Directarts #02

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david gonçalves

DESIGNER SEM FRONTEIRAS

paulo martins

ME-MYSELF-AND-I.COM

mário belém & thestudio

PROSTITUTAS DAS ARTES

00002

€ 6,95 | ABR/MAI/JUN 2009 | EDIÇÃO 02

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índice exposição

10 Rodrigo Oliveira – Um diálogo com a arte conceptual

entrevista

18 Jorge Colombo – Marcas do Tempo 26 Ricardo Tércio – No mundo dos super heróis

passaporte 30 Paulo Martins – Criativo 180 Amsterdam

portfólio

40 Mário Belém & thestudio – “Somos trabalhadores do coração” 52 David Gonçalves – Designer sem fronteiras

artigo

62 Procura-se sócio 64 A História do Design em Portugal #3

72 IP Solutions: Propriedade Intelectual 74 Drª Manuela Carlos – Ser criativo à beira do Tejo 78 José Fortes – “Eu, Técnico de Som”

tutorial

80 Photoshop: Workflow, por Alberto Plácido

novos talentos

86 Ilustração: Guiomar Teles Sandra Nascimento Luís Araújo

Capa - thestudio “Acho que está a haver um boom em termos de qualidade, que se estende a outras áreas, como música, gráfica… Viajo muito pela Europa e vejo que o que é português é bom, estamos acima de muitos países considerados bons.” Mário Belém

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editorial

Propriedade CMAD – CENTRO DE MEDIA ARTE E DESIGN, LDA. Rua da Boavista, Nº102 – 2º Piso 1200-069 Lisboa, Portugal Telefone: 932 530 139 Ext.508

Bem-vindos à nossa terceira edição. Sim, acredito que encontrámos a nossa linha editorial. O nosso principal objectivo é dar a conhecer o talento português dentro e fora de fronteiras, e este número não é excepção. Desta vez tivemos a sorte e o privilégio de mostrar os talentos de Mário Belém, Paulo Martins, David Gonçalves, entre outros talentosos artistas que marcaram a sua posição em Portugal e no estrangeiro. Estas são algumas das pessoas talentosas que formam a comunidade artística e das quais nos devemos orgulhar e admirar. Os portugueses tendem a desvalorizar e, por vezes, até mesmo ostracizar aqueles que se destacam dos restantes, e que querem mais que a mera norma. Como é possível ser necessário por vezes ter exposição além das nossas fronteiras para ganhar reconhecimento em casa? Não temos confiança em nós mesmos para reconhecer quando o nosso trabalho é bom, então merecemos uma hipótese de mostrar a excelência e, mesmo quando não se é perfeito, pelo menos merecemos a oportunidade de dar o nosso melhor? E quando se é muito bom, não temos também de ser monetariamente reconhecidos? Tal como o Mário Belém, da thestudio, menciona no seu artigo, “recebemos muitas palmadinhas nas costas, mas o meu sócio é que nos diz para deixarem de nos bater palminhas, comecem a atirar moedinhas!” Será que precisamos da aprovação do resto da Europa ou, por vezes, das Américas, para encontrar a nossa identidade? É cultural, sócio-económico ou político o que nos mantém sempre aquém do reconhecimento? Naturalmente não é a função desta revista debater estas questões. É sim da responsabilidade da directarts continuar a pesquisar e criar os laços entre os artistas e a comunidade artística, para alcançar uma sinergia e expor os novos talentos, que estão agora a chegar, juntamente com os profissionais que tomam as decisões e que estão sempre a olhar para a próxima fonte criativa. Com a persistência da directarts vamos, a seu tempo, participar do desfile criativo europeu e não ficar numa posição lateral longe da multidão, e é porque nós merecemos estar lá, não seremos retidos pelos nossos próprios preconceitos e falta de visão. Para todos os nossos designers, ilustradores, cineastas, fotógrafos, produtores e artistas conceptuais, e para todos aqueles que têm um apreço por todas as artes, continuem a fazer o que fazem, e nós na directarts vamos continuar a fazer a nossa parte.

Carlos Duarte

RMD

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Direcção Editorial/Criativa Carlos Duarte carlos_duarte@directarts.com.pt Direcção-Adjunta Editorial/Criativa Lia Ramos lia_ramos@directarts.com.pt Direcção Financeira Vasco Costa Direcção Marketing/Comercial Paula Ramos paula_ramos@directarts.com.pt Edição/Jornalismo Catarina Vilar Paginação Pedro Álvares Cabral Impressão Fernandes & Terceiro, S.A. Rua Nossa Sra. da Conceição, 7 2794-014 Carnaxide Tel.: +351 21 425 92 00 Fax: +351 21 425 92 01 www.f3@fterceiro.pt e-mail: f3@fterceiro.pt Distribuidora Logista Distribuição Edifício Logista, Expansão da área Industrial do Passil Lote 1 A - Palhavã, 2894 - 002 Alcochete Telm.: +351 91 725 04 91 Telef.: +351 21 926 78 00 Fax: +351 21 926 78 10 e-mail: diogo.homem@logista.pt www.logista.pt Tiragem: 7000 exemplares Preço (IVA incluido): € 6,95 Periodicidade: Trimestral Registo de Publicação: nº 436566

www.directarts.com.pt anunciantes@directarts.com.pt assinaturas@directarts.com.pt info@directarts.com.pt


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fórum

POR NÓS, PARA NÓS. É designer, fotógrafo, criativo de qualquer uma das áreas que encontra na directarts? Então temos uma proposta a fazer. Que tal uma visita ao nosso site para deixar comentários, opiniões ou críticas (nós aguentamos!). Está a dar os primeiros passos na profissão? Esperamos pelo portfólio. Somos uma revista que pretende divulgar os trabalhos dos leitores e talentos, os novos e os já estabelecidos.

Fórum

Contacte-nos em: www.directarts.com.pt ou info@directarts.com.pt

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exposição

Rodrigo Oliveira

RODRIGO OLIVEIRA Entrevistas por Catarina Vilar / Pesquisa por Lia Ramos

UM DIÁLOGO COM A ARTE CONCEPTUAL A reinterpretação das acções mais mundanas ou dos espaços mais banalizados ajuda-o a questionar a arte, mas também a sociedade, a

do desenhava, no chão de areia do recreio da escola, plantas de casas à escala real.” Fica a reflexão.

economia, a política. Passa assim a dimensão do puramente estético e

É em Lisboa que trabalha e desenvolve as suas peças, encarando o

entra na da reflexão. Tem a ironia como seu fiel aliado nesta aborda-

seu estúdio como um refúgio, um espaço onde se dedica mais à con-

gem, como passaporte para o absurdo. Assim Rodrigo Oliveira encara

cepção e menos à produção. Ali rodeia-se de objectos que colecciona,

o propósito artístico e entra no universo do conceptual.

de maquetas, protótipos, experiências com materiais, fotos de pesquisa,

Aos 31 anos, e olhando para trás, o designer industrial acredita que

livros e desenhos. Mas reforça: “O que mais fascina no meu ‘cubo’, de-

desde sempre esteve ligado à expressão artística. “Acho que sempre fiz

corado predominantemente a preto e branco, é a vista para o rio Tejo.”

arte quando senti uma enorme liberdade de fazer coisas que alteram ou

Trabalha essencialmente fora de portas, porque a criatividade não tem

subvertem o quotidiano normal das pessoas, dos objectos e dos lugares.

portas nem limites. Com o bloco por companhia, a imaginação pode

Acho também que se começa a fazer arte quando há uma consciên-

surgir em qualquer local. Dada a essência das suas criações, muitas

cia do que se quer dizer e do modo como se quer comunicar.” E essa

vezes trabalha site-specific, é no próprio local da exposição que tudo se

consciência passa também pelo conhecimento do sistema, da interdis-

desenrola. Quando ainda não tinha estúdio era este o seu método quase

ciplinaridade entre áreas e da sua história ao longo do tempo. “No meu

obrigatório, mas o conceito começou a ganhar cada vez mais sentido,

caso, fazer arte é também a busca constante da sua própria definição.”

independentemente da inicial necessidade, “achei que o meu trabalho

Agrada-lhe essencialmente pensar que, num primeiro vislumbre, as

podia ser mais profundamente ligado aquilo que eu acho que é uma

suas obras não são imediatamente apreendidas como artísticas. E vai

intervenção”.

mais longe: “Muitas vezes fico confuso e penso se não seria Arte quan-

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exposição

Rodrigo Oliveira

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QUANDO UMA IDEIA GANHA VIDA Muito diversificado na sua busca, colecciona de tudo um pouco e

de partida os conceitos de desmaterialização, vazio e ciclos de trans-

deixa-se conquistar por objectos encontrados na rua, outros que com-

formação. “O principal objectivo do meu trabalho, é talvez, explorar

pra em supermercados ou que lhe despertam a atenção nas prateleiras

a condição do individual num mundo dominado pelo colectivo, pelos

das lojas de chineses. Claro que nem tudo passa por uma pura visita a

modelos culturais e económicos, propondo uma reflexão sobre os me-

um espaço comercial, interessa-se sobretudo por objectos que tenham

canismos de identificação e participação usados na arte e na vida quo-

de passar por uma produção mais industrial. “Recorro a fornecedores e

tidiana”, reforça.

às respectivas oficinas de transformação dessas matérias-primas. A mi-

Com uma carreira artística curta em anos mas extensa em trabalho,

nha obra está em grande parte marcada pela necessidade de pesquisar

soma exposições, colectivas e individuais. Na mais recente passou pelo

aspectos relacionados com a natureza da prática escultórica, mas sou

Porto, no início de 2009, com Da Obra ao Texto, na Galeria Presença,

um artista que trabalha qualquer tipo de meio, consoante a situação que

e até já tem o seu próprio catálogo, intitulado Uma Pequena Revira-

se apresenta.” Já fez peças com autocarros de sucata, estruturas de aço

volta.

inox, com malas de contrafacção e ouro de 18 quilates. Um recurso ecléctico aos materiais.

Um ponto de partida: perceber em que espaço se vai realizar a exposição e depois interpretá-lo. É que as peças “existem numa espécie de

Tem a máxima de que o imprevisto é um dos componentes de todo

incubadora onde cada solução vai sendo pensada e amadurecida até se

o processo de criação, e acolhe-o sem dramas. Muitas ideias precisam

chegar ao tal click, que as torna excepcionais, terminadas ou resolvi-

de tempo de maturação, podendo passar vários anos entre o surgimento

das”. No seu trabalho From Work to Text fez-se acompanhar durante

do conceito e a sua materialização. Conjuga a razão, intuição e emoção

vários anos por fotocópias de um texto de Roland Barthes, e no recente

e, por fim, tem de sentir que o Mundo precisa de mais um objecto no

Avril au Portugal demorou dois anos a recolher 65 versões diferentes

seu infindável espólio. O que pretende é que a peça questione, anali-

da mesma música, interpretada por vários autores, e só ao fim desse

se, promova a reflexão, e não puramente se limite a funcionar como

tempo surgiu o contexto adequado para a expor: a presidência da Repú-

adorno. “O meu processo insere-se numa metodologia de teste e ex-

blica em Belém. Defende que todas as exposições que faz constituem,

perimentação, em que acerto, erro, volto atrás, sigo para a frente... Os

cada uma à sua maneira, um desafio, no entanto destaca 7/10, na Gul-

desenhos estão sempre presentes, muitos dos problemas que cada peça

benkian, onde apresentou a peça Basculantes; Mural-Carpete (constru-

me possibilita e me desafia são resolvidos através do desenho como

ções complexas), no Parlamento Europeu; Sobre o Leite Derramado,

ferramenta de pensamento.” Defende que grande parte da sua investi-

na Bienal de S. Tomé e Príncipe; Eurobuzz em Bruxelas na exposição

gação é materializada em objectos e instalações que têm como ponto

Europália e O Grande Lago no Museu da Luz, no Alqueva.

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AS BASES DO CONHECIMENTO À licenciatura em Escultura na ESBAL

tistas que são ícones referenciais no circuito

seguiu-se a passagem pela escola de artes vi-

artístico.” Depois é encontrar a metodologia

suais Maumaus e um ano de programa Eras-

certa para os tratar. Há uma busca constan-

mus em Berlim. O voo seguinte foi para um

te por novas metodologias de trabalho e por

mestrado em Fine Arts no Chelsea College of

desenvolver e melhorar as que já estabeleceu

Art & Design londrino. Nesta última experi-

e encontrou. “Os meus pontos de partida são

ência académica destaca a troca de experiên-

basicamente, e em primeira instância, ima-

cias com outros artistas. Rodrigo Oliveira tem

gens de diferentes proveniências: arquitec-

noção de que se exprime num universo muito

tura, documentação histórica, filmes, artigos

particular, numa época de experimentação:

de jornais e de revistas, bancos de imagens.

“Eu sou de uma geração que assistiu à mas-

Também me interesso pelos dispositivos de

sificação e desenvolvimento da divulgação

arte e o modo como as coisas se tornam cada

teressou pelo estudo da atitude complexa da

da arte em diversos suportes. Estudar arte ou

vez mais académicas ao longo do tempo, tais

escultura portuguesa, passando para lado mais

fazer arte nunca foi tão trendy como agora.

como a estética minimal ou as formas de do-

quotidiano do cruzamento dessa história com

Aliás, hoje, muitas exposições passaram a ser

cumentação e processos da arte conceptual

factores políticos, sociais, sexuais, culturais

virtuais. Não é preciso deslocarmo-nos fisica-

como elementos e estratégias subversivas”,

e económicos. “Depois fui confrontado com

mente, podemos fazer visitas pela Internet…

desvenda o artista.

a obra de Dan Graham, Robert Smithson e

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Nunca é a mesma coisa mas o acesso é muito

Não lhe faltam influências, de Ângela Fer-

Lothar Baumgarten (meu tutor em Berlim),

mais fácil e rápido. Gera-se um outro tipo de

reira a Michael Sailstorfer ou Felipe Barbosa.

ao mesmo tempo que via os filmes de Leni

conhecimento.”

Valoriza o pensamento formal e conceptual

Riefenstahl ou os vídeos das experiências

O processo criativo vai-se desenrolando de

e a diversidade de meios de Gabriel Orozco,

sensoriais e os objectos minimalistas terceiro-

forma natural, através da recolha de imagens,

Jonathan Monk, Ceal Floyer e Rivane Neuns-

mundistas da Lygia Clark. O sublime das ins-

que vai arquivando, de objectos que vai colec-

chwander. “As grandes e aparatosas insta-

talações simples e depuradas do Donald Judd

cionando, da realização de experiências com

lações de Elmgreen & Dragset, os projectos

e a beleza aparentemente simples do Felix

materiais que encontra. “Muitas vezes gosto

específicos de Ayse Erkmen. A intuição de

González-Torres estão sempre presentes no

também de dialogar com obras de outros ar-

Marepe.” Foi no início dos anos 90 que se in-

meu ideal.”

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exposição

Rodrigo Oliveira

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O PODER DA DESCONTEXTUALIZAÇÃO Com Cubo Branco, de 2001, e Cubo Branco

percurso de Rodrigo Oliveira a descontextua-

so Restrito), em que podemos ver diversos

(Acervo), de 2002, quis questionar a relação

lização assume um papel de destaque, mas não

porta-chaves brancos pendurados um quadro

entre a arte e o espaço que a rodeia. Em “In

numa lógica de ready made. A ideia do artista

de chaves, também ele branco, com regras de

Situ”, 2002, reflectiu sobre as formas de ver,

nacional passa pela sua alteração. “Há sempre

urbanização e habitação de condomínios fe-

a essência do olhar, assim como o antagonis-

uma desconstrução e uma alteração funda-

chados. “Os cadeados também comentam essa

mo entre o trabalho em site-specific e a ceno-

mental que os torna inúteis na sua metáfora

sensação de clausura, de protecção, mas não

grafia. Já em Warehouse (Restricted Access)

ou úteis na sua poética. Quando trabalhei com

significam isolamento. Interessava-me falar

colocou-se no papel do visitante de uma expo-

caixas de correio, Caixa (Acesso Restrito) #1

das relações emocionais que os objectos e, em

sição e sua relação com a galeria.

e #2 e Casa Geminada (Acesso Restrito), de

última instância, a arquitectura da casa que lhe

Nem sempre uma obra fica restringida entre

2003, estava muito interessado no modo como

é directamente associada convoca.” Nas alian-

quatro paredes, há até algumas que são con-

essa caixa pode representar uma casa e os seus

ças unidas, We Could Be in This Together, de

cebidas para ficar lado a lado com a natureza

habitantes. Estava fascinado com a ideia de

2007, o artista propõe “um jogo de sedução

mais rebelde. É o caso de Remote Places, con-

poder conceber uma peça de canto porque ti-

sexualizada”.

cebido em 2006, em que colocou um enorme

nha lido um texto em que o canto é definido

(Sobre) mesa, 2006, incorpora uma diversi-

interruptor numa rocha junto à beira-mar. Ab-

como sendo ‘um refúgio que nos assegura um

dade de mesas que, da forma como são dis-

surdo? Ironia? Abordagem estética? “Deslo-

primeiro valor do ser: a imobilidade’. Estava

postas, deixam de servir o seu propósito pri-

car e descontextualizar um objecto, para este

muito interessado nisso e na relação que uma

mordial e passam a ser outros objectos: “Este

ganhar um novo contexto fora do seu ambien-

peça pode ter com a sua impractibilidade. Tor-

trabalho é um work in progress e das quinze

te original, é algo que me interessa.” Fica des-

nava-se impossível abrir a caixa de correio,

mesas diferentemente inventariadas, cada uma

vendada parte da interpretação do criador.

logo, era a meu ver uma situação de incomu-

estabelece uma relação com linguagens escul-

nicabilidade.”

tóricas que podemos reconhecer do trabalho

Tal como Marcel Duchamp elevou um urinol ao nível de obra de arte ao propô-lo para um

Uma reflexão sobre o comportamento social

concurso de artes americano, também para o

foi explorada em Quadro Branco nº 1 (Aces-

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de Donald Judd, Gabriel Orozco, Lawrence Weiner, entre outros.”


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11 01 – FROM WORK TO TEXT #2 - 2008 Colagem sobre papel fabriano, resina acrílica Dimensões: 196 x 146 cm Colecção João Pinto Sousa 02 – CUBO BRANCO [ACERVO] - 2002 Objectos e materiais vários retirados da cave do local de exposição, vídeo VHS, cor som 6” loop, vídeo e monitor. Dimensões variadas. Fórum Lisboa, Antigo cinema Roma. Destruída após a exposição. Cortesia Galeria Filomena Soares 03 e 04 - LUGARES AUSENTES [SECA] - 2007 Construção feita com mais de 150.000 palhinhas agrupadas e derretidas formando uma paisagem orgânica. Palhinhas, resina, madeira e cartão. Dimensões: 300x300x140cm Cortesia Galeria Filomena Soares

05 - WE COULD BE IN THIS TOGETHER - 2007 Cadeado em inox com inscrições gravadas. Dimensões: altura do artista 175cm Cortesia Colecção Peggy Guggenheim 06 - WE ARE IN THIS TOGETHER - 2007 Aliança dupla em ouro (13,1g) 18 quilates Com inscrição gravada. Dimensões: 4,2x 2,3x0,5cm Edição de 5 + 2PA. Cortesia Galeria Filomena Soares 07/08/09 – IN SITU - 2002 Objectos vários e tintas coloridas feitas em 17-6-2002: colete de caça com cartuxos e charriot, candeeiro de jardim, 0560-G80Y. Dimensões variadas, cada círculo 200 cm de diâmetro. Cortesia Galeria Filomena Soares

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exposição

Rodrigo Oliveira

10 – BASCULANTES - 2005 Duas portas metalizadas basculantes que Abrem e fecham ininterruptamente, revestidas Com aço inox canelado, sistema de sensores e mecanismos. Dimensões: 290x250x 7 cm(cada) Pintura mural realizada com material inflamável utilizado na fabricação de fósforos, extintores de incêndio, elaboração de plano de segurança e emergência. Dimensões variam consoante a instalação. Rampa com estrutura metálica revestida a madeira pintada, marcas de circulação inscritas no chão, alteração de iluminação do espaço. Dimensões: 550x592x297cm Dim. total da instalação: 1100x 600x297cm Cortesia ColeçãoManuel Rios 11 - CASA GEMINADA [ACESSO RESTRITO] - 2003 Díptico de caixas do correio em metal pintado com tintas de esmalte branco e preto. Dimensões: 67x41x31,5cm Cortesia ColecçãoManuel Rios 12 - SOBRE O LEITE DERRAMADO - 2008 Pintura mural. Dimensões: 1450x420cm Cortesia Galeria Filomena Soares 13 - CUBO BRANCO - 2001 Construção de aglomerado de madeira pintado de branco e cinza no interior, texto de parede (bilingue) em vinil autocolante laranja com letras tipo Arial.

