OS VERSOS DA IDÍLIA
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FICHA TÉCNICA TÍTULO ORIGINAL OS VERSOS DA IDÍLIA 185 POEMAS AUTORA IDÍLIA LEOCÁDIO ILUSTRAÇÕES E CAPA IDÍLIA LEOCÁDIO TÉCNICA DE CAPA E PAGINAÇÃO DIVA ALMEIDA ARTE FINAL, IMPRESSÃO E ACABAMENTO D’ALMEIDA ATELIÊ www.divalmeida.com 1.ª EDIÇÃO (NUMERADA) DEZEMBRO 2015 NÚMERO 1
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Este livro é dedicado aos meus filhos e aos meus netos.
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Nota Biográfica
IDÍLIA LEOCÁDIO DE SOUSA nasceu em Maio de 1936, em Santo André. Esteve toda a sua vida ligada ao campo e com nove anos andava na monda do arroz, já fazendo letras para músicas conhecidas para o «cantar ao despique». Aprendeu a ler sozinha, embora não saiba escrever. Radicou-se em Setúbal em 1966, tendo publicado o seu primeiro livro de poesia de raiz popular, «Os Meus Versos», aos 64 anos.
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VOU CONTAR A MINHA VIDA Vou contar a minha vida Para toda a gente saber Mesmo que me chamem pateta Sei ler, mas não sei escrever Eu sou meia-analfabeta Com um pouquinho de esforço Talvez chegasse lá Já passou a mocidade Agora com esta idade Paciência, já não dá Eu nunca andei na escola Não podia lá andar Esta foi a minha sina Logo desde pequenina Comecei a trabalhar Quando eu aprendi a ler Acreditem, podem crer Não há coisa mais bonita É difícil de dizer Acreditem, podem crer Eu julguei que estava rica.
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ENCONTREI NA MINHA RUA Encontrei na minha rua Uma mulher quase nua Que de mim se aproximou Procurei quem era ela Respondeu-me sou aquela Que tanto na vida pecou Assim vivo abandonada Na beira de uma estrada Sem carinhos de ninguém Tanto que eu tenho sofrido E muito tenho percorrido Nunca encontrei o bem Deixa de ser pecadora Se queres ser uma senhora E arranjares um bom marido Dar-te um pouco de carinho Tens de mudar de caminho Anda que eu dou-te um vestido Eu não sei o que fazer O que me está a dizer Não pensei ouvir de alguém Eu sou uma pecadora Obrigado, minha senhora Não faço feliz ninguém Se quiseres anda jantar Para dormir te dou cama Olha, nunca fui vaidosa Mas vou ficar orgulhosa Se te levantar da lama. 22.07.1988
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QUANDO EU ERA MIÚDO Quando eu era miúdo De calções e de sacola E quando eu dava tudo Para não ir à escola A minha mãe me levava E eu ia contrariado Meu Deus, o que eu dava Só para a ter a meu lado Pegava na minha mão Levava a minha sacola Ai o que ela me ensinava No caminho da escola Respeita sempre os velhinhos E não trates mal a ninguém Lembra-te dos teus paizinhos Que vão ser velhinhos também Eu sei que depois não gostas De me veres maltratada Ou de me virarem as costas Ao atravessar uma estrada Tudo o que ela me ensinou Eu tenho estado a pensar Quando filhinhos tiver A eles vou ensinar
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O seu olhar era doce E a sua voz tão querida Carinhos como os de mãe Nunca mais vou ter na vida Isto minha mãe me dizia Mesmo depois de rapaz Porque tu também um dia Olha, velhinho serás. 21.06.1991
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PEDIDO AOS MEUS FILHOS Quando eu morrer Não chorem muito por mim Que eu sou alegre Toda a vida fui assim Sejam amigos Lembrem-se da mãe querida É um pedido, meus filhos Que eu faço em vida Dêem-se bem E não me façam penar Para que a mãe Enfim possa descansar Vivam a vida Não a deixem estar sozinha Ela é tão linda Que eu também vivi a minha E quando um dia Algum de mim se lembrar Com alegria Que nunca seja a chorar E o vosso pai Se ele ainda cá ficar Tratem-no bem Mas não o ponham num lar.
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Tratem-no bem Dêem-lhe todo o carinho Que ele sem mim Vai ficar triste e sozinho P'ra que eu no céu Ainda me possa orgulhar Dos meus filhinhos Que deixei em meu lugar. 22.11.1991
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EU OUVI BATER À PORTA I Eu ouvi bater à porta Por favor vai ver quem é É o menino Jesus Sua mãe e São José Não os deixes estar ao frio Por favor, manda-os entrar Ponho mais pratos na mesa Venham connosco cear Ponham lenha na lareira Para aquecer Jesus Das suas divinas mãos Saíram raios de luz Oh, que presente tão lindo Não posso pedir mais nada Ter o menino Jesus Na noite da consoada Eu fui à porta espreitar Vi uma estrela dançando Contente porque sabia Que Jesus estava ceando. 12.12.1991
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PERDOA-ME, QUERIDA MÃEZINHA Perdoa-me, querida mãezinha Se alguma vez te fiz chorar Aqui te peço perdão Não era minha intenção Um dia te magoar Muito obrigado, mãezinha Tudo o que por mim fizeste E o que me fazes ainda Tu foste a mãe mais linda Pelo amor que me deste Só uma esperança me resta Se eu não tiver pecado Peço a Deus se puder ser Um dia quando eu morrer Queria ficar a teu lado. 31.08.1992
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CANÇÃO A SETÚBAL Setúbal, cidade linda Eu te faço esta canção Eu te amo, eu te adoro Do fundo do coração Do fundo do coração Já não há quem assim pense Estou aqui há trinta anos Eu já sou Setubalense Eu já sou Setubalense Cada vez te amo mais Aqui nasceram meus filhos E aqui perdi meus Pais E aqui perdi meus pais Eu não estou desiludida Uns nascem e outros morrem Tudo faz parte da vida Tudo faz parte da vida E não me digam que não Setúbal, cidade linda Eu te fiz esta canção. 26.10.1996
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QUANDO VOU À MINHA TERRA Quando vou à minha terra Levo sempre um garrafão P'ra trazer água da fonte Levo amor no coração Levo amor no coração Quando lá vou passear Levo sempre um garrafão E muito amor p'ra lá deixar Terra minha, terra linda Terra minha e dos meus pais Tenho muito amor p'ra dar Quando eu voltar trago mais A água daquela fonte É cristalina de verdade E quando chega a noitinha Bebo sempre uma pinguinha Para matar a saudade. 30.09.1997
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MEU PAI E MINHA MÃE O meu pai e a minha mãe Foram eles que me criaram E eu não os posso deixar Porque nunca me abandonaram Tanto trabalho que eu dei E ninguém os ouviu queixar Agora eu trato deles P'rá vida continuar Para tratar dos paizinhos Nem todos tratam iguais Dêem-lhes amor e carinho P'ra não ser tarde demais Amem-nos enquanto é tempo E não os ponham num lar Depois quando eles morrerem Não adianta chorar Não quero que lhes chamem velhos Como dantes se dizia Porque eles são senhores De grande sabedoria E quando eu for velhinha E p'ra um lar for viver Eu cantarei a minha dor P'ra todo o mundo saber Tive filhos, tive netos E tanto amor que eu lhes dei Dediquei-lhes a minha vida Olhem lá o que eu ganhei. 30.09.1997
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O VENTO I Eu fui procurar ao vento Qual o seu sofrimento Porque me andava sempre a soprar O vento me respondeu Diz que a culpada sou eu Que não o deixo passar E eu fiquei a olhar Sem saber o que falar Disse, esta é a minha sina Sei muito bem o que faço Eu ocupo pouco espaço E minha mãe é pequenina Por isso podes passar Não andes sempre a soprar Que já me faz confusão Ouve bem o que te digo Vieste falar comigo Com sete pedras na mão. 07.05.1998
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OH, MINHA QUERIDA MÃEZINHA Oh, minha querida mãezinha Tanto amor que me tens dado Faço-te o melhor que posso Mãezinha, muito obrigado Tu que me deste a vida Sofreste para me criar Minha mãezinha querida Nunca te posso pagar Quando a tua alma chora E não falas com ninguém A alegria vai-se embora E eu fico triste também. 29.04.2000
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CORAÇÃO DISTRAÍDO Ó coração distraído Vê o mal que me tens feito Agora andas fugido Desde que saíste do peito Tantas promessas fizeste Vieram os desenganos Foi a paga que me deste De eu te amar há tantos anos Por isso, meu coração Pelo mal que me tens feito Deixa de ser fugitivo Mora de novo em meu peito Ó coração distraído Tanto me tens magoado Eu não tinha percebido Que não estavas a meu lado Corre logo, coração E não me faças esperar Porque se tu te demoras Meu peito vai-se fechar Meu peito vai-se fechar E eu vou ficar calada Corre logo, coração Que a porta vai ser fechada. 12.06.2000
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AS CRIANÇAS QUE EU AMEI As crianças que eu amei Todas me abandonaram Tanto amor que eu lhes dei Pouco a pouco me deixaram Já não se lembram de mim Nem dos carinhos que eu lhes dava Dei-lhes aquele amor sem fim E as histórias que eu inventava Quando as vejo passar Eu sofro, mas não as chamo As crianças que eu amei E que continuo a amar São os adultos que eu amo Só uma coisa ficou Esta paixão dolorida Amar as crianças eu vou O resto da minha vida Dizer nomes eu não digo P'ra não causar confusão Eu trago-as sempre comigo Juntinho ao meu coração. 02.08.2000
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SE EU CONTASSE A MINHA VIDA Se eu contasse a minha vida Desde o dia em que nasci Até as pedras da rua Teriam pena de mim Uma vida amargurada Vivia tão pobrezinha Sou pobre, não tenho nada Mas tenho a minha casinha O que está lá dentro dela É pouco, quase nada presta Tenho uma grande riqueza Sou pobre, mas sou honesta É tudo o que Deus me deu E que eu tenho conservado Eu venho-te agradecer Meu Deus, muito obrigado. 02.09.2000
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NO MEU QUARTO No meu quarto Tenho duas fotografias Do meu pai e minha mãe Com quem falo todos os dias Vou-me deitar Dou-lhes sempre um beijinho Ao meu pai e minha mãe Que me deram tanto carinho Tão pobrezinhos Nada tinham para me dar Davam-me amor e carinho Quando me viam chorar Ambos partiram E eu não tenho alegrias P'ra minha recordação Eu tenho as fotografias. 02.09.2000
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O PASSEIO NA PRAIA Eu um dia fui à praia Fui de carro e vim de mota Quando vi estava voando Nas asas de uma gaivota Ela era tão bonita Que me levou a passear E me mostrou os peixinhos E eu vi as ondas do mar Foi um passeio tão lindo Como eu nunca tinha dado Nas asas de uma gaivota Fui passear pelo Sado. 02.09.2000
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O MEU AMIGO MENINO Eu queria fazer um verso A uma senhora tão bela E vou a ver se consigo Que eu não sei o nome dela Ela é uma simpatia E traz no dedo um anel O seu nome eu não sabia É a mãe do Rafael É um amigo que eu tenho Que eu conheci no jardim E eu gosto muito dele E ele gosta de mim Pode até ser traquino Mas maldade não existe O meu amigo menino Tem sempre um olhar tão triste. 19.09.2000
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O MEU QUINTAL Eu tenho no meu quintal Um pezinho de alecrim Eu trato muito bem dele E ele gosta de mim Tenho cravos, tenho rosas Todos no mesmo canteiro E o pezinho de alecrim É o que eu rego primeiro Até parece mentira Como a gente se dá bem O pezinho de alecrim Não vou dar a ninguém. 13.10.2000
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VIVER SOZINHA Tive muitas alegrias Posso dizer com franqueza E isso já tu sabias Também tenho muitos dias Mais tristes do que a tristeza É triste viver sozinho Sem amor e sem carinho Ao lado de outra pessoa Viver assim é tão triste Onde o amor não existe Até o silêncio magoa E quando vou caminhando Na minha vida pensando Cada vez fico mais triste Percorrendo este caminho Sinto-me sempre sozinho Porque o amor não existe. 13.10.2000
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MINHA MÃE TÃO POBREZINHA Minha mãe tão pobrezinha Pouco tinha para me dar Deu-me a vida, coitadinha E eu não lhe pude pagar Já é uma grande riqueza Ter uma mãe como aquela Viveu sempre na pobreza E eu sou pobre como ela Por isso agradeço a Deus De me ter dado aquela mãezinha Pouco tinha para me dar E eu para lhe dar não tinha. 01.11.2000
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A FORÇA DO DESTINO Isto está tudo mudado Não há Inverno nem Verão E está tudo misturado Que já me faz confusão Quando está um dia lindo E começa a choviscar Parece que vai chover E o sol fica a brilhar Estas coisas do destino Só Deus as pode entender O que ele deixou lá em cima Ninguém deve ir mexer. 01.11.2000
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NA RUA ONDE EU MORO Na rua onde eu moro Passa sempre um rapazinho Anda vendendo jornais Eu vejo-o sempre sozinho Procurei-lhe pela mãe Disse-me que ela morreu Se vivia com o pai Disse-me que nunca o conheceu Assim vivo abandonado Vivendo por todo o lado E não tenho lado nenhum Tenho primas e primos Mas são todos muito finos Pobre nasceu só um. 03.11.2000
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DUAS BALANÇAS Fui comprar duas balanças Que estão sempre ao pé de mim Foi tão grande a confusão Uma balança pesa o não E a outra pesa o sim Estão sempre em desacordo Porque os salários são iguais Foi maior a confusão A balança que pesa o não Queixa-se que trabalha mais Agora fui-las mudar Achei que era bem assim Foi tão grande a confusão A balança que pesava o não Agora pesa o sim E a outra ficou zangada Diz que não achou graça Já não suporto esta gente Diz que ficou doente Foi-se embora, está de baixa. 06.01.2001
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EU GOSTO DAS DUAS Eu nasci na aldeia Vim morar para a cidade Lá era a luz da candeia E aqui electricidade Esta é uma cidade linda Que eu amo, estimo e adoro Mas é a realidade Quando me chega a saudade Pela minha Aldeia eu choro E quando a vou visitar Só regresso ao serão Para estar à vontade Levo comigo a Cidade Juntinho ao meu coração Se estou com uma quero outra E cada qual faz as suas Não sei o que dizer Ou o que possa fazer Só sei que gosto das duas Esta é a realidade Acreditem porque é verdade O que eu penso é mesmo assim É como lhes vou dizer Quem me dera poder ter As duas juntinho a mim. 21.01.2001
