Revista Ecos nº30

Page 1

A eficiência energética na gestão do saneamento Entrevista Edison Lobão Ministro de Minas e Energia

Opinião Airton Sampaio Gomes

Ecos Ec cos os l 30 30

Consultor do Cepel

1

Revista Ecos 30 - março.indd 1

06/04/10 14:49:08


Marรงo de 2010

2

Revista Ecos 30 - marรงo.indd 2

06/04/10 14:49:11


Eficiência energética melhora a gestão do saneamento tura de Porto Alegre está investindo na conservação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da cidade com obras para controlar alagamentos. Na seção Preservação destacamos o Centro de Referência em Energias Renováveis (Crer), inaugurado em setembro de 2009 para promover e incentivar ações e projetos que usem tecnologias em energia renováveis. O objetivo é buscar a eficiência energética no âmbito das comunidades locais e regionais. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) está desenvolvendo o projeto Árvore é Vida, que já supera a expectativa inicial de plantar um milhão de mudas no Estado para recompor matas ciliares e áreas degradadas. O artigo de Opinião, intitulado “Eficiência energética no saneamento: um desafio a ser vencido”, foi escrito pelo consultor Airton Sampaio Gomes, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), vinculado à holding Eletrobrás. Boa leitura!

Ec Ecos coss l 3 30 0

O setor de energia elétrica já ocupa o segundo lugar em termos de investimentos e custos dos projetos em saneamento ambiental no Brasil. Na reportagem “Eficiência energética combina com saneamento ambiental”, Ecos destaca a importância do trabalho em conjunto para a eficiência da gestão dessas áreas. Em entrevista exclusiva, o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, garante que o Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de energia elétrica. Nesta edição, abordamos também a necessidade de racionalizar e modernizar o setor de produção e distribuição de água para reduzir os desperdícios. Estudos revelam que, para atingir a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário até 2020, o Brasil precisaria investir cerca R$ 178 bilhões. Na seção Ambiente, técnicos do DMLU destacam a importância da educação ambiental e dizem que a falta de conscientização e de comprometimento das pessoas com a vida em comunidade é o maior obstáculo no caminho da eficácia nos serviços de limpeza urbana em Porto Alegre. Prevenindo-se contra os efeitos das chuvaradas históricas que vêm ocorrendo, a Prefei-

3

Revista Ecos 30 - abril.indd 3

19/04/10 14:29:53


Prefeitura Municipal de Porto Alegre Departamento Municipal de Água e Esgotos Supervisão de Comunicação Social

CONSELHO EDITORIAL: Adriana Nascimento Machado (DEP), Antônio Goulart (ARI), Belkys Gonçalves Bittencourt (Pucrs), Deisy Maria Andrade Batista (Abes-RS), Geraldo Antônio Reichert (Smam), Iara Conceição Morandi (Dmae), Flávio Ferreira Presser (Dmae), Maria Cláudia Vasconcellos (Sema), Luiz Fernando Cybis (Ufrgs), Roberto Azevedo (DMLU), Marcio Suminski (Dmae), Sandra Mara Moura Pereira (Unidmae).

6

COORDENADORA DA UNIDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Angélica Ritter, Mtb 11.010

ENTREVISTA Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia:

EDIÇÃO Maria de Lourdes da Cunha Wolff, Mtb 6.535

“Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de energia elétrica”.

ARTE DA CAPA Douglas Carvalho DIAGRAMAÇÃO e REVISÃO Imagine Design COLABORADORES Raphael Ignácio Mesquita Rodrigues Isadora Escobar Kolecza IMPRESSÃO Oficinas Litográficas do Dmae TIRAGEM 5.000 exemplares

Março de 2010

Notas da Redação Envie sua colaboração para a redação. Unidade Técnica do Dmae, Rua 24 de Outubro, 200, CEP 90510-000 - Porto Alegre (RS), Fone: (51) 3289-9724, Fax: (51) 3289-9286

4

16

REPORTAGEM Eficiência energética combina com saneamento ambiental A reportagem destaca a importância do trabalho em conjunto para a eficiência da gestão dessas áreas.

A Revista Ecos é uma publicação quadrimestral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), com circulação nacional e distribuição gratuita, registrada sob o no 775.831 no Cartório de Registro Especial, Comarca de Porto Alegre (RS) - ISSN 0104-5261.

Os artigos e textos publicados são de responsabilidade de seus autores. A reprodução destes, bem como das fotos e ilustrações, é permitida desde que sejam citadas a autoria e a fonte. A redação solicita que seja comunicada a transcrição, referência ou apreciação dos artigos e reportagens publicados na revista.

Revista Ecos 30 - abril.indd 4

19/04/10 14:29:55


10

34

Técnicos do DMLU destacam a importância da educação ambiental e apontam a falta de conscientização e de comprometimento com a vida em comunidade como obstáculos na busca de eficácia nos serviços de limpeza urbana.

O Centro de Referência em Energias Renováveis (Crer) foi inaugurado em setembro de 2009 para promover e incentivar ações e projetos que usem tecnologias em energia renováveis, visando à eficiência energética no âmbito das comunidades locais e regionais.

DEP investe em novas obras de drenagem

Dmae estuda aproveitamento do gás metano para a geração de energia

AMBIENTE Problemas ambientais começam no desperdício do lixo

PRESERVAÇÃO Porto Alegre já tem um centro de energias renováveis

A Prefeitura de Porto Alegre investe na conservação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da cidade, e promove obras para o controle de alagamentos, prioritárias em tempo de El Niño e de chuvaradas históricas.

Rua 24 de Outubro, 200 CEP 90510-000 Porto Alegre e-mail: ecos@dmae.prefpoa.com.br

40

OPINIÃO Eficiência energética no saneamento: um desafio a ser vencido Com a palavra, o consultor Airton Sampaio Gomes, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), vinculado à holding Eletrobrás. Ecos l 30

Foto: Ricardo Stricher/PMPA

O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre e o secretariado latino-americano da organização Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI) firmaram parceria para desenvolver o projeto “Promovendo o uso do biogás local para o desenvolvimento sustentável no Brasil” (REEEP – Renewable Energy and Energy Efficiency Partnership). A iniciativa está em fase de implementação e os primeiros resultados do diagnóstico estão previstos para 31 de julho deste ano.

