in Europe, that are smaller than Portugal; Norway, Sweden, Switzerland, Luxembourg and Holland, just to name a few. They don’t see themselves as small countries. They are known for commerce, industry and the arts all over the world. Amsterdam is known all over the world as a giant in advertising, creativity and fashion. What is stopping Portugal or Lisbon is a fear mentality or a perceived inferiority. It’s not the country that is small but the small mentality that stops the Portuguese at being the best they can be. Why do you think that happens? 17
It’s some form of insecurity. It stops people from taking chances. Everyone is afraid of failing, and when they do, it’s some else’s fault.
Todos têm medo de falhar, e quando isso acontece a culpa é de outra pessoa. Ninguém se quer impor e assumir a responsabilidade. É um círculo de paranóia e desconfiança. Quando vou a reuniões só ouço desculpas porque isto e aquilo não pode ser executado. Vejo muita mania em grandes agências de publicidade em Lisboa. Mas a maioria tem medo de arriscar. Arriscar e criar pontos de diferença é do que trata a publicidade, encontrar novas formas criativas de falar com a audiência. Encontro muita mediocridade no trabalho que sai de algumas agências de publicidade nesta cidade, e é uma pena. Lisboa é relevante, devia ser uma Amesterdão, Barcelona, Praga; pode estar no palco mundial como uma cidade excitante como qualquer uma destas cidades. Tenho amigos que chegam cá e acham Lisboa muito cool. Está cheia de coisas cool; este podia ser um dos sítios cool da Europa, se não mesmo do mundo. Mas nesta cidade temos de aprender a trabalhar em conjunto e colocar de lado egos e arrogância. Tem de se ganhar o hábito de trabalhar com as melhores pessoas para o trabalho e parar de trabalhar na zona de conforto de contratar amigos e estar-se preparado para pagar pelo valor. Com quem trabalhou em Portugal que sentiu serem os melhores nas suas áreas? Em publicidade gostei do Albano Homem de Melo. Pedro Ferreira na Young & Rubicam, Tiago Veigas da Brandia. São muito criativos. Tento fazer um trabalho que seja memorável e estes directores de arte são muito bons de se trabalhar nesse aspecto. Eles tentam ser únicos e não seguem o que todos estão a fazer, que é normalmente muito aborrecido. 18
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Os clientes com quem trabalhamos directamente em Portugal também
No one wants to step up and take the responsibility it’s a circle of para-
são muito corajosos e de facto tentam criar pontos de diferença.
noia and mistrust. When I go to meetings, all I hear is excuses why this and that can’t be executed or wasn’t executed. I see a lot of posing and
Como fez marketing? Mandei e-mails, telefonei e marquei reuniões para falar com directores criativos e produtores de fotografia e clientes.
pretending at being great advertising agencies here in Lisbon. But the majority, are afraid take chances. Taking a chance and creating points of difference is what advertising is about, creatively finding new ways
Como era recebido sendo fotógrafo estrangeiro? Muito bem. Como fotógrafo podemos trabalhar em qualquer lado no mundo. Se o trabalho for bom somos bem recebidos em qualquer lado.
to talk to audiences. I find a lot of mediocrity in the work that comes out of the advertising agencies in this city and it’s a shame. Lisbon is relevant, it could be an Amsterdam, a Barcelona, or Prague; it could be on the world stage as a stand out city as exciting as any of these
Como apresenta o seu trabalho?
other cities. I have friends who come here from abroad and find Lisbon
Mostro um portfólio impresso. Uma imagem não existe a menos que
really “cool”. It’s full of cool things; this could be one of the greatest
esteja impressa. Não uso portátil nem mostro o meu trabalho num com-
cool places in Europe if not the world. But we in this city have to learn
putador porque gosto de mostrar as minhas fotografias individualmente
how to work together and set aside egos and arrogance. People have to
em cartões e passá-las de mão em mão nas reuniões.
get into the habit of working with the best people for the job and stop working inside the comfort zone of hiring friends and be prepared to
Além do cara-a-cara, como se promove?
pay for value.
De formas muito diferentes, pelo site e outros meios online e também pelo marketing directo, desenvolvendo a base de contactos e dando entrevistas como esta em Portugal, Reino Unido e Estados Unidos. Aqui em Portugal faço exposições, como a ‘By Invitation Only’, que são retratos em que mostramos músicos portugueses contemporâneos mais conhecidos, que foi muito bem recebida por toda a Imprensa. Estamos a planear preparar uma exposição maior este ano. Faz o nosso nome chegar a toda a gente. A fotografia é um negócio. Podemos ser o melhor fotógrafo do mundo, mas sem marketing somos o melhor fotógrafo desconhecido do mundo.
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Who have you worked with here in Portugal that you found was at the top of their game? In advertising I liked Albano Homen de Melo. Pedro Ferreira at Younge & Rubicam, Tiago Veigas from Brandia. They are very creative. I try to make work that is remembered and these art directors are very good to work with in that aspect. They try to be unique and not follow what everyone else is doing which is generally very boring. The clients we work with directly here in Portugal are very brave and actively try to create points of difference.
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Lisboa é um mercado pequeno, apesar do seu potencial. Sente que terá de ir para outra cidade de forma a crescer artisticamente? É engraçado, esta exposição abriu mais portas e pôs-me em contacto com mais pessoas que estão a desenvolver novos projectos. Estamos a conhecer novos clientes constantemente. A maior pergunta que me fazem é, “não achas que és demasiado bom para este mercado?” A minha resposta é “como pode alguém ser demasiado grande para um mercado?”
How did you break into the Portuguese market initially? I sent emails, called and set up meetings to see the creative directors and photo producers and clients. How were you received being a foreign photographer? Very well. As a photographer we can work anywhere in the world. If the work is good we are received very well anywhere. How do you show your work?
Agora está envolvido num programa de televisão chamado “Querido mudei o visual”, um reality-show de renovação de visual. Como surgiu? Pela popularidade da exposição. A empresa de produção Briskman convidou-nos para fazer parte do programa. O “Querido mudei o visual” trouxe-nos imensa exposição pública e o feedback é muito positivo. Decidi fazê-lo porque não estou apenas a mostrar o meu trabalho. Também nos tira do género industrial e coloca-nos em frente a pessoas normais que podem ver o que é necessário em termos de maquilhagem, styling e cabelos para transformar alguém. É isso que fazemos a nível profissional todos os dias. Gostei da ideia e foi um desafio. Trabalhando em Londres e Nova Iorque estaria a ganhar muito mais dinheiro do que alguma vez fará em Lisboa. Isso alguma vez pesou? Ganhar mais dinheiro pesa sempre! A fotografia é um negócio, e eu gosto de ser bem pago pelo que faço, mas actualmente é mais pelo trabalho. Quando fotografava em Nova Iorque e Londres era essencialmente música. O meu trabalho mudou muito desde então, se voltasse a essas cidades iria com uma perspectiva muito diferente. Além disso faz mais sentido ser um tubarão num pequeno aquário que o contrário. Se fizer o que gosto e for bem pago, serei uma pessoa feliz. 44
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I show a printed portfolio. A picture is not living unless it’s printed. I don’t use a laptop or show my work on a computer because I like to show my pictures mounted individually on boards and pass them along from person to person at the meetings. Besides door to door, how do you promote yourself? We try to promote ourselves in many different ways through our site and other web based media; also through direct marketing and developing our own database of contacts and doing interviews like this in Portugal, the UK and the US. Here in Portugal we are putting on exhibitions. We have one going on right now called ‘By Invitation Only’. Which are portraits celebrating the most known contemporary Portuguese musicians, which has been very well received by all the press. So we are planning to put together one major exhibition every year. It gets our name out to everyone. Photography is a business. You could be the best photographer in the world, but without marketing you’re the best unknown photographer in the world. Lisbon is a small market in spite of its potential. Do you feel that eventually you will have to move to another city in order to grow artistically? Its funny this exhibition has opened more doors and put me in contact
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Cobra ao dia ou ao trabalho? Pela complexidade do trabalho. Quem é a sua competição em Lisboa? Essa é uma pergunta interessante porque trabalhamos em áreas tão diferentes. A minha competição na publicidade é alguém que faz um orçamento na agência pelo trabalho. Não devia ser assim. Devia ser sobre o trabalho do fotógrafo para aquele trabalho em particular. A maior parte das vezes a concorrência aqui é baseada no preço. Isto não é comparar maçãs com maçãs. O nosso trabalho é diverso. Provavelmente o nosso estúdio produz a maior gama de fotografia de alta qualidade actualmente disponível em Lisboa. É isso que nos separa dos outros estúdios. Infelizmente as agências não estão a escolher os fotógrafos por um determinado estilo ou visão. Elas pedem orçamentos a todos os estúdios ou indivíduos e depois baseiam-se no preço ou nas amizades. Acho que não há nenhum director criativo em Portugal que de facto compreenda o que eu faço. Não perdem tempo a tentar perceber como
with more people who are developing new projects. So we’re meeting new potential clients all the time. The biggest question that I’m asked is; “don’t you think you are too good for this market?” My answer is; how can anyone be too big for a market. You are now involved in a television program called “Querido mudei o visual” a make over reality show. How did that come about? From the exposure from the exhibition. The production company Briskman invited us to be part of this new television program. The show “Querido mudei o visual” has given us a lot of exposure and the feedback we get is very positive. I decided to do it because it not only shows my work, but, more importantly I’m showing how I work. It also takes us out of the ‘industry’ genre and puts us in front of ordinary people who can see what it takes in terms of makeup, styling and hair to transform someone. This is what we do on a professional level everyday. So I liked this idea because it’s challenging.
