DJ Mag Brasil #1 - Julho 2017

Page 1

BRUNO MARTINI

A NOVA GRANDE APOSTA DO MERCADO

SOLOMUN

EVOLUÇÃO DINÂMICA

SOS BAD TRIP

REDUÇÃO DE RISCOS E DANOS

BACKSTAGE

OPINIÕES SOBRE A CENA POR QUEM ENTENDE DO ASSUNTO

BRASIL EM EBULIÇÃO DESTAQUES EM CADA REGIÃO

Top 100 Clubs, Ultra Brasil, Resistance Tour, The Martinez Brothers, DJ Mau Mau, Carnaval, Women’s Music Event, Video Mapping, Ellen Allien e mais.




DJ Mag Brasil Rua Visconde de Pirajá 156 / sala 1009 Rio de Janeiro, RJ Brasil, 22410-000 +55 21 25127019

LATINOAMERICA Líder de projeto: BAN Diretor Internacional: Nicolás Barlaro Editor Internacional: Hernán Pandelo - hernanp@djmagla.com

BRASIL

Quanta felicidade! A grande publicação da música eletrônica mundial chega ao nosso país. Sejam bem-vindos ao mundo da DJ Magazine, ou DJ Mag, desta vez nossa, do Brasil! Criada em 1991 no Reino Unido, a DJ Mag é hoje parte do cotidiano dos principais pólos da dance music ao redor do globo — dos EUA à França, da Espanha ao Japão — e inicia suas missões aqui propondo um desafio estimulante: valorizar, defender, respeitar e fundamentalmente informar a vocês sobre o que acontece nas pistas, nos palcos, estúdios, empresas e tudo o que for ligado à dance music brasileira e, claro, do restante do planeta. Estaremos conectados com todas as nossas “irmãs” — especialmente com a DJ Mag Latinoamerica, intensamente presentes em todo esse processo — para trazer o que há de mais interessante na cena que tanto amamos, em nosso portal, redes sociais, edições impressas como esta que está em suas mãos ou através de nossas turnês - a primeira com o super-DJ Steve Aoki, capa da nossa edição inaugural. Outras novidades surgirão em breve, conforme o crescimento dessa nossa nova filha. Afinal, aqui somos uma grande família, formada por gente que vive e respira dance music, tal como diz o próprio slogan da nossa mãe, a DJ Mag inglesa. Respire fundo, relaxe e confira as páginas desta que é apenas a primeira de muitas. Abraços a todos,

RODRIGO VIEIRA Publisher - DJ Mag Brasil

DIRETORIA Diretor Geral: Ricardo Carvalho - ricardo@djmagbr.com Diretor Financeiro-Administrativo: Arnaldo de Merian - arnaldo@djmagbr.com Diretora de Operações: Luiza Pagliarini - luiza@djmagbr.com Publisher: Rodrigo Vieira - rodrigovieira@djmagbr.com REDAÇÃO Editor: Rodrigo Airaf - rodrigoairaf@djmagbr.com Jornalista Correspondente (USA): Pedro Nonato - pnonato@djmagbr.com Assistente Editorial Pollyanna Assumpção ADMINISTRAÇÃO Gerente Comercial de Mídia e Trade: Claudia Campà - claudia@djmagbr.com Assistente Financeiro-Administrativo: Clarissa Crisóstomo - clarissa@djmagbr.com Assistente de Marketing: João Manoel - joaomanoel@djmagbr.com ARTE Diretor: Alejandro Ramos - aleramos@djmagla.com Arte: María Laura Sánchez - marialaura@djmagla.com Layout: Sergio Aguirre



CONTENTS FEATURES

EM DESTAQUE

A DANCE MUSIC 10 ANOS ATRAS

28

08

Quais tendências dominavam o mercado em 2007?

SURFANDO A ONDA DO SUCESSO

32

13

Brasil em ebulição

22

Not Another

23

Vinne

24

Libere seu lado animal

30 anos de carreira e um bate-papo interessante.

25

Sucesso Binário

26

Companheirismo

NOVOS RUMOS

27

Beowulf

BRUNO MARTINI

A nova cara da música eletrônica no Brasil.

HOMENAGEM DJ MAG: 30 ANOS

46

48

Marcelo CIC nos conta seus planos para 2017.

69

Redução de riscos e danos do uso de drogas.

THE MARTINEZ BROTHERS

54

Simplicidade e parceria entre dois talentos do techno.

SOLOMUN

58

Como evoluiu a carreira do chefão da Diynamic.

TOP 100 CLUBS

63

46 58

ON THE FLOOR

SOS BAD TRIP!

50

Resistência com chumbo grosso

COMIN’ UP

Conversamos com o carismático Steve Aoki.

42

10

Vai ter Ultra Brasil 2017 sim!

71

Rio Music Conference

72

Acelerado

74

Renda

75

A sobrevivência de s u r v i v a l

78

Women’s Music Event

Veja os principais hotspots de dance music do mundo.

32

Feriado eletrônico

BACKSTAGE 80

Viver com música é muito melhor

81

Criativo, provocativo, participativo e combativo

84

Por que todos os ingressos deviam ser unissex?

BEATDROPS

6

djmagla.com

86

Despertando sensações

87

Escolhas dos artistas

71

TECH

92

89

In The Studio

90

Macbook Pro

92

Unleash the Beast

93

Projeções: o futuro da arquitetura

94

O mapping de todos os santos



EM DESTAQUE

VAI TER ULTRA BRASIL 2017 SIM! Maior, melhor e novamente carioca, o festival #1 do mundo realiza nova edição no Brasil em outubro com promessa de superar Por NAYARA STORQUIO quaisquer expectativas. nos.

P

ode respirar fundo. O Ultra Brasil 2017 vai rolar sim. A edição

Desta vez o festival — que já foi duas vezes consagrado como o melhor

passada sofreu um impacto atrás do outro e, em alguns

do planeta — repete a dose no Rio nos dias 12, 13 e 14 de outubro.

momentos, não sabíamos se o evento ia mesmo acontecer.

Todos que conseguirem garantir os cobiçados ingressos poderão assistir

Neste suspense quase hollywoodiano, o Ultra bem venceu e emocionou

de perto, mais uma vez, grandes nomes da música eletrônica nacional

dezenas de milhares de pessoas em dois dias de evento no Sambódromo

e internacional. E pra encher mais um pouco a nossa bola, seremos o

do Rio de Janeiro.

primeiro país da América do Sul a receber uma edição de três dias do Ultra Music Festival. Nessas horas, o melhor do Brasil é sim ser brasileiro.

8

djmagla.com


EM DESTAQUE

Em 2017, o local continua sendo o Sambódromo na Marquês de Sapucaí e o padrão de três palcos permanece. Mas desta vez a promessa é que toda a estrutura do festival será aprimorada. Entre as novidades estão os espaços Ultra Village e Ultra Boulevard, com áreas de alimentação, bares e lojas. Segundo a organização do Ultra Brasil, a intenção é atrair maior público e oferecer um festival melhor que a edição anterior.

O line-up ainda não foi divulgado por completo, mas já deu pra perceber que o Ultra Brasil não tem intenção de apresentar um rol de artistas completamente reciclado de uma edição para a outra e confirmou alguns nomes que não imaginaríamos por aqui tão cedo, como Adam Beyer e

Os ingressos podem ser comprados na plataforma oficial do evento

Sasha x John Digweed. Os astros Armin van Buuren, Alesso e David Guetta

(ultrabrasil.com). Muitos lotes já estão esgotados, então sugerimos

também estão no time, além de DJs quentes do cenário underground

atenção para não perder a chance de prestigiar um dos maiores festivais

como Joseph Capriati, The Martinez Brothers e Jamie Jones.

do mundo em solo tupiniquim. n djmagbr.com

9


EM DESTAQUE

RESISTÊNCIA

COM CHUMBO GROSSO Orientado aos terrenos mais escuros e experimentais do mundo da música eletrônica, o RESISTANCE se posiciona cada vez melhor na indústria com um conceito claro. Com os britânicos Sasha e John Digweed na chefia, está chegando aí uma turnê mundial que tem o Rio de Janeiro entre seus destinos. Fotos ALIVE COVERAGE & EDMKEVIN

U ma coisa totalmente incomum que acaba tomando um rumo impensado,

misteriosa estrutura, marcando um antes e um depois na configuração

como tudo o que vem do underground. Isso é RESISTANCE. Agora, uma

do festival. Com notável sucesso, ele passou por Miami e chegou, nesse

nova fase está se iniciando. Tudo começou em fevereiro de 2015, durante

mesmo ano, à Croácia e ao Japão.

a celebração do Ultra Buenos Aires, onde o evento foi realizado pela primeira vez. Após esse lançamento, o RESISTANCE estava pronto para

No ano seguinte, o RESISTANCE manteve essa busca por expansão, se

assumir com todas as suas forças um espaço dentro do Bayfront Park de

apresentando em novos destinos, com a Cidade do Cabo e Johanesburgo

Miami, na edição principal do Ultra Music Festival. Artistas como Maceo

marcando o rumo para novos mercados. Naquele momento, o RESISTANCE

Plex, Apollonia, Guy Gerber e Get Real colocaram todo seu talento na

já passava a ser uma marca própria e voltava para a América do Norte


EM DESTAQUE

evento onde se afastou da tradicional experiência de festival e só se ergueu como palco, com um line up supervisionado pelo próprio Carl Cox. Essa mesma turnê assistiu à soma de esforços no Paraguai e no Chile, encerrando com enorme acolhimento durante os dois dias do Ultra Brasil no Rio de Janeiro.

Em 2017, a revolução continua. Após a parceria com o grande Carl Cox em Miami e de ter sido responsável pelos dois palcos dentro do gigante Ultra Music Festival, eles deram um novo grande passo: uma residência de oito semanas em Ibiza — com os pesos pesados Sasha e John Digweed encabeçando seis delas — a ser realizada de 25 de julho até 12 de setembro e que terá toda a produção que o RESISTANCE costuma oferecer, às terças-feiras na Privilège. em parceria com a Arcadia Spectacular, a aranha que chegava da Europa com toda sua produção, acrobacias e pirotecnia para enfeitar line ups

Além disso, junto com o anúncio da residência, uma turnê mundial que

suntuosos. A partir desse momento, o eco em torno do RESISTANCE foi

levará o RESISTANCE a novas terras foi confirmada. É, com a mesma

cada vez maior. Indo para onde nenhuma outra marca de eventos tinha

fórmula — o esperado back-to-back dos britânicos e a produção de elite

ido antes, nesse ano realizou duas grandes turnês. Em setembro, passou

— com que conquistou o mundo inteiro, estará presente em cidades

pela Ásia pela primeira vez, estreando em lugares como Singapura, Bali

como Seul, Singapura, Xangai, Bali e Tóquio, e pousará na América do

e Japão, e voltou para a América do Sul para estabelecer seu poderio

Sul, com presença em Lima, Buenos Aires e na nova edição do Ultra Brasil

em terrenos que aguardavam ansiosamente. Passou pelo Peru com um

no Rio de Janeiro. n djmagbr.com

11



COMIN’ UP

BRASIL

EM EBULIÇÃO

C

om tamanha dimensão e diversidade cultural, o Brasil é um dos solos mais férteis para a música eletrônica na atualidade - fato comprovado com o país inserido no radar de grandes festivais, com a chama da cultura

underground acesa novamente e com a quantidade nunca antes vista de DJs nacionais fazendo sucesso. Nossos colaboradores escolheram - com muita dificuldade, diga-se de passagem, pois nem todos que merecem citações caberiam em uma só coluna alguns destaques por região de um cenário cada vez mais prolífico. Vamos entrar nesse fervidíssimo caldeirão de cultura noturna? n

djmagbr.com

13


COMIN’ UP

Norte

Por AMALHA DOMINGUES

N

o Norte, quando falamos em número de DJs, produtores, casas noturnas, festivais e contratações de grandes artistas da música eletrônica, os estados do Amazonas, Pará, Amapá e Tocantins saem um pouco à frente de Roraima, Rondônia e Acre. Mas em um país com dimensões continentais como o nosso, conseguir uma posição relevante no mercado nacional é uma batalha dura. Por isso, é um enorme prazer poder falar de alguns dos nossos guerreiros.

Som MAY SEVEN

A DJ manauara já foi indicada para rankings internacionais focados em mulheres e, mesmo com pouco tempo de produção, acaba de assinar com a gigante Sony Music. May tem sua própria agência de DJs e entretenimento. Ela está decolando.

BESS MAZE

Amazonense com 3 anos de carreira, conseguiu lançar suas tracks em dois selos ingleses, Piso e Prison, no alemão Big Mamas e ainda nos brasileiros War Beats (do Plastic Robots), UP Club e Só Track Boa. Bess também impressiona em seus DJ sets.

A NOITE DO COELHO DOIDO - Por RYAN MONOTOSHI

14

djmagbr.com

JØRD

Com apenas 19 anos, o paraense chamou a atenção de dois big names: Felippe Senne e Vintage Culture – que vem tocando, inclusive, várias tracks do JØRD em seus sets. Natural de Belém, JØRD é sem dúvidas o maior nome da nossa região, na atualidade.

ARN

Arnaldo Miranda é unanimidade quando o assunto é techno no Pará. O artista acaba de voltar de uma turnê pela Croácia, Sérvia e Eslovênia, a convite da gravadora americana Miami Underground. Está montando sua própria gravadora e promete aquecer a cena techno no Norte do país este ano.

VEE GROOVE

O produtor amapaense muito contribui para a maior profissionalização do mercado regional e tem lançamentos pela Tiger Records, Erase e Prison. Além disso, oferece cursos de produção respeitados e foi um dos primeiros artistas do Norte a emplacar uma track no Top 10 do Beatport.

Pista PUMP ENTERTAINMENT

A label amazonense é hoje a maior marca de entretenimento noturno eletrônico da região, com atuação em 7 estados do Norte e Nordeste, cerca de 80 edições, mais de 200 atrações nacionais e internacionais contratadas, e parcerias em eventos com marcas consagradas como UP Club, Só Track Boa e Kaballah.

E-NATION.ORG

Com 13 anos de atuação, a marca paraense é hoje a responsável pelo maior número de eventos voltados ao mercado de música eletrônica no Pará. Possui parceria com outras grandes label parties da região, como PUMP e DIWALI. Atualmente tem 3 grandes projetos em andamento: “A Noite do Coelho Doido”, “Solares” e “Decibel”.

ABARÉ SUP AND FOOD

A balada fica literalmente no meio do Rio Negro. O Abaré é um flutuante que conta com serviço de restaurante contemporâneo regional e recentemente inaugurou um hostel n


COMIN’ UP

Nordeste

Por ANNY BRITO

C

om seus nove estados, o Nordeste possui uma boa quantidade de profissionais cada vez mais envolvidos na cena eletrônica. Apesar da cultura regional ser bem marcante em relação a estilos musicais, alguns desses profissionais vêm trabalhando há mais de 20 anos, buscando acompanhar o desenvolvimento nacional e investir cada vez mais em estrutura e grandes atrações.

Som NAZCA (BA) É um dos

maiores representantes da cena psytrance no Nordeste. Já tocou em 13 estados no Brasil e passou por Argentina, Chile, Bolívia, Costa Rica, Guatemala, Estados Unidos, Itália, Suíça e Bélgica. É responsável pela Soononmoon, que há 20 anos movimenta a cena na Bahia.

ELEVA (AL) Residente do Cafe De La Musique de Alagoas, essa artista representa seu estado em grandes eventos pela região, dividindo cabine com D-Nox, Vintage Culture, Luthier, Gabe, Fabo entre outros, além de agitar a cena local com suas festas Sunset Maceió, Low Beat e Level.

KEVIN LUKE (PB) O

paraibano Kevin Luke começou a tocar em 2008. Em sua trajetória, acumula gigs internacionais como Sziget Festival (Hungria) e Sisyphos Club (Berlin). No Brasil, apresentações no Warung Tour, Noon (RJ), Unique (PE), Garage.E (GO) e Field Club (SC), além de sua residência no Ânima Pipa (RN).

JOVICK (RN) Este jovem produtor de Natal vem ganhando espaço na cena nacional com suas produções. Lançou em diversos selos, como Brazuka Music, BeachSide Records (Miami) e Prison Entertainment (Londres). Mandaca é seu label, onde predomina o techno. Caiu no gosto da galera, é claro.

TERRA EM TRANSE (BA) - Por DIVULGAÇÃO

Pista TERRA EM TRANSE FESTIVAL (BA) Acontece em

edição bienal desde 2012. Na última edição, a Praia de Costa Azul, em Jandaíra, recebeu atrações nacionais e internacionais, dois palcos, praça de alimentação, performances, galerias de arte, espaço kids, oficinas e workshops durante 5 dias e 6 noites.

SOLLARES (BA) Label baiano

que revolucionou a cena house. Leva grandes nomes do Brasil e do mundo à capital, como Kolombo, Amine Edge & Dance, Teclas e Sharam Jey. Acaba de anunciar a apresentação do Boris Brejcha pela primeira vez em Salvador.

LA PLAYA (SE) Beach Club

que vem abrindo as portas para os eventos eletrônicos. Escolhido por diversos produtores locais e de outros estados para realizar edições de suas festas. Recebe artistas como Vintage Culture, Alok, Flow & Zeo, Fractall, Simple Jack e Salla desde o início deste ano.

BOATE CALANGOS (RN)

Desde 1995 na Praia da Pipa, a Calangos mantém sua raiz trance, juntando-se às vertentes do progressive, psy e deep house. Sunnery James & Ryan Marciano, Alok, Ftampa, Neelix, Liquid Soul, Captain Hook, Vibe Tribe, Sesto Sento, Julio Torres, Mario Fischetti, Rica Amaral e Anderson Noise são alguns dos artistas que já passaram por lá.

ESSENTIAL (PE) Festa trance

que acontece há 7 anos em Pernambuco e já levou nomes como Neelix, Bliss, Vini Vici, Space Tribe, Mad Maxx e Mad Tribe. Realizada pela Reality Managament, da Ju Cavalcanti, que possui também o King Festival e a Beat Plus.

CAFE DE LA MUSIQUE A marca

paulista vem conquistando cada vez mais espaço no Nordeste. Através de suas tours itinerantes, já passou por Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe, além dos beach clubs no Ceará, Bahia e Alagoas. n

djmagbr.com

15


COMIN’ UP

Sudeste

Por LUIZA PAGLIARINI

A

pesar da onda de festas itinerantes e de rua, no Sudeste tem club, tem festival, tem lançamento, tem old school, tem pra todo mundo, em qualquer horário e dia da semana. Feliz é aquele que sabe e pode aproveitar de tudo, compartilhar novas experiências e ainda receber um turbilhão de referências a cada saída de casa. Vem comigo!

Som ANNA

Vivendo o melhor momento de sua carreira, está em contato com a música desde os 14 anos, possui uma técnica de mixagem impecável e suas tracks são tocadas por grandes nomes do techno e tech house mundial. Está na maioria dos festivais internacionais e os elogios não se restringem apenas às mídias do segmento, mas por suporte de monstros como Carl Cox e Richie Hawtin. Assistir a Anna virou uma questão de respeito!

L_CIO

BH DANCE FESTIVAL - Por BS FOTOGRAFIAS

Laercio Schwantes, o homem da flauta transversal, estuda música desde pequeno e agora mostra o seu trabalho no meio de DJs sem nunca ter encostado em um disco. Faz parte dos line ups dos mais conceituados clubs e festivais de São Paulo e é requisitado para colaborações em estúdio por artistas internacionais. Não perca essa experiência.

SOLOS

DRE GUAZELLI

COPPOLA

Idealizador do festival INNER. multi.art, o DJ e produtor com mais de 10 anos de carreira está envolvido nas festas mais requisitadas de São Paulo e transforma suas tocadas em sessões de terapia coletiva. Traz alegria e sensibilidade para o seu set, e o seu público responde criando uma atmosfera de celebração à vida. Já tocou 2 vezes no Burning Man e está vivendo o melhor momento de sua carreira. É muita vibe!

16

djmagbr.com

Essa dupla está dando o que falar e apresenta sets que vão do house ao techno. Matheus Castro tem mais de 10 anos de experiência como DJ e se juntou ao Kallel Barbosa, ex-produtor de eventos, que vem se destacando por sua criatividade. O duo garante muita diversão para todas as pistas. Pode chegar que é babado e confusão.

Um menino de 16 anos vem se destacando no cenário e acabou de finalizar um curso de produção musical patrocinado pela Native Instruments. Já foi elogiado por grandes artistas, como Thomas Schumacher e Victor Ruiz, e sonha em estudar na Europa. Recentemente foi convidado a entrar no casting da Plusnetwork. Vamos acompanhar e torcer muito para mais um brasileiro explodir por aí. Sucesso alert!

Pista DEKMANTEL A Gop Tun, que já vinha fazendo história em São Paulo, flertou com o pessoal do Dekmantel holandês e dessa relação saiu um festival de respeito em São Paulo. Um line up lindo, muita coisa “fora da caixa”, uma aula de música eletrônica. Vale mencionar a cenografia, assinada por SuperLimão Studio, Atelier Marko Brajovic, Estúdio Guto Requena e Felipe Morozini. Vida longa ao festival! RAWW X ROOM

O D-Edge se reinventou e levou a festa itinerante RAWW X ROOM para as principais cidades e festivais do país. Unindo espaço, design e música, apresenta arquitetura contemporânea e utiliza material reciclado em sua estrutura. Vale ressaltar a curadoria da festa, que traz sempre DJs e produtores com propostas ousadas e conceituais. Sabendo que tem D-EDGE no meio, tem coisa boa.


COMIN’ UP LEEDS

Criada pela agência Laud em sociedade com a INNER Enterprises, a Leeds é considerada uma das melhores festas underground de São Paulo. Sua última edição tinha uma atmosfera intrigante e foi muito bem produzida. O local e o projeto de iluminação da 28.room ajudaram a tornar a edição um marco na história das agências. A paixão que essa galera tem para fazer festas e trazer novas experiências para o público é o destaque da história.

JAMBOX As minas que você

O RIO VOLTOU PRA RUA - e voltou dançando

C

om cada vez mais frequência, o cenário carioca é prestigiado por um público que amanhece em festas colaborativas, ocupando espaços públicos e descobrindo novos locais pela cidade. É um público que se recusa a ir embora antes da última batida e, se por um tempo insinuou-se que o Rio era uma difícil aposta para o cenário eletrônico, hoje existe uma cena própria, cada vez mais viva e alimentada por coletivos que levam a música para fora das boates.

respeita, Luísa Viscardi e Rizza Bonfim, idealizaram a JAMBOX, que surgiu em 2014 como o primeiro evento brasileiro dedicado ao turntablism. Suas festas já trouxeram ninguém menos que os americanos DJ Jazzy Jeff e Grandmaster Flash. Em 2016, a Jambox virou uma plataforma de música que oferece o serviço de curadoria, conteúdo e agenciamento de DJs. Vai encarar?

Em 9 meses, a O/NDA, principal frente da produtora D/accord, atraiu 1000 pessoas já em sua primeira investida, e em determinada edição o público chegou a 5000 pessoas. Os frequentadores da festa se organizam de uma forma quase familiar: falam sobre música e discutem os erros e acertos da noite. Tudo é feito de forma democrática. A festa acontece mensalmente em diferentes locais, como galpões, estacionamentos e principalmente praças públicas que até então passavam despercebidas para muitos cariocas. Se você for frequentador assíduo, poderá reconhecer os rostos que dançam até bem tarde.

JEROME CLUB Música de qualidade em um ambiente intimista para amigos, é o que Cacá Ribeiro e Rodrigo Mussolino oferecem. O personagem que dá nome ao club é uma pessoa viajada, inteligente e charmosa. Você pode dançar do house ao dubstep e ainda encontrar figuras da noite como Felipe Venâncio, Eduardo Corelli, Zé Pedro e Marina Dias. O club tem o projeto cênico assinado por Felipe Morozini. Aprovei a ideia de recuperar a cultura dos pequenos clubs e morri de saudade.

Levar a música eletrônica para as ruas carrega consigo, quase inevitavelmente, um discurso político que os produtores fazem questão de reforçar em seus eventos. A intenção da O/NDA, ao sair da boate e levar os fãs do techno e suas vertentes para o centro, é também criar ambientes livres de qualquer tipo de opressão, LGBTfobia e racismo. Em abril, por exemplo, o line-up foi escolhido a dedo para exaltar as minas que fazem som, invertendo totalmente a disparidade de noites formadas massivamente por DJs homens. Para Esdras Rocha, idealizador do grupo, há uma separação clara entre as duas coisas: “Acho que a boate tem que ter uma programação fixa e, independente das festas, DJs residentes e seus DJs convidados, se tornar um ponto de referência de ‘club’ da cidade. E festas são outros conceitos que podem experimentar novas locações e experiências, mais aberto, menos inferninho, mais social.”

BH DANCE FESTIVAL

Os mineiros estão fazendo um barulhão. Em 2016, em sua sexta edição, o BH DANCE FESTIVAL chegou à altura dos grandes festivais e entregou um lineup de prestígio com Alesso, Afrojack e Kolombo. O público reconhece e comparece em peso: foram 15,000 pessoas que, além do palco principal, curtem desde 2014 o palco PUSH, da festa itinerante que atrai o público brasileiro com muito trap, hip hop e deep house. Vale ficar ligado nas festas da It’s Shooow Time que acontecem pelo menos uma vez por mês em Minas Gerais. Só coisa boa, sô. n

Também na contramão dos ambientes tradicionais do eletrônico, Edu Castelo, produtor e DJ carioca, criou um spin-off de sua festa (a V de Viadão) e ressignificou o espaço da música para LGBTs na cidade. A Haus of Viadão é uma noite totalmente dedicada ao house e ao techno, mas se destaca

Por VITOR MENDES

pela diversidade e pela fuga dos holofotes de uma grande boate gay. Com compromisso na curadoria, resgata clássicos da disco e house music - gêneros que nasceram justamente nos grandes guetos. Outro projeto carioca que nasceu como festa e ganhou outras camadas é a Magma. O grupo tem um encontro semanal transmitido ao vivo, a Rádio Magma, que promove live shows experimentais e possibilita entender como funciona o momento em que vão para as ruas. “A rádio é como nosso atelier, e as festas são onde expomos nossas descobertas de forma mais madura, em meio a todas as variáveis culturais e sociais que existem em um evento.”, dizem os meninos do grupo. Assim como a Magma, também transitando entre o online e o offline está o Kode Project, que surgiu fomentando o techno na internet, mantendo um portal e centralizando informações de agenda dos fervos. Segundo Ananda Nobre, que começou o projeto, transformar a Kode em festa em foi um processo natural: “fomos impulsionados pela vontade de difundir na nossa cidade a música que amamos, nos unindo ao movimento de festas que já existia”. E não são poucas! Pelas ruas e praias, por exemplo, ainda é possível acompanhar a galera da SOMM, que assim como a O/NDA, depende do consumo dos frequentadores no bar e não esmorece na missão de tocar música de qualidade gratuitamente para um público diverso. As festas Finalmente, Just Follow e Rara também fazem barulho por aí. E a MOO é uma noite encabeçada por uma lenda do techno carioca, talvez a maior prova de que o gênero nunca morreu por aqui. Lá, Maurício Lopes comemorou seu aniversário nas pick-ups em uma Praça XV lotada com aplausos de todas as gerações e em pleno amanhecer. Mesmo não sendo uma metrópole diversa e musicalmente eletrônica como São Paulo, a música eletrônica nunca saiu de cena na cidade maravilhosa. O que mudaram foram os espaços. Com o techno ganhando cada vez mais força em grandes festivais, o que para alguns é um grato reencontro, para outros é um descobrimento de experimentações musicais e de um organismo vivo da cidade noite e manhãs adentro. n

Por O/NDA

djmagbr.com

17


COMIN’ UP

Centro-oeste

Por SALOMÃO AUGUSTO

C

om o crescimento dos movimentos independentes, o cenário eletrônico no pólo central melhorou muito e está tomando ares de superioridade. Um lugar que já foi palco de grandes manifestações dentro da música eletrônica não podia ficar jogado às traças, e o time de produtores culturais da região está fazendo um ótimo trabalho.

Som ALEX JUSTINO

O goiano emplacou sons em diversos selos de renome internacional, como o alemão Steyoyoke Black. Também atua como produtor e head na recente Lost and Found, além de fazer parte do casting da D-Agency e coordenar o próprio selo Nin92wo com Rafael Danke. Ufa!

5UINTO - Por DANIEL GALVÃO

GABB BORGHETTI

A onipresença é o que define a carreira de Gabb. Head e curadora da festa Garage — que esse ano completa 4 anos — no El Club, Gabb é referência do tech house.

LUCAS ARR

Assim como o Justino, Lucas Arr faz parte do cast da D AGENCY. Detentor de vários hits no Beatport, comanda a Room Noise — festa já consolidada em Goiânia e Anápolis — e está à frente da Thousand Recordings.

NEGUIM BEATS

José Higo, ou Neguim Beats, tem seu nome cravado nos arautos da bass music mundial, tendo lançado em inúmeros selos gringos, além de já ter emplacado sons em diversos podcasts nacionais e internacionais, como o da Soulection.

MARIANA PERRELLI

Com residência em todas as dependências do 5uinto (bar e club), em Brasília, Mari é parte do duo Come and Hell. Já se apresentou por todo o país com aprovação unânime do público.

18

djmagbr.com

Pista 5UINTO

A resistência underground traduz-se neste lugar que se tornou o pulso da música eletrônica em Brasília. Hoje o club é um dos mais cobiçados pelos DJs brasileiros e já recebeu em sua redoma nomes como Nina Kraviz.

FEDERAL MUSIC

O grande palco do mainstream no centro-oeste concentra suas atividades em Brasília. O Federal já é um festival clássico e com prestígio nacional. É ponto de desembarque de grandes nomes da EDM mundial, como Hardwell, Don Diablo, Afrojack, Nicky Romero e o conterrâneo Alok.

HIPNOTICA

A rave de quase 5 anos abriga o psytrance para os carentes do movimento em Goiânia e arredores. Com edições cada vez melhores e maiores, a festa tem tomado proporções astronômicas e ganhou o devido reconhecimento nacional.