5

Revista Ecos 30 - abril.indd 5

19/04/10 14:29:56


Foto: Oto Roosewelt Pinheiro/AgĂŞncia Brasil

Edison LobĂŁo Ministro de Minas e Energia

Revista Ecos 30 - abril.indd 6

19/04/10 14:29:57


EDiSON LOBÃO:

"Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de energia elétrica” Ex-governador do Maranhão (1991-1994) e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão construiu carreira política em Brasília, onde atuou como senador já em 1986 e cumpriu dois mandatos representando seu estado. Político experiente, Lobão foi encarregado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva de comandar uma das áreas estratégicas mais cobiçadas do Governo Federal, o setor energético. Pressionado pela sociedade em decorrência das crises energéticas que afetaram o crescimento econômico do país no final do governo Fernando Henrique Cardoso, o ministro Lobão passou a contar, a partir de 2004, com uma estrutura de planejamento energético inexistente nas administrações anteriores: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que desde então vem traçando os perfis e modelos do desenvolvimento brasileiro no setor de energia. Atualmente o Brasil tem um planejamento estratégico para o setor energético com objetivos e metas delimitadas até 2030. No momento, a EPE faz uma revisão das metas projetadas para o período 2014-2018 no plano decenal. Até lá, segundo o ministro, o Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de todos os setores da economia nacional, apesar da crescente demanda. Nos próximos oito anos o Brasil vai consumir mais 40% de energia, se comparado com os níveis atuais, e este acréscimo vai ser suplantado com a conclusão das obras e usinas já autorizadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O ministro projeta um aumento no consumo residencial na ordem de 49%, passando dos atuais 98.883 gigawatts por ano para mais de 147 mil gigawatts/ano em 2017. Nesse período, o setor industrial também vai consumir mais 37,2%, saltando dos atuais 189.089 gigawatts para 259.468 gigawatts. Tudo isso, segundo ele, é resultado de uma economia que não para de crescer, apesar da crise internacional de 2009. Edison Lobão considera a energia mais do que um fator estratégico. Para ele, somente as nações que conseguirem acompanhar o crescimento da demanda energética terão condições de enfrentar o mercado mundial. Ele lembra que o Brasil – cuja matriz energética se baseia em energia renovável, que são as hidrelétricas – tem uma oportunidade única de alcançar grande destaque e liderança no cenário internacional, sobretudo com a descoberta das reservas de petróleo da camada pré-sal, que devem colocar o país na condição de grande exportador do produto e promover um desenvolvimento econômico de grande envergadura para a próxima década.

Eliana Freitas Mainieri jornalista

Revista Ecos 30 - abril.indd 7

19/04/10 14:29:58


Março de 2010

Ecos – Ministro, o Governo Federal já identificou a infraestrutura como sendo uma das prioridades do país. As obras de saneamento, incluídas neste contexto, por sua natureza, exigirão também investimentos na ampliação de redes? Como a sua pasta está preparada para este desafio? A energia elétrica vai acompanhar o elenco de obras de infraestrutura previstas no PAC? Edison Lobão – O planejamento da expansão do setor elétrico brasileiro, realizado pela Empresa de Planejamento Energético, vinculada a este ministério, é feito a partir de dados dos diversos setores da economia, bem como de índices macroeconômicos, que geram, por meio de análises de sensibilidade, diversos cenários para os quais o governo deve estar preparado. Em função das demandas, o governo está avaliando como acelerar o ritmo das obras necessárias. Ecos – Ministro, o senhor como gestor de um setor estratégico, sabe que a expectativa por novos investimentos tem gerado pressões da sociedade em diversos pontos do Brasil, principalmente por parte dos investidores. As empresas prestadoras de serviços de saneamento alegam que a energia elétrica, sem a qual não funciona uma estação de tratamento, por exemplo, é um componente de alto custo. Existe a possibilidade de se oferecer mais energia e por valores mais baixos para estes empreendimentos essenciais à sociedade? Edison Lobão – Em primeiro lugar, é importante salientar que energia cara é aquela que é desperdiçada. O setor já é contemplado com um subsídio de

15 % de desconto sobre as tarifas nominais. Estudos recentes realizados pelo Procel Sanear, em parceria com o Ministério das Cidades e Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) demonstram que o desperdício, incluindo a energia desviada com as perdas de água nos sistemas, chega ao montante de R$ 800 milhões por ano, dos cerca de 2,6 bilhões pagos pelo setor de saneamento por seu consumo de energia elétrica. Nesse contexto, para a sociedade, certamente seria conveniente que parte do valor pago pela energia desperdiçada fosse investido em programas de melhoria da eficiência, contribuindo para acelerar a universalização dos serviços. Por outro lado, o aumento do subsídio poderia ser um incentivo adicional para o uso ineficiente da energia. “Em primeiro lugar, é importante salientar que energia cara é aquela que é desperdiçada. O setor já é contemplado com um subsídio de 15 % de desconto sobre as tarifas nominais.” Ecos – Gerar e distribuir energia para acompanhar as demandas tem sido um grande desafio. Mas uma questão que tem pesado muito nas decisões de novos empreendimentos é a questão ambiental. Como o senhor vê o crescimento combinado com meio ambiente, isto é, com sustentabilidade? Edison Lobão – Este é um dilema que não é só do Brasil, mas de todos os países em desenvolvimento e desenvolvidos. Os EIA/Rima (Estudo de Impac-

to Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental) visam a relacionar os impactos dos empreendimentos no meio ambiente. Mas não devemos esquecer que os empreendimentos trazem também impactos positivos, como, por exemplo, o aproveitamento múltiplo dos reservatórios das hidrelétricas e o desenvolvimento econômico e social trazido por estes empreendimentos para as regiões onde se instalam. Portanto, para se promover a sustentabilidade, é preciso buscar permanentemente um equilíbrio. Ecos – Existe, Ministro, um trabalho em conjunto entre a sua pasta e a pasta do Meio Ambiente e o Ministério das Cidades, a quem cabe tocar as obras de saneamento? Como o senhor analisa este relacionamento na atualidade? Edison Lobão – O Ministério de Minas e Energia, por meio do Procel Sanear, intensificou sua atuação a partir de 2002, em parceria com esses dois Ministérios e o Ministério da Saúde, a qual também compete desenvolver ações de promoção do saneamento em municípios de até 50 mil habitantes, visando principalmente à promoção de medidas de eficiência. Neste sentido, formalizamos protocolos de cooperação, de modo a facilitar as ações articuladas. Ecos – Ministro, na sua opinião, o Brasil aumentou a eficiência energética? Reduziu desperdícios? Qual é o maior desafio que tem pela frente? Edison Lobão – De modo geral, sob o ponto de vista da energia elétrica, com certeza. O maior exemplo disso são os resultados do Procel, o Programa de Conservação de Energia Elé-

8

Revista Ecos 30 - abril.indd 8

19/04/10 14:29:58


Ecos – A tarefa de reduzir o desperdício energético não é só do Governo. Que conselho ou recomendação o senhor dá aos empreendedores e mesmo para a população em geral sob este aspecto? Edison Lobão – Em minha opinião, cabe ao governo reali-

zar investimentos para reduzir as barreiras à transformação do mercado, prover informação adequada, assim como atuar para aumentar o crédito destinado à eficiência. Se, por um lado, o governo tem este papel, a sociedade deve empenhar-se para realizar os potenciais de aumento da eficiência. Ecos – O Brasil, Ministro, tem sua matriz energética solidificada nos recursos hídricos. Como o senhor avalia a possibilidade de participação de outras fontes no sistema, como energia eólica e energia solar, por exemplo. Estas tecnologias poderiam ser aplicadas no “O Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf), que estabelecerá estratégias e metas intermediárias para o alcance dos objetivos estabelecidos no PNE."

abastecimento de novos empreendimentos? As barreiras para a expansão destas energias alternativas ainda é a questão do custo de geração? Edison Lobão – Salvo a quebra de um paradigma tecnológico, ou seja, o surgimento de uma nova fonte de energia ou de um processo de rendimento maior que os atualmente em uso, o próximo montante de energia nova produzida terá custos sociais maiores, por um princípio lógico da economia. As energias eólica e solar – que são posteriores à geração

por hidreletricidade e ainda não representaram a quebra do paradigma tecnológico – surgem como alternativas complementares em nossa matriz energética. Ecos – O saneamento básico, a distribuição de água para consumo humano e o recolhimento de esgoto para tratamento são indicadores de qualidade de vida e de desenvolvimento social. Qual a sua opinião sobre o tema? Edison Lobão – Sem dúvida. Neste sentido, o MME tem procurado fazer a sua parte por meios de seus programas Lu z p a r a To d o s , P r o c e l , Conpet, Proinfa etc., que contribuem para que esses indicadores apresentem níveis cada vez mais elevados. Ecos – No que se refere ao Plano Nacional de Energia, qual a avaliação que o senhor faz sobre objetivos. Estamos dentro do previsto ou nossas metas ainda estão distantes? Edison Lobão – No caso da eficiência energética em saneamento e outros segmentos de consumo, está em fase final de elaboração o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf), que estabelecerá estratégias e metas intermediárias para o alcance dos objetivos estabelecidos no PNE. Em relação ao PNE, estamos caminhando a passos largos para conseguir desenvolver cada vez mais a eficiência energética no Brasil. O MME e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão atualizando o plano com novas metas que, não tenho dúvidas, serão atingidas.*

* Concedida pelo então Ministro de Minas e Energia Edison Lobão, realizada no final de março de 2010, antes da troca ministerial.

Ecos l 30

trica, coordenado pelo MME e executado pela Eletrobrás. Para um investimento de cerca de 1 bilhão de reais em estudos e projetos relacionados à eficiência energética, postergou a necessidade de investimentos, pelo lado da oferta, de 23 bilhões de reais no período de 1986 a 2008, configurando um retorno de investimento próximo de 20 para 1. Isto significou o adiamento de investimento na expansão do sistema elétrico em 7.890 megawatts, o que é mais da metade da potência instalada de Itaipu. Grande parte deste resultado aconteceu em função das ações desenvolvidas visando à melhoria dos índices de eficiência energética dos equipamentos em uso no país, bem como de ações destinadas à promoção da eficiência nos diversos segmentos de consumo. Esforço similar tem ocorrido no setor de petróleo e gás por meio do Conpet, que atua de forma análoga ao Procel naquele setor. Não obstante as ações realizadas no viés tecnológico, o grande desafio é induzir o consumo de energia de maneira eficiente pelo usuário final. Apesar do excelente retorno financeiro, o desafio é conseguir mais recursos para investir em melhoria da eficiência, em especial no setor de saneamento, que é intensivo na aplicação de capital.

9

Revista Ecos 30 - abril.indd 9

19/04/10 14:29:58


Foto: Divulgação/DMLU/PMPA

Coleta seletiva é mais limpa e feita com maior cuidado

Problemas ambientais começam no desperdício do lixo nosso de cada dia

Março de 2010

Roberto Azevedo Jornalista 2010 chegou entre lamentações pelo resultado pífio que os grandes líderes mundiais obtiveram em Copenhague, Dinamarca, na 15 ªConferência da Organização das Nações Unidas

(ONU) sobre Mudanças Climáticas e as notícias de que as forças da natureza, que inundam cidades, fazem morros deslizar, soterram pessoas, transbordam rios e levam de roldão plantações, animais e vidas humanas são vez mais próameaças cada c ximas pa para cada habitante planeta. Onde está a do plan solução? O que é possolu sível fazer?

“Infelizmente pouca gente tem consciência de que pode ‘fazer a sua parte’ e ajudar a solucionar grandes problemas, apenas corrigindo algumas atitudes simples no dia a dia”, lamenta Mário Moncks, diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) de Porto Alegre. A gestão do lixo é um bom exemplo.

