Mônica 2

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CULTURA

Sexta-feira, 17 de julho de 2009

Jornal de Brasília

MAURICIO 50 ANOS

"Ninguém pensa como eu" Muitos são os adjetivos que se pode atribuir ao empresário e quadrinista Mauricio de Sousa: gênio, visionário, inovador. Uma boa definicial para tal artista, talvez, seja a de trabalhador incansável com extrema sensibilidade às questões sociais, atento à importância da educação para o crescimento de um povo. Não fosse assim, sua imagem e seus personagens jamais estariam atrelados a organizações como o Fundo das Nações Unidas para Criança e Adolescência (Unicef). Os adjetivos citados, porém, são oportunos quando o assunto diz respeito aos mais de 200 personagens que criou, entre eles, um tiranossauro vegetariano e introspectivo chamado Horácio, que na sua simplicidade de encarar a vida, mostra caminhos alternativos e faz refletir. Horácio foi um dos assuntos, entre vários, nesta entrevista que Mauricio concedeu ao Jornal de Brasília.

Mauricio, você poderia enumerar os momentos marcantes de sua carreira ao longo desses 50 anos? Sempre quando se faz alguma coisa pela primeira vez é marcante. Quando criei o meu primeiro personagem e o vi publicado, o Bidu, foi marcante. Quase chorei. Quando vi a minha primeira revista, 10 anos depois, da Mônica, em 1970. Quando vi, 10 anos depois, o meu primeiro desenho animado da Mônica. Põe mais 10 anos aí, e inauguro o Parque da Mônica, em São Paulo. Agora, quando vejo outros países publicando nossas revistas, são mais tijolos marcantes na minha história. Houve algum artista que mais o influenciou no seu estilo? Foram diversas influências. O meu estilo é uma sopa de tudo que treinei, copiei, olhei, gostei, e até do que não gostei. Nisso, fui treinando, vendo o que o pessoal fazia, as técnicas que os desenhistas americanos usavam. Ao passo dessas diversas influências que tive no início da carreira, há a evolução natural do traço, do desenho, dos nossos roteiros, e também da equipe que realiza. Então, numa grande equipe como a nossa, com 450 pessoas trabalhando na parte artística, cada um dá um pouco de si. Às vezes chega um para dizer que “um tracinho mais para cá ficou melhor, mais moderninho e arejado”. Então é nisso que fui assimilando uma evolução de traços e do que acontece por aí. É assim que a história em quadrinhos permanece moderna, dinâmica, e em plena evolução. Ao longo destes 50 anos, você deve ter ouvido milhares de artistas dizerem que você é uma referência. O que sente ao ser o mais bem-sucedido artista e quadrinista da história do nosso País? É um sem número. Quase todos eles falam isso que você disse. Mas espero que isso continue a acontecer, para que eu possa continuar influenciando muita gente de forma positiva, não apenas no quadrinho. Tenho recebido comunicados e cartas por Orkut e Twitter de pessoas que são arquitetas, engenheiras, que trabalham com computação gráfica. Elas falam a mesma coisa: que foram para a área artística, para a criação, por causa de nossas histórias. Eu fico orgulhoso com isso e, ao mesmo tempo,

com uma responsabilidade danada. Entre todos os personagens que criou, o seu apego com o Horácio é famoso. Você é o único que o desenha e faz suas historinhas. Continua sendo assim? Ainda não consegui passar para terceiros essas histórias do Horácio. É por isso que saem tão poucas, porque não tenho muito tempo. Mas estou tentando. Alguns outros roteiristas conseguiram passar uma ou duas histórias. Mas é pouco e precisamos de mais. Mas o que te impede em delegar essa tarefa a outros? É que a história do Horácio vai por uma linha filosófica que é muito pessoal. Ninguém pensa como eu. O pessoal pode pegar a fórmula de todos os personagens, mas não a minha reação. Acabou de chegar uma história de um bom roteirista que colocou o Horácio em uma historinha com reações que não são normais para o personagem nos últimos 40 anos. Como é muito difícil passar algo do meu espírito, que vem lá de dentro, eu vou desenhando enquanto isso. Você tem esse cuidado com algum outro personagem? Não tenho. O que gosto de desenhar às vezes e quando tenho tempo, é o Chico Bento. É notável as mudanças da turminha no estilo e na questão da linguagem. A Mônica não falava muitas gírias na década de 70 e era fã do Eder Jofre. Hoje ela detesta boxe e adota expressões que a garotada fala hoje em dia. Como são planejadas essas mudanças? Não tenho projetos para mudar assim ou assado. São coisas que fazem parte da dinâmica da vida, do que leio e sinto, que vão condicionando o estúdio para falar a língua do dia e da hora. O plano é a gente ficar atento para isso porque eu não sei qual é o momento de mudar. Sobre a linguagem, a preocupação é permanente desde que comecei a fazer história em quadrinhos. A cada cinco anos, costuma-se mudar gírias, terminologias, expressões e semântica.

É preciso acompanhar porque fazemos revistas para públicos de diversas idades. Metade dele é adulto, então a gente se equilibra muito porque temos de agradar a todos eles. É surpreendente saber que o público adulto ocupa um universo tão grande entre os leitores de uma revista infantil. Fizemos duas pesquisas que indicaram isso. Agora fiz uma nova com relação à Turma Jovem. E mais de 50% dos leitores vão de 12 a 17 anos. O interessante é que além das crianças, parte dessa porcentagem é de os adultos que disseram ter voltado a ler as nossas revistinhas. Já a criançada gosta porque se vê no futuro como a Mônica Jovem. A Turma Jovem foi uma boa aposta, então? Foi uma aposta que eu sabia que ia acontecer alguma coisa boa, mas superou todas as minhas expectativas. A Tina é, de certa forma, uma versão adulta da própria Mônica. Foi criada a partir da “dentucinha”. Por que então você não quis utilizá-la para a Turma Jovem em vez de “crescer” a Mônica? De certa maneira, existia uma tendência para isso, mas eu precisei dar uma separada a fim de ter personagens com características gerenciadas. Depois, foi preciso reformular a Tina para não misturá-la com a Turma Jovem. Acabamos montando revistas direcionadas para crianças, adolescentes e adultos. A Tina entra nesse universo

adulto por já ter mais de 18 anos, viaja sozinha, dirige. Isso abre possibilidade de escrever histórias diferentes da Turma Jovem que não pode fazer nada disso por estar em outra faixa de idade. Você tem planos de consolidar uma revista da Turma da Tina? Na verdade, ela acabou de sair. (No momento em que fazíamos a entrevista, por telefone, Mauricio contou a reportagem, que a edição número 1 da revista periódica e permanente da Tina acabara de ser “liberada” para as bancas). Como está o desempenho internacional da Turma da Mônica? Nós publicamos revistinhas em 32 idiomas, tanto a Mônica quanto o Ronaldinho Gaúcho, que na verdade é o mais vendido. Ele é o maior sucesso. É outra surpresa saber que Ronaldinho Gaúcho é mais vendido que a Mônica. Mas é explicável. O Ronaldinho independe dos desenhos animados e da mídia. Quando o criei, ele era o maior jogador do mundo, o mais famoso, então eu não precisava explicar quem era. A Mônica, ao contrário, foi precedida de desenhos animados, explicações e outras coisas. Agora nós estamos preenchendo esse espaço, esse vácuo com mais desenhos animados em co-produção com outros estúdios para a Mônica poder acompanhar o Ronaldinho Gaúcho na internacionalização.


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