Dimensões: 4000x500x245cm Welcome Centre de Lisboa. Destruída após a exposição. Cortesia Galeria Filomena Soares 14 – AVANÇADOS - 2005-2008 Esferográfica, marcador e tinta-da-china s/papel. Dimensões: 40,5x48,5cm (c/moldura) cada. Cortesia Galeria Filomena Soares 15 - IMPACTO – ESCULTURA INFLAMÁVEL#3 - 2005 Escultura combustível / inflamável. Fósforos, caixas de fósforos, cartão, pó químico de extintor, estrutura e base em madeira. Dimensões: 350x130x250cm Cortesia ColecçãoManuel Rios 16 – METRÓPOLE - 2006-2007 Construção feita em cubos de açúcar como se fossem tijolos seguindo os modelos originais de construção em tijolos usados da arquitectura Inglesa, protótipo testado com açúcar Tate. +150 kg de açúcar, cola e madeira (construção desmontável e modular). Dimensões: 230x210x220 cm (composta por 6 partes articuladas movíveis) O resultado da escultura depende do desgaste e erosão provocada pelas formigas que podem aparecer na peça (dependendo da estação do ano) criando desenhos negros em movimento e modificando progressivamente as superfícies construídas numa lógica entrópica de transformação. Cortesia Coleção Pedro Cabrita Reis

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17 - MURAL-CARPETE [CONSTRUÇÕES COMPLEXAS] - 2007 Alcatifa e painéis de pvc impressos. Dimensões variam de acordo com a instalação. Cortesia Galeria Filomena Soares 18 - MAN PATTERN – 2005 Cortesia Galeria Filomena Soares

19 – DESENHOS SEM TÍTULO [CONFETTI] - 2008 Mais de 100 desenhos transformados manualmente em confettis. Peça de chão. Materiais vários sobre papel, cortante manual. Dimensões variáveis consoante a instalação. Caixa de transporte em metal branco (composta por 3 unidades: 35,5x29x15,5 cm e 2 unidades 34,5x13,5x14,5 cm). Cortesia Galeria Filomena Soares

PROJECTOS ARQUITECTÓNICOS Palhinhas, caixas de fósforos ou torrões de açúcar, objectos comuns que são reaproveitados para servir outros propósitos que não o da utilidade ou consumo. Transformam-se em obras de Arquitectura. Foquemo-nos em Lugares Ausentes (Seca), composto por blocos de palhinhas esculpidos com um ferro de soldar que as derrete e as cola. “Queria fazer uma paisagem e deixar espaços em aberto como se faltasse algo, uma casa, um reservatório de água, uma construção.” Fortemente influenciado pela Arquitectura, Rodrigo Oliveira revela que esta “acaba também por ser uma fonte de simbolismo e uma fonte de referências a muitas coisas que se passaram, que se estão a passar e que ainda estão por vir. Flanerie d`interior, fala nitidamente dessa sexualidade dos espaços. Refugiei-me, várias vezes, nos textos de Beatriz Colomina para abordar estas questões, ou em Mural Carpete (Construções Complexas) onde essa sexualização do espaço é menos óbvia mas mais complexa, e serve de mote para introduzir a relação entre o mural e a arquitectura no meu trabalho”. Milhares de formas descartáveis de comida take-away serviram o

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propósito de Iberian Guggenheim Marmitex (accidented sculpture #1), 2006, uma maqueta do Museu Guggenheim de Bilbao. “O efeito decorativo do material é levado ao extremo na construção de pináculos, torres e pormenores, de modo a criar um exotismo meio arábico, meio ortodoxo ou meio oriental. Parti de uma referência universal de templo enquanto local sagrado. O modo como a cultura é exportada e as peregrinações em torno dos grandes museus foram os principais aspectos metafóricos que me fizeram trabalhar com o material utilizado.” O consumo artístico em análise numa obra que se encontra em constante mutação, num eterno work in progress. Mais do que os elementos naturais, também o mundo animal tem a sua intervenção na obra do designer. Metrópole, 2007, composta por

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torrões de açúcar, é uma cidade que foi concebida para ter intervencionada por formigas, que acabarão o processo de moldagem da peça. Trabalho em mutação, dependente de factores ambientais ou animais, mas não só. Porque não conceber uma peça para assistir à sua destruição? Impacto Escultura, Inflamável, leva-nos para esse nível. “Interessava-me trabalhar essa situação de impasse, de um objecto agradável que à partida parecia inofensivo mas que tinha sempre a arma em riste e que, simultaneamente, obriga a uma gestão muito cautelosa. Daí o nome da primeira escultura ter sido Perigo Iminente (Escultura Inflamável)”, adianta. As esculturas inflamáveis como Impacto e Colapso são também maquetas de edifícios feitas a partir de caixas de fósforos que acabaram por ser consumidas pelas chamas do fogo que é originado pelos fósforos contidos em cada caixa e que se situam na base de

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cada peça. Uma morte pensada, anunciada e contemplada. Rodrigo Oliveira - studio.rod@gmail.com - http://www.rodrigooliveira.com Agradecimento: Maria João Ribeiro - bloodymary@tugaland.pt

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entrevista

Jorge Colombo

JORGE COLOMBO MARCAS DO TEMPO 01

Texto por Alenxadre Santos - info@tricksareforkids.net

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Nasceu em Lisboa em 1963. Trabalhou como ilustrador e designer

fico em colaboração com Inês Pedrosa; e Lisboa Revisitada (2009), fo-

e foi o director gráfico inicial de O Independente. Em 1989 mudou-se

tografias colorizadas inspiradas em poemas de Álvaro de Campos, para

para os Estados Unidos, onde casou com a artista Amy Yoes. Viveu em

uma exposição na Casa Fernando Pessoa. A partir de 2003 começou a

Chicago, em São Francisco e, desde 1988, em Nova Iorque. Continuou

trabalhar em vídeos digitais, inicialmente apenas com um minuto cada

a trabalhar como ilustrador e designer e também, a partir de 2000, como

mas ultimamente um pouco mais longos.

fotógrafo. Jorge Colombo publicou o seu trabalho em diversas revis-

No meu imaginário de ilustradores favoritos o Jorge Colombo sem-

tas americanas. Em Portugal publicou três livros: Fullerton (1999), o

pre será uma referência incontornável e, claro, foi uma escolha natural

catálogo da sua retrospectiva de desenhos dos anos 90 na Bedeteca de

quando decidi colaborar com a DirectArts.

Lisboa; Do Grande E Do Pequeno Amor (2005), um romance fotográ-

DirectArts - Na exposição Lisboa Revisitada, como foi voltar a

Um dos meus primeiros contactos com o seu trabalho foi na capa

uma cidade que tão bem conhece, ou conhecia?

de Menos Que Zero, de Brett Easton Ellis, edição portuguesa, e o

Jorge Colombo - Tentei o mais possível esquecer-me do que sabia dela,

que mais me impressionou foi que pensava que a sua capa era

de modo a descobri-la tal como me aparece agora.

proveniente da edição original. Não tinha personagens, mas ti-

Acha que foi mais fácil, devido ao seu distanciamento físico e es-

nha um certo ambiente, sempre lhe foi fácil captar atmosferas?

piritual, interpretar as visões heterónimas de Fernando Pessoa,

Claro que quando eu fiz a capa do Menos Que Zero nunca tinha estado

o Álvaro de Campos?

em Los Angeles; agora que já lá estive (e detestei) acho muito pouco

Claro, não são só a arquitectura e a toponímia que mudam, a própria

exacta, podia ter feito melhor. Mas continuo a gostar da capa, porque

paisagem humana é diferente. Apesar das conexões que conservo, há

sei que quis dizer muito para muita gente; bem ou mal foi um ícone

um sentimento de me ter ausentado, excluído, que é muito explorado

dos anos 80, e dou graças por ter tido a sorte de ter sido eu a fazê-lo.

pelo Álvaro de Campos. Assinale-se que Fernando Pessoa consegue

Numa noitada à pressa, depois de ter tido a ideia às tantas da manhã,

o efeito por meios puramente ficcionais – o Campos nunca existiu, o

no Frágil...

Pessoa passou a vida adulta inteira no mesmo sítio –, enquanto eu de

Nesse tempo já fotografava? Era uma espécie de repórter, pelo

facto tive de me expatriar para fazer isto...

que li. Que imagens guarda com mais carinho dessa altura?

Sei que pretendeu dar uma certa intemporalidade a essas ima-

As de toda a gente que morreu. Ou dos que não morreram mas são

gens, pintando-as para acentuar alguns aspectos. Fê-lo digital-

outra coisa diferente. Umas poucas pessoas que miraculosamente não

mente?

mudaram quase nada – devem dormir em criogénio –, mas em vinte ou

Tudo, tudo digital. Há sempre a celeuma do digital contra o analógico,

trinta anos muda tanta coisa…

no meu caso é assim: admiro incontáveis coisas feitas sem computa-

Ainda hoje é um coleccionador compulsivo de imagens? Não se

dores, tenho todo o respeito, eu próprio faço imensa coisa à mão, mas

cansa?

para mim trabalhar à máquina é uma extensão natural da forma como

Não, preciso de olhar para elas, inspiram-me. Há meia-hora estive a

penso, como faço e desfaço e organizo e emendo. Trabalhar sem rede é

pôr no meu iPhone imagens do David Hockney e do Guy Peelaert, só

uma estratégia forte, tem de se acertar à primeira, mas eu adoro poder

porque queria andar com elas no bolso.

multiplicar versões à velocidade quase do pensamento.

Na América foi chegar, ver e vencer, ou abdicou de muito para

Recuando no tempo e mudando de temática, sei que não tem

estar onde está?

uma formação base de artes. Nos anos 80 esse tipo de curricu-

Passo a vida a dizer: em Portugal vive-se com muito mais conforto, e

lum não era tão importante porque tudo era tão novo, o funda-

todavia Nova Iorque estimula-me muito mais. Mas foi uma trabalheira:

mental era ter uma certa atitude e vontade?

no início porque trazia métodos de trabalho perfeitamente inadequa-

A falta de educação foi um drama: bem gostava eu de ter sido ensinado

dos, e depois porque a concorrência é brutal, tem tanta gente interes-

por gente competente. Em vez disso achei-me nas mãos de imbecis a

santíssima, e temos que conservar a atenção dos clientes.

impingir-me Geometria Descritiva. Saí das Belas-Artes sem acabar o

Actualmente que trabalho desenvolve mais? Fotografia ou Ilus-

primeiro ano, e passei a trabalhar profissionalmente com a tal “atitude e

tração?

vontade.” Honestamente acho que era tudo um bocadinho fraudulento,

Actualmente ando a fazer desenhos num iPhone! Há um programazi-

os meus hábitos de trabalho eram desorganizadíssimos e a estratégia

nho chamado Brushes que permite pintar com os dedos no ecrã com

era inexistente; mas uma certa mistura de intuição, descaramento e

razoável subtileza. Têm sido bastante vistos, houve vários artigos pu-

apoios permitiram-me safar-me.

blicados e imensas referências na Web. É o género de coisa que interes-

Pode destacar alguns trabalhos dessa altura?

sa às pessoas, o efeito da novidade.

A colecção de desenhos que fiz para o JL entre 1984 e 1985, quando era dirigido pelo Mega Ferreira. Tenho feito coisas muito mais acabadas, mas nunca mais com aquela espontaneidade e sinceridade. Foi o meu Indra Club.

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entrevista

Jorge Colombo

Como é que se adaptou nos últimos anos com o advento da

mou haikus cinematográficos – são todos feitos com uma câma-

massificação e do uso da Web e do digital? Acha que o seu

ra fotográfica digital, que anda sempre comigo, na função vídeo.

trabalho foi influenciado?

Aproveito-a para tirar partido de imagens cujo movimento – ou

No meu caso o pré-digital é como a Idade da Pedra: usava-se o que

ausência dele – merece ser registado.

havia porque não se tinha inventado melhor. Todo o trabalho que

E para quando uma longa-metragem? Tem ideias para tal?

fiz pré-computadores tinha-me dado imenso jeito tê-los à mão na

O principal é conseguir trabalhar com os mesmos recursos míni-

altura. Não é só para a execução, note-se; por exemplo, o Google

mos com que tenho trabalhado até agora. A ideia de trabalhar com

Images hoje em dia é uma ferramenta essencial para arranjar ima-

uma “equipa” não me tenta, embora a maior parte dos filmes de

gens de referência. É difícil pensar que vivemos sem isso durante

que eu gosto as usem.

tanto tempo. E a capacidade de colocar imagens e textos instanta-

Num futuro distante pensa voltar de vez ao nosso canto à

neamente no nosso site ou nalgum fórum público é preciosa.

beira mar plantado? Ou não tem essa coisa tão portuguesa,

Os seus filmes de um minuto são consequência natural de

a Saudade?

querer registar algo, passando da imagem sequencial para

Espero bem que não: há tantos lugares onde gostava de viver e

imagem animada?

ainda não vivi, porque hei-de eu vir a gastar tempo num lugar onde

Os meus filmes de um minuto – que a Maria de Medeiros cha-

já estive 26 anos?

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“HÁ TANTOS LUGARES ONDE GOSTAVA DE VIVER E AINDA NÃO VIVI, PORQUE HEI-DE EU VIR A GASTAR TEMPO NUM LUGAR ONDE JÁ ESTIVE 26 ANOS?” 01/03/04/05) Retratos de novaiorquinos vislumbrados na rua. Projecto pessoal. 02) Ilustração digital para o Village Voice. 06) Jorge Colombo, autoretrato no Odessa Restaurant. Foto digital, colorizada. 07) Fotografias para “Do Grande e do Pequeno Amor,” um romance fotográfico em colaboração com Inês Pedrosa. Fotos digitais.

08/09/10/11) iSketches, desenhos feitos com o dedo no écran dum iPhone, sem recurso a fotografia. 12) “Lisboa Revisitada,” uma série de fotografias sobre poemas de Álvaro de Campos, um heterónimo de Fernando Pessoa. Foto digital, colorizada.

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entrevista

Jorge Colombo

“No meu caso o pré-digital é como a idade da pedra: usava-se o que havia porque não se tinha inventado melhor.”

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entrevista

Jorge Colombo

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Jorge Colombo - http://www.jorgecolombo.com/

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entrevista

Ricardo Tércio

RICARDO TÉRCIO NO MUNDO DOS SUPER-HERÓIS

PRIMEIRO VEIO UM RUMOR E DEPOIS A CONFIRMAÇÃO. HAVIA PORTUGUESES A TRABALHAR PARA A MARVEL, ENTRE ELES RICARDO TÉRCIO. ELE PERTENCE A UMA NOVA GERAÇÃO DE ILUSTRADORES MULTIFACETADOS QUE NO SEU PERCURSO PROFISSIONAL PROCURA ABORDAR DIVERSAS MANEIRAS DE COMUNICAR, QUE VÃO DA BD AO VJ’ING E ATÉ À REALIZAÇÃO DE VIDEOCLIPS. IMPORTA CONHECÊ-LO UM POUCO MELHOR, E AQUI ESTÁ A ENTREVISTA. Texto por Alenxadre Santos - info@tricksareforkids.net

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entrevista

Ricardo Tércio

DirectArts - Começou muito cedo a desenhar e tinha muitos he-

Trabalhar num título mensal é duríssimo! É fazer 24 páginas em menos

róis ou um dia surgiu o gosto pelo desenho que perdurou até

de 30 dias! Nos projectos especiais tem-se um prazo um pouco maior.

hoje?

O Spider-Man fairy-tales 1, que foi integralmente feito vectorialmente,

Ricardo Tércio - Comecei aos 5 ou 6 anos a esgravatar o papel, motiva-

tive menos de 45 dias para fazer. No caso dos Avengers tive mais tempo

do pelos filmes da Disney que via no Caleidoscópio. Depois vieram os

porque estava a usar o processo clássico de lápis/clean up/scanner, que

Patinhas, Mónica, Marvel, Asterix, Lucky Luke e Spirou. Os meus pais

é mais lento.

estudavam Cinema e Teatro, de modo que também cedo estive exposto às narrativas gráficas. E o Incal Negro (Moebius/Jodorowski)... Esse

Como acha que está o panorama nacional de criação e edição

culto que me fez definitivamente apaixonar a 101% por BD.

de BD? É um mercado muito pequeno, é complicado. Penso que a Internet e o

Qual é a sua actividade principal? Teve alguma formação de base

print-on-demand vão melhorar a situação da BD nos próximos anos.

ou é um auto-didacta?

Talento há…

Sou Ilustrador, essencialmente auto-didacta. Como é trabalhar num atelier com vários autores? Deve ser estiE de repente surge um burburinho sobre vários portugueses a

mulante e fervilhar de estilos e influências.

trabalhar para a Marvel, entre eles o Ricardo, algo quase natural

Não o faria de outra forma. Não há nada que me inspire mais do que

num mundo cada vez mais global, mas como surgiu essa opor-

assistir aos processos de outros artistas. E também discutir sobre BD,

tunidade?

filmes e animação freneticamente dá-me um

Surgiu na Internet. Cheguei ao C.B.Cebulski,

gozo imenso.

que já estava a trabalhar com o meu colega João Lemos, e também era, e é, Talent Scout da Mar-

Que técnicas e materiais emprega nas suas

vel.

ilustrações/BD? De tudo um pouco: lápis, esferográficas Bic,

Acha que, talvez devido ao teor e estilo de

ecoline, aguarela, acrílico, fotografia, vectorial.

BD dessas histórias, fosse natural que a

Mexe-se um pouco e sai um produto final em

Marvel procurasse outros estilos de auto-

formato digital, mas para ser visto impresso no

res?

papel.

Estes projectos pontuais da Marvel servem também para explorar novos mercados e usar

Tem também uma actividade de realização

estilos e artistas alternativos e, de certa forma,

de videoclips musicais e de VJ, algo que tal-

testar upcoming artists.

vez muita gente desconheça. É um complemento à BD ou é mais um processo narrati-

No caso dos Avengers Fairy Tales e a adap-

vo, assim como uma espécie de alter-ego?

tação à história de Feiticeiro de Oz, a escolha de personagens do

O gosto pelos filmes acompanha fortemente o gosto pela BD e o VJ’ing

universo Marvel foi quase natural ou teve algumas dificuldades

é uma disciplina cheia de potencial cénico e narrativo, com muito a

na dinâmica das personagens? Quem as escolheu?

explorar.

Foram escolhidas pelo C.B e pelo editor, mas o que é porreiro nestes projectos pontuais é que há uma grande liberdade para criar o design

Qual o seu videoclip que queira destacar?

das personagens.