seu talento. Damos vida aos seus layouts, é o nosso trabalho que os faz
Working in London or New York you would be making much more money than you would ever make here in Lisbon. Has that ever been a factor?
ganhar prémios ou clientes. O que me aborrece é a falta de visão de
Making more money is always a factor. I mean photography is a
alguns dos criativos. O feedback que tive de alguns directores de arte
business, and I do like to get paid well for what I do; however at this
que viram a minha exposição foi “não sabia que fazias aquilo, foi muito
time it’s more about the work. When I was shooting in New York and
inesperado”. Bem, se me conhecerem melhor como fotógrafo saberão
London I was shooting mainly music. My work has changed so much
os fotógrafos pensam. Nós não somos os seus fornecedores, somos o
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como penso e aquilo que consigo fazer. Muita gente não sabe que eu
since then, if I were to go back to those cities I would be going with a
trabalhei com publicidade mais tempo que eles. Isto não é arrogância, é
complete different perspective. Also it makes more sense to become a
apenas experiência e um facto.
big fish in a small pond than be a small fish in a big pond. That being said if we can combine both, and do what we like to do and be well
Há fotógrafos que admire? Aqui em Portugal gosto muito do trabalho do fotógrafo de moda Mário
rewarded, I’ll be a lucky person.
Príncipe, acho-o muito inovador, tenta fazer coisas diferentes. Fora de
Do you charge by the day or buy the job?
Portugal gosto do Steven Meisel, Clive Allen, Koto Bolofo, Norman
By the complexity of the job.
Rockwell, Martin Schoeller e claro, da Annie Leibovitz. Adoro a qualidade do seu trabalho.
Who’s your competition here in Lisbon?
E quanto aos velhos mestres?
areas. My competition in advertising is anyone who puts an estimate
Bem, há muitos que claro que contribuíram muito para a forma como
into the agency for the same job. Although that should not be the case.
hoje vemos a fotografia. Para mim o Albert Watson e o Irving Penn
It should be about the work and the skill set of the photographer for
são fantásticos. O impacte que as suas imagens tiveram na fotografia
that particular job. A lot of the time competition here is based on price.
de cultura, moda e retrato é incrível. Eles são inovadores. Realmente
No photographer problem solves a job in the same way. This is not
admiro inovadores.
comparing apples with apples. Our work is diverse. Our studio pro-
That’s an interesting question because we work in so many different
bably provides the largest range of hi quality photography currently
O que se vê a fazer daqui a cinco anos? Espero continuar a viver em Portugal, mas gostava de estar a trabalhar um pouco por todo o mundo. Os meus objectivos para este ano passam por começar a promover o meu trabalho mundo fora. Estou inspirado para conhecer criativos que queiram concretizar as suas visões com outro criativo, com quem pretendam colaborar. Neste mundo confuso,
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available in Lisbon right now. That is what separates us from other studios. Unfortunately the agencies are not choosing photographers for a particular style or vision. They will ask for estimates from all studios or individuals, and then it usually comes down to price or friendships. I don’t think there is one creative director in Portugal who really understands what I do. They don’t take the time to get to know how pho-
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a imagem é algo que claramente define um ponto de vista. Nos pró-
tographers think. We are referred too by the advertising agencies as
ximos cinco anos gostava de criar trabalho que misture imagética com
suppliers; we are not their suppliers we are their talent. We bring their
comunicação de marcas.
layouts to life; it is our work that wins them awards or clients. What I
Aos 45 anos ainda sente a vontade de explorar novos horizontes? Claro, até porque eu só pareço ter 30. (risos) Sinto-me jovem, tenho energia e vontade; ainda gosto de ir a discotecas e ouvir boa música. Adoro a vida. Quando cheguei a Lisboa tinha 40 anos mas senti-me como se tivesse de novo 20. Tenho uma chama que me leva onde quer que eu decida ir na minha carreira como fotógrafo.
get really upset about is the lack of vision from some of the creatives. The feedback I got from creative and art directors that saw my exhibition was “I didn’t know you could do that; that was so unexpected.” Well if you got to know me better as a photographer you would know how I think and that what I can do, if challenged creatively, is many different things that are unexpected. Not many people are aware that I worked in advertising longer than most of them. And most of them I
Fotografou muitas pessoas famosas, não apenas em Portugal mas também em Londres e Nova Iorque. Quem ainda não fotografou que gostaria de fotografar?
would not have employed. This is not arrogance, its just experience and a fact.
Estas pessoas foram verdadeiras inspirações na minha vida por dife-
Do you have photographers that you admire?
rentes razões, mas estas quarto estão no topo da minha lista. Stevie
Here in Portugal I really like the fashion photographer Mario Principe’s
Wonder, Nelson Mandela, Mohamed Ali e Barack Obama.
work, I think he’s very innovative he’s trying to do things differently. Outside Portugal I like Steven Meisel, Clive Allen, Koto Bolofo, Norman Rockwell, Martin Schoeller and of course Annie Leibovitz. I absolutely love her production values.
Simon Frederick – www.simonfrederick.com
How about the old masters? Well there are many of course that have contributed so much to the way we see photography today. To me Albert Watson and Irving Penn are
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amazing. The impact that there images have had on culture, fashion and portrait photography is incredible. They are innovators. I really admire innovators. What do you see yourself doing five years from now? Hope to still be living in Portugal, but would love to be working all over the world. My objectives for this year are to start promoting my work worldwide. I am inspired to meet new creative people who want to realize their vision with a fellow artist, who they can collaborate with, who too understands their vision. In this world of confusion the image is the one thing that can define clearly a point of view. In the next 5 years I’d really like to be creating work that mixes imagery with brand communication. And at 45 years of age, you still have the drive to conquer new horizons? Of course, besides I only look 30 (Laughs). I feel young, I have the energy and the drive; I still like to go out to nightclubs and hear great music. I love life. When I arrived in Lisbon I was 40 years old but felt like I was 20 all over again. I have the fire in me that will take me to whatever heights I choose in my new career as a photographer. You’ve photographed many famous people, not only in Portugal but also in London and New York. Who haven’t you photographed that you would really like to? There are people who have been huge inspirations in my life for different reasons, but these four people are at the top of my list. Stevie Wonder, Nelson Mandela, Mohamed Ali and Barak Obama. 47
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Rita Botelho “Gosto de um design que marca a diferença” Entrevista por Catarina Vilar/ Pesquisa por Lia Ramos
Estamos perante mais um exemplo de um jovem talento nacional que dá cartas no mercado internacional. Actualmente essas cartas são em japonês, visto Rita Botelho estar a viver no Japão, em Kyoto, onde trabalha como designer na empresa Ricordi & Sfera. Até ir viver para o outro lado do mundo arriscou, recebeu prémios e venceu concursos. Já fez exposições em Lisboa, Porto, Edimburgo, Milão e Miami e tem produtos seus à venda em lojas espalhadas pelo mundo, de Los Angeles a Paris.
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DirectArts - Fez o curso de design de produto. Sempre soube
cujo conceito passava por dar uma segunda hipótese a objectos criados
que este era o caminho a seguir?
industrialmente e cujo tempo de vida ligado à sua função original
Rita Botelho - Desde cedo soube que me sentia confortável no mundo
era bastante limitado, tendo em conta as características formais. Não
das artes, mas não sabia ao certo qual a área específica que deveria
tendo a menor ideia de como o público iria reagir, decidi arriscar.
seguir. Quando tive de escolher entre artes plásticas e design, optei por
A pouco e pouco, fui capaz de encontrar um nicho de mercado isso
design, mas foi só no final do primeiro ano da Faculdade que tomei a
deu-me motivação e liberdade para criar outras peças e fazer novas
decisão de seguir o caminho do design tridimensional em detrimento
experiências. O processo tem sido lento mas bastante frutífero.
dum bidimensional. Descobri que fazer objectos me dava tanto prazer como criar os seus conceitos. Para além disso, sempre me interessei
Mas rapidamente começou a ganhar prémios, vender as suas
pela relação funcional e emocional que o utilizador tem com os
peças em diferentes locais do mundo. Como foram surgindo es-
objectos que o rodeiam.
sas oportunidades? Tanto no caso dos concursos como das lojas, a palavra-chave é arriscar.