LOST AND FOUND

Criada por Alex Justino como um produto de conversão do seu selo Nin92wo, a queridinha L&F mantém o conceito provindo do techno europeu: a ocupação de lugares abandonados que, ao mesmo tempo, dispõem ao público conforto e segurança.

ROOM NOISE

Segurando a bronca em Anápolis, no estado de Goiás, Lucas Arr desbrava a Room Noise, que a cada edição apresenta um line up com destaques e revelações do deep.

BOLHA

Um line up que combina house, techno, trap, funk e outros estilos com uma harmonia que antes pareceria impossível. Coordenada por um conselho curador robusto como os DJs Igor Severo e Diego Brooks, a Bolha está se consolidando como a experiência mais interessante de Brasília. n


COMIN’ UP

Sul A

região Sul pode não representar grandes números em termos de extensão territorial, mas lá a música eletrônica já se tornou há algum tempo algo cultural e presente no cotidiano das cidades. Techno, house, minimal e EDM estão em restaurantes, academias, escritórios de advocacia e, claro, nos melhores horários dos programas das rádios. Alguns clubs e profissionais possuem grande responsabilidade sob tal conquista.

Pista WARUNG Patrimônio cultural de Santa Catarina, o Warung é um lugar que dispensa grandes apresentações. Localizado em um dos destinos mais paradisíacos do Brasil, o club mescla curadoria de ponta com estrutura completa em meio à mata atlântica. TERRAZA A antes tímida cena da capital catarinense nunca mais foi a mesma após o surgimento do Terraza. O club, que fica em um super centro de eventos de Floripa, ganhou fama por trazer artistas fora do óbvio dentro do contexto nacional. Um forte time de residentes dá corpo às noites densas e musicais do club.

CHAKRA

Localizado em São Bento do Sul, há 5 anos o Chakra é responsável por transformar de forma intensa a cena no interior de Santa Catarina. Ao promover uma mistura entre artistas regionais, grandes destaques brasileiros e alguns internacionais pontuais, o club está construindo um cenário praticamente do zero.

EL FORTIN De Astrix a Victor Ruiz, de Vintage Culture a Green Velvet, o El Fortin concentra o público mais diversificado do estado. Todos os grandes nomes já passaram pelo palco do club de Porto Belo que não para de crescer, tanto em estrutura como em base de fãs. GREEN VALLEY De importância histórica para o mercado catarinense, o Green Valley foi um dos principais responsáveis por colocar o Brasil no topo da dance music mundial. Há uma mistura elegante de natureza e tecnologia no interior do club, que já foi multipremiado no país e no exterior.

LEVELS Festa responsável por reposicionar Porto Alegre entre os principais destinos dos artistas de house e techno que passam pelo Brasil, a Levels é marcada por sua estrutura de som e iluminação de primeira. Nastia, Rodriguez Jr e Barem foram alguns dos nomes que eternizaram o lindo por do sol que a capital gaúcha oferece. COLOURS

A Colours é a principal festa itinerante do Rio Grande do Sul e uma das marcas consagradas do cenário nacional. Ao longo de seus mais de 8 anos de história, Fran Bortolossi e seu time a levaram para diferentes cidades do estado gaúcho.

BEEHIVE A Beehive é referência para

a cena eletrônica e possui uma das pistas mais peculiares do país. Além do aspecto regional, há também um papel de suma importância sendo desenvolvido pela música eletrônica no Brasil, já que há alguns anos o club mantém uma forte agenda internacional de atrações.

CLUB VIBE As icônicas luzes do teto do Club Vibe já são conhecidas por vários DJs do mundo. Apesar de pequeno, o club desempenha papel indispensável para a cena de Curitiba, uma das maiores do país. Por lá, um forte time de residentes é a espinha dorsal do calendário que recebe headliners importantes semanalmente. ALTER DISCO Válvula de escape

para uma cena acostumada com artistas de forte semelhança estética, a Alter Disco cresceu sem perder sua essência. Liderada por um grupo de apaixonados por sons do Brasil e do mundo, hoje a festa é referência em inovação musical.

THE LAB

Ao lado de OdB e Sharp, a The Lab tem transformado de forma surpreendente a cena no oeste do Paraná. Artistas como Priku, Roman Flügel e Cesare vs Disorder já passaram pelo palco desta festa que possui um diferencial interessante: long set dos headliners em todos os eventos.

Por ALAN MEDEIROS

Som BLANCAH Patricia Laus conquistou o mundo como um pássaro alça para seus voos. A catarinense constantemente faz tours nacionais e internacionais, e representa o selo alemão Steyoyoke em terras brasileiras. TARTER Emílio Tarter teve que esperar alguns anos para que seu sonho pudesse virar realidade. Quando tudo parecia perdido, suportes sucessivos de nomes como Richie Hawtin, Sam Paganini e Joseph Capriati transformaram sua carreira. STEKKE Formado por Ale Reis e Renee, o duo que reside em Florianópolis é o principal expoente da cena minimal do país. Sob o comando deles estão três selos: sudd records, Sketches e MINIM, que é também uma label party. ALBUQUERQUE

Grande agitador cultural da capital paranaense, Albuquerque é uma das mentes por trás do projeto Radiola, que inclui festas, gravadora e uma sede fixa. Além disso, o DJ e produtor de Curitiba também é residente do Warung.

HNQO

O curitibano Henrique Oliveira despontou para o mundo em 2013 após sucessos pela Playperview e lançamentos na Hot Creations. Hoje, mais maduro musicalmente, é referência no mercado nacional e está prestes a lançar seu álbum debut.

APOENA À frente da Allnite Music, Apoena é um dos nomes brasileiros mais ativos na indústria do vinil, além de referência na discotecagem de house music. O caráter híbrido de seus sets também merece destaque. n

CLUB VIBE - Por GUSTAVO REMOR

djmagbr.com

19




COMIN’ UP

O TRIUNFO DO SELO BRASILEIRO NOT ANOTHER Por ALAN MEDEIROS

É

interessante quando um selo surge e logo de cara chama a atenção. Foi isso que aconteceu com a turma da Not Another, label brasileiro dedicado a explorar interpretações no campo musical e visual. Uma rápida passagem pelo curto — porém encorpado — catálogo da gravadora, faz qualquer entusiasta do techno ficar torcendo pelo promissor caminho de Bernardo, George, Rodrigo e Fernando, mentes por trás da Not Another. Conversamos com eles para entender melhor o direcionamento deste trabalho: Olá, meninos! Podemos começar falando a respeito do surgimento e do conceito do selo? Bernardo: O selo foi a maturação de vários projetos e de uma convivência longa, impulsionada pela nossa paixão por expressões artísticas — principalmente a música. Nós decidimos no final de 2014 abrir um selo como uma plataforma pra nossa música e, posteriormente, incorporar outros projetos. Demorou cerca de 1 ano pra fecharmos a concepção musical e visual do projeto, além da operacionalização. Nós sempre tivemos em mente que, para nos satisfazer, o label devia ter uma identidade em todos os aspectos. Acho que nosso conceito está nesse carinho com o projeto. Nós não queríamos mais um selo que tratasse os lançamentos como uma esteira de produção. Na visão de vocês, qual a importância dos selos nacionais darem valor aos artistas brasileiros e proporcionarem um intercâmbio musical com bons nomes de fora? Bernardo: Acho que a importância disso para o cenário musical como um todo é tentar formar uma certa identidade (ou várias identidades) no cenário brasileiro. É comum ouvir falar na forma de produzir alemã, inglesa, etc e como isso se traduz nos selos. Essa “troca de figurinhas” é a melhor forma de acelerarmos na lapidação dos talentos nacionais. De que maneiras a diretoria do selo busca inovações e diferenciais? George: Não somos presos a certos padrões da cena nacional, buscamos uma identidade própria. A dedicação em todos os detalhes que acompanham os lançamentos, o trabalho bastante próximo aos artistas e o intercâmbio entre novos produtores e nomes mais conhecidos ajudam a estabelecer essa identidade. Como é o relacionamento de vocês com os artistas que lançam? Rodrigo: Não temos uma regra ou receita, mas nosso interesse é sempre trabalhar com artistas que tenham longevidade no selo. George: Buscamos artistas que tenham filosofia semelhante à nossa. Buscamos formar uma família onde todos colaborem entre si. Quando o assunto são os suportes… o que vocês vêm colhendo ao longo desse trabalho? George: No Brasil, temos contado com suporte de nomes como L_cio, Blancah, Alex Justino, Sonic Future, Adnan Sharif, Anderson Noise e Eli Iwasa. Internacionalmente tivemos suporte de alguns figurões como Sasha, Âme, Maceo Plex, Gabriel Ananda e Lee van Dowski. n

22

djmagbr.com


COMIN’ UP

VINNE – 2017 é dele! Por BRUNA CALEGARI

“D

emora bastante cair a ficha de que existem tantas pessoas que gostam do que faço. A cada apresentação, conheço cada um pessoalmente, e procuro dar o meu melhor. Em troca, o público me dá todo esse carinho e apoio, e isso me deixa muito feliz. Sinto gratidão e um carinho enorme por cada um dos meus fãs.” Desde que o brasiliense VINNE apareceu no cenário nacional, a palavra bass nunca mais foi a mesma. Os sucessos “Bring It Back”, “Rock U“ e o hit gigante que se tornou “Steady As She Goes” foram responsáveis por uma ascensão meteórica, que levou o prodígio de menos de 20 anos de idade a apresentações incríveis por todo o país. “Esse ano eu percebi que amadureci, tanto minha pessoa quanto minha música e é muito legal sempre expressar uma emoção diferente para quem ouve. E claro, sempre mantendo o “peso” do bass que eu tanto amo!” conta VINNE à DJ Mag Brasil. Seu último lançamento “Tell Me” é prova de que o jovem talento não está disposto a parar tão cedo. Sobre seu processo criativo, ele dá a letra de como esta receita que mistura talento com sorte dá resultado: “No ano passado eu comecei a ideia de uma música totalmente diferente, com um vocal feminino e mais melodia, mas acabei deixando o projeto inacabado por muito tempo. Perto do fim do ano, mexendo nos projetos antigos, acabei caindo nesse. Acidentalmente troquei o vocal e foi incrível como ele se encaixou com a parte instrumental que eu já havia feito. Só precisei terminar!” O contrato com a Sony Music para o lançamento da track denota rara maturidade do jovem produtor, que entende que se reinventar é a maior habilidade de quem ama e faz música em 2017: “A cada track, eu considero uma mesma mudança, um amadurecimento contínuo. É como se eu pegasse tudo que aprendi nas tracks anteriores e colocasse na atual”, diz ele. “Para chegar em ‘Tell Me’ eu tive como inspiração as atuais tracks com uma pegada ‘pós G-House’, se podemos chamar assim [risos]!” Perguntado sobre a sua música favorita, o criador não hesita: “a cada track nova eu sinto que me supero mais e mais, mas tenho um carinho enorme pela ‘Rock U’, que foi a track que me abriu as portas para esse mundo louco [risos]”. n

SEPARAMOS 5 MOTIVOS QUE FAZEM DE VINNE UMA NOVA SENSAÇÃO PARA 2017: // Carreira sólida, apesar da pouca idade: uma de suas tracks chegou a ficar 4 meses no top 10 de Indie Dance e Nu Disco do Beatport. // Apoio internacional: Kaskade, EDX, Croatia Squad e Kolombo são alguns dos grandes nomes que tocam as faixas de Vinne. // Apresentações em grandes festivais e clubs: Universo Paralello, Ultra Brasil, Villa Mix, Green Valley… VINNE fez também uma participação na tenda do Alok na edição nacional do Tomorrowland. // Presença online: suas músicas no Spotify já colecionam mais de 2 milhões de plays. Seu SoundCloud tem mais de 37 mil seguidores. VINNE também é responsável pela hashtag viral “MeuBASSdoCéu”. // Produções únicas: uma mistura bem sacada do Brazilian Bass com timbres de electro que conquistou o público brasileiro.

djmagbr.com

23


COMIN’ UP

LIBERE SEU LADO ANIMAL Por SAMUEL CARVALHO

A

ele. Passamos quase um ano trabalhando em estúdio e esse é o primeiro produto que geramos. O clipe nos permite entregar uma linguagem visual para o som. Existe uma história a ser contada, está tudo relacionado e conectado.” Junior Lima

“A ideia era mostrar a complexidade do processo de criação das músicas para que as pessoas conhecessem a história de cada uma delas, também para que entendessem o porquê de cada nota ou cada ‘barulhinho’”. Junior Lima

Assim que o Manimal conecta imagem na música, o duo acredita que a moda vem na sequência como fator fundamental de conexão. No último São Paulo Fashion Week, fizeram a trilha sonora do desfile do estilista João Pimenta, e assim puderam transpor uma versão mais longa de “Think About It” para os 10 minutos de desfile.

junção das experiências de Junior Lima e Julio Torres, e a necessidade que sentiam de registrar seus momentos de criação, os quais consideram muito ricos pra ficarem escondidos, deram origem a um trabalho colaborativo em um canal no YouTube chamado Collab.

O que a princípio seria uma espécie de making-of acabou se transformando num espaço cheio de experimentações, onde o duo produziu diversas sonoridades voltadas para a pista de dança. Assim surgiu o projeto Manimal. “Think About It” é o primeiro trabalho da dupla e teve seu clipe lançado no fim de 2016 no escritório do Google em São Paulo, num evento repleto de máscaras de animais, que conceituam o projeto: a junção das palavras man (homem) + animal, refere-se ao poder que a música tem de nos levar a um contato pessoal mais íntimo, que joga o nosso lado selvagem para fora. “O clipe foi a maneira mais direta de podermos contar um pouco do conceito do projeto, o sentido das máscaras e todo o conceito lúdico envolvido. Acho que é totalmente necessário associar a música à imagem. Queremos que nossas tracks tenham essa conexão e tragam uma sensação para as pessoas”. Julio Torres A letra de “Think About It” fala sobre como é muito melhor ser quem você é ao invés de tentar se adaptar a uma vida que não é real. Já o clipe apresenta a imersão em outro mundo através da música, onde um personagem enxerga a essência de cada outro. Ariel Goldenberg, Marco Luque, José Aldo, Os Gêmeos e Carol Trentini tiveram participação especial no vídeo, que foi idealizado por Junior Lima, dirigido por Douglas Aguillar e finalizado pela Gogacine. “O clipe foi o pontapé inicial. Foi quando saímos do estúdio e fomos para a rua comunicar o projeto e gerar visibilidade para

24

djmagla.com djmagbr.com

“A parceria surgiu por convite do próprio João. Ele teve acesso ao projeto, ouviu nosso som, assistiu ao clipe e percebeu que havia afinidade com a coleção que ele ia apresentar, que era baseada em algumas referências góticas. No videoclipe também temos momentos em que a sonoridade remete ao gótico. Usamos inclusive as roupas do João no clipe. Foi uma honra ver um desfile do João Pimenta acontecendo ao som de Manimal.” Junior Lima Junior e Julio possuem uma consciência social bastante presente. São engajados nesse sentido pois acreditam que trazer esse tipo de conscientização compete a quem tem maior exposição, e que isso só se dá através de atitudes e exemplos, como a ajuda ao projeto Alma de Batera — uma das inspirações para o clipe — que estimula e incentiva o potencial e a autoestima de pessoas com deficiência por meio da música. “Queremos fazer parte de todo projeto que ajude o próximo de alguma forma. Recentemente participamos de um show para o projeto Ampara Animal, que é uma ONG que cuida de animais abandonados. Estamos sempre abertos a poder usar nosso trabalho para trazer conforto a quem precisa.” Julio Torres O vídeo de “Think About It” e os episódios do projeto Collab, que vão ao ar todas as terças às 20h e já receberam convidados ilustres como Maria Gadú, Lenine e Drumagick, estão disponíveis no Youtube nos perfis do Junior Lima e Julio Torres. n


COMIN’ UP

SUCESSO BINÁRIO

O CAMINHO PRÓSPERO DO DUO BINARYH Por SAMUEL CARVALHO

B

asta ouvir alguns minutos do duo brasileiro formado por Rene Castanho e Camila Giamelaro para entender o motivo de ser o primeiro projeto brazuca a fazer parte do selo alemão Steyoyoke Black. Seu som melódico, energizante e intenso resulta de um processo criativo maduro. O Binaryh é uma junção de fatores em que cada integrante da dupla consegue através de suas particularidades chegar a um resultado incrível. Eles afirmam que estão vivenciando um momento em que ouvem muita música e não estão preocupados com o mercado, e sim em descobrir coisas novas no dia-a-dia. Rene: “Temos apoio total da família Steyoyoke para fazer tudo com liberdade, sem a preocupação de ter que fazer um estilo específico. Buscamos apenas equilíbrio entre sonoridades introspectivas e fortes, sem deixar de lado a atmosfera poética que conseguimos passar para nossas composições. Fazemos questão de ter um setup diferenciado, híbrido e que temos que controlar a cada minuto do nosso set. Gostamos de ficar ocupados na cabine e ter a possibilidade de errar”. O casal sempre esteve envolvido com o universo musical. Rene sempre trabalhou com música e Camila esteve envolvida no backstage, com trabalhos em comunicação. Quando casaram, o processo de discutir sobre o assunto e mostrar coisas novas um para o outro foi natural. Quando perceberam, já estavam fazendo música juntos. Camila: “Comecei a participar das produções e voltei a discotecar. Certo dia resolvemos criar um nome para isso e levar para fora de casa. Tínhamos a ideia de fazer músicas e lançar em selos pequenos para que o Binaryh tomasse forma, mas fomos surpreendidos pelo primeiro lançamento no Steyoyoke Black. Quando percebemos, estávamos na cabine nos apresentando. Não conseguimos segurar!”

A estreia da dupla aconteceu no segundo semestre de 2016 com o EP “Primary Code”, que harmoniza elementos obscuros e melancólicos nas faixas “Encode” e “Identity”. No segundo EP eles trouxeram a reconstrução do EP “Hypnagogic”, do Mallone, que faz parte da série Reconstructed, do próprio Steyoyoke Black, e conta com releituras musicais que fizeram parte da história do selo. Seu último EP, “Boolean Logic”, chegou à décima posição no Beatport entre os melhores releases de techno apenas uma semana após lançamento.

Marky, Noise, Cohen, Blancah, Anna, Wehbba, Chris Liebing, Tale of Us e Mind Against são algumas das várias referências de Rene: “Eu chamaria de pessoas com luz própria DJs e Produtores que têm algo especial em seu trabalho”. Já Camila, por ter trabalhado no jornalismo especializado, é uma grande pesquisadora: “Gosto de fuçar novidades em selos como Chapter 24, Einmusika e Parquet Recordings. Na hora da performance, gosto muito da Nicole Moudaber e do Richie Hawtin, entre outros artistas que contam com um setup diferente para observar a dinâmica do momento”. O EP “Steyoyoke Black Reconstructed by Binaryh” conta com o suporte de artistas como Dubfire, Sasha, DJ T e Darin Epsilon, e está disponível no Beatport. n djmagbr.com

25


COMIN’ UP

COMPANHEIRISMO PELA PROSPERIDADE DA BASS MUSIC Por POLLYANNA ASSUMPÇÃO

O

movimento bass está bastante vivo no sudeste brasileiro. Os DJs da bass music em evidência na cena são inúmeros. Algo que começou sendo considerado um movimento underground, a cena bass invade o mainstream cada vez mais rápido através de parcerias entre produtores e artistas pop que trazem os graves distorcidos e as batidas poderosas para o top 40 de qualquer país. É muito fácil hoje ver nomes do trap como os mais bem pagos do mundo. Mas isso não quer dizer que apenas de super hits vive o movimento, como o selo carioca BRUK: parceria e apoio mútuo foram aspectos fundamentais para o seu nascimento. Fabio Bout e João Lyrio são integrantes do projeto TWO KPZ e idealizadores da BRUK. Após assistirem a um workshop do produtor Mr. Carmack, ambos se sentiram inspirados pela ideia de coletividade e parceria, e tiveram o insight de criar uma marca que abraçasse vários segmentos e contasse com a participação de DJs e produtores, amigos ou artistas que eles admiravam. Assim, a BRUK se dividiu em outras frentes. Além do selo, podemos contar com a BRUK Sessions, fazendo sets em formato similar ao Boiler Room com transmissão em tempo real, a festa BRUK, que acontece desde julho de 2015 em vários clubs alternativos 26

djmagbr.com

do Rio e a BRUK Collabs, que une DJs e produtores para a criação improvisada de tracks. A label BRUK já lançou quatro EPs em seu curto tempo de vida. O que começou apenas como uma forma de reunir o trabalho dos produtores parceiros apoiados pela filosofia de apoio mútuo, ganhou status de importância e virou referência para vários outros produtores da cena. Sua última compilação reuniu 18 faixas escolhidas a dedo após o recebimento de centenas de tracks de produtores de todo o país. Era hora, então, de dar passos mais longos: abrir portas para produtores fora do círculo de amizade e companheirismo. Era a hora de pensar como curadores de selo e aceitar que o projeto havia crescido. De acordo com João e Bout, quando se trata da BRUK vamos ouvir todo tipo de som que eles considerem bons: indo do rap ao future bass, footwork, vogue, trap e dubstep. A diversidade é enorme: já passaram por outros volumes as faixas de produtores experientes como Ruxell e revelações como Evehive, e nomes importantes da cena feminina como BadSista. Em seu quarto e mais recente volume, temos destaques além dos já citados, como Marginal Men, Atman e Pep, e lançamentos como Sijeh e o carioca moonar. n


COMIN’ UP

A REVELAÇÃO

DE BEOWÜLF

I

magine entrar na balada e ver as pessoas usando bandanas com estampa de alguma criatura mística. É um fenômeno natural, aparentemente, para Beowülf, este DJ que investe no mistério e em produções autorais

para fisgar a atenção do público, algo que já deu certo para muitos outros DJs que acabaram por se tornar grandes, como o UZ ou o Malaa — este último, uma de suas referências dentro da música eletrônica.

O caminho trilhado por Beowülf sugere que, por trás da máscara, existe um profissional experiente. Sua estreia foi no festival Ultra Brasil, no Rio de Janeiro, e desde então fechou acordo com a agência Field Talents — comandada pelo pessoal do club catarinense de mesmo nome — para colaborar em sua carreira de forma compatível ao seu crescimento na Internet. O que começou todo o barulhinho foi o lançamento da música “Hoje”, com os vocais d’O Rappa em sua faixa “Me Deixa”, que recebeu suporte do próprio Marcelo Falcão. Em seguida, uma série de lançamentos com toneladas de grave e estilo de som com o qual os brasileiros já estão bem acostumados, faixas como “Poison”, “Hanging Tree” e “On The Floor” entraram direto para os cases dos DJs e despertaram maior curiosidade sobre o artista. A decisão de fazer um bootleg de um grande clássico da música pop internacional — “Shout”, do Tears for Fears — foi acertada e mirou nos grandes artistas nacionais, que bem apoiaram a faixa e tornou-se comum ouvi-la em sets de DJs do porte de Vintage Culture e Gustavo Mota. “Black on Black”, com participação do Paniek, foi um divisor de águas no estilo “Basswülf” de ser, até então a track mais enérgica de seu repertório e que foi parar nas tours do Cat Dealers por aí. O momento atual do Beowülf é promissor. Descobriu-se que sua página no Facebook é a página #1 do Brasil em engajamento proporcional (mais de 40% do seu público engaja ativamente com seu conteúdo, mesmo com menor número de seguidores) e seus Q&As demonstram que o artista é mesmo uma referência em produção para jovens iniciantes, tendo feito colaborações com nomes como Öwnboss, JØRD, Slow Motion e Heiken e lançado faixas pela Sony Music, Mix Feed, House Mag Records, Deepink e, mais recentemente, Space Blank, nova empreitada fonográfica da Groove Delight. Com regularidade de lançamentos, colaboração com colegas do cenário, identidade visual cativante aos olhos do público jovem brasileiro e shows que já são conhecidos por serem mais pesados que o comum, Beowülf parece ter encontrado o elixir do sucesso e mantémse como uma aposta entre os novos DJs e produtores nacionais. n djmagbr.com

27


A DANCE MUSIC 10 ANOS ATRÁS

Havia um momento em que Martin Garrix e Alok ainda eram adolescentes, Lady Gaga não tinha revolucionado o mundo pop e a grande tendência na música eletrônica era o trance. Se hoje a dance music é dominada por artistas célebres que arrastam multidões para festivais e estádios, como era há 10 anos? Por BRUNA ANTERO & JODE SERAPHIM

2007 EM TRANSE Armin Van Buuren no topo do ranking da DJ Mag. Além dele, outros 11 dos 20 maiores DJs do mundo tocavam trance. Nomes como Tiesto, Ferry Corsten, Paul van Dyk e Above & Beyond eram headliners frequentes.

HITS DO MOMENTO Foi em 2007 que Tiesto lançou o single “In the Dark”. Enquanto isso, outras músicas de trance tornaram-se hits: “Till the Sky Falls Down” do Dash Berlin, “Body of Conflict” do Cosmic Gate e “Who Will Find Me “ do DJ Shah. Nas outras vertentes, Eric Prydz estourava com sua versão para “Proper Education” do Pink Floyd. “Destination Calabria”, do Alex Gaudino, era uma das faixas mais tocadas nas rádios. Bob Sinclar mantinha seu sucesso crescente com “Sound of Freedom”, e um Axwell pré-Swedish House Mafia promovia a track “I Found You”.

HERÓIS DA HOUSE MUSIC Mesmo tendo anunciado seu fim em 2006, Deep Dish - dupla formada por Dubfire e Sharam - bombava com “Say Hello” e “Dreams”. Fedde Le Grand brilhava com as dançantes “Put Your Hands Up 4 Detroit” e “Let Me Think About it”.

28

djmagbr.com


O COMEÇO DE UM FENÔMENO David Guetta estava promovendo o álbum “Pop Life” e seu single “Love is Gone” alcançou o número 1 na Billboard. Era um primeiro passo para o que se tornaria o sucesso do álbum “One Love” em 2009.

O NASCIMENTO DE UM PRODÍGIO Deadmau5 estava iniciando sua carreira mundial - promovia o álbum “Vexillology” - e mal podia imaginar que em 2008 seria o artista líder em vendas no Beatport e dono de hits como “Faxing Berlin” e “Ghosts N’ Stuff”.

FESTIVAIS As referências da época eram o Love Parade (Alemanha), Trance Energy e Sensation White (Holanda). No Brasil, os principais eventos eram a XXXperience, a Tribe e o Skol Beats. Os main stages naquela época tinham uma diversidade considerável e eram compartilhados entre grandes artistas de diferentes vertentes.

BRASIL NO RADAR Em 2007, os clubs brasileiros já possuíam notoriedade mundial. O catarinense Warung Beach Club e os paulistas Sirena e D-Edge estavam presentes na lista dos Top 100 clubs da DJ Mag. Nesse ano, Carl Cox comandou a primeira noite do Green Valley - que acabou por se tornar, anos depois, o #1 do mundo.

SÓ NO PASSINHO Enquanto hoje em dia os festivais no Brasil são dominados por pessoas vestindo cores neon e glitter, naquela época era comum encontrar looks compostos por calça legging, botas de cano alto (muitas vezes com um salto plataforma gigante), cartucheiras e chapéu cata-ovo. A forma de dançar também era bem peculiar; alguns passos foram importados do estilo holandês e adaptados para o que foi chamado aqui de rebolation.

djmagbr.com

29




SU

O D N A RF O D A ND

A O

O S E S C U S

USICAL, M IA R T S Ú D IN ADAS NA UCEDIDOS -S M E B DEPOIS DE DÉC IS A M S DOS SINGLE M U U O E FILME Ç D N A A L ID I V K A O A M U E . V STE UA VIGÊNCIA S O D N A T S E T A EIRA, AS CÂMERAS. D S Á R T A E E DE SUA CARR T EM FREN

32

djmagbr.com


C

omo vaí, Steve? “Tudo joia, cara.”

Você está em Los Angeles? “Estou em Las Vegas. Moro aqui.” Você está em casa descansando? Trabalhando? “Um pouco dos dois, sabe? Meu estúdio é aqui, então sempre estou por aqui trabalhando em música nova. Acabei de finalizar um novo álbum, é provável que eu adicione mais algumas músicas nele, mas está pronto. Por isso estou feliz. São notícias incríveis. Não sei quando vai ser o lançamento, mas agora os álbuns costumam ser lançados muito mais rápido do que antes. Acho que eu vou lançar o primeiro single no fim de abril. Não lembro muito bem.” Quer dizer que você vai iniciar o caminho da promoção agora, em duas semanas. “É isso mesmo.” Não sabia disso. Você gravou no seu estúdio em Las Vegas? “Gravei sim, nos dois estúdios. Em Las Vegas e também em Los Angeles. E até viajei a Atlanta e entrei no estúdio com o Migos para finalizar uma música. Na maioria das vezes, gravei no meu estúdio de Los Angeles. Lá rolou grande parte do processo criativo. Fiz muito da mixagem aqui em Las Vegas, mas quase toda a criatividade chegou em Los Angeles. Escrevi muito lá. Além disso, todos estão lá em Los Angeles, então fica muito mais fácil a gente se juntar.”