O que mais gostei de fazer, o primeiro: “O Ideal” de Nel Assassin com Sam the Kid e Sagaz. Está bastante amador, mas foi divertido fazer.

Quais as suas personagens preferidas dessa história?

Não tínhamos dinheiro mas queríamos fazer coisas, numa altura em

O Scarecrow/Thor é o mais freaky, e o Toad, que entra em três qua-

que o hip-hop “tuga” estava a ter, na minha opinião, o verdadeiro boom

drados.

inicial. Não aquele de há 12 ou 13 anos de que se fala.

Trabalhar com C.B. Cebulski é muito estimulante?

Para terminar, que trabalhos desenvolve neste momento, pode

O C.B. escreve muito com os artistas, e para eles, e até os convida a

levantar a ponta do véu?

interferir na própria escrita.

Faço Ilustração, é o meu ganha-pão principal. Editar no mercado franco-belga é um dos meus sonhos antigos. E faço material de VJ’ing

Como é o processo de trabalho com a Marvel e os deadlines?

regularmente com a Droid ID, que tem residência no MusicBox. Enfim,

Pode desvendar-nos alguns segredos?

tenho planos, o mundo do freelance é trapaceiro... mas desafiante.

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Ricardo Tércio - rictercio@gmail.com - http://mautempopush.blogspot.com

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PAULO MARTINS

“DEVEMOS EXPLORAR MAIS O EXOTISMO CULTURAL DE PORTUGAL, INVESTIGAR OS NOSSOS INGREDIENTES ÚNICOS” Entrevista por DirectArts

DirectArts: Como surgiu a opção de ir para

em várias fases muito distintas. A publicida-

maior é a escala do projecto, menor será a nos-

Amesterdão?

de tradicional levou uma volta gigante. Agora

sa influência directa. Contam-se pelos dedos

Paulo Martins: Aos 18 anos, quando fui pela

existe digital, retail, eventos, design mais pro-

as marcas globais que não se regem pelo mais

primeira vez pela Europa fora, descobri ino-

eminente.

baixo denominador comum. Existem algumas

centemente que o resto da minha existência

excepções, marcas que em vez de clientes

não teria que se confinar a um país. Desde

Trabalha com uma equipa, com copywri-

vêem fãs. São essas brechas na parede que eu

aí viajei consistentemente e, de forma natu-

ter, ou é “criativo lobo solitário”?

continuo a procurar todos os dias.

ral, acabei por eleger uma cidade para viver.

Trabalho com várias equipas. As agências em

Esta ideia consumou-se finalmente em 2001.

que trabalhei sempre promoveram a rotativi-

Ainda é confrontado com a tarefa de edu-

Amesterdão vive muito além dessa reputação

dade entre criativos. Mais recentemente na

car o cliente quando produz algo novo, ou

de drogas e sexualidade livres - que se resu-

180, e como director criativo associado, passo

o cliente nessa parte da Europa tem mais

mem a bairros turísticos. Na realidade é uma

mais tempo a solo.

conhecimentos publicitário?

cidade extremamente organizada, cheia de

Mais do que conhecimento publicitário, aqui

regras mas balanceada por uma comunidade

O que o inspira?

eles têm uma economia mais estável. Haven-

cosmopolita e criativa muito activa.

As melhores invenções surgem a partir de

do conforto existe mais disponibilidade inte-

combinações de extremos. Honestamente pro-

lectual e vontade de correr riscos.

Em que é diferente o trabalho em Ames-

curo inspiração em tudo menos publicidade,

Na minha opinião, e isto aplica-se a qualquer

terdão e Lisboa?

que é demasiado familiar.

parte do mundo, não é possível convencer um

Amesterdão alberga uma larga comunidade

cliente que não esteja disposto a correr riscos.

estrangeira, com uma rotatividade muito gran-

Ainda há algo original para fazer?

Sem correspondência natural e vontade mútua

de. Várias agências criativas escolheram a ci-

Naqueles dias de maior cepticismo deparo-me

de fazer trabalho diferente, este simplesmente

dade como poiso europeu: boa geografia, bom

sempre com trabalho inovador, que me faz

não existirá. Persuasão é um talento funda-

aeroporto, facilidades fiscais para companhias

acreditar que sim. Enquanto as sociedades, a

mental que move montanhas, mas será nulo se

estrangeiras, um íman natural com privilégios

tecnologia e linguagens progredirem, haverá

o receptor não estiver disponível.

únicos, como ir diariamente para a trabalho de

sempre necessidade de ideias e soluções no-

bicicleta, criando a melhor alternativa à lou-

vas.

Quem é o cliente difícil? Não existem clientes fáceis.

cura de Londres. O ambiente na 180 Amsterdam não será representativo de uma agência

Quais são os obstáculos que o cliente

tipicamente holandesa. Só para dar uma ideia,

pode pôr a uma peça inovadora?

Neste momento que cidades da Europa

nós somos criativos, editores, produtores, de-

Todos os dias me surpreende a criatividade

que estão a fazer coisas interessantes?

signers, estrategas provenientes de mais de

dos clientes. “Inovador” é um conceito mui-

Para além dos usual suspects em concentra-

vinte países.

to subjectivo… E a publicidade global é, na

ção de talento, como Berlim, Nova Iorque,

maior parte das vezes, um presente envenena-

Londres, Paris, Amesterdão, gosto sempre da

Como é um dia típico na 180 Amsterdam?

do. Todos nós ambicionamos o grande palco,

moda que sai de Antuérpia, do rigor inconfun-

Leve-nos a um pequeno safari criativo.

com budgets épicos, com exposição universal,

dível do design Escandinavo, do experimenta-

Hoje é difícil tipificar. Todos os dias lidamos

colaborar com os melhores realizadores e fo-

lismo da fotografia daqui.

com projectos diversos, de âmbitos diferentes,

tógrafos do mundo mas, na realidade, quanto

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passaporte

Paulo Martins

GOLD IS NEVER A GIVEN, ADIDAS. “Em Fevereiro de 2008, seis atletas da Adidas voaram para Beijing seis meses antes dos Jogos Olimpicos para treinar e se familiarizarem com a cidade. Os favoritos às medalhas de ouro sabem que vencer nunca é garantido. Desafiando temperaturas negativas, nós fomos lá para capturar estas histórias.’ ‘Acabei tão envolvido no projecto e na direcção de arte, que também acabei por fotografar várias imagens nesta campanha’.



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Paulo Martins

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TV, NIKE AIR ‘A LITTLE LESS GRAVITY’. ‘Gosto de scripts simples. Tivemos sorte em convencer o Lance Accord e o Joachin Baca-Asay para realizar este filme. Créditos redobrados para dois dos melhores directores de fotografia do Mundo (o Lance faz sempre a camera do Spike Jonze e da Soffia Coppola)’.

TV, NIKE AIR ‘A LITTLE LESS HURT’. ‘A música que usámos como place-holder no primeiro mood video sobreviveu tudo e todos. Às cavalitas do Trent Reznor, Johnny Cash e uma colecção de atletas destruídos, uma nova perspectiva sobre a dor como máxima motivação’.

FILMES ON-LINE, ADIDAS ‘GOLD IS NEVER A GIVEN’. ‘17 filmes curtos e pessoais que documentaram as ansiedades pre-olimpicas de Haile Gebrselassie, Tyson Gay, Yelena Isinbayeva, Veronica Campbell, Jeremy Wariner, Allyson Felix, seis meses antes em Beijing.’

TV. NIKE TUNED 7 ‘NICE AND NEW’. ‘Curiosamente, as filmagens deste projecto internacional trouxeram-me de volta a Portugal, que incluíu filmagens nos lugares mais obscuros e decadentes do Barreiro. “It has a London vibe” convenceu-me o realizador’.

TV. URGÊNCIAS. ‘Desafiado pelo meu amigo (e ex-professor) Nuno Artur Silva das Produções Fícticias, para promover o seu projecto teatral no Maria Matos em 2004. Este filme constituiu uma produção total de 10 euros - 1 dia, 1 lápis, um bloco de post-its e uma camera DV. Criado numa era pre-YouTube, uma semana depois foi transmitido em alta rotação na televisão portuguesa. Para mim isto representa o outro lado do espectro e um antídoto necessário aos projectos longíssimos de oito meses com a pressão brutal de fazer justiça a 3 ou 4 milhões de dólares. Na minha opinião, um criativo deve sempre procurar motivação e sinergia nestas duas vertentes.’

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ESCULTURAS, NIKE ACG. ‘Estas esculturas de fibra e metal mostram a trajectória de vôo dos esquiadores e snowboarders da Team Nike ACG - All Conditions Gear. Para criarmos estas peças, além da fotografia (Giles Revell) usamos duas cameras de video para estudar as manobras. De seguida traçámos modelos 3D para ajudar um esculptor em Londres, que teve como missão tornar reais estas formas. Os backgrounds foram fotografados de helicóptero nos Alpes franceses e adicionados ao resto em pós-produção.’

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passaporte

Paulo Martins

PLAY BETTER, ADIDAS FUTEBOL 2009. ‘Recorrendo a projecções, uma campanha pura de produto, onde este serviu literalmente de tela para histórias de futebol contadas pelos jogadores. A lógica de trabalho foi mais experimental do que o habitual print shoot. Outro projecto em que acabei também por fazer a fotografia. A maior parte das 50 imagens que criamos foi aplicada em retail à volta do mundo.’


Muitas vezes nós aqui em Lisboa olhamos

Qual é o meio em que para mais gosta de

do mundo em 2009. Penso que já fazemos isto

para fora para nos inspirar, isso também

criar?

bem na música, houve uns esforços para fazer

acontece em Amesterdão?

Num mundo perfeito as ideias deviam sempre

isto na moda portuguesa mas, por exemplo,

Obviamente. Mas mais para inspirar do que

ditar os meios e não o contrário. No entanto,

porque é que o Design Gráfico não se inspira

copiar.

dito isto e contra toda a tendência da comu-

mais na nossa ourivesaria, gastronomia, fol-

nicação, eu ainda gosto muito de trabalhar a

clore, arquitectura? Ou língua? A nossa língua

Quais são as suas motivações? Quem o

duas dimensões (print), porque ainda é a for-

é adorada internacionalmente e nós temos ver-

inspira?

ma mais condensada de transmitir uma ideia.

gonha de a explorar.

meus amigos, David Hockney, Tibor Kalman,

Tem uma agência ou cliente de sonho?

Se não estivesse no mundo da publicida-

Olafur Eliasson, Stefan Sagmeister, Michel

Hoje fantasio menos com esses cenários mas,

de qual era a profissão que abraçava?

Gondry, Anton Corbijn, Robert Nakata, Fer-

por muito que seja uma utopia, certamente

Se soubesse já tinha mudado.

ran Adrià, Psyop, Neil Hannon, Jop van Ben-

ajuda acreditar que existirá um contexto de

nekom, Bjork, Chris Ware, Erwin Wurm, Alan

trabalho perfeitamente ajustado às nossas ha-

Fletcher, Norman Foster, Radiohead, Wes An-

bilidades.

A Lua e o Fabel - os meus filhos, família, os

derson, David Byrne, Arcade Fire, Fernando Pessoa, Paul Rand, Saul Bass, Rodchenko,

Já pensou voltar a trabalhar em Lisboa?

Martin Parr, Henri Cartier-Bresson, Ricky

De vez em quando sou desafiado. É difícil, a

Gervais, Droog Design, Issey Miyake, Rem

minha vida privada está estruturada no centro

Koolhas, Walter Van Beirendonck, Marc Jaco-

da Europa.

bs, Karl Lagerfeld, Brian Eno, The Edge, Erik Kessels, Bruce Mau, Nelson Mandela, Lance

O que temos distintivamente em Portugal

Armstrong, Cristiano Ronaldo…

que pode marcar, ou contribuir, para a comunidade criativa internacional?

Que artes lhe interessa? Pratica alguma

Ironicamente, o nosso problema é a nossa vir-

dela?

tude: Geografia. A distância ajuda a preservar

Desde que produzi dois projectos globais para

identidade, alma, carácter, raízes. Na minha

a Adidas, a Fotografia tornou-se uma activida-

opinião, o centro da Europa hoje está dema-

de importante para mim e deixou de ser ape-

siado homogeneizado e descaracterizado. De-

nas um registo das minhas viagens.

vemos explorar mais o exotismo cultural de

Em 2005 lancei 500 cópias em vinyl de um

Portugal, investigar os nossos ingredientes

disco, Download This (edição de autor), www.

únicos. Obviamente não estou a falar de Sol

downloadthis.org, completamente home made

e vinho tinto. Sem cair em clichés, podemos

no meu estúdio. Nos meus projectos pesso-

inventar novos regionalismos, cruzando ve-

ais não existem regras, misturo um pouco de

lhas expressões com o que se passa no resto

tudo.

Paulo Martins é director criativo associado da 180 Amsterdam, uma agência de comunicação internacional. A sua carreira publicitária teve início há onze anos em Lisboa, primeiro na Ogilvy&Mather ao lado de Nuno Jerónimo, mais tarde na Publicis. Paulo Martins estudou Arquitectura na Fundação Ricardo Espírito Santo, mas abandonou para estagiar como designer gráfico durante um ano. Em 2001 mudou-se para Amesterdão. Nos cinco anos em que trabalhou na Wieden+Kennedy como Art Director para a Nike produziu trabalho reconhecido internacionalmente (CannesLions, Clio, New York Festivals, Eurobest, Art Directors Club, AdPrint). Outros clientes incluem Adidas, Footlocker, Heineken, CocaCola, ID&T. Pelo meio viajou à volta do mundo, produziu um disco e fotografou bastante, incluindo duas campanhas internacionais para a Adidas.

Paulo Martins - paulom@180amsterdam.com www.me-myself-and-i.com

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thestudio ART PROSTITUTES VENDEMO-NOS AO CLIENTE FAZENDO O TRABALHO QUE ELE QUER DAS FORMAS MAIS INESPERADAS. TRABALHAMOS COM CADA CLIENTE COMO SE FOSSE O PRIMEIRO, ALCANÇANDO OS RESULTADOS MAIS SURPREENDENTES. FAZEMO-LO COM PAIXÃO E PROFISSIONALISMO. SOMOS TRABALHADORES DO CORAÇÃO. LEVÁMOS MUITO TEMPO A REUNIR UMA EQUIPA QUE TRABALHE TODOS OS DESEJOS E SONHOS DO CLIENTE NAS DIFERENTES ÁREAS SOLICITADAS. SE TEM O DINHEIRO, NÓS TEMOS O QUE PRECISA. ESTÁ EM BOAS MÃOS E NÃO TERÁ DE SE PREOCUPAR COM NADA. TOMAMOS CONTA DE SI. THESTUDIO LOVES YOU; YOU’LL NEVER LOVE ANOTHER. Entrevistas por Catarina Vilar / Pesquisa por Lia Ramos 41

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portfólio thestudio passaporte

Ivo von Renner

Ilustrador A personagem de ficção que sempre quis ser... Já me disseram várias vezes que sou parecido com o Woody do Toy Story, embora tenha alguma dificuldade em imaginar-me vestido de cowboy... Se o meu computador falasse... estava sempre a queixar-se das tareias que lhe dou... Na última viagem que fiz... aprendi que não tenho jeito absolutamente nenhum para vender o nosso trabalho, sou demasiado impaciente. Aliás, fui proibido de fazer qualquer tipo de negociação pelos meus sensatos e sábios sócios. Ah! Também aprendi que se quiser manter a minha sanidade nunca mais voo pela Iberia. Os projectos ideais... Qualquer trabalho com um tom surreal, adoro fazer imagens com pequenos registos incongruentes, que puxem por quem a vai ver. Provérbio favorito… Merda gabada, não vale nada.

MÁRIO BELÉM DirectArts - O que o levou a juntar-se a outros designers depois

como noutras, porque trabalho não nos falta. O que é diabólico é que

de trabalhar há algum tempo por conta própria?

por vezes as pessoas não pagam, o que começa a gerar uma série de

Mário Belém - Foi por uma razão muito prática, depois de ter trabalha-

situações desconfortáveis: devem-nos a nós e não podemos pagar aos

do em algumas empresas estive três ou quatro anos como freelancer, e

fornecedores… Há coisas estranhas como clientes que não pagam há

percebi que passava mais de metade do tempo em reuniões, a atender

mais de um ano, ou recorrem a métodos estranhos de pagamento como

o telefone, a passar orçamentos ou a fazer cobranças, uma parte muito

Letras.

complicada. Um dia falaram-me de um designer, o Juan Carmona, que estava a fazer umas coisas giras, falei com ele e acabámos por traba-

E em termos de qualidade do trabalho, isso reflecte-se?

lhar juntos. Basicamente a união faz a força. A primeira pessoa que

Acho que está a haver um boom em termos de qualidade, que se esten-

contratámos quando começámos foi a nossa financeira, que continua

de a outras áreas, como música, gráfica… Viajo muito pela Europa e

connosco até hoje. Na altura pareceu-me ser uma ideia muito lunática:

vejo que o que é português é bom, estamos acima de muitos países con-

para que seria necessário só com duas pessoas? Mas acabou por ser a

siderados bons. Nesta área, um bom ponto de comparação é os flyers.

decisão perfeita. Assim podemos concentrar-nos muito mais na par-

Quando andamos na rua vemos milhares de flyers, e em Portugal o

te criativa. Por outro lado é muito bom termos uma boa relação com

nível geral é muito bom. Quando vamos a Londres ou Berlim há coisas

os nossos clientes e deixarmos a parte da cobrança para o financeiro!

muito boas, mas o geral não é tão bom quanto cá. A parte realmente

(risos)

infeliz é a financeira…

O grupo foi crescendo à medida das necessidades?

Trabalha muito para fora do país?

Logo no início, quando estávamos só os dois, fizemos um acordo: não

Tenho um agente inglês que me arranja um ou dois trabalhos por ano

nos queríamos tornar uma agência de publicidade. Estabelecemos um

em Ilustração e ganho seis ou sete vezes mais do que cá. E há outra

limite máximo de 15 pessoas e neste momento já somos 10. Se calhar

coisa curiosa: perguntam-me sempre com dois meses de antecedência

as que falham é alguém de 3D, um programador de sites, eventualmen-

se tenho tempo para fazer um trabalho. Cá é sempre para ontem e há

te mais um designer… Agora somos três sócios, o André Ribeiro veio

uma gestão mais complicada de custos. Há dois anos era normal ir a

juntar-se a Juan e a mim, mas temos uma postura muito socialista! Toda

uma reunião e a primeira coisa que diziam era que não tinham muito

a gente sabe dos valores de tudo, os ordenados são muito equiparados,

orçamento. Actualmente já antecipamos e perguntamos logo qual é o

a filosofia é que quando corre bem é para todos.

budget, para não estarmos com a choraminguice do dinheiro.