Trabalhou como freelance em diversas áreas, do mobiliário à jo-
Hoje em dia quase toda a informação de que precisamos está disponível
alharia. Gosta de manter os horizontes abertos?
na Internet. É importante não ser passivo e interagir com a informação
Gosto de experimentar novas áreas e aprender com os desafios. Dentro
a que temos acesso. Mesmo que não haja uma confirmação de que
do design de produto existem diversas variantes e é interessante
as coisas vão correr bem, se não arriscarmos não há menor hipótese
trabalhar com diferentes técnicas, funções e até diferentes utilizadores.
de conseguirmos. As frustrações fazem parte da vida... Eu acredito na
O conhecimento de uma área específica pode ser extremamente
sorte, mas a sorte dá sempre trabalho se quisermos que não seja um
enriquecedor para outra, e desde modo os horizontes criativos ficam
evento esporádico.
mais abertos. Gosta de um design ecológico, com materiais reciclados e reciComo foram os primeiros tempos no mercado de trabalho, a pri-
cláveis. De onde vem esta orientação?
meira abordagem?
Mais do que afirmar que gosto do design ecológico, prefiro dizer que
A minha primeira tentativa de entrar no mercado de trabalho surgiu
gosto de um design que marca a diferença. Quer seja através de uma
com a criação duma colecção produzida por mim “A Second Chance”,
mensagem subjacente que levante questões pertinentes, ou através
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“A minha maior ambição é ser feliz e, até agora, o design tem-me proporcionado bons momentos de felicidade.”
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de soluções práticas de um problema, um bom design pode contribuir
encontro um que, pela sua história, memórias que suscitam, pela
consideravelmente para melhoria da qualidade de vida do seu utilizador.
particularidade do material ou da forma, se destaca de todos os outros,
A orientação vem da educação que tive e da simples observação do
aí sim, tento pensar numa forma criativa de reutilização.
mundo que me rodeia. Tendo em conta o contexto em que vivemos hoje, as preocupações ecológicas são imprescindíveis.
Em 2007 integrou o departamento de design da FABRICA. Como foi juntar-se a uma equipa internacional?
Acredita que o futuro do design passa por esta atitude?
Foi umas das experiências mais interessantes que tive até agora.
Sem dúvida. Mais do que optar simplesmente pela utilização de
Aprendi muito sobre a minha pessoa e sobre o que seria capaz de
materiais mais ecológicos, acredito cada vez mais que o futuro do
fazer a um nível mais internacional. Tive pela primeira vez contacto
design passa por pequenos grupos de produção que dão respostas
profissional com pessoas de diferentes culturas e aprendi muito com as
sustentáveis a problemas locais, mais específicos. No entanto não
suas experiências pessoais.
sou extremista e acredito num cenário onde diferentes estratégias de mercado coexistam entre sim. Dentro da produção em massa há cada
Sempre esteve nos seus objectivos um dia sair de Portugal?
vez mais a necessidade de utilizar a capacidade criativa dos designers
Quando frequentei a Universidade era comum sair de Portugal com
(design thinking) de modo a serem criados produtos mais sustentáveis,
o apoio do programa Erasmus. Como não participei nesse programa,
sem que isso altere muito os custos de produção. A sustentabilidade
senti que estava na minha altura de ter algum tipo de experiência
ecológica só é possível com a sustentabilidade económica.
profissional no estrangeiro. É verdade que a Universidade me deu as ferramentas técnicas para poder praticar a profissão, mas foram as
Quando olha para um objecto aparentemente inútil tem
minhas experiências no estrangeiro que me deram motivação para
tendência para pensar numa forma de o reutilizar?
continuar em frente. Penso que a partir do momento em que nos
Nem todos os objectos inúteis me chamam a atenção, mas quando
sentimos confortáveis em diferentes contextos, tudo parece mais fácil.
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”Sempre tive um grande fascínio pelo design de produto japonês.”
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portfólio Design E agora trabalha com a empresa japonesa Ricordi & Sfera, em
do modelo e horários ocidentais, mas se falamos duma empresa mais
Kyoto. Como deu este salto?
pequena e tradicional, a hierarquia dentro da empresa é mais marcante
Sempre tive um grande fascínio pelo design de produto japonês. A
e as regras laborais podem variar bastante. O trabalho e o rigor na
carga cultural e simbólica, a simplicidade e intemporalidade das formas
execução das tarefas é uma grande força no Japão. A maioria dos
e a funcionalidade como objectivo primordial são características
japoneses dedica-se totalmente à sua profissão e isso acaba por ter
indissociáveis do design japonês e que, na minha opinião, são
reflexos positivos na economia do país.
fundamentais ao bom design de produto. Ricordi & Sfera é uma empresa que alia estas características aos materiais naturais e mestria
Quais são ao certo as suas funções?
dos artesãos. É uma empresa que não só produz e vende peças de design,
A minha experiência com diversos softwares, capacidade criativa
como também tem um restaurante, café e livraria. Tenta tocar várias
e fluência no inglês, bem como alguns conhecimentos de italiano,
formas de expressão cultural sempre com a preocupação de aliar, de
têm sido bastante úteis para a empresa que está neste momento a
forma coerente, o tradicional ao moderno. Apesar de saber previamente
tentar a sua expansão no mercado europeu. Por não falar japonês é
da existência desta empresa, o primeiro contacto que tive com o director
praticamente impossível integrar-me em projectos mais ambiciosos,
foi em Setembro de 2008, em Milão, por mero acaso. Esse encontro foi
mas grande parte das minhas tarefas são muito individuais, como a
essencial para trocar impressões sobre o estado do design e começar a
elaboração de desenhos técnicos, troca de contactos com produtores
planear a minha colaboração como designer de produto.
estrangeiros, elaboração de conceitos e textos em inglês. Como sou a única estrangeira no atelier, acabo por ser bastante útil na execução de
O modo de trabalhar é muito diferente do de Portugal?
tarefas muito diversificadas.
Em relação à cultura de trabalho no Japão, penso que depende muito da empresa. Quanto maior e internacional é a empresa mais se aproxima
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“Mais do que afirmar que gosto do design ecológico, prefiro dizer que gosto de um design que marca a diferença.”
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01) - Drop – mealheiro de cerâmica, 2009 02) - Salt & Pepper –saleiro e pimenteiro feitos a partir de caixas de rolos fotográficos, 2006 03 e 04) – Please Don’t Litter – jarra para uma flor feita a partir de uma lata de refrigerante, 2007 05) – Get Together – banco modular, confeccionado com plástico moldado, 2006 06) – ¼ POT – vaso que quando “cortado em quartos” tem a intenção de comunicar a sua colocação espacial, 2006 07) – Petals – pouf, formado por um conjunto de almofadas, tal como uma flor é formada por um conjunto de pétalas, 2008 08) – Pendulum – colecção de jóias composta por colar e alfineto de peito cujo conceito faz uma analogia formal dos antigos relógios com pêndulo, 2007 09) – Upside Down – tampa em vidro para queijo, inspirada pela a antiga tradição italiana de vinho e queijo, 2008 10) – Millet Lamp – candeeiro que tem como base uma vassoura que pode estar encostada à parede ou pendurada sem usar parafusos, colas ou outro suportes no processo, 2008 11) – Ring for Another – copo de vidro de cocktail inspirado nas campainhas das classes altas utilizadas pelos os senhores burgueses do século XIX para chamar os criados quando lhes apetecia tomar uma bebida, 2006 12) – Breathe - pen USB alimentada por iões para purificar o ar, 2006 13) – Office Clock – relógio composto por marcadores reutilizados sem qualquer alteração. Nota: Os objectos a baixo indicados estiveram em exposição ou ganharam prémios nos seguintes eventos: 09) – “Cordially Invited”, Feira Internacional de Mobiliário de Milão 2008 10) – “Connected” , Touch and Team 7 Miami, Design Miami 2008 11) – 1º Prémio “5th Design Competion 2005-2006 Bombay Sapphire”, Competição nacional de design de copos de cocktail 12) – 3º Prémio “Marksman Design Award 2005-2006”, Competição internacional de design de acessórios electrónicos portáteis empresariais 13) – 1º Prémio “Metacycle Design Competion”, Competição internacional de design para prolongar a vida útil de objectos – Codesenhado com André Gouveia
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Já se habituou à cultura?
E qual é a sua maior ambição?