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AMOR PERDIDO Onde andará o amor E também a alegria Devem andar de mãos dadas Hei-de encontrá-los um dia Hei-de encontrá-los um dia Nunca mais os vou deixar O amor e a alegria Comigo irão ficar Comigo irão ficar Vejam se alguém percebe Quero o amor e a alegria Para poder andar alegre Para não arrefecer O meu coração magoado Que o meu amor abalou E anda com outra ao lado. 03.04.2001
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A MOCIDADE Vi partir a mocidade Na pétala de uma flor Só deixou a saudade E levou o meu amor Depois fiquei a olhar Vendo ela se aproximar De uma linda nuvenzinha E ali fiquei a chorar Quando vi ela abalar E que me deixou sozinha A mocidade abalou Tudo o que era meu levou Até o gosto de viver Encontrá-la agora é tarde Adeus, adeus mocidade Nunca mais te torno a ver. 09.05.2001
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À MINHA MÃEZINHA Ouve lá, querida mãezinha O que eu tenho para te falar Como trataste a avozinha Igual eu te vou tratar Nunca a abandonaste Eu não te vou abandonar Sempre bem a trataste Eu bem te vou tratar Não dizias mal dela Nem te queixavas a ninguém Ficaste sempre com ela Fico contigo também Faço a minha obrigação Vou minha dívida pagar Descansa, querida mãezinha Nunca te ponho num lar. 09.05.2001
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SE EU SOUBESSE ESCREVER Se eu soubesse escrever Muita coisa eu escrevia Escrevia a minha tristeza E também a minha alegria Não posso pôr num papel Porque eu não sei escrever Guardo na minha memória Mas isso não dá para ler Julgam que eu estou alegre Porque me ouvem cantar Muita gente não percebe Que eu canto p’ra não chorar Faço os meus versos cantando E eu não sou cantadeira Porque não os sei escrever Faço-os à minha maneira. 09.05.2001
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A ROSEIRA I Fui falar com uma roseira De manhã num certo dia Só para lhe perguntar Porque é que ela não abria E ela me respondeu Zangada e com sacrifício Que te importa a minha vida Pois não tens nada com isso Não tenho nada com isso Vê lá se me vês aqui Quero que abras depressa Sou eu que trato de ti Sou eu que trato de ti O meu recado aqui fica Não quero que estejas fechada Porque aberta és mais bonita Aberta és mais bonita Eu sei que és vaidosa O meu recado aqui fica Minha encarnada rosa Tudo o que eu estive a dizer A roseira estava a ouvir E os botõezinhos que tinha Começaram a abrir Foi um despique que eu tive Com esta linda roseira Agora somos amigas Quer ela queira ou não queira. 30.05.2001
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QUATRO ROSAS Tenho uma rosa vermelha E outra rosa cor-de-rosa Uma branca e outra amarela Não sei qual a mais cheirosa Quando eu passo por elas Cada uma se agita Querem ouvir eu dizer Qual delas é a mais bonita E quando me vêem triste E não digo nada a ninguém E se me vêem chorar As rosas choram também. 25.07.2001
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O MERCADO DA POESIA Fui ao mercado da poesia Certo dia passear Ia vender paciência Mas ninguém ma quis comprar Eu voltei a insistir E a pedir-lhe porém Leve um pouco de paciência Que não faz mal a ninguém No outro dia voltei Desta vez para comprar Vi lá uma janela Que eu gostava de levar Era a janela da esperança Que me mostrava o mundo inteiro Quando fui para pagar Não me chegava o dinheiro Não me chegava o dinheiro E eu fiquei arreliada Fiquei com a paciência Mas não me resta mais nada. 05.08.2001
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Ó LUA, QUE VAIS TÃO ALTA Ó Lua, que vais tão alta Baixa mais um bocadinho Na terra está muito escuro E eu não vejo o caminho E eu não vejo o caminho Faz-me lá este favor Baixa mais um bocadinho Que eu perdi o meu amor Eu perdi o meu amor E não posso descansar Faz-me lá este favor Que eu tenho de o encontrar Eu tenho de o encontrar Para ficar descansado Faz-me lá este favor Ó Lua, muito obrigado. 02.10.2001
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SAUDADES Que saudades que eu tenho Da mocidade perdida Que tão cedo me deixou E disse-me que abalou Foi dos desgostos da vida Era a minha companhia Quer de noite quer de dia Estava sempre comigo Vou-te dizer a verdade Minha linda mocidade Deixaste-me por castigo Se tu puderes voltar Cá estou eu para te abraçar A qualquer hora do dia Digo com sinceridade Volta, linda mocidade E traz a minha alegria Sem ti não posso viver E não sei o que fazer Mas não falo com rancor Tenho tanta saudade Volta para mim, mocidade Traz contigo o meu amor. 17.10.2001
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UMA FLOR ABANDONADA Tenho uma florzinha Que se chama trepadeira Estava triste e sozinha Em cima de uma lixeira Não sei quem a abandonou Quem ali a foi deixar A florzinha chorou Quando eu ia a passar Apanhei-a devagarinho Estava triste, quase morta Plantei-a com jeitinho Em frente da minha porta Em frente da minha porta Aquela linda trepadeira Que dava flores mimosas Trepou por uma roseira Para ir beijar as rosas Para ir beijar as rosas E a roseira não gostou Cada beijo que ela dava A roseira lhe picava E a trepadeira secou E a trepadeira secou Já não dá flores mimosas Aquela linda trepadeira Eu tenho estado a brincar Quem secou foi a roseira. 17.10.2001
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A JANELA DA ESPERANÇA Vi a janela da esperança Que o bom Jesus me mostrou Eu lhe pedi paz para o mundo E depois a janela fechou Ouvi Jesus me pedir Que por ele tivesse respeito Que não brincasse com seu nome Como muitos têm feito Eu agradeci a Jesus Por ele me ter escutado E disse-lhe que o seu nome Para mim é sempre sagrado. 17.10.2001
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AQUI Aqui e agora Eu acabei de chegar Queria fazer um verso Mas não consigo rimar Fico aqui sentadinha Um pouco envergonhada O melhor é ir-me embora Que eu estou aqui a fazer nada Todos escrevem os seus poemas Eu não sei escrever os meus O que é que eu estou aqui a fazer Vou-me embora, adeus, adeus. 18.11.2001
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A GUERRA NO MUNDO O mundo está em guerra Só se vê fome e terror Vamos arrancar o ódio Para plantar amor Com ódio nada se faz Só ódio e mais ainda Que reine o amor e a paz Que não há coisa mais linda Vamos pedir ajuda a Deus Que o Homem não é capaz Só Deus nos pode ajudar A pôr tudo no seu lugar Para o Mundo ficar em paz Depois vamos agradecer Tudo o que Jesus conseguiu Que foi de novo fazer O que o Homem destruiu. 18.11.2001
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A VISITA Se quiseres vir à minha casa Toma atenção ao que eu digo Fica ao virar da esquina É uma casa pequenina Pobre e parecida comigo O ódio não entra lá A vaidade também não Esta é a minha casinha Cabe toda inteirinha Na palma da minha mão E quando tocares à porta Espera mais um bocadinho Sou eu que estou entretida Fazendo os poemas da vida Para tu leres no caminho. 18.11.2001
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OS IDOSOS Meus avós eram velhinhos Meu pai e minha mãe Tão velhinhos que ficaram Agora os anos passaram E eu estou velhinha também Parece que estou a ver Quando eu era rapariga Agora mas que chatice Estou entregue à velhice Porque a idade me obriga. 19.11.2001
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FUI PROCURAR À LUA A Lua que está no alto Lá de cima tudo vê Eu fui procurar à Lua Muita coisa que eu não sei Muita coisa que eu não sei Mas gostava de saber Eu fui procurar à Lua E ela não me quis dizer Falei-lhe dos meus amores E até dos meus dissabores E o que eu faço no dia-a-dia A Lua não disse nada Ficou rindo à gargalhada E disse-me que já sabia. A Lua não é vaidosa Mas é muito curiosa Tu sabes e eu também sei Voa como um passarinho Como está lá no altinho Tudo sabe e tudo vê. 30.11.2001
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O VENTO II Ó vento, sopra baixinho Segue lá o teu caminho Mas não faças avarias Porque isso era demais Não faças vendavais Como noutros tempos fazias Eu morava numa casinha Simples e já velhinha Tu passavas apressado Parece que vejo ainda Aquela casinha tão linda Que deixaste sem telhado E eu fiquei ao relento À chuva, ao frio e ao vento Tu abalaste assim E vê lá se achas bem O que me fizeste a mim Não faças a mais ninguém. 09.12.2001
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QUANDO EU FOR À MINHA TERRA Quando eu for à minha terra Ainda te hei-de levar Para veres como ela é linda Onde eu gostei de morar É uma terra encantadora Mais bonita do que eu digo Quando eu for à minha terra Hei-de te levar comigo Hei-de te levar comigo Se quiseres ir passear Se fores à minha terra Não passas sem lá voltar. 06.01.2002
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OS MEUS PENSAMENTOS Estes são os meus pensamentos E parte dos desalentos Que eu sofri na minha vida Digo com muita tristeza Que eu passei com a pobreza Que ainda não estou esquecida A minha mãe era pobrezinha Para nos dar nada tinha Nem um pouco de alegria Ouve o que eu te vou dizer Para nos dar de comer Muitas vezes nem comia. 06.01.2002
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AS DORES QUE EU SINTO Se as dores se pudessem ver Assim tu ias saber Como é grande o meu tormento Ando quase sempre a cantar Para as dores disfarçar E aliviar o sofrimento Eu canto sem alegria Isso é que ninguém sabia Mas agora eu vou contar Quem não me estiver vendo Minha boca está cantando E o coração a chorar É tão grande o sofrimento Eu digo neste lamento Quase que não posso suportar Quem me estiver a ouvir Julga que eu me estou a rir E eu estou tão triste a cantar. 31.01.2002
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O MEU ROSTO JÁ VELHINHO Eu olhei as minhas mãos E o meu cabelo branquinho Aí chorei de desgosto Quando olhei para o meu rosto Meu Deus, como está velhinho Ali fiquei a chorar Quase não podia falar Fiquei triste e amargurada Fiquei desiludida Sempre tratei bem a Vida E ela não me deixou nada. 24.02.2002
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A ESTEVINHA JÁ CRESCIDA A minha linda estevinha Até que enfim deu flor Está ao lado do rosmaninho E eu vou apanhar um raminho Para dar ao meu amor Se ela não ficar zangada Eu fico muito feliz A minha linda estevinha Cada vez mais bonitinha Já toda a gente me diz Fui ao campo e apanhei-a Ela não levou a mal A minha linda estevinha Cada vez mais bonitinha Crescendo no meu quintal Não é imaginação É pura realidade Não é ideia minha Tenho mesmo uma estevinha Acreditem que é verdade. 25.02.2002
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ESTIMEM A NATUREZA Eu gosto da Natureza Gosto da noite e do dia Podem ter a certeza Se não fosse a Natureza O Mundo não existia Gosto muito das flores E eu adoro os amores Que não tenham falsidade Digo isto tanta vez Gosto de tudo o que Deus fez Para o bem da Humanidade Gosto do Céu e da Terra Mas eu não gosto da Guerra Porque só nos traz tristeza Façam lá o que quiserem E digam o que disserem Mas estimem a Natureza. 25.02.2002
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A ALEGRIA E A TRISTEZA Se estou alegre eu canto Se estou triste canto também Este é o meu segredo Eu confesso que tenho medo De o ensinar a alguém Podem não acreditar Ou não lhe dar resultado Eu confesso que tenho medo O melhor é o meu segredo Eu guardá-lo bem guardado. 27.02.2002
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A COZINHEIRA CANSADA Levo os dias na cozinha Estou farta de cozinhar Não gosto de estar sozinha Arranjei uma florzinha Para comigo falar Ela não é exigente Mas fica muito contente Quando eu a ponho à janela Parece que foi castigo Ela não fala comigo Eu é que falo com ela Estou cansada de trabalhar Não posso mais lavar Tachos, pratos ou panelas Fazia arroz com feijão Faço bacalhau com grão E bebo ginginha com elas. 27.02.2002
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A VIDA A vida, quem tem a vida Estime-a para não a perder Que a minha foi destruída Tão cedo fiquei sem vida E sem gosto para viver. Quem nunca teve tristeza E viveu só de alegria Eu confesso que não entendo De tristeza já nem me lembro Se fui alegre algum dia. Nunca brinquem com a vida Que cada um só tem uma Ficamos sem respirar Quando esta vida acabar Não temos mais nenhuma A alegria abandonou-me E o meu gosto de viver Sinto que estou desprezada Por me ver abandonada Mais me valia morrer. 02.03.2002
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ARRÁBIDA FLORIDA Arrábida está florida Com um manto de flores Contou-me uma história antiga Que aprendeu com seus amores Quando os namorados lá vão À noitinha passear Ficam sentadinhos no chão Só para verem o luar Ouvem as ondas do mar Vêem o Sado a correr Ficam sentadinhos no chão Até a maré encher Eu quero ir à Arrábida Um dia pela tardinha Se não arranjar namorado Eu vou lá mesmo sozinha. 04.03.2002
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MAIS UMA VEZ A ESTEVA Tenho um pézinho de Esteva Tenho três de Rosmaninho Que eu via sempre na serra Quando fui à minha terra Apanhei-os pelo caminho As florzinhas do campo Lindas como as do jardim Não têm jardineiro São bonitas mesmo assim Quando chega a Primavera O campo fica um jardim Brancas, azuis e amarelas Não posso ir par’ò pé delas Trago-as par’ò pé de mim Foi no campo que eu nasci Com as florzinhas vivi E elas comigo também Mesmo à beira do caminho Eu apanhava um raminho E ia dar à minha mãe. 15.04.2002