Essa filosofia enquadra-se bem no mercado actual? O mercado como está agora é algo bicho-do-mato. Acho que a palavra crise é muito pertinente, mas nesta área felizmente não é tão grave

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01) Cliente: Painel para o Tamariz 02) Cliente: Capa Time Out 03) Cliente: Production Services Portugal 04) Cliente: Editorial DIF-DIESEL

A vossa postura mais informal permite uma entrada diferente no mercado? Permite. Já existimos há três anos mas estamos a começar agora a ser conhecidos, temos um portfólio e site novos. Estamos a apostar numa especialização nas imagens de impacte e começamos a ser contactados especificamente para esse género de projectos, se bem que temos consciência de que são caros e nem todos os clientes podem pagá-los. Estamos cá para ficar, e havemos de conseguir. Um objectivo é trabalharmos cada vez mais com clientes estrangeiros. Muitas pessoas assustam-se quando olham para o nosso portfólio, pensam logo que é caríssimo, por isso é uma entrada no mercado aos soluços. Recebemos muitas palmadinhas nas costas, mas o meu sócio é que diz para nos deixarem de bater palminhas, comecem a atirar moedinhas! 01

O investimento num portfolio original tem em vista captar ex-

Na prática temos de fazer o que o cliente nos pede. O oposto disso é

clusivamente os clientes de topo?

um artista plástico, que faz coisas para o umbigo e pode fazer o que

Pelo nossa experiência nos últimos três anos, quanto maior o clien-

lhe apetece. O que nós estamos a dizer é que somos prostitutas como

te, menos liberdade temos. O nosso objectivo não é trabalhar para as

os outros todos, mas queremos ser tratados com carinho e não venham

maiores marcas, nesse caso há muitas pessoas a decidir. Não é só o

com conversas da treta! (risos)

director de marketing ou da marca, são umas quinze pessoas, e é difícil conseguir agradar a todos. A nossa ideia é conseguir chegar a clien-

A par de um livro com o vosso portfólio, juntaram alguns objec-

tes maiores, mas não necessariamente os de topo. Queremos sim ter a

tos simbólicos.

oportunidade de fazer coisas bonitas. Claro que é um bocado utópico

Sim, são importantes para contar a história. O batom, é a base do we

e corremos o risco de soar um bocado arrogantes, mas não queremos

make up, um trocadilho para indicar que nós temos ideias e preparamo-

qualquer trabalho. É complicado de gerir…

nos para receber o cliente, depois a santinha é algo muito português, que diz que temos fé, a Nossa Senhora de Fátima. É um imaginário

Com a vossa mais recente abordagem, em que se assumem como

muito nacional, em que nós apostamos muito, porque é algo que nos

prostitutas, pretendem chocar mentalidades?

distingue a nível internacional, é o nosso património gráfico. É muito

Não, é mesmo uma constatação dos factos. Ninguém ensina a quem

rico e há muito poucas pessoas a usá-lo em termos comerciais de uma

está a tirar um curso de Design Gráfico que o trabalho não é para nós.

forma contemporânea. Depois o preservativo é para dar segurança, para

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portfólio thestudio

02

mostrar que fazemos tudo de forma a não haver surpresas desagradá-

A manipulação da imagem digitalmente é uma das suas mar-

veis! Em relação ao anel, simboliza que nós fazemos coisas artísticas,

cas?

mas trabalhamos por dinheiro, temos de pagar as contas. E finalmente

Sim, e cada vez mais se fala da diferença entre os fotógrafos e image

o cigarro é a constatação de que depois do acto vimos que correu tudo

makers. Tudo vem da manipulação da imagem digital. Antes quando se

bem e, se o cliente quiser, nós repetimos! A verdade é que os clientes

fotografava em película recebíamos três ou quatro folhas de contacto,

geralmente se mantêm fiéis.

hoje fazemos uma sessão fotográfica e o fotógrafo passa-nos mais de mil fotografias para escolhermos uma única. É de loucos! Por outro

E como tem sido a receptividade a esta abordagem?

lado dá-nos outra ginástica mental: já estamos a olhar para as fotos

Muito boa. As pessoas ficam bem impressionadas. Independentemente

a pensar que vamos usar a cara de uma, o braço de outra, o olhar…

de podermos ser muito bons graficamente, o que mais conta é o con-

A nível mundial já há uns vinte estúdios que fazem só isto, e muitas

ceito. A ideia conta uns 60 ou 70%, depois é a forma como a apresenta-

das imagens que se fazem actualmente vêm desta conjugação. A nossa

mos. Isto vai nessa direcção, foi um investimento grande da nossa par-

ideia é sermos uma referência ao nível do nosso bairro.

te, mas só de abrirem a caixa as pessoas ficam espantadas. Nesta área vale a pena projectarmo-nos. Há o exemplo da Saatchi & Saatchi, que

Tendo em conta o novo panorama, ainda faz sentido a distinção

quando abriram usaram metade do dinheiro para fazerem um escritório

entre designer, ilustrador, fotógrafo?

que parecia um banco e a outra parte foi para um anúncio na revista

Acho que não… Hoje em dia há muitos designers, por ano em Portugal

Time. Apostaram nisso e conseguiram o feedback que pretendiam. Não

saem milhares de pessoas formadas em Design e ainda há uma gran-

queremos ser uma agência tão grande, claro, até porque a ideia é quanto

de confusão… Um designer não é necessariamente um artista, ele tem

menos projectos melhor. No mercado português, para conseguirmos

como função criar comunicações claras para os seus clientes. Eu sei

pagar as contas estamos sempre a saltar de um projecto para o outro,

que sou ilustrador, mas tenho formação em Design Gráfico, estas bases

e muitas vezes não temos o tempo desejável para dedicar ao conceito

influenciam muito a forma como desenho. Por exemplo, o meu sócio

e à execução. O ideal são mesmo os bons projectos, que possam ser

também tem formação em Design Gráfico, mas pensa muito mais como

contemplados, dedicarmo-nos a eles.

um artista e tem mais jeito em termos de produção. O que acontece hoje

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em dia é que os clientes não nos contactam para fazer só um logótipo,

Mas muitos clientes procuram-no porque querem algo dentro

temos de oferecer tudo, daí que essa mistura tenha sempre de existir,

do seu estilo individual, não?

apesar de estar tudo abarcado sob o título de Design Gráfico, indepen-

A grande maioria dos clientes procura-nos porque já viram uma coisa

dente de sermos 24 coisas diferentes!

que gostaram no portfólio. É necessário ter espaço nos projectos que se calhar são menos remunerados, ou até nos pessoais, e arriscar noutras

Como reage quando lhe pedem projectos absurdos?

direcções, para saberem que somos capazes de fazer coisas diferentes.

Bem, há dois tipos de projectos absurdos: aqueles que são uma loucura

Consegue ter tempo para conceber projectos pessoais?

mas em que nos pagam para fazer uma coisa gira, ou aqueles que che-

No ano passado cada um de nós fez um editorial de moda em que a

gam de clientes que não têm as ideias muito desenvolvidas. No segun-

única condição é termos de apresentar roupa de alguém, toda a en-

do caso tentamos aconselhar por acharmos que daquela forma não vai

volvência gráfica era cada um que decidia. São exercícios em que não

funcionar. Muitas vezes os resultados finais não funcionam, e temos

ganhamos nada e ainda temos de arranjar fotógrafo, stylist, modelos,

muitos trabalhos que não vão para portfolio…

tudo sem pagar! Além disso, nos últimos dez anos eu só desenho com caneta digital, e agora decidi voltar a desenhar à mão, o que me tem

As regras na área da publicidade ainda são muito rígidas?

divertido imenso. Até tenho pintado pranchas de surf de amigos. É giro

Não, mas o problema muitas vezes é a falta de tempo, o estar a correr

contrariar o vício do computador.

entre trabalhos. Gosto de fazer esses trabalhos para agências, porque é uma oportunidade de fazer algo num estilo ou técnica a que não esta-

Também já se aventurou a ilustrar um livro sobre surf, está pró-

mos habituados.

ximo desta área? Sou da Linha de Cascais e tenho alguns contactos nesse universo, além

Há clientes que lhe dão carta branca para desenvolver um pro-

disso também gosto de ir para o mar. Posso é dizer que fazer livros em

jecto?

Portugal é muito ingrato. Se conseguirmos fazer uma edição de 4 mil

São raros, mas também esses por um lado são os piores clientes de

livros, que basicamente é o necessário para pagar os custos, já é uma

todos. A pior coisa que podem dizer a um criativo é para fazer aquilo

sorte. O normal é fazer e vender 2 mil, o que não paga minimamente os

que lhe apetecer. Uma coisa que fazemos aqui, como colectivo, e que

custos. Tem a ver com a nossa dimensão.

acho ser uma atitude inteligente, é independentemente de cada um ter algo que o caracteriza tentarmos conscientemente variar de estilo de

Sempre teve a tendência de fazer rabiscos onde quer que seja?

um projecto para outro. Hoje em dia é impossível inventarmos algo

Sim, estou sempre a pedir canetas emprestadas. Desde pequeno que

totalmente novo. Há um designer inglês, o Peter Saville, que tem uma

desenhava em todo o lado, até nas cortinas da minha mãe! Mas a ca-

expressão muito engraçada, que é a “apropriação”. É isso que nós fa-

neta digital é genial, permite fazer coisas que nenhuma outra caneta no

zemos: vamos a andar na rua, vemos um poster que gostamos, depois

mundo consegue, desde pintar com luz.

chegamos a casa e vemos um postal que nos agrada, e o que fazemos é uma mistura de tudo isso. Conscientemente juntamos as peças todas para chegar a uma solução, e isso é muito engraçado.

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No entanto tem contrariado o uso exclusivo do digital. Acredita

Acredita que os agentes podem ter um papel central no proces-

que o lado da criação mais orgânico, analógico, vai voltar?

so de conquistar novos mercados?

Acho que sim, é insubstituível. E quem sabe um dia aparece um vírus

A questão dos agentes é que eles têm uma visão muito mais apurada

em que todos os computadores do mundo são eliminados durante três

de como o mercado funciona. A figura do agente no estrangeiro está

anos e temos todos de voltar atrás! Aliás, agora há uma vertente muito

totalmente instaurada e faz sentido.

engraçada do Design Gráfico em que se volta mais ao manual, com pessoas que fazem coisas em papel ou tecido. A base se calhar continua

Como conquistam novos clientes, vão bater-lhes à porta?

a ser o digital, porque se começa por um ficheiro em computador que é

A nossa maior dificuldade é chegar à porta certa, porque não queremos

adaptado para o manual, mas é uma tendência. É importante sabermos

passar por trinta pessoas até chegar a quem decide. Uma coisa de que

fazer as coisas à mão, mas o digital sem dúvida que nos facilita a mui-

os portugueses se queixam muito é que em Portugal só se arranja tra-

tos níveis, sobretudo na velocidade de trabalho.

balho se conhecermos alguém, e até pode ser verdade, mas nos outros países é exactamente o mesmo. Para chegarmos aos sítios temos de ter

Gosta de estar a par de tudo o que se faz no mundo nesta área?

uma forma de chegar às pessoas certas. Essa é a parte mais complicada

A verdade é que eu tinha uns quinze sites na minha barra de favoritos

de gerir. Já sabemos que recebem milhares de mails por dia e não é por

do computador e que consultava todos os dias, mas deixei de o fazer.

ai que marcamos pontos. Uma carta, direct mail, tem de ser mesmo

Andava ansioso por ser tão esmagado por tanta comunicação visual.

boa, para não ir parar a uma pilha qualquer. Estamos a batalhar há três

Quando tinha de começar a trabalhar num projecto estava com tantas

meses para reunir contactos e esse não é um processo linear. O que

coisas na cabeça que me sentia angustiado por não saber qual seria a

estamos a fazer sobretudo é abordagens pessoais, mas mesmo assim

melhor direcção a seguir. Há um mês que não visito nenhum dos sites!

não há garantias de que funcione. Por exemplo, quando vou ao estrangeiro envio uns cinquenta mails com um link para o site a perguntar se

Sente que o trabalho gráfico que se faz em Portugal começa a ter

querem que lá vá mostrar o meu portfólio, desses, dois respondem, e

mais peso no exterior?

posso acabar por trabalhar para um. Independentemente das vantagens

Eu acho que há sempre espaço para o trabalho com qualidade. O pro-

da internet, dos telefones, não há nada como o contacto visual.

blema é que para se sobreviver no mercado português não se pode ter só um estilo gráfico. O melhor é fazer experiências com muitos estilos gráficos. No mercado estrangeiro é o oposto: ou temos um estilo ou ninguém sabe quem somos. Já tentei arranjar um agente nos Estados Unidos e a resposta inevitável é: mas o que faz? Isso aplica-se também aqui na empresa, como colectivo: temos de fazer um bocadinho de tudo, mas também estamos a conseguir criar uma direcção mais definida. No final do dia somos contratados é pela qualidade do trabalho.

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thestudio - themail@thestudiosite.com - http://www.thestudiosite.com

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ANDRÉ RIBEIRO Designer A personagem de ficção que sempre quis ser... Sandocan, o tigre da Malásia: Aventura! Acção!! Romance!!! Se o meu computador falasse... falava com sotaque alemão. Na última viagem que fiz... aprendi que a salva dá um óptimo chá. Os projectos ideais... os que saem da gaveta (nossa ou de outros) e nos iluminam a alma. Provérbio favorito... No Inverno sou budista, no Verão sou nudista.

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05) Cliente: Pedroso&Osório - Catálogo 2007 06) Cliente: Promemoria - Catálogo 07) Cliente: Pedroso&Osório - Anúncios Imprensa 2008 07

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portfólio thestudio

08 e 09) Cliente: Cheyenne-Catálogo

JUAN CARMONA Art Director 08

A personagem de ficção que sempre quis ser... Tio Patinhas. Se o meu computador falasse... diria “ORGANIZATE”....”PELO AMOR DE DEUS, ORGANIZA-TE”....”AGILIZA, HOMEM!!!” Na última viagem que fiz... “What happens in Ibiza.... stays in Ibiza.” Os projectos ideais... Grandes orçamentos, com total liberdade criativa! Provérbio favorito.... A pressa passa, a merda fica.

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10) Cliente: Cheyenne 11) Cliente: Facto Hair 12) Cliente: Strat - Super Bock

PEDRO FILIPE Pós produtor de Fotografia 10

A personagem de ficção que sempre quis ser... Eu sou o homem invisível. Eu tenho o poder da invisibilidade. Se o meu computador falasse... Ainda bem que não fala. Gosto de ter uns bons monólogos com ele. Na última viagem que fiz... Sempre que faço uma viagem regresso mais católico. Os projectos ideais... Bem pagos, com tempo e que dêem gozo. Provérbio favorito... Cá se fazem, cá se pagam.

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passaporte portfólio thestudio Ivo von Renner

URA 14

Multimedia Designer A personagem de ficção ou animação que sempre quis ser... Pelo humor subversivo: Ren and Stimpy! Se o meu computador falasse... já não estaria aqui. Na última viagem que fiz... existem pinguins amarelos no Rio Moldava. Os projectos ideais... Os que não são para ontem. :) Provérbio favorito... Amigo não empata amigo.

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13) Ilustração - everything but the kitchen sink 14) Cliente: Boom Festival 2008 - Identidade 15) Cliente: Cheyenne Playground - site

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PEDRO GASPAR Designer A personagem de ficção que sempre quis ser... Jacques Tati, revejo-me na sua distante observação aos momentos dramáticos ou hilariantes que a sociedade apresenta. Se o meu computador falasse... teria pronúncia beirã. Na última viagem que fiz... aprendi que a música popular húngara é um segredo bem guardado. Os projectos ideais... têm uma presença forte de tipografia. Provérbio favorito... O melhor dia para casar é o 31 de Julho.

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16) Cliente: Painel para o Tamariz, 2008 17) Cliente: Proposta para a Alfarroba para o WQS da Ericeira de 2008 18) Cliente: Ilustração para a DubTub, 2008

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A REVOLUÇÃO NOS TRANSPORTES JÁ COMEÇOU! 52

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DAVID GONÇALVES UMA ESPECIALIZAÇÃO NA ÁREA DO DESIGN DE TRANSPORTES LEVOU-O ATÉ INGLATERRA. POR LÁ FICOU A TRABALHAR. SOMA PRÉMIOS INTERNACIONAIS, GOSTA DE QUESTIONAR AS REGRAS INSTITUÍDAS, SONHA UM DIA VER UM PROJECTO SEU A CIRCULAR NUMA QUALQUER RUA DO MUNDO. ALGUÉM DUVIDA DE QUE VAI CONSEGUIR? 53

Texto por Catarina Vilar / Pesquisa por Lia Ramos

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portfólio Design Industrial / David Gonçalves

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Linhas fluidas, contornos suaves, referên-

não tendo saído do papel. É o caso de uma das

cias algo espaciais. A interpretação do traba-

suas propostas mais famosas. A inovadora bi-

lho de David Gonçalves depende do olhar de

cicleta Grasshopper – gafanhoto na Língua de

cada um, mas as suas concepções há muito

Camões – tem dado muito que falar, inclusive

despertaram a atenção dos especialistas. Não

na International Design Competition, Taiwan,

desenha só veículos, mas esta é uma das suas

onde teve honras de prémio de mérito. Movida

grandes paixões. Desde sempre se interessou

a electricidade, possibilita um percurso aligei-

pelas rodas – duas ou quatro, tanto faz – e

rado pela cidade – mesmo que seja daquelas

sua função na locomoção de todos nós. Mas

com sete colinas – além do mais dobra-se, não

as suas preocupações vão mais longe: “Adoro

é muito pesada e possibilita uma ajuda extra

objectos que nos façam mover, carros, motas,

na boa forma. Uma vez em casa, este multi-

barcos. Só de uma maneira sustentável pode-

facetado gafanhoto pode funcionar como bi-

remos continuar a usufruir deles da forma que

cicleta estática, para se pedalar sem sair do

o fazemos hoje. Neste momento vivemos uma

lugar. “O projecto Grasshopper foi a realiza-

conjuntura a nível mundial que nos indica isso

ção de uma ideia que tinha intenção de desen-

mesmo, e não só na área dos transportes.” O

volver desde o meu primeiro ano na faculdade

designer algarvio lembra que o ciclo de vida

de Belas Artes. Sempre tive uma paixão por

de um veículo assenta num sistema com mui-

bicicletas, porque para mim são o veículo

tas fases, sendo quase todas elas não susten-

perfeito em inúmeras situações; ajudam-nos

táveis. “Isto cria um desequilíbrio continuado

a manter a forma física e são ecológicas, dão

e, quantos mais veículos existirem, pior será.

um gozo enorme de usar e conseguimos ter

Assim sendo, há que tentar compensar o mais

a sensação de velocidade mas sem ruído de

possível esse desequilíbrio, seja pela introdu-

fundo”, adianta o designer. Quando teve co-

ção de energias alternativas e novos materiais

nhecimento da International Bicycle Design

ecológicos ou mudando os processos de fabri-

Competition decidiu arriscar. Correu tão bem

co e os padrões de utilização que as pessoas

que neste momento está a pensar uma forma

têm.” É esta a sua missão.

de conseguir construir um protótipo funcional

Há muito os seus projectos começaram a deixar marcas por onde passam, mesmo ainda

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e o ideal seria numa companhia portuguesa, interessada em comercializar o produto final.


portfólio Design Industrial / David Gonçalves

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Na hora de escolher um curso superior, David Gonçalves começou

versas fases, para que numa oportunidade posterior as coisas consigam

por enveredar pelas engenharias. Dois anos depois estava em Design de

ser melhor planeadas.” Na Lustrarte conseguiu perceber bem como as

Equipamento na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa

coisas se processam. “Eu não estava escudado num gabinete de design

(FBAUL). E este é um daqueles casos em que, terminado o curso, a

e interagia com todas as secções da empresa através do longo processo

entrada no mercado de trabalho se fez mesmo sobre rodas. Fez estágio

que é levar um produto à comercialização. Isso faz com que tenhamos

na Câmara de Lisboa, depois trabalhou por conta própria. “Quando fui

consciência das nossas limitações enquanto profissionais.”