10

Revista Ecos 30 - abril.indd 10

19/04/10 14:29:58


ladas de lixo da coleta domiciliar destinadas normalmente ao aterro sanitário, constatou que pelo menos 25 % desse material são compostos por resíduos reaproveitáveis ou recicláveis (plástico, papel, papelão, metal, vidro). “Nosso trabalho será concluído no final do inverno de 2010, para que a sazonalidade não distorça o perfil da pesquisa, mas os números atuais já mostram uma tendência real do que ainda é o

desperdício em Porto Alegre por falta de maior segregação do lixo doméstico”, afirma o engenheiro Eduardo Fleck, coordenador do trabalho. Porém, ao contrário do que pode parecer, apesar dessa realidade de desperdício, Porto Alegre tem a coleta seletiva pioneira no país (festeja 20 anos em julho próximo) e é reconhecida pelas mais respeitadas entidades nacionais do setor como a cidade

Foto: Ricardo Stricher/PMPA

A cidade de São Paulo concluiu recentemente seu inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e constatou – segundo informação do secretário de Meio Ambiente Eduardo Jorge à revista Veja em janeiro – que 75 % das emissões vêm da forma como é utilizada a energia, mas 25 % do problema está diretamente ligado à manipulação do lixo. Manipulação do lixo que, se fosse mais eficiente em Porto Alegre, também poderia fazer com que os quase 1,5 milhão de porto-alegrenses deixassem mais de R$ 9 milhões por ano nos cofres do DMLU e destinassem pelo menos outros R$ 6 milhões para as pessoas que sustentam suas famílias separando e vendendo resíduos sólidos reaproveitáveis ou recicláveis. Para isso nem precisariam fazer muito esforço. Bastaria separar o lixo orgânico do lixo seco em casa e dispor na calçada, tanto um quanto outro, nos dias e turnos corretos da coleta domiciliar (orgânico) e da coleta seletiva (seco). Parece simples, mas na verdade a educação ambiental, a conscientização e o comprometimento de cada um com a vida em comunidade ainda são obstáculos significativos na árdua tarefa de buscar a eficácia nos serviços cotidianos de limpeza urbana.

A primeira fase de uma pesquisa realizada por técnicos da Divisão de Destino Final (DDF) do DMLU, que trabalhou manualmente durante a primavera com 17 tone-

DMLU retira grande quantidade de lixo do leito do arroio Dilúvio diariamente

Ecos l 30

Ao menos 25 % de desperdício

11

Revista Ecos 30 - abril.indd 11

19/04/10 14:30:00


Foto: Tarsila Pereira/PMPA

brasileira que reaproveita ou recicla o maior percentual de seus resíduos sólidos. “Formalmente são cem toneladas diárias de coleta seletiva distribuídas por 16 unidades de triagem (UT) conveniadas com o DMLU, onde trabalham cerca de 700 pessoas, que têm renda média mensal de um salário mínimo”, explica Jairo Armando dos Santos, diretor da Divisão de Projetos Sociais do DMLU. A conta formal do desperdício é simples. O DMLU coleta em média mil toneladas de lixo doméstico diariamente e trabalha seis dias por semana. Ou seja, 26 dias por mês; pouco mais de 300 dias por ano. Esse serviço de coleta, que leva os resíduos “orgânicos” (misturados com

o que poderia ser reaproveitado) para a estação de transbordo na Lomba do Pinheiro, somado ao serviço de transporte que leva depois o lixo para o aterro sanitário em Minas do Leão, a 113 km

de Porto Alegre, tem um custo de pouco mais de R$ 115,00 por tonelada. Então, o gasto com a quarta parte (25 %) dessas mil toneladas diárias, que é fatia do desperdício constatada na pesquisa,

DIVULGAÇÃO DMLU/PMPA

Março de 2010

Sem desperdício, unidades de triagem poderiam produzir mais do que o dobro

Assessoria Comunitária identifica os donos do lixo mal descartado

12

Revista Ecos 30 - abril.indd 12

19/04/10 14:30:00


Foto: Divulgação/DMLU/PMPA

significa cerca de R$ 30 mil por dia, R$ 750 mil a cada mês e um total de R$ 9 milhões ao ano. Além disso, se perdem vantagens ambientais: se estas 250 toneladas diárias de resíduos reaproveitáveis ou recicláveis chegassem às UT que recebem hoje 100 toneladas, permitiriam a criação de aproximadamente mil novos postos de trabalho, injetando R$ 500 mil mensais (R$ 6 milhões a cada ano) no mercado de quem vive e sustenta a família separando e negociando os resíduos sólidos descartados nas ruas de Porto Alegre.

Assessoria Comunitária do DMLU trabalha para informar os cidadãos sobre a importância da gestão do lixo

55 milhões de toneladas/ano

AÇÕES FREQUENTES • misturar lixo orgânico e lixo seco – é isso que, inclusive, leva os catadores informais a violar seu lixo que, além de sujar sua rua, entope bueiros e termina nos rios; • colocar seu lixo nas caçambas que estão próximas de casa – um saquinho de lixo orgânico contamina dezenas de toneladas de material que não precisaria ir para o aterro sanitário; • descartar óleo de fritura na pia ou no vaso sanitário – um litro de óleo de fritura contamina um milhão de litros de água; • dispor seu lixo na calçada fora de dia ou horário da coleta – além desse lixo ficar mais tempo à disposição de catadores informais, também ficará mais exposto a animais e à chuva; • entregar seu lixo para catadores informais ou carroceiros – por mais corretos que forem com você, pode ter certeza de que sujarão a calçada do vizinho ou a praça mais próxima.

Ecos l 30

Para se ter noção do tamanho desse problema no país, basta dizer que Porto Alegre é líder entre 5.564 municípios. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somos cerca de 190 milhões de brasileiros. Produzimos aproximadamente 160 mil toneladas de lixo todos os dias (média de 0,8 kg por pessoa). Isso significa 4,6 milhões de toneladas por mês e mais de 55 milhões de toneladas de lixo a cada ano. Uma visão impressionante, tanto pela ótica dos problemas ambientais, que não tiveram o avanço esperado na 15ª- COP; quanto pela ótica econômica, a partir do cálculo de desperdício de dinheiro público que poderia estar sendo investido em tantos setores carentes que desqualificam, de forma crescente e continuada, a qualidade de vida no planeta.