Já me habituei ao facto de ter de lidar com a cultura… mas com a
A minha maior ambição é ser feliz e, até agora, o design tem-me
cultura em si, tem sido difícil. É uma sociedade muito diferente de tudo
proporcionado bons momentos de felicidade.
o que conheci até à data e um dos truques para a integração total é a aprendizagem da língua. Actualmente, o meu conhecimento da língua
O que a distingue enquanto designer?
japonesa não é suficiente para dar o passo seguinte. Felizmente tenho
O gosto por experimentar e arriscar.
bastantes amigos japoneses que falam fluentemente inglês e me tentam explicar com mais pormenor a origem de muitos fenómenos sociais e culturais com que me deparo todos os dias. E qual foi o seu maior desafio profissional até à data, o actual? Sem dúvida que vir para o Japão trabalhar como designer numa empresa de pequenas dimensões numa cidade como Kyoto e não voltar a Portugal durante cerca de 9 meses foi o maior desafio até à data.
Rita Botelho – www.ritabotelho.com
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portfólio Ilustração
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Beto Fiori “O início de uma nova etapa na vida profissional” Entrevista por Catarina Vilar
Há dezoito anos escolheu Portugal para dar azo ao seu traço como ilustrador. É certo que foi quase obra do acaso, mas não mais de cá saiu. É um brasileiro de São Paulo mas já com parte da alma lisboeta, que gosta do Sol nacional mas troca-o por horas perdidas a desenhar e pintar, na confortável e bemvinda solidão da sua casa em frente ao mar. 2010 marca para ele não o fim do mundo por outros profetizado, mas sim o início de uma nova etapa na vida profissional. Beto Fiori deixa a sua segunda casa na J. Walter Thompson para se aventurar no trabalho a solo. 58
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Portfólio Ilustração
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A ilustração acompanha-o desde pequeno?
E como se adaptou ao trabalho em Portugal?
Sim, desde sempre, nasceu comigo, só não sabia que podia ganhar
Um mês depois de chegar comecei a trabalhar na J. Walter Thompson,
dinheiro com isso, mas acabei por ir para a universidade. Para engordar
e nos Estados Unidos já tinha tido o primeiro contacto com o
um pouco a minha mesada eu fazia retratos, desde novo, e não deixei
computador. Mas foi um choque! Eu desenhava tudo à mão. Hoje em
de os fazer. Sou do interior de São Paulo, Araras, e um dia decidi ir na
dia falha a energia e param todos de trabalhar. Acho muito bom ter o
passagem de ano ao Rio de Janeiro e propuseram-me um estágio numa
desenho com papel e lápis como base, mas claro que acho fascinante o
agência. Um acaso… Não tinha experiência nenhuma de agência, e
mundo da informático, fazer um clique e apagar uma coisa. Antes tinha
trabalhei muito. Foi muito bom porque pude explorar um universo
de começar tudo do início. Agora a caneta digital faz maravilhas!
de que gostava muito, e ainda hoje gosto, do hiper-realismo. Acabei por ficar dez anos no Rio, e entre eles estive um ano em Paris, onde
Continua a pintar, rodeado de pincéis e telas?
explorei a sua arte, arquitectura, história, tudo! Fiquei encantado, até
Sim, eu muitas vezes deixei de viajar e tirava férias para estar um mês
que voltei ao Brasil, mas estávamos na época do Collor de Mello, a
a pintar. A última vez foi em Julho passado, ter tempo, sem horários,
versão brasileira do Bush, e decidi sair do país.
para os meus projectos pessoais. São férias muito produtivas, mora a 10 minutos da praia e até me esqueço dela. Deixo-me levar totalmente e perco a noção do tempo.
O que o trouxe a Portugal? Outro acaso… Eu trabalhava com um amigo no Brasil, até que eu decidi ir para os Estados Unidos e ele para Portugal. Um dia decidi arriscar
Agora inicia uma nova etapa na sua carreira, como freelance,
e vir para cá. Cheguei em Fevereiro de 1992, no pico do Inverno, mas
mas o que guarda da experiência em agência?
para mim já era Verão! (risos) Sai com 17 graus negativos dos Estados
Ganhamos um enorme jogo de cintura, porque se trabalha com muitas
Unidos… Estou cá há dezoito anos, mas o primeiro mês foi passado a
cabeças diferentes, vários estilos. E sempre tive muita sorte com os
viajar, a conhecer o país. Quase fui à praia!
directores criativos com quem trabalhei. Aprendi muito com todos eles.
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“Sempre tive muita sorte com os directores criativos com quem trabalhei. Aprendi muito com todos eles.”
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Portfólio Ilustração Sendo um apaixonado pelo hiper-realismo, gosta de o explorar
equipa, mas gosto de estar comigo mesmo, e não encaro isso como
ainda hoje?
uma solidão, acolho-a com prazer.
Sigo de muito perto o trabalho do Kehinde Wiley, com um estilo muito próprio. E sou um apaixonado pela Paula Rego e Lucian Freud, porque
Gosta de procurar o trabalho de outros ilustradores, pintores?
me perturba, incomoda e fascina ao mesmo tempo. Aliás, seria uma
Adoro, tenho centenas de bookmarks no computador que visito
honra que ela me aceitasse como aprendiz no seu atelier! (risos)
diariamente! E tenho gostos muito diversificados, por exemplo, adoro graffitis. Há pessoas a fazer trabalhos dignos de galerias de arte, como
Eles inspiram o seu trabalho?
o Paulo Arraiano em Portugal e Os Gêmios, no Brasil. Assim como
Claro, mas eu vejo tudo o que se possa imaginar. O mundo cibernético
acho fascinante a arte da tatuagem, há trabalhos impressionantes.
às vezes até se torna confuso, porque são tantas as ilustrações, tantos
Há muito talento por ai, a trabalhar nos mais diversos suportes. Não
os pintores, que temos acesso directo a tudo, e misturam-se na minha
podemos parar no tempo, mas sim acompanhar tudo que há de novo e
cabeça. Daí certamente há um cocktail de inspiração.
estar sempre a crescer, sempre a aprender.
Como encara 2010, nesta nova aposta profissional?
Em Portugal considera que temos uma boa comunidade criati-
Vejo-o como um mundo desafios que estou desejoso de ultrapassar.
va?
Trabalho nesta área há uns trinta anos e a minha experiência nas
Eu acompanho-a desde 1992 e acho que houve um enorme salto. Não
agências é a soma do que sou hoje. É muito importante trabalhar em
se parou no tempo, e o mercado português não fica aquém de outros.
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“Trabalho nesta área há uns trinta anos e a minha experiência nas agências é a soma do que sou hoje.”
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01) O detetive - ilustração pessoal 02) Vincent Gallo - ilustração pessoal 03) Mal Hálito - ilustração para Listerine - JWT 04) David Threlfall - ilustração pessoal 05) Motel - ilustração pessoal 06) Lady Bird - ilustração pessoal 07) Porche - storyboard - JWT 08) Fetiche - ilustração pessoal 09) Choco Boy - cliente Nestlé - JWT 10) Mulher austronauta - JWT
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Gostava de expor mais o seu trabalho?
Como definiria o seu trabalho, o que o distingue?
Expus uma vez, em que convidaram um grupo de ilustradores a
Acho que versatilidade é a palavra que melhor o define. Por exemplo,
explorar uma outra faceta do seu trabalho. Tinha de apresentar sete
uma coisa que adoro fazer além de storyboard é shooting board, é muito
quadros e explorei os sete pecados mortais. Gostei, e sim, seria bom
interessante trabalhar com um realizador e mostrar a visão dele. Esse é
voltar a explorar essa vertente… Quem sabe não faço isso agora. Estou
um caminho que quero explorar mais. Aliás tenho um projecto futuro
sempre entre a ilustração e a pintura, e gosto de manter ambas na minha
nessa área. Gosto essencialmente de explorar as minhas capacidades.
vida.
Uma coisa que gosto de fazer é observar as pessoas, como se movem, como se sentam, e isso depois ajuda-me quando tenho de ilustrar uma
Deixa que o seu trabalho seja influenciado por outra das suas
situação que até pode ser banal, como ir ao supermercado. Adoro
paixões, como o cinema?
Lisboa, o seu movimento, e também esta cidade me inspira.
Eu já fui do género ir ver tudo o que estreava no cinema, mas mesmo tudo, até comédias românticas! Actualmente sou mais selectivo e escolho bem o que quero ver. Beto Fiori – http://betofiori.soup.io
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artigo Informação
O ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE Texto por André Guerreiro Rodrigues + Marco Alexandre Saias (IP SOLUTIONSTM)
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As patentes são a face mais visível de todo o processo inovativo…
Uma patente pode representar um potencial económico várias vezes superior ao investimento realizado na sua obtenção.
Era bom começar por aqui, mas não, as patentes não são a face mais
Mas acima de tudo, uma patente é algo que pode substancialmente mu-
visível. Curiosamente a maior parte do nosso dia-a-dia está todo ele
dar o rumo de uma pessoa, de uma empresa, de uma economia… de
assente em algo que está ou já esteve patenteado.
um país.
As patentes são sem dúvida a pedra basilar que sustenta qualquer pro-
Duvidam?
cesso inovativo. São elas que monetizam.