O SALTO PARA INGLATERRA

para o então Departamento de Estudos e Projectos da CML ainda esta-

Ainda que com um percurso profissional de três anos recheado de

va a terminar o meu projecto final de curso. Tive um primeiro contacto

apostas certeiras e reconhecimento, isso não faz com que este designer

com o Urbanismo e com a forma de trabalhar num estúdio grande.

deixe de se questionar. “Questiono-me se poderia ter feito melhor e

Percebi que muitas das obras num gabinete público são extremamen-

penso no que mudaria hoje e porquê. Acho que faz parte do processo

te afectadas pelas decisões e mudanças políticas, independentemente

evolutivo ter uma consciência crítica sobre o próprio trabalho, de forma

de serem boas ou más. Depois saí do DEP e colaborei com o estúdio

a evitar cometer erros passados e assim continuar a apostar nas opções

DASEIN, enquanto continuava os meus próprios projectos.” Uma fase

que tiveram mais sucesso”, e talvez seja esta uma das características

bastante dinâmica e enriquecedora onde recebia muitos estímulos que

que já o fez chegar onde hoje o encontramos. Quando terminou o ciclo na Lustrarte decidiu seguir o sonho de

influenciavam o seu processo criativo. Com um pé no urbanismo, o designer passou para a fase seguinte,

criança e tentar aprender mais sobre transportes. Em Portugal não há

em que, literalmente, se fez luz. A sua primeira grande experiência pro-

cursos nesta área e como dominava a língua inglesa foi para a Coventry

fissional foi na empresa Lustrarte, da Marinha Grande, onde concebeu

University, em Inglaterra. Lá tirou, com distinção, um mestrado em

candeeiros e teve a possibilidade de acompanhar todas as fases do pro-

Design e Transportes pela School of Art and Design. Além de ser uma

duto, desde o desenho até à sua comercialização. “Acho que é extre-

Universidade reconhecida neste sector a nível mundial, viu também

mamente importante para um designer fazer parte de todas as fases de

uma oportunidade na crise que se fazia sentir no sector, “ao precisarem

desenvolvimento, mesmo que não seja activamente. Por vezes quando

de novas ideias e incorporação de novas filosofias de uso para os trans-

se tenta algo de novo as coisas podem ir um bocado por tentativa e erro,

portes do futuro”.

e com uma visão global consegue-se perceber as relações entre as di-

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ENTRE O PUNK E A VIDA ANIMAL A diversidade do seu trabalho não o restringe. Será designer de equipamento, designer industrial, consultor de design? “Prefiro o termo designer industrial, mas muitas das vezes os nomes não chegam para definir as acções e prefiro que me julguem mais pelo trabalho do que pelo título”, esclarece. Se o seu trabalho é eclético, o mesmo se aplica aos gostos pessoais. Assim, vejamos: a inspiração pode vir da ficção científica hard e cyberpunk nas obras literárias de Asimov, Clarke, Gibson e Heinlein. Mas não só. “Enquanto designer industrial sofro influências da Bauhaus, Syd Mead, Ross Lovegrove, Scott Robertson, Giugiaro, Bertone, H.R. Giger, entre muitos outros. A música também me afecta enquanto estou a trabalhar e faixas de Mike Patton, John Zorn, Secret Chiefs 3, trance psicadélico, dub e chill-out tribal são os pratos fortes do menu.” Um menu degustação sem dúvida variado, até porque o mais surpreendente é o que se segue: “Quando não tenho ideias ou preciso de desbloquear vejo documentários sobre a natureza e o cosmos.” 09

Os gostos vão-se cimentando ao longo da vida, mas na base não será difícil imaginar por onde caminhavam os interesses deste designer em criança. “Sempre gostei de ciência e tecnologia, talvez por isso tenha escolhido Engenharia Mecânica para primeiro curso. O gosto pela velocidade e por carros também vem de criança. Mas o que sempre me deu prazer foi a adulteração das regras, o questionar das simples acções que fazemos todos os dias, o pensar em alternativas ou em novas acções não existentes até então.” E este pormenor da sua personalidade é facilmente compreendido: “Eu brincava com LEGO’s desde muito pequeno, mas raramente construía o que era indicado na caixa. Misturava peças de vários conjuntos, incluía elementos e objectos de outros jogos e fazia sempre cenários surreais e veículos fora do normal que permitiam os pequenos personagens terem uma vida muito mais feliz e única.” E a conclusão? “Como havia um número limitado de peças, normalmente essa felicidade não durava muito, pois eu começava logo a alterar tudo de novo.” Pois claro.

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portfólio Design Industrial / David Gonçalves

QUANDO AS PORTAS SE ABREM Como designer de produto, a sua maior preocupação passa por servir o utilizador da melhor maneira, “enquanto indivíduo e parte de um grupo alargado, de modo que quem desenvolva o produto seja bem recompensado por isso, criando algo que não seja supérfluo e redundante”. Esta é uma directiva que tem dado os seus frutos, ainda que na área dos transportes falemos – por enquanto – de protótipos. Recentemente foi distinguido como finalista (em parceria) no Michelin Challenge Design 2009 com o veículo baptizado de Phoenix, que propõe uma nova abordagem naquele que pode ser o futuro meio de transporte a ser usado nas estradas americanas. O modelo à escala ficou exposto no North American International Auto Show 2009, em Detroit. E será que estas honras abrem as portas certas? David Gonçalves responde: “Estas distinções, na maior parte das vezes, proporcionam o encontro entre várias pessoas do meio. Como toda a gente sabe, os contactos pessoais facilitam

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bastante no mundo do Design, e todas as ‘amizades’ que se possam fazer são importantes. No entanto, as oportunidades que surgem podem não ser o que se espera e raramente se consegue retorno financeiro ou parcerias sólidas. Mas uma coisa é certa, consegue-se um nível de exposição mediática que de outro modo seria impossível obter.” Acredita que está mais do que na hora de assistirmos a uma nova revolução a nível dos transportes. Só recentemente apareceram carros com o uso de energias alternativas, de uma forma massificada. Sendo uma boa evolução, chega algo tarde, já que se usa motores de combustão interna desde o início da indústria automóvel. “É

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certo que a evolução não depende apenas da vontade de quem projecta e muito do que se tem feito até hoje depende consideravelmente dos lobbies da energia, do urbanismo, dos mercados onde se actua e das próprias marcas, que têm como política uma evolução lenta em termos de filosofia de fundo e uma obsolescência planeada dos seus produtos para rentabilizar os investimentos.” E mais: em 70 anos o paradigma do carro continua igual, com as mesmas quatro rodas, motor de combustão interna, portas verticais com vidros de correr, volante e pedais para controlar o veículo, e uma extrema dependência do metal e dos plásticos enquanto matérias-primas. “Penso que os transportes deveriam tornar-se mais simples, mais leves, mais modulares e costumizáveis ao longo do uso e as diversas companhias produtoras de veículos deveriam associar-se às entidades responsáveis pelo planeamento urbano de forma a responder aos desafios das cidades do futuro, tais como circulação, interoperabilidade, parqueamento e rentabilização dos veículos quando não estão em utilização.”

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O TRABALHO FALA POR SI Sabe que o Design Industrial é reconhecido em Portugal, mas considera que as áreas em que isso acontece são muito limitadas. Pode dever-se à pouca diversificação do panorama industrial português, à falta de tradição em incorporar departamentos de investigação e desenvolvimento em empresas que concebam produtos e também ao facto do mercado nacional ser pequeno. No entanto, trabalhar em Inglaterra não foi uma fuga, apenas um passo que pareceu o mais acertado. É lá que continua a sua obra. “Durante o mestrado tinha começado o projecto Phoenix com um amigo, e precisávamos de construir um modelo à escala ¼ de um carro, para mandar para Detroit. Sem a ajuda da faculdade e o uso das suas instalações e das 15

suas máquinas não seria possível termos construído o modelo no tempo recorde de 15 dias, pois teríamos de pagar bastante por esse trabalho.” Ao mesmo tempo também estava a trabalhar em regime freelance, a fazer conceitos de motas para os E.U.A. e a fazer a sua apresentação do projecto Scarab, para ficar em exposição no Museu dos Transportes de Coventry. E assim foi ficando em Inglaterra. Por lá deu os primeiros passos na formação de uma nova empresa de design, a Orizein. Neste momento está em desenvolvimento e funciona como um colectivo criativo onde vários elementos de diversas áreas se juntam e realizam projectos variados, sejam eles para clientes, para concursos ou para investigação. Fica o aviso: “A Orizein está aberta a novas parcerias, desde que os elementos partilhem dos mesmos objectivos e da mesma vontade de inovar e que se comprometam a enriquecer o portfólio do grupo de forma regular.” Interessados?

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portfólio Design Industrial / David Gonçalves

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Os clientes chegam até lá através da divul-

Da sua experiência além fronteiras já retirou

sem qualquer qualificação a desempenharem

gação dos seus trabalhos em diversas revistas,

uma conclusão: o mercado inglês é mais exi-

as funções de designer nas empresas. Isto rara-

websites e blogs, por exemplo a revista Ot-

gente e especializado do que o nosso. Isso traz

mente acontece no Reino Unido e noutros paí-

tágono, o autoblog da Wired, entre outros. O

vantagens, como o nível elevado em termos de

ses industrializados, daí esses mercados serem

facto de também terem sido alvo de prémios

produto final. Considera existir também mais

muito mais competitivos e com maior qualida-

aumenta a sua exposição mediática. “Temos

protecção e respeito pela profissão de designer

de nos serviços prestados.” Fica a análise.

também os nossos trabalhos no nosso site pes-

que por cá. “Embora em Portugal existam vá-

O maior desafio que podiam propor a David

soal e em social networks dedicadas ao De-

rios organismos que tentam defender e regular

Gonçalves passaria por projectar algo especial

sign.” Todos estes factores contribuem para

a actividade de designer, estes não cooperam

e utópico, que fosse ao encontro dos seus ide-

que pessoas interessadas os contactem através

entre si de uma forma eficaz, permitindo as-

ais. “Ou talvez aliciarem-me para mudar de

do site (www.orizein.com) e proponham cola-

sim que pessoas sem formação específica na

carreira ou área de intervenção.” E o maior

borações. “Neste momento estou a colaborar

área executem trabalhos de inferior qualidade

elogio que podem fazer ao seu trabalho? Res-

com um investigador dinamarquês num pro-

e pratiquem preços mais baixos. Por exemplo,

posta rápida: “Quererem tê-lo ou comprá-lo,

jecto de mobilidade automóvel, que ficou in-

em Portugal não existe uma tabela de valores

ou sentirem-se bem quando usufruem dele.”

teressado no trabalho da Orizein depois de ter

pelos serviços prestados e encontram-se ainda

visto o projecto Scarab.”

arquitectos, engenheiros e por vezes pessoas

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“EM PORTUGAL NÃO EXISTE UMA TABELA DE VALORES PELOS SERVIÇOS PRESTADOS...” 18

19 01 a 04 – SCARAB 05 a 07 – STRIDER 08 – GRASSHOPPER 09 – MONOLITH 10 a 12 – REAL 13 13 a 16 – LUM 17 a 20 - PHOENIX

20

David Gonçalves - david@orizein.com - http://david.orizein.com

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artigo

Informação / Manuel Pessoa

ESCOLHER O PARCEIRO DE NEGÓCIOS CERTO PODE AJUDAR O SEU PROJECTO CRIATIVO A CRESCER. ESCOLHER O ERRADO PODE ARRUINÁ-LO.


ESTÁ PREPARADO PARA CASAR? Texto por Manuel Pessoa

Você tem conseguido algum sucesso ao transformar o seu pequeno

Como pessoa criativa, tenha em conta os vossos estilos e abordagens

estúdio criativo num negócio viável. Olhou para os números, avaliou a

na resolução de problemas. São compatíveis? Irão colaborar da melhor

indústria e agora é tempo de avançar para o próximo nível. Uma opção

forma? Quem irá ter a última palavra numa decisão de design ou pro-

é encontrar um parceiro de negócios. Mas por onde começar? O que

dução? Há a ideia antiga de que uma parceria de trabalho é como um

vai procurar num candidato? E, o mais importante, como se forma uma

casamento, e isso é verdade. Tenha a certeza que se sentem confortá-

relação comercial que funcione?

veis um com o outro antes de irem viver juntos.

Apesar da fé que os clientes depositam nas pessoas criativas para

Sim, os advogados vão custar-lhe dinheiro, mas pense nisto: como

construírem uma imagem em seu nome, a ironia é que muitas vezes

pessoas criativas estamos constantemente a dizer aos nossos clientes

estas não têm perspicácia suficiente nos negócios para dirigir as suas

para deixar a criatividade para os profissionais. Então deixe a Lei para

próprias empresas.

os advogados. Encontre um advogado corporativo de quem goste, que

A beleza de uma parceria eficaz é você estar a trabalhar em con-

tenha experiência em parcerias, e deixe-o redigir documentos oficiais.

junto com os mesmos incentivos – tem uma parte da responsabilidade

Recorra a um contabilista e advogado para estabelecer avaliações, par-

no sucesso daquilo que construírem juntos. Dois realmente podem ser

tilhar estruturas e criar um acordo de accionistas. Não há nenhuma for-

melhor que um. Você assim alcança também uma enorme eficiência,

ma delicada de fazer isso e os aspectos em que importa chegar a acor-

fundindo o custo das estruturas de funcionamento de duas empresas

do são sobre valores, estrutura de propriedade, prazos, garantindo que

distintas e mantendo todas as receitas de ambas.

ambas as partes estão confortáveis com o acordo final. O seu contrato

Mas o preço de uma escolha errada será sentido durante muito tempo – se a empresa conseguir sobreviver. Além do stress emocional ou risco

deve incluir também as cláusulas para uma saída, caso qualquer um de vocês um dia queira deixar a empresa.

de dar a alguém o acesso ao seu património, finanças e informações

Mesmo que tragam áreas de especialização complementares para a

fundamentais do negócio, a escolha errada de um parceiro pode arrui-

relação, é importante estabelecer papéis bem definidos e responsabili-

nar a reputação da empresa.

dades que incluem os diversos aspectos do funcionamento da empresa,

Por isso, pergunte a si mesmo: preciso mesmo de um parceiro de negócios para alcançar os meus objectivos? Se a resposta for sim, percebe

tais como marketing, vendas, finanças, gestão e quem é o principal responsável pela liderança criativa.

em que consiste uma parceria? Se não tomar algumas precauções em-

Qualquer talento sénior com que você escolha trabalhar trará com ele

presariais, discutir abertamente ambos os pontos de vista e concordar

um portfólio que antecede a sua relação de trabalho. Considere cuida-

em todos os aspectos da estrutura do negócio, propriedade, responsabi-

dosamente como os vossos trabalhos se irão integrar e como vão pro-

lidades e colocar a divisão de lucros por escrito, há uma forte probabi-

curar novos clientes juntos. Avançando, é melhor ser transparente com

lidade de mal-entendidos, falha de confiança e, por fim, de falhar.

potenciais clientes sobre o trabalho que ambos fizeram antes da fusão.

Você deve ter um plano de negócios para servir como base. O que

Quando estabelecer uma parceria, continue a fazer estas perguntas:

fornece? Para quem? Analise a sua situação como faria para qualquer

você realmente precisa de um parceiro? Será que os potenciais bene-

um dos projectos dos seus clientes. Quais são os seus pontos fortes e

fícios ainda superam os possíveis riscos? Se a resposta continua a ser

fracos individuais? Quais as oportunidades e as ameaças que você e sua

sim, continue. Mas nunca se atrase a fazer as perguntas mais difíceis

empresa enfrentam? Olhe para o melhor e investigue a experiência do

por ter medo que a outra pessoa se ofenda ou termine o negócio. Se isso

seu potencial parceiro, sua história e reputação, para determinar se ele

acontecer, considere que é uma bênção e continue à procura.

ou ela tem, de facto, feito aquilo que alega poder fazer por você. Pesquise no Google o seu potencial candidato. Fale com ex-empregadores, clientes e empregados. Apenas gostar de alguém, trabalhar bem com ele ou ela na escola ou estarem relacionados não é um motivo suficiente para terem um negócio juntos.

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artigo

Design / Nuno Ribeiro

PRIMEIROS PASSOS DA DEMOCRACIA E REFLEXOS NO DESIGN Parte 3/4

Texto por Nuno Ribeiro

01

64

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Tudo mudou, a revolução transportou uma nova visão, uma nova atitude e uma nova abordagem aos meios de comunicação.

espanto ao propor a tónica dominante da VI Bienal de Arte de Cerveira sob o signo do Design Gráfico.”

“Uma revolução precisa de símbolos, de sinais envergados pelos seus

Um mês depois da revolução deram-se os primeiros passos para a

apoiantes, que lhes permitam uma afirmação de adesão e um sentimen-

criação da APD – Associação Portuguesa de Designers. Um grupo de

to de comunhão nos mesmos ideais. Os símbolos não são meras simpli-

designers convocou uma reunião para discutir os problemas relacio-

ficações gráficas, mas reflexos mais ou menos precisos de movimentos

nados com a profissão e com o exercício da actividade do Design em

políticos ou sociais que representem.”

Portugal: reconhecer o papel do designer na sociedade, reconhecer a

Símbolo como o cravo vermelho está no consciente de todos, faz parte da iconografia que marcou estes tempos de mudança. A liberdade de expressão assumiu por estes dias uma enorme simbologia, presente em cartazes, pinturas murais, emblemas, autocolantes,

profissão. Estas preocupações e motivações levam a que esse grupo de designers comece a reunir-se na Sociedade Nacional de Belas Artes em 1975, um ano depois é fundada a APD. Logo em 1976 lançou um Manifesto à sociedade portuguesa onde se

selos, panfletos, etc, etc. Cada e qualquer superfície servia para a manifestação critica, cola-

clarificava um conjunto de cenários; este manifesto com textos de Sena

vam-se cartazes, pintavam-se murais, escreviam-se palavras de ordem

da Silva e Sebastião Rodrigues teve o nome de “O Lugar do Design”.

sem qualquer constrangimento ou regra, tudo era permitido.

Presidida por Sena da Silva, esta Associação viria, em 1982, a promo-

O pontapé de saída para esta invasão pictórica e mural que invadiu

ver na Sociedade de Belas Artes em colaboração com a Associação

Lisboa bem como outras cidades, foi dado no dia 10 de Junho de 1974;

Industrial Portuguesa, Banco Português do Atlântico e Fundação Ca-

quarenta e oito artistas plásticos das mais variadas tendências foram

louste Gulbenkian, a exposição Design & Circunstância.

convidados para pintar um extenso painel colectivo no Mercado do Povo, que funcionou na zona ribeirinha de Belém, em Lisboa.