Por que você decidiu fazer um álbum? “Porque em 2016 eu estava tentando acabar o álbum ‘Neon Future 3’. Tinha quase tudo pronto, muitas músicas para ele. Mas, naquele momento... eu queria abrir meu estúdio para trabalhar com todo mundo quando tenho essas semanas disponíveis. Então, no ano passado, passei uma semana inteira com artistas do hip hop no meu estúdio. E não tinha certeza do que ia acontecer. A gente não sabia se essas músicas iam sair nos álbuns deles ou no meu, ou como seriam lançadas. Então houve uma espécie de consistência, que foi se dando com todos esses artistas do hip hop que me fizeram sentir que reunir todos eles no mesmo lugar fazia sentido. Aí, a gente decidiu que o “Neon Future 3”, por ser um projeto maior, seria lançado depois desse outro, que era um projeto menor no qual tínhamos algumas colaborações interessantes. E fui tendo sessões com artistas e, lentamente, foi virando um projeto sério. Aí, como qualquer outra coisa, a energia que unimos trouxe mais energia. Foi se criando uma espécie de momentum, e acabou sendo um álbum bastante rápido. E, agora, é bem robusto. Acho que, como falei antes, não se trata de dar tempo e gerar tanta expectativa. Por exemplo, Drake... quando ele lança alguma coisa, faz logo. Quando os artistas acabam algo, eles querem lançar nessa mesma hora.” Na América do Sul a gente liga o rádio e “Just Hold On” toca por todo lado. Queria perguntar como essa colaboração chegou em suas mãos. Como as colaborações se apresentam? Como você as escolhe? “Cada colaboração tem uma história diferente. Às vezes, a gente é muito amigo e, finalmente, consegue trabalhar junto no estúdio. Agora estamos no processo criativo e entramos no estúdio. Às vezes, é com artistas que não conheço e me emociono e me entusiasmo por entender qual tipo de música acabaremos fazendo. Isso é muito interessante. Tem muitas colaborações que eu fiz com outras pessoas e que, no fim das contas, nunca foram lançadas. Às vezes é um pouco triste, porque eu acho que [a música] é genial, mas por diferentes razões acaba não vingando. Seja por questões de management ou por questão de timing. Sou como uma esponja e, em cada encontro, tento tirar a maior inspiração possível e absorver a energia do outro para poder criar uma nova linha entre os nossos mundos. Cada vez que eu entro no estúdio, não interessa se é um artista de country ou de hip hop ou cantor pop, sempre é diferente. E eu quero trabalhar com todo tipo de artista. Não há limites, sinceramente.”

djmagbr.com

33


34 34

djmagla.com djmagbr.com


Você sempre tem diferentes projetos na manga, mas tem um fato específico sobre o qual queremos perguntar: o quanto você se orgulha de ter colaborado com Ghost in the Shell? “Olha, fico feliz que você mencionou isso. É um momento de grande orgulho para mim. Quando fiz o anúncio nas minhas redes sociais, falei um pouco sobre o que esse anime representava para mim enquanto era estava crescendo. Então foi como uma fantasia ou um sonho que se tornou realidade. Isto é, quando eu era adolescente, nunca imaginei que podia chegar a ter uma parceria com a marca do Ghost in the Shell de jeito algum. Eu era apenas um menino, um fã... Então, quando a proposta chegou, falei para mim ‘uau, isso realmente vai rolar’. E com isso na cabeça, acabei me comprometendo muito com esse trabalho, sabe? Quando fiz o remix, assisti ao trailer que me enviaram umas cem vezes. Conheço todos os movimentos, as sequências... Então quando iniciei o processo para fazer o remix, o mais interessante foi que tinha que dar vida ao trailer. Quando a gente faz um remix, o processo de mixagem é diferente. Você toma como base o que quiser, seja para fazer as pessoas dançarem, ou para surpreendê-las com uma coisa diferente. Neste caso eu tinha que trabalhar com uma coisa muito específica. Ver como poderia complementar essa cena e transmitir esse sentimento da mulher que é um androide e tem todos esses problemas que constroem o filme. Então, tudo deve ser coordenado, tem que homenagear o herói do vídeo e no drop, você tem que atrelar, de alguma forma, esse momento de ação e tensão com os movimentos a seguir. Um som mecânico que soa como destruição e tem elementos robóticos.” Você já tinha feito trilhas sonoras para filmes? “Fiz sim. Tinha feito algumas coisas antes para outros filmes. Fiz algumas músicas para filmes mas nunca tive que elaborar a música completa de um filme. É muito emocionante, um grande processo. Você não está pensando como vai tocar nos seus sets. É diferente. O timing é completamente diferente. Você trabalha para sincronizar outros sons com partes do filme, de formas que nunca faria para uma música. É bem interessante. O lance foi que cancelei outros filmes porque isso leva muito tempo e você realmente não pode focar em outras coisas, mas sem dúvidas é uma coisa na qual eu me interessaria em aprofundar no futuro.”

“FOI COMO UMA FANTASIA OU UM SONHO QUE SE

TORNOU RE ALIDADE

E falando em filmes, você está dentro das telas. Tem um show de TV e lançou um documentário no ano passado. “É, definitivamente, esse é um lugar novo, um mundo novo. Quando eu viajo, sempre vou com uma equipe que vai documentando tudo. Isso acontece nos últimos seis ou sete anos. Então eu me sinto à vontade diante da câmera e, com o papel das redes sociais hoje em dia, tudo se tornou muito transparente para o público. E a minha vida privada se tornou muito menor. É algo interessante. Quanto mais você mostra para o mundo, mais eles conhecem o que acontece por trás da cena. Não sei, gosto de abrir algumas portas. Com o documentário ‘I’ll Sleep When I’m Dead’, as pessoas conseguiram acessar muitas portas que permaneciam fechadas, para além das redes sociais. Mas falando honestamente, abrir essas portas não é tão interessante para mim, pessoalmente. O mundo agora tem acesso a esses lugares mas não me interesso muito por isso.” Mas as pessoas se sentem muito mais próximas de você... “Não sei. É só que eu não tenho interesse em ver o documentário no meu tempo livre. É para o mundo, não para mim.” E não só para as pessoas verem suas viagens, mas nele elas podem ver o modo como você conseguiu se tornar nisso que é hoje. “Acho que o valor que ele tem é que o show não trata do que aconteceu com Steve Aoki. As pessoas, talvez, poderão assistir e encontrar comparações com suas próprias vidas.”

djmagbr.com

35


Para que elas possam perseguir seus sonhos. “É isso mesmo. É disso que estou falando. Quase todo o feedback que recebi do filme foram agradecimentos sobre a inspiração que as pessoas sentiram. Isso é o que eu quero desse projeto, que leve as pessoas a tentar. A procurar soluções práticas e não ficar no nada.” E agora? O álbum já está pronto? No que você está focando? “Ainda continuamos surfando a onda de ‘Just Hold On’. Quer dizer, é algo grande. De todas as músicas que eu já fiz, essa é, de longe, a que mais se conectou com as pessoas. Acho que são vários fatores. Especialmente, quando as pessoas leem a letra, muitos se conectam e se sentem refletidos. Eu consigo ver isso na resposta do público. E continuamos curtindo isso. Acabo de voltar do México, onde o single virou platina. E não posso esperar para ir ao Brasil e ver a resposta para ‘Just Hold On’! Sei que há muitíssimos fãs de música por lá.” É uma grande turnê essa que você vai fazer... “Sem dúvidas. O Brasil é um dos lugares que eu mais gosto de visitar porque os fãs são muito apaixonados. O inglês não é a sua língua principal, então quando eu ouço os brasileiros cantando as letras das minhas músicas, em inglês, isso significa muito para mim.” Deve ser muito emocionante! “É mesmo. Fico arrepiado quando vejo isso, porque é uma coisa pela qual eu me sinto muito grato. Mas, sem dúvidas, quando estou no palco, olhando essas pessoas, não tem outro lugar onde eu queria estar.”

TANTE “O MAIS IMPOR

,

R COM AS E CONECTA PARA M I M , JANDO STOU DESE PESSOAS. E S“ AR COM ELA ME CONECT

36

djmagbr.com

É uma turnê grande... São muitas cidades! Você vai ficar alguns dias por aqui? “Infelizmente, as minhas turnês costumam ser de entrada e saída. Gostaria de ter mais tempo para poder absorver a cultura e as cidades, ficar com a cidade. Essa é uma outra razão pela qual eu gosto de levar uma equipe, entende? Gastar dinheiro para ter gente lá e ficar dentro do hotel é uma perda de tempo, do meu, do seu, do meu dinheiro... Então, com eles lá, assim que a gente chega, tenta fazer coisas. Exercícios, passeios pela cidade, tentamos conhecer pessoas interessantes que nos mostrem algumas coisas da cultura. Escolhemos um restaurante e tentamos passar o maior tempo possível lá. Tenho esperanças de poder dar umas voltinhas por lá e conhecer mais sobre essa cultura. Viajar cedo, fazer alguma coisa na parte da tarde, algo assim...” Para encerrar, o que eles podem esperar dos shows? “Sem dúvidas, podem esperar muitas músicas do álbum novo. Então, vai ter muito disso. Será uma completa experiência no estilo Aoki. Terá meus clássicos, novos edits, novas versões das minhas músicas mais conhecidas. É um show onde vou me encher de energia das pessoas. O mais importante, para mim, é me conectar com as pessoas, estou desejando me conectar com elas. Quero que eles venham prontos para ter toda essa experiência.” u


Fotos FELIPE GABRIEL


Foto CUROL RIBEIRO


Foto MARIANO BECK


GREEN VALLEY TEM NOITE HISTÓRICA EM COMEMORAÇÃO AOS 10 ANOS E STEVE AOKI COMO HEADLINER Por RAFAEL ALMEIDA | Foto CUROL RIBEIRO

O

Steve Aoki desembarcou em terras tupiniquins para uma série de apresentações da DJ MAG Brasil On Tour, que passou também pelas cidades de Brasília (Federal Music Beach Edition), São Paulo (AfterX) e Porto Alegre (Soul Music Festival).

20 de maio foi memorável para quem esteve por lá. Assim que os portões foram abertos, greenlovers começavam a se espalhar pelo clube. A chuva insistia em cair naquela noite, mas isso não impediu a chegada de uma multidão de fãs ansiosos. O público dirigia-se para o Main Stage, subindo a famosa rampa de acesso cercada de lagos e muito verde, sabendo que iria viver uma boa experiência.

Aoki iniciou seu set com a track para o filme “Ghost In The Shell”. Considerado uma das personalidades mais influentes no cenário internacional da chamada Eletronic Dance Music (EDM), Aoki está na lista dos Top 100 melhores DJs no mundo desta revista, ocupando a sétima posição. No Green Valley, o DJ também levou para a pista os principais sucessos da sua carreira, como “Delirious” e “Just Hold On”. Apresentou ainda a sua mais recente faixa, uma colaboração com o duo canadense DVBBS e o rapper 2 Chainz chamada “Without U”, que fará parte do seu novo álbum.

clube abriu suas portas para receber grandes nomes da música eletrônica mundial em mais uma festa de comemoração dos seus 10 anos. No line up, nomes como Rodrigo Vieira, Felguk, DJ L, Teenage Mutants, Jean Bacarreza e o renomado Steve Aoki fizeram parte da terceira festa. O Green Valley já havia recebido nas duas outras festas nomes como Alok e Hardwell.

40

djmagbr.com

O big moment da noite, sem dúvidas, foi o cake me, marca registrada – e esperada – em que o DJ atira bolo na galera. Dezenas de fãs do Aoki carregavam faixas suplicando pelo momento. O DJ lançou nada menos do que nove bolos na direção de quem segurava os clássicos cartazes. Os bolos fizeram referência a cada ano conquistado pelo clube em sua trajetória e foram confeitados com o nome do DJ, seu selo DIM MAK e bandeiras do Brasil. E o lançamento do 10º bolo foi especial. O sócio-proprietário do clube, Eduardo Philipps, fez o que muitos gostariam: não perdeu a oportunidade e jogou um bolo no Aoki. Depois disso, os dois se abraçaram e comemoraram um reencontro que aconteceu pela última vez em 2014, selando e finalizando uma grande noite de comemorações no clube quando o DJ finalizou o set com um remix do hit “Despacito”. u



BRUNO MARTINI: A NOVA CARA DA MÚSICA ELETRÔNICA NO BRASIL Por POLLYANNA ASSUMPÇÃO

O

meu ano começou exatamente na sexta-feira de Carnaval, quando eu soube que seria label manager do Aftercluv, um dos selos de música eletrônica da Universal Music Brasil. Meu trabalho é ser uma das responsáveis pelo sucesso de um produto, no caso um single, um álbum ou um artista. E eu entrava no time justamente no momento em que todas as fichas foram apostadas na new face da música eletrônica: Bruno Martini. Se você gosta de música eletrônica e ainda não ouviu falar do Bruno Martini, você deve estar vivendo nas nuvens. Bruno Martini é co-autor com Alok do super hit “Hear Me Now”. Os números da track são os mais assustadores possíveis quando se trata de artistas brasileiros: ultrapassando 150 milhões de streams no Spotify e 67 milhões de views no YouTube em cinco meses, “Hear Me Now” transformou Alok em um artista reconhecido nacionalmente e startou Bruno Martini no cenário. Conversando com amigos que não são do mundo da música eletrônica, eles falam do Alok hoje com a mesma naturalidade que se fala de outros artistas mainstream. Alok conseguiu com o sucesso de “Hear Me Now” ser retirado da posição de DJ e produtor e alavancado à posição de astro pop. E este é exatamente o tipo de música que a gente quer ouvir e que é fácil de gostar: leve, com letra e melodia belíssimas. A Universal Music e a Plusnetwork apostam em Bruno Martini como um dos próximos sucessos da música eletrônica internacional. O jovem de 24 anos é uma aposta simultânea entre Brasil, EUA e Suécia. Em um acordo em moldes como os de lá de fora, Bruno tem o apoio de Luis Estrada, cabeça

do Aftercluv, e de William Commandeur e Edo van Duyn na Plusnetwork, que já trabalharam com os maiores DJs do mundo tais como Tiesto e Kaskade. O Brasil atravessa um dos seus melhores momentos produzindo música eletrônica e um contrato como esse só mostra como nosso país tem mesmo a capacidade de exportar talentos. Eu cheguei em São Paulo para finalmente conhecer o cara e encontrei um rapaz simpático e altamente focado em seu trabalho — quando se trabalha com pessoas famosas, devemos estar preparados para todo tipo de coisa. Mas o que Bruno sentia era animação em finalmente lançar uma track só sua e que o faria ser reconhecido pelo musicista que é. Eu passei uma tarde inteira vendo Bruno responder exaustivamente a várias entrevistas com a mesma simpatia e disposição do início ao fim, desde perguntas para revistas adolescentes como “o que fazer se minha melhor amiga foi morar longe e eu não tenho dinheiro para visitá-la” a perguntas como “você acha que ‘Hear Me Now’ mudou a forma de fazer música eletrônica no Brasil?” . Bruno costuma brincar que nasceu dentro do estúdio. Filho de um dos produtores do famoso grupo de eurodance Double You, ele ganhou seu primeiro violão aos 8 anos e aprendeu a tocar bateria e piano de forma autodidata. Acostumado desde pequeno com artistas entrando e saindo da sua casa, todo esse universo não parece tão inédito. Parece apenas


o caminho natural, o mesmo que Bruno escolheu quando aos 16 anos se tornou um dos integrantes da banda College 11, a primeira banda da América Latina a ser lançada internacionalmente pela Disney. Como então, depois de anos numa banda de rock, Bruno caiu no eletrônico? Uma das coisas que ele costuma dizer é que existe música ruim e música boa, sem importar muito a vertente que você segue. E que a sua preocupação é fazer música na qual ele acredite. Com a naturalidade de qualquer universitário de vinte e poucos anos, Bruno me conta aliviado que entregou seu TCC em Engenharia Civil na véspera do lançamento de “Living On The Outside”. Seu projeto final foi a reforma do seu estúdio — o mesmo onde gravou o hit com Zeeba e Alok e mais umas vinte músicas. Eu argumento que já daria pra lançar um álbum completo, mas Bruno me responde que não tem pressa e que prefere que as pessoas conheçam seu trabalho aos poucos. Antes de seu lançamento, Bruno já estava confirmado no festival Electric Zoo Brasil e na tenda eletrônica do Rock in Rio 2017. Quem é da cultura eletrônica sabe que, se tem um assunto que dá pra falar por horas quando se conhece alguém novo, são as preferências e influências de alguém. Quando essa pessoa nova é o cara que quer ser o próximo DJ superstar brasileiro, esse papo pode ir longe. Bruno ama Calvin Harris e acredita que

ele é um dos caras mais completos para se inspirar. Calvin tem a trajetória dos sonhos, e Bruno acredita nessa trajetória: fazer boas músicas que façam as pessoas felizes. Sem esse papo de mainstream ou underground. Minha visita a São Paulo se encerrou com o lançamento de “Living On The Outside” no escritório do Spotify. Ouvimos atentos sobre estratégias que podem ajudar uma música a se tornar um hit. O mais legal da empresa é que eles mantêm um rígido código moral sobre como trabalhar e, ao contrário do que muitos acham, não existe isso de comprar lugares nas paradas de sucesso. O que faz o Spotify ser o que é se deve justamente à sua filosofia. Eles não te dão o peixe mas te ensinam a pescar. Mas o mais importante é que criar um sucesso envolve muito mais do que dinheiro. Um sucesso envolve dedicação, talento e vontade de fazer diferente. Envolve acreditar em si mesmo, no que está criando e principalmente na certeza do seu lugar ao Sol. Se Bruno atingirá seu objetivo de ser o próximo maior DJ do Brasil, apenas o tempo nos dirá. Até o momento todos os planos estão dando certo. Bruno sabe e me contou que está preparado para críticas e para os haters. Ele conhece sua geração como ninguém e é pensando nela que cria suas músicas. Como diria a letra do seu atual hit: “cada pedra que te jogam pode te deixar de joelhos, mas vai ficar tudo bem”. djmagbr.com

43


DJ MAG - QUAL O PESO DE ASSINAR UM CONTRATO EXCLUSIVO?

Bruno - Você deve tomar decisões na sua vida e eu tenho certeza que a Universal foi a melhor escolha, pois é uma das maiores gravadoras do mundo. Eles têm artistas enormes e estou muito feliz em trabalhar com uma empresa desse tamanho. Além disso, eles acreditaram nas minhas músicas, estão trabalhando muito bem e sou o primeiro artista a assinar globalmente com eles. DJ MAG - A MAIORIA DOS DJS É BASTANTE LIVRE, ASSINANDO COM VÁRIOS SELOS E GRAVADORAS OU ATÉ CRIANDO SELOS. VOCÊ PENSA EM ALGO ASSIM?

Bruno - Já pensei. Eu quero muito fazer um selo e eu tenho muita vontade de ajudar muita gente. Eu faço isso porque eu amo música e eu já estive no lado de lá. Sei o quão difícil é tentar viver de música: às vezes não aparece uma oportunidade pra você. DJ MAG - QUAIS SÃO OS PLANOS A CURTO E A LONGO PRAZO PARA SUA CARREIRA?

Bruno - Desde pequeno acredito muito na força da sua mente. Se você acredita numa coisa de verdade, as coisas começam a acontecer pra você. Todo mundo tem que ajudar o próximo, pois quanto mais você ajuda, mais as coisas conspiram em seu favor. E eu sonho muito alto. Eu fui trabalhar com a Disney e todo mundo achou que era maluquice. Depois eu fui no Tomorrowland. Com certeza eu quero daqui a 5 anos estar ajudando muitas pessoas e estar entre os top DJs com as músicas mais tocadas pelo mundo. DJ MAG - VOCÊ COMEÇOU A TRABALHAR MUITO NOVO COM A DISNEY. COMO FOI PRA VOCÊ CONTINUAR ESTUDANDO ENGENHARIA?

Bruno - Tudo o que você faz na vida serve de conhecimento, mesmo quando você não percebe. A engenharia pra mim foi importante e abriu a minha cabeça também pra outra realidade. Era muito louco: eu fazia faculdade de engenharia e trabalhava com música. Música é matemática, mas engenharia exige muito mais raciocínio lógico. A música tem mais sentimento. Eu costumava dizer que tinha duas vidas. É engraçado porque os meus amigos da faculdade têm um trabalho “normal” e eu não tenho essa mesma rotina.


DJ MAG - COMO SURGIU ESSA PARCERIA COM O ALOK ?

Bruno - Eu conheci o Zeeba há um ano e meio, quando ele vinha ao meu estúdio. A gente fez um monte de música juntos, e uma delas foi “Hear Me Now”. Eu conheci o Alok assim na vida. Ele vinha ao meu estúdio porque meu pai trabalha com música há muito tempo com o Double You. Meu pai já produziu muita gente. Desde pequeno, eu viajava em turnê com ele. O assessor do Alok era muito fã do meu pai desde os anos 90. O levamos ao meu estúdio e toquei uma das músicas pra ele. “Hear Me Now” não estava pronta; ele tinha umas ideias e falou: “Bruno, vamos tentar fazer um negócio mais eletrônico “. Foi assim que rolou. DJ MAG - COM O SUCESSO DE “LOTOS (LIVING ON THE OUTSIDE)”, JÁ EXISTE MATERIAL PARA UM LANÇAMENTO FUTURO?

Bruno - Eu tenho umas 15 músicas prontas e estou muito ansioso para lançálas. “Living On The Outside” foi um risco, uma música diferente de tudo que está rolando tanto na cena brasileira quanto na internacional. E eu não tenho medo de tomar riscos na minha vida. Isso é o que mais me motiva. DJ MAG - JÁ OUVI QUE “HEAR ME NOW” MUDOU A CENA BRASILEIRA, LANÇANDO A TENDÊNCIA DE UMA PISTA DE DANÇA UM POUCO MAIS POP. VOCÊ CONCORDA?

Bruno - Eu já ouvi muitos comentários assim. É legal as pessoas acharem isso, mas o mundo inteiro está bem pop. No fim das contas, o que importa é se você tem uma música boa ou ruim. Pra mim, a “Hear Me Now” não é nenhuma nova fórmula musical. Se a música é boa, eu acredito que vai funcionar independente da cena e do que for. Muito pop, muito eletrônico, eu acredito em música. DJ MAG - COMO VOCÊ DEFINE O SEU DJ SET? VOCÊ TOCA O QUE VOCÊ OUVE?

Bruno - Sim, eu tento trazer um pouco do meu mundo, do que eu gosto, como house e future. Eu tento trazer um pouco da minha verdade e do que eu quero vender pro mundo. Gosto sempre de passar uma mensagem. Claro que quando você faz uma música mais club, mais pista, ela é voltada para aquilo, mas quando você faz uma música abrangente, você tem que fazer algo que realmente toque as pessoas. u

djmagbr.com

45


HOMENAGEM DJ MAG

30 ANOS DE MAU MAU EM LOOP Por FELICIO MARMO

I

nfluenciado pelos movimentos underground americano e europeu, Mau Mau é um dos principais responsáveis pela disseminação da música eletrônica no Brasil. Na outra mão, foi um dos DJs pioneiros a levar o techno grooveado tupiniquim para o resto do mundo, sempre participando de inúmeras colaborações e estando envolvido em diferentes movimentos artísticos de cada geração que atravessou. O DJ e produtor também é reconhecido pela sonoridade encontrada em seu próprio selo de música, o Tropical Records, que mistura a eletrônica com elementos de música regional brasileira, e o projeto M4J, em parceria com outros músicos. Sua música cruzou os mares; primeiro foi “This Is Tropic”, direto para o case de Carl Cox, Stacey Pullen e Derrick May. Seu som, sempre com um groove brasileiro, o levou a participar do Carnaval 2000 em Salvador ao lado de Daniela Mercury, formando assim o primeiro bloco techno no carnaval baiano. Um breve rewind: Mau Mau começou sua carreira de DJ em 1987, no lendário clube paulistano Madame Satã. Um pouco mais à frente, foi residente do Hell’s Club, que é considerado um dos principais divulgadores da música eletrônica dentro do país. Nesta época e já líder de todo um lifestyle clubber, Mau Mau produziu um fanzine chamado Subscience, que tratava de moda, comportamento e música eletrônica, e teve grande importância na formação da cena de São Paulo. Presença obrigatória em qualquer evento 46

djmagbr.com

de grande porte, Mau Mau já excursionou em diversos países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Portugal, França, Inglaterra, Alemanha e Turquia. Inovação é um dos maiores atributos em tudo onde já colocou as mãos. E ao longo de 30 anos, explorou de tudo um pouco; uma ópera inteira para um espetáculo de música eletrônica, e recebeu ainda uma bateria de escola de samba em uma gig fora do país. Celebrando as três décadas de carreira em 2017, essa e outras histórias você confere a seguir, nas aulas com Mau Mau: DJ MAG – COMO É ENTRAR EM 2017 SENDO CITADO EM UM LIVRO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO APÓS 30 ANOS LEVANTANDO A BANDEIRA DO DJ ENQUANTO ARTE?

Mau Mau - Pra mim é um reconhecimento de toda uma vida, toda uma carreira e todos os perrengues que eu já passei. Acho que foi o maior prêmio de todos que já recebi na minha carreira. Vai ficar registrado pra sempre e é muito gratificante saber que está no contexto do estudo de música brasileira. As crianças da oitava série já vão ouvir falar sobre música eletrônica. Uma história curiosa e até engraçada sobre esse momento me faz lembrar de um amigo meu de balada que sempre me dizia: “você é um ser muito louco que precisa ser estudado”. Então, agora é literal (risos). DJ MAG – VOCÊ SEMPRE PARTICIPOU E CRIOU PONTES COM OUTROS UNIVERSOS, EXTRAPOLANDO AS PAREDES DOS CLUBES DE TECHNO EM UMA CARREIRA

DIVERSIFICADA. QUAIS FORAM AS MELHORES CONQUISTAS EM 30 ANOS DE DJ E POR QUE?

Mau Mau - Os trabalhos que fogem um pouco da pista de dança me marcaram bastante. Posso citar uma campanha que fiz pro carro Vectra, em que além das fotos do material da campanha, fiz um remix oficial pro A-Ha. Sem dúvidas foi uma grande conquista. Lembro também da comemoração de 10 anos da coluna do cantor e compositor Noite Ilustrada, no Teatro Municipal. Me apresentei junto a ele, que já estava com uma certa idade. Foi emocionante, e foi muito marcante também pelo fato de essa ter sido sua última apresentação antes de falecer. Teria como incluir todos os prêmios que já recebi, que são mais de 30, juntando revistas, jornais e blogs especializados. Ou a homenagem que eu recebi durante a Parada AME; todos os caminhões desligaram no final e apenas eu fiquei tocando sozinho, foi um momento de muita emoção na minha carreira. Gosto de citar o período quando fui residente da festa Open House em Paris durante três anos. Fiquei viajando por toda a França, conheci todas as principais cidades, foi um pontapé na minha carreira internacional. Também a apresentação que eu fiz ao vivo em um projeto em Paris chamado Cine-Mix. Eles chamaram cinco DJs do mundo todo, incluindo o Jeff Mills. Eu fiz uma trilha ao vivo representando o Brasil, sonorizando o filme Cidade De Deus.


Por fim, outra coisa memorável foi o Carnaval de Salvador tocando ao lado de Daniela Mercury. Recebi de tudo, elogios e vaias. DJ MAG – COMO É SEU OLHAR SOBRE OS MELHORES MOMENTOS COMO PRODUTOR MUSICAL E SUAS DIVERSAS PARCERIAS NA MÚSICA BRASILEIRA?

Mau Mau - Desde que comecei a produzir, meu primeiro trabalho foi o projeto M4J e foi pelo selo Tropic Records, distribuído pela Trama, por onde consegui divulgar meu nome fora do Brasil. Fui o primeiro brasileiro a ser tocado pelo Carl Cox, que colocou a música “This Is Tropic” em um set especial da Space Ibiza distribuído em uma revista. Aqui no Brasil eu fiquei muito feliz por expandir o universo da música eletrônica para outros estilos. Abrir o leque e poder levar esse universo para outro patamar, interagir com outros músicos e levar a música eletrônica adiante. Seja em remix ou em parceria, trabalhei com nomes grandes como Rita Lee, Kiko Zambianchi, Marina Lima, Adriana Calcanhoto, Elza Soares, Tim Maia, Edson Cordeiro.

Outro trabalho que me marcou muito foi a Ópera “O Guarani” de Carlos Gomes, em que refiz toda a ópera com o meu amigo Franco Junior e o maestro Fábio Gomes de Oliveira. Pegar uma partitura do zero e transformar em música eletrônica foi o maior desafio da minha carreira de produtor. Foram dois meses sem dormir direito, aprendendo os compassos e tudo o que envolvia essa proposta. Depois desse trabalho eu mudei a minha forma de produzir. DJ MAG – QUAIS FORAM OS MELHORES BAFOS QUE VOCÊ SE RECORDA OLHANDO PRA TRÁS?

Mau Mau – Acho que na época em que eu era residente do clube Sra. Krawitz. Toda semana tinha uma festa bafônica (risos). O Nenê Krawitz era promoter e inventava umas festas malucas com temas mais absurdos ainda. Um belo dia teve a festa da piscina, que foi muito surreal porque eles colocaram uma piscina inflável na pista... mas aquilo virou uma aguaceira... No meio da noite, todo mundo estava encharcado, fazendo guerra de água e tomando choque pra cá e pra lá. Foi uma loucura, apesar dos choques.

Outra noite bem bafônica foi a vez que fui tocar na rave Gaia no final dos anos 90. Fazia muito frio, era uma noite de inverno daquelas. Chegando lá no sítio, eu precisava encontrar a cabine e fui orientado a subir uma escada escura pra poder atravessar a festa. Estava tudo escuro, mas mesmo assim eu entrei no espaço, pedi a licença de um casal pra passar, notei que eles acharam aquilo meio estranho, dei um passo mesmo sem enxergar nada e de repente cai em uma piscina de roupa e tudo. A sensação que eu tive na hora foi muito estranha, achei que tivesse morrido, Felicio (risos). Estava tudo escuro e um frio surreal. Foi um pânico... Mas depois do susto em si, foi engraçado. Acabei pegando uma calça rosa de moletom apertada de uma menina e um casaco enorme de outra pessoa que me ajudou, e toquei de Havaianas todo improvisado. Recordo ainda que me apresentei com o M4J em Istambul junto com a bateria da escola de samba Camisa Verde Branco. Imagina, eram 20 integrantes da bateria que entravam em momentos no nosso show, foi bem surreal. O problema foi a logística, pois rolou na mesma semana da queda das torres gêmeas. Foi super complicado voltar ao Brasil. Trinta minutos depois de voltarmos para o hotel, uma bomba explodiu na mesma praça que a gente estava. Foi tenso, tivemos que esperar uns dias pra relocar o voo… mas pela apresentação, valeu a pena. u djmagbr.com

47



Por RODOLFO REIS

M

arcelo Cicchelli, conhecido por todos como Marcelo CIC, está celebrando 18 anos de carreira na indústria da música. Ao longo desta trajetória, CIC conta com mais de 80 tracks autorais - algumas delas lançadas pelo selo do Marco Carola e Valentino Kanzyani, outras tocadas por Hardwell, Martin Garrix, Calvin Harris e David Guetta - participação no DVD biográfico do Carl Cox e milhares de apresentações ao redor do mundo. Lançada pela Aftercluv, selo da Universal Music, “Wildest Dreams” é o seu novo lançamento, e é a prova de que, mesmo após tantos anos de carreira, o brasileiro sempre consegue se reinventar. Com beats de house music, elementos de bass house e solos de guitarra e percussão, Marcelo CIC pretende causar barulho com esta nova produção. Escrita pela cantora e compositora Breana Marin – premiada com disco de ouro pela música “Reflection” do grupo Fifth Harmony – a música te leva ao seu sonho mais selvagem com aquela pessoa que você gostaria de estar. Feliz e muito satisfeito, Marcelo CIC espera surpreender e satisfazer seus fãs com sua nova fase musical, e afirma que não pretende limitar sua criatividade. Conversamos com ele.