James Watt, o senhor que inventou a máquina a vapor, só conseguiu acabar o projecto porque teve um financiador que investiu dinheiro. E
Porquê as patentes? Afinal esta é uma revista de artes visuais…
porquê? Porque o Watt já tinha uma patente. E isso garantia ao investi-
Simples.
dor que receberia o seu dinheiro e ainda muito mais.
Para que tenham um quadro completo do mundo da propriedade inte-
Duvidam que mudou o mundo?
lectual.
A máquina a vapor arranca a era Industrial, que leva as fábricas para
Este mundo não se rege apenas por direitos de autor ou marcas ou de-
perto dos centros urbanos, que origina ondas migratórias e o aumento
signs. Tem outros elementos, que se cruzam, misturam e unem.
dos mesmos, que cria um classe trabalhadora industrial, que vive na miséria, que origina o pensamento socialista e marxista, que provoca
Mas por ser uma revista de artes visuais também vamos apenas dar uma
na Rússia o surgimento da URSS, que combate Hitler a Leste, que tem
ideia sobre o tema.
45 anos de Guerra Fria com o Ocidente, que por conta disso acelerou a corrida espacial, que por sua vez foi impulsionada pelo investiga-
Por isso, o que é uma patente?
ção militar dos foguetes, que tinham aparecido para combater o mesmo
Tradicionalmente é o direito que o estado concede a alguém de usufruir
Hitler, que por sua vez tinha aparecido na sequência da Primeira Guerra
em exclusivo da sua invenção, podendo afastar terceiros de o fazer sem
Mundial, que queria combater os comunistas, numa altura de fome, em
autorização.
que a comida enlatada era o sustento de muitos, comida enlatada que
Aqui o usufruir é uma coisa muito ampla… mas conduz a um outro
nasce com a industrialização que aparece com a patente de Watt…
caminho: o de monetizar. Diz o Sérgio Godinho, “é que isto anda tudo ligado”. Uma invenção para ser fruto deste privilégio tem de ser nova dentro do estado da arte a que se refere, ou seja, tem de trazer uma novidade
Podem não as ver, ao contrário das marcas ou dos direitos de autor ou
relativamente àquilo que já existe.
dos designs. Mas a parte mais importante do nosso modo de vida assenta num pedaço de papel chamado patente.
Não pensem que é preciso inventar constantemente coisas novas. Não. Nada disso. Inovar e inventar não é criar do zero. Por vezes é melhorar,
Afinal o que é uma patente?
atribuir novas funcionalidades, etc.
É o elixir da eterna juventude do espírito humano. Apenas.
Vejam a roda. Nasce há cerca de 5.500 anos e desde uma massa trabalhada de pedra evoluiu para nanocompostos de carbono ultra resistente bla bla bla… e é sempre, sempre a mesma roda. Depois há uma outra visão do que é a patente. Sim é um direito. Batam palmas. Todos sabemos isso. Mas mais que um direito, é um Activo. É uma reserva de Valor, Riqueza. É potencial crescimento. É fonte de bem-estar social. É um Activo de Propriedade Intelectual. E aqui a estória muda de rumo. Uma patente pode financiar um projecto. Pode ser a base financeira para um empreendedor arrancar.
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artigo Pictoralismo / Marina Ramos
Pictorialismo Português: Ambientes, tendências e razões do seu prolongamento. O Caso Português Texto por Marina Ramos
Marina Ramos nasceu em Lisboa, onde vive e trabalha. Está há vários anos ligada ao ensino de fotografia, trabalhando também em restauro de pintura. No campo da formação, tirou o curso de Marketing e Publicidade, no IADE, assim como o de Conservação e Restauro de Pintura de Cavalete, no Instituto Rainha D. Leonor. Fez uma pós-graduação em Estudos de Fotografia, também no IADE e o ciclo de estudos na escola Maumaus. Participou em diversas exposições de fotografia, entre elas: Jóias em Fotografia, Galeria Contacto Directo, Lisboa, 1994; Exposição de Fotografia, Centro Cultural da Malaposta, 1994; Siemens+Maumaus Photoproject, Lisboa, 1995; Peninzulares, Valencia, Espanha, 1996; Exposição de Fotografia, seleccionados do Prémio Pedro Miguel Frade, CPF, Casa das Artes, Porto, 1999; Concurso Jovens; Criadores 1999, Fotografia, Braga; Onze projectos, Palácio Pombal, Lisboa, 2002 e Exposição de Fotografia, SNBA, Lisboa, 2003.
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Em Portugal, o advento da fotografia teve consequências céleres.
à divulgação da fotografia. Era exactamente uma edição deste tipo de
Já na década de 40 há uma proliferação de daguerreotipistas em estú-
que foi fundador Carlos Relvas, chamada “A Arte Fotográfica”:
dios ambulantes (em 49 a primeira exposição com fotografias) na de 50
Foi nesta revista que foi editado o texto de H.P. Robinson “Pictorial
adopta-se o calotipo .
Effect in Photography” (atrás referido) que é considerado o introdutor da estética pictorialista em Portugal:
Wenceslau Cifka , vindo da Checoslováquia em 1836, a convite de D. Fernando por altura do seu casamento com D. Maria II, abre em 1848
[...]Pretendeu-se que era impossível combinar a arte e a Photographia
um estúdio de daguerreotipia, é fotógrafo da Casa Real ( que demons-
e ridicularizou-se a ideia de que o conhecimento da arte pudesse ser
trava interesse pela técnica) e também dá aulas aos interessados. Um
d’alguma utilidade para o photographo. É para destruir essas ideias
dos seus alunos é Carlos Relvas, rico latifundiário ribatejano, que se
completamente falsas que insisti sobre a necessidade de comprehender
dedica a várias actividades de cariz lúdico, entre as quais a fotografia
as regras principaes da composição e do claro escuro que em todas as
– tentando demarcar-se da postura profissional que começava a desen-
manifestações da arte, devem ser a base do effeito artistico.
volver-se. [... ] Pela sua própria natureza, a photographia não pode ter a pretensão Carlos Relvas investe num estúdio fotográfico com materiais “de pri-
de representar o sublime; mas o belo pode ser reproduzido por ella e o
meira” e dedica-se de forma amadora à actividade, tendo um papel im-
pittoresco nunca teve um interprete mais perfeito.
portante no alargamento dos motivos até então fotografados – as suas várias actividades de rico, liberal e informado proprietário rural - vela,
Começando a filiar-se nesta corrente, Carlos Relvas, a filha Margarida
ciclismo, ginástica, entre outras, foram importantes nesse sentido.
Relvas e outros apresentam numa ambiciosa exposição internacional realizada em 1886, (ideia lançada pela revista Arte Photográfica ) te-
Havia um ambiente em formação muito propício ao desenvolvimento e
mas como paisagens, monumentos e costumes, retratos, phototipias de
proliferação da fotografia.
monumentos e reproduções de obras de arte, provas a carvão, etc, etc. Para esta exposição foram expressamente convidados H.P. Robinson
As publicações sobre fotografia ou com destaque para a fotografia tam-
e P.H. Emerson, publicista do naturalismo fotográfico, com trabalhos
bém tiveram uma disseminação espantosa quando comparadas com a
largamente aplaudidos na crítica publicada na revista Occidente, de
dificuldade de sobrevivência actual de edições dedicadas unicamente
Junho de 1886.
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No ano seguinte, Carlos Relvas participa na fundação da Academia
Art 2º: O fim desta exposição é essencialmente artístico.
Portugueza de Amadores Photográphicos juntamente com Paulo Henry Plantier, entre outros. Esta academia não durará mais do que um ano,
Art.3º : Consequentemente, só poderão figurar nella provas com acen-
mas no ano seguinte Paulo Henry Plantier exporá na montra da sua
tuado carácter esthético, não sendo admittidas provas de photographia
loja, na rua do Ouro, gomas, “flous” e nevoeiros. Este percursor do
simplesmente documental em qualquer género, tendo-se também como
movimento pictorialista português tem um trabalho marcadamente di-
indispensável uma boa execução téchnica, preferindo-se o emprego das
ferente das imagens descritivas e estáticas do naturalismo de Relvas.
creações modernas da industria photographica.
Os factores que na altura foram considerados heresias pioneiras, transformaram-se 20 anos depois, no gosto dominante – o flou, o desfoque,
Em 1914 começam a vulgarizar-se os métodos pigmentares, que abrem
o movimento, a naturalidade da pose: estava instalado o pictorialismo.
novos caminhos ao pictorialismo português – antes mais dedicado ao naturalismo/simbolismo – o negativo perde a sua importância enquanto
Pictorialismo português
matriz, enfatizando o positivo também ele transformado em obra única, objecto de longas horas de trabalho laboratorial.