13

Revista Ecos 30 - abril.indd 13

19/04/10 14:30:01


Fotos: Gabriela Azevedo / DEP

DEP investe em novas obras de drenagem

DEP constroi bacia de amortecimento de cheias na praça Celso Luft, avenida Teixeira Mendes, bairro Três Figueiras

Por Adriana Machado Jornalista, assessora de imprensa do DEP A Prefeitura de Porto Alegre está investindo muito na conservação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da cidade. Novas obras para o controle dos alagamentos tornamse prioridade em tempos de El Niño e de chuvas históricas.

Março de 2010

Obras em execução Durante o ano de 2009 o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) iniciou várias obras contra alagamentos em diversas regiões da cidade. O DEP está

executando a casa de bombas e a obra de drenagem Santa Teresinha, no bairro Santana, que alcança um investimento de R$ 5,1 milhões. A bacia de amortecimento de cheias da praça Celso Luft está sendo executada na avenida Teixeira Mendes, bairro Três Figueiras, com o custo de R$ 1,4 milhão. Esta bacia terá capacidade de reter 5 milhões de litros de água da chuva. Também na Zona Norte, o DEP executa a obra de drenagem da avenida São Pedro, bairro São Geraldo. O investimento da Prefeitura na obra de controle dos alagamentos da avenida São Pedro é de 6,3 milhões. No Jardim Lindoia, o DEP está executando a obra de

drenagem da avenida Panamericana. No local, o DEP constroi galerias que se estenderão pela avenida Panamericana, desde a avenida Sertório até a avenida Assis Brasil. O investimento da prefeitura nesta obra alcança R$ 5,6 milhões. Ainda em 2009, o DEP iniciou o estudo de planejamento do Plano Diretor de Drenagem Urbana, com um investimento de R$ 7 milhões e um prazo de dois anos para a conclusão. Com o plano de drenagem serão estudadas as 27 bacias hidrográficas da cidade e apontadas diretrizes técnicas e ambientais para a solução dos problemas de drenagem urbana e controle dos alagamentos.

14

Revista Ecos 30 - abril.indd 14

19/04/10 14:30:02


Próximas obras a serem iniciadas Outras importantes obras serão iniciadas nos próximos meses. Destacamos a reforma e ampliação das casas de bombas nº- 5 na BR 290 e da casa de bombas Vila Farrapos, no bairro Humaitá. Na reforma destas duas casas de bombas o DEP investirá R$ 1,1 milhão. Também será executada a obra da vila Minuano que consiste na construção de diques do arroio Passo da Mangueira, coletor geral e casa de bombas com capacidade de vazão de 8 mil litros por segundo. Nesta grande obra o DEP investirá R$ 9,98 milhões.

No bairro Sarandi será executada a obra de drenagem da rua João Paris, em que o DEP investe R$ 900 mil na construção de 675 metros de redes pluviais. Na Zona Leste, o DEP executará a obra de drenagem do Jardim do Salso. Com um investimento de R$ 2,34 milhões na primeira etapa, os trabalhos serão executados na avenida Cristiano Fischer, trecho entre a avenida Ipiranga até a rua Professor Pedro Santa Helena. O maior arroio de Proto Alegre, o arroio Dilúvio, também receberá melhorias. O DEP in-

Casa de bombas Santa Teresinha está sendo construída na avenida Ipiranga com rua Jacinto Gomes, bairro Santana

vestirá R$ 8,5 milhões na recuperação dos taludes e dos coletores das redes pluviais que chegam no Dilúvio. Nesta obra as lajes de grês serão substituídas por lajes de concreto, material com maior resistência a impactos, e serão substituídas as redes coletoras danificadas. Na Zona Sul da cidade, bairro Ipanema, o DEP executará a obra de drenagem da rua João Mendes Ouriques, com um investimento de R$ 6,11 milhões. Todas estas obras para o controle de alagamentos trarão maior qualidade de vida aos moradores de Porto Alegre.

Lote III da obra de drenagem Santa Teresinha em execução na rua Luiz Carlos de Moraes, bairro Santana

Obra de drenagem da avenida São Pedro sendo executada próximo à rua Santos Dumont, São Geraldo

Obra de drenagem da avenida Panamericana sendo executada próximo à rua Guadalupe, Jardim Lindoia

Ecos l 30

Fotos: Gabriela Azevedo / DEP

15

Revista Ecos 30 - abril.indd 15

19/04/10 14:30:03


Foto: DIvulgação/Dmae

Eficiência energética combina com saneamento ambiental

Março de 2010

Por Charles Soveral Jornalista Pressionadas pela sociedade e pelo mercado competitivo, as empresas de saneamento do Brasil buscam, cada vez mais, aplicar uma fórmula complexa que leve a melhores resultados com menores custos e menor impacto ambiental. É na combinação desses três fatores que surge a eficiência energética como um diferencial na gestão p e um desafio p para as empresas

de saneamento que em suas estruturas precisam de novas tecnologias, de aparatos elétricos modernos e de obras de infraestrutura que melhorem o processo de coleta, tratamento e distribuição de água e esgoto sanitário. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), publicado p Secretaria Naanualmente pela cional de Saneamento Ambiental (SNSA)

do Ministério das Cidades, o setor de saneamento responde por 2,5 % do consumo total de energia elétrica no Brasil, o equivalente a aproximadamente 10,4 bilhões de kWh/ano. Este mesmo levantamento mostra que, em média, o país perde 40 % da água distribuída pelos prestadores de serviço em relação à água produzida (referência 2007). Para atingir a universalização dos serviços de abastecimento de água e esgotamento

16

Revista Ecos 30 - abril.indd 16

19/04/10 14:30:07


Como auxiliar ao ProcelSanear, o MCidades criou em 2008 o Com+Água, projetopiloto que está implantado em 12 localidades do território nacional. “Neste projeto-piloto nós obtivemos excelentes re-