DJ Mag – 18 anos de carreira como DJ e 12 anos como produtor musical são um longo tempo no mercado. Conte-nos um pouco sobre isso. Marcelo CIC – Sou privilegiado por poder viver da música há 18 anos. Entre os altos e baixos de uma carreira artística, a regularidade é um fator mais importante que o sucesso, e tenho conseguido mantê-la nos últimos anos.

DJ Mag – Qual o maior desafio que você já teve que enfrentar durante todo este tempo de carreira? Marcelo CIC – Teve? Eu ainda tenho (risos). Não é nada fácil lidar com o mercado da música, principalmente dentro do Brasil. Mas como no futebol, existem momentos que você precisa atacar, se defender, parar, pensar. Quando você consegue equacionar as coisas, você consegue agir melhor. A realidade é que vivemos em um país em que, musicalmente, somos 8 ou 80. As pessoas esquecem muito rápido suas conquistas e feitos, então você sempre precisa prosseguir apresentando algo novo. Não que isso seja somente na música, mas estamos vivendo um momento muito descartável na cena eletrônica. A música não dura, os artistas são criados da noite para o dia e isso tende a conflitar em algum momento com bons resultados de uma forma geral.

DJ Mag – Se você pudesse mandar uma mensagem para o Marcelo CIC de 18 anos atrás, qual seria e por que? Marcelo CIC – “Pratique a sua paciência, ela será valiosa na sua escolha profissional”. A maturidade chega para todos. Eu não sou um cara com papas na língua, sempre falei o que eu penso e dei a minha opinião pessoal para aqueles que têm interesse em saber. Ser verdadeiro neste mercado tem um preço, é caro, mas eu prefiro seguir assim. Jamais alguém vai me calar sem ter um bom argumento, e por isso hoje em dia eu ouço bastante antes de ter minha opinião.

DJ Mag – Falando agora em novas produções, você está promovendo o lançamento de “Wildest Dreams”. Quais são suas expectativas? Podemos esperar mais produções nesta mesma pegada? Marcelo CIC – Teremos mais tracks como essa no decorrer deste ano, mas também teremos muitas músicas diferentes. Não vou limitar minha criatividade. Tenho 5 novas músicas finalizadas e 2 remixes para serem lançados. O importante é não parar de fazer músicas autorais, bem trabalhadas e entregar o melhor para meus fãs. O resultado vem com o tempo… ser imediatista às vezes é bom, mas quase sempre vira uma decepção, então quero fazer as coisas no tempo certo e não tornar minha música uma coisa completamente descartável.

DJ Mag – Como foi a escolha do vocal para “Wildest Dreams”? Como você

chegou até a Breana? Marcelo CIC – Normalmente eu recebo semanalmente diversas opções de vocais de compositores de todo o mundo. Eu trabalho com um músico há mais de 10 anos, o Lucca Mendez. Ele já me conhece, sabe como trabalhar comigo e da forma que gosto de compor as músicas. Quando recebemos o vocal da Breana, em 24 horas já tínhamos toda a ideia da música. Estou feliz por ter tido a oportunidade de gravar com a Breana, uma cantora e compositora premiada. Detalhe, essa música está pronta há 9 meses.

DJ Mag – Quais são seus planos para daqui em diante? Marcelo CIC – Depois de tantos anos no mercado — Marcelo começou a tocar com 13 anos de idade — passei um período estigmatizado por ser um artista de EDM (leia-se Big Room) obviamente com razão. Devido ao meu trabalho dos últimos anos, é normal isso acontecer. Agora vejo que as pessoas estão começando a entender essa minha nova fase, quero poder surpreendê-las novamente. A “Wildest Dreams” é o primeiro passo para isso, vou deixar a música falar por mim. Quero continuar tocando muito no Brasil e no exterior, e esse ano vou conhecer países onde eu nunca havia tocado antes. Será incrível. Mesmo já tendo passado por diversos ciclos, sempre é importante ter o entendimento de que tudo são fases. Tenho certeza que minha mente se mantém jovem e mais criativa do que nunca para buscar novos horizontes. A música e meus fãs me motivam, me trazem boas vibrações.” u djmagbr.com

49


COS E DANOS IS R E D O Ã Ç U D E R LOS COLETIVOS DE E P A N E C A D A Ç N A MUDA

50

djmagbr.com


Por GUILHERME STORTI

A

redução de danos já é um assunto bastante discutido no Brasil. O tema foi introduzido na década de 90, atingiu o seu auge em meados dos anos 2000 e depois assistiu o declínio no número de projetos voltados para o resgate da autonomia das pessoas que fazem uso de drogas, vendo em contrapartida um maior investimento em iniciativas que violam diversos direitos fundamentais dessa população. Assim como aconteceu na Holanda no início dos anos 80, a redução de danos em território nacional volta a ter como protagonistas as próprias pessoas que fazem uso de drogas — há ações que partem diretamente de gente que frequenta determinados ambientes e consegue enxergar a complexidade do tema. Para essas pessoas, a prerrogativa básica é se municiar de informações e mobilizar os atores que compõem o ambiente, levando atenção e cuidado diretamente ao foco da questão. A redução de danos sempre partiu do pressuposto do cuidado a si mesmo e ao próximo, uma tecnologia “inovadora” que apenas depende de atenção e empatia. O não-julgamento às escolhas — que são estritamente pessoais — é o segredo para se ter acesso a diversos infinitos particulares que quase nunca vêem a luz do dia e se tornam, algumas vezes, sentimentos incompreendidos. Por ser uma experiência única e inerente a cada ser humano, é praticamente impossível prever a sensação que uma pessoa vai ter ao entrar em contato com qualquer substância psicoativa, mesmo existindo uma série de “efeitos-padrão” para cada uma. Sendo assim, a singularidade de cada persona é o que define o total da soma ambiente + substância + indivíduo. Ambientes têm a capacidade de atrair pessoas com algo em comum, talvez o mesmo elemento subjetivo que as levaram a escolher aquela “fuga”. Foi através dessa familiaridade e singularidade nas experiências que surgiram os primeiros coletivos que levam a tecnologia da redução de riscos e danos para os ambientes festivos. A primeira iniciativa foi no ano de 2006, na cidade de Salvador – BA, quando um grupo de acadêmicos, psiconautas, DJs, produtores e diversas outras pessoas fundaram o Coletivo Balance. O aspecto em comum entre elas era que frequentavam a cena trance da cidade e faziam uso de diversas substâncias; pessoas que gostavam de alterar seus estados de consciência, que se encontraram em função dos contextos e ideologias em torno da promoção da autonomia. Logo após, outras iniciativas começaram a surgir em outros Estados do Brasil, motivados pela identificação com o trabalho pioneiro que dava seus passos na Bahia.

Mas era apenas pelo uso de drogas que essas pessoas se aproximavam e se inspiravam? Afinal, a subjetividade era a grande questão; é esse o elemento que as aproxima e que emerge ao se deparar com diferentes estímulos e sinapses nervosas, que têm como consequência uma explosão de sentimentos e sensações indescritíveis e muitas vezes incontroláveis. Esse tipo de iniciativa é o resgate da filosofia que inspirou o movimento de redução de danos: o cuidado de uma pessoa com o próximo. A vivência na cena e a experiência psicoativa traz uma familiaridade a estes coletivos e às pessoas que acessam essa metodologia de cuidado. Ser acolhido por aquele, ou aquela, que entende minimamente o seu contexto, se torna um fator fundamental para um auto-controle até então desconhecido. Uma importante lacuna que é preenchida por esses coletivos se dá pela omissão das políticas públicas voltadas para as pessoas que fazem uso de drogas. Há uma negação generalizada ao uso de drogas em ambientes festivos, sejam eles públicos ou privados. No Brasil, entende-se, classifica-se e condena-se essas pessoas enquanto criminosos e, portanto, sem o direito de qualquer assistência digna. Depois da Internet, que proporcionou o acesso praticamente livre a qualquer tipo de conteúdo, muitas informações sobre o uso de drogas puderam circular pelo mundo. De acordo com Sérgio Vidal, antropólogo, escritor e um dos fundadores do Coletivo Fique Legal, de Santa Catarina, a “era da informação” foi fundamental para dar acesso aos conteúdos sobre uso de drogas: “A cada dia que passa, tem aumentado não apenas o número de coletivos realizando ações de redução de danos, mas de indivíduos buscando informações sobre consumo seguro, e procurando eles mesmos realizarem os testes nas substâncias, aprenderem sobre as reações, os efeitos, riscos, danos, etc… é parte de um movimento maior, que envolve dois pilares que vêm sendo construídos nas últimas décadas do desenvolvimento humano na relação com essas substâncias: o acesso livre a informações sobre drogas e o empoderamento dos sujeitos que consomem drogas”, diz Sérgio. A partir da aliança das iniciativas que promovem esta autonomia, a abertura dos canais de comunicação via web foi fundamental para a difusão de conhecimento e por aproximar pessoas que partilham dos mesmos princípios. E que essa luta permaneça e avance cada vez mais, fazendo com que a informação chegue e emancipe o máximo de pessoas possíveis, pois já estamos cansados de saber que não existe um mundo sem pessoas que usam drogas. u

djmagbr.com

51


COLETIVOS QUE ATUAM NO BRASIL: COLETIVO RESPIRE (SP) Atua desde 2011 no estado de São Paulo e foi concebido dentro da ONG É de Lei. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, distribuição de kits de prevenção, palestras, rodas de conversas e capacitações.

COLETIVO PSICODELIZANDO (SP) Surgiu como um movimento de internautas em 2012 e expandiu suas ações para além da Internet. Trabalha com: difusão de informações, debates e rodas de conversas em espaços múltiplos.

COLETIVO BALANCE (BA) Atua há mais de 10 anos em festas e festivais de música eletrônica no Brasil. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise - o SOS Bad Trip, intervenções artísticas, testagens ocasionais com reagentes químicos, palestras, rodas de conversas e capacitações.

COLETIVO SE PLANTE (BA) Atua desde 2016 em Salvador e tem como foco a atuação em ambientes festivos de qualquer natureza. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise e testagens com reagentes químicos.

COLETIVO @TEST (BA) Atua desde 2016 em Salvador e tem como foco levar informações sobre adulterantes encontrados em diversas drogas.

Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise e distribuição de kits de prevenção.

COLETIVO BALANCEARÁ (CE) Atua desde 2011 na cena eletrônica do Ceará.

Trabalha com: testagens com reagentes químicos.

Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, rodas de conversas e palestras.

COLETIVO AR.TE.CURA (BA)

COLETIVO NOOSFERA (RN)

Desde 2014, foca em festas de qualquer natureza.

Coletivo que se encontra em fase embrionária na cidade de Mossoró. Tem pretensão de atuar na cena eletrônica da região e fortalecer laços com outros coletivos.

Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, terapias alternativas como a meditação, técnicas de respiração e jogos lúdicos.

52

RECIFREE (PE) Atua desde 2016 na cena eletrônica de Recife.

djmagbr.com


COLETIVO CELEBRATE (RN) Atua desde 2013 na cena eletrônica de Natal e proximidades. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, distribuição de kits de prevenção e terapias alternativas como yoga e terapias lúdicas.

COLETIVO LÓTUS (RS) Atua na cena gaúcha desde 2013. Foi inspirado no trabalho de outros coletivos que já atuavam em outros estados. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise e terapias alternativas como yoga e pintura corporal.

ASSOCIAÇÃO PSICODÉLICA DO BRASIL (RJ) Uma das atuações da APB, fundada na cidade do Rio de Janeiro, em 2015, é a promoção de atenção e cuidado em ambientes festivos. Trabalha com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, testagens com reagentes químicos, palestras, capacitações e rodas de conversas.

COLETIVO FIQUE LEGAL (SC) Surgiu em 2013 através de ativistas, e há cerca de dois anos realiza ações no estado de Santa Catarina e grandes festivais nacionais de música eletrônica. Trabalha com: stands informativos, ativismo, testagens com reagentes químicos e aplicativo para disponibilizar informações e resultados das testagens.

VIVÊNCIA REDUÇÃO DE DANOS (SC) Atua desde 2016 na cena eletrônica de Santa Catarina. Trabalha com: alertas ao público sobre os possíveis adulterantes encontrados nas drogas, através de testagens com reagentes químicos e stands informativos.

CHANGA, COLETIVO DE REDUÇÃO DE DANOS (RS) Atua desde 2016 na cidade de Pelotas e tem como foco levar informações sobre uso seguro de drogas. Trabalham com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise e testagens com reagentes químicos.

EGRÉGORA REDUÇÃO DE DANOS (MG) Atua desde 2010 e recentemente introduziu-se na cena eletrônica de Belo Horizonte. Trabalham com: stands informativos, acolhimento de pessoas em crise, testagens com reagentes químicos, palestras, rodas de conversa e distribuição de kits de prevenção. u

djmagbr.com

53


ESTÁ NO

SANGUE TENTANDO LEVAR A ONDA OLD SCHOOL NOVAMENTE PARA A CENA ELETRÔNICA,

THE MARTINEZ BROTHERS ESCALAM NO UNDERGROUND HÁ MAIS DE UMA DÉCADA. AMOR PELA MÚSICA QUE JÁ ESTAVA NOS GENES... Por HERNÁN PANDELO | Fotos GREG SWALES

N

o seu confortável estúdio de Nova York, Steve Martinez nos recebe muito amavelmente para falar sobre o momento que ele está vivendo junto ao seu irmão. “Você precisa que ele também esteja na ligação ou posso fazer sozinho?”, pergunta sobre a presença do Chris na chamada. É que ele não está no estúdio com seu irmão e a comunicação não vai ser tão simples. “Ele ficou preso”, diz rindo. “Foi passar o dia nas montanhas com meus pais, mas caiu tanta neve que ficaram presos. Não podem sair”, explica. Steve não foi. Decidiu ficar no estúdio e responder nossa chamada. Os dois irmãos ainda moram em Nova York, no mesmo lugar de sempre. Os Martinez Brothers nasceram em Manhattan e cresceram no Bronx. Apesar do sobrenome de origem latina, são cidadãos 100% americanos e sua relação com a música eletrônica nasceu com eles. “Basicamente, nosso pai foi o primeiro canal através do qual tivemos contato com a música eletrônica. Ele frequentava os clubes e ouvia disco, escutava Kraftwerk e algumas coisas electro dos anos oitenta”, lembra. É claro, também tinha o rádio e, em Nova York, muita música eletrônica tinha seu espaço. “E, óbvio, a internet. Aí a gente começou a entender mais um pouco, a aprender 54

djmagbr.com

e conhecer detalhes da música eletrônica e como fazê-la. Acho que esses foram os dois canais principais que tivemos”, acrescenta. A influência do pai foi fundamental no desenvolvimento musical dos irmãos. “Ele ama que a gente faça isto! Ficou com a gente em Ibiza neste verão. Adora. Foi o primeiro a nos mostrar o DJing”, diz Steve sobre a relação que eles construíram com o pai através da música. O Seu Martinez está muito orgulhoso e não é à toa. Eles estiveram tocando música por mais de dez anos e hoje são uma das duplas do underground mais respeitadas de toda a cena. “É muito louco que passou tanto tempo. Tudo valeu a pena.” Começaram quase no início do milênio com a ideia de se tornarem DJs. Como Steve afirma, as influências musicais sempre estiveram presentes na sua vida e passaram por todos os estilos musicais e instrumentos. O DJing era mais um instrumento e foi se dando naturalmente, sem muita pressão, como uma coisa orgânica. “Era pura curiosidade para nós”, explica. “A gente tinha tocado todos os instrumentos, passamos por centenas de bandas musicais, e estava na hora de entrar em cheio, porque nos parecia algo completamente cool. Era só isso: curiosidade”, garante. “Mesmo assim, sempre soube que queria ser

DJ. Era algo que eu visualizava. É estranho, mas sempre soube. Não foi que apareceu do nada, mas sempre esteve lá.” Desde esses primeiros passos no mundo eletrônico, a sua vida passou a girar em torno das pick-ups e dos discos, guiados por um pai que oferecia apoio incondicional. Até que o primeiro sucesso chegou com datas e lançamentos, tudo isso junto. “O club onde a gente tocou pela primeira vez foi um club que nós idealizávamos muito quando éramos jovens. Enquanto frequentava a escola, eu desenhava os logos e ouvia os mixes que eram gravados lá. Foi uma coisa muito louca”, começa a contar. “Era o Club Shelter, discoteca lendária da cidade de Nova York. Então, a partir desse dia, acreditamos que íamos conseguir. ‘Se a gente conseguiu tocar no Club Shelter, quem sabe o que mais vamos conseguir?’, dizíamos um para o outro”, lembra sobre aquele grande passo. Aquela apresentação no Club Shelter foi possível porque o Chris entrou em contato com o Dennis Ferrer através do MySpace e acabou convidando para tocar lá. “Ele convidou meu irmão para tocar no Shelter, meu irmão falou de mim, e tudo foi incrível. Tocamos no club às quatro horas da manhã e, desde então, criamos uma excelente relação com o club e, claro, com o Dennis”, detalha.


djmagbr.com

55


56

djmagbr.com


Desde aquela apresentação, as coisas se deram muito melhor do que eles imaginavam. A dupla se consolidou e The Martinez Brothers deu um passo importante em sua carreira. "Depois, construímos uma grande relação com o Dennis. Passávamos muito tempo na casa dele trabalhando em produções e aprendendo. Aí a gente mergulhou totalmente na música, sacou?", nos explica. "Daí em diante, tudo foi trabalhar duro e aprender. Todos esses anos temos estado aprendendo, e ainda continuamos. Continuamos aprendendo todos os dias."

sempre a mesma coisa, mas é bom tocar essas músicas que as pessoas esperam e sabem que vamos tocar", diz. É uma espécie de nova velha escola. Tomando elementos do passado mas ressignificando-os. Alguma coisa assim. "É importante. Hoje, você tem uma música genial, mas você ouve duas vezes e todos já estão pensando na próxima. E, assim, é como se todas as músicas fossem insignificantes. Acho isso ruim, porque há muito esforço em cada música", explica e deixa ver sua paixão.

"O verdadeiro reconhecimento chegou quando nos tornamos regulares em Ibiza, sabe? Ibiza, para mim, mudou tudo. Pessoas que chegam de todas as partes do mundo para ver você, semana após semana, num clube, é alucinante", assegura emocionado. Durante seis meses, já há alguns anos, os irmãos dão aulas de groove na DC-10, uma das grandes discotecas da ilha. "Tanto Ibiza quanto a família da DC-10 foram muito importantes na história da nossa carreira", quer esclarecer. De fato, a residência na DC-10 de Ibiza foi a única que eles tiveram até agora. "Acho que um dos grandes problemas dos DJs hoje é que eles sempre querem tocar o que há de novo, mas acho que, por causa disso, não estamos tendo mais clássicos. Não há DJs que estejam tocando essa música o tempo todo, que faz que as pessoas digam 'o que é isso?'. Os DJs são os que constroem os clássicos. Eles os tornam populares, os tornam conhecidos", expande sua teoria, que envolve seu pai. Quando Steve frequentava o Shelter, seu pai assistia os lendários Larry Levan ou David Mancuso, eles podiam ouvir a mesma música três ou quatro vezes na mesma noite. Não era estranho ouvir isso. Era uma estratégia do DJ para que as pessoas se perguntassem "que track é essa?". "Acho que isso é o que a gente quer trazer para o presente novamente", confessa. É isso que querem fazer com sua gravadora, garante Steve. "Queremos tocar essas músicas que, de vez em quando, chega alguém e pergunta o que é. Claro que os sets mudam sempre e não tocamos

"Creio que é maravilhosa. É uma plataforma espetacular para lançar música. Adoramos receber demos e sentir essa adrenalina de querer testar as músicas para ver se elas funcionam bem", explica sobre a sua gravadora Cuttin' Headz. "É muito divertido. Só queremos lançar boa música. Tudo o que lançamos, tocamos antes feito loucos por muito tempo. As pessoas procuram em todo lado para ver o que que é. E, como já falei, isso é o que queremos conseguir", continua. A gravadora é formada por eles dois, com a ajuda do seu manager Jonas, que colabora

em tudo, e de Matt Tolfrey, DJ e produtor inglês, chefe da Leftroom Records. "O Matt é basicamente o manager da gravadora. É realmente um esforço de equipe. Todos nós fazemos um pouco de tudo, mas sempre é bom ter uma boa equipe e mais de dois ouvidos para escutar. É uma dinâmica excelente e está funcionando muito bem." A gravadora é um completo sucesso e nela abrem espaço para alguns dos seus amigos na indústria, como Guti, o argentino que, enquanto falávamos com Steve ao telefone, assinava uma nova música que será lançada nessa gravadora. "Ele é como um irmão. A gente se conhece há sete anos e se dá super bem. Sem dúvidas, vai ter mais músicas deles na gravadora", garante. E não é a única relação de amizade que chegou no plano musical. Junto ao grande Seth Troxler, criaram uma gravadora mais conceitual chamada Tuskegee. "É uma coisa diferente que surgiu da nossa boa amizade com o Seth. Compartilhamos muitos shows, passamos muito tempo juntos e curtimos. Somos amigos", argumenta. Seth teve a ideia e o nome, e quis somá-los ao projeto. É uma gravadora orientada para um terreno mais diverso. Eles têm sua própria gravadora e Seth também a dele, por isso é uma coisa diferente e querem dar um toque distinto. "Queremos fazer algo único com a Tuskegee. Diferente de todas as gravadoras que existem", explica e esclarece: "Definitivamente, vai ter mais da gravadora e será diverso. Diferente." Com todos esses projetos, parece que não sobra tempo para mais nada! No entanto, são cada vez mais shows pelo mundo todo. "Honestamente, não ligo para o nosso crescimento. Continuamos fazendo o nosso. Estamos apaixonados pelo que fazemos. Nunca fizemos para ser grandes estrelas. Sempre foi porque amamos a música", esclarece. "Acho que o objetivo principal é, obviamente, continuar desenvolvendo a Cuttin' Headz", dispara quando perguntamos pelo futuro. u

djmagbr.com

57


Acompanhado por um grupo de artistas eletrônicos cada vez mais prestigiados, o chefão da Diynamic está passando pela melhor fase da sua carreira. A evolução do seu perfil trouxe a consolidação de uma plataforma para outros DJs que hoje se apresenta como uma das mais bem-sucedidas. Mladen Solomun e o processo que o levou a ser um dos mais procurados.... Por HERNÁN PANDELO

58

djmagbr.com


“N

asci na Bósnia, cresci em Hamburgo e moro em Luxemburgo”, explica Mladen quando misturamos as datas de nascimento e suas primeiras lembranças. Seus pais eram da Bósnia mas se conheceram em Hamburgo. Quando sua mãe ficou grávida, seu pai quis que o primeiro dos filhos nascesse na sua terra, onde ele tinha nascido. “Foi assim que ele e sua mulher muito grávida viajaram para a Bósnia. Era Natal e tinha muita neve e fazia muito frio”, relata o artista. “Duas semanas depois de eu nascer e ter sido batizado em Travnik, meus pais voltaram para Hamburgo, então, realmente, cresci na Alemanha.”

MLADEN

Solomun tem muitas lembranças de sua infância. Especialmente, musicais. “Os sons do rádio estão muito presentes em mim, muito funk, muito soul, sons anos oitenta, música tradicional da Iugoslávia... E eu, quando era jovem, adorava ouvir hip hop e R&B”, diz apaixonado sobre uma época em que a música tinha muito a ver com suas paixões. “Eu era muito novo e não sabia nada da cena. Toda minha energia estava no futebol, minha grande paixão quando criança”, confessa. Aquela paixão começou a crescer em seus primeiros anos de adolescência, quando começou a se interessar pelo mundo das pick-ups e dos beats eletrônicos. “Comecei a mesclar, mas no início era mais hip hop e R&B nos centros juvenis de Hamburgo. Descobri a house music muito tempo depois e aí me topei com uma cena eletrônica que, naquele período, era enorme”, lembra da cidade por um tempo e de um fato específico que marcou um antes e um depois em sua vida. “Da primeira vez que eu ouvi o live set de Antonelli Electr. para a Kompakt fiquei totalmente fascinado. Basicamente, era um techno melódico, coisa assim. Não estava muito longe do house”, explica. Durante sua juventude, o pai de Mladen tinha uma pequena empresa de construção e, em tempos de guerra na Iugoslávia, muitos parentes fugiam para a Alemanha como refugiados. Muitos deles moravam no pequeno apartamento da família, que tentava arrumar algum emprego para eles. “Como eu falava as duas línguas, alemão e servo-croata, me tornei quase que instantaneamente uma espécie de capataz. Fiz isso durante algum tempo. Estava um pouco perdido naqueles dias em que meu pai me obrigava a trabalhar”, confessa. Naqueles dias em que trabalhava erguendo muros de gesso, Solomun garante ter aprendido uma boa lição de vida. “Acho que é uma das razões pelas quais hoje posso apreciar realmente a vida que eu tenho.” “Lembro muito bem de uma noite em Greifwald, na parte leste da Alemanha. Eu trabalhava lá fazia uns três meses e, uma noite, no banheiro de um contêiner, pensei: ‘Tenho que fazer mais alguma coisa. Só preciso de coragem.’ Naquela época, eu tinha obsessão

djmagbr.com

59


por filme. Tive que abrir mão da minha pequena e recentemente iniciada carreira de DJ de hip hop depois que roubaram todos os meus vinis, mas eu não liguei muito, porque descobri que eu queria fazer filmes. Então, com dois amigos, nós fundamos uma pequena empresa e começamos a fazer filmes. Era incrível, mas leva muitíssimo tempo e você tem que ser muito paciente. Quando voltei para a música, percebi rapidamente que a música era o que iria me guiar na vida. O trabalho na construção era sempre meu plano B, caso a música não funcionasse.” Foi assim que, em 2002, ele decidiu começar a fazer suas próprias festas com seu amigo Adriano. Chamaram de DIY porque faziam tudo por conta própria e o ethos era algo assim, como “faça você mesmo” - “Do It Yourself”, em inglês. Começaram com festas a cada quatro semanas para os amigos, só porque queriam fazer uma boa festa em Hamburgo. Claro, ele tocava nelas e tinha mais algumas atuações contratadas. Quase dois anos mais tarde, ele começou a produzir seu próprio material. “Sinceramente, não sei bem por que é que eu quis fazer. Passei diversas fases até que a vida de DJ e produtor chegou a mim. Acho que foi uma coisa completamente natural. Sempre tive grande paixão por música.”

DIYNAMIC

Daí para a frente, sua carreira como DJ começou a decolar lentamente. “Certa vez, eu estava tocando em um club pequeno em Hamburgo e o Kai Frege, da wordandsound, me perguntou qual era a música que estava tocando naquele momento. Fiquei muito orgulhoso porque era uma track minha. Uma das primeiras que eu tinha produzido, realmente. E aí ele perguntou: ‘Você tem mais disso?’. Disse que sim e ele me convidou ao seu escritório. Mostrei algumas tracks a sua reação dele foi muito estimulante”, lembra. Mesmo assim, ele queria fundar sua própria gravadora. Assim, seguindo os passos de sua primeira festa, junto a seu amigo Adriano, eles criaram há dez anos a plataforma discográfica Diynamic. “Basicamente, para poder lançar meu material quando eu quisesse”, resume Mladen. No início, a Diynamic era pequena. Tinha o Solomun, Adriano, H.O.S.H. e Stimming, e era para eles mesmos e as pessoas mais íntimas. Naquele momento, o som predominante na cena era o minimal techno e, embora tivesse um pouco disso nestes artistas, Solomun queria atingir seu estilo próprio. “Eu sentia que podíamos ser mais versáteis e corajosos. Todos nós tínhamos harmonias, melodias e emoções na cabeça e queríamos explorá-las através da música. Foi assim que a Diynamic começou.” Dois ou três anos depois do lançamento da Diynamic, os bookings passaram a ser cada vez mais frequentes e ele podia trabalhar todos os finais de semana, e isso só aumentou. “Sempre houve um crescimento constante. Acho que por causa disso eu consegui me manter otimista esse tempo todo. Quando você começa a tocar, a única coisa que você quer é tocar sempre que possível. Nunca sonhei em me tornar um DJ headliner. Há alguns anos, isso está acontecendo. E isso me ajuda a manter os mesmos objetivos de sempre: ter boa saúde, bons amigos e não me preocupar demais.” Ligada diretamente ao seu crescimento pessoal tem, claramente, a evolução da sua gravadora. A Diynamic se consolidou, como ele, na elite à base de robustas temporadas e um cast cada vez maior e experimental. “A Diynamic me ajudou e eu ajudei a Diynamic. Realmente, não poderia dividir isso e dizer que um fez mais pelo outro, ou ao invés. Ter no selo um rol de artistas como esse, tão talentoso, é genial, e acho que também é fundamental para a

60

djmagbr.com

O MELHOR DO CATÁLOGO da DIYNAMIC . SOLOMUN & STIMMING “FEUER & EIS EP” “Esse foi nosso primeiro pequeno sucesso. As pessoas continuam falando sobre como a track ‘Feuervogel’ que fiz com Stimming foi inspiradora para elas. E foi assim. Esse é o som dos primórdios da Diynamic.”

HOSH “UNDER A FIG TREE EP” “Para mim, esse é o melhor EP que H.O.S.H. já fez. Três tracks potentes e diferentes entre elas. Aqui ficam expostas todas as suas habilidades como produtor.”

