Artes Plásticas
Por: Djenane Arraes | Fotos: Fábio Pinheiro
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PLANO BRASÍLIA
uma
tela
Deborah Laranjeira procura aproximar as pessoas e fazer com que elas se identifiquem em grandes retratos pintados
A
arte digital carregada de referências pop tornou-se coqueluche entre os jovens artistas gráficos e é disseminada nas redes sociais. É uma tendência que, por vezes, pode fazer acreditar que a pintura em tela está morta. Mas há aqueles que não acreditam nisso e continuam a investir na arte tradicional. É o caso da pintora – e professora –, Deborah Laranjeira. A jovem brasiliense de apenas 26 anos começa a aparecer na cidade com obras que mostram traços e cores fortes que se traduzem em retratos. Apesar de ainda estar se desenvolvendo como artista, Deborah mostra que o trabalho dela tem assinatura própria. “Sempre me interessei pela arte abstrata e expressionista. Cores e traços trazem emoção”, explicou Deborah. “Então combinei esses elementos expressivos em retratos. Amo rostos e também grandes espaços e cor. É por isso que comecei a pintar rostos grandes. Há várias cores já na pele que variam conforme a luz, a tonalidade e minhas pinturas traduzem isso.” Formada em Artes Plásticas na University of San Jose, na Califórnia, a maior influência no trabalho produzido por ela veio do movimento figurativo de San Francisco, iniciado nos anos 1950. O modernismo brasileiro também tem lugar no leque de influências. “Gosto de Di Cavalcante e, especialmente, de Tomie Ohtake. Eu gostaria de ser uma artista como ela, mas no rosto.” Além das obras, a ideologia modernista brasileira, especialmente o movimento antropofágico traduzido nas telas de Tarsila do Amaral, é algo que agrada
Deborah não abre mão da tinta e da tela
a jovem brasiliense. “Gosto muito da idéia de devorar influências e devolvê-las em algo próprio. Tenho influências de pessoas do mundo todo, e agora também de Brasília, e quero que meu trabalho possa mostrar essas evidências.” Débora começou a pintar autorretratos, mas não com o propósito de registrar o próprio rosto. A artista busca uma forma de pintar rostos até chegar ao ponto em que as imagens passem a não ser um retrato de alguém em específico. “Quero fazer uma imagem que poderia ser de qualquer um e que as pessoas possam se enxergar na tela. Acho interessante estabelecer certas ambiguidades nas imagens em que as pessoas possam se encontrar por ali.” A fascinação por retratos e pessoas nasceu das próprias experiências de vida de Deborah. Nascida em Brasília, ela foi morar ainda pequena nos Estados Unidos. As mudanças da família foram inúmeras e Deborah teve a oportunidade de conhecer lugares, países e gente diferentes. “E foram as pessoas que mais marcaram a minha vida. Nem tanto os lugares, até porque o que nos segura neles são as pessoas e o nosso desejo de conhecer.” Houve um ponto em que o desejo de reencontrar as raízes falou alto e a artista retornou à terra natal há três anos. Ela, inclusive, já consegue identificar elementos na própria obra que têm relações com a cidade. Um deles é o gosto por grandes espaços. “Acredito que também traduzo
essa impressão no tamanho das minhas telas. Tenho necessidade de trabalhar com o grande. Quero poder olhar para um quadro e me perder um pouco dentro de uma cor.” Deborah também procura usar a obra como uma espécie de antídoto à solidão tipicamente brasiliense. Ao se deparar com telas grandes com retratos, ela espera promover encontros. “A gente consegue passar um dia inteiro sem chegar perto de alguém. E vemos as coisas de longe no trânsito. Por isso, quero proporcionar um encontro entre elas por meio dos quadros. Ter um rosto grande na sua frente talvez possa trazer uma nova experiência.” Sobre ingressar na arte digitalizada e pop defendida e propagada pelos artistas companheiros de geração, Deborah não descarta a possibilidade, mas não pretende aderir por hora. “É muito interessante o que está sendo desenvolvido hoje em dia na arte contemporânea. Mas, particularmente, acho que ainda há muito que ser desenvolvido com materiais mais simples e tradicionais. Muitas pessoas falam que a pintura está morta. Mas não acredito nisso. Discordo. Nada se compara em ter a tinta na sua mão, de ver a tela molhada. São várias experiências no processo e isso me satisfaz.” Serviço Deborah Laranjeira http://www.wix.com/deborahlaranjeira/ painting deborahlaranjeira@hotmail.com
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