Ecos l 30

sanitário no país – atendendo toda a população que hoje não tem acesso aos serviços e absorvendo o crescimento da população até o ano de 2020 – seria necessário investir cerca de R$ 178 bilhões. Na composição desses custos estão os gastos e investimentos em energia elétrica, que já ocupam a segunda colocação em termos de investimentos e custos dos projetos em saneamento. “Daí a importância de racionalizar, modernizar e reduzir os desperdícios e perdas”, explica Ernani Miranda, coordenador do setor de saneamento do MCidades. Miranda lembra que o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em parceria com o MCidades, desenvolve o Procel-Sanear, que tem como principal objetivo promover ações que visem ao uso eficiente de energia elétrica e água em sistemas de saneamento ambiental, incluindo os consumidores, segundo uma visão integrada de utilização desses recursos. “Além disso, é nossa meta incentivar o uso eficiente dos recursos hídricos como estratégia de prevenção à escassez de água destinada à geração hidroelétrica e buscar a universalização dos serviços de saneamento com menores custos para a sociedade e benefícios adicionais nas áreas de saúde e de meio ambiente.”

Foto: DIvulgação/Dmae

“Nossa meta é incentivar o uso eficiente dos recursos hídricos como estratégia de prevenção à escassez de água destinada à geração hidroelétrica e buscar a universalização dos serviços de saneamento”

sultados e comprovamos que com ações de baixo custo podemos alcançar índices satisfatórios de eficiência energética, promovendo significativa economia aos prestadores de serviço de saneamento.” Miranda aponta, entre estas ações de baixo custo, medidas simples que começam com a gestão moderna do processo de saneamento. “Gestão combinada com trabalhos de ação técnica e operacional, como substituição

17

Revista Ecos 30 - abril.indd 17

19/04/10 14:30:08


de adutoras para a redução de bombeamento, construção de reservatórios de água que garantam o abastecimento sem necessidade de uso de equipamentos elétricos em horários de pico energético, que têm custo mais elevado, e a troca de equipamentos antigos por novos, de alta eficiência, principalmente bombas e motores que desenvolvem a mesma potência, consumindo menos energia.” A soma destas ações já representa em alguns casos queda em até 20 % nos custos operacionais. “É

ria dos prestadores de serviços de saneamento, sendo que para alguns já é o primeiro”, completa Miranda. Para Marco Aurélio Ribeiro Gonçalves Moreira, gerente da Divisão de Projetos de Eficiência Energética na Indústria e no Comércio das Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), que existe desde 1985, já alcança vários setores da economia nacional com resultados positivos. “O Procel vem

“Estimativas do MME dão conta de que com a aplicação do PNEf o Brasil poderá economizar até 10 % de energia de sua planta nacional”

se aprimorando, e agora nós teremos também, como uma importante ferramenta, o Programa Nacional de Eficiência Energética (PNEf), que vai detalhar até 2030 o quanto o Brasil precisa reduzir em perdas, em desperdícios e no mau uso da energia elétrica”, revela ele. Estimati-

Foto: Antonio Cruz - ABR

Março de 2010

certo que a universalização dos serviços de saneamento implicará a utilização de novos recursos. Dentre esses, a energia elétrica para os processos é observada pelo setor com preocupação, uma vez que atualmente ocupa a segunda posição na pauta de custos operacionais da maio-

vas do MME dão conta de que, com a aplicação do PNEf, o Brasil poderá economizar até 10 % de energia de sua planta nacional, o que em termos de números deverá representar 106 TWh (terawatts-hora) ou R$ 850 milhões por ano para o país. Gonçalves Moreira explica que a Eletrobrás, no âmbito do Procel-Sanear, promove ações de capacitação dos profissionais técnicos das empresas de saneamento estaduais e municipais, incentiva o desenvolvimento de projetos que promovam a eficiência energética e o combate ao desperdício de água e energia no âmbito dos sistemas de abastecimento de água, além de promover a implantação de Laboratórios de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (Lenhs) em universidades federais. “O objetivo desta parceria com as universidades é incentivar a elaboração de trabalhos de iniciação científica, dissertações e teses relacionados ao uso eficiente da energia e da água no saneamento, incluindo bolsas de estudo; apoio a pesquisa e desenvolvimento no país, com a revisão e edição de publicações técnicas voltadas à eficiência energética, controle e redução de perdas de água”, afirma. A partir dos estudos nos Lenhs é possível, segundo Gonçalves Moreira, fazer uma ponte de desenvolvimento tecnológico para rápida aplicação nas empresas de saneamento. “Cada laboratório pode prestar apoio técnico às empresas de saneamento de sua região e com isto ajudar na construção de soluções mais eficazes e rápidas para os prestadores de serviço”, completa.

18

Revista Ecos 30 - abril.indd 18

19/04/10 14:30:08


Ufrgs está inaugurando laboratório de estudos de eficiência energética A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), incentivada pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel-Sanear) dos ministérios de Minas e Energia e do Ministério das Cidades, está inaugurando junto ao Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH) o seu Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (Lenhs). Coordenado pelo professor Marcelo Marques, o laboratório da Ufrgs tem com o objetivo estudar processos que aperfeiçoem a geração de economia energética e a gestão de perdas de água no setor de saneamento. De acordo com o professor, os estudos compreendem também o combate aos desperdícios e o incremento à eficiência energética de processos e sistemas que proporcionem a redução de custos e a aceleração da universalização dos serviços para a sociedade.

O Lenhs foi criado devido a uma parceria entre a Eletrobrás e a Ufrgs/IPH a partir de um convênio firmado em dezembro de 2006. O novo laboratório ocupa uma área de mais de 150 m², onde estão instalados os mais modernos equipamentos utilizados no setor de saneamento, com uma bancada de ensaios automatizada e uma linha completa de equipamentos para medição de campo. No Brasil existem apenas cinco laboratórios semelhantes, todos ligados a universidades federais – Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal do Paraná e Universidade Federal do Pará – cobrindo praticamente todas as regiões brasileiras. Marcelo Marques destaca que coube ao Lenhs da Ufrgs tornar-se um centro de refe-

rência para a Região Sul em atividades relacionadas à eficiência energética e hidráulica em saneamento. O laboratório ministrará cursos para empresas de saneamento, visando o aperfeiçoamento e a especialização dos funcionários desse setor.