KOLLEKTIV TURMSTRASSE “LIKE THE FIRST DAY EP” “O primeiro EP do Kollektiv Turmstrasse na Diynamic é até hoje muito especial.”

DAVID AUGUST “INSTANT HARMONY EP” “Também foi o primeiro EP do David August e o que estourou na cena. Ainda é um grande EP.”

JOHANNES BRECHT & CHRISTIAN PROMMER “VOIX GRAVE EP” “Uma das armas secretas que tenho usado nos últimos meses. É sempre dos melhores momentos dos meus sets. Agora foi lançado pela Diynamic, finalmente. Johannes Brecht está com a gente desde o ano passado e é uma pessoa incrivelmente talentosa. Acho que vão ouvir muito dele no futuro.”

ADRIATIQUE “LOPHOBIA EP” “Este EP definiu o novo som e o novo caminho de Adriatique. Grande disco que foi muito importante para o desenvolvimento da dupla.”


Diynamic que minha carreira esteja indo bem”, confessa com visão interna de um dos seus maiores projetos, transformado em uma das maiores agências do mundo da música eletrônica. “Não penso muito nisso, mas é verdade. Quando eu, o H.O.S.H. e o Stimming começamos, estávamos muito longe de pensar que, dez anos depois, iríamos ter um grupo tão grande. E foi assim. Poder viajar pelo mundo todo com showcases onde só se apresentam artistas nossos é muito especial e me enche de orgulho.” Percebemos que ele está orgulhoso com o que conseguiu e, uma ou outra vez, ele lança essa ideia. Curte o fato de escolher a música que vai ser lançada, poder aconselhar os seus e cuidar de suas carreiras. Além disso, é claro, desfruta de uma equipe de management que, visivelmente, tem tudo para ajudar qualquer um a crescer. “Não se trata apenas de lançamentos. Acho que nosso sucesso tem a ver com a gente ser um coletivo que cresce junto, um se apoiando no outro.” “O principal objetivo foi, e sempre será, lançar boa música de artistas incríveis. E suponho que isso não vai mudar ao longo dos anos. Vamos continuar trabalhando com nossos artistas, crescendo, desenvolvendo suas carreiras e trabalhando em novos conceitos.

SOLOMUN

“Já se passaram 15 anos, sinto que fui abençoado”, ele diz muito à vontade e analisa. “O som mudou... A house music se tornou mais lenta e profunda. Além disso, o techno foi se misturando com coisas mais românticas e emocionais. Mas é uma coisa que continua mudando permanentemente e, seja lá onde eu for, vou encontrar qualquer tipo de gênero. Por isso amo tanto a cultura eletrônica que nós temos: ela funciona a nível global e tudo está acontecendo, neste momento, em algum lugar diferente.” Essa proliferação é vivida por ele mesmo há um tempo. Como ele disse, leva quinze anos ter uma carreira abençoada pelos sucessos. “Antes era diferente. Uma coisa é certa: eu tinha muito mais tempo para produzir, porque não viajava tanto como nos últimos anos”, explica. Esse tempo o levou ao lançamento do seu único álbum de estúdio, chamado “Dance Baby”. Ouviram? É uma forma interessante de ver o que Solomun fazia há sete anos, quando sua carreira estava em ascensão, mas ainda não era possível dizer que era um dos grandes DJs do momento. “Tinha uma boa sequência de músicas e pensei ‘ok, esse poderia ser o momento de lançar um álbum’”, lembra. Muito tempo se passou desde aquele trabalho. Para ele, os álbuns funcionam como grandes trabalhos exibicionistas, que podem conter boas imagens que perdurem no tempo. Mas ele respeita esse tipo de trabalho. “Acho que você deveria fazer se tiver alguma coisa a dizer. Também pode fazer como, por exemplo, o Die Antwoord da África do Sul. Eles só lançam singles e os acompanham com vídeos incríveis”, exemplifica. Do nosso ponto de vista, ele se dá muito bem com os incríveis edits que, de tempos em tempos, veem a luz. Neles, ele sempre consegue capturar a essência das músicas e dar seu toque pessoal. “Só procuro bons vocais e, se tiverem algo de especial, desfruto muito retocando”, sorri. O que uma track deve ter para você decidir remixá-la? Ele tem uma resposta. “Um sentimento particular, uma atmosfera especial, certa tensão, um argumento particular, uma voz... sempre é diferente, mas tem uma coisa do sentimento que ele gera. Adoro a voz humana porque transporta você para centenas de emoções, muito mais do que qualquer outro

djmagbr.com

61


solomun

PINGUE-PONGUE CIDADE PARA COMER:

ROMA MELHOR LUGAR PARA FÉRIAS:

CROÁCIA MELHOR PRAIA:

SARDENHA (ITÁLIA) E FORMENTERA (ESPANHA) FILME FAVORITO:

“GATO PRETO, GATO BRANCO” EMIR KUSTURICA

MELHOR LOCAL DE SEU POVOADO NATAL:

A COZINHA DE MINHA MÃE MELHOR SHOW QUE ASSISTIU:

“LA TRAVIATA” NO METROPOLITAN OPERA DE NOVA YORK

SUA MAIOR VIRTUDE:

UNIR AS PESSOAS SEU MAIOR DEFEITO:

OS AFTER PARTIES DIA DA SEMANA:

DOMINGOS DURANTE A TEMPORADA DA MINHA FESTA “SOLOMUN + 1”.

62

djmagbr.com

instrumento que eu conheça. Assim, se o cantor tiver esse toque especial, eu me interesso”, explica. “A último track que tive a sorte de editar foi um de Leonard Cohen, que morreu recentemente. Sua voz, obviamente, era única. Profunda e intensa. Foi interessante a procura do ambiente adequado para uma voz desse porte.” Seus edits viajam pelo mundo inteiro e o sucesso foi tamanho que decidiu reuni-los em uma compilação lançada com remixes que vão de 2008 a 2015. Em suas próprias palavras, foi uma exibição que queria fazer com seus trabalhos já realizados e que foi muito enriquecedora para ele. “Pode parecer estranho, mas eu fiquei surpreso quando comecei a compilação. Tinha algumas músicas que eu tinha esquecido totalmente. Literalmente redescobri algumas das minhas músicas. Acabei dividindo em duas partes, com dois CDs. A primeira, mais vocal e deep; a segunda, com menos vocais e um som um pouco mais rígido.”

GLOBAL

Solomun conduz toda a cena. Ele é um dos mais procurados, dos que mais convocam e dos mais bem-sucedidos. Seus passos causam a maior agitação e ele sabe disso. “Nossa pequena cena eletrônica está crescendo muito a cada ano. Há talentos no mundo todo. As pessoas enviam demos para a Diynamic e, realmente, chegam de todas as partes do mundo. Então vemos um movimento global e, por causa disso, acho que não estamos nem na metade do caminho”, reconhece. Para o bósnio, as coisas mudaram no mundo eletrônico quando os Estados Unidos lançaram o termo EDM e passaram a permitir festivais gigantescos. “Vamos dizer que com sons horrorosos... mas escalas de produção enormes. Isso alavancou o crescimento de tudo. Agora, com esse crescimento, também tem os clubs e, claro, artistas do mundo todo.” Por isso aconteceu em nível global. Hoje, os artistas novos têm mais ferramentas para se tornarem conhecidos, como as redes sociais. Em teoria, analisa, é mais simples que quando ele começou. “Como artista novo, a gente quer ter todo o feedback possível sobre o que a gente faz. Isso fica mais fácil com as ferramentas atuais, como o Soundcloud, por exemplo”, aponta e, por sua vez, equilibra seus pensamentos. “É claro, há milhares de artistas querendo ser ouvidos, por isso eles têm que aprender a chamar a atenção.” Isto, sem dúvidas, ele experimentou em sua posição de A&R na gravadora. “A gente aprende muito sobre a indústria e, se você fizer um bom trabalho com outros artistas, e eles têm confiança no seu gosto, nunca vai acontecer de maneira negativa”, explica. Mergulhado na conversa. Apaixonado. O que Solomun faz vem do mais fundo. “Filmes, música, arte, moda... Tenho o privilégio de viajar muito. Vejo muitos clubs, aeroportos, carros e hotéis de dentro, mas sempre tenho tempo para visitar museus ou galerias. Essas coisas são inspiradoras para mim”, revela. Ele não tem um processo para atingir a inspiração, ou, pelo menos, não pretende contar para nós. Para o futuro, ele espera que as coisas continuem assim, e seu único objetivo é se manter na vanguarda. “Estou vivendo meu sonho”, encerra. u


Powered By

A VOTAÇÃO DJ MAG TOP 100 CLUBS, APRESENTADA PELA MILLER GENUINE DRAFT, ESTÁ DE VOLTA PARA DAR OS RESULTADOS DEFINITIVOS SOBRE OS MELHORES LUGARES DO MUNDO PARA FESTEJAR. MAS QUEM IRÁ REIVINDICAR O TOPO DESTA VEZ? OS RESULTADOS CHEGARAM! A maior votação anual das casas da música eletrônica está de volta, coletando virtualmente meio milhão de votos de todos os cantos do globo para descobrir as melhores festas para todos os gostos. Nosso dedicado time de autores traçou o perfil de vários lugares - quem tocou, como é o som, qual a decoração, etc - para que você consiga identificar o clube certo quando for viajar. Nós também analisamos os resultados para descobrir o quão diferentes são os territórios: como as questões econômicas, políticas ou culturais estão afetando os clubes, como os gostos por música estão mudando e demais aspectos. A clublândia passou por tempos turbulentos desde nossa última enquete, e os resultados deste ano são um reflexo disso - apesar de não ser da forma que você espera. No Reino Unido, por exemplo, muitos clubes fecharam nos últimos 12 meses, como o Dance Tunnel, em Londres, e o Sankeys, em Manchester, enquanto o lendário Fabric fechou por quatro meses após duas mortes relacionadas ao uso de drogas dentro do clube. A maior casa da capital, Studio 338, pegou fogo e tragicamente matou um funcionário. Nos dois últimos casos, entretanto, o público reuniu-se e colocou ambos os clubs em posições maiores - o espírito de comunidade prevalece! A EDM continua falhando em prosperar no Reino Unido à medida que o país presencia grande foco em clubs underground, com duas novas entradas, o título de Melhor Escalada, e apenas 3 de 13 clubs com queda de posicionamento. Similarmente, cruzando a Europa, a música underground continua dominando, com alguns dos melhores santuários do techno de Berlim ganhando espaço na enquete - bom, afinal, o Berghain agora é oficialmente reconhecido como um espaço cultural! A maior mudança na Europa, entretanto, vem da batalha pelo Mediterrâneo. Uma queda geral na enquete sugere que a coroa de Ibiza pode estar caindo. Uma série de surpresas policiais em clubs e mudanças de diretoria claramente tiveram influência na ilha, apesar de que a Privilege presenciou um salto significativo, posição que

pode aumentar no próximo ano, já que o Carl Cox mudou-se para este club nesta temporada. A Space Ibiza literalmente fechou as cortinas de uma história clubber de 27 anos de idade em outubro - reabrindo neste verão como a Hï Ibiza, parte do grupo da Ushuaia - mas após ter protagonizado a primeira posição no ano passado, será que o club terá uma celebração final no Top 100? A Croácia está em boa forma, com seis clubs fazendo parte do top 50. A nação também abocanhou a estreia com melhor posicionamento, e finalmente chegou no Top 10. Oferecendo sol Mediterrâneo, mar e areia, a praia de Zyrce ainda está em evidência; a área é particularmente famosa pelos festivais baseados em clubs, sugerindo que OS CLUBS DE LAS VEGAS COMPÕEM 31% DOS CLUBS AMERICANOS RANKEADOS

CINCO PAÍSES SUL-AMERICANOS MARCAM PRESENÇA NESTE ANO, DOS QUAIS 66% ESTÃO NO BRASIL

clubs e festivais não devem estar sempre separados, e sim juntar forças para colher benefícios. Em outro lugar, as dificuldades econômicas da Grécia deram um baque nos hotspots de Mykonos. Mudando de continente, a cena americana mantém sua força com 14 clubs na lista deste ano. Os EUA também possuem um novo club - e não é em Las Vegas! Apesar disso, a Cidade do Pecado não está esmorecendo facilmente, com a maioria de seus clubs em boa escalada. A EDM ainda é suprema nos Estados Unidos, mas ao olhar para o sul, a maré está mudando consideravelmente. O Brasil ganha mais uma estreia esse ano (totalizando 8 clubs). Seus clubs de house e techno estão em tendência se comparados aos points EDM - o padrão repete-se no restante do continente sul-americano.

NOVE DE 13 CLUBES RANKEADOS DO REINO UNIDO ESTÃO NO TOP 50

OS CLUBS DA CROÁCIA COMPREENDEM 6% DO TOP 100

3/7 DOS CLUBS RANKEADOS DE IBIZA ESTÃO NO TOP 10

58% DO TOP 100 É EUROPEU HOUVE UM AUMENTO DE 47% NOS CLUBS ASIÁTICOS PRESENTES NO RANKING

OS CLUBS CHINESES CONSTITUEM 7% DO TOP 100 CLUBS 2017

djmagbr.com

63


Powered By

Globalmente, a maior mudança apresenta-se através do crescimento exponencial na cena clubber da Ásia. Sete novos clubs - quatro na China - juntamse ao ranking neste ano, totalizando 22 clubs pelo continente. Como o usual, a tendência aqui é mirar no dinheiro, com clubs focados na experiência VIP, visuais estroboscópicos e superstars da EDM. A Europa está reinando com quase metade do total de clubs na lista, mas o mercado asiático certamente proporciona uma justaposição interessante. Contudo, a votação dos Top 100 Clubs de 2017 mostra que o mundo dos clubs está forte somo nunca! Vire a página e rufe os tambores...

100

CHINESE LAUNDRY

20

SYDNEY, AUSTRALIA

CAPACIDADE: 800 | CHINESELAUNDRYCLUB.COM.AU

99

NOVA ENTRADA

HIDDEN

MANCHESTER, UK

CAPACIDADE: 700 | HIDDEN.CLUB

98

20

DRAGONFLY

JAKARTA, INDONESIA

CAPACIDADE: 400 | ISMAYA.COM/DRAGONFLY

97

NOVA ENTRADA

SOS CLUB

HANGZHOU, CHINA

CAPACIDADE: 2000 | CLUBSOSHZ.COM

96

SPACE IBIZANEW YORK

3

NEW YORK CITY, USA

CAPACIDADE: 1400

95

CODA

TORONTO, CANADA

39

WOMB

TOYKO, JAPAN

CAPACIDADE: 1200 | WOMB.CO.JP

93

SPACE CHENGDU

CHENGDU, CHINA

CAPACIDADE: 1300 | CHINASPACECLUB.COM

92

NOVA ENTRADA

ONYX

BANGKOK, THAILAND

CAPACIDADE: 2300 | ONYXBANGKOK.COM

91

NOVA ENTRADA

SPACE ONE

BEIJING, CHINA

CAPACIDADE: 500 | FACEBOOK.COM/SPACEONEBEIJING

90

07

X2

JAKARTA, INDONESIA

CAPACIDADE: 3500 | X2CLUB.NET

89

NOVA ENTRADA

ZIG ZAG

PARIS, FRANCE

CAPACIDADE: 1200 | ZIGZAGCLUB.FR

88

NOVA ENTRADA

SKY GARDEN

KUTA, BALI

CAPACIDADE: 5000 | SKYGARDENBALI.COM

87

53

ARMA 17

MOSCOW, RUSSIA

CAPACIDADE: 800 | ARMA17.RU

64

djmagbr.com

NOVA ENTRADA

CLUB SECTOR SHENZHEN, CHINA

CAPACIDADE: 1000 | CLUBSECTOR.COM

85

06

LIGHT NIGHTCLUB LAS VEGAS, USA

CAPACIDADE: 2000 | THELIGHTVEGAS.COM

84

04

KITTY SU

NEW DELHI, INDIA

CAPACIDADE: 1200 | KITTYSU.COM

83

MAD CLUB

08 LAUSANNE, SWITZERLAND

CAPACIDADE: 1600 | MAD.CLUB

82

41

YALTA CLUB

SOFIA, BULGARIA

CAPACIDADE: 1200 | YALTACLUB.COM

81

12

ILLUZION

PHUKET, THAILAND

CAPACIDADE: 3000 | ILLUZIONPHUKET.COM

80

10

CÉ LA VI SINGAPORE

CAPACIDADE: 900 | SG.CELAVI.COM

79

AGEHA

TOKYO, JAPAN

69

32

MATAHARI

SANTA CATARINA, BRAZIL

MATAHARI.COM.BR

Uma coisa que une os clubs brasileiros é a sua localidade; ainda não é comum encontrarmos espaços que são simplesmente mágicos para festejar na América Latina. O Matahari certamente entra nesta categoria: fica na área de uma antiga fazenda no topo de um morro, com um layout esparramado que faz áreas indoor e outdoor difíceis de se diferenciar. Tudo em volta dele é uma selva exuberante, fauna e flora, e o main stage está envolto em não menos de dez cabines diferentes, toda a casa sendo parte do sound system. Além das belezas naturais estão os disparos incrivelmente grandes de CO2 e confetes, assim como um painel de LED enorme no teto que reage à música e se torna outro ângulo para acionar suas sinapses. Os line ups misturam muitos artistas locais com big names convidados ocasionalmente — Michael Campbell, Gui Boratto, Dimitri Vegas & Like Mike, HNQO e mais vieram à mente — em festas temáticas que geralmente acontecem aqui, incluindo o ano-novo, The White Party, e festas mais sunset ao longo do ano.

CAPACIDADE: 2400 +

CAPACIDADE: 550 | CODATORONTO.COM

94

86

78

NOVA ENTRADA

PANAMA

AMSTERDAM

CAPACIDADE: 1100 | PANAMA.NL

77

50

SANKEYS IBIZA IBIZA

CAPACIDADE: 2200 | SANKEYSIBIZA.INFO

76

08

MODO ULTRA CLUB BEIJING, CHINA

CAPACIDADE: 2000 | FACEBOOK.COM/CLUB-MODO

75

14

RAZZMATAZZ BARCELONA, SPAIN

CAPACIDADE: 4000 | SALARAZZMATAZZ.COM

74

03

LA HUAKA LIMA, PERU

CAPACIDADE: 1000 | LAHUAKA.COM

73

59

PARADISE CLUB MYKONOS, GREECE

CAPACIDADE: 5000 | PARADISECLUBMYKONOS.COM

72

05

REX CLUB PARIS, FRANCE

CAPACIDADE: 800 | REXCLUB.COM

71

11

FOUNDATION SEATTLE, USA

CAPACIDADE: 550 | FOUNDATION-NIGHTCLUB.COM

70

07

TRESOR

BERLIN, GERMANY

CAPACIDADE: 1500 | TRESORBERLIN.COM

68

02

DRAI’S

LAS VEGAS, USA

CAPACIDADE: 4500 | DRAISLV.COM

67

02

MINT CLUB LEEDS, UK

CAPACIDADE: 550 | MINTLEEDS.COM

66

36

AIR

AMSTERDAM, THE NETHERLANDS

CAPACIDADE: 1200 | AIR.NL

65

NOVA ENTRADA

STAGE (BH MALLORCA)

MAGALUF, MALLORCA

CAPACIDADE: 4500 | BHMALLORCA.COM

64

12

XOYO

LONDON, UK

CAPACIDADE: 800 | XOYO.CO.UK

63

11

CONCRETE PARIS, FRANCE

CAPACIDADE: 1200 | CONCRETEPARIS.FR

62

06

WATERGATE BERLIN, GERMANY

CAPACIDADE: 500 | WATER-GATE.DE

61

03

LUX FRAGIL

LISBON, PORTUGAL

CAPACIDADE: 1500 | LUXFRAGIL.COM

60

09

VERSUZ

HASSELT, BELGIUM

CAPACIDADE: 3000 | VERSUZ.BE


Powered By

59

15

GUENDALINA

SANTA CESAREA TERME, ITALY

CAPACIDADE: 4000 | GUENDALINACLUB.COM

58

06

COLOSSEUM CLUB JAKARTA, INDONESIA

CAPACIDADE: 2000 | COLOSSEUM.ID

50 57

48

SIRENA

MARESIAS, BRAZIL

CAPACIDADE: 4000 | SIRENA.COM.BR

No Brasil, a dance music passa por crescimento há anos. Já se ouve dance music nas ruas e nas rádios, e se vê um número crescente de clubs pelo país. Novos selos e produtores continuam a emergir, e a cena está mais saudável do que nunca. Colaborando nisso tudo, está o Sirena, um club que funciona há 23 anos. Seu segredo? A localidade é parte disso: o club está escondido atrás de ruelas de uma comunidade de praia, e uma vez que você entre nele, você é guiado para um conjunto de caminhos em uma plantação. A floresta estende-se à sua volta, há várias áreas open air e palmeiras ao redor do local, e festas sunset costumam dominar aqui. Como de praxe na América do Sul, há um foco na cultura VIP e o club subiu camarotes para os mais endinheirados olharem de cima. A pista principal é gigante e possui um grande sistema em meio a vastas telas de LED, tudo ao som de nomes como Bob Sinclar, Kaskade, Amine Edge & DANCE, John Digweed e Armin van Buuren. É claro que não é tão difícil entender porque este club carrega tanto legado.

56

09

ELEMENTS BEIJING, CHINA

CAPACIDADE: 1000 | ELEMENTCLUB.CN

55

28

VELVET

ASUNCIÓN, PARAGUAY

CAPACIDADE: 1000 | VELVET.COM/PY

54

BEACHCLUB

08 MONTRÉAL, CANADA

CAPACIDADE: 5000 | BEACHCLUB.COM

53

THE PALACE

08 MANILA, PHILIPPINES

CAPACIDADE: 4000-6000 | THEPALACEMANILA.COM

52

LOST BEACH

05 MONTAÑITA, ECUADOR

CAPACIDADE: 5000 | FACEBOOK.COM/LOSTBEACHCLUBEC

51

E11EVEN

22 MIAMI, USA

CAPACIDADE: 1000 | 11MIAMI.COM

06

D-EDGE

SÃO PAULO, BRAZIL

CAPACIDADE: 1000 | D-EDGE.COM.BR

REVIEW: UM GRANDE EVENTO PARA UMA GRANDE MARCA Por WELLINGTON FERRAZ Na primeira quinzena de abril, tivemos a oportunidade de comparecer ao aniversário de 17 anos de uma das marcas mais respeitadas Brasil afora e que nunca para de se envolver em projetos diversos dentro do seu segmento, desde o clube que já é rotina para amantes de boa música eletrônica em São Paulo ao agenciamento artístico que está a todo vapor, e, além de tudo, a inauguração cada vez mais próxima de uma filial no Rio de Janeiro. Nosso #50: D-Edge. O evento foi modesto em chamar-se apenas “D-Edge 17 years”, pois a estrutura oferecida, muito mais que uma festa, era equiparável à de um festival de pequeno porte, algo que combinou certo para uma comemoração tão importante como um aniversário — este que, não bastasse a festa principal que foi até às 10h30 da manhã, também apresentou um Superafter dos mais longos na sede do clube localizada na Barra Funda. Recebendo duas pistas no Estádio do Canindé, a conclusão mais explícita sobre o D-Edge 17 years foi de que o evento talvez deixou muita gente entrar e, em meio a um som com volume moderado e muito calor humano (lê-se: esbarros), acabou tornando às vezes um pouco difícil a experiência ideal de clubbing. Esses fatores foram somados a alguns outros problemas como bebidas acabando horas antes da festa, bares fechando antes do fim do evento e banheiros em condições ruins de higiene. Não é nada que um festeiro veterano não consiga aguentar mas, ainda assim, a superlotação está prestes a se tornar uma objeção comum entre os frequentadores dos eventos da marca, aspecto que, como bem esperamos e confiamos de uma marca tão importante, deverá ser averiguado pela produção. Começando pela pista principal, Muti Randolph brilhou novamente com seus visuais sensíveis à música e, transpondo nos telões os traços geométricos e outras formas que dialogavam em um atraente jogo metamórfico, proporcionou a atmosfera visual ideal para o line-up que se apresentou naquele stage, que incluiu nomes como Nicole Moudaber, Stephan Bodzin, Roman Flügel, BLANCAh e o boss Renato Ratier. Stephan Bodzin é um cara que dispensa

comentários. Dono de um dos projetos musicais mais autênticos atualmente no techno e house progressivo, seu live sempre entrega o suficiente para que o alemão continue sendo chamado de “maestro”. É uma verdadeira viagem sônica que cada vez mais vem agradando a gregos e troianos, até mesmo os menos inseridos na dance music. Antes disso, Roman Flügel demonstrou, mesmo em um horário mais cedo, toda a sua riqueza e bagagem musical com um set que ia do techno mais reto e percussivo ao tech house groovado, do house mais classudo ao progressivo melódico. Nicole Moudaber fez um bom show, mas comprovou sua imprevisibilidade como artista. É uma discussão subjetiva se a forma como a nigeriana toma tempo para desenvolver um set é algo bom ou se é apenas meio “caverna”, mas é de se confessar que, para um amanhecer daqueles, esperava um gás a mais e isso definitivamente traçou uma barreira em relação a shows da Nicole em outros rolês, que foram na maioria um tanto melhores. No D-Edge 17 years, logo após a musa do techno tocou o Renato Ratier, com um setlist diversificado que incluiu momentos-chave para o público, ao mandar faixas como “Araya” do Fatima Yamaha e um remix de “Dead End Thrills”, do Cubicolor. Uma grande estrela da noite, como podem concordar muitas pessoas que estiveram presentes, foi o palco RAWWxROOM. Com estrutura simples mas não menos sofisticada, feita de materiais reciclados e posta debaixo de uma tenda com porte agradável para os amantes do underground, o stage apresentou uma vasta gama de DJs de qualidade inquestionável como Rods Novaes, Amanda Chang, Adnan Sharif, Doriva Rozek e muitos outros, encerrando com uma jam session de vibe deliciosa direcionada aos estilos mais minimalistas do house e techno, em meio ao clima ameno que permeava o Canindé já em horário de café-da-manhã.

49

26

CULTURE CLUB REVELIN

DUBROVNIK, CROATIA

CAPACIDADE: 1500 | CLUBREVELIN.COM

48

STUDIO 338

50 LONDON, UK

CAPACIDADE: 3000 | STUDIO338.CO.UK

47

09

CLUB SPACE

MIAMI, FLORIDA

CAPACIDADE: 2500 | CLUBSPACE.COM

46

SUB CLUB

13 GLASGOW, SCOTLAND

CAPACIDADE: 410 | SUBCLUB.CO.UK

djmagbr.com

65


Powered By

45

NOVA ENTRADA

LAROC CLUB SÃO PAULO, BRAZIL

CAPACIDADE: 5000 | LAROC.CLUB

“SEMPRE UM PASSO À FRENTE”

A PIOR COISA SOBRE O LAROC CLUB É A HORA DE IR EMBORA Por POLLYANNA ASSUMPÇÃO Quando eu soube que Robin Schulz e Jonas Blue viriam ao Brasil em janeiro e que fariam seus shows na Laroc, fiquei feliz. Além de poder ver dois artistas dos quais sou fã, eu finalmente conheceria um dos tais melhores clubs do Brasil em sua melhor forma: com bom line-up e casa cheia. Descobri que a Laroc era mesmo tudo aquilo que me diziam. O sentimento real é de não querer voltar pra casa, principalmente quando se mora no Rio de Janeiro, uma cidade sem um grande club pra chamar de nosso. O conceito de sunset club é diferente ao que estamos acostumados. O club abre às 16h e fecha às 3h, deixando seus frequentadores com gostinho de quero mais e fazendo a clássica pergunta: “onde é o after?”. A casa tem uma pista principal coberta, com 40 metros de vão livre e 16 metros de pé direito, dentro de uma construção de 6 mil metros quadrados. O surpreendente é que mesmo com todo este tamanho, não existe um lugar da pista que tenha o som ruim. Um amigo e eu nos dividimos andando pela pista, procurando algum defeito no som. Falhamos. O serviço cashless também facilita a vida do consumidor. E com garçons prontos pra te ajudar em todas as áreas do club, você pode reunir seus amigos ao redor da sua própria mesinha e se preocupar apenas em se divertir. Mesmo em dias de lotação, os banheiros estão sempre limpos e não faltam produtos de higiene. Impressionada com a experiência praticamente perfeita de diversão, entrei em contato com o sócio-diretor da Laroc, Mario Sergio de Albuquerque, para perguntar afinal como é ter uma ideia como essa, como se mantém esse ideal de projeto funcionando off-circuit no Brasil e quais são os próximos planos pra Laroc. DJ MAG BR: COMO SURGIU A IDEIA DE ABRIR UM CLUB COMO A LAROC? O Silvio Soldera, que é meu sócio no projeto, é proprietário de uma empresa de tendas que atende grandes eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e Tomorrowland. Já tínhamos uma relação profissional bem estreita, em 2014 fizemos a primeira edição do Armin Only no Anhembi. Ali começaram as conversas embrionárias sobre o projeto, pois a mesma tenda é a base deste projeto. A inspiração principal foi a vontade de prover grandes experiências. Sabemos o quanto o público procura por diferenciais e não somente apresentações mecânicas de artistas. Hoje podemos dizer que temos um ‘festival feeling’ e não o de uma casa noturna/club. DJ MAG BR: COMO FOI ESTABELECIDO O PLANO DE NEGÓCIOS DA LAROC? COMO VOCÊ CHEGOU À CONCLUSÃO DE QUE O FUNCIONAMENTO PONTUAL AO LONGO DO ANO É MAIS VANTAJOSO QUE UM FUNCIONAMENTO FREQUENTE? Eu já dirigi outro club anteriormente e o desafio de matar um leão por semana era enorme. Hoje temos eventos diversos acontecendo, e que prejudicam demais o mercado. Muitas vezes pela falta de conteúdo, o atrativo se torna o famoso

66

djmagbr.com

VIP. Hoje em dia é muito difícil você vender ingressos sem um grande diferencial. Com uma abertura a cada 21 dias, podemos aumentar um pouco o tempo de promoção de cada edição. DJ MAG BR: COMO FOI A ESCOLHA DO LOCAL DA LAROC? A região metropolitana de Campinas tem aproximadamente 3 milhões de pessoas e é extremamente carente em eventos de música eletrônica, além de que não há clubs em toda a região. Outro fator é que o público cada vez mais se desloca das capitais para encontrar entretenimento. Não tem como encontrar um lugar como a Laroc sem sair das grandes cidades. DJ MAG BR: VOCÊ É O RESPONSÁVEL DIRETO PELA ESCOLHA DOS ARTISTAS QUE TOCAM NO CLUB? Sim, sou responsável pela produção e direção artística. O principal ponto é ter um equilíbrio entre vertentes e entre nomes consagrados e promessas. Nossa principal filosofia é não sermos rotulados. Quero ter a liberdade de fazer todo e qualquer artista da música eletrônica. Gosto muito de apostar em novos nomes. Já tive alguns êxitos no passado como é o caso de Deadmau5 e Solomun, sendo o primeiro a trazê-los para o Brasil em 2008 e 2009 respectivamente, antes de serem fenômenos. A convicção é que guia essa curadoria. Variações, apostas, testes e obviamente o jogo ganho também fazem parte. DJ MAG BR: QUAIS ARTISTAS VOCÊ AINDA NÃO PÔDE CONVIDAR, MAS GOSTARIA MUITO? Existem alguns nomes que já estivemos muito perto de fechar, mas sempre por fatores externos não pudemos concretizar. Na minha wishlist pessoal tenho Steve Angello, Tiesto, Luciano, Joris Voorn, Maceo Plex, Eric Prydz e Carl Cox. Infelizmente não temos demanda atrativa o suficiente para muitos artistas, para que eles venham e se sintam satisfeitos com as ofertas existentes. Às vezes

preferem fazer um festival do que dois ou três shows em clubs. Acredito que em pouco tempo teremos maior representatividade para isso. DJ MAG BR: COMO VOCÊ CLASSIFICARIA O PÚBLICO QUE FREQUENTA O CLUB? VOCÊ ACHA QUE AS PESSOAS VÃO À LAROC PELA LAROC OU PELA PROGRAMAÇÃO? COMO ESSE PÚBLICO SE CONVERGE? Hoje é resultado de tudo que planejamos lá atrás. Para a inauguração, não tínhamos atrativo algum, sendo um ‘projeto 3D’. Por conta disso apostamos no Nicky Romero. Isso se estendeu por alguns meses quando trouxemos Hardwell, Axwell e Robin Schulz, justamente para que as pessoas nos enxergassem com grande valor. Hoje, após 26 aberturas, podemos dizer que as pessoas já vão pela experiência completa que é ir à Laroc. Fizemos apostas em datas importantes como o aniversário do club, quando trouxemos um artista de grande história na música eletrônica, o Roger Sanchez, mas que talvez não seja um nome tão atual e com grande força promocional. E foi uma noite incrível. Acho que a tendência é essa, acreditarem no club e na filosofia e irem de olhos fechados sabendo que terão grandes momentos. Os públicos mudam muito conforme o tema da noite. A noite do Guy Gerber e outras como James Zabiela e Erick Morillo despertam o interesse de pessoas mais velhas, que sentem falta de propostas como essas hoje em dia. Já o Galantis, que é um fenômeno atual, acaba sendo mais ‘fácil’, pois é quem está na boca da galera. Cada noite tem um sabor diferente e isso é bacana. DJ MAG BR: QUAIS SÃO OS PLANOS PARA O CLUB EM 2017? Em outubro, na festa de aniversário de dois anos, iremos inaugurar um novo Stage Design com formato bem inovador. A ideia é estar sempre um passo à frente.