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DA PRAIA AO ALENTEJO Fui à praia, vi o mar E no jardim as flores Fui à cidade passear Vi poetas e doutores No campo vi passarinhos E o gado andava a pastar Guardado pelos cãezinhos E os lobos a uivar Na aldeia vi raparigas Que moram no cimo do monte Cantando as suas cantigas Quando vão juntas à fonte Vi um grupo de Alentejanos Cada um com seu cajado Meu Deus, o que eu já fiz hoje Que me sinto tão cansado Que me sinto tão cansado O melhor é ir para a cama Ele há tantos preguiçosos Nós é que temos a fama. 24.04.2002
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PARA TI, MINHA MÃE A minha querida mãezinha Ela partiu, coitadinha Deixou-me e foi-se embora Eu fiquei nela a pensar Muito triste a chorar Ainda a minha alma chora Mãe, porque é que tu abalaste E por mim tanto choraste E eu por ti estou chorando Mãe, e chora o meu coração Porque hoje é Dia da Mãe É para ti esta canção Eu juro enquanto eu viver Enquanto eu puder ser E enquanto eu for capaz Sei que não te vou mais ver Mas enquanto eu viver Vou sempre onde tu estás Mãe, dona do meu coração Nada mais te posso dar Fiz para ti esta canção. 05.05.2002
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GOSTO DA MINHA CASA Gosto da minha casinha Tão simples e pobrezinha É pequena como eu Apesar de ser baixinha Pobre, mas ela é minha Presente que Deus me deu Eu gosto de morar nela Que é tão bela Tenho amor e sinto carinho À noite vou-me deitar Se me apetece chorar Eu choro devagarinho Mas se ela me vê chorar Fica a olhar Só para me distrair E depois diz-me baixinho Chora mais devagarinho Para ninguém te ouvir Eu gosto muito dela Falo à janela E ela comigo também Eu assim não tenho medo Contei-lhe o meu segredo E ela não diz a ninguém
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Como nós somos amigas Nem me digas Estamos sempre juntinhas É assim todos os dias Conta-me as suas avarias E eu a ela conto as minhas. 29.05.2002
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TEMPO, NÃO VOLTES PARA TRÁS Tempo, não voltes para trás Lembra-te do que eu pedi De novo te vou dizer Que não me deixes sofrer Tudo o que eu já sofri Parece que estou a ver Como a minha mãe sofria Eu era muito criança Fiquei com a herança Que foi da minha mãe um dia Era muito criancinha Ia a minha mãe e eu Agora que sou velhinha Lembro-me da minha mãezinha Sofro como ela sofreu. 13.06.2002
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PORTINHO DA ARRÁBIDA Fui ao Portinho da Arrábida Nunca lá tinha ido Ouvi cantar as cigarras Como nunca tinha ouvido No rio andavam barquinhos E as gaivotas a voar Na serra os passarinhos E eu na areia a brincar E eu na areia a brincar Entendem bem o que eu digo Eu gosto de ver o mar Mas nadar não é comigo Mas nadar não é comigo Não é porque eu não queira Que eu gosto de ver o mar Mas nadar só na banheira. 17.07.2002
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ O mundo dá tantas voltas Ele anda sempre a girar Eu dei tantas voltas no mundo Nem me consigo encontrar Se o mundo um dia parasse E se o sol nos faltasse Tudo seria diferente Se o céu deixar de brilhar E se a lua se apagar O que seria da gente? 17.07.2002
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A VAIDADE Não te entregues à vaidade Para não ficares diferente Seja de noite ou de dia Não é boa companhia Estraga a vida a muita gente Eu nunca fui vaidosa Em toda a minha vida inteira Digo com sinceridade Eu não gosto da vaidade Porque ela é traiçoeira Não precisam ter vaidade Por a vida lhes correr bem Quem não teve sorte na vida Nunca a trates com desdém Eu gostava de ser rica E não viver iludida E saber como se goza Mas se for para ficar vaidosa Eu quero ser pobre toda a vida. 17.10.2002
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O MEU TRISTE NATAL Não gosto muito do Natal O porquê eu vou dizer Eu posso até estar errada Dantes não havia nada Para dar nem receber Num dia de Natal Levantei-me de manhãzinha Vejam como agora é À volta da chaminé Para cada um uma laranjinha E nós ficámos felizes As laranjinhas descascando Ficou tudo admirado Quando olhámos para o lado Os meus pais estavam chorando Não vale a pena chorar Só é preciso esperar Aqui só mais um pouquinho Não chores, querida mãezinha Se a laranja for docinha Eu dou-lhes um bocadinho E hoje o Natal é lindo Isso não ignoro Não me levem a mal Quando chega o Natal Eu fico triste e choro. 17.10.2002
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O PASSARINHO DA PAZ Queria ser um passarinho E que pudesse voar Corria o mundo inteirínho Só para a guerra acabar Acabava com o ódio E com a ganância também Nunca mais havia guerra Nem fome para ninguém. 17.10.2002
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NATAL O Natal está chegando E o mundo anda tão triste Há muita gente chorando Que a alegria não existe Vê-se velhinhos sofrendo E crianças a chorar O mundo anda tão triste Com o Natal a chegar O mundo anda tão triste Alegre não está ninguém A alegria não existe E Deus está triste também. 14.02.2003
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POETA NÃO SEI PORQUÊ Dizem que eu sou poeta Alguns me chamam assim Estou quase sempre calada Sinto-me envergonhada Tenho vergonha de mim Não é porque eu seja má É de não saber escrever E não ter ido à escola Vergonha de alguém saber Que um dia eu pedi esmola Já muitos me têm dito Quando me ouvem contar Pedir até é bonito Vergonha sim é roubar. 18.08.2003
OS VERSOS DA IDÍLIA
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FIZ UM PEDIDO A DEUS Meu Deus, desce à terra Nem que seja um só segundo Para acabar com a guerra Meu Deus, vem salvar o mundo Meu Deus, vem salvar o mundo Rezando te estou a pedir Nem que seja um só segundo Meu Deus, deita as mãos ao mundo E não o deixes cair. Fizeste-o com tanto amor Para nada nos faltar Eu te peço, por favor Desce à terra, meu Senhor E vem o mundo salvar. 06.10.2003
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O ANJINHO Quando vou a caminhar Deus manda-me sempre um anjinho É para me acompanhar E até comigo falar Ao longo do meu caminho Assim nunca estou sozinha Ando sempre acompanhada Ao lado do bom anjinho Vou seguindo o meu caminho Nem dou pela caminhada. 06.10.2003
OS VERSOS DA IDÍLIA
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ALENTEJO DOURADO Meu Alentejo dourado No Alentejo nasci Alentejo, és muito amado Todos gostamos de ti Se fores triste ao Alentejo Quando voltares vens calminho Porque o sol do Alentejo Mesmo no Inverno é quentinho Mesmo no Inverno é quentinho Naquela linda terra minha Eu nasci no Alentejo Por isso sou moreninha Alentejo! Oh, Alentejo Tanto que eu lá trabalhei Que ainda não estou esquecida Porque lá no Alentejo Ficou parte da minha vida Ficou parte da minha vida O sítio certo não sei Estou farta de procurar Nunca mais o encontrei Quando eu for ao Alentejo Ouve bem o que te digo Vou lá para a Primavera Oh, meu amor quem me dera Que eu te levasse comigo
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Que eu te levasse comigo Era o meu maior desejo O meu amor é da cidade Não gosta do Alentejo Não gosta do Alentejo Reconheço que é verdade E eu sou Alentejana Também adoro a cidade. 10.11.2003
OS VERSOS DA IDÍLIA
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CORAÇÃO AMIGO Ó coração meu amigo Companheiro e dedicado Entendes tudo o que eu digo Estás sempre do meu lado Se choras eu também choro Se sorris, sorrio também Ó coração meu amigo Não somos de mais ninguém Tu és meu e eu sou tua Não é de qualquer maneira Porque enquanto tu bateres É a nossa vida inteira Um dia quando parares Não vou contar a ninguém Digo com delicadeza Podes ter a certeza Aí eu paro também. 27.11.2003
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DESENHOS NAS NUVENS Eu estive a pintar nas nuvens Não tinha lápis na mão Foi só com o meu olhar E a minha imaginação Vi lá desenhos tão lindos Como nunca tinha visto Vi uma mão acenar E o rosto de Jesus Cristo Ponham-se bem a olhar Com muita imaginação Quando uma nuvem passar E os desenhos que lá estão E os desenhos que lá estão Lindos, são uma beleza Não tinha lápis na mão Que bonitos que eles são Pintados p'la Natureza. 27.11.2003
OS VERSOS DA IDÍLIA
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JÁ NÃO SOU QUEM ERA ANTES Já não sou quem era antes A alegria foi-se embora Os pensamentos estão distantes Ai, o meu coração chora Ai, o meu coração chora Que me sinto tão cansado Já não sou quem era antes Já nem sei cantar o fado Já nem sei cantar o fado Que me sinto tão cansado Já não sou quem era antes Não tenho forças para nada O verso que eu fiz agora Há muito que não fazia Porque o meu coração chora Mas desta vez de alegria. 26.02.2004
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ERA UM CANTEIRO FLORIDO Os meus pais tinham canteiros Com cinco roseiras nascidas E no meio dois craveiros Ao pé das rosas floridas Duas roseiras secaram Um craveiro também secou Outras duas abalaram Só uma roseira ficou Só uma roseira ficou Num canteiro sem flores O outro craveiro abalou Separaram-se os amores Separaram-se os amores Nunca mais demos as mãos Num canteiro cheio de flores Meus pais, eu e meus irmãos Foram partindo, dia a dia Estas são as verdades E cada um que partia Deixava-nos mais saudades. 28.02.2004
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O VENTO QUE PASSA Perguntei ao vento que passa Se sabia a minha graça De tanto passar por mim O vento não disse nada Eu fiquei envergonhada De lhe ter falado assim O vento abalou soprando E ali fiquei olhando Para ver aonde ele ia Vê lá bem por onde vás E o vento voltou para trás Para me dizer bom dia Fiquei feliz e contente Fui contar a toda a gente Que o vento era meu amigo E vamos de lado a lado Juntinhos de braço dado E o vento fala comigo. 01.03.2004
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UMA GAIVOTA Uma gaivota no mar Anda peixinhos pescando E me viu aproximar A gaivota foi voando A gaivota foi voando Fui seguindo o meu caminho E me viu aproximando Deixou cair o peixinho Deixou cair o peixinho Quando virou o pescoรงo A gaivota foi chorando Sem nada para o almoรงo Sem nada para o almoรงo Para dar ao seu filhinho Eu me fui aproximando Deitei-lhe um peixe no ninho. 21.03.2004
OS VERSOS DA IDร LIA
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EU OUVI BATER À PORTA II Eu ouvi bater à porta De noite, a hora morta Assustei-me de verdade Acordei, estava a dormir E a porta fui abrir Quem batia era a saudade Eu ali fiquei a ver Não sabia o que fazer E ela para mim a olhar De noite, a hora morta Ali eu fechei a porta E não a deixei entrar Saudade, vai-te embora Leva contigo o desgosto Só me fizeste sofrer Não quero sentir correr Nem uma lágrima no rosto A saudade abalou chorando E eu da janela olhando E contei à minha mãe
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Coisa assim não existe A saudade abalou triste E eu fiquei triste também Eu fiquei triste também Olhando da minha janela Acreditem que é assim Tem saudades de mim E eu tenho saudades dela. 14.11.2004
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NOITE DE SÃO JOÃO Conheci a Maria Rosa Moça bonita e jeitosa Na noite de São João A marcha ia a passar Eu vi a Rosa chorar Com seu arquinho e balão Foi um amor que encontrou Mas nessa noite abalou E ela nunca mais o via A Rosa entristeceu Ali a rosa morreu E só ficou a Maria E só ficou a Maria Vivendo sem liberdade Moça bonita e jeitosa Já não é a Maria Rosa É Maria da Saudade. 14.11.2004
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A MINHA FAMÍLIA Sou filha da minha mãe Neta do meu avôzinho Sou filha do meu pai Afilhada do meu padrinho Sou irmã dos meus irmãos Prima das minhas primas Sobrinha das minhas tias E tia dos meus sobrinhos Sou mulher do meu marido E sou mãe dos meus filhinhos A quem eu dou tanto afecto Sou nora da minha sogra E sogra da minha nora E sou avó do meu neto Estou nesta trapalhada E nem tinha percebido Sou avó da minha cunhada E tia do meu marido Com esta grande confusão Que me parece não ter fim Chamo pai ao meu irmão Já me chamo mãe a mim. 14.11.2004
OS VERSOS DA IDÍLIA
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OS MEUS OLHOS Os meus olhos com chorar Deixaram o chão molhado E o coração a penar E o peito tão mal tratado Os meus olhos são marotos Castanhos e pequeninos Parecem dois garotos Mas dois garotos traquinos Olham em todo o sentido Não posso estar descansada Com um olhar atrevido Que eu fico envergonhada Às vezes riem de mim Tenho de os repreender Os dois me dizem assim Os olhos são para ver Os olhos são para ver Parece um dito sincero O que eles não podem saber É que vêem o que eu não quero. 25.11.2004
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O MEU CORAÇÃO O meu coração abalou E levou uma flor Eu atrás dele não vou Porque sei que ele abalou À procura de outro amor Abriu a porta do peito Saiu e foi-se embora Eu não sei a hora certa Que a porta ficou aberta E deitou a chave fora E ele andou correndo o mundo Deu tantos passos sem fim Voltou chorando de dor Não encontrou outro amor E deu-me a flor a mim Bateu-me à porta do peito E ela estava encostada Perguntou se podia entrar E começou a chorar E eu fiquei encantada Agora ficou vadio Faça eu o que fizer Foi sol de pouca dura Estragou a fechadura Entra e sai quando quer. 28.11.2004
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SETE DIAS DA SEMANA Ao Domingo sou inventora À Segunda baronesa À Terça sou pensadora E à Quarta uma princesa À Quinta vou passear Que não se pode estar parada Na Sexta vou descansar No Sábado não faço nada No Sábado não faço nada Sou assim desde criança Dizem que não quero trabalhar Mas a todos vou contar Isto pensar também cansa Dizem que não quero trabalhar Que não gosto de fazer nada Há anos que estou a pensar Será que eu nasci cansada? 16.12.2004