Fotos: Divulgação/Ufrgs

Criada em 2004 pelo Governo Federal para traçar o planejamento do setor energético em médio e longo prazo, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já trabalha com o cenário nacional de geração de energia a partir do ano de

2015. Isso porque, até 2014, segundo o presidente da EPE, o engenheiro carioca Maurício Tolmasquim, o país vai gerar mais energia do que está previsto consumir. “Não há motivos para preocupação. O Brasil pode crescer à vontade,

sem medo de falta de energia elétrica”, afirma ele. Tolmasquim garante que o setor de saneamento, que atualmente responde por 2,5 % do consumo de energia elétrica do país, recebe tratamento prioritário por parte das auto-

Ecos l 30

EPE assegura abastecimento energético para as obras de saneamento

19

Revista Ecos 30 - abril.indd 19

19/04/10 14:30:08


Conforme as pesquisas desenvolvidas pela empresa, é provável que até 2014 o Brasil amplie o consumo de energia elétrica em quase 50 % no consumo residencial e em mais de 37 % no setor industrial. “Nos próximos quatro anos estamos seguros de que não haverá gargalo elétrico no Brasil e teremos um excedente de energia. Nós estamos trabalhando agora com leilões de usinas e linhas de transmissão para operar a partir de 2015. Nosso país passou por momentos difíceis

que forçaram a definição de políticas públicas a partir de um planejamento e de uma organização”, confirma Tolmasquim. O presidente da EPE explica que a empresa que comanda foi criada para pensar e estruturar as demandas energéticas. Não apenas a energia elétrica, mas também as demais fontes de energia, como bicombustível e petróleo, que, com a descoberta das reservas do pré-sal, vai colocar o Brasil em condição de grande exportador no cenário internacional.

Foto: Agência Brasil

Março de 2010

ridades governamentais. “É preciso vencer um atraso histórico que o Brasil tem em relação ao saneamento, distribuição de água e coleta e tratamento de esgotos. Por isso a EPE e as diversas pastas ministeriais que tratam do tema estão empenhadas em assegurar que todos os empreendimentos autorizados pelo PAC e aqueles que têm grande relevância social não ficarão sem de energia nem alterarão suas propostas de atendimento à população”.

Engenheiro Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

20

Revista Ecos 30 - abril.indd 20

19/04/10 14:30:14


Apesar da importância das obras de saneamento para o Brasil, Maurício Tolmasquim não crê em criação de tarifas especiais para o setor. “Antes de pensarmos em subsídios ou tarifas diferenciadas para o setor de saneamento, seria importante trabalhar a redução das perdas, que ainda são enormes. Uma maneira de abaixar esses custos é trabalhar com a eficiência energética, com gestão, com controle de gastos e com educação, tanto da cultura empresarial quanto da população e consumidores finais, que podem ajudar, consumindo de forma racional.” O Brasil, com sua matriz energética baseada em hidrelétricas, vê aumentar a discussão

técnica pela utilização de fontes alternativas de energia no setor de saneamento como forma de reduzir custos e promover a sustentabilidade. Para o presidente da EPE, o que importa não é se a fonte de energia é alternativa ou não. Segundo ele, o que realmente importa em termos de meio ambiente é se a energia é renovável ou não. Se é renovável e se não emite, por exemplo, gás carbônico 2 (CO ). “No Brasil, a hidrelétrica atende a este critério. Além disso, em nossa matriz elétrica, nós contamos ainda com o bagaço de cana e com a energia eólica. Se observarmos bem, a nossa matriz elétrica é constituída em mais de 90 % por fontes renováveis.”

A EPE já está ampliando a oferta de energia não hidrelétrica nos leilões que agencia. “Nós, por exemplo, já estamos contratando energia eólica para o ano de 2012. Esta é uma fonte de energia mais cara que a convencional, mas os valores vêm caindo. No leilão de energia eólica ocorrido em final de 2009 tínhamos como parâmetro o valor de R$ 250,00 o megawatt/hora. A energia de hidrelétrica custa menos de R$ 100,00 o megawatt/ hora. Nas usinas do rio Madeira, fica na faixa de R$ 70,00 a R$ 80,00. E no último leilão a energia eólica acabou sendo comercializada por R$ 148,00 o megawatt/hora. Muito abaixo do valor anterior, o que já é um indicativo importante.”

O custo da energia elétrica

Despesas com energia elétrica Quantidade de municípios % do Total Despesas totais em R$/ano Fonte: Dados SNIS 2006

mento e Meio Ambiente, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e disponível no saite do Procel-Sanear, revela que, em 2006, em quatro mil municípios brasileiros selecionados com base em dados do SNIS o custo

presentou a maior despesa, influindo no custo de exploração do serviço. Em alguns casos, em até 90 %, como ocorreu em Manaus (AM), Londrina (PR) e São José do Rio Preto (SP). Nos dados levantados por Sampaio Gomes, pode ser veri-

“No ano de 2006, em quatro mil municípios brasileiros selecionados com base em dados do SNIS, o custo da energia elétrica foi superior a R$ 2,3 bilhões por ano”

da energia elétrica foi superior a R$ 2,3 bilhões por ano. Ainda conforme a pesquisa do consultor, em 626 municípios o custo da energia elétrica reo

1 lugar 626 15,7 % 346.078,54

o

2 lugar 1.463 36,6 % 791.187,21

o

ficado que, entre as 1.463 prestadoras de serviço que têm a energia elétrica como segundo custo operacional, este valor representava entre 10 % e 45 %.