O entendimento do design foi o mote desta exposição, nas palavras escritas no catálogo do evento por Sena da Silva,

Um painel de 24 metros de comprido com 4 metros de altura, com

“Muitos dos designers que constituíram esta Associação – entre eles

uma intervenção colectiva que denotava desequilíbrios pela natureza

o autor destas linhas...- não sabiam que eram designers quando come-

das diferentes abordagens, o único desejo era o de celebrar o fim da

çaram a trabalhar. Eram artistas gráficos, arquitectos, engenheiros, de-

ditadura.

coradores e oficiais de vários ofícios empenhados em várias formas de

O nome de Sebastião Rodrigues está associado a esta época em que anónimos e nomes já consagrados do design se uniam com o mesmo objectivo, inventando e conceptualizando ícones da revolução com a

resolução de problemas em que aparecia geralmente a necessidade de um projecto” A exposição apresentou trinta e oito designers, entre os quais António Garcia, Cristina Reis, Daciano Costa, Eduardo Afonso Dias, Carlos

enorme liberdade que advinha do momento. Chegou por esta altura a época da proliferação de bienais de arte que se organizavam atabalhoadamente por todo o país, com a inerente des-

Rocha, João Machado, José Brandão, Luís Carrolo (1946-), Assunção Cordovil (1947-) e Sebastião Rodrigues. “Uma nítida unidade em termos de produção, atitude e prática profis-

centralização cultural. A mais original e que iria perdurar até aos nossos dias é a Bienal de Vila Nova de Cerveira, criada em 1978 mas que na sua 6ª edição em 1988 ganha um espaço muito estreito com as artes gráficas. “E, tal como, em 1978, Vila Nova de Cerveira foi criadora de espanto ao organizar a I Bienal de Arte numa vila linda mas recôndita deste País

sional e até geracional unia estes designers, reunidos perante um panorama onde já emergiam outras posturas e entendimentos do design.” Organizar era a palavra de mote através de um texto de Fernando Pessoa aplicado ao catálogo da exposição. Sugere-se uma atitude mais globalizante para o design.

perante o cepticismo das capitais centralistas, vai certamente criar novo

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artigo

Design / Nuno Ribeiro

O DESIGN DE COMUNICAÇÃO COMO DISCIPLINA DE DIREITO PRÓPRIO Aproximamo-nos do final dos anos 80, si-

A missão do CPD era a de aplicar melho-

tuamos o ano de 1986 como tendo sido o ano

rias na prática, na funcionalidade e na acessi-

de plena adesão à CEE - Comunidade Eco-

bilidade a produtos e serviços.

nómica Europeia, momento de viragem que

Era fundamental entender o Design como

hoje permite percebemos o quanto Portugal

uma disciplina para a gestão estratégica de

avançou. Temos hoje um País moderno com

modo a funcionar como uma ferramenta glo-

inúmeros exemplos de inovação e empreende-

bal para a qualidade dos produtos.

dorismo. Para aqui chegar muito contribuíram inú-

sign, muitos deles fundados por recém for-

meros profissionais que no campo da comu-

mados do IADE e da ESBAL, o caso mais

nicação e da publicidade empenharam vidas,

evidente é a Novodesign que marcou um pon-

para que agora possamos usufruir desse ima-

to de viragem, fundada em 1985 por Carlos

ginário, dessa história que se fez e continua a

Coelho e Paulo Rocha. Abordaremos de forma

fazer, este é o momento de viragem o momen-

mais extensiva esta agência que na sua bro-

to do reconhecimento ainda tímido, porque

chura de apresentação evidenciava, “Investir

não esqueçamos, só há dois anos, mais pro-

no Futuro, é um Conceito Relativo, Investir

priamente em Janeiro de 2007 é que foi reco-

no Design, é um Factor Absoluto, vamos criar

nhecida a profissão de Designer, código 1336,

Factores de Progresso.”

assim registado para inscrição nas finanças.

02

Comunidade Europeia, as empresas sentiram

aparecimento de inúmeras agências de publi-

necessidade de expandir para outros merca-

cidade, ateliers de design, que desempenharam

dos. Era pois altura de introduzir no mercado

um papel muito importante na comunicação

novos produtos capazes de satisfazer os con-

das marca. As necessidades de comunicação

sumidores cada vez mais exigentes. Assistiu-

aumentaram exponencialmente nos anos 90,

se na altura ao crescimento de investimentos

com o aparecimento de muitas marcas que se

publicitários, ao aumento da qualidade de pro-

pretendiam destacar no mercado nacional.

dução e ao aparecimento de uma publicidade

ar de forma individual, doravante assiste-se ao trabalho da agência, do atelier, do estúdio...

mais inovadora e criativa. A tecnologia digital começou a fazer parte da vida quotidiana, vivia-se a era da miniatu-

O Designer tornou-se “uma raça perigo-

rização. O computador Macintosh massificou-

sa, e como agente de equilíbrios (ou de dese-

se por esta altura, trazendo consigo uma revo-

quilíbrios), cabia-lhe intervir, criar e também

lução no mundo das artes gráficas.

educar.”

Em consequência, o design e a publicida-

Para além da Associação Portuguesa de

de fundem-se, muitas vezes debaixo do mes-

Designers, foi importante o surgimento em

mo tecto em grandes agências de publicida-

1985 do CPD - Centro Português de Design,

de, que no início da década de 90 invadiram

vocacionado mais para o Design industrial,

Portugal como destino apetecível e de enorme

nunca deixou no entanto de ter uma visão glo-

crescimento.

bal sobre o que de melhor se fazia no nosso País.

01) Cartaz “25 de Abril” para Secretaria de Estado da Cultura, 1977, Sebastião Rodrigues 02) Folheto “Telecel” 1993, Novodesign 03) Cartaz para “3º Festival de Jazz Europeu no Porto”, 1994, João Machado 04) Multibanco 1989, Novodesign 05) Apple Macintosh Classic, 1987

Nos anos 80 com a entrada de Portugal na

Os últimos 30 anos foram marcados pelo

Até aqui tínhamos muitos designers a actu-

03

Por esta altura surgiram gabinetes de de-

Importantes agências a nível nacional e mesmo internacional e que congregavam em

Era importante dinamizar a indústria e o

si serviços globais de comunicação, demons-

CPD surgiu com essa vocação, responder a

trou bem o momento de crescimento econó-

necessidades, resolver problemas e principal-

mico e social vivido em Portugal nos finais da

mente sensibilizar os empresários para a obri-

década de 80 e durante toda a década de 90.

gatoriedade de “pensar design”.

Os processos de produção alteram-se e trazem novas formas de comunicar.

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05

Nas artes gráficas, talvez uma das maiores transformações seja o

A obra de Henrique Cayatte evidencia-se por uma intervenção de

surgimento do sistema CTP- Computer to Plate que elimina a existên-

grande abrangência nos diferentes domínios do design bem como pela

cia de fotolitos e que permite a personalização a baixo custo. No inicio

relação de interdisciplinaridade com outros territórios. Desde a ilus-

o formato A3 era uma limitação, mas nos dias de hoje está também esse

tração e as artes plásticas, onde fundamenta o seu percurso no design

condicionamento já ultrapassado.

editorial, às relações com a cidade, seja na arquitectura (sublinha-se a

No campo exclusivo do design destacaram-se alguns ateliers como

campanha de salvaguarda da obra de Cassiano Branco e de defesa do

o de Ricardo Mealha e Ana Cunha que, em conjunto, fundaram a

Éden – projecto e autoria das exposições em Lisboa, 1991), seja do de-

RMAC em 1996. Já com 76 prémios é a agência de “Branding” portu-

sign de Comunicação Urbana (onde se salienta o trabalho de sinalética

guesa mais premiada.

para a Expo 98 – em conjunto com o designer italiano Pierluigi Cerri).

Em 2005 ganharam o prémio de Design mais importante na Alema-

A exposição “Liberdade e Cidadania”, integrada nas comemora-

nha. IF Design Award com o trabalho - Moda Lisboa. Premiado tam-

ções do 25 de Abril, patenteiam o seu significativo envolvimento em

bém em Portugal e Estados Unidos.

causas e projectos de âmbito cultural e político.

Principais trabalhos de referência: Ana Salazar – Frágil – Lux –

Henrique Cayatte nasceu na cidade de Lisboa em 1957. Antes de

BES - Habitat - Area - Companhia Nacional de Bailado - Instituto

entrar para a Universidade, trabalhou como professor voluntário na

Camões – BBVA - Jerónimo Martins – Unilever - Moda Lisboa - Fun-

Guiné Bissau e, face às necessidades extremas afectas também aos

dação Calouste Gulbenkian – PT – Fnac - ICEP – Identidade de Portu-

materiais escolares, concebeu uma sebenta, ao mesmo tempo que dá

gal – Fidelidade - Museu da Presidência .

por si a medir os tampos das carteiras, a estudar os tipos de letra e a

O atelier de Henrique Cayatte assumiu especial importância neste panorama e sobre este apresenta-se o seu historial.

distribuição da informação no papel. Começava a seguir um raciocínio de designer.

Licenciado em pintura é no design que encontra projecção.

Quando regressou a Lisboa, ingressou na Escola Superior de Be-

É, nas premissas de Daciano Costa e Sena da Silva que Henrique

las Artes, mais concretamente no curso de pintura. Foi convidado pela

Cayatte se revê e procura nortear a sua acção de designer, valorizando

Editora Plátano a fazer a ilustração de uma história infantil e em 1983

a relação afectiva com as “coisas” e desbravando com grande mestria

iniciou a sua actividade na construção de cenários para teatro de revis-

a transição decorrente da introdução e consequentes potencialidades da

ta, intensificando igualmente os projectos na área Editorial. Assumiu

utilização das novas tecnologias.

a autoria de uma colecção da Caminho bem como o cargo de Director gráfico nesta mesma editora (1985-1988).

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artigo

Design / Nuno Ribeiro

06 06) Folheto “CCB” 1993, Novodesign 07) Linha de anúncios para imprensa da Campanha de Sensibilização para o Design, CPD, (Prémio Nacional de Design 98/99), Letra Design 08) Alguns dos logótipos mais representativos do extenso portfólio da Letra Design 07

Em 1985, ingressou como membro da Selecção Portuguesa à Bie-

Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais

nal de Ilustração Infantil de Bratislava e em 1988 iniciou a sua activi-

e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, foi o designer Oficial da

dade como ilustrador para a “Revista” do “Expresso”. Ainda neste ano,

Exposição Engenho e Obra. O Passaporte Electrónico Português é um

passa a integrar a equipa que virá a formar o jornal “Público”, do qual

dos seus mais recentes projectos.

foi fundador, autor do Design global, editor gráfico e ilustrador.

A indiscutível notoriedade da sua carreira fê-lo merecedor de vá-

De sua autoria foi também, o Design das revistas “Ler” e “Ego-

rios prémios, entre os quais se destaca: 1º Prémio de ilustração da Se-

ísta”, o Design dos catálogos para as exposições da “Lisboa-Capital

cretaria de Estado da Cultura para o conjunto da sua obra de ilustração

da Cultura”, o Design global do Pavilhão de Portugal na Exposição

(1986); Prémio Fundação Calouste Gulbenkian de Ilustração (1988);

Universal de Hannover 2000, a direcção de arte do CNL (canal de no-

Prémio Nacional de Design, atribuído pelo Centro Português de De-

tícias de Lisboa) e dos CD-Rom “Arte Portuguesa do Século XX” e

sign (1999); Prémio Nacional de Ilustração (2001); três Prémios APEX

“Biblioteca de Autores Portugueses”.

(EUA) para o Design da revista “Egoísta”; Grande Prémio Gulbenkian

Em 1990 abriu o seu Atelier (Atelier Henrique Cayatte) onde pro-

de Literatura para Crianças e Jovens, na modalidade Livro Ilustrado

moveu o desenvolvimento de trabalho de Design em diferentes áreas

com a obra “Estranhões e Bizarrocos”; Medalha de prata Design, me-

e domínios: cultural, educativa e científica, ilustração e produção de

dalha de mérito Design da Society of Publication Designers (SPD),

trabalho editorial, bem como assessoria gráfica e de comunicação plu-

EUA, para a revista “Egoísta”; Dibner Award (USA)- melhor expo-

ridisciplinar e multimédia.

sição Internacional de Ciência e Tecnologia 2003 – para o Design e

Não limitou a sua participação activa apenas ao território nacio-

interpretação da exposição “Engenho e Obra”.

nal, em 1993 tornou-se membro e conferencista dos “Rencontres In-

Organiza por ocasião da 4ª Experimenta Design em 2005, a P –

ternacionales de Lurs” (França). Pertenceu à Comissão Organizadora

Design de Portugal 1990-2005. Comissariada por Henrique Cayatte,

do Congresso Internacional de Design Gráfico - ICOGRADA POR-

esta mostra propunha, “uma leitura e uma síntese do design industrial

TUGAL’ 95, dirigiu, desde 1995, o “Seminário Avançado de Design

e do design de comunicação portugueses mais recentes. Os trabalhos

de Comunicação” do A.R.C.O., e foi também um dos coordenadores

de cerca de 80 criadores nacionais ilustram as novas Dinâmicas que

do curso de pós graduação em Design Urbano da Faculdade de Belas

caracterizam a produção portuguesa contempôranea, cuja projecção e

Artes da Universidade de Lisboa e do Centro Português de Design.

reconhecimento internacionais têm vindo a aumentar, realçando a im-

Em 2003, a convite do Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento do Instituto Superior Técnico, e do

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portância desta disciplina agregadora e multiforme.” No campo do design de comunicação estiveram presentes, alguns

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tipográficos no início dos anos 90, resultado de uma insipiente oferta de fontes tipográficas disponíveis no mercado. Naquela altura. existiam apenas os obsuletos sistemas de fotocomposição, condicionados a estúdios de composição tipográfica de custos elevados, de decalque da “Letraset” e “Mecanorma”. As fontes existentes utilizadas por sistemas como o da “Apple” para o Macintosh eram ainda poucas, limitadas a pequenos catálogos. “Quando comecei a trabalhar, em 1994, existiam muito poucas tipografias disponíveis. O mercado começava a ficar saturado de designers gráficos — que é a minha formação de base — e então enverdei pelo desenho de tipos de letra, uma paixão antiga, mas nunca concretizada. Mas como não havia ninguém para ajudar e ensinar, foi um trabalho muito penoso e duro. É difícil explicar que se desenha letras, porque as pessoas pensam que as letras são coisas que já nasceram desenhadas” A procura de um vasto conjunto de referências históricas, principalmente no campo da caligrafia portuguesa, espanhola e italiana são algumas das referências de Dino dos Santos que vem principalmente dos seus estudos 08

desenvolvidos a partir da caligrafia tardia dos séculos XVIII e XIX, e que se notam em di-

dos mais representativos ateliers e gabine-

licenciou-se em Design de Comunicação Vi-

tes de design que dominam a cena actual do

sual pela Escola Superior de Artes e Design

Dino dos Santos diz que devemos acom-

design gráfico actual entre os quais: Coyotte

(ESAD), em Matosinhos. Em 2002, obteve

panhar a evolução da tecnologia, mas sempre

Designers; Flúor Design Francisco Providên-

o grau de Mestre em Arte Multimédia, pela

tendo o passado como referência. Segundo

cia; Ideia Ilimitada; João Machado; Jorge dos

Faculdade de Belas Artes da Universidade do

ele, devemos entender a história para poder-

Reis; Jorge Silva / Silva! Designers; José Te-

Porto (FBAUP) com a Tese de Mestrado, “Ti-

mos compreender quem somos.

ófilo Duarte, José Brandão / B2 Design; Letra

pografia Digital em Ambientes Multimédia”.

Fundou e dirige, desde 1994, a DSType

ETP / Carlos Rocha; Mário Feliciano / Se-

Desde 1996 até aos nossos dias, é docente na

Foundry (www.dstype.com), um atelier de

cretonix; Pedro Albuquerque; Pedro Falcão;

(ESAD) Escola Superior de Artes e Design em

criação de tipografia digital, tendo desenhado

Pedro Rufino; R2 Design; Ricardo Santos;

Matosinhos onde lecciona Estudos de Tipo-

fontes para diversas empresas, publicações e

RMAC - Ricardo Mealha / Ana Cunha; Sebas-

grafia, de Projecto Multimédia, e de Teoria do

entidades culturais, nacionais e estrangeiras.

tião Rodrigues; Rui Marcelino / Alma Design;

Design, e Design de Comunicação no Mestra-

O seu trabalho tipográfico já foi publicado

SinoDesign; Umbigo.

do de Design Industrial na Faculdade de En-

em várias revistas, tais como Computer Arts

genharia da Universidade do Porto (FEUP).

(UK); Creative Review (UK); Page (DE); Pu-

Em complemento e como base fundamen-

versos tipos, tais como a Andrade e a Pluma.

tal do Design de Comunicação a tipografia as-

Dino dos Santos é considerado uma refe-

blish (PT); Page (PT), entre outras. Ganhou

sume um papel integrante e fundamental em

rência internacional no universo dos typede-

o Creative Review Type Design Award, na

Portugal, e já de uma forma tardia surgiram

signers e da ainda jovem disciplina “typefa-

categoria Revival / Extension family, com a

alguns designers dos quais se apresentam três

ce design made in Portugal”. As suas fontes

família de Fontes Andrade.

nomes importantes:

mereceram distinções das mais conceituadas

A tipografia Esta foi considerada Best Se-

Dino dos Santos nascido no Porto em

instituições e o interesse pelo seu trabalho

rif Font de 2005 pelo MyFonts.com. A tipo-

1971, é um dos mais prestigiados e respeitados

aumenta com a procura e crescimento de no-

grafia Nerva foi incluída nos Notable Releases

typedesigners portugueses. No ano de 1994,

vos clientes. Começou a desenhar caracteres

of 2005 pelo Typographi.com.

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artigo

Design / Nuno Ribeiro

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Ricardo Santos, nasceu em 1976 em Lisboa. Estudou na Escola António Arroio de Lisboa onde aprendeu a fazer ilustrações para diversas aplicações gráficas; entretanto teve seu primeiro contacto com desenhos de fontes digitais e seus processos, quando trabalhou no atelier T-Raso. Em 2000, participou num workshop de técnicas de impressão e da Conferência da Fontshop Typo Berlin, foi determinante para seguir com o desenho de fontes. No mesmo ano, com o objectivo de divulgar o seu trabalho desenvolveu um website pessoal , o Vanarchiv, que apresenta todo seu trabalho em ordem cronológica, desde 1998. De 2000 a 2004 iniciou estudos na área de Design gráfico no IADE, onde se dedicou ao estudo de tipografia. Em 1998, sentiu a necessidade de desenvolver um tipo de letra e

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uma base gráfica para pictogramas, de forma a usar em futuros trabalhos. Assim surgiu o tipo de letra “Van”, que foi seu primeiro tipo de

09) Logótipo da Câmara Municipal de Guimarães, 1997, Francisco Providência 10) Material promocional para Experimenta Design, 2003, RMAC 11) “Livro de Criatividade” 1987, Novodesign 12) Material promocional para “Moda Lisboa 2004”, RMAC 13) Catálogo da fonte “Leitura”, Dino dos Santos 14) Fonte “Morgan”, Mário Feliciano 15) Sinalética para Expo98, Henrique Cayatte 16) Catálogo da fonte “Lisboa”, Ricardo Santos 17) Catálogo para a exposição Cassiano Branco e o Éden, Henrique Cayatte

letra sem serifa, com um perfil geométrico, tal como a versão dos dingbats. O tipo de letra “Lisboa” e seus dingbats foram desenvolvidos em 2000 para serem aplicados, inicialmente, num pequeno trabalho gráfico para a revista “Palavras” (Associação dos Professores de Português de Portugal). A família Lisboa originalmente concebida para uma revista portuguesa em 2000. Mário Feliciano nasceu em 1970. Além de tipógrafo, é também o delegado local da Atypi, organização internacional dedicada à tipografia e Design de tipos de letra, que realizou a sua 50ª Conferência em Lisboa no ano de 2007. Proprietário da Feliciano Type Foundry, tem as suas fontes distribuídas pela Adobe, T26, MyFonts, Village, futuramente pela Enschedé e claro, pela sua própria fundição tipográfica digital, a FTF. Começou a trabalhar como graphic designer para o magazine Surf Portugal em 1993. Viu na tipografia um negócio que pode proporcionar realização

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profissional e lucro financeiro. Esteve algum tempo associado à fundição Enschedé. Recentemente vendeu uma de suas fontes customizada para o novo projecto gráfico e editorial do jornal Diário de Notícias de Portugal e, em parceria com a BBDO e o estúdio de design RMAC, desenvolveu a fonte do logotipo do Banco Espírito Santo e a fonte de texto exclusiva, BES. O tipógrafo conta também com letras produzidas para os jornais Expresso, O Jogo, e para Expo 98 e Passaporte Electrónico Português. Nos finais dos anos 90, com o aparecimento de novos canais televisivos e da TV cabo, surge a necessidade de criar mensagens publicitárias que conseguissem prender a atenção do consumidor cada vez mais exigente e esclarecido. Por um lado, as agências de publicidade continuam a desenvolver outras técnicas e conteúdos publicitários, por outro lado, e devido a todo um conjunto de problemáticas sociais e ambientais dos nossos dias, desenvolvem-se campanhas que pretendem alertar a sociedade para essas questões. As empresas têm à sua disposição, para além dos media tradicionais — televisão, imprensa, rádio e publicidade exterior, outros supor-

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tes, como os terminais multibanco, os transportes públicos, a Internet, e ainda outras ferramentas como o Marketing directo. O recurso às novas tecnologias irá criar, num futuro próximo, uma nova forma do consumidor receber a publicidade. O papel da agência de publicidade e dos próprios anunciantes será repensado, pois os consumidores passam de meros espectadores para participantes activos na comunicação e puNuno Ribeiro – nunoribeiro@me.com

blicidade.