O pictorialismo agrupou um conjunto de amadores que participavam regularmente em exposições como Julio Worm (que desde 1898 tinha
Figura singular desta época, o comdt. António José Martins deixou um
fundado o seu estabelecimento Worm & Rosa, que funcionava como
trabalho que fez a passagem entre o pictorialismo “puro” e alguma ex-
um verdadeiro centro de apoio à actividade fotográfica amadora do iní-
perimentação ligada aos anos 30 - recebendo influências do seu traba-
cio do século), Maria da Conceição Lemos de Magalhães (única mulher
lho na área da fotografia científica, colaborando com Egas Moniz e com
que atingiu algum destaque nesta corrente, nesta época), Affonso Lopes
teóricos na área das artes. Foi ele que introduziu a Leica em Portugal
Viera, Alfredo Black ou Aníbal Bettencourt, tendo estes promovido
e fazia experiências com película infravermelha nas deslocações pelos
uma exposição em 1910, chamada “Photographia Artística”, que teve
mares do Norte, no seu navio onde montou uma pequena câmara escura
uma surpreendente adesão e cujo regulamento compreendia os seguin-
que lhe permitia desenvolver os seus trabalhos.
tes artigos:
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É um dos trabalhos mais curiosos e que foram mais longe na explora-
primeira linha telefónica do Porto, primeira rede eléctrica nacional, en-
ção dos métodos pigmentares.
tre outros interesses amadores como o coleccionismo de borboletas, o automobilismo,a escultura, etc, etc)
Em termos cronológicos a fotografia portuguesa estava de ponteiros acertados com a produção fotográfica internacional – o habitual atraso
Emílio Biel vai ter influência determinante em dois fotógrafos de orien-
de alguns anos em relação ao que se faz nos centros produtores de arte,
tação pictorialista/naturalista: Marques Abreu e Domingos Alvão.
mas dentro de parâmetros de difusão normais. Marques Abreu viveu entre 1879 e 1958 e vai ter no século XX um É entre os anos 20 e 30 que existem tentativas individuais de acompa-
papel semelhante ao que Emílio Biel teve no século anterior no que
nhar os movimentos estéticos internacionais que ciclicamente emer-
respeita à fotografia, artes gráficas e produção editorial – sendo a edição
giam, mas de forma inconsistente (cubismo, futurismo, surrealismo)
de um portfolio seu intitulado “Vida Rústica” um exemplo da fotografia
– e quase sempre esmagadas e absorvidas pela cultura dominante nada
naturalista/pictorialista que praticava.
interessada em deixar disseminar essas tendências que tão pouco percebia.
Marques Abreu, entre outros projectos, está em conjunto com Domingos
No manual “Elementos de História da Arte” de João Christino da Silva,
Alvão, ligado à edição da revista mais orientada para esta vertente da
publicado em 1930:” (...) O “cubismo”, do Cubo, partindo do princí-
fotografia naturalista/pictorialista: a “Illustração Transmontana” que só
pio de afectar aspectos poliédricos aos seres, às coisas, dava os mais
durou cerca de dois anos, mas que parece ter sido um marco pela sua
estapafúrdios resultados, como de igual modo o “futurismo”, que nin-
excelente qualidade.
guém, afora os iniciadores, entendia, e de aí a critica hilariante por
Domingos Alvão nasceu em 1872 no Porto e entra no mundo da foto-
parte do público, a quem os sectários, por seu turno, tratavam de ig-
grafia como aprendiz no atelier de Emílio Biel. Trabalha também com
naro; a verdade porém, é que alguns talentos se manifestaram através
Leopoldo Cirne e aparece depois como gerente do Photo-Velo-Club. É
desses aspectos de pintura de manicómio, talentos dos quais Picasso é
aí que passa a funcionar a Fotografia Alvão em 1901 que em 1926 dá
dos mais salientes. (...) Em Portugal a moda futurista pouco se eviden-
lugar á firma Alvão & Cª.
ciou, pois só alguns cultores, entre os quais Santa-Rita, se procuraram Pessoa do seu tempo, Domingos Alvão percorre três regimes políticos –
salientar;(...)”
monarquia, 1ª república e Estado Novo consolidando-se o seu trabalho
Expoentes do pictorialismo naturalista
durante a 1ª República, sendo-lhe concedida a consagração pelo Estado Novo.
Voltando atrás, aos finais do século anterior, há algumas figuras fundamentais para o pictorialismo português - na sua corrente naturalista/
O estilo naturalista de Alvão – pictorialista na forma como manipula as per-
verista:
sonagens, a iluminação e o olhar – vai incidir na busca do rural, do sinuoso, do pitoresco , nas raízes do “espírito português” - tendo sido repescado
Um deles é Emílio Biel, alemão instalado no Porto em cerca de 1860.
pelo Estado Novo nessa característica que se adequava perfeitamente à es-
Tem um espirito multifacetado e vai ter uma influência determinante
tética do regime: Alvão capta o povo nos seus afazeres como um povo for-
em certas áreas da fotografia e não só (fototípia, edição, instalação da
te, saudável, trabalhador e honesto que embora pobre, trabalha com alegria
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artigo Pictoralismo / Marina Ramos 01) M da Conceição Lemos de Magalhães c.1908 02) Casa Alvão (Douro 3) anos 30 sec.XX 03) Julio Worm c.1910 04) António José Martins 01 1939 05) António José Martins - Escuna Creoula 1927 06) António José Martins 02 1939 07) Emilio Biel Choupal c.1900
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e orgulho. As paisagens que servem de fundos são grandiosas ou pitorescas
vistas, na escolha dos modelos e das suas expressões, nos ambientes,
e os títulos das fotografias enfáticos.
nos fundos, nas paisagens. Nas palavras do próprio Alvão:
A sua câmara não “vê” ou não capta nada que não deva ser mostrado: nem
Estes meus trabalhos são, por via de regra, preparados. Caminho, en-
a fome, nem a doença nem a falta de trabalho – as raparigas embora rústicas
contro um trecho de paisagem, lobrigo um palminho de cara agradável
são sempre viçosas, os homens trabalhadores, alegres e compenetrados.
e fixo o tripé. Depois, segundo o meu critério artístico, disponho a per-
Num texto publicado na Illustração Portugueza, em Junho de 1914:
sonagem, conjugando-a o mais harmoniosamente possível com o cenário e disparo a máquina. Outras vezes são criaturas humildes, pobres e
“...O ilustre fotografo portuense sr. Domingos Alvão, expondo em
insinuantes raparigas que eu levo comigo e a quem eu mando colocar
Lisboa (depois da exposição no Porto) cerca de duzentos admiráveis
em atitudes próprias a troco de um salário. Ninguém calcula o esforço
exemplares dos seus estudos de paizagens , figuras e costumes – das
enorme, esgotante, arrasador que eu tenho de realizar para conseguir
nossas províncias do Minho e Douro, não só entusiasmou os milhares
um cliché interessante. São horas que se gastam para uma só fotografia.
de pessoas que atenta e alegremente passaram perante as expressões vi-
Porque o meu amigo compreende, estes modelos que me auxiliam são
vas e insinuantes que o seu talento soube realisar, fez mais: conquistou
raparigas incultas, sem educação, tão rudes como rude é o seu trabalho.
esse publico, o qual dificilmente se poderá esquecer de que lhe deve
Conseguir delas uma expressão delicada, um olhar inteligente e vivo,
algumas horas de verdadeiro poder espiritual e, egualmente, uma nobre
um sorriso galante, a natural colocação de braços, representa quase um
e airosa lição de nacionalismo...”
milagre. É preciso ter muita paciência e sobretudo muito amor à profissão...”
Domingos Alvão que nunca aderiu á tendência pictorialista de manipulação de positivos ou negativos, fazia a sua manipulação na tomada de
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08) Casa Alvão (Douro 2)anos 30 séc.XX 09) Emilio Biel auto retrato c.1890 10) Domingos Alvão Doce Recordação c.1920 11) Domingos Alvão. Impossível...c.1920 12) Domingos Alvão. O sol que passa...c.1920 13) Domingos Alvão. Grave Acontecimento c. 1920 14) Casa Alvão (Douro)anos 30 séc.XX 15) Casa Alvão (Douro 1)anos 30 séc. XX
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De facto, a câmara só vê aquilo que Alvão quer que ela veja ou o que
Não se estranhe, de resto, que essas fotografias de Alvão busquem, pre-
Alvão compõe para ela captar.
meditadamente ou não, estabelecer cenários intemporais, sob a ilusão de um registo documental. Cúmplice da luz e das sombras, que utiliza
Compreende-se que o Estado Novo tenha ficado agradado por esta vi-
com mestria, o fotógrafo ora avoluma e agiganta, ora apouca e disfarça.
são tão positiva e pitoresca num país assolado pela miséria mas que
Aqui e ali, omite, compõe, retoca ou apaga. A objectiva esquece deli-
resistia orgulhosamente isolado e que tenha acarinhado este fotógrafo;
beradamente as chusmas de pobres das aldeias e as expressões doentias
claro que moderadamente porque o regime não estava muito interessa-
ou famélicas de um tempo de crise. Como num cartaz publicitário, a
do em retumbantes êxitos pessoais.