Powered By

44

16

MYST

SHANGHAI, CHINA

CAPACIDADE: 2000 | MYSTSHANGHAI.COM

43

FABRIK

04 MADRID, SPAIN

CAPACIDADE: 3550 | GRUPO-KAPITAL.COM/FABRIK

42

08

ENCORE & SURRENDER

30

05

MARQUEE LAS VEGAS

LAS VEGAS, USA

CAPACIDADE: 5000 | MARQUEELASVEGAS.COM

29

06

LONDON, UK

MINISTRY OF SOUND

CAPACIDADE: 1555 | CLUB.MINISTRYOFSOUND.COM

LAS VEGAS, USA

10

DIGITAL NEWCASTLE

CAPACIDADE: 1500 | YOURFUTUREISDIGITAL.COM

NOVA ENTRADA

TOBACCO DOCK

LONDON, UK

CAPACIDADE: 5000 | TOBACCODOCKLONDON.COM

39

ENTRADA MAIS ALTA

KALYPSO

ZRCE BEACH, CROATIA

CAPACIDADE: 3000 | KALYPSO-ZRCE.COM

38

PRIVILEGE

14 SAN ANTONIO, IBIZA

CAPACIDADE: 10000 | PRIVILEGEIBIZA.COM

37

15

CAVO PARADISO

MYKONOS, GREECE

CAPACIDADE: 3000 | CAVOPARADISO.GR

36

EGG LONDON

18 LONDON, UK

CAPACIDADE: 1000 | EGGLONDON.CO.UK

35

OUTPUT

13 NEW YORK CITY, USA

CAPACIDADE: 450 | OUTPUTCLUB.COM

34

05

BARBARELLA’S DISCOTHEQUE

PIROVAC, CROATIA

28

12

EL FORTIN

PORT BELO, BRAZIL

CAPACIDADE: 10000 | ELFORTINCLUB.COM.BR

Desde seu começo em 2000, o El Fortin cimentou seu lugar como um dos clubs mais amados do Brasil, apesar da grande concorrência. Além disso, está constantemente crescendo, tendo dobrado sua capacidade desde a última votação e catapultando 12 posições à frente desde 2016. Mais um dos clubs brasileiros que se beneficiam de arredores espetaculares de florestas verdes, a multidão apaixonada do El Fortin festeja com três pistas embaixo de uma grande cabana de madeira. Lá dentro, as batidas — como é a tendência das principais pistas do Brasil — são igualmente sólidos, levando a uma parte com mais credibilidade da música clubber em vez dos sons espalhafatosos da EDM, apresentando realezas do house e techno como Green Velvet, Boris Brejcha, Justin Martin, Claptone e Amine Edge & DANCE, todos fazendo sua mágica dentro dessa choupana super equipada no meio da selva. Há de se reconhecer também a riqueza de talentos dominando a cena clubber brasileiras ultimamente — Vintage Culture, Victor Ruiz e Gustavo Mota são apenas alguns dos nomes que levaram seus sons autênticos ao El Fortin nos últimos 12 meses.

CAPACIDADE: 1500 | THEGARDEN.HR

33

AVALON

09 LOS ANGELES, USA

CAPACIDADE: 1500 | AVALONHOLLYWOOD.COM

32

ENTRADA

PHONOX

55 MAIS ALTA LONDON, UK

CAPACIDADE: 550 | PHONOX.CO.UK

31

13

ANZUCLUB

SÃO PAULO, BRAZIL

CAPACIDADE: 3000 | ANZUCLUB.COM

WARUNG BEACH CLUB

CAPACIDADE: 2500 | WARUNGCLUB.COM.BR

NEWCASTLE, UK

40

04

ITAJAÍ, BRAZIL

CAPACIDADE: 2600 | ENCOREBEACHCLUB.COM

41

25

Nos anos mais recentes, a onda EDM tem saído aos poucos do solo brasileiro, à medida que clubs vêm lutando para sustentar os cachês superfaturados demandados por Top 100 DJs na cara da restrição econômica, revelando uma intimidade forte com os DJs de house. Enquanto os maiores e mais comerciais clubs do país, como Green Valley e Anzu, estão apostando em mega-estrelas brasileiras do house/pop como Vintage Culture e Alok afim de trazer grandes públicos, um club em especial vem importando a nata do house e techno underground muito antes de o 4x4 120BPM se tornar o som do momento para os clubbers do Brasil. Desde 2012, na verdade. Com curadoria do Renato Ratier, dono do D-Edge, nomes como Dixon, The Martinez Brothers e Solomun são regulares por aqui, contribuições para uma política musical que quase sozinha cultiva os valores de qualquer cena decente, tudo isso em uma estrutura espetacular de super-club.

24

AQUARIUS ZRCE

21 ZRCE BEACH, CROATIA

CAPACIDADE: 4000 | AQUARIUS.HR

23

BAUM

06 BOGOTÁ, COLOMBIA

CAPACIDADE: 900 | BAUMCLUB.COM

22

OMNIA

10 LAS VEGAS, USA

CAPACIDADE: 4400 | OMNIANIGHTCLUB.COM

27

EXCHANGE

06 LOS ANGELES, USA

CAPACIDADE: 1500 | EXCHANGELA.COM

26

WHITE DUBAI

23 DUBAI, UAE

CAPACIDADE: 2000 | WHITEDUBAI.COM

Um participante persistente desta votação, a Anzuclub — localizada em Itu, a apenas uma hora de São Paulo — passou por alguns desenvolvimentos bem impressionantes desde que a votação fechou em 2016. Duas semanas depois do Carnaval do ano passado, este lugar, que já foi um restaurante japonês, reabriu com um recente sound system JBL Vertec e cabines video-mapeadas com cara de “pods” na lateral para criar espaço-extra para clubbes na muvuca da gigantesca pista principal. Desde então, em meio a um mar de mãos levantadas e celulares piscando, este

21

ZOUK KL

01 KUALA LUMPUR, MALAYSIA

CAPACIDADE: 5000 | ZOUKCLUB.COM.MY

20

01

MOTION

BRISTOL, UK

CAPACIDADE: 700-3000 | MOTIONBRISTOL.COM

monólito industrial vem curtindo os seus maiores 12 meses até o momento — tanto em termos de tamanho quanto de grande energia. Bob Sinclar, Boris Brejcha, Shiba San (Dirtybird Showcase), Kolombo e Vintage Culture já foram todos bookados para esmagar a pista principal recentemente, e a pista externa (chamada carinhosamente de Pistinha) continua a trazer batidas cremosas de house e techno até o amanhecer. Com a cena de BPMs baixos mais forte do que nunca no Brasil, a Anzu continua sendo uma das luzes do país.

djmagbr.com

67


Powered By

19

05

GUABA BEACH BAR LIMASSOL, CYPRUS

CAPACIDADE: 2000 | GUABABEACHBAR.COM

18

18

ELROW/ROW 14 BARCELONA, SPAIN

CAPACIDADE: 4500 | ELROW.ES

17

11

THE WAREHOUSE PROJECT

(STORE STREET) MANCHESTER, UK

CAPACIDADE: 2000 | THEWAREHOUSEPROJECT.COM

16

09

HAKKASAN LAS VEGAS, USA

CAPACIDADE: 7000+ | HAKKASANLV.COM

15

02

BOOTHAUS

COLOGNE, GERMANY

CAPACIDADE: 1600 | BOOTHAUS.TV

14

06

NOA BEACH CLUB ZRCE BEACH, CROATIA

CAPACIDADE: 4000 | NOA-BEACH.COM

13

01

DC-10

PLAYA D’EN BOSSA, IBIZA

CAPACIDADE: 1500 | FACEBOOK.COM/DC10IBIZAOFFCIAL

12

04

BERGHAIN & PANORAMA BAR

BERLIN, GERMANY

CAPACIDADE: 1500 | BERGHAIN.DE

11

08

AMNESIA

SAN ANTONIO, IBIZA

CAPACIDADE: 4800 | AMNESIA-IBIZA.COM

10

BCM PLANET DANCE

MAGALUF, MALLORCA

CAPACIDADE: 7000 | BCMPLANETDANCE.COM

09

02

PAPAYA

ZRCE BEACH, CROATIA

CAPACIDADE: 3500 | PAPAYA.COM.HR

08

05

ECHOSTAGE

WASHINGTON, D.C., USA

CAPACIDADE: 3000 | ECHOSTAGE.COM

07

03

PACHA

IBIZA TOWN, IBIZA

CAPACIDADE: 3382 | PACHAIBIZA.COM

06

02

USHUAÏA IBIZA

PLAYA D’EN BOSSA, IBIZA

CAPACIDADE: 5000 | USHUAIAIBIZA.COM

05

CLUB OCTAGON SEOUL, SOUTH KOREA

CAPACIDADE: 2500 | OCTAGONSEOUL.COM

04

02

ZOUK SINGAPORE SINGAPORE, MALAYSIA

CAPACIDADE: 4200 | ZOUKCLUB.COM

68

djmagbr.com

03

01

GREEN VALLEY

CAMBORIÚ, BRAZIL

CAPACIDADE: 10000 | GREENVALLEYBR.COM

Localizado em Camboriú/SC, o Green Valley vai completar uma década de liderança no mercado nacional. Acostumada a receber não menos que os melhores artistas do Brasil e do mundo, a casa vem marcando presença entre os três principais clubs no ranking da DJ Mag desde 2011 e, em 2013 e 2015, chegou ao primeiro lugar. Fizemos algumas perguntas ao Juba Jacomino, diretor do Grupo Green Valley, sobre o atual momento do club. QUAIS SÃO OS ASPECTOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO DE UM CLUBE? Acredito que paixão, ética e profissionalismo sejam os principais ingredientes. A paixão é o que te motiva a organizar eventos inesquecíveis, trazer grandes atrações e ir atrás de tecnologias, novidades e elementos que surpreendam o público. A ética é o que te mantém portas abertas no mercado, e o profissionalismo é o que permite transformar sonhos e ideias em realidade. Mas nada disso funciona se você não estiver cercado de uma equipe competente e que preze pelos mesmos valores. DE TANTOS ANOS DE HISTÓRIA, VOCÊ PODE CITAR ALGUNS MOMENTOS DO GV QUE FICARAM NA MEMÓRIA? Nesses quase 10 anos de existência, o club já teve tantos momentos especiais que seria injusto citar um ou outro. Seria mais justo dizer que nada é mais especial do que ver, a cada festa, uma multidão se divertindo e dançando ao som dos seus ídolos como se não houvesse amanhã. Nada seríamos se não fosse pelo carinho do público, e nada nos motiva mais do que ver o sorriso estampado no rosto das pessoas, aproveitando a experiência única que tentamos lhes proporcionar através de muito trabalho e muita dedicação. COMO VEM FUNCIONANDO A INCORPORAÇÃO DA PISTA UNDERLINE_ NO GV? Enquanto a pista principal foca em vertentes mais mainstream, a Underline_ explora predominantemente o techno e o tech House. Um club renomado e relevante como o Green Valley tem por obrigação atender a música eletrônica de forma democrática. Nosso público é formado pelas mais diferentes tribos, e acreditamos que a música não deve e nem pode ser representada apenas por um ou outro segmento. Afinal, nosso compromisso é com a BOA MÚSICA, independente de gêneros. QUAIS OS PLANOS DA GV PARA O FUTURO? Neste ano celebraremos uma década de existência e decidimos comemorar de um jeito bem especial: com 10 grandes festas. As duas primeiras foram realizadas

recentemente e contaram com grandes artistas como Hardwell, Alok e Steve Aoki. Até o fim do ano teremos Vintage Culture e mais outros. Em 2017 realizaremos também algumas tours do Green Valley no Brasil, na Ásia e Europa. Este promete ser um grande ano para nós.

02

14

FABRIC

LONDON, UK

CAPACIDADE: 1600 | FABRICLONDON.COM

01

NON MOVER

SPACE IBIZA

IBIZA, SPAIN

CAPACIDADE: 5000 | SPACE-IBIZA.COM

Todas as coisas boas chegam ao fim, e cara, como a Space Ibiza era uma coisa boa. Por 27 anos (de 1989 a 2017), o club do Peter Rosello reinou sobre o mundo dance com autoridade pioneira. Foi um dos principais motivos que levaram os primeiros peregrinos ravers à ilha, e foi um lugar onde os DJs sonhavam em tocar, pois tudo lá era super-size, desde o próprio club —5 diferentes arenas e áreas com banheiros, três espaços VIP e 600 mil visitantes por ano — até seus line-ups cara de festival. Foi também o único lugar que achamos capaz de ser anfitrião do nosso evento de 25 anos. Você oficialmente colocou a Space Ibiza no topo desta nossa lista anual em 2007, e consecutivamente entre 2011 e 2014, depois em 2016, e finalmente em 2017, sua entrada final. Agora se foi para sempre. Se você nunca foi, não conseguirá mais ir, e se você foi, nunca vai esquecer. Ficar perdido em um das pistas open air no terraço (uma raridade em Ibiza) enquanto os aviões passam acima, com o sistema Funktion One feito especialmente para o club dando socos em meio a italianos, espanhóis, americanos, britânicos e incontáveis outras nacionalidades juntas ombro a ombro, irradiando de orelha a orelha, era uma das experiências mais essenciais da dance music. Foi embora com um estrondo digno de um gigante dos clubs, mas não antes do Carl Cox — residente do club por 15 anos — ter tocado um set especial só no vinil pela primeira vez em uma década. Isso foi no gran finale da sua festa Music Is Revolution e foi transmitida pelo BE-AT.TV para milhões de pessoas pelo mundo. A festa de encerramento aconteceu em outubro com uma maratona do Cox que começou com “At Night”, do Ridney, e terminou com muitas lágrimas ao som de “Wish I Didn’t Miss You”, de Angie Stone, ao meio dia de uma segunda-feira. u


ON THE FLOOR

FERIADO ELETRÔNICO A invasão da cultura eletrônica no Carnaval brasileiro.

T

radição que chega a anteceder os dias do Carnaval propriamente dito, os blocos de rua estão em alta. Este fenômeno, expressão legítima da ebulição cultural que vive o país, não poderia existir nos dias de hoje sem conter em si a cultura eletrônica. Gêneros musicais típicos do Carnaval, mesmo em seus locais de origem, dividem a atenção com a música eletrônica, através de núcleos, selos e produtoras pelo país. Como foi a folia eletrônica Brasil adentro? Por NAZEN CARNEIRO

RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

A capital mundial do Carnaval tem experienciado um boom inesperado: mais de 400 blocos foram registrados este ano, segundo a Prefeitura. De uns anos pra cá, eventos como o Rio Music Carnival trouxeram o movimento da dance music aos holofotes do Carnaval. O Rio Music Conference, que também acontece nesse período, concentra uma agenda de eventos espalhados pela cidade.

Capslock, ODD, Gop Tun, Sonido Trópico, Soulset e MBR são festas que recentemente atraíram atenção internacional e estiveram presentes no trio elétrico do SP Beats, que tocou techno, house, progressive e até tribal. No centrão de Sampa fez sua estreia com mais de vinte mil foliões. O D.EDGE não ficou de fora e trouxe para a avenida o bloco D-Rrete, na Barra Funda, mesma região do club, com “techno de verdade”, gente brincando de boa e curtindo muito.

Do batuque ao groove

Blocos precursores como o Me Gusta trouxeram a cultura eletrônica para o panteão deste movimento que conta com diversos eventos e núcleos como O/NDA e Kode. Já o bloco AME, organizado pela RIO ME, foi o maior evento gratuito de música eletrônica durante o Carnaval do Rio este ano. Realizado no jardim do MAM - Museu de Arte Moderna - o AME levou mais de vinte mil pessoas para curtir o seu extenso line-up com produtores de destaque na cidade, entre eles Flow & Zeo, Amanda Chang, Leo Janeiro, Maurício Lopes e Nana Torres.

Recorde de blocos registrados

Com quase 500 blocos registrados, teve espaço de sobra e todo dia foi dia de eletrônica. Até o Consulado Geral da Alemanha em São Paulo entrou na brincadeira e reuniu cerca de duas mil pessoas para curtir a festa do jeito germânico de ser, com os DJs Dürerstuben e Selvagem. Já o Unidos do BPM reuniu cerca de vinte mil pessoas para curtir L_cio e Renato Cohen em tarde inspirada. A cidade de fato redescobriu o espírito de curtir e ocupar seus espaços públicos com cultura.

djmagbr.com

69


ON THE FLOOR

CURITIBA

Lembrança de 2016 ficou distante

Se Curitiba não é a pioneira do Carnaval Eletrônico brasileiro, ao menos foi a que primeiro lotou suas avenidas, quando artistas como Alok e Illusionize colocaram mais de 100 mil pessoas para dançar na Avenida Marechal Deodoro, no centro da cidade, em evento organizado pela Fundação Cultural curitibana. Infelizmente neste ano o feito não se repetiu - mas mesmo assim o projeto underground Ocu_pa Redoma manteve o espírito vivo, mesmo que em forma de intervenção.

FLORIANÓPOLIS

Clubs unidos e festa na calçada

Em Florianópolis, havia 30 mil pessoas nas ruas para o bloco Acompanha Fritas, que rolou também em Balneário Camboriú no dia anterior com o patrocínio de uma grande marca de cerveja e apoio do Green Valley e do Terraza Music Park. No centro de Floripa foram vários os blocos, e a música eletrônica dominou o calçadão misturada a blocos de outros estilos musicais. O bloco do Jivago com Victor Ruiz e Blancah também levou uma multidão para as ruas.

BELO HORIZONTE Mikatreta na Rua em BH

Neste ano em Belo Horizonte, a iniciativa de destaque foi a Mikatreta, que reuniu festas, coletivos, selos, fervos do país inteiro em dois dias de festa — um na rua e um numa antiga fábrica de açúcar. Dezessete núcleos de várias capitais brasileiras como Mamba Negra, Metanol, Vampire Haus, Sweetuf Records, Music Nerds, Arruaça, A Onda Errada, MASTERp la n o, entre outros, foram divididos em três pistas, das 17h de sabado às 13h de domingo. Cerca de duas mil pessoas fizeram doações que custearam as despesas da festa de rua e a da fábrica.

BRASÍLIA

5uinto Bloco e mais de 40 DJs

Em Brasília, o “5uinto Bloco”, pelo 5uinto (oops) ano consecutivo, foi às ruas apresentar mais de 40 DJs da cidade em dois dias de festa, começando à tarde e indo até de manhãzinha. O som rolou na Praça Central do Conic. Havia um tipo de isolamento que, depois de determinada lotação, permitiu aos organizadores cobrar entrada. Cerca de cinco mil pessoas passaram por ali. Teve também o Bloco do Rabisco e um grito de carnaval num flutuante com a Acqua. n

70

djmagbr.com


ON THE FLOOR

RIO MUSIC CONFERENCE:

O GRANDE ENCONTRO DE MÚSICA ELETRÔNICA NO BRASIL Desde a sua primeira edição, há 9 anos, o Rio Music Conference (RMC) é o evento líder no mercado de música eletrônica e entretenimento da América do Sul.

O

RMC conecta, cria empatia e representa genuinamente os desejos e necessidades de todas as principais regiões do Brasil e dos mercados sul-americanos como um todo. Sua recente edição global no Rio de Janeiro contou com a presença de grande quantidade de profissionais e fãs da dance music durante três dias de atividades. Nas atividades acadêmicas do RMC — palestras, perguntas e respostas, painéis, workshops e sessões breves de coaching — o público assiste a debates sobre temas relevantes do mercado: novas técnicas, novas tendências, novos equipamentos e novas tecnologias apresentadas por líderes da dance music. O evento também promove o RMC Club Week, programação noturna em parceria com clubs da cidade que pode durar até duas semanas, e o festival de encerramento durante os feriados de carnaval, o Rio Music Carnival, de fama mundial, que, nesse ano, teve as apresentações de Afrojack, Dimitri Vegas & Like Mike, Vintage Culture, Illusionize, entre outros. O festival talvez seja um dos eventos mais importantes da cidade para os fãs de música eletrônica. Até hoje, mais de 120 DJs e artistas tocaram em edições anteriores, entre eles Tiësto, Erick Morillo, Luciano, Armin Van Buuren, Sven Vath, Loco Dice, Pete Tong, David Guetta, Fatboy Slim, Steve Angello, Axwell, Kaskade, Booka Shade, Trentemøller, Dubfire, Dave Clarke, Bob Sinclar, Steve Aoki, Dimitri Vegas & Like Mike, Alesso, Ingrosso e Afrojack. Por outro lado, a conferência é focada em três pilares principais: mercado e comércio, arte e música, formação e capacitação, seguindo um modelo bem-sucedido que evoluiu em torno de atividades de negócios e apresentações e shows ao vivo. O debate sobre a profissionalização

e expansão do mercado, a distribuição de conteúdos e a reciclagem de profissionais e sua circulação entre novas tendências musicais, tecnológicas e técnicas, fazem do RMC um grande ponto de convergência para a dance music em suas três principais cidades: Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Nesse ano, para debater as tendências, perspectivas e outros temas relevantes da indústria, foram preparadas seis salas no belo Museu de Arte do Rio (MAR), localizado em uma área turística do Rio em frente ao mar, a Praça Mauá. Representantes de algumas das principais marcas brasileiras debateram sobre a saúde da cena nacional: Green Valley, Warung, D-Edge, Privilège, Ultra Brasil e muita outras, além de marcas latinas como a Aftercluv. Além dos profissionais mais relevantes da cena latino-americana, a conferência teve também convidados internacionais como Mark Lawrence (AFEM), Richard Zijlma (ADE), Roland Leesker (Get Physical), Wade Cawood (Pulse Global), Chiara Belolo (Scorpio Music), Justine Watkins (MALLA), Lee Parsons (Ditto Music), Kristen Agee (411 Music Group) e muitos outros. Desde 2012, o RMC publica o Anuário de Mercado — livro impresso contendo dados e outras informações sobre o mercado do ano que se passou — e realiza o Prêmio RMC, que, em 2017, completa seu 6° ano. O Prêmio RMC é uma celebração que reconhece os profissionais, empresas e artistas de maior destaque do cenário, resultado da votação de mais de 800 profissionais do mercado de todas as regiões do Brasil. O RMC é também um grande evento para DJs e produtores. Sendo grande parte da conferência focada em workshops ministrados por alguns dos mais importantes instrutores,

os DJs e produtores musicais também podem experimentar os últimos equipamentos de marcas como a Pioneer DJ e a Native Instruments; além disso, o terraço do museu foi palco de sets ao vivo de alguns importantes DJs brasileiros. Como principal expoente dos desejos e tendências da indústria da música eletrônica, o RMC incentivou a interação entre DJs, jornalistas, produtores, promoters, anunciantes, empresários e muitos outros setores relacionados ao entretenimento, além de proporcionar o ambiente necessário para a indústria continuar crescendo no Brasil e recebendo parcerias comerciais fortes mesmo em um período economicamente incerto. Tudo isso em meio ao calor e beleza do Rio durante os feriados de Carnaval e a vibrante vida noturna de São Paulo e Curitiba. n djmagbr.com

71


ON THE FLOOR

ACELERADO Rampage, festa anual de Drum & Bass realizada em Antuérpia, reúne cerca de 15.000 fãs e artistas de todos os cantos do amplo espectro abrangido pelo gênero. O quanto deveríamos aprender desse encontro?

Por WHISKY KICKS | Fotos PHILIPPE WUYTS

S

eja que você esteja amontoado como uma sardinha em lata no canto úmido de uma área para fumantes numa noite gelada de sábado ou pegando raiva lendo um monte de exemplares da Helvetica que requerem sua atenção, no maravilhoso mundo da cena de Drum & Bass inglesa parece que você não consegue dançar sem cair em uma discussão. Tem aqueles que discutem pela reutilização de samples clássicos, os que ficam indignados se algum DJ não ouviu falar de todos os outros DJs do planeta e, é claro, o debate interminável e altamente intelectual do “o jump-up é para burros” versus “os que ouvem tech se acham o

máximo”. Vamos lá, Reino Unido, se ligue! No Rampage, o famoso festival de D&B e Dubstep da Antuérpia, toca-se tech e “jump-up” sem percalços, e com os valores de produção enlouquecidos, você precisa acreditar quando a gente diz que isso merece três emojis de fogo. Hans Machiels, conhecido entre os amantes do bass como Murdock, é o respeitado criador do Rampage e, em apenas oito anos, ele transformou este evento, que passou de uma pequena festa para 1000 pessoas a uma peregrinação de inverno com 15.000 amantes do Drum & Buss e do Dubstep do mundo todo. A enormidade do evento, realizado

no colossal estádio Sportpaleis, na periferia da Antuérpia, é alucinante. O line-up é igualmente intenso, e, embora o espetáculo desta noite comece às 19h30, a maioria dos sets dura apenas 45 minutos. Quando entramos no estádio, AMC & Murdock atacam o palco em plena potência com um arsenal quase maléfico de armamento sônico. É sim, as metáforas de guerra que comparam a bass music com artilharia das trevas são batidas, mas dessa vez são verdadeiramente necessárias. O fogo detona no palco em paredes verticais altíssimas e, por trás, uma densa cortina de fumaça refletindo milhares de luzes brilhantes.


ON THE FLOOR

A música para e o Youthstar MC recebe no palco a lenda viva das canções, Jenna G; o público enlouquece em um mar de gritos e assobios. Depois de pedir para todo mundo levantar as mãos, ela revela sua voz maravilhosamente poderosa. Ouvir ela fazer uma performance ao vivo de “Makes Me Stronger” é prova de sua longevidade incomparável como vocalista. Sua voz é comovente sem esforço, além de imponente e cativante. Então começa o set do Eptic, as luzes diminuem, o tempo muda e o público pira. Enquanto nossas cabeças se agitam sincronizadamente, como um exército de bonequinhos de cães assentindo freneticamente, quebramos a cabeça tratando identificar a track. Perguntamos para um cara baixinho de boné, mas ele não lembra. Cutucamos a garota na nossa frente que dança em cima de uma cadeira enquanto exala a fumaça do seu cigarro: não conhece. Nos voltamos para um parisiense, o suor

gotejando por seu peito nu: não faz ideia. Nenhuma pessoa, pelo menos ao nosso redor, sabe nem se importa com o nome dessa track nem com quem é o intérprete. Só se importam em vivenciar esse momento particular e com a energia esmagadora de 15.000 pessoas dançando ao mesmo ritmo sincopado. Uma metade do Mind Mortex pula animadamente pelo palco, absorvendo a positividade intoxicante de cada átomo de ar. Ele solta uma intro especialmente preparada para seu set, logo depois

do Loadstar e do DC Breaks em um back-to-back colossal, até que seu poderoso set chega ao fim, a energia continua aumentando, e o próximo show não deixará ela cair. SaSaSaS ataca o palco e bate com uma torrente de bons compassos que todos nós adoramos, junto com uma soundtrack de discos de acetato novos e alguns clássicos modernos, como “Ready Or Not”, do ano passado. O show Outer Edges, de Noisia, merece todo o reconhecimento que tem recebido ultimamente, e a capacidade do trio para adaptar a produção a qualquer local é realmente impressionante. Nós todos amamos esse grupo e todos nós sabemos o que ele entrega. Paisagens sonoras totalmente imersivas e uma produção incrível: tiramos o chapéu! Doctor P, Funtcase e Krafty MC entram no palco, com o público totalmente exaltado e o estádio ainda repleto de gente, e tocam tracks como “Vibrate”. As luzes giram, as bebidas caem e cada gota perdida vale totalmente a pena. No Reino Unido, o D&B e o Dubstep são seus bebês: será que é por isso que estamos tão nervosos e somos tão protetores? Será uma mentalidade purista ou apenas o absurdo da política divisiva em que todos nós vivemos hoje? Seja qual for o motivo, a gente tem que parar e pensar... Vimos o outro lado, estádios lotados de pessoas dançando juntas. Isso é o que pode ser atingido quando uma cena inteira é tratada como uma entidade e recebe o respeito que ela merece. n djmagbr.com

73


ON THE FLOOR

RENDA Será que Londres teve seu momento Berghain com a inauguração do novo superclub Printworks em fevereiro?