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artigo

Consultoria / IP Solutions

AGORA QUE JÁ PERCEBI,

DIGAM LÁ O QUE POSSO FAZER PARA ME PROTEGER… Texto por André Guerreiro Rodrigues + Marco Alexandre Saias

(DIREITO DE AUTOR… MAS ALGUÉM ME EXPLICA O QUE É ISSO? PARTE 2) 72

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Não, não tens de ir à SPA… ao contrário do que muita gente diz, não

Pois, mas o registo não te cria direitos. Simples. Está na Lei. E o Juiz, longe nos vá o agoiro, tem de seguir a Lei. Nós confiamos. E achas que

tens de ir à SPA para te protegeres. Sabes o que é engraçado nesta história do Direito de Autor? É que não precisas de fazer qualquer registo para teres o direito!

o dizíamos sem confiar? Depois tens um conjunto de regras que podes e deves seguir: 1.

Estranho? Mas é a verdade, acredita. Apenas tens de ter a tua Obra fixada, ou seja, tens que fazer com que ela deixe de ser uma ideia e tens de a co-

processo evolutivo. 2.

locar num suporte: - Tens de escrever o conto;

Guarda tudo. A sério. Rascunhos, esboços, projectos. Guarda

tudo. Põe tudo num dossier, organizado. Assim, podes demonstrar o Se és tu quem adquire licenças, escreve num calendário as

datas em que terminam. 3.

- Tens de escrever a pauta, ou gravar a música;

Pensa a longo prazo. Por vezes é complicado, mas pelo me-

- Tens de pôr o desenho num papel, num quadro;

nos tenta. Pensa em termos de futuro. E coloca a gestão da tua Proprie-

- Tens que gravar o filme num suporte digital;

dade Intelectual em sintonia com esse pensamento.

Tens de passar a tua ideia para algo que permita que ela se torne real, uma Obra, e que permita que a possas copiar, transmitir, etc. Fascinante não é? É como nascer: não precisas que te digam que nasceste para teres direito à vida. Basta teres nascido, basta teres criado

4.

Se és tu que licencias, guarda os contratos em dossiers. Põe

igualmente num calendário quando termina a licença, para que não se andem a servir dela sem autorização. 5.

Negoceia Direitos e não Obras. São coisas distintas. A Obra

é tua. O que outros podem usar são Direitos.

a Obra. Por isso o Direito de Autor protege a Criação. A Obra. E não as

6.

Inscreve-te nas Entidades de Gestão Colectiva: SPA, GDA,

etc., dependendo do que fazes. Isto ajuda-te não só a que possas receber

ideias. E se quiseres proteger ideias? Bem, então aí terás de recorrer a outros mecanismos fora da Propriedade Intelectual. Chato? Por vezes. Mas, agora que estamos só os dois, toma nota do que te vamos dizer:

quantias, mas dá garantias e segurança a quem licencias, e assim o teu valor de mercado aumenta. 7.

Mantém um portfólio organizado. E que seja descritivo.

8.

Se colocas online, prepara-te para seres copiado. É inevitá-

É claro que te aconselhamos a ires a algum sítio fazer o registo! Não

vel. Coloca online imagens em baixa resolução ou com marca de água,

te cria o Direito, mas ajuda-te, em caso de litígio, a provar que a Obra

a tua música em mp3 com 128Kbps, e deixa que o material de qualida-

é tua.

de sejas tu a licenciar.

Olha, tens o IGAC (www.igac.pt): é do Estado, serve para isso. É ligeiramente burocrático, pagas, e se por algum motivo acham que

9. 10.

aquilo não é uma Obra, não te serve de muito. Depois tens serviços como o Safe Creative (www.safecreative.org), que não é do Estado, mas que te possibilita seres tu a fazer em casa

Não tenhas medo de partilhar. Vai buscar valor à qualidade e

não à quantidade. Procura sempre quem perceba destas matérias para te ajudar.

Mesmo que possas achar que não vale a pena ou é caro, o ganho é sempre maior que o prejuízo.

seguindo as instruções. Qual a diferença: um é do Estado o outro não. Nós recomendamos. Não entras no corrupio burocrático, despesas, possibilidade de recusas,

SÊ POSITIVO: o Direito de Autor é antes de tudo uma ferramenta e não um instrumento de repressão. Utiliza-o para ganhares valor e

etc., etc., …

reputação.

“Ah, mas o do Estado é mais forte em tribunal”

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artigo

Manuela Carlos

Dra. Manuela Carlos www.etic.pt

PRESIDENTE DO GRUPO ETIC VICE-PRESIDENTE DA ANESPO- ASSOCIAÇÃO DAS ESCOLAS PROFISSIONAIS MEMBRO DA DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA MULTIMÉDIA EM PORTUGAL

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SER CRIATIVO À BEIRA DO TEJO Fala-se muito hoje das indústrias criativas e culturais. Por toda a Euro-

criando-se condições e atraindo talentos de todo o mundo? Temos Sol,

pa encontramos cidades com pólos de criatividade, onde as escolas e os

temos praias, temos escolas, temos artistas, pessoas com talento, temos

artistas que de lá saem dão um contributo decisivo na evolução dessas in-

uma das cidades mais bonitas, somos hospitaleiros, todas as condições

dústrias e fazem dessas cidades pólos de atracção de jovens que ai querem

para ter uma cidade que fervilha de criatividade, com jovens que querem

estudar e muitas vezes viver e trabalhar.

cá estudar e trabalhar.

Estive recentemente em Barcelona, onde proliferam escolas ligadas à

Em minha opinião não tem havido, ao longo dos anos e dos sucessivos

arte e criatividade. Não é novidade para ninguém que Barcelona se assu-

governos, uma política pensada a médio e longo prazo para a cidade e para

miu, desde há muito, como uma cidade ligada à multiculturalidade, onde

a área da cultura e educação.

milhares de jovens querem estudar e criar.

Não se tem pensado no papel importante que as escolas de arte po-

Em Barcelona existem estímulos à criatividade em cada esquina. Es-

dem ter ao trazer à cidade talentos que possam criar e desenvolver novos

colas de design, de vídeo, fotografia, cinema, são às centenas, públicas e

projectos inovadores, dentro do que hoje se pode denominar conteúdos

privadas. Há uma escolha para todo o tipo de procura.

criativos.

A concorrência ali é saudável. Cada escola tem uma singularidade que

É sabido que hoje não basta ser inteligente e ter conhecimento. A socie-

a distingue. O importante é criar. O importante é dar à cidade e a quem a

dade quer mais. Quando compramos alguma coisa não basta que ela seja

procura uma escolha de qualidade e atrair estes jovens para lá continuar.

tecnicamente bem feita, queremos que nos forneça também sensações, que

O Governo da Catalunha tem tido essa preocupação de fomentar espaços,

nos provoque emoções, que seja bela. E é aqui que as escolas de arte e

galerias, residências incubadoras de projectos para estudantes, que sirvam

criatividade podem marcar a diferença. É aqui que nascem as novas com-

para fixar na cidade quem a procura.

petências que podem fazer a mudança, e era bom que o pudéssemos fazer

Sendo Lisboa uma cidade com tantas ou mais possibilidades de atracção que Barcelona, porque será que ao longo dos anos não tem havido

contando com outras culturas, com outras civilizações, que trariam decerto um maior contributo à qualidade e diversidade.

a preocupação de a colocar como um verdadeiro centro de criatividade,

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artigo

Manuela Carlos

O que é a ETIC? A ETIC – Escola Técnica de Imagem e Comunicação é uma escola que ministra cursos de vídeo/cinema, fotografia, design, multimédia, entre outros. Pode-se dizer que a ETIC dá formação de cursos hoje denominados da área das indústrias criativas. Como começou a ETIC? A ETIC começou em 1991. Nasceu de uma necessidade verificada na altura, com cursos muito inovadores e direccionados para o mercado de trabalho. Qual são os objectivos da ETIC? Os objectivos da ETIC continuam a ser os mesmos do seu início: contribuir para uma formação inovadora e de excelência, que possa colocar os nossos alunos no mercado, quer a trabalhar em empresas, quer como empreendedores, criando o seu próprio negócio. Ensinamos e estamos preocupados em criar atitude, interdisciplinaridade, para que possamos marcar a diferença. A ETIC tem-se adaptado às novas tecnologias pedagógicas? A ETIC desde sempre utilizou o que podemos denominar pelas novas tecnologias pedagógicas. Tivemos sempre um enorme investimento em softwares e hardwares que permitissem ao nosso aluno estar formado com as tecnologias usadas no mercado. São áreas em constantemente mudança e tentamos acompanhar essa evolução. Para além disso, possuímos tecnologias de carácter pedagógico que facilitam a aprendizagem e colocam os nossos alunos e formadores em rede. Como é que a ETIC se enquadra no resto da Europa? Daquilo que nos é dado perceber, e das visitas que temos feito e recebido, a ETIC está colocada ao mais alto nível das escolas que existem nestas áreas. Orgulhamo-nos dos elogios que recebemos sempre que responsáveis de algumas organizações nos visitam, bem como dos estudantes que recebemos vindos de outras escolas ao abrigo de protocolos que fazemos. É nossa política o desenvolvimento de parcerias com outras escolas pelo mundo fora, de forma a fomentar a troca de experiências entre alunos de outras culturas. Como que vai ser o futuro da ETIC? O futuro da ETIC será o de continuar a trabalhar para poder ter sempre uma melhor oferta. Não nos acomodamos, estamos atentos ao que se passa à nossa volta e queremos continuar com este desassossego que nos protagoniza.

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artigo

Som / José Fortes

EU, TÉCNICO DE SOM. Texto por José Fortes / fortesom@netc.pt

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CÁ ESTOU OUTRA VEZ PARA CONTINUAR A CONVERSAR SOBRE SOM. ESPERO QUE LHE TENHA SIDO ÚTIL A EXPERIÊNCIA QUE LHE PROPUS NA NOSSA ÚLTIMA CONVERSA. HOJE VOU FALAR-LHE DE UMA SURPRESA QUE VIVI HÁ UNS ANOS.

Estava a captar uma fonte sonora no formato middle-side (MS) e, a pedido do produtor, mudei para o formato XY. Como estava com um microfone estéreo de multiconfiguração, limitei-me apenas a passar de MS para XY no mesmo microfone.

Como sabe, as curvas de resposta dos microfones não são lineares nos seus 360º. Nos microfones cardióide a optimização da curva de resposta está aos 0º.

Verifiquei uma mudança de som e não entendi de imediato a razão da

Se observar a figura, naturalmente que entende qual a curva de resposta em cada um dos formatos de captação estéreo.

mesma. Reposicionei o microfone, agora no formato XY, de forma a ter o tal “som o mais agradável possível” e continuei o meu trabalho. Mais tarde fui procurar uma justificação para o sucedido e concluí que o

Gostava, no entanto, de lhe lembrar que ainda há outra pequena diferença que também se ouve. • No formato MS, ao equilibrarmos as energias relativas entre o cardióide e o figura de oito, estamos apenas a alterar a abertura do ângulo estéreo,

resultado só podia ser o que tinha verificado. Vejamos:

ou seja, se iniciarmos o equilíbrio apenas com o cardióide temos apenas

• O formato de captação MS é formado por um microfone cardióide e

um resultado mono. Quando começamos a acrescentar o microfone figura

um microfone figura de oito coincidentes, ligados a uma matriz MS1.

de oito estamos a direccionar as fontes sonoras que se encontram nos lados

O 0º do microfone cardióide (a frente do microfone) está direccionado

esquerdo e direito para as suas localizações respectivas, optimizando a

para a frente (centro) do palco sonoro. O 0º do lóbulo positivo do microfo-

curva de resposta nas laterais, mas sem alterar o ângulo de captação sono-

ne figura de oito está direccionado para o lado esquerdo do palco sonoro,

ra, pois não há movimento dos microfones.

por consequência, o lóbulo negativo fica direccionado para o lado direito do palco sonoro. Garantidamente que sabe como funciona o MS. • O formato de captação XY é formado por dois microfones cardióide coincidentes, com um ângulo de abertura entre os 90º e os 117º. O 0º de cada um dos microfones cardióde está entre os 45º e os 58,5º do

• No formato XY, para ter mais ou menos abertura do ângulo estéreo, terá que alterar a abertura angular dos dois cardióides. Ao fazê-lo está a alterar o ângulo de captação. Repare que ao passar dos 90º para os 110º está a perder a captação do centro do palco sonoro em benefício das laterais, quer no que se refere a energia, como também à optimização da curva de resposta.

centro do palco sonoro.

Sei que não há formatos perfeitos. Não quero com isto dizer que há um formato melhor que outro, longe de mim tal pensamento. No entanto constatei este facto porque realmente se ouve. Desafio-o a fazer este exercício de audição, é fascinante o que se ouve. Para ter uma melhor percepção desta diferença sugiro que faça uma gravação no seu multipista com uma fonte sonora electro-acústica, (reprodução de um CD através de um altifalante, por exemplo) e, sem mudar a posição do microfone, configurar os dois formatos e gravá-los em pistas diferentes, para poder compará-las. 01) Matriz MS. Dirige o microfone cardióide para o canal esquerdo e canal direito e dirige o microfone figura de oito também para o canal esquerdo e direito, invertendo a polaridade no envio para o canal direito.

02) Nas coordenadas X e Y. Sendo o microfone dirigido para a esquerda do palco sonoro para o canal esquerdo e o outro para o canal direito.

Incentivo-o a investir no ouvir. O som começa e acaba na acústica. Espero poder continuar a conversar consigo sobre som. Um abraço, Zé Fortes

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tutorial

Photoshop / Alberto Plácido

WORKFLOW PHOTOSHOP E MÉTODOS DE TRABALHO Texto por Alberto Plácido - albertoplacido@mac.com

O WORKFLOW, INDEPENDENTEMENTE DO NÍVEL DE CONHECIMENTO DO PHOTOSHOP, TEM UMA IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL, AO PONTO DE, MUITAS VEZES, SER A ÚNICA FORMA DE TIRAR PROVEITO, NA SUA TOTALIDADE, DAS FUNCIONALIDADES QUE ESTE SOFTWARE OFERECE. MESMO CONHECENDO A FUNDO TODAS AS SUAS FERRAMENTAS, SEM UM MÉTODO DE TRABALHO COERENTE NUNCA SE PODERÁ USUFRUIR TOTALMENTE DO PROGRAMA. Workflow: uma palavra que se

descorar o Lightroom como uma proposta integrada que, apesar das

tem destacado recentemente, a pon-

suas limitações, propõe um sistema fluido e consistente no que diz res-

to de se tornar argumento de ven-

peito à organização e correcções básicas da imagem. O problema deste

da e mote para a criação de novas

é que, em grande parte dos casos, não prescinde da utilização de um ou-

aplicações especialmente dedica-

tro software de tratamento de imagem, como o é o Adobe Photoshop.

das à fotografia digital. Entre elas

Pessoalmente, apesar de admitir a grande funcionalidade do Adobe

pode ser destacado o recentemente

Lightroom, nunca senti a necessidade de recorrer a este software, o que

criado Adobe Lightroom (posterior

resulta também do facto de não pretender utilizar 3 programas em vez

à criação pela Apple do Aperture,

de 2 (Lightroom, Bridge e Photoshop). Como tal, gostaria de deixar

desenvolvido sob o mesmo concei-

aqui algumas considerações no que diz respeito a processos de trabalho

to) que, acima de tudo, se centra no

no Photoshop que, independentemente do nível de conhecimento do

Workflow e propõe um método de

software, variam de imagem para imagem e de pessoa para pessoa.

trabalho, em sintonia com as necessidades dos fotógrafos que dedicam

Neste caso poderia dizer que existem tantas variantes quanto utiliza-

a sua actividade recorrendo à fotografia digital.

dores. Apesar disso, gostaria de deixar algumas sugestões, ou desafios,

Este, após grande investimento por parte da Adobe (quanto a mim de

que poderão contribuir para um melhor método de trabalho, neste caso

uma forma inteligente), através de uma versão Beta distribuída gratui-

apenas centrados no Photoshop em conjunto com o Adobe Bridge (que,

tamente durante um período relativamente alargado de tempo, propõe

embora seja uma aplicação independente, vem incluída com o Adobe

um processo de trabalho que, apesar do seu óbvio esforço em termos

Photoshop).

de Layout e estética, não nos permite deixar de lado a sua coerência e

Por fim, gostaria de acrescentar que a evolução do software é, em

eficácia. Embora todo este processo possa ser realizado inteiramente a

grande parte, muito importante para a evolução dos métodos de tra-

partir do Photoshop, recorrendo ao Bridge (apesar de, em certas fun-

balho que este permite, o que impõe uma certa actualização, não só

cionalidades, o Lightroom oferecer maior mobilidade) não poderemos

em termos de aplicação, como em termos de conhecimento, que vai

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de elementos da imagem, definidos pelo algoritmo do próprio formato,

evoluindo paralelamente com as actualizações. Os métodos aqui propostos partem do princípio de que a edição ide-

destruindo a informação original. Esta informação nunca mais poderá

al, ou melhor, a imagem de edição ideal, seria a que não destrói os

ser recuperada (este formato é excelente para utilização em Internet,

píxeis originais e deixa margem para futuras reedições. Então, parece-

por exemplo, por permitir grandes compressões, sem degradação vi-

me importante tirar proveito das ferramentas que o Photoshop oferece

sível da imagem, mas degradando claramente a informação real desta,

para que tal seja possível (como é o caso dos Adjustment Layers e

fragilizando-a em termos de futuras edições). Idealmente, as fotografias deveriam ser realizadas num formato

Smart Filters). Para que esta proposta faça sentido, a tomada de vistas (o acto de fotografar) não poderá ser deixado de parte. Este facto, em conjugação

LOSSLESS, que não perde informação. O TIF e o RAW são candidatos perfeitos para esta tarefa.

com o conhecimento aprofundado de como funciona o meio digital

O que os torna normalmente pouco atractivos é o facto de não se

(sensor, demosaicing, blooming, BIT, etc.) poderão ser ferramentas

conseguir rentabilizar a quantidade de fotografias que um cartão de

poderosas no que diz respeito a realizar um Workflow dinâmico e que

memória consegue guardar. Muitas vezes este número reduz para 1/5

permita realizar fotografias com grande qualidade.

ou mais o que se conseguiria fotografando JPEG. Isto no caso do TIF.

Assim sendo, e no que diz respeito à tomada de vistas, o sistema de

No caso do RAW, embora seja o formato que maior qualidade preserva

trabalho depende grandemente do formato (ou dos formatos) em que

em termos de edição, tem a sua quota-parte de desvantagens. A primei-

se guardam as imagens. As câmaras fotográficas digitais são relativa-

ra será o facto de ser mais pesado do que o JPEG (mas, normalmente,

mente previsíveis neste aspecto, já que variam entre JPEG, TIF e RAW.

mais leve que o TIF). A segunda, o facto de cada um desses ficheiros ter

Algumas permitem a realização de formatos simultâneos, como seja o

que ser “revelado” através de um software específico, como o Camera

caso de RAW+JPEG.