cara do Douro é a vindimadeira jovem, bonita, alegre e sadia. Ou a imagem épica das surribas, dos homens da roga, dos arrais. Não vemos
Domingos Alvão soube impor um estilo com que contaminou os seus
as camisas esfarrapadas dos cavadores que esperam no largo da aldeia
colaboradores. Quando, em 1933, a Casa Alvão começou o seu pro-
a sorte de um dia de trabalho. É que a objectiva nunca se aventurou
jecto de documentação da região duriense, da vinha e do vinho, com o
a penetrar no interior dos povoados, a não ser para captar referências
Instituto do Vinho do Porto, as imagens com a chancela da Casa Alvão
isoladas do património histórico monumental. Visto de longe, o casa-
legitimavam imagens de vários fotógrafos, entre os quais as do sócio
rio oferece aquela visão de presépio que nos encanta. Mesmo quando
de Alvão, Álvaro de Azevedo (uma entrevista recente com a filha de
evoca o drama da filoxera, mostrando os mortórios ou os casais ermos,
Álvaro de Azevedo vem levantar a hipótese de Domingos Alvão já não
como o Pai Calvo, trata-se de uma imagem residual, quase museológi-
ter participado activamente neste trabalho, uma vez que tinha cerca de
ca . As figuras humanas que aparecem, em registo etnográfico, ligadas
sessenta anos, e de que o seu pai era vulgarmente tratado por Alvão na
às diversas actividades do trabalho da vinha ou do transporte do vinho,
região do Douro, tal era a identificação existente.)
transmitem a ilusão de uma pobreza remendada e feliz, como pretendia o regime, bem longe do Douro trágico que ressaltará, pouco depois das
O que é relevante é que todas as imagens recolhidas e publicadas não
páginas de Pina de Morais, Torga ou Redol.
têm uma autoria pessoal, fundem-se e pertencem ao estilo criado e de-
O fotógrafo viu, pois, o que quis ou soube ver.”
senvolvido por Domingos Alvão. Num texto de Gaspar Martins Pereira na edição de “O Douro de Domingos Alvão”: “... Mas as fotografias de
A consagração institucional deu-se com o convite para único fotógrafo
Alvão escapam, a cada passo, à temporalidade. Dir-se-ia que nos trans-
oficial da I Exposição Colonial Portuguesa, em 1934.
mitem, em registo subliminar, a eterna memória de um Douro mítico que se identifica com o imaginário colectivo da região vinhateira, que os próprios clichés de Alvão, que se multiplicaram nos postais ilustrados e em numerosas publicações, ajudaram a perdurar.
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Marina Ramos - marinaramosramos@gmail.com
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novos talentos
Design
Hugo Abreu Designer Industrial (Lisboa) Idade: 29 anos Contactos: hugo_de_abreu@yahoo.com
rude_design@yahoo.com
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RUDE DESIGN...não é uma marca. É uma designação antagónica ao pretendido. Num mundo rude, só o oposto poderá subsistir. Um design que é rude para o rude mundo que o rodeia. Respeito, proximidade, indissociabilidade. Observação, curiosidade, prontidão e certeza.
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01) REPUXO - No âmbito do projecto JARDIM DA CONSTITUIÇÂO (Lagos). Na tentativa de dinamizar o espaço, esta foi uma das peças criadas. Procurava marcar pela diferença de aparência e na utilização (relativamente a um bebedouro), visto que mediante um sistema de acumulação e pressurização constante de água, o movimento da mesma seria em arco. 02 a 07) SINALÉCTICA - SIN3D – Elemento de Sinalização Tridimensional incidindo no conceito de elemento de informação no espaço urbano, e na tentativa de humanizar o mesmo, procurou-se estabelecer uma relação directa, entre a criação de um impulso pela semelhança à figura humana e o utilizador. Impulso esse que contribuirá para a difusão da informação necessária no local a implantar a peça. De construção modular, o sistema é composto por vários volumes e interfaces dos mesmos, onde cada volume é construído em fibra de vidro com uma estrutura interna chumbada em aço inox. O acabamento ao nível de pintura dos volumes seria possível em qualquer cor RAL, devendo sempre garantir a integridade da informação da placa de polimetacrilato colorida (conforme a a situação). 08 a 13) BANCO DE EXTERIOR - LOVER´S LANE O material escolhido veio definir a estética. A fibra de vidro e a moldação da mesma, aliadas a um importante estudo estrutural (mediante a função a desempenhar pela peça) do interior, permite a criação de peças standard de elevada qualidade e nível de acabamento final, com um baixo investimento em ferramentas (moldes) e com a possibilidade de obter peças de elevado nível plástico. Pretende propiciar à população um banco mais intimista, direccionado ao relacionamento entre duas pessoas. mesmo que agrupado em série. Versões com e sem cobertura. 14 e 15) MOD4U – Means of Delight For You - Projecto para 2nd ROCA INTERNATIONAL DESIGN CONTEST 2006/2007 - Cabine de duche, banho, hidromassagem, sauna, banho turco, aromaterapia, jacuzzi. 16) CUBO - 3º Projecto para LUMLIGHTING. Tema pedido - referências nacionais. Mediante contacto realizado com fabricante de candeeiros decorativos de interior – LUSTRARTE/LUMLIGHTING, este projecto foi desenvolvido para a mesma, sendo o tema Referências Nacionais. Com este tema em vista, foi desenvolvida a proposta CUBO, candeeiro decorativo de interior, sendo o material (n/ estrutural) escolhido a cortiça em bruto. 17) Proposta de serviço de mesa, que incutia novos relacionamentos com algumas peças. 18) JARRO/ESPREMEDOR - Este projecto foi desenvolvido ainda no decorrer do Curso de Design de Equipamento. Apresenta-se como um tentativa simples de reduzir o número de utensílios existentes no lar. Surgiu como ideal o conceito de aliar ao vulgar espremedor o recipiente que forçosamente utilizaríamos quando fizéssemos um sumo. A tampa surgiu como um elemento fundamental a contemplar, já que serviria igualmente de filtro.
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Design / Ilustração
Fred aka Klit
Designer & Ilustrador (Almada) Idade: 29 anos Contactos: www.lettersnotflowers.com
www.myspace.com/klitone
www.visualstreetperformance.com
klitlegcrew@gmail.com
Klit é um jovem artista multifacetado, amante das formas orgâ-
dos mais apreciados do público. Em 2008 fez a sua primeira ex-
nicas e florais. Tem desenvolvido o seu estilo em vários campos
posição individual em Londres, na New Cross Gallery, intitulada
artísticos, onde o graffiti foi sem dúvida a chama do seu reconhe-
“The Woods by Klit” com ilustrações de uma mistura pragmáti-
cimento quanto artista. O respeito e admiração que ganhou na
ca entre as suas formas florais e orgânicas com alguns animais.
rua têm sido nos últimos anos consolidados com a produção de
Também tem desenvolvido trabalhos em parceria com os estilis-
“hall of fames” e em exposições colectivas e individuais. Mem-
tas Storytailors, onde aproveita para diferenciar as suas técnicas
bro fundador da maior exposição de graffiti nacional, a “Visual
e suportes artísticos. Neste momento é aluno do primeiro ano de
Street Performance”, onde tem demonstrado o seu crescimento
Design na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, onde procura
enquanto artista, e onde o seu trabalho inovador e único tem sido
educar e aperfeiçoar o seu carácter artístico.
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Design / Ilustração
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Fotografia
Liliana Lisa Fotógrafa (Lisboa) Idade: 27 anos Contactos: lilianalisa@gmail.com Clientes: Etic_ (Grupo Evolution), Ministério da Educação, NBP (Plural)
Liliana Lisa é uma jovem fotógrafa de Lagos que desde cedo se apaixonou por
Vermelho, entre outras), histórias de encantar que fazem parte das memórias
esta arte, a Fotografia.
de infância e todo um universo místico/onírico que estas contêm e transmitem.
Durante todo o seu percurso escolar optou sempre pela área das artes. Tendo
Em todas elas existe inexoravelmente um momento em que as personagens
feito pequenas formações ao longo dos anos, nem sempre foi claro qual o ca-
principais andam pelo jardim ou pelo bosque à procura de algo, a fugir de algu-
minho a seguir nos estudos, se estilismo, arquitectura, restauro ou fotografia.
ma coisa ou alguém, ou simplesmente de passagem. Era exactamente isto que
Em 2005 optou por frequentar um curso de fotografia na ETIC_ , onde se for-
Liliana pretendia transmitir através das imagens da sua história fotográfica, a
mou com uma média de 17 valores.
Enchanted Forest.