3 lugar 1.348 33,7 % 595.846,51

o

4 lugar 563 14,1 % 568.044,37

Total 4.000 100 % 2.301.156,63

Ecos l 30

No setor saneamento, os gastos com energia elétrica representam em média 12 % das despesas dos prestadores de serviço de sistemas de abastecimento de água, podendo variar de 9 % a 24 %, dependendo da região do país. Os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) são confirmados quando, em alguns prestadores de serviços, essa despesa chega a ser a segunda maior, ficando atrás somente da folha de pagamento. No entanto, uma pesquisa realizada pelo engenheiro civil Airton Sampaio Gomes, consultor do Programa de Modernização do Setor de Saneamento (PMSS) e da Eletrobrás, publicadas na Revista Bio - Sanea-

21

Revista Ecos 30 - abril.indd 21

19/04/10 14:30:14


Inmetro incentiva mudanças na indústria rem um aparelho elétrico ou eletrônico já se informam sobre a classificação. Isto faz parte, dos critérios de compra principalmente nos centros urbanos mais desenvolvidos”, observa ele. O PBE também surgiu em 1984, numa iniciativa do Ministério da Indústria e Comércio e do MME em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) que firmaram um protocolo com o objetivo de informar os consumidores finais, no momento da compra, sobre o consumo de energia de cada aparelho. “O programa funciona com base em etiquetas afixadas nos produtos, indicando o consumo e a eficiência energética do apa-

relho, segundo critérios técnicos, numa classificação que vai do mais eficiente ao menos eficiente, da letra A até a letra E”, explica Borges. Desenvolvido com a adesão voluntária dos fabricantes, o PBE ganhou dois importantes parceiros: a Eletrobrás, através do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), e a Petrobras, através do Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet). Atualmente o PBE já tem desenvolvidos 26 programas de etiquetagem, prevendo o desenvolvimento de mais 20 programas para os próximos anos. Quando ocorreu a crise energética brasileira, em 2001,

Foto: DIvulgação/Inmetro

Março de 2010

Novos equipamentos, mais eficientes e muito mais econômicos: este é o objetivo do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que, em parceria com o Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel) do Ministério de Minas e Energia (MME), através do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), desenvolve os projetos nacionais de eficiência energética. Para o coordenador nacional do PBE, o engenheiro carioca Marcos Borges, a redução do gasto energético a partir da classificação dos aparelhos já é uma realidade que faz parte dos critérios de consumo da população. “As pessoas, quando adqui-

Engenheiro Marcos Borges, coordenador do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE)

22

Revista Ecos 30 - abril.indd 22

19/04/10 14:30:14


“A exemplo dos melhores programas internacionais de etiquetagem de eficiência energética, o PBE é considerado um dos mais rigorosos existentes no mundo”

nas e aparelhos consumidores de energia comercializados no Brasil. Um decreto presidencial criou a Lei 10.295, em que o Poder Executivo determina os níveis máximos ou mínimos de eficiência energética de máquinas e aparelhos a partir de análise técnica e padrões aceitos internacionalmente. Em decreto posterior, foi estabelecido que caberia ao Inmetro a fiscalização e a avaliação desses equipamentos. A exemplo dos melhores programas internacionais de etiquetagem de eficiência energética, o PBE é considerado um dos mais rigorosos existentes no mundo. Sem a classificação mínima necessária, o produto não poderá ser comercializado em território brasileiro. “Por exemplo, tem produtos fabricados na China e importados com a classificação máxima de eficiência e que, aqui, se enquadram em uma categoria inferior. Isso porque somos rigorosos neste controle.” Na área de saneamento, o equipamento mais visado

são as bombas, que começaram a ser etiquetadas em 2005. O selo de eficiência energética passou a integrar as bombas centrífugas acionadas por motores elétricos trifásicos 1 cv a 25 cv. O Inmetro criou um grupo de trabalho denominado GT-Bom, em 2004, para avaliar os equipamentos da área e está em estudo a criação de um selo específico comparativo de rendimento. Esse rigor já produz resultados interessantes. Marcos Borges revela, por exemplo, que os refrigeradores fabricados e comercializados no Brasil atualmente são 50 % mais eficientes em termos de energia do que os produzidos 10 anos atrás. “Portanto, muito mais econômicos, estimulando a indústria a investir em tecnologia para não ser eliminada do mercado”, completa o engenheiro. O resultado do PBE pode ser dimensionado com um dado revelado

por Borges: desde o início do programa para refrigeradores, o Brasil economizou o equivalente a 40 meses de energia produzida na usina nuclear de Angra I, no Rio de Janeiro, em seu horário de pico. “Se considerarmos todos os 26 programas em andamento, incluindo estes, das máquinas para o setor de saneamento, podemos ter uma noção da importância estratégica e econômica do PBE para o Brasil”, conclui o coordenador do Inmetro.

COMITÊ GESTOR O Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética (CGIEE), que tem, entre outras, a função de elaborar regulamentação específica para cada tipo de aparelho e máquina consumidora de energia, é formado por representantes dos seguintes ministérios e agências reguladoras: Ministério de Minas e Energia (presidência) Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Agência Nacional de Energia Elétrica Agência Nacional do Petróleo Um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia Um cidadão brasileiro, especialista em matéria de energia

Ecos l 30

o Governo Federal decidiu resgatar o projeto de lei que tramitava no Senado Federal e que tratava de estabelecer uma política nacional de eficiência energética para máqui-

23

Revista Ecos 30 - abril.indd 23

19/04/10 14:30:15


Lagoa Santa (MG) quer ser modelo para o Brasil O município de Lagoa Santa está localizado a 35 quilômetros da capital mineira, na região metropolitana de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Ali a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) desenvolveu um projeto de eficiência energética dentro do Procel-Sanear que obteve resultados bem significativos. De acordo com o engenheiro Paulo Roberto Cherem, coor-

água no sistema em 20 % e o consumo de energia em 440 MWh/ano, mas os resultados já superam as expectativas. O projeto de Lagoa Santa foi selecionado por meio do processo de “Chamada Pública de Projetos de Conservação e Uso Racional de Energia Elétrica e Água no Setor de Saneamento Ambiental”, elaborado pela Eletrobrás, no âmbito do Programa de Eficiência Energética no Sanea-

Março de 2010

“O projeto de Lagoa Santa consiste no controle operacional das vazões e pressões de bombeamento, de modo que os conjuntos motobombas possam ser desligados no horário sazonal”