RAW da Adobe, por exemplo.

Nesta fase, em detrimento da abrangência, mas no sentido de res-

Confinando a nossa escolha no RAW, poderemos ainda explorar al-

guardar a qualidade final da imagem, evitaria (dentro do possível) o

gumas conveniências que permitem torná-lo mais apetecível. Dado que

formato JPEG, que, pelas suas características, é um formato LOSSY –

cada marca tem o seu formato nativo para as imagens RAW (CR2 para

de forma a reduzir significativamente o peso em Megabites, prescinde

a Canon, NEF para a Nikon, ARW para a Sony, etc.), poderemos ti-

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tutorial

Photoshop / Alberto Plácido

rar proveito do grande investimento feito pela Adobe através do DNG,

mente em imagens que necessitam de edição, contra ele fica o facto

Digital Negative (cujo software de conversão está disponível no site

de poder ser recomprimido cada vez que é novamente salvo (salvar

da Adobe gratuitamente - DNG converter em www.adobe.com) e con-

como...). Neste caso, se editar essa imagem – que, em si, é um processo

verter as fotografias originais RAW realizadas pela câmara fotográfica

destrutivo sobre uma imagem já fragilizada pela primeira compressão

para DNG. Isto apenas faz sentido no caso de se pretender realizar

original (realizada pelo software da máquina fotográfica) –, corre o ris-

backups, já que o DNG, pela forma como consegue gerir a informação

co de recomprimir cada vez que é salva. Essa recompressão irá ser

do ficheiro, permite por vezes ficar com metade do peso do RAW ori-

realizada sobre píxeis que já sofreram degradação (pelas compressões

ginal fornecido pela marca da câmara fotográfica. Poder-se-ia pensar

anteriores), sendo exponenciais os estragos que uma imagem pode so-

que, se todas as marcas conseguissem este nível de eficiência, reduziria

frer neste processo.

significativamente o investimento em discos rígidos (ou outras formas de armazenamento) para guardar as nossas fotografias. Em termos de Workflow, para quem fotografe regularmente em RAW, seria esta a primeira proposta, caso tenha sido comprovada e

Como tal, no caso de trabalharmos com imagens neste formato, proponho que o primeiro passo, a ser realizado antes de qualquer edição, seja o de a salvar noutro formato que não realize compressão destrutiva (exemplo do TIF).

se identifique com o argumento: realizar as fotografias em RAW (for-

Por fim, e antes de propor uma lista genérica de sugestões num pro-

mato nativo da marca da câmara fotográfica) e posteriormente realizar

cesso de trabalho, é fundamental acrescentar que na fotografia digital,

os backups em DNG, sem que tal acção tenha alguma influência na

tal como na analógica, a tomada de vista é fundamental. As técnicas

qualidade final da imagem. Os formatos RAW fazem essencialmente o

fotográficas em nada mudaram na transição para a fotografia digital.

mesmo, apenas gerem a informação de maneira diferente e, no caso do

Como tal, não se deve prescindir de adquirir conhecimentos aprofun-

DNG, realiza-o de forma mais eficaz, permitindo guardar ficheiros com

dados das técnicas de fotografar.

menos peso (em Megabites).

A seu favor fica o facto de, embora a edição de fotografias ser hoje

Advogando contra o formato JPEG em termos de imagem de edição,

um processo fiável e incrivelmente poderoso, a quanto menos edição

gostaria ainda de esclarecer que, pelas características deste formato, foi

estiver sujeita, menos será exposta a um processo destrutivo, como o é

criado para realizar ficheiros com grandes compressões e menor degra-

a edição e tratamento, por exemplo através do Photoshop.

dação visível com grande eficiência. É este o grande mérito do JPEG.

Como tal, penso que qualquer método de trabalho no Photoshop de-

No entanto, este formato descarta informação permanentemente, que

verá ter em consideração a capacidade destrutiva desta acção e, se bem

nunca mais poderá ser recuperada. Em termos de Workflow, principal-

gerido, poderá reduzir ao máximo as acções que podem levar uma ima-

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gem a ficar insatisfatória, em termos de qualidade final. De uma forma abrangente, e assumindo as limitações inerentes a tal proposta, aqui fica uma lista de sugestões que permitem melhorar o sistema de trabalho quando se edita uma fotografia digital: - Fotografar em Camera RAW – poderá ser RAW+JPEG, caso a câmara permita.

uma imagem de edição (ou imagem de trabalho), onde serão guardadas todas as alterações realizadas, dando origem posteriormente às fotografias finais, seja para impressão, Internet, e-mail, etc. - Se a imagem original for JPEG, deve-se salvar a fotografia noutro formato não sujeito a compressão destrutiva (exemplo do TIF ou PSD) e que permita guardar todas as alterações realizadas nessa imagem para

- Descarregar as fotografias para o computador utilizando o sistema que preferir e posteriormente guardar as imagens de backup através do DNG converter (as imagens de backup poderão ser as da máquina ou as DNG, conforme a preferência).

posterior reedição (Adjustment Layers, Alpha Channels, Layer Masks, Paths, etc.). - Depois de guardar a fotografia original em imagem de trabalho, venha ela de TIF, JPEG ou RAW, deve-se tentar preservar o background

- Através do Bridge, realizar uma pré-selecção – no caso de realizar

de forma a este servir vários propósitos: como backup da imagem ori-

RAW+JPEG esta selecção poderá ser realizada a partir dos JPEG. No

ginal, como referência para o “Antes e Depois” e, no caso de ser neces-

caso de pretender enviar a um cliente, por exemplo, permite realizar

sário, recuperar os píxeis originais, ou parte deles, durante o processo

pequenas correcções rápidas.

de edição (este método pressupõe a utilização de Layers).

- As imagens seleccionadas, no caso do RAW, deverão de ser edi-

- Relativamente cedo no processo de edição poderemos realizar as

tadas/convertidas através do software de conversão (Adobe Camera

alterações de enquadramento necessárias (por exemplo endireitar o

RAW por exemplo), tentando realizar o máximo de correcções possí-

horizonte), para que se possa realizar o Crop dos píxeis indesejados

veis nesta fase.

(e, assim, não interferirem com o histograma da imagem, dando falsas

- Se abrir a imagem RAW no Photoshop esta poderá ser aberta como

informações).

Smart Object. Em vez de realizar as alterações a partir do Photoshop,

- Dentro do possível, realizar as alterações em Layers, de preferên-

poderá fazê-lo directamente no RAW (gravadas no XMP). Este proces-

cia Adjustment Layers, que permitem não apenas ser reeditados, como

so tem grandes vantagens, já que as alterações não afectam os píxeis

também não acrescentar peso à imagem (cada Layer de píxeis acres-

originais da imagem (são registados no XMP) e garantem todas as van-

centa peso em Megabites à imagem de edição).

tagens do ficheiro RAW, mesmo durante a edição no Photoshop.

- Apesar de os Adjustment Layers serem uma forma excelente de

- Em qualquer dos casos, seja o original em TIF, JPEG ou RAW, tem

editar uma imagem, já que permitem não lhe acrescentar peso e serem

grandes vantagens em termos de método de trabalho a realização de

posteriormente reajustados, a sua escolha é relativamente limitada. A

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tutorial

Photoshop / Alberto Plácido

todo bastante destrutivo para a imagem, pelo que o recurso ao Smart Object poderá limitar essa destruição, já que, cada vez que se realiza uma transformação, este vai-se referir aos píxeis originais do Layer (resguardados aquando da transformação em Smart Object) e não aos píxeis que já sofreram transformações com a degradação inerente (salvo raras excepções). - Nesta altura pode-se obter uma imagem que, depois de muito trabalho, contém todas as transformações realizadas em Layers separados, de forma hierárquica. Isto permite manter uma história do processo realizado nessa imagem (de grande utilidade para posteriores alterações), bem como Layers que poderão ser facilmente reeditados (como os Adjustment Layers e Layer Masks). O facto de se poder utilizar Smart Objects, que dão acesso aos Smart Filters permite, entre outros, utilizar qualquer altura do processo de edição, em que se vão acrescentado Ad-

um filtro que, pelas suas características, estaria normalmente resguar-

justment Layers conforme se vai progredindo, chegaremos a um ponto

dado para último na sequência de edição, o Sharpen.

em que seremos obrigados a utilizar Layers com píxeis, por exemplo

Este filtro, fundamental na edição de imagens realizadas a partir de

para utilizar a poderosa ferramenta Shadow/Highlights (que seria bem

um sensor CCD ou CMOS, que devido à sua tecnologia tendem a su-

vinda à lista de Adjustment Layers). Neste caso, independentemente da

avizar a imagem, tem um problema inerente à sua característica, que

quantidade de Adjustment Layers utilizados, teremos que recorrer aos

limita posteriores edições, degradando gravemente a qualidade da ima-

píxeis, já que esta ferramenta não nos deixa alternativa.

gem. Assim, o uso de Smart Filters, que permite a alteração dos valores

Para tal pode-se utilizar vários métodos, ditados por diversos factores e preferências. Poderíamos fazer um Flatten Image (Layer>Flatten

do filtro em qualquer altura da edição, permite a liberdade de realizar Sharpen em qualquer momento.

Image) e salvar a imagem com outro nome. Poderíamos também rea-

A vantagem de tal acção seria o facto de manter todos os elementos

lizar um Flatten Image, mas num novo Layer, deixando todos os ou-

de edição dentro de uma única imagem, que já preserva o original (no

tros intactos (Select>all Edit>Copy merged Edit>Paste ou em al-

background intocado), a história da edição realizada, pode ser reeditada

ternativa Ctrl+Shift+Alt+N e de segunda Ctrl+Shift+Alt+E ou ainda

posteriormente, etc.

Layer>Merge Visible, com a tecla Alt activada).

Nesta proposta, será a partir desta imagem de edição que derivam

- A remoção dos elementos indesejados poderá ser realizada em novo Layer vazio, na altura mais conveniente, destinado apenas a essas al-

todas as outras imagens, dependendo da finalidade pretendida (impressão, email, Net, etc.).

terações (com excepção do Patch Tool). É fundamental ter em consi-

Em termos gerais, no que diz respeito a processos de trabalho, o

deração que, na ferramenta usada, como o Clone Stamp, é necessário

conhecimento profundo das ferramentas e métodos de trabalho no Pho-

alterar na barra de opções da ferramenta para “Sample>All Layers” e

toshop permite que se evitem passos desnecessários para chegar a um

ter grande cuidado em que zona da hierarquia se encontra este Layer

mesmo fim, já que essas edições adicionais apenas contribuem para a

(já que pode estar sob a influência dos Adjustment Layers acima deste

sua degradação precoce e torna-a de difícil reedição, caso seja neces-

- os Adjustment Layers apenas aplicam as alterações aos Layers abaixo

sária.

destes).

Assim sendo, independentemente do método eleito para a edição

- Ter em consideração que, em qualquer tipo de Layer, se poderá

de fotografias no Photoshop, deixo várias sugestões que, dependen-

fazer uso dos Layer Mask. Esta é uma forma bastante poderosa de uti-

do da interpretação de cada um, utilizando-os individualmente ou em

lizar o Photoshop já que, tal como os Adjustment Layers, podem ser

conjunto, permitem tirar maior proveito das possibilidades oferecidas

alterados em qualquer momento, controlando a transparência desses

pela fotografia digital, mais especificamente a criação de um método

mesmos Layers.

de trabalho que se ajuste às necessidades individuais de cada um, não

- Todas as transformações em termos de deformações de um Layer (à excepção do Warp), poderão tirar proveito do Smart Object que, para

descorando valores essenciais para garantir uma melhor qualidade final de cada fotografia.

além de outras coisas, realiza cada transformação referindo-se à imagem original desse Layer. Isto é, quando realizamos transformações aos Layers “normais”, como por exemplo um Scale e depois Rotate (alterar a escala e rodar o Layer em dois passos), isto implica duas interpolações: uma primeira que altera a escala, interpolando de forma a descartar os píxeis a mais e, uma segunda, o Rotate, realizada sobre estes píxeis, que sofreram já uma interpolação. Este é um mé-

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novos talentos

Ilustração

GUIOMAR TELES Designer e Ilustradora Idade: 23 anos Contacto: guiomarteles@hotmail.com

Guiomar Teles, 23 anos, licenciada em Design e Produção Gráfica pelo

As texturas, formas, cores misturam-se, e o computador ajuda a que

ISEC, desde cedo tomou o gosto pelo desenho. Enquanto trabalha

tudo se funda. A paleta de tons pastel e o tom envelhecido da ima-

como freelancer em Design e Ilustração explora e aprende algumas

gem são características que gosta de explorar, combinando colagem

técnicas de pintura. Actualmente obteve o 1º lugar no concurso no 3º

e pintura.

ILUSTRA da Etic/Who, com o tema Underground.

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01) Comadres 02) Proposta de Paginação para o catálogo Ilustrarte 03) Underground concurso Etic 04) Os meus Amigos- Capa para livro de recortes Infantil

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novos talentos

Ilustração

“A ILUSTRAÇÃO CONDUZ OS MOVIMENTOS, UM POUCO MAIS DE AZUL, UM PADRÃO ALI, UMA PINCELADA ACOLÁ, LETRAS MAIORES, UM PLANO MAIS EXAGERADO. ATÉ QUE A COMPOSIÇÃO ENCONTRA UM EQUILÍBRIO E QUANDO ISSO ACONTECE A ILUSTRAÇÃO PODE DIZER QUE ESTÁ TERMINADA.”

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09 05) O Perfume 06) À janela- Ilustração para livro Infantil 07) Proposta para índice do catálogo Ilustrarte 08) Ilustração para livro Infantil 09) Trabalho com o tema Emigração

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novos talentos

Ilustração

SANDRA NASCIMENTO Ilustradora Idade: 35 anos Contacto:beijosdealgodao@gmail.com www.beijos-de-algodao.blogspot.com www.coroflot.com/sandra_nascimento

01) Colecção “Matryoshka”. Criação de ilustrações para postais e marcadores de livro. Beijos de Algodão. 02) Criação de logotipo e respectiva aplicação em rótulo para frascos de Doce Caseiro. Cantinho do Céu, Ilha do Pico, Açores. 03) Colecção “Queres namorar comigo...?”. Ilustração para postais, marcadores de livro e etiquetas para prendas. Beijos de Algodão. 04) Emília e o Chá de Tília. Ilustração de livro infantil com texto de Alexandra Pinheiro. Editora Trinta Por Uma Linha. 05) Elefante Indiano. Projecto pessoal. 06) O Principezinho. Projecto pessoal 07) Colecção “Histórias de Encantar”. Criação de ilustrações para 18 histórias e aplicação em postais, marcadores de livro, caderno com desenhos para pintar e calendário. 08) Colecção “No meu jardim...”. Criação de ilustrações para aplicação em postais, marcadores de livro e etiquetas para prendas. Histórias de Encantar - Beijos de Algodão.

Sandra Nascimento nasceu no ano 1974 em Vila Nova de Gaia, onde reside actualmente. Em 1996 obteve a licenciatura em Design de Comunicação Visual pela Escola Superior de Artes e Design (Matosinhos), ��������� tendo desenvolvido esta actividade durante 11 anos. Desde 2007 que se dedica quase exclusivamente à Ilustração.

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novos talentos

Ilustração

LUÍS ARAÚJO Designer Gráfico/Ilustrador/Cartoonista e Web Designer Idade: 22 anos Contactos: luis_araujo.4real@hotmail.com

Luís Araújo é designer gráfico, ilustrador, cartoonista e web designer. Nasceu em Lisboa em 1987 e tem como formação o Curso Tecnológico de Comunicação Gráfica, terminado em 2006, na Escola Secundária Artística António Arroio, e o Curso Técnico de Web Design, da ETIC, concluído em 2008. Actualmente frequenta o 1º ano da Licenciatura em Design de Comunicação e Produção Audiovisual, na Escola Superior de Artes Aplicadas, do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Em 2008 foi 3º classificado no concurso de ilustração Ilustra_Underground, organizado pela ETIC.

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01) Juiz 02) Dinheiro 03) Jogos Olimpicos 04) Pages 05) Violência 06) Cidadania

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Ilustração

07) Ilustra_Underground 1 08) Ilustra_ Underground 2

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novidades

iRING

Samsung Blue Earth

Este é um conceito original de um anel que pode controlar sem fios a

A Samsung apresenta o primeiro telemóvel de ecrã táctil que pode ser

funcionalidade de reprodução do seu iPod ou iPhone.

totalmente carregado a energia solar, chamado Blue Earth. A marca

Função e forma no seu dedo

desenvolveu este telefone verde com vista a reduzir as emissões de

Com um design estilizado e conectividade Bluetooth wireless com o

CO2. No capítulo das características, o Blue Earth vem equipado com

seu iPod ou iPhone, o iRing permite controlar a reprodução e volume

um painel solar que ocupa toda a parte traseira e tem um modo eco-

em qualquer dos seus aparelhos de media da Apple. O iRing traz um

nomizador de energia que actua directamente no brilho e duração da

display de OLED brilhante com uma faixa sensível ao toque e uma

retro-iluminação. Pode ser utilizado num modo de poupança de ener-

bateria recarregável de até 12 horas.

gia, denominado Eco Mode, e até tem uma função de “caminhada eco-

Conexão USB

lógica”, que permite ao utilizador contar os seus passos através de um

Pode convenientemente recarregar o seu iRing usando o carregador

pedómetro incluído, calculando assim a redução das emissões de CO2

incluído. O seu tamanho reduzido e mecanismo de fecho tornam-no o

e as árvores poupadas. O Samsung Blue Earth estará disponível na Eu-

companheiro ideal para carregar e armazenar o seu iRing.

ropa durante o segundo semestre de 2009.

Kindle 2: biblioteca de bolso A Amazon.com anunciou oficialmente a nova biblioteca electrónica, Kindle 2, por €265. Este novo dispositivo de leitura é leve, tem apenas 289 gramas, e fino. Inclui um ecrã de 13 cm; tem 16 tons

Nokia 5730 XpressMusic

de cinza, dando a sensação de um livro verdadeiro; guarda até 1500 li-

A Nokia anunciou o telemóvel Nokia 5730 XpressMusic (€ 280). É um

vros e muda a página 20% mais depressa. Possui outras características,

telefone de música com teclado QWERTY completo, com teclas de jo-

como 2 GB de memória; mais 25% de tempo útil de bateria – uma

gos N-Gage. Com 3,2 megapixels de câmara e uma outra frontal, 2.4”

carga única chega para um máximo de 4 dias com o wireless ligado e

(240 x 320) VGA, com espaço para até 16 GB no MicroSD.

mais de duas semanas com o wireless desligado –; o novo controlador

Os atalhos para música oferecem um acesso rápido à música armaze-

permite ainda uma navegação precisa para seleccionar texto, destacar

nada no dispositivo, bem como ao Nokia Music Store, onde poderá

ou procurar palavras.

obter informações sobre artistas, música e downloads, directamente no telemóvel. Com as teclas dedicadas jogos, o Nokia 5730 XpressMusic é um verdadeiro gadget N-Gage. O acesso directo à comunidade NGage Arena e aos jogos N-Gage convidam à ligação e competição para alcançar altas pontuações com amigos online.

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Próxima Edição Jul/Ago/Set

exposição: Edgar Martins / Vencedor BES Photo 2009 entrevista: Mário Mandacaru – Presidente da Associação do CCP artigo: Nuno Ribeiro - História do Design em Portugal #4 portfólios, novos talentos, novidades e muito mais.

The Accidental Theorist

exposição: Edgar Martins - Fotógrafo

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