É o seu trabalho de final de curso que aqui se apresenta, um editorial de moda
Nestes últimos anos Liliana trabalhou como freelancer em diferentes áreas da
fotografado na Quinta da Regaleira com a modelo e actriz Inês Castel-Branco
fotografia e também como fotógrafa de cena para a produtora NBP (agora Plu-
e figurinos da dupla de estilistas portugueses Storytailors.
ral), sendo a fotografia de moda, de espectáculo e a fotografia de cena as áreas
A sua vontade de fotografar em exteriores estava associada à história que que-
da Fotografia que mais interesse lhe despertam.
ria contar: uma espécie de runaway, comum em vários Fairytales (Alice no
Actualmente trabalha e reside em Lisboa.
País das Maravilhas, Branca de Neve e os 7 Anões, Cinderela, Capuchinho
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FICHA TÉCNICA: Styling LILIANA LISA Modelo INÊS CASTEL-BRANCO Assistente de Produção SANDRA MARGARIDO Cabelo e maquilhagem NUNO GOMES Assistente Técnico RICARDO GOUVEIA Roupa STORYTAILORS Sapatos e mala Melissa na DNA Bijuteria NÃO SÓ ROUPA
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Fotografia
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artigo Informação
Richard Avedon: Um ícone americano 23 Maio 1923 - 1 Outubro 2004 Texto por Manuel Pessoa
Richard Avedon é mais conhecido pela sua fotografia de moda e retratos
regressou trabalhou como fotógrafo para uma grande loja em Nova
de celebridades. Optando por abster-se do “bonito” e salientando a
Iorque e estudou fotografia com Alexey Brodovitch na The Design
“realidade” do assunto, Avedon fotografou principalmente em preto e
Laboratory - New School for Social Research, em Nova Iorque. A sua
branco num muito iluminado estilo minimalista.
reputação como profissional cresceu e conduziu-o à revista Harper’s
Richard Avedon nasceu a 23 de Maio de 1923 em Nova Iorque. Os
Bazaar, cujo director de arte era também Brodovitch, que descobriu
seus pais eram judeus-russos emigrantes e ele estudou filosofia na
o talento de Richard pelo seu trabalho na escola. Richard tornou-se
Universidade de Colômbia, mas desistiu em 1941 para trabalhar
fotógrafo da revista de 1944 a 1965. Durante este tempo trabalhou
no departamento de fotografia dos US Merchant Marines. Quando
também com outras publicações, tais como Vogue e Theater Arts.
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artigo Informação
“Richard Avedon influenciou a fotografia de moda como nenhum outro fotógrafo”.
Em 1957 foi consultor visual para o filme Funny Face, que foi baseado
fazendo perguntas psicologicamente provocatórias. Com estes meios
na sua própria carreira. Em 1958, a Popular Photography nomeou-o
ele produzia imagens que revelavam aspectos do carácter da pessoa
um dos Dez Melhores Fotógrafos do Mundo. Em 1963 Richard fez
retratada e personalidade que não era habitualmente captada por outros.
um desvio na sua fotografia de moda e celebridades para fotografar o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Em 1966 tinha
A sua tia Louise (irmã da mãe) tinha uma doença mental e Richard
deixado a Harper’s Bazaar tornando-se fotógrafo residente na Vogue
lembrava-se da sua mãe lhe dizer: “És tão linda que não tens de abrir a
(1966-1990). Durante este período, Avedon também criou duas
boca.” A ele isto parecia querer dizer que a beleza física tinha sempre
famosas séries de retratos dos Beatles. A primeira, tirada no final de
subjacente tristeza ou tragédia. Esta estranha combinação de alegria e
1967, tornou-se uma das primeiras grandes séries de posters de rock,
tristeza misturada com emoção e um total abandono da composição
e constou de cinco impressionantes retratos psicadélicos do grupo –
fotográfica “convencional”, de alguma forma prendeu a atenção do
quatro fortemente solarizados retratos individuais a cores e um de grupo
público.
a preto e branco, tirados com uma câmara Rolleiflex e uma lente Planar normal. Em 1969 fotografou o Movimento Anti-Guerra nos Estados
As suas fotografias em grande formato de errantes, mineiros, cowboys
Unidos e em 1970 foi para o Vietname como fotógrafo documental.
e outras pessoas do Oeste dos Estados Unidos tornaram-se um livro best-seller e uma exposição itinerante intitulada In the American West,
Em 1990 deixou a Vogue e em 1992 tornou-se o primeiro fotógrafo
e é vista como um importante marco na fotografia de retrato do século
de quadro da The New Yorker. A par do trabalho para esta publicação,
XX, para alguns o magnum opus de Avedon. Comissariada pelo Amon
Richard fez muitas exposições pelo país, incluindo uma na Smithsonian
Carter Museum em Fort Worth, Texas, foi um projecto de seis anos de
Instituion. Também publicou diversos livros ao longo dos anos e deu
Avedon iniciado em 1979, que deu origem a 125 retratos de pessoas do
várias aulas de fotografia.
Oeste americano que atraíram a atenção de Avedon.
Muito do estilo fotográfico de Richard pareceu ser uma compilação
Richard Avedon influenciou a fotografia de moda como nenhum outro
da sua instrução com Brodovitch e das suas experiências de vida.
fotógrafo. Ele foi responsável pela breve no entanto incrivelmente
Avedon sempre se interessou em como o retrato capta a personalidade
marcante carreira do ícone da moda dos anos 60 Twiggy, assim como
e alma do seu sujeito. À medida que a sua reputação como fotógrafo
pelas fotografias de moda de hoje. Modelos lindas mas em situações
aumentava, levou muitas pessoas para o estúdio e fotografou-as com
feias ou com movimentos que são considerados “high fashion” hoje são
uma câmara de grande formato de 8x10 polegadas. Os seus retratos
resultado do estilo pessoal de Richard. Os seus retratos de celebridades
são facilmente distinguidos pelo seu estilo minimalista, em que a
não eram nem de perto “poses” (apesar de Richard comandar os seus
pessoa olha directamente para a câmara, posando em frente de um
modelos), pareciam despir o pretensiosismo para nos mostrar a pessoa
fundo branco brilhante. Avedon por vezes provocava reacções nos
por detrás da celebridade.
seus modelos levando-os até áreas desconfortáveis de discussão ou
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destaques E-Ball Este fantástico conceito apresenta um computador em forma de esfera, e o seu tamanho é muito reduzido em relação aos portáteis e PC. O design é da responsabilidade de Apostol Tnokovski. O conceito do computador E-Ball tem todas as funcionalidades de um computador normal, incluindo rato, teclado, um grande ecrã, DVD-RW, mas todos estes elementos surgem de uma forma futurista. O teclado não é físico – surge através de lasers depois de carregarmos num botão. O ecrã não é comum, na verdade usa-se um projector. Podemos colocá-lo em qualquer superfície, como uma parede. No caso não haver nenhuma adequada por perto, apenas temos de carregar noutro botão para tirar um suporte para folhas de papel e colocar lá uma. Assim teremos um ecrã.
Lenovo Lephone A Lenove anunciou um smartphone com sistema da Google Android: Lenovo Lephone. Este possui um ecrã de 3.7 polegadas, 800x480, 1GHz Qualcomm Snapdragon, uma câmara quer na frente quer na parte de trás, A-GPS, WiFi, Bluetooth, bateria removível e entrada para headphone de 3.5mm. E, o melhor, tem ainda um acessório óptico para teclado. Vai ser lançado primeiro na China.
Apple Tablet Depois de um rumor que durou vários anos o tão falado Apple Tablet foi finalmente lançado. Um leitor de CD portátil de 10 polegadas, leitor de livros e iPod Touch ao expoente máximo? Sim, a Apple acertou em cheio com os seus Macbooks, iPods e iPhone, mas esta proposta que é algo entre um iPhone e um Macbook levanta algumas questões - e algumas possibilidades de falhar. Será que vai ser um sucesso... o melhor é aguardar!
Leo Burnett Lisboa comunica IndieLisboa 2010 A Leo Burnett Lisboa foi escolhida pelo IndieLisboa para desenvolver a sua campanha publicitária deste ano. A 7ª edição do Festival Internacional de Cinema decorrerá entre 22 de Abril e 2 de Maio em quatro salas emblemáticas da cidade a anunciar brevemente.
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Portfólios, artigos, novos talentos e muito mais...
Próxima Edição Primavera
A não perder tudo o que espera da directarts...
...e o que não espera também. Edição 06, DirectArts no feminino!
Errata: Na edição anterior da Directars, na capa do suplemento de fotografia, por lapso surge o nome de Nuno Oliveira, onde deveria constar Nuno Cera, ainda no interior do suplemento em novos talentos, no portfólio de José Ferreira foi colocado www.joseferreira.com em vez de http://www.joseferreira-photographer.com/. Pelo sucedido, apresentamos as nossas desculpas.
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