Por ROB MCCALLUM | Fotos DANNY NORTH

L

ondres entrou em um novo capítulo da sua história clubber com a abertura do Printworks no último mês de fevereiro. Este colossal espaço de vários quartos, localizado em Canada Water na cidade britânica, foi testemunha de um back-to-back estendido com Seth Troxler, The Martinez Brothers e Loco Dice, em seu main room com capacidade para 2500 pessoas. A opção musical não era a mais ousada – apesar de que no futuro haverá line ups um pouco mais arriscados – e, por ser a primeira vez que os proprietários tiveram a possibilidade de testar o espaço lotado de gente, o sistema de som deixou muito a desejar. Um dos integrantes do staff da DJ Mag teve que tirar os tampões dos ouvidos mesmo tendo permanecido no fundo, pois o calor humano absorvia muito som. Porém, o mais emocionante para a cena londrina era tudo o que girava em torno da abertura do local. É possível que não tenha se passado muito tempo da revogação da licença da Fabric, após as duas mortes relacionadas ao uso de drogas que ocorreram nesse espaço, decisão que chocou toda a comunidade clubber. Mas muitas coisas mudaram. O sentimento, naquele momento, era que, se uma casa noturna considerada o farol das boas práticas em uma indústria cheia de maus operadores era fechada, que esperança os outros espaços de Londres podiam ter? Depois que outros clubes fecharam em 2016, o acondicionamento de um local para música eletrônica na capital londrina passou a representar um grande risco, com o fechamento da Fabric apresentando-se como uma bifurcação no caminho da economia noturna de Londres. A situação jogou luz sobre um problema já existente que levou ao fechamento de 50% dos clubs e 40% dos espaços musicais na cidade nos últimos oito anos, devido aos diferentes aspectos que são considerados para equilibrar as necessidades do público, organizadores e entidades que devem garantir segurança. A campanha da Fabric #saveourculture teve 74

djmagbr.com

muito apoio já no seu lançamento, com quase 100 mil euros arrecadados em quatro dias, atingindo mais de 330 mil no momento de finalização da campanha. Artistas assíduos da casa, como Jamie Jones, Seth Troxler, Andy C e Eats Everything, fizeram generosas doações mas, talvez ainda mais interessante, foram as doações de outros promoters e espaços da cidade, incluindo o The Columbo Group – representantes de clubs como Phonox, XOYO, The Nest e The Old Queen’s Head – The Box Soho e The Warehouse Project. Os principais concorrentes da Fabric se uniram em prol do seu resgate, o que fez os promoters Londres passarem a ser vistos como um coletivo geral que procurava salvar a cena noturna como se fossem um só corpo.

ANTES

DEPOIS

Isso teve seu impacto na Câmara Municipal, onde o prefeito Sadiq Khan se ocupou em restaurar o selo de “cidade 24 horas” para Londres, se unindo ao primeiro Czar da Noite, sob a responsabilidade de Amy Lamé, e nomeando o advogado da Fabric, Philip Colvin QC, presidente do comitê noturno. Com a decisão reabrir a Fabric, o Parlamento convidou os advogados do club de Farringdon para oferecer evidências escritas sobre o licenciamento ao comitê, e foram entregues recomendações para modificar a lei, orientando a maneira de lidar com conflitos como o vivido pela Fabric. Os esforços para salvar a economia da vida noturna de Londres são similares às medidas tomadas pelas autoridades em Berlim há 20 anos, quando a comissão de clubes se organizou para proteger os seus interesses. Nos anos seguintes, a cidade se estabeleceu na vanguarda da cena internacional, enquanto clubes e locais prosperavam em um ambiente que cultivava a vida noturna ao invés de estigmatizála. E quando o Berghain abriu em 2004, rapidamente se tornou uma bandeira de toda a explosão de clubs na cultura noturna. As ações recentes realizadas pelas autoridades responsáveis pela economia noturna de Londres têm como alvo o desejo de todos nós: que esta

floresça novamente. Após um curto período, no qual clubes como The Bridge, The Pickle Factory e Phonox abriram, o mega espaço Printworks, com capacidade para 5000 pessoas, diferencia a cidade de Londres enquanto a capital entra em uma nova era, em que os investidores podem confiar no momento de investir na economia noturna londrina. Assim, depois de ter estado na beira do precipício, a cena de clubs em Londres reavivou-se e parece estar atravessando uma nova e brilhante etapa. n


ON THE FLOOR

A SOBREVIVÊNCIA DE S U R V I V A L A DJ Mag visita o Village Underground em Londres para ver se a banda de synthwave S U R V I V E está à altura de sua nova fama. Por WHISKY KICKS | Fotos PHILIPPE WUYTS

A

veloz ascensão da notoriedade da banda de synthwave S U R V I V E, oriunda de Austin, é em grande parte devido ao trabalho de dois de seus membros na épica trilha sonora da famosa série de ficção científica Stranger Things, ambientada na década de 80, indicada na categoria Melhor Música Original/ Trilha Sonora do Grammy de 2017. O show desta noite no Village Underground faz parte da primeira turnê importante da banda pela Europa antes de sua apresentação no Coachella e no Movement Detroit nesse ano, mostrando o enorme sucesso da banda em sua inclusão no mundo mainstream. Para seu show na capital do Reino Unido, além

de Kyle Dixon e Michael Stein, a dupla que trabalhou na trilha sonora, estão os outros membros fundadores da banda, Mark Donica e Adam Jones, e, em torno deles, uma miríade de sintetizadores retrô, incluindo um Roland SH-101, um Korg Mono/Poly e um ARP Odyssey. Os instrumentos da banda são alvo de muita atenção entre os amantes de equipamentos após a exposição que S U R V I V E ganhou com Stranger Things. À medida que as luzes caem e o quarteto entra no palco, vemos que eles são iluminados por um foco de luz branca que cada um carrega na cabeça, parecendo um Kraftwerk da nova

era, e já estão posicionados diante de seu equipamento. A banda toca uma intro lenta e dura, criando uma atmosfera intensa que aumenta sem parar ao longo do show, que inclui reelaborações ao vivo do seu material já editado. Enquanto eles constroem seu synthwave progressivo, o quarteto não tem um minuto de descanso, concentrado-se em suas improvisações sonoras com iluminação estroboscópica e seus refrões construídos a partir de linhas de sintetizadores “rasgantes”. Os membros da banda raramente interagem no palco, absorvidos pelo enorme painel de sintetizadores à sua frente. Ao longo do set, a música muda: passa do som da trilha sonora de um filme épico para Way Out West, como se tivessem atingido o pico do sucesso em 1984 ao invés de em 1999, além de elementos de artistas contemporâneos mais óbvios, como Emeralds, Oneohtrix Point Never e Blanck Mass, apresentando uma paleta sonora totalmente diferente do material composto para Stranger Things. A maior parte do set é ocupada por “RR7349”, o álbum de longa duração do ano passado, além de uma poderosa versão estendida de “Holographic Lands”, o single de 2010, momento de destaque já próximo do final. Apenas um pequeno desapontamento: o show dos S U R V I V E não incluiu nada do material da trilha sonora de Stranger Things, mas, mesmo assim, sua interpretação compassada de synthwave estilo David Lynch sugere uma banda que merece encher espaços até maiores que o Village Underground. Quando o grupo abandona o palco sob a chuva de palmas de uma multidão enfeitiçada durante a maior parte do show, todos os olhares se voltam para Dixon e Stein, que já marcaram sua volta para o estúdio para compor a trilha sonora da segunda temporada de Stranger Things. n djmagbr.com

75




ON THE FLOOR

WOMEN’S MUSIC EVENT Uma plataforma dedicada a elas.

Por ANA CAVALCANTE

O

projeto Women’s Music Event nasceu de um grupo do Facebook – o “Mulheres na Música” — que hoje conta com 700 integrantes do Brasil inteiro, de advogadas especializadas em direitos autorais a técnicas de áudio. A jornalista Claudia Assef e a produtora cultural e advogada Monique Dardenne resolveram ir além e se uniram com a missão de destacar a participação e promover a inclusão de mulheres no mercado da música, um setor ainda muito associado ao universo masculino. A plataforma digital do WME nasceu em dezembro, através do lançamento do portal online, e possui quatro pilares: News, Profissionais, Eventos e Conferência. Nos dias 17 (sexta) e 18 (sábado) de março aconteceu a primeira edição da conferência do WME, onde participaram cerca de 50 mulheres, entre artistas, executivas, jornalistas, técnicas, engenheiras e produtoras. A programação realizou 12 painéis e 6 workshops, além de shows noturnos. Foram vários os temas abordados, como “Como uma música vira hit?” e “Como a música potencializa a exposição das marcas?”, mediados pela Fátima Pissarra, CEO da VEVO Brasil. Em ambos, discutiram-se os hits que estão nas paradas musicais brasileiras e como as mulheres estão se destacando na música sertaneja, um cenário

78

djmagbr.com

ainda muito machista mas que está em constante evolução. O segundo painel tratou de como as marcas — em especial a Pernod Ricard, Heineken, Nike e Spotify - promovem-se através da música, realizando ativações em festivais, shows e festas, além do destaque ao Spotify como a principal plataforma de streaming musical do momento. Entre os painéis mediados por Claudia Assef, quatro mulheres de tribos diferentes (Lei Di Dai – Sound System, BadSista – Bandida, Gabriela Ubaldo – Macumbia, Cashu – Mamba Negra/ Rádio Virusssmas) reuniram-se em torno do tema “Movimentos Urbanos - Da Cumbia ao Techno”. Todas elas são parte do movimento urbano que ocupa os espaços públicos para divulgar seu trabalho e unir as pessoas. Já no “Q&A com a Marina Lima” — coroada Madrinha do WME — um bate-papo informal e descontraído com a cantora passeou pela sua carreira, desafios e parcerias musicais. Alguns painéis chamaram a atenção especialmente pela abordagem dos seus temas, como “Quem manda no seu dial? Em pauta o protagonismo dos artistas nas rádios”, um painel de fácil identificação pessoal para aqueles que trabalham em emissoras de rádio e conhecem os desafios da área, que são mais complexos do que se pode imaginar. O painel “Por trás de um/uma grande rapper tem sempre uma grande mulher”, mediado pela apresentadora Renata Simões, foi formado

pelas mulheres que cuidam da carreira dos rappers Black Alien, Racionais MCs, Rashid, Tássia Reis e Rimas & Melodias. Estas mulheres são consideradas guerreiras por tratar-se de um mercado em que homens estão geralmente à frente dos projetos, mas dependem das mulheres para soluções de suas carreiras, desde a administração da marca do artista às turnês. Por fim, o painel mais aguardado e mais cheio foi “O mercado de entretenimento está chorando ou vendendo lenços?”, mediado pela radialista Débora Pill e com a participação de grandes mulheres por trás de grandes festivais como: Lollapalooza (Leca Guimarães), Popload Festival (Paola Escher), King Festival (Juliana Cavalcanti) e No Ar Coquetel Molotov (Ana Garcia). No sábado também foram ministrados três painéis teóricos com os temas: “Oportunidades que surgem em Editais e Leis de Incentivo. Por onde começar?”, “Imagem é tudo? Comunicação para a música nos dias de hoje” e “Olho na Planilha, Pé na estrada: por dentro da profissão Tour Manager”. Outros três foram práticos: “Synth Gênero”, “Aquecimento Vocal” e “Noções Básicas de Discotecagem”. Na sexta-feira, a cantora Tiê se apresentou antes do último painel, e no sábado, a banda As Mercenárias e as mulheres do projeto Rimas & Melodias fecharam com chave de ouro a primeira edição do WME no Centro Cultural de São Paulo.


ON THE FLOOR Por ARYELA KNOX

TATI PIMONT ARYELA KNOX

DJ, produtora musical e cultural, e coordenadora da escola Musicbit

TATIANA FRANCO

Produtora Executiva e Comunicadora Social - Paralelo Urbano Tive a oportunidade de conhecer as histórias de algumas mulheres que estão por trás das principais rádios do Brasil, e fiquei bastante entusiasmada com as novas possibilidades para as quais a rádio está caminhando hoje. Foi um prazer assistir o pocket-show da Tiê, artista singular e original, que trouxe para o palco além do seu talento, um show descontraído com “participações especiais” das Amoras (sua filha e uma amiga). Eis que chega o painel mais esperado por mim – “Por trás de um grande rapper tem sempre uma grande mulher”. Ali me senti em casa e de frente com pessoas prontas para compartilhar experiências grandiosas de uma caminhada de reconstrução e construção de carreiras, com trabalho duro e enfrentando todas as barreiras existentes. Essas mulheres juntas estão renovando o mercado. Foram 40 minutos (que poderiam ser 2 horas, risos) de um papo inspirador e abrangente. Saí de lá com milhões de novas ideias para aplicar em minha produtora e em minha carreira profissional, renovada com a troca de experiências e agradecida por conhecer mulheres tão guerreiras e que estão fazendo a diferença na cena da cultura de rua.

A verdade é que venho acompanhando o trabalho da Claudia e da Monique já há um tempo, sei do trabalho e das noites sem dormir para construir tudo isso. Já conheci muita gente bacana e muitos trabalhos legais no “Mulheres na Música”. É apaixonante ver como existe um suporte entre nós. Nem preciso citar as muitas mulheres que fazem a diferença com trabalho de qualidade, seja na produção musical, cultural, discotecagem, radialismo, jornalismo, empreendedorismo, etc. Fiz questão de assistir a painéis que de cara não fazem parte do meu dia-a-dia. Meus destaques: Sonia Abreu e toda a sua história encantadora, Marina Lima e seu alto astral, Tiê com um show intimista e muito amor distribuído, o painel com a mulherada por trás da produção de grandes eventos como Lollapalooza e PopLoad, e um workshop super gostoso com a Ana Terra sobre aquecimento vocal. O Music Lab estava disponível a todos, mas as crianças aproveitaram muito esse espacinho. Fui convidada para participar de um painel com a causa Doe Dance, onde conversamos bastante sobre o presente e conheci outras mulheres incríveis e seus projetos. Lá na frente, quando recebermos a décima edição, vou me sentir muito honrada por ter participado dos primeiros passos. Mulheres na música, amor e muita competência.

DJ e produtora cultural Considero o WME um movimento que integra mais do que música. Feito com muito amor por duas mulheres que admiro muito, elas conseguiram reunir no evento mulheres ouvintes e profissionais de várias áreas que passaram com amor e carinho o conhecimento e experiências em vários painéis. Quem foi, teve uma vivência única e especial, com certeza. Além do evento, o WME abrange várias entrevistas exclusivas, matérias e uma comunidade de mulheres batalhadoras em todas as áreas que envolvem música. Sou grata por me sentir parte desse time. Vida longa ao projeto e força para nós, mulheres.

CLAUDIA ASSEF

Jornalista, escritora, DJ e co-fundadora do WME Ficamos muito felizes com o resultado, com o carinho das pessoas e das artistas para com a nossa proposta. Durante os dois dias no CCSP, mais de 600 pessoas, entre público e convidadas, trocaram impressões e experiências, como se vivêssemos numa pequena bolha onde a mulher é a grande protagonista da indústria da música. E, falando em protagonistas, conseguimos reunir mais de 60 profissionais com muita história pra compartilhar, de diretoras de grandes empresas a roadies, passando por todo o ecossistema da música. Também tivemos duas noites abertas ao público com 100% de artistas e equipe técnica formada por mulheres. Shows maravilhosos e DJ sets também. O mais incrível foi ver a participação de homens super interessados e apoiando a nossa causa - sim, porque infelizmente a luta por mais espaço para as mulheres ainda é uma causa e está longe de ser uma página virada. Foi o começo de uma história e foi lindo. Ainda para 2017 temos várias novidades para anunciar. n

djmagbr.com

79


BACKSTAGE

SÓ VIVER NÃO É SUFICIENTE:

VIVER COM MÚSICA É MUITO MELHOR Por LUIZA PAGLIARINI Publicitária

D

e alguns anos para cá, a música eletrônica ganhou a mídia mundial e, apesar do movimento ter crescido naturalmente, também foi impulsionado por grandes artistas pop. Uma das minhas referências é Madonna. Como não amá-la? Sempre à frente das tendências, lançou o álbum “Confessions on the Dance Floor” só com músicas eletrônicas, todas as faixas mixadas, inspiradas na disco music, antes mesmo da música eletrônica tomar as proporções que tomou — isso foi em 2005! É claro que os milhares de movimentos e vertentes sempre estiveram por aí, mas o empurrãozinho da rainha do pop fez uma baita diferença. A partir daí, o movimento foi se moldando conforme as tendências do momento. O big room dominou por um tempo, mas acabou dando espaço para vertentes ligadas à música pop e a batidas quebradas, originadas do hip hop. Os line ups de festivais, mesmo não tendo foco na música eletrônica, estão cada vez mais se adaptando e trazendo grandes nomes para atuar entre artistas de rock e pop e, ao mesmo tempo que o comportamento da música eletrônica chamada mainstream encontra o pop, surge um recente estouro movimentando a cena underground. Quem acompanha a cena sabe que ela está sempre em transformação e percebe que a busca por experiências não é mais novidade. Os clubs, se também não se reinventaram, acabaram ficando de lado. De festivais, cachês milionários e shows de fogos para fábricas abandonadas, locais divulgados no dia do evento, projetos de luz intrigantes. Podemos acompanhar movimentos micro e macro, desde festas de rua até grandes festivais, mostrando que essa mudança de comportamento do público influencia diretamente os artistas, que também buscam inovar no som e nos visuais. Por transformação também passam os produtores das festas ou festivais que, pela concorrência, também precisam apresentar um bom line up e não pecar na experiência. Vale lembrar o papel dos patrocinadores aqui no Brasil, que agregam com

sua marca e a percepção que o público tem delas e, por isso, têm se preocupado em trazer experiências cada vez mais inovadoras para as festas. Mesmo viajando o mundo inteiro atrás de festivais e DJs, me arrisco a dizer que o Brasil é especial e sabe trabalhar a experiência muito bem. O que falta mesmo é dinheiro para produzir grandes e emocionantes espetáculos. E eu sei que nosso público gosta da música eletrônica, mas quer também uma grande dose de emoção. Falando em dinheiro, por que ainda percebemos preconceito tão grande nesse mercado? Como consequência, não existe incentivo, muito menos compreensão por parte da sociedade que não vê futuro nesse mercado que, paradoxalmente, só cresce. É por isso e por tantos outros motivos que a minha paixão pela profissão faz com que o fomento da cena seja minha atividade principal, não importando a que ponta isso possa favorecer. Minha prioridade é conectar pessoas, ajudar iniciantes, espalhar conhecimento e aprender coisas novas que possam se transformar em ferramenta de trabalho e contribuir de alguma forma com a cena de felicidade que estamos merecendo nesse cenário comprometido pelos ditos “homens sérios”. No momento, percebo que estamos passando por uma fase de transição (sim, de novo e constante), onde logo vai estourar uma nova onda que vai nos atrair e nos levar a novas direções. Qual vai ser a próxima moda? Eu não sei, mas estarei lá para sentir a experiência, aprender e compartilhar tudo o que vivi com os amigos e colegas de trabalho. Acredito que é esse meu papel de levar o melhor para todos (seja como patrocinador, seja como público ou seja como artista). Não é fácil colocar um evento de pé, mas a minha mensagem é: tem para todos, sabendo aproveitar, comparecendo, prestigiando, conectando, ajudando o ambiente se tornar cada vez mais profissional.

TE VEJO NO PRÓXIMO FINAL DE SEMANA!

n


BACKSTAGE

CRIATIVO, PROVOCATIVO, PARTICIPATIVO E COMBATIVO:

O NOVO MODELO DE FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA Por FRANCISCO RAUL CORNEJO Sociólogo

Q

uando falamos em festivais, diversas imagens provavelmente vão emergir, seja das concepções ou das memórias do leitor. Para ilustrar a ideia: o seminal Rock In Rio; os bem-curados e corporativos Hollywood Rock, Free Jazz, Skol Beats, Nokia Trends (aqui incluso o divisor de águas que também foi o primeiro Sónar sob essa bandeira) e TIM Festival; a metamorfose das raves em megaeventos do porte de XXXPerience e Tribe; os revolucionários SWU e Tomorrowland, além de outros de magnitude e intensidade similares como Ultra, Electric Daisy Carnival e o recente Electric Zoo.

Os tempos recentes têm testemunhado um fenômeno que distingue os eventos atuais de forma radical daqueles acima citados em um dos poucos aspectos que eles, tão díspares quanto emblemáticos de suas respectivas épocas, tinham em comum: suas dimensões. É evidente que o tamanho se tornou um certo tipo de documento para eles nos últimos anos - a fórmula ideal parece limitar o número de pessoas a 10 mil no máximo - tão distintivo quanto a curadoria atenta aos caprichos de seu público, mesmo que isso significasse explorar os recônditos mais esotéricos do panorama musical de todos os tempos e de todo o globo.

Estes contam apenas alguns entre os mais expressivos. Exemplos abundam, remetendo a períodos específicos da história do entretenimento no país, cada um acabando por se tornar um marco dessa trajetória e tendo seu lugar merecido no panteão de nossas memórias mais calorosas e intensas de experiência musical. No entanto, por mais que o modelo que eles esposaram tenha sido fundamental na proliferação de tipos de musicalidade considerados até então de nicho, ele parece ter encontrado uma certa saturação entre o público que até alguns anos atrás encontrava neles seu modo preferido de escapismo e deleite estético.

A atenção a esses detalhes foi o que fez a já inabalável reputação do carioca Novas Frequências e o êxito retumbante de um festival como o Dekmantel, assim como tem pautado a preocupação de outros consagrados pela sua atenção com o conteúdo e o conforto oferecidos a seus seguidores, como o paulistano Marisco e seu correlato nordestino Mareh, ou mesmo o impecável Warung Day Festival. Devidamente agregados a estes parâmetros fundamentais de sucesso, também está o cuidado com a qualidade acústica e cenográfica da experiência, elementos que nunca foram meros detalhes na realidade cada vez mais sinergética do consumo musical contemporâneo.

MARISCO por Felipe Gabriel

FUTURO LOCAL DO DGTL SÃO PAULO por Alex Batista

DEKMANTEL SÃO PAULO por Divulgação

Ademais, o engajamento com questões sociais e ambientais mais amplas também conforma a identidade de outros eventos semelhantes, como o SP na Rua e seu ímpeto de retomada dos espaços urbanos pela população, o Soma e seu questionamento dos formatos estabelecidos de entretenimento na metrópole e o holandês DGTL, que aterrissou em São Paulo este ano, cuja notoriedade merecida como um dos festivais mais sustentáveis do mundo faz muito de seu renome. Aqui, um amplo espectro de tópicos candentes é recoberto e está intimamente ligado ao que o evento apresenta a seu público. Enfim, o que se pode minimamente inferir destes processos e tendências é que eles revelam uma atenção mais minuciosa com as preferências e exigências de seus frequentadores e isto se reflete diretamente no que é oferecido: menos filas, mais informação, menos excessos e mais refinamento. É o que vemos nestes festivais e outros ainda menores e mais rebuscados que se originaram de festas bem-sucedidas como o da Gop Tun, e os que ainda irão nos agraciar no futuro próximo como o da Troop em Florianópolis e o da ODD em São Paulo.

por Felipe Gabriel

O melhor resultado disto tudo é que, seja qual for sua inclinação musical, há eventos de todo tipo para se refestelar. n djmagbr.com

81




BACKSTAGE

POR QUE TODOS OS INGRESSOS PARA FESTAS DEVIAM SER UNISSEX? Por POLLYANNA ASSUMPÇÃO Label Manager

O

ano é 2002 e eu sou uma estudante de História. Minha então professora de Cultura Brasileira faz uma pergunta que ainda hoje, 15 anos depois, ecoa na minha mente: o que é cultura? Existe cultura superior e inferior? Por que certas culturas atropelam outras? É possível existir uma cultura popular que seja respeitada em meio a um academicismo que só respeita a cultura de elite? Mas principalmente, quem define o que é cultura? A turma inteira se agita e debate sobre o assunto. Uma pesquisa básica em qualquer lugar da internet deixa bem claro: conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social. Poderia também definir como forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais, morais, espirituais (de um lugar ou período específico); civilização. Partindo dessas duas definições, eu me pergunto: existe uma cultura da música eletrônica? E por que em pleno ano de 2017, ainda faz parte da nossa cultura o ato de cobrar valores diferenciados para homens e mulheres em eventos de dance music? Muitas pessoas já me responderam que “sempre foi assim” quando questionei essa prática. Partindo da ideia que cultura é também evolução das tradições e valores morais, não deveríamos como sociedade repensar nossas práticas habituais? A sociedade que vivemos está passando por tantas modificações por uma questão muito simples: a financeira. Mesmo os mais variados

avanços culturais são norteados com o objetivo de ganhar dinheiro. Há quem diga que vivemos grandes avanços sociais, com a crescente aceitação do que é diferente. Vemos inúmeras marcas apoiando cada vez mais causas que até pouco tempo atrás eram restritas apenas à militância. Vemos por exemplo a militância LGBT, que cada dia mais tem sido incluída em grandes campanhas midiáticas de consumo. Porém, essa inclusão acontece por causa do avanço cultural ou por causa da importância do pink money dos gays bem-sucedidos que consomem estes produtos? Seria possível qualquer tipo de avanço cultural não estar atrelado à sociedade de consumo? Perguntei a frequentadores da cena eletrônica carioca sobre a milenar prática de diferenciar preços de ingressos nas festas e ouvi vários tipos de argumento contra e a favor da prática. Algumas mulheres me lembraram de uma das questões mais discutidas pelo feminismo que as fariam ser a favor da prática: mulheres ganham menos e por isso é justo também pagar menos ou nada para entrar numa festa. Também me lembraram da famosa taxa rosa. Para quem não sabe, a taxa rosa são aqueles reais a mais que pagamos em algum produto porque ele foi feito para mulheres. Shampoo, condicionador, hidratante, sabonete, desodorante, lâminas de depilação, roupas, sapatos, e até, pasmem, canetas. Uma vez assisti um vídeo excelente da apresentadora americana Ellen DeGeneres fazendo um monólogo sobre a existência de uma caneta para mulheres. Não faz sentido, produtos que todos os seres humanos usam serem feitos de forma específica para mulheres apenas para justificar alguns reais a mais em seu preço final. Afinal,


BACKSTAGE

quem nunca escutou ou falou que ser mulher custa caro? Custa mesmo. Mas seria ingênuo acreditar que os produtores das festas ou qualquer tipo de empresário pensariam dessa forma. Se o problema fosse as mulheres ganharem menos e serem compensadas por isso, acredito que a solução deve ir mais na raiz do problema e simplesmente cuidar para que nós mulheres ganhássemos o mesmo que o resto da população. A questão é que a cena eletrônica mainstream brasileira é, per se, heteronormativa. E como já diria a música, todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite. Temos aqui uma mistura de todos os cenários: futuros casais heterossexuais interessados em se conhecer, homens que ganham mais e não se importam de prover amor e conforto para mulheres que ganham menos e que estão acomodadas com sua posição de pagar menos ou nada em uma balada, gerando a matemática mais conhecida da noite: que o preço mais baixo feminino é a melhor das moedas de troca. E que, principalmente, para cada homem pagando 100 reais numa festa, existem duas mulheres pagando 50 reais. A matemática sexista é bem simples: a lei de oferta e procura é desde sempre a raiz mais profunda da sociedade de consumo. É interessante observar que esse tipo de prática é muito mais comum em festas ou festivais pequenos, ficando de fora os festivais de médio e grande porte. Não seria muito justificável mesmo festivais grandiosos como o Tomorrowland ou Ultra Music Festival cobrarem preços diferenciados baseados no gênero de seus frequentadores. Imagino o tamanho do escândalo que isso geraria nas redes. Mas por que permitimos então que

essa prática se perpetue nas festas que frequentamos nos fins de semana? Perguntei a Alvaro Marques, curador artístico do Grupo Boiler, por que algumas festas do grupo seguem o preço único e outras festas têm preços diferenciados. Ele me respondeu que a Boiler acredita e apoia a igualdade de gêneros e em seus eventos cobra o mesmo valor para todos, mas que quando produz eventos terceirizados na casa, é obrigada a seguir a filosofia do produtor contratante.