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A ROSEIRA II Eu dei uma rosa à rosa A roseira não gostou E até me chamou vaidosa Por eu dar uma rosa à rosa Da rosa que ela criou Agora eu fiquei triste A roseira também ficou Só a vejo da janela Nunca mais falei com ela E a roseira quase secou Um dia ia a passar Logo de manhãzinha Ouvi a roseira chorar E a mim se veio abraçar E ofereceu-me uma rosinha Eu fiquei muito contente Mas já não vou em cantigas Vou dizer a toda a gente Que agora somos amigas Como era antigamente. 05.02.2005
OS VERSOS DA IDÍLIA
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ERRAR É HUMANO Os erros pagam-se caros Nem todos os erros são iguais Erraste que não me amaste Eu errei por te amar demais Dei-te o meu coração Deus sabe quanto sofreu Ainda hoje estou pensando Do tempo que estive amando Um amor que não era meu O que temos para pagar Não fica para depois Tu dizes que já pagaste Eu errei e tu erraste Assim pagamos os dois. 26.02.2005
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UM BEIJO À BEIRA DO RIO O primeiro beijo que me deste Não sabes o que fizeste Que a mim não me soube a nada Foi um beijo tão descarado Como ninguém me tinha dado Eu fiquei envergonhada Abraçaste-me com ternura Ao veres a minha figura Eu com vontade de fugir Ficou tudo admirado E quando olhei para o lado O Sado estava a sorrir Foi uma noite de frio Ali à beira do rio Que ficou muito diferente E eu abalei como louca Deste-me um beijo na boca À vista de toda a gente Fui para a Tróia dormir E a minha irmã a sorrir Foi até de madrugada Como se passou não sei De manhã quando acordei Ainda estava corada. 05.04.2005
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O SEGREDO I Ouvi chamar o meu nome Levantei-me e abri a porta Depois saí à rua Quem me chamava era a lua De noite, a hora morta A lua estava a chorar Queria comigo falar Para me contar um segredo Eu até entristeci De tudo aquilo que ouvi Confesso que tenho medo Confesso que tenho medo Até de sair à rua Vou guardar este segredo Porque eu prometi à lua Porque eu prometi à lua Não sei se eu fiz bem A lua desabafou Tudo o que ela me contou Não vou contar a ninguém. 14.05.2005
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A MINHA RUA I A minha rua é pequenina Não tem muito p’ra contar As pedrinhas são singelas E tem flores nas janelas Eu gosto de cá morar É a rua dos bombeiros Pequena, mas não tem fim Este nome é verdadeiro O meu marido era bombeiro E a rua se chama assim Não sujes a minha rua Quero que seja diferente Porque ela é minha e tua A rua é de toda a gente Quando alguém cá passa E que eu a ando a varrer Até me dizem por graça Assim num ar de chalaça Não tens nada p’ra fazer? Eu quero-a sempre limpinha Debaixo da minha asa Porque ela é minha e tua Lembra-te que a nossa rua É parte da nossa casa. 20.06.2005
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O MEU AMOR VEIO DE LONGE O meu amor veio de longe Ficou a mim abraçado Há muito que não o vejo Eu dei-lhe o primeiro beijo Ali à beira do Sado Ali à beira do Sado Fui esperar o meu amor E era esse o meu desejo Do gosto daquele beijo Ainda tenho o sabor Ainda tenho o sabor E nunca mais vou esquecer Era quase de madrugada E ela envergonhada Parece que a estou a ver. 03.08.2005
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FUI À PRAIA Fui à praia passear Um dia, quase à noitinha Eu não sei a hora certa A praia estava deserta E eu tomei banho sozinha Eu tomei banho sozinha E comecei a cantar O sol ia dormir E a lua estava a chegar A lua estava a chegar Para me fazer companhia Ficámos a noite inteira Andámos na brincadeira Só voltei no outro dia. 18.10.2005
OS VERSOS DA IDÍLIA
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QUEM SOU EU Chamava filho ao meu marido Em tempo que já lá vai Não me meto em sarilhos Depois nasceram meus filhos Passei a chamar-lhe pai Passei a chamar-lhe pai Às vezes nem sei quem sou Eu sempre lhe dei afecto Depois nasceu meu neto Agora chamo-lhe avô Agora chamo-lhe avô Nem tinha percebido Muita coisa não sei Qual é que é o meu marido Afinal com quem casei Eu não tinha percebido Muito tempo já passou Agora é meu marido Filho, pai e avô. 18.11.2005
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AS FONTES DA MINHA TERRA Eu fui à fonte da quinta E à fonte da capela Ia entre os sobreiros Fui à fonte dos olheiros Tu estavas ao lado dela Isso não fazia mal Toda a gente se admira Fui à fonte da luzira E à fonte do areal Quando a casa cheguei Já ia muito cansada De tanto correr nos montes Não encontrei mais fontes E eu fui ao poço da estrada Ia com a minha mana E já tinha os pés em brasa Tenho água para uma semana Já posso ficar em casa Já posso ficar em casa Mas corri muito nos montes Agora posso dizer Que tenho água para beber Mas água de sete fontes. 18.11.2005
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O CASAMENTO DA ROSA Há uma rosa caída Ao lado da mãe roseira A rosa está esmorecida Não encontra quem a queira Não encontra quem a queira Dizem que está encalhada Ao lado da mãe roseira A rosa está desmaiada E eu lhe molhei as folhinhas Cheguei naquele momento Juntei-a com um raminho Estava lá um cravinho Que a pediu em casamento A rosa que andava triste Até lhe chamavam vaidosa Hoje anda só a sorrir E toda a gente quer ir Ao casamento dela. 27.03.2006
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DEI-TE TUDO NA VIDA Tu fizeste um poema Com cheirinho a alfazema Rosmaninho e alecrim E um pouquinho de erva doce Quem me dera que fosse Esse poema para mim Esse poema para mim Ia ficar encantada Eu sei que tu és assim Davas-me o poema a mim Que nunca me deste nada Eu dei-te tudo na vida E o que me deste, tiraste Eu vivia iludida Até o gosto pela vida Tu um dia me levaste Quando te fui encontrar Para contigo falar E contar-te o meu sofrer Tu não quiseste ouvir Viraste as costas a rir E não quiseste saber. 20.09.2006
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NUMA NOITE OUVI CHORAR Numa noite ouvi chorar No meio da escuridão Acordei assustada A cama estava molhada Chorava o meu coração Chorava o meu coração Estava muito esmorecido Eu chorei e ele chorou Que o meu coração sonhou Sonhou que eu tinha morrido Sonhou que eu tinha morrido E que ele estava sozinho Dizia, não pode ser Como é que eu vou viver Sem ter amor nem carínho E eu lhe respondi Com um ar assim risonho Deixa-te estar descansado Que eu estarei sempre a teu lado Que aquilo foi só um sonho. 20.09.2006
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O TRABALHO Ó trabalho, vai-te embora Que eu já estou desesperado Só de pensar em trabalho Fico logo cansado Fico logo cansado A todos eu vou contar Inventaram o trabalho Mas não querem trabalhar Mas não querem trabalhar O que é que eu faço agora Estou cansado de gritar Ó trabalho, vai-te embora Ó trabalho, vai-te embora Que eu já estou desesperado Eu não posso trabalhar Porque já nasci cansado. 07.12.2006
OS VERSOS DA IDÍLIA
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PERDI MEU CORAÇÃO Convidaram-me para uma festa Foi uma grande confusão O que se passou não sei Quando a casa cheguei Não tinha meu coração Não tinha meu coração E nem sei que se passou Que mal teria eu feito Ou ele fugiu do peito Ou alguém que mo roubou Voltei de novo à festa E abalei a chorar Quando ia pelo caminho Encontrei um rapazinho Com o meu coração a brincar Eu fiquei muito feliz Mas ele ficou zangado E me respondeu assim Não quer mais p’ra mim Não gosta de estar fechado Não gosta de estar fechado Faça eu o que fizer Diz que não gosta de mim Que eu não faço o que ele quer. 27.09.2006
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TENHO CIÚMES Tenho ciúmes de tudo Até das pedras da rua Elas me fazem lembrar Do tempo que eu era tua Do tempo que eu era tua E que tu nem me ligavas Mas com as pedras da rua Sempre as acarinhavas Sempre as acarinhavas E eu via passar o tempo Em que tu não te importavas De todo o meu sofrimento De todo o meu sofrimento Do tempo que eu era tua Por isso eu tenho ciúmes Até das pedras da rua. 29.09.2006
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AS PEDRAS DA MINHA RUA I As pedras da minha rua Entendem tudo o que eu digo Quando vou a passar Se elas me ouvem chorar As pedras choram comigo As pedras choram comigo Porque é sua a minha dor Elas estão magoadas Tristes de serem pisadas E eu triste, sem ter amor E eu triste, sem ter amor Porque é que a vida é assim? E eu vivo desiludida Eu dei tanto amor na vida Que hoje não tenho amor p’ra mim. 02.11.2006
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FUI PROCURAR AO TEMPO Eu fui procurar ao tempo Quanto tempo o tempo tem O tempo não tinha tempo Para falar com ninguém Para falar com ninguém E eu fiquei amargurada Perdi o tempo com o tempo Não tenho tempo para nada Não tenho tempo para nada E o tempo nem se comoveu O tempo tem que devolver Todo o tempo que era meu Todo o tempo que era meu O tempo tem que devolver Porque perdi o meu tempo E sem tempo não sei viver E sem tempo não sei viver Sem tempo não posso amar Sem tempo não sei correr Sem tempo posso parar Eu pedi mais tempo ao tempo E o tempo me respondeu O tempo não me dá mais tempo Porque o tempo não é só meu O tempo não é só meu Fiquei no tempo a pensar O tempo que o tempo me deu Eu não o soube estimar
OS VERSOS DA IDÍLIA
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Todos têm o seu tempo E eu tempo tenho o meu Estimem muito bem o tempo O tempo que o tempo deu O tempo que o tempo deu Eu dou suspiros e ais Eu pedi mais tempo ao tempo E o tempo não me deu mais. 17.01.2007
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SETÚBAL, ÉS TÃO BONITA Setúbal, és tão bonita Gosto muito de te ver Tens uma paisagem tão bela És uma linda aguarela Ai, se eu soubesse escrever! Eu escrevia uma história Como ainda ninguém escreveu Que guarde na minha memória Eu escrevia a tua história Como Setúbal nasceu Ela nasceu pequenina Cresceu e fez-se mulher A ela ninguém ensina Que logo desde pequenina Sabe bem o que quer. Sabe bem o que quer E nunca fica indiferente É uma linda aguarela Sejam ou não filhos dela Ama e estima toda a gente Para todos está a sorrir É tão bonita e bela Mas se dizem mal dela Ai eu não gosto de ouvir Dizem que ela anda suja De quem é a culpa afinal Culpados são os que são Que atiram tudo para o chão Para depois dizer mal. 28.01.2007
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AI, QUE SAUDADES Ai, que saudades Da casa onde nasci Tenho tantas saudades Só porque gosto de ti Gosto de ti Eu gostei de lá viver Porque ainda dentro dela Está um pouco do meu ser Ai, que saudades Dos caminhos que percorria Até tenho saudades Da fonte onde eu bebia Ai, que saudades do meu pai De minha mãe Dos meus irmãos pequeninos Saudades de mim também. 07.02.2007
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OS PASSARINHOS Vi um bando de passarinhos Na rua aqui do meu monte Bebendo água dos meus olhos Pensavam que era uma fonte Pensavam que era uma fonte E eu ali fiquei olhando Beberam as minhas lágrimas E eles voaram chorando E eles voaram chorando Para longe da minha casinha Voaram os passarinhos E eu fiquei triste e sozinha E eu fiquei triste e sozinha Não tenho com quem falar Os passarinhos voaram Já não os oiço cantar Já não os oiço cantar E sofre o meu coração Voaram os passarinhos E eu fiquei na solidão E eu fiquei na solidão Já não falo com ninguém Não cantam os passarinhos E eu já não canto também. 27.06.2007
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NUNCA ANDEI NA ESCOLA Gostava de saber escrever O que guardo na memória Para todos poderem ler A triste da minha história A triste da minha história Que não esqueço o momento Passei muita miséria E uma vida de sofrimento E uma vida de sofrimento Que eu não consigo esquecer Eu nunca andei na escola Por isso não sei escrever Eu nunca andei na escola E nunca pude estudar Para cumprir a minha sina Logo desde pequenina Comecei a trablhar Os meus pais era pobrezinhos Nada tinham para me dar Deram-me a vida, coitadinhos E eu não lhes pude pagar Eu não lhes pude pagar Ainda hoje estou sofrendo E um pouco desiludida Se ainda eu tenho vida Aos meus pais estou devendo. 27.06.2007
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A SOLIDÃO I Para aliviar minha dor Faço versos de amor E triste os vou cantar Para oferecer à solidão Porque ela me deu a mão E já não quer abalar E já não quer abalar Nem faz caso do que eu digo Diz-me que estou velhinha Que não posso estar sozinha A solidão ficou comigo A solidão ficou comigo Acreditem que é verdade Que eu nunca vivi sozinha Logo desde criancinha Mora comigo a saudade. 15.09.2007
OS VERSOS DA IDÍLIA
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JUREI CANTAR UM FADO Eu jurei cantar um fado Dos meus versos inventei Só falava no passado Não pude cantar, chorei Não pude cantar, chorei Quebrei o meu juramento O fado que eu inventei Voou nas asas do vento Voou nas asas do vento Não sei onde foi parar Ficou perdido no tempo Ou está nas ondas do mar Ou está nas ondas do mar Nunca mais o encontrei Quebrei meu juramento Não pude cantar, chorei Não pude cantar, chorei Fiquei no tempo parado Nesse momento jurei Nunca mais cantar o fado. 30.10.2007
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À SOMBRA DO TEU CHAPÉU Há um rosto tão bonito À sombra do teu chapéu Os teus olhos, nem acredito Parecem estrelas do céu Parecem estrelas do céu Quando à noite sais à rua Os teus dentes são diamantes E a tua boca é lua E a tua boca é lua Para à noite iluminar Os teus braços são dois navios E o teu corpo é um mar E o teu corpo é um mar E tu és o meu amor Onde gosto de nadar Quando está muito calor. 17.11.2007
OS VERSOS DA IDÍLIA
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SENTEI-ME À BEIRA DO SADO Sentei-me à beira do Sado Um dia de manhãzinha E a Tróia estava a seu lado A Sapec e a Figueirinha Estava a Vila Maria Para o Sado a olhar E a Serra da Arrábida A ver o Sado passar A ver o Sado passar Uma paisagem tão bela Que eu não tinha visto ainda Vi a Serra de Sesimbra E o Castelo de Palmela E o Castelo de Palmela Eu fiquei admirado Com muita saudade Eu vi a nossa Cidade Dando beijinhos ao Sado. 01.03.2008
132 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A TRISTEZA Ó tristeza, vai-te embora Não quero contigo morar Não me deixas ser alegre Eu triste não quero ficar Eu triste não quero ficar Porque o meu coração chora Tens asas, podes voar Ó tristeza, vai-te embora Ó tristeza, vai-te embora Lá diz o velho ditado Segue lá o teu caminho Vale mais ficar sozinho Do que mal acompanhado Do que mal acompanhado Fica bem longe de mim Porque eu sempre fui alegre Quero continuar assim. 31.03.2008
OS VERSOS DA IDÍLIA
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VAI-TE EMBORA, SOLIDÃO Tu vieste, solidão Magoar meu coração E ele está triste e chora Que eu perdi o meu amor Eu te peço, por favor Ó solidão, vai-te embora Ó solidão, vai-te embora Gostas de me ver sofrer Eu quero ficar sozinha E chorar para ninguém ver E chorar para ninguém ver A triste da minha dor Eu não quero a tua mão Vai-te embora solidão Que eu perdi o meu amor. 14.11.2008
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AS FLORES DO MEU QUINTAL As flores do meu quintal São minhas, de mais ninguém Se eu canto, elas cantam Se choro, choram também Se choro, choram também São o meu ombro amigo As flores do meu quintal Entendem tudo o que eu digo Entendem tudo o que eu digo São bonitas e tão belas Gostam muito de mim E eu gosto muito delas E eu gosto muito delas Seja de noite ou de dia As flores do meu quintal São a minha companhia. 17.02.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O SEGREDO II Tenho um segredo guardado Bem lá no fundo do mar Numa caixinha fechado Para ninguém o levar Para ninguém o levar O segredo que é só meu Voltei ao fundo do mar E a caixa desapareceu E a caixa desapareceu Não obtive resposta Quando à praia cheguei O segredo deu à costa O segredo deu à costa Bem perto do meio-dia O segredo que era meu Já toda a gente sabia Já toda a gente sabia Eu fiquei triste de verdade Um segredo que guardava Desde a minha mocidade. 19.02.2009
138 | IDÍLIA LEOCÁDIO
VEJO A SERRA DA ARRÁBIDA Vejo a Serra da Arrábida Não há outra como ela Eu vejo o Sado passar A Tróia e vejo o mar Tudo da minha janela Ela é pequenina Mas eu gosto dela assim Das outras é diferente Fecha-se para toda a gente Só se abre para mim Vejo o céu, vejo as estrelas E vejo o sol e a lua É uma paisagem tão bela Que vejo da minha janela Nem preciso ir à rua. 28.06.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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FUI ESCONDER OS MEUS SEGREDOS Fui esconder os meus segredos Enterrados na areia A maré estava vazia Em noite de lua cheia Em noite de lua cheia Fui meus segredos esconder Ninguém sabe onde eles estão Só a Lua estava a ver Só a Lua estava a ver Eu sei que ela achou bem Que a Lua me veio dizer Que não diz nada a ninguém Que não diz nada a ninguém Eu fiquei agradecida Os segredos que eu escondi São todos da minha vida. 28.06.2009
140 | IDÍLIA LEOCÁDIO
TENHO MEDO Tenho medo de partir E medo de não voltar Tenho medo de dormir E medo de não acordar E medo de não acordar Cada um consigo goza Eu tenho estado a brincar Porque nunca fui medrosa Porque nunca fui medrosa Acredita que é assim Vou-te contar um segredo Eu às vezes tenho medo Até tenho medo de mim. 04.08.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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MÊS DAS ROSAS Mês de Maio, mês das rosas No mês de Maio eu nasci Aquelas rosas cheirosas Que eu comprava para ti Que eu comprava para ti E até ficava vaidosa No mês de Maio eu nasci E não tenho nome de rosa E não tenho nome de rosa Nem de qualquer outra flor Se o meu nome fosse Rosa Era a rosa do meu amor Era a rosa do meu amor Queria-o sempre ao pé de mim Se eu fosse uma flor A minha casa era um jardim. 04.08.2009
142 | IDÍLIA LEOCÁDIO
FUI VIAJAR AO PASSADO Fui viajar ao passado Não sabes o que encontrei Tudo o que eu tinha perdido E uma coisa recuperei E uma coisa recuperei Vai ficar na história Fui viajar ao passado Recuperei minha memória Recuperei minha memória Que há muito que tinha perdido Fui viajar ao passado E gostei de lá ter ido E gostei de lá ter ido Ainda lá quero voltar Porque há muita coisa perdida Que eu quero recuperar. 04.08.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AS VOLTAS QUE EU DEI NUM DIA Um dia de manhãzinha Passei à Cascalheirinha E também à Cascalheira Fui à praia passear E depois quando voltar Vou a Brescos e à Panasqueira Aí mudei de camisa Já me dizem que é doidice Fui direitinha à Galiza E voltei à Parvorice Das caminhadas que fiz Já me dizem que não presto Fui passar pelo Giz E voltei ao Deixa-O-Resto Aí bebi um café Que até nem me soube mal Fui direita a Santo André E voltei ao Azinhal E voltei ao Azinhal Correr tanto eu não resisto A estrada não tinha luz Fui direita a Santa Cruz E voltei a São Francisco Aí eu vi tu passares Não estava lá mais ninguém Fui direita aos Catalares E Santiago do Cacém
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E Santiago do Cacém Aí era um mundo novo Fui a Sines almoçar E jantar a Porto Côvo Quando a casa cheguei Fui falar à minha mana Disso tu não sabias Deitei-me na minha cama Dormi três ou quatro dias. 06.08.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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A MINHA IRMÃ Fui visitar a minha irmã Há tempo que lá não ia Encontrei uma amiga Que há muitos anos não via Que há muitos anos não via Alegrou meu coração A minha amiga que eu vos falo É a Maria da Conceição A Maria da Conceição Bonita e não é vaidosa Ainda gostava de ver A Soledade e a Preciosa A Soledade e a Preciosa Que sempre fomos amigas Íamos juntas à fonte Cantando nossas cantigas Cantando nossas cantigas Que ainda toda a gente sabe Eu já não moro no monte E nunca mais fui à fonte Mas é tão grande a saudade Quando lá não passo fico triste À fonte que foi tão amada Agora é diferente Deu água para muita gente Está velhinha e desprezada. 28.08.2009
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A ESCOLA DA VIDA Aprendi na escola da vida E ainda estou aprendendo Tudo o que eu sei na vida À vida eu estou devendo Ela me ensinou a viver E me ensinou a amar Até me ensinou a sofrer E ensinou-me a perdoar A vida me deu a vida Para eu a viver e estimar O que aprendi com a vida Tenho tendado ensinar Que a vida tudo me deu E tudo me tem levado O que eu pensava que era meu Afinal era emprestado. 28.01.2007
OS VERSOS DA IDÍLIA
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FLORES ZANGADAS Eu fui regar o jardim Que tenho no meu quintal As rosas e o alecrim Até me trataram mal Até me trataram mal Estão comigo zangadas Que eu fui regar o jardim E ficaram todas molhadas E ficaram todas molhadas Deu-me vontade de rir Que eu fui regar o jardim Ainda estavam a dormir E o malmequer não gostou De eu virar as costas a rir Fizeram uma barulheira Cantaram a noite inteira E não me deixaram dormir Quando me levantei Ainda estava zangado Foi de qualquer maneira E eu abri a torneira Foi água por todo o lado Aquelas lindas flores Que eu tenho no meu jardim E a quem eu chamava amores Já não gostam de mim
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Já não gostam de mim São bonitas e tão belas Estamos muito bem assim Se já não gostam de mim Eu também não gosto delas Eu também não gosto delas E tenho estado a pensar Agora está tudo verde Mas quando tiverem sede Nunca mais as vou regar. 24.09.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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PARTISTE, FOSTE EMBORA Partiste, foste embora Já não estás a meu lado É Deus que marca a hora O teu tempo estava acabado O teu tempo estava acabado Eu fiquei triste a chorar Porque eu também um dia O meu tempo vai acabar Quero ficar juntinha a ti Por toda a eternidade Há tão pouco tempo partiste Já é tão grande a saudade Já é tão grande a saudade Seja de noite ou de dia Partiste, foste embora Já não tenho companhia Já não tenho companhia Só o que a gente sofreu Eu jurei por toda a vida Que o meu amor é só teu. 24.09.2009
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A SINCERIDADE Onde está a sinceridade E aquela linda amizade Como noutro tempo havia Hoje recordo com tristeza No meio de tanta pobreza Havia muita alegria Havia muita alegria Coisa que hoje não existe Agora já não me iludo Porque hoje temos quase tudo E quase tudo anda triste E quase tudo anda triste É assim no mundo inteiro Hoje recordo com saudade Daquela linda amizade Que valia mais que o dinheiro. 24.09.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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CONTO TUDO Conto tudo quanto vejo Ando sempre a contar Conto as pedras da rua As estrelas, o sol e a lua E conto as ondas do mar Conto as ondas do mar As grandes e as pequenas Eu conto as coisas mais belas Conto portas e janelas E conto até as antenas E conto até as antenas Que não são todas iguais Por onde eu tenho passado Conto as telhas do telhado E conto muitas coisas mais Conto muitas coisas mais Mesmo que não ache bem Quando eu vou a passar Começo tudo a contar Conto e não conto a ninguém Conto e não conto ninguém Acreditem que é assim Porque é este o meu desejo Conto tudo quanto vejo Mas conto só para mim. 24.09.2009
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NÃO SEI DE ONDE VIM Não sei de onde vim Nem sei para onde vou Ninguém se lembra de mim E eu nem me lembro quem sou Eu não sei se quero ir Ou se vou aqui ficar Tenho medo de partir Para casa já não voltar Para casa já não voltar Que tu fiques aqui sozinho Tenho medo de partir E de me enganar no caminho Tenho dois caminhos em frente Não sei por qual hei-de ir Porque um tem ida e volta E o outro é só para partir Eles estão sinalizados Eu não conheço os sinais Tenho medo de partir E não voltar nunca mais. 24.09.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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QUATRO NOMES Minha tia deu-me o meu nome Minha mãe o dela me deu O meu pai e o meu marido Cada qual me deu o seu Cada qual me deu o seu Eu sei bem onde fico Um nome só não diz nada Mas os quatro é tão bonito Mas os quatro é tão bonito Eu tenho estado a pensar Um dia quando eu partir Não tenho a quem os deixar Não tenho a quem os deixar Ouve bem o que te digo Um dia quando eu partir Dois eu levo comigo. 24.09.2009
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SANTO ANDRÉ E SETÚBAL Santo André é meu amor Setúbal a minha amada Santo André me criou Setúbal me deu morada Setúbal me deu morada Estou-lhe muito agradecida Santo André e Setúbal São parte da minha vida São parte da minha vida Vejam bem como isto é Quando a saudade aperta Vou visitar Santo André Vou visitar Santo André Terra que me viu crescer Vim morar para Setúbal Onde gosto de viver Onde gosto de viver Porque este amor nunca finda Santo André e Setúbal Eu não vi coisa mais linda. 06.10.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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SANTO ANDRÉ Quero ir a Santo André Para passar lá um dia Quero ir matar saudades Do tempo que lá vivia Do tempo que lá vivia Quando era rapariga Quero ir a Santo André Porque a saudade me obriga Quero correr estradas e caminhos Do vale subir ao monte E ouvir os passarinhos E trazer água da fonte E trazer água da fonte Como noutro tempo fazia Quero ir a Santo André Para passar lá um dia Para passar lá um dia Acreditem que é verdade Que eu já não moro no monte Ao lado daquela fonte Eu passei a mocidade Eu passei a mocidade E a gente se divertia Eu quero ir a Santo André Para passar lá um dia. 15.10.2009
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O DIA DA MULHER No dia da mulher Fui passear ao jardim Estava pensando na vida Com medo de ficar esquecida Apanhei flores para mim Apanhei flores para mim Vim para casa devagarinho O que se passou não sei Quando a casa cheguei Na jarra tinha um raminho Na jarra tinha um raminho Feito de várias flores Não sei o que se passou Mas sei quem lá as deixou Foram os meus quatro amores Foram os meus quatro amores Eu vou ali e já venho Há quem tenha dois amores Mas quatro amores eu tenho. 17.11.2009
OS VERSOS DA IDÍLIA
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PASSARINHO Passarinho na gaiola Que cantava noite e dia Partiu seu companheiro Já não canta nem assobia Já não canta nem assobia Já nem se quer divertir Abriu-se a porta da gaiola E ele nem quer sair E ele nem quer sair O pobre do passarinho Partiu o seu companheiro Ele está triste e sozinho Ele está triste e sozinho De noite e dia a pensar Está tão triste o passarinho Já nem se ouve cantar Já nem se ouve cantar De tanto que ele sofreu Agora lhes vou contar Que o passarinho sou eu. 23.12.2009
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UMA ROSEIRA Uma roseira com seis rosas Pedi uma, não me quis dar Eu fui lá, apanhei-as todas Ficou a roseira a chorar Ficou a roseira a chorar Voltei lá de manhãzinha Fui-lhe devolver as rosas E ela deu-me uma rosinha E ela deu-me uma rosinha Ficou para mim a sorrir Quando quiseres leva uma Nem é preciso pedir Nem é preciso pedir Ouvi o que tu disseste Ouve o que eu te vou dizer Mas não voltes a fazer Aquilo que me fizeste Aquilo que me fizeste Ainda hoje estou pensando Levaste as minhas filhinhas E eu fiquei triste chorando Eu fiquei triste chorando Das minhas filhas mimosas Tu já imaginaste O que é uma roseira sem rosas? 12.03.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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MORO NA RUA DOS BOMBEIROS Moro na Rua dos Bombeiros Onde fiz amizades Já cá não mora o Bombeiro E a Rua tem saudades E a Rua tem saudades Nunca mais o viu passar Ela chora muitas vezes Porque me ouve chorar Porque me ouve chorar Está triste de eu estar velhinha Morava com o Bombeiro E agora moro sozinha E agora moro sozinha No meu mundo de escuridão Porque tenho sempre a meu lado A tristeza e a solidão. 12.03.2010
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VENTO DO SUL O vento sopra do Sul Como eu gosto de ver Vem encostadinho à Serra Notícias da minha terra O vento me vem trazer Falou-me da minha gente E tudo o que eu lá deixei E da casa onde eu morava Disse-me que ainda lá estava Muito contente eu fiquei Muito contente eu fiquei Foi esse o meu desejo O vento me veio trazer Saudades do Alentejo Saudades do Alentejo E de todas as vizinhas Disse-me que o Alentejo Também tem saudades minhas Também tem saudades minhas Isso já tu sabias Saudades do Alentejo Eu tenho todos os dias Eu tenho todos os dias Do meu pai e da minha mãe De tudo o que lá deixei Saudades de mim também. 15.03.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O MEU ROSTO O meu rosto está velhinho E o corpo transformado Tenho o cabelo branquinho E saudades do passado E saudades do passado Quando era rapariga E das crianças que eu amei E agora ninguém me liga E agora ninguém me liga Acredita que é assim Um dia tenho que partir Não quero que chorem por mim Não quero que chorem por mim A vida é tão pequena Nunca se lembraram de mim Não chorem, não vale a pena. 06.04.2010
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PASSEI A PONTE A PÉ Fui ao Jumbo de manhã Vejam bem como isto é Não arranjei boleia E passei a ponte a pé E passei a ponte a pé Porque faz muito bem andar Quando não tiver boleia A ponte a pé vou passar A ponte a pé vou passar Dizem que não tenho juízo Passo a ponte a pé Sempre que seja preciso Sempre que seja preciso Porque a vida é muito dura De passar a ponte a pé Toda a gente me censura Toda a gente me censura Eu já estou desesperada Eu passo a ponte a pé Para não atravessar a estrada. 14.04.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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FUI À PRAIA VER O MAR Fui à praia passear Era só para ver o mar Eu vi as ondas bater Uma vai e outra vem Não estava lá mais ninguém Sozinha gostei de ver Agora quando estou triste Se alegria não existe Vou para a beira do mar Ali acaba a tristeza Que a força da Natureza Faz a água dançar Eu gosto de ver o mar Em noite de lua cheia Quando se vem espreguiçar E dar beijinhos na areia Eu já tinha percebido Em noite de lua cheia Deu beijinhos na areia E molhou o meu vestido. 15.04.2010
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MALMEQUER Malmequer, ó malmequer Estás sempre a ser desfolhado Tu dizes que bem me quer Quem está de mim separado Quem está de mim separado Não sei se é assim E dizes quem me quer mal A quem está juntinho a mim A quem está juntinho a mim Fala com sinceridade Estás sempre a ser desfolhado Malmequer, diz a verdade Malmequer, diz a verdade Para ver se te dá gozo Se continuas assim Vou-te chamar mentiroso. 15.04.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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A MINHA AVÓ A minha avó era Custódia A outra era Bibiana E muita gente não sabia O meu pai era António Minha mãe era Maria Minha mãe era Maria Sei tudo desde pequena Tenho uma irmã Dionísia Tenho uma outra Madalena Tenho uma outra Madalena Dizem que é um nome fino Tinha um irmão José E outro irmão Idalino E outro irmão Idalino Uma irmandade tão linda Tinha uma irmã Hermínia E a outra era Gracinda E a outra era Gracinda Que toda a gente conhecia Os meus avôs eram Josés E eu sou Idília Maria E eu sou Idília Maria Que todos sabem quem é Do mais velho ao mais novo Todos nascemos em Santo André Todos nascemos em Santo André Éramos cinco raparigas Da família dos Leocádios E da família dos Cantigas. 27.05.2010
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ALENTEJO É UM JARDIM Se gostas do Alentejo Também gostas de mim Tem um manto de flores O Alentejo é um jardim O Alentejo é um jardim Em dias de soalheiro Para tratar as flores O sol é o jardineiro O sol é o jardineiro E trata-as muito bem Para regar as flores Às vezes a chuva vem Às vezes a chuva vem Sem veres nem acreditas É um lindo jardineiro Que tem as flores tão bonitas Que tem as flores tão bonitas Sei muito bem que é assim Sou filha do Alentejo Eu nasci no Jardim. 09.07.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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FUI CRIANÇA, FUI MENINA Fui criança, fui menina Rapariga e mulher Aos vinte e oito casei Fiz tudo como Deus quer Fiz tudo como Deus quer Não falo com altivez Aos trinta anos fui mãe Aos quarenta mãe outra vez Aos quarenta mãe outra vez Nunca mais me senti só Agora já sou velhinha Aos cinquenta e oito fui avó Aos cinquienta e oito fui avó Cada um diz o que pensa Agora que sou velhinha Voltei de novo a criança Voltei de novo a criança Mas já não tenho os meus pais Ser criança uma vez é bom Ser duas já é demais Ser duas já é demais É-se criança diferente Quase não podemos andar E não sabemos mandar Mas todos mandam na gente Mas todos mandam na gente Penso isto muita vez Eu fui avó novamente Agora aos setenta e três. 09.07.2010
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ONDE ESTÁS, CORAÇÃO? Onde estás, coração Estou cansada de chamar Já não te oiço bater Nem sinto o teu palpitar Nem sinto o teu palpitar Sabes que eu estou velhinha Abalaste, coração Eu fiquei triste e sozinha Eu fiquei triste e sozinha Tu sabes, eu também sei Eras a minha companhia E tanto amor que eu te dei E tanto amor que eu te dei Tu sabes que é assim Se não for pedir demais Coração, volta para mim Coração, volta para mim Porque é grande o meu sofrer Tu abalaste assim E sem ti não posso viver E sem ti não posso viver Estou muito esmorecida Coração, volta para mim Vem dar vida à minha vida. 09.07.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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A MISSA Estive a assistir à missa Que deu na televisão Assisti à missa sozinha Não tinha a quem dar a mão Chegou o momento do abraço Pensei em todos os meus Não tinha a quem abraçar E dei um abraço a Deus E dei um abraço a Deus E Deus se abraçou a mim E Deus me respondeu Não chores, que a vida é assim Não chores, que a vida é assim Lembra-te que eu aqui estou Quando precisares de ajuda Chama por mim que eu vou. 17.10.2010
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UM SONHO Uma noite tive um sonho Que andava passeando Sonhei que tinha asas E abalei voando E abalei voando Sem ver ninguém, acredita Tudo o que vi lá de cima Uma paisagem tão bonita Uma paisagem tão bonita Eu tenho estado a pensar Agora na minha vida Não quero deixar de sonhar Não quero deixar de sonhar A ideia não é tua Eu abracei as estrelas E dei beijinhos à Lua E dei beijinhos à Lua Ela ficou a sorrir Eu queria beijar o sol Mas ele estava a dormir Mas ele estava a dormir Isto é a realidade Este sonho que eu sonhei Quem me dera ser verdade. 17.10.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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A MINHA CASA A minha casa é tão longe Fica para lá do mar Chegas lá em segundos Se começares a cantar Se começares a cantar Ganhas um lindo troféu A porta está sempre aberta É um cantinho do céu É um cantinho do céu Onde gosto de morar Estou triste de estar sozinha Não tenho com quem falar Não tenho com quem falar Porque estou longe dos meus Sinto sempre uma presença Muito obrigado, meu Deus Muito obrigado, meu Deus Pela tua companhia Sei que estás sempre comigo Seja de noite ou de dia. 17.10.2010
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A ROSEIRA E O CRAVEIRO É uma linda roseira Que tem um craveiro ao lado O craveiro disse à roseira Que está por ela apaixonado Que está por ela apaixonado Ele ficou a pensar E perguntou à roseira Tu comigo queres casar? Se contigo quero casar? Respondeu-lhe no momento Olha, eu já sou casada E o meu marido é o vento E o meu marido é o vento E temos nossos filhinhos Ele olhou para a roseira Estava cheia de botõezinhos. 24.11.2010
OS VERSOS DA IDÍLIA
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OS MEUS NOVOS VIZINHOS O Luís e a Natália São os meus novos vizinhos Deus lhes dê saúde e sorte Para criarem os seus filhinhos Para criarem os seus filhinhos Com amor, todos os dias A primeira vez que me viram Eles me deram os bons dias Eles me deram os bons dias Que hoje já pouca gente diz Desejo-lhes felicidades À Natália e ao Luís À Natália e ao Luís E também aos seus filhinhos Eu estava aqui sozinha E já tenho quatro vizinhos. 24.11.2011
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O CORAÇÃO DA ROSEIRA O coração de uma roseira Que tenho no meu quintal É um coração diferente Ainda só vi um igual Ainda só vi um igual Sempre comigo viveu É um coração tão lindo Mas é triste, igual ao meu Mas é triste, igual ao meu E dele ouvi um lamento O meu trabalha no peito E ele trabalha ao vento E ele trabalha ao vento E anda num rodopio Canta em dias de sol E chora quando tem frio Chora quando tem frio Já muito ele sofreu Aquele lindo coração Quer trabalhar junto ao meu Quer trabalhar junto ao meu E pediu-me com jeitinho Abre a porta do meu peito Que eu quero ficar quentinho Eu quero ficar quentinho Foi assim que ele falou Abri a porta do peito E o coraçãozinho entrou
OS VERSOS DA IDÍLIA
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E o coraçãozinho entrou E ficou encantado Ao meu coração se abraçou E disse muito obrigado E disse muito obrigado Foi isto que eu sempre quis Agora estou quentinho Não choro e sou feliz Não chora e é feliz Já não vive de ilusões E agora no meu peito Eu tenho dois corações Eu tenho dois corações Isto não é brincadeira Tenho o meu coração E o coração da roseira. 27.12.2011
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A SOLIDÃO II Bateram à minha porta À noite, já ao serão E a porta fui abrir Quem batia era a Solidão Quem batia era a Solidão E ela nem me falou Assim que abri a porta Logo a Solidão entrou Logo a Solidão entrou E eu fiquei a olhar Perguntei à Solidão Quem é que te mandou entrar? Quem é que te mandou entrar? Olha para ti que és velhinha Venho-te fazer companhia Para não estares sozinha Para eu não estar sozinha? Fazes o que te convém Eu não quero a tua mão Vai-te embora, Solidão Não és boa para ninguém Não sou boa para ninguém? Estás num sofrimento sem fim Vinha-te fazer companhia E porque me tratas assim? Porque te trato assim? Do mal nunca te esqueces Não fazes bem a ninguém Trato-te como mereces. 27.12.2011
OS VERSOS DA IDÍLIA
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ARRÁBIDA Arrábida está florida Com um manto de flores Contou-me uma história antiga Que aprendeu com seus amores Quando os namorados lá vão À noitinha passear Ficam sentadinhos no chão Só para ver o luar Ouvem as ondas do mar E vêem o Sado correr Ficam sentadinhos no chão Até a maré encher Eu quero ir à Arrábida Um dia pela tardinha Senão arranjar namorado Eu vou lá mesmo sozinha. 04.03.2012
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BOM DIA, SETÚBAL Bom dia, Setúbal Estou aqui para te ver O meu nome é Santo André Eu quero-te conhecer Eu quero-te conhecer Não te tinha visto ainda Diziam-me que eras bonita Mas tu és muito mais linda Mas eu sou muito mais linda? Tu estás a imaginar Logo de manhãzinha Tu me fizeste corar Tu me fizeste corar E eu estou envergonhada Com tantos elogios Não consigo dizer nada Não consigo dizer nada Vejam bem como isto é Só te quero dizer Muito obrigado, Santo André Muito obrigado, Santo André E levas muitos beijinhos Podes ir descansado Que eu trato bem os teus filhinhos
OS VERSOS DA IDÍLIA
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Tratas bem os meus filhinhos? Eu disso estou informado Também te quero dizer Setúbal, muito obrigado Setúbal, muito obrigado Também agradeço a Deus Tratas os meus filhinhos Tal como tratas os teus. 27.12.2012
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É TRISTE É triste andar a penar É triste o que a gente sente Ainda mais triste é gostar De quem não gosta da gente É triste viver sozinho Pobre e abandonado É triste não ter carinho É triste andar enganado É triste não termos mãe Para poder desabafar É triste não ter ninguém É triste andar a penar.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NUM JARDIM NA PRIMAVERA Num jardim na Primavera Eu plantei dois craveiros E ambos deram flor Cada um tem seu cheiro Cada qual a sua cor No meio daquele canteiro Há uma roseira triste Só aos cravos dá carinho No meio daquelas flores Dois cravos são dois amores Dois amores são meus filhinhos Eu não os quero deixar Não os posso abandonar Por ora não o farei Tenho que os aconselhar Também lhes quero ensinar Tudo da vida que eu sei A vida não é só rosas Não se alimenta de amores Não se vive só de carinhos Tem-se muitos dissabores Que no meio daquelas flores As rosas têm espinhos Agora neste canteiro Apareceu lá outro craveiro Não fui eu que o plantei Trato-o com todo o carinho No meio daquelas flores Três cravos são três amores Meus filhos e meu netinho.
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A INFUSINHA DE BARRO A infusinha de barro Que eu tinha para ir à fonte A casa onde eu morava Ficava acima do monte Num dia de vendaval A infusinha quebrou E eu nunca mais fui à fonte E ela de triste chorou Há dias fui visitá-la Ela não me conheceu Depois eu dei-lhe um abraço Ficou a chorar mais eu Ficámos abraçadinhas Ver quanto nos queríamos bem Desde que deixei de lá ir Nunca mais lá foi ninguém.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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LUA DO MEU CORAÇÃO Lua, dá-me a tua mão Ilumina o meu caminho Roubaram-me o coração E eu fiquei triste e sozinho Com ele foi o meu amor Eu não sei onde eles estão Ilumina o meu caminho Lua do meu coração.
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QUANDO EU ERA PEQUENINA Quando eu era pequenina Eu cantava todo o dia Cantigas da minha avó E que a minha mãe sabia E que a minha mãe sabia Pouco a ouvia cantar Ela não tinha alegria Eu sempre a via a chorar Eu sempre a via a chorar Perante a sua pobreza Era os desgostos que tinha Juntos à sua tristeza Juntos à sua tristeza Pobre mãe, como sofria Como eu era pequenina Eu cantava todo o dia.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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SE ESTOU ALEGRE Se estou alegre Canto e torno a cantar E se estou triste Canto para não chorar Porque a alegria Pode vencer a tristeza Ela vai-se embora E não volta com certeza Por isso eu canto Que assim me sinto bem Porque não penso Nas mágoas que a vida tem Não vale a pena Levar a vida chorando Desde pequena que eu vivo A minha cantando.
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O MEU NETINHO O meu netinho é traquino Para mim é uma riqueza É uma jóia de menino O meu netinho é uma lindeza É assim que eu lhe chamo Logo desde pequenino É uma jóia que eu amo O meu netinho é traquino.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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O PRATINHO O pratinho que era do meu pai Foi dos meus irmãos também Agora ele é só meu Foi a minha mãe que me deu E não o vou dar a ninguém Quando eu lá ponho comida Já a minha mãe o dizia Tem o mesmo sabor Ao que a minha avó fazia Ninguém pode imaginar Como eu estimo este pratinho Cada vez que eu olho para ele Eu lembro do meu paizinho.
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A NUVEM Nuvem, não tapes o sol Deixa passar o calor Que eu estou tremendo de frio À espera do meu amor Abalou de manhãzinha Não há meio de voltar Nuvem, não tapes o sol Até o meu amor chegar.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AMOR AOS PAIS Quem não deu a mão ao seu Pai Nem estimou a sua Mãe Se nunca lhe deu carinhos E os deixou sempre sozinhos Fica sozinho também Que isto sirva de lição Embora tarde demais É o que eu digo, porém Quem não deu amor aos Pais Não recebe amor de ninguém.
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OS VELHINHOS Não chames velhos aos velhinhos E não vás continuando Nem faças sacrifício Porque tu sem dares por isso Para lá vais caminhando Um dia quando fores velho Também te irão chamar Aí começas a sofrer Que o tempo passa a correr Quando a velhice chegar Um dia me chamaram velha Eu fiquei triste, porém Agora o tempo passou E quem velha me chamou Já está velhinha também Dêem-lhe amor e carinhos E não os tratem diferente Não os deixem estar sozinhos Tratem bem os velhinhos Porque eles também são gente.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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EU SOU O SOL Eu sou o sol Sabem lá o que eu queria Ia-me juntar à lua Para não brilhar só de dia Estou farto de me esconder Todos os dias à noitinha E fiquei triste em saber Que a lua andava sozinha Eu queria dar-lhe a mão E ficarmos agarradinhos E brilhar de dia e noite Andarmos sempre juntinhos Andarmos sempre juntinhos À vista de toda a gente Queria casar com a lua Pr’ò mundo ficar contente.
196 | IDÍLIA LEOCÁDIO
O BARCO Eu tenho um barco à espera Que é para eu embarcar Oh, meu amor, quem me dera Que eu te pudesse levar Eu não sei se quero ir Ou se vou aqui ficar Meu amor, não quero partir Se comigo não te levar Não quero que fiques sozinho Sem amor e sem carinho Eu chorando vou aos ais Ouve bem o que eu te digo Se não quiseres vir comigo Adeus, até nunca mais Assim está tudo acabado Cada um para seu lado É o que eu te vou dizer Eu te queria explicar Se não me queres acompanhar Eu ficar não pode ser.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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À BEIRA DO MAR ESCONDIDA À beira do mar escondida Um dia dormi a sesta Estava bem adormecida À sombra de uma giesta Aí o sol abalou E a lua vinha a chegar Um peixinho me acordou Quando saltava no mar Acordei sobressaltada Fui seguindo o meu caminho Abalei, não disse nada Só fiz adeus ao peixinho Mais à frente adormeci E não sei dizer mais nada Veio de novo o peixinho Mas não me deu acordada.
198 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A PENSAR NA VIDA Eu estive a pensar na vida Em tudo o que eu já vivi Há quanto tempo não sei O que em muitos anos juntei Em pouco tempo perdi Perdi a minha mocidade E também a alegria Só ficou a saudade Comigo de noite e dia Comigo de noite e dia Não me deixa sossegar O que é que eu faço agora Que mando a saudade embora E ela não quer abalar.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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VERSOS NA AREIA Com a pena de uma gaivota Escrevi um verso na areia Com letra miudinha Porque a maré estava cheia Veio uma onda e levou O que eu estava a escrever Só o teu nome ficou O resto não dá para ler Era um verso bonito A quem dediquei não sei Veio uma onda e o levou Nunca mais o encontrei.
200 | IDÍLIA LEOCÁDIO
POEMA À VIDA À vida fiz um poema Ao poema uma canção Queria que fosse diferente Eu quero ver toda a gente Com um poema na mão Mesmo que não saiba ler Não é difícil dizer Um poema assim cantado Digo com todo o respeito Que todos têm direito Que não fique ninguém de lado É triste não saber ler Eu sinto o que vou dizer E o que tenho passado Sofro desde criancinha Aprendi a ler sozinha Meu Deus, muito obrigado.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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A MINHA RUA II A minha rua é tão bonita Gosto de nela morar Com as suas janelinhas Eu tenho as minhas vizinhas Com quem gosto de falar Falamos nas nossas vidas E nunca na vida alheia Ela caladinha fica Para mim é tão bonita Embora digam que é feia Ela é muito pequenina Todos vêem que é assim Ainda digo outra vez Isto foi Deus que fez Esta rua para mim Eu gosto de morar nela E ela gosta de mim Do portão ou da janela Vejo uma rua tão bela Nunca vi outra assim.
202 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A VOZ DO POETA É ASSIM Esta é a voz do poeta Diz tudo na hora certa E fala ao coração Sem ninguém querer magoar Ele tentar explicar Como é triste a solidão Ele nunca está sozinho Tem muito amor e carinho Para dar a toda a gente A voz do poeta é assim Fala de ti e de mim Mas nunca cala o que sente.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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SETÚBAL DO MEU CORAÇÃO Gosto tanto de Setúbal Como gosto das flores E gosto da minha terra Para mim são dois amores Embora sejam diferentes Para mim são tão iguais As duas me tratam bem Não sei de qual gosto mais Na minha terra nasci Setúbal me deu a mão Por isso gosto das duas Do fundo do coração.
204 | IDÍLIA LEOCÁDIO
O DESTINO O destino, o que é o destino? É algo que Deus nos deu Recebe-se em pequenino Segue lá o teu destino E eu seguindo vou o meu É uma dádiva de Deus Muita gente não entende Nem precisa ser instruída Que há muita coisa na vida Que não se compra nem se vende.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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PASSARINHO CANTADOR Passarinho cantor Vem-me ensinar a cantar E eu ensino ao meu amor Quando a noite chegar Quando a noite chegar E passarmos o serão Passarinho cantador Ensina-me uma canção Ensina-me uma canção Para eu cantar todo o dia Eu não gosto de andar triste Dá-me um pouco de alegria.
206 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A SILVA No campo apanhei uma silva Para comer uma amora A silva ficou zangada E eu fiquei arranhada E deitei a silva fora Deitei a silva fora Para cima do silvado Eu não tinha percebido Enleou-se-me no vestido Que ficou todo rasgado Que ficou todo rasgado Com uma rasga tamanha Eu também já estou zangada Com a silva não quero nada Que ela pica e ela arranha.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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ESTRELINHA Há uma estrela tão bela Que das outras é diferente Quando vou à janela Fico a falar com ela Eu vejo que está contente Acena-me com seus raiozinhos Parece mandar beijinhos Para o meu rosto enrugado Aquela linda estrelinha Se ela fosse só minha Levava-a para todo o lado Quando à noite vou à rua Está sempre ao lado da lua Cheia de amor e carinhos E depois vou-me deitar Mas antes de abalar Mando-lhe sempre beijinhos.
210 | IDÍLIA LEOCÁDIO
NÃO É ARTISTA QUEM QUER Não é artista quem quer Mas sim quem nasceu artista Seja homem ou mulher Seja poeta ou fadista O fadista canta o fado O poeta sabe rimar Não quer dizer que um poeta Não saiba também cantar.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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DIA DA ESPIGA Quinta-feira da Assunção Explodiu meu coração E eu fui apanhar a espiga A correr e a saltar Fiquei a recordar Quando era rapariga Ia sempre acompanhada De manhã ou à tardinha Mas agora foi diferente Vou contar a toda a gente Que apanhei a espiga sozinha Apanhei a espiga sozinha Já bem perto do meio-dia Será por ser já velhinha Que não arranjei companhia?
212 | IDÍLIA LEOCÁDIO
TIVE UM DESGOSTO NA VIDA Tive um desgosto na vida Quase me leva à sepultura Ainda hoje não estou esquecida Nem esquecida nem segura Nem esquecida nem segura Jamais poderei esquecer Tive um desgosto na vida Que eu queria antes morrer Já te perdoei, meu bem Podes viver descansado Adoro-te mais que ninguém Quero-te sempre a meu lado Escusado será dizer Está-me estampado no rosto Eu antes queria morrer Tive na vida um desgosto.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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AS PEDRAS DA MINHA RUA II As pedras da minha rua Fazem-me parte da vida Conto-as todos os dias De manhã já estou esquecida É um trabalho que eu tenho Todos os dias em vão Quando vou e quando venho Eu conto as pedras do chão Às vezes ouço chorar Sinto que estão magoadas Até as pedras do chão Estão fartas de ser pisadas Quando eu passo por elas Piso-as devagarinho Não as quero magoar Não as vá eu acordar As pedras do meu caminho.
214 | IDÍLIA LEOCÁDIO
SETÚBAL, LINDA CIDADE Setúbal, linda cidade Muito me tens ajudado Criaste o meu marido E meus filhos tens criado Setúbal é boa mãe Trata todos por igual E os filhos que ela tem São todos de Portugal São todos de Portugal De dizer mal já basta Trata todos por igual Setúbal não é madrasta Se um filho tem azar A vida não corre bem É muito triste afirmar Que a culpada é a mãe Setúbal, de manhãzinha Depois de tudo arrumado Vai à janela da cozinha E dá beijinhos ao Sado Esse é o filho mais querido Foi ela que me contou Corre muito, tem corrido Mas nunca a abandonou É uma mãe exemplar Esposa de um só marido Por lhe chamarem madrasta Tanto que ela tem sofrido.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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SAUDADES DE MINHA MÃE Oh, minha querida mãezinha Há muito me abandonaste Nunca mais tive alegria Desde que tu me deixaste Mesmo que fosses velhinha Queria-te ao pé de mim Eras a minha mãezinha Gostava de ti assim.
216 | IDÍLIA LEOCÁDIO
SOZINHA Sinto-me sempre sozinha Mesmo estando acompanhada Eu sou muito faladeira Não consigo estar calada Eu falo com as flores E com a minha vizinha Se elas não me dão conversa Eu falo mesmo sozinha Se vejo televisão Fico tudo a relatar Aí começa a confusão Todos me mandam calar Falo com o sol e a lua E com a minha estrelinha E elas não me respondem E eu fico a falar sozinha Eu fico a falar sozinha Já estou habituada Pois é assim que eu me sinto Mesmo estando acompanhada.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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IDA À SERRA Fui à serra buscar lenha Para acender a fogueira O tempo estava chuvoso E escorreguei na ladeira Vim p’ra casa cambaleando Com a perna a arrastar Não acendi a fogueira Acabei por me queimar Acabei por me queimar Até rasguei o vestido Não acendi a fogueira Por causa de ter caído Eu nunca mais vou à serra E nem acendo a fogueira Porque rasguei o vestido Quando escorreguei na ladeira.
218 | IDÍLIA LEOCÁDIO
MANDEI O TRABALHO EMBORA Levantei-me de manhã Estava como estou agora Não me apetecia fazer nada Mandei o trabalho embora Mandei o trabalho embora E ele não quis abalar Chamou-me preguiçosa Diz que não quero trabalhar Diz que não qeuro trabalhar Mas isso não é verdade Eu trabalhei toda a vida Desde a minha mocidade Desde a minha mocidade Eu já estou desesperada Mandei o trabalho embora E com ele estou zangada E com ele estou zangada Fiquei no meu agasalho Mandei-o para o outro lado Porque há muita gente sem trabalho.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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É NATAL É Natal Anda, vamos dar as mãos Para mostrarmos ao mundo Que somos todos irmãos Vamos esquecer o ódio E pôr de lado a maldade Para que todos os dias Só haja felicidade Da minha janela eu vi Um Anjo cheio de luz Ele veio anunciar A chegada de Jesus.
222 | IDÍLIA LEOCÁDIO
QUERIA SER UMA ROSA Se eu estivesse num jardim Plantada num canteiro Que todos gostassem de mim E que tivesse jardineiro E que tivesse jardineiro Para me tratar com amor Se estivesse num canteiro Plantada ao pé de um craveiro Ai, se eu fosse uma flor Eu queria ser uma rosa Estar ao pé dos cravinhos E já me chamam vaidosa Por eu querer ser uma rosa De uma roseira sem espinhos.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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NÃO PASSES À MINHA RUA Eu estive um dia à janela Só para te ver passar Tu ias ao lado dela E eu fiquei triste a olhar Vou-te pedir um favor Agora que já não sou tua Arranjaste um novo amor Não passes mais à minha rua Não passes mais à minha rua Para eu deixar de sofrer Eu estive um dia à janela Era só para te ver Era só para te ver Mas a vida continua Não passes onde eu moro Que eu não passo à tua rua.
224 | IDÍLIA LEOCÁDIO
MARIDO À ANTIGA Mulher minha eu não quero Debruçada na janela Se é bonita todos a querem Se é feia gozam com ela Eu quero a minha mulher Debaixo da minha asa Faço tudo o que ela quer Mas quero a mulher em casa Não quero que ande pintada E nem use mini-saia Nem blusa decotada E nem biquini na praia Porque a minha mulher É presente que Deus me deu Quem trata de mim é ela E quem lhe dá amor sou eu.
OS VERSOS DA IDÍLIA
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VERSO DO BOMBEIRO O meu marido era bombeiro Muitos fogos apagava Depois apagava o meu Assim que a casa chegava Assim que a casa chegava Não tinha tempo para comer Era de qualquer maneira Puxava logo a mangueira Porque eu já estava a arder Porque eu já estava a arder Perto do meu coração E tinha que descansar Para eu o ajudar Punha-me a mangueira na mão Punha-me a mangueira na mão Era assim o meu amor Eu não sabia o que fazer Ficava logo a arder Ao sentir o seu calor Ao sentir o seu calor Em dias de soalheiro Eu ficava logo a arder Quando chegava o bombeiro Quando chegava o bombeiro Nem podia descansar A gente pouco falava Assim que a casa chegava Vinha o meu fogo apagar. 2015
226 | IDÍLIA LEOCÁDIO
EU SOU AMIGA DO VENTO Eu sou amiga do vento E o vento é meu amigo Entendo o que diz o vento E o vento entende o que eu digo Estive a falar com o vento Que encontrei pelo caminho Contei-lhe as minhas mágoas E o vento chorou baixinho E o vento chorou baixinho Não falei a mais ninguém Ao ver chorar o vento Chorei baixinho também Chorei baixinho também Ficámos a conversar Quando olhei para o céu O sol estava a chorar O sol estava a chorar Eu só reparei depois Que o sol ficou chorando Ao ver-nos chorar os dois Ao ver-nos chorar os dois Penso nisto muita vez Éramos dois a chorar E agora já somos três E agora já somos três Muito que a gente sofreu Agora chora o sol Chora o vento e choro eu. 07.2015
OS VERSOS DA IDÍLIA
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VOU CONTAR-TE OS MEUS DESEJOS Vou contar-te os meus desejos Jura que não gozas Não tenho a quem dar beijos Eu dou beijinhos às rosas Eu dou beijinhos às rosas Elas são os meus amores Não tenho com quem falar Eu falo com as flores O sol é o meu amigo E sempre preocupado Diz-me, nunca estás sozinha Que eu estou sempre a teu lado. Que eu estou sempre a teu lado E agora vamos falar Quando à noite vou dormir Fica a lua em meu lugar Fica a lua em meu lugar Eu sei que gostas dela Quando estás a dormir Ela entra pela janela Ela entra pela janela E podes estar descansada Não penses que estás sozinha Que estás bem acompanhada. 07.2015
228 | IDÍLIA LEOCÁDIO
OS VERSOS DA IDÍLIA
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230 | IDÍLIA LEOCÁDIO
ÍNDICE NOTA BIOGRÁFICA
7
VOU CONTAR A MINHA VIDA
11
ENCONTREI NA MINHA RUA
13
QUANDO EU ERA MIÚDO
14
PEDIDO AOS MEUS FILHOS
16
EU OUVI BATER À PORTA I
18
PERDOA-ME, QUERIDA MÃEZINHA
19
CANÇÃO A SETÚBAL
20
QUANDO VOU À MINHA TERRA
21
MEU PAI E MINHA MÃE
22
O VENTO I
23
OH, MINHA QUERIDA MÃEZINHA
24
CORAÇÃO DISTRAÍDO
25
AS CRIANÇAS QUE EU AMEI
26
SE EU CONTASSE A MINHA VIDA
27
NO MEU QUARTO
28
O PASSEIO NA PRAIA
29
O MEU AMIGO MENINO
30
O MEU QUINTAL
33
VIVER SOZINHA
34
MINHA MÃE TÃO POBREZINHA
35
A FORÇA DO DESTINO
36
OS VERSOS DA IDÍLIA
|231
NA RUA ONDE EU MORO
37
DUAS BALANÇAS
38
EU GOSTO DAS DUAS
39
AMOR PERDIDO
40
A MOCIDADE
41
À MINHA MÃEZINHA
42
SE EU SOUBESSE ESCREVER
43
A ROSEIRA I
44
QUATRO ROSAS
45
O MERCADO DA POESIA
46
Ó LUA, QUE VAIS TÃO ALTA
47
SAUDADES
48
UMA FLOR ABANDONADA
49
A JANELA DA ESPERANÇA
50
AQUI
51
A GUERRA NO MUNDO
52
A VISITA
53
OS IDOSOS
54
FUI PROCURAR À LUA
57
O VENTO II
58
QUANDO EU FOR À MINHA TERRA
59
OS MEUS PENSAMENTOS
60
AS DORES QUE EU SINTO
61
O MEU ROSTO JÁ VELHINHO
62
A ESTEVINHA JÁ CRESCIDA
63
ESTIMEM A NATUREZA
64
232 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A ALEGRIA E A TRISTEZA
65
A COZINHEIRA CANSADA
66
A VIDA
67
ARRÁBIDA FLORIDA
68
MAIS UMA VEZ A ESTEVA
69
DA PRAIA AO ALENTEJO
70
PARA TI, MINHA MÃE
73
GOSTO DA MINHA CASA
74
TEMPO, NÃO VOLTES PARA TRÁS
76
PORTINHO DA ARRÁBIDA
77
AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ
78
A VAIDADE
79
O MEU TRISTE NATAL
80
O PASSARINHO DA PAZ
81
NATAL
82
POETA NÃO SEI PORQUÊ
83
FIZ UM PEDIDO A DEUS
84
O ANJINHO
85
ALENTEJO DOURADO
86
CORAÇÃO AMIGO
88
DESENHOS NAS NUVENS
89
JÁ NÃO SOU QUEM ERA ANTES
90
ERA UM CANTEIRO FLORIDO
93
O VENTO QUE PASSA
94
UMA GAIVOTA
95
EU OUVI BATER À PORTA II
96
OS VERSOS DA IDÍLIA
|233
NOITE DE SÃO JOÃO
98
A MINHA FAMÍLIA
99
OS MEUS OLHOS
100
O MEU CORAÇÃO
101
SETE DIAS DA SEMANA
102
A ROSEIRA II
103
ERRAR É HUMANO
104
UM BEIJO À BEIRA DO RIO
105
O SEGREDO I
106
A MINHA RUA I
107
O MEU AMOR VEIO DE LONGE
108
FUI À PRAIA
109
QUEM SOU EU
110
AS FONTES DA MINHA TERRA
111
O CASAMENTO DA ROSA
112
DEI-TE TUDO NA VIDA
115
NUMA NOITE OUVI CHORAR
116
O TRABALHO
117
PERDI MEU CORAÇÃO
118
TENHO CIÚMES
119
AS PEDRAS DA MINHA RUA I
120
FUI PROCURAR AO TEMPO
121
SETÚBAL, ÉS TÃO BONITA
123
AI, QUE SAUDADES
124
OS PASSARINHOS
127
NUNCA ANDEI NA ESCOLA
128
234 | IDÍLIA LEOCÁDIO
A SOLIDÃO I
129
JUREI CANTAR UM FADO
130
À SOMBRA DO TEU CHAPÉU
131
SENTEI-ME À BEIRA DO SADO
132
A TRISTEZA
133
VAI-TE EMBORA, SOLIDÃO
134
AS FLORES DO MEU QUINTAL
137
O SEGREDO II
138
VEJO A SERRA DA ARRÁBIDA
139
FUI ESCONDER OS MEUS SEGREDOS
140
TENHO MEDO
141
MÊS DAS ROSAS
142
FUI VIAJAR AO PASSADO
143
AS VOLTAS QUE EU DEI NUM DIA
144
A MINHA IRMÃ
148
A ESCOLA DA VIDA
149
FLORES ZANGADAS
150
PARTISTE, FOSTE EMBORA
152
A SINCERIDADE
153
CONTO TUDO
154
NÃO SEI DE ONDE VIM
155
QUATRO NOMES
156
SANTO ANDRÉ E SETÚBAL
157
SANTO ANDRÉ
158
O DIA DA MULHER
159
PASSARINHO
160
OS VERSOS DA IDÍLIA
|235
UMA ROSEIRA
161
MORO NA RUA DOS BOMBEIROS
162
VENTO DO SUL
163
O MEU ROSTO
164
PASSEI A PONTE A PÉ
165
FUI À PRAIA VER O MAR
166
MALMEQUER
169
A MINHA AVÓ
170
ALENTEJO É UM JARDIM
171
FUI CRIANÇA, FUI MENINA
172
ONDE ESTÁS, CORAÇÃO?
173
A MISSA
174
UM SONHO
175
A MINHA CASA
176
A ROSEIRA E O CRAVEIRO
177
OS MEUS NOVOS VIZINHOS
178
O CORAÇÃO DA ROSEIRA
179
A SOLIDÃO II
181
ARRÁBIDA
182
BOM DIA, SETÚBAL
183
É TRISTE
185
NUM JARDIM NA PRIMAVERA
186
A INFUSINHA DE BARRO
187
LUA DO MEU CORAÇÃO
188
QUANDO EU ERA PEQUENINA
189
SE ESTOU ALEGRE
189
236 | IDÍLIA LEOCÁDIO
O MEU NETINHO
191
O PRATINHO
192
A NUVEM
193
AMOR AOS PAIS
194
OS VELHINHOS
195
EU SOU O SOL
196
O BARCO
197
À BEIRA DO MAR ESCONDIDA
198
A PENSAR NA VIDA
199
VERSOS NA AREIA
200
POEMA À VIDA
201
A MINHA RUA II
202
A VOZ DO POETA É ASSIM
203
SETÚBAL DO MEU CORAÇÃO
204
O DESTINO
205
PASSARINHO CANTADOR
206
A SILVA
209
ESTRELINHA
210
NÃO É ARTISTA QUEM QUER
211
DIA DA ESPIGA
212
TIVE UM DESGOSTO NA VIDA
213
AS PEDRAS DA MINHA RUA II
214
SETÚBAL, LINDA CIDADE
215
SAUDADES DE MINHA MÃE
216
SOZINHA
217
IDA À SERRA
218
OS VERSOS DA IDÍLIA
|237
MANDEI O TRABALHO EMBORA
221
É NATAL
222
QUERIA SER UMA ROSA
223
NÃO PASSES À MINHA RUA
224
MARIDO À ANTIGA
225
VERSO DO BOMBEIRO
226
EU SOU AMIGA DO VENTO
227
VOU CONTAR-TE OS MEUS DESEJOS
228
238 | IDÍLIA LEOCÁDIO
OS VERSOS DA IDÍLIA
|239
240 | IDÍLIA LEOCÁDIO