Para mim, na verdade, é novamente uma matemática simples: se homens pagam 60 reais e mulheres pagam 40 reais em um ingresso, por que não estipular que todos paguem 50 reais? Será mesmo que estamos falando apenas de lucro aqui? Até quando vamos fechar os olhos para o fato de que cultura é sim um conjunto de valores de uma sociedade, mas que esses valores estão em constante evolução? Até a cultura da música eletrônica evolui e devemos começar lembrando que somos todos iguais quando o drop explode. n

djmagbr.com

85


BEATDROPS

DESPERTANDO SENSAÇÕES Por VINICIUS LORRAN

O

brasileiro Nato Medrado lança mundialmente o álbum “Without Name” pela gigante holandesa Armada Music, selo do Armin van Buuren. O contrato de exclusividade, feito inédito no país, foi assinado no ano passado e já no início deste ano os primeiros singles começaram a ser divulgados. A partir de agora, Nato Medrado marca a história da música eletrônica nacional como o primeiro brasileiro a fechar um contrato deste porte com a Armada Music. Aos 28 anos, a jornada musical de Nato Medrado vem sendo construída a partir do sentimentalismo traduzido em música mostra toda sua habilidade de contar uma história inteligente, cativante e cheia de referências através de seus diversos elementos. “Esse álbum é fruto de uma evolução constante, trabalhado à exaustão em seus detalhes, mas ao mesmo tempo é despretensioso com a perfeição sonora; a ideia é contar uma história com começo, meio e fim”, explica Medrado. Uma característica comum no som do Nato são os ajustes de humor. Sua atmosfera cativa os ouvintes com facilidade e, ao mesmo tempo, suas batidas temperamentais permitem que as mentes possam passear e desfrutar da vasta gama de referências do artista. “Without Name” é um álbum franco quanto à sua mensagem: “O nome deste meu novo trabalho faz alusão à falta de rótulo ou momento em que foi construído”, conta Medrado. “Without Name” é como um oásis para os amantes da boa música eletrônica. Lançamento em 16 de junho, via Armada Music. 

86

djmagbr.com


BEATDROPS

ESCOLHAS DOS ARTISTAS Por POLLYANNA ASSUMPÇÃO e RODRIGO AIRAF

Marcelo Cic

Amanda Chang

Moxie Raia (Def Jam Recordings)

Lifeforms (Virgin Records)

931 Reloaded

Nesse momento estou ouvindo o álbum da Moxie Raia, chamado de 931 Reloaded. Realmente adorei todas as músicas, mas as tracks que posso destacar é a “On My Mind” e a “Follow Me” com participação do Wyclef Jean. A voz dela é realmente impressionante, acredito que em breve o mundo irá reconhecê-la. Ela acaba de assinar contrato com a Def Jam e seu manager é o Scooter Braun, o mesmo de Justin Bieber e Ariana Grande.

The Future Sound of London Tenho escutado bastante esse álbum pelo amor e curiosidade do som feito por um sintetizador. Esse álbum é ambiente, relaxante, uma delícia de escutar! Tenho escutado vários outros nesse estilo, mas hoje minha dica é essa. Vale a pena conferir!

Lennox Hortale (Mumbaata)

Dirtyloud

Arpejo (Nin92wo Records)

Brighter Future (Big Gigantic)

Monobloq

Minha recomendação é o álbum Arpejo, do brasileiro Monobloq. O álbum é bem sólido, com bastante identidade e uma sonoridade muito boa. Tenho tocado a “Hirta” nos meus DJ sets e, quando nos apresentamos ao vivo com o Mumbaata, tocamos uma versão que fizemos dela toda acústica, que sai em um EP de remixes em maio deste ano.

Big Gigantic

Minha escolha se deu pelo fato de este álbum apresentar músicas de muita qualidade em diferentes vertentes. Além disso, cada track tem um toque de instrumentos orgânicos que me agrada bastante, entre eles sax, trompete, piano e guitarra. Vale pena ouvir.

djmagbr.com

87


BEATDROPS

Alex Justino

Eli Iwasa

Spirit (Columbia Records)

Speicher 95 - Tribute EP (Kompakt Records)

Depeche Mode

Em clima de tour mundial, não teria como deixar de lado o Depeche Mode. Sou suspeito pra falar, pois considero cada disco deles uma obra de arte e este novo não é diferente. Entre os destaques, a track “No More” me chamou muita atenção pela construção e qualidade de produção, além de uma letra muito intensa, que desperta sensações a cada vez que escuto. Recomendo ouvir no volume máximo.

Marginal Men

Skin (Future Classic)

Highs (Sequel One Records)

Lançado em 2016, vencedor na categoria ‘’Melhor Álbum Eletrônico’’ pelo Grammy Awards este ano, com certeza é o álbum que mais me inspira atualmente! Flume é um dos artistas mais originais que eu conheço. Ele consegue ser pop e conceito ao mesmo tempo, abusando de uma síntese única e melodias que emocionam qualquer pessoa.

djmagbr.com

Com a sonoridade característica de Garnier - cinemática, atmosférica e com uma dose certa de melancolia - todas as faixas são perfeitas para garantir momentos épicos na pista e traduzem um pouco do que são os próprios sets de Laurent: musicalidade, emoção, energia e diferentes climas que se desenrolam sem pressa. Dentre os trabalhos mais recentes de Garnier, o Tribute EP é o meu favorite, especialmente a “From The Crypt To The Astrofloor”, uma bomba moody e melódica, do jeito que eu gosto.

Ecologyk Flume

88

Laurent Garnier

CESRV

O paulistano CESRV, ou Cesinha (como é conhecido em qualquer esquina da Bela Vista) é produtor da Beatwise Recordings, do estúdio Flapc4 e da festa Colab 011. Além de ghost de meia dúzia de produtores, se destaca sempre nos estilos em que ataca (Boom Bap, Grime, Footwork, Jungle, etc). Nossas favoritas desse lançamento são “Bang ‘Em Up” e “If You Believe”, que provam que seu novo EP dobra qualquer pista em 160bpm.


TECHNEWS In the Studio - Ellen Allien Texto: MICK WILSON

O MAC

Tenha o novo MacBook Pro super expandido para curtir muito mais. p.90

A MÁGICA DA SAUDADE

A chefe do BPitch Control, Ellen Allien, nos abriu as portas do seu estúdio para falar sobre a produção do seu último álbum de estúdio, “Nost”, como trabalharno estúdio com ideias claras e mais...

Oi, Ellen, como vai? Estamos esperando ansiosamente seu novo álbum! Passou muito tempo desde que você lançou um álbum orientado para a pista de dança. Por que você acabou indo por um trabalho de longa duração como esse? “Lancei alguns EPs nesse período em que saíram tracks interessantíssimas no estilo acid de Berlim. No estilo Allien...” Por que você teve uma fase como essa? Você sente que passou muito tempo até retornar ao formato? “Não, não sinto isso. Simplesmente, eu estava numa fase na qual me interessava lançar singles e remixes, e não tinha nada tão armado para lançar um álbum com uma história no estilo Allien, como agora.” Fale sobre “Nost”. O que você pode dizer sobre ele? Como descreveria? “O som se sente como se você estivesse andando pelas ruas de Berlim, acho. O álbum é muito físico, com tracks que se sentem no corpo e na alma ao dançar. Adoro estar em Berlim no inverno porque é o momento ideal para fazer música e mixar em casa. Durante o inverno, ouço todos os tracks que toquei durante o verão e faço uma grande pesquisa musical; curto muito isso.” O nome vem de saudade, por isso, supomos que há algum sentimento antigo nele. É mesmo? O que deixa você com saudades? Dei esse nome ao álbum porque cada vez que eu toco os clássicos, sinto e me conecto muito com eles, e as tracks funcionam muito bem na pista. Muitas pessoas me perguntam sobre os

clássicos que eu toco e conheço muito bem. Escolher os melhores que eu tocava faz anos é muito emocional para mim, e mesclá-los com a música do futuro tem muito a ver com meu estilo. Gosto de mesclar músicas dos anos oitenta com as mais novas. O DJing, para mim, tem a ver com misturar o melhor de maneira genuína.” Por que você queria que esse trabalho passasse essa sensação? “Para falar verdade, é mágico. Quando eu toco um clássico, fico cheia de emoção e percebo o mesmo no público.” Qual o set up que você usou para a produção de “Nost”? “Produzi o álbum com Hanner Bieler e usamos muitíssimos instrumentos analógicos, entre os que poderia nomear sintetizadores como o Prophet, Arp, Moog, Juno e o Roland 303.” Todaas s tracks foram feitas especificamente para o álbum? Você tem um processo particular para entrar no estúdio? Como você se vira para encontrar o processo criativo? “Todos os tracks foram criados especificamente para ‘Nost’ e, quanto ao processo criativo, primeiro tento experimentar com notas que sei que eu quero usar. No início, sempre há alguma ideia sobre o som que você quer que a música tenha. Fiz um rol com elementos do estilo que eu queria conseguir para este trabalho, incluindo títulos, letras, melodias e linhas de baixos.” Você entrava no estúdio todo os dias? “Todo dia! Da manhã até a noite, cinco dias por semana. É muito importante ficar

o dia inteiro no estúdio sem fazer muitos breaks. Isso, para mim, é perfeito.” Como você costuma iniciar os projetos no estúdio? “Com a letra, as melodias ou as linhas de baixo. Para mim, sempre é melhor ter uma ideia na cabeça ou alguma coisa clara para a qual me orientar, ao invés de entrar como uma tela em branco para ver o que acontece.”

LIBERTE A BESTA

A Arturia lançou uma nova máquina analógica, o DrumBrute. Será que ela é tão feroz quanto aparenta? p.92

Qual o software que você utiliza para a produção? “Utilizo o Logic.” E o hardware, o que você gostaria de adicionar no estúdio? “Acabei de adicionar um lindo Moog 15!” Conte para nós sobre os planos futuros... “Neste momento, estou recebendo os remixes do álbum. É bem interessante ouvir outros ressignificando meus originais. Além disso, vou fazer um single em parceria com outro artista que, por enquanto, não posso nomear. Neste momento, o EP “Body Tracks” de Alan Oldham está saindo pela BPitch e é incrível. Em maio vou me mudar para Ibiza para passar uma outra temporada no DC10 com Circoloco. Adoro esse club e a energia que ele tem. Em Ibiza você sempre encontra gente interessante do mundo todo. Também estou viajando com o projeto vinylism, visito diferentes lojas de discos do mundo e escolho alguns vinis. É uma ótima maneira de entrar em contato com as pessoas em um ambiente mais íntimo, enquanto curtimos a cultura do vinil.” n

PROJEÇÕES: O FUTURO DA ARQUITETURA p.93

O MAPPING DE TODOS OS SANTOS

A ascensão do audiovisual na Bahia. p.94 djmagbr.com

89


TECH Apple MacBook Pro 2017 Texto: MICK WILSON

O MAC Tenha o novo MacBook Pro super expandido para curtir muito mais

T

emos que admitir que, quando recebemos o release do novo MacBook Pro e entramos na fofoca que circulava em torno dele, por um instante, mergulhamos no lixo desses comentários. “Nada mudou”, era o que se ouvia. A tela não é touch? Tem uma touch bar? Não tem plugue para a energia nem nenhuma das “velhas” conexões. Só quatro portas USB 3! Quase pensamos “a Apple deu mancada!” E a gente nem tinha visto a máquina! Sem esquecer do preço alto. Muitas publicações online e impressas decidiram baixar o polegar; entretanto, no escritório da DJ Mag Tech, ficamos orgulhosos do nosso pragmatismo em torno dos novos desenvolvimentos. Afinal, as “mudanças” alavancaram o progresso da música eletrônica até hoje.

Logo quisemos pousar nossas mãos sobre o novo MacBook Pro e, instantaneamente, percebemos que a nova máquina é, na verdade, uma máquina, mais do que um simples upgrade. Quanto ao design, ele agora é apresentado em duas cores: prateado e cinza “espacial”. Em terrenos periféricos, o computador é mais leve. De fato, é um notebook ultra fino, por isso, fácil de transportar. Já ligado, rodando velhos DAWs, aplicativos de música e software para DJs, a gente percebe o quanto eles avançaram com o poder que esse novo MacBook Pro traz.

90

djmagbr.com

MAIOR PODER Nos escritórios da DJ Mag Tech, somos fãs da Mac há muito tempo, e usamos para nossas aventuras criativas desde nossos inícios na era Atari. Não levem a mal: somos fãs da Apple, mas, quando não gostamos de algum dos seus produtos, como aconteceu com o Apple G4 Cube, a gente fala. E para vocês não ficarem bravos, não somos haters do PC e sempre usamos diferentes sistemas e curtimos a experiência. O que a gente tem é um notebook que realmente atende às expectativas no que diz respeito ao poder e ao desempenho. Há alguns anos, o poder que ele nos oferece poderia ter sido comparado com os gigantescos racks que, aos poucos, vão sumindo. Agora, estão se oferecendo computadores sérios, muito poderosos, em tamanhos reduzidos, semelhantes a uma folha A4 O MacBook Pro 2016 é perfeito para DJs, produtores e, na verdade, criativos de qualquer meio. Rodamos um plugin pesado com sessões de produção para o novo Logic Pro X da Apple e o Live da Ableton, e o salto no processamento surgiu como uma obviedade. Todo o workflow em relação ao desempenho do novo MacBook Pro foi melhor. Porém, o problema que enfrentamos é que, tendo saído uma máquina mais poderosa, os fabricantes de software voltam a fazer novos

programas ou atualizar os existentes para, mais uma vez, levar tudo até o limite, gerando essa bola de neve por causa da qual a gente precisa, primeiramente, de um melhor equipamento. Mesmo assim, o lado bom é que alguns softwares se tornam mais eficientes e funcionam bastante melhor que antes, por causa da energia que eles podem utilizar. Superado o fato de as velhas conexões não existirem mais e os usuários terem solucionado o problema dos adaptadores, fica evidente que a Apple tenta dar um passo à frente em termos de conectividade. Quatro portas USB 3 agora podem oferecer novos e poderosos métodos de conexão para hardware adicional e, é claro, outros fabricantes começaram a preencher essa lacuna. O novo formato USB 3 - USB C - troca dados ida e volta em um tempo médio incrível. Não vamos ficar nerds com estatísticas e números, mas o que o usuário acaba obtendo é uma maneira mais rápida de enviar as informações vitais através do seu equipamento. A nova tela de alta resolução é até mais detalhada que a do seu predecessor e, colocando um junto do outro, a diferença é notável. É belo. Ficar de bobeira assistindo séries na Netflix através dessa tela foi o melhor de tudo.


TECH

HATERS Algumas das pessoas que estão lendo este artigo não vão coincidir ou vão reclamar das mudanças, do preço e das outras coisas que já comentamos - e compreendemos isso. Mas, na verdade, quando a gente para para ver o novo MacBook Pro em detalhe, não pode negar que é uma verdadeira fera e avançou muito se comparado com a última edição. As teclas têm um feeling ótimo e a touch bar, uma vez que a gente se acostuma, é realmente boa e inovadora, mudando a forma em que funciona dependendo do software que a gente estiver utilizando. Essencialmente, ela se torna um controlador por conta própria: o display gráfico no visor do Logic e os elementos manuais do aplicativo djay Pro da Algorridim provam realmente o que pode ser feito com a barra. Não há dúvida nenhuma de que certos updates de softwares existentes poderão explorar esta ferramenta e, em termos de operação, tudo poderá ser realizado mais rapidamente. O novo MacBook Pro parece ser orientado a profissionais criativos e heavy users. Para os que estejam procurando

no mercado um notebook Mac não tão poderoso, as novas edições da versão Air oferecerão o mesmo desempenho que os modelos anteriores ao Pro. É óbvio o que a Apple está fazendo: o aumento do preço reflete que o novo modelo dá um salto em relação aos anteriores MacBook Pro e suas prévias encarnações. A nova máquina funciona perfeitamente com o software e o hardware que a gente comumente levaria para o estúdio ou para um show. Nós trabalhamos com ele no nosso estúdio, com a nova interface de áudio Apollo Twin, um Apogee Elements 88 e um monitor de 5k. E o MacBook Pro pode ser diretamente ligado através de um conector USB 3, ideal para encadeá-lo a grande quantidade de equipamentos compatíveis. Este review é uma primeira impressão sobre o novo MacBook Pro. Vamos explorar mais fundo a nova versão do Logic Pro X e a forma em que a nova edição deste grande computador trabalha. Até então, podemos dizer que ele não é nenhuma desilusão. n

LOGIC PRO X O Logic Pro X foi atualizado para explorar as novas características do MacBook Pro. A nova versão do carro-chefe da Apple para a produção agora tem maior poder orientado ao trabalho profissional. O novo modo Track Alternatives permite realizar múltiplos arranjos em um simples track, perfeito para ir testando diferentes ideias, e ideal para projetos de edits e remixes. Outra das grandes novidades é o Selection Based Processing, que permite que os usuários apliquem diferentes plugins de efeitos em qualquer seleção de áudio ou em múltiplos arquivos ao mesmo tempo. O True Stereo Panning adiciona maior profundidade às mixagens. Em geral, a vista geral e o fluxo de trabalho foram modificados para ele ficar um pouco mais profissional. A DJ Mag Tech gosta da nova estética. O display para o usuário é mais claro e visualmente mais agradável. Juntos, o Logic Pro X e o novo MacBook Pro são uma parceria de produção séria.

djmagbr.com

91


TECH

Arturia Drumbrute Texto: MICK WILSON

LIBERTE A BESTA

A Arturia lançou uma nova máquina analógica, o DrumBrute. Será que ela é tão feroz quanto aparenta?

A

Arturia esteve fazendo muito barulho com seus últimos lançamentos no mercado. Seus sintetizadores MiniBrute e MicroBrute são produtos muito bem-sucedidos, aos quais se juntou, recentemente, o MatrixBrute, que ligou o mundo da produção. Agora, temos o novo DrumBrute. Máquina relativamente compacta mas cheia de boas características. O DrumBrute segue o mantra da Arturia, que cria synths com bom som acessíveis para bom número de produtores. Ele vai na mesma direção que seus produtos Mini e MicroBrute, embora esteja faltando o Brute Factor. Um filtro de distorção muito louco que pode ser achado nos outros sintetizadores. Ele acrescenta alguns condimentos e scratches aos sons, mas foi removido deste novo equipamento. Mesmo assim, não é uma mudança importante em relação ao ethos das máquinas de beats da Arturia.

particular. Teria sido mais simples para a Arturia criar um clone da Roland e, embora todos nós sejamos verdadeiros fãs dos clássicos sonsanalógicos das máquinas da lendáriaempresa, é bem refrescante ouvir um com algo de novo sobre a mesa. O clap tem boa presença em frequências médias que se adaptam muito bem às mixagens.

NO BEAT

AGITE OS PANDEIROS

O snare tem um verdadeiro som próprio, com tons que funcionam muito bem na mixagem. Passamos muitas horas -mais do que devíamos- revisando este elemento e, na verdade, soa genial saindo das caixas de som. O clap também é muito prazeroso e tem um som

Não são apenas os sons, pois o DrumBrute tem um sequenciador que permite que o usuário construa padrões e sequências que podem ser usadas ao vivo ou gravadas no software MCC - Midi Control Centre. Muitas coisas podem ser feitas com o sequenciador e o software e isso, além dos sons do DrumBrute, fazem dele uma máquina analógica que pode ser perfeitamente colocada na mesa do estúdio de qualquer produtor ou na cabine de qualquer live performer. n

Como toda caixa de ritmos focada em sons analógicos, o DrumBrute é uma unidade muito bem construída, com muitos botões e bonitos painéis de madeira nos lados. Possui doze instrumentos padrão, desde kicks e snares até percussões, e um pacote de breaks disco com 17 variações. O kick homenageia as máquinas de beats 808 e 909 da Roland, mas não são uma simples imitação. Esses sons no DrumBrute têm identidade própria, embora seja óbvio de onde vem a inspiração. Soam e funcionam muito bem no momento de produzir música eletrônica, e o usuário pode mudar os tons. Isto está disponível para todos os sons do DrumBrute.

92

djmagbr.com

O rimshot e as claves têm bons tons, embora, como já falamos, tudo pode ser modificado girando alguns botões. Os hi-hats fazem um ótimo trabalho, porém tem uma coisa a ser levada em conta: na parte traseira, todos os sons têm saídas próprias com exceção dos hi-hats. Eles compartilham uma saída, por isso, para equilibrá-los, é necessário mexer no painel frontal. E falando em saídas, vale a pena mencionar que elas são todas da variedade mini-jack. Os sons percussivos também têm seus próprios tons. Os pratos têm um timbre metálico que funciona muito bem dentro do espectro musical da caixa em geral. Podem ser utilizados em reversa apenas tocando num botão. Maracas e pandeiros também casam muito bem com o som do DrumBrute. Finalmente, os breaks apresentam sons clássicos da disco music e funcionam exatamente como a gente esperaria.

OPINIÃO Qualidade Facilidade de uso Funções Preço-Qualidade Qualidade de som

8.0 8.0 8.0 9.0 8.0

VANTAGENS

Caixa de ritmos analógica com muito bom som que parece super louca. DESVANTAGENS

Saídas mini-jack. O DrumBrute reúne muitas características em um espaço reduzido e por um preço baixo. É difícil acreditar como essa máquina soa tão bem. Perfeita para a produção de música eletrônica, outra vitória da Arturia.

8.2


TECH

PROJEÇÕES: O FUTURO DA ARQUITETURA Por CHICO ABREU

A

lexis Anastasiou, ou VJ Alexis, é um dos veteranos da cena brasileira de VJs. Diretor da empresa Visualfarm, especializada em locação de equipamentos e soluções técnicas, ele lança seu primeiro livro, intitulado MAPPINGFESTO. O livro traz textos em português e inglês, além de diversas imagens de projetos dos quais o autor participou ao longo da sua carreira, traçando uma timeline da evolução dessas técnicas de projeção e relacionando-as com os equipamentos usados durante todo esse período de evolução.

DJ Mag - Recentemente você foi convidado para participar do Festival Reconvexo. Como foi essa experiência? Alexis - A Visualfarm apoiou o festival com projetores e conhecimento técnico para fazer instalações maiores e com mais qualidade para vários artistas talentosos que se apresentaram no festival. Além disso, criei uma instalação com desenhos de crianças de uma comunidade da cidade da Cachoeira, na Bahia. Cada criança pintou uma folha de papel com a guia de mapping (planta) da fachada de uma igrejinha colonial, e esse desenho era mais tarde projetado na própria fachada - uma espécie de mapping de lápis de cor. Acredito que isso é uma forma de mudar o relacionamento dessas crianças com a arquitetura e com a imponência dessas instituições. DJ Mag - Como você começou e o que te motivou a ser VJ?

avanço da tecnologia está nos levando a uma cidade cheia de imagens no espaço público, sempre utilizando exemplos reais. Acredito que deve interessar a todos que gostam de arte, arquitetura e VJing. DJ Mag - Por que o nome Mappingfesto? Alexis - A base do livro é o manifesto do mapping de São Paulo, onde defendo que as instalações permanentes de projeção irão causar uma revolução na arquitetura semelhante à que aconteceu no vídeo e na música, com o crescimento de ferramentas digitais de produção. Conseguiremos mudar a aparência dos edifícios sem necessidade de reformas, ao menos durante a noite. Vai ser muito divertido. DJ Mag - Conte-nos um pouco sua opinião sobre o futuro da projeção e o impacto que isso pode ter em nossa sociedade. Alexis - Quando comecei a VJzar em festas, usava projetores de 150 ansi lumens. Atualmente uso projetores até 250 vezes mais potentes. Foi um progresso radical; antigamente eu só conseguia projetar em telas especiais pequenas e em locais muito escuros. Atualmente projetamos em prédios, montanhas e icebergs. O próximo passo está se dando com os projetores a laser, que gastam um terço da energia e duram até 10 vezes mais. Isso vai criar espaço para muitas instalações permanentes de projeção e causar uma revolução na arquitetura e no urbanismo. n

Alexis - A minha história talvez seja um pouco diferente de outras pessoas que trabalham com imagem, porque minhas maiores influências são musicais. Comecei a pensar em imagem para pista de dança em 1999, mas foi a música que me abriu para inspirações e ideias. A música e a ayahuasca. DJ Mag - De onde surgiu a ideia de escrever um livro sobre videomapping e colocar em palavras algo que é essencialmente visual? Quanto tempo durou esse processo? Alexis - Faz dois anos que estou trabalhando neste livro. É na verdade um livro bem visual, com 200 páginas coloridas e muitas imagens de projetos que participei. O livro defende um papel cada vez maior do mapping em instalações permanentes de projeção e demonstra como o djmagbr.com

93


TECH

O MAPPING DE TODOS OS SANTOS A ascensão do audiovisual na Bahia. Por CHICO ABREU

A

Bahia carrega uma forte herança histórica e cultural que se mistura com a sua exuberante natureza. A arquitetura de suas igrejas e seus fortes contrasta com o cenário bucólico de suas praias, matas e rios, clima quente, cores vibrantes, a herança africana e indígena. Podemos até afirmar que foi na Bahia que nasceu o Brasil. Os transeuntes que passaram desavisados pelo Pelourinho no sábado, 25 de março, tiveram uma bela surpresa com o Palácio Rio Branco, antiga sede do governo da Bahia, tomado por cores e formas num lindo espetáculo audiovisual. Salvador recebeu o seu primeiro festival de video-mapping, o SSA Mapping. Alvo de um bombardeio efetuado a mando do presidente Hermes da Fonseca em 1912, o prédio do Palácio Rio Branco veio somente a ser reconstruído no ano de 1919. Quem diria que quase cem anos depois este ícone arquitetônico estaria sendo desconstruído por dezenas de artistas visuais? A temática da destruição vem sendo recorrente nos trabalhos de video-mapping mundo afora e é interessante entender que agora ela pode ser representada no próprio espaço físico onde se passou o evento real. Na fachada do palácio Rio Branco, os VJs não apenas puderam contar um pouco da história daquele antigo prédio, mas da história dos índios, dos negros, do Brasil e principalmente da Bahia de todos os santos.

94

djmagbr.com

O festival conseguiu agregar VJs de todas as regiões do país através de uma chamada pública, além de trabalhos de artistas de países como Colômbia, Espanha, México, Chile e Uruguai. A curadoria ficou por conta de Roberta Carvalho, artista paraense que já chamou muita atenção com o seu projeto Symbiosis, projetando rostos de índios em copas de árvores em diversos lugares do Brasil.. Saindo de Salvador, duas semanas depois e 120 quilômetros mais a noroeste da capital baiana, as cidades históricas de São Félix e Cachoeira receberam a segunda edição do Festival Reconvexo Latino-América. Com apenas 34 mil habitantes, Cachoeira abrigou as apresentações do Reconvexo em diferentes locações, incluindo edifícios de arquitetura barroca. A noite de abertura do festival aconteceu na cidade de Cruz das Almas e honrou-se em receber os visuais de um dos maiores difusores da cultura do VJing na Bahia, o VJ Gabiru, que projetou suas imagens ao som de Breno Tsokas, DJ local de Cachoeira. Na curadoria do Reconvexo esteve o VJ Vigas, figura importante em campeonatos de mapping mundo afora. Ele demonstrou novamente a sua obra “Estereóptico 3D”. Dentre os convidados estavam alguns dos maiores nomes da projeção no Brasil, como o VJ Spetto, da United VJs, e o Alexis, da VisualFarm, com quem conversamos agora há pouco.


TECH

Surgido como uma espécie de evolução da projeção cinematográfica, podemos considerar o video-mapping uma técnica relativamente nova. É uma arte que começou a se difundir de uns 10 anos pra cá, principalmente através de vídeos na internet. Mas ainda são raras as oportunidades de assistir a um espetáculo desses ao vivo, e é satisfatório saber que o Nordeste está oficialmente na rota dos festivais de tecnologia. n

djmagbr.com

95




COLABORADORES DESTA EDIÇÃO ALAN MEDEIROS Itapema - SC Editor-chefe no Alataj / Manager na Beats n’ Lights Referências: Bonobo, Tom Trago, Nicolas Jaar, Mall Grab, Caribou

CHICO ABREU Niterói - RJ VJ / DJ Referências: Aphex Twin, Four Tet, Dub Phizix, Solid Groove, Disrupt

AMALHA DOMINGUES Boa Vista - RR DJ, produtora de eventos e social media Referências: Aninha, Renato Ratier, Bernard Teixeira, Bruna Calegari e Jejê

FELICIO MARMO São Paulo - SP DJ / Professor na DJ Ban / Pesquisador e escritor freelancer Referências: Marc Spence, DJ Zinc, Roska, Flava D, Kaytranada

ANA LUIZA CAVALCANTE Belo Horizonte - MG Analista de Comunicação, Marketing e Social Media na It’s Shooow Time / Community Manager no Projeto Pulso Referências: deadmau5, Moby, Groove Armada, Goldfish, Claptone

NAYARA STORQUIO Brasov - Romênia Jornalista / Redatora na Stereo Minds Referências: Armin van Buuren, Above & Beyond, Eric Prydz, Steve Angello, Martin Garrix

ANNY BRITO Aracaju - SE DJ na Tropical Beats / Embaixadora do Rio Music Conference / Colaboradora da House Mag / Produtora de eventos Referências: Flow & Zeo, Magda, Anna, Joyce Muniz e Nina Kraviz

NAZEN CARNEIRO Curitiba - PR PR Manager na NZPR Referências: Lena Willikens, Chris Liberator, Sven Väth, Anderson Noise e Mau Mau

ARYELA KNOX São Paulo - SP DJ e produtora musical / Coordenadora da escola de artes sonoras Musicbit Referências: HVOB, Blancah, Edit, Dizharmonia e Trentemøller

SALOMÃO AUGUSTO Goiânia - GO Produtor cultural e manager de casting na JUNTA (Goiânia) / Coordenador da divisão de projetos especiais do selo Solta (São Paulo) / Pesquisador e escritor freelancer

Referências: Amon Tobin, Siriusmo, Clap! Clap!, Leo Justi e Balkan Beat Box

BRUNA ANTERO E JODE GONÇALVES São Paulo - SP Fundadoras do site A Melhor Balada Referências: Kraftwerk, Richie Hawtin, Daft Punk, Carl Cox, Nina Kraviz

SAMUEL CARVALHO São Caetano do Sul - SP Coordenador de eventos na USCS / Redator na Stereo Minds Referências: Ellen Allien, Nicolas Jaar, Atmos, Carl Cox, Pet Duo

BRUNA CALEGARI Curitiba - PR Publicitária na Hot Content Referências: Joy Orbison, Sasha, Bonobo, Juan Atkins, Theo Parrish

VITOR MENDES Rio de Janeiro - RJ Content creator / Project manager The Knife, The Black Madonna, Hercules & Love Affair, Azari & III, Donna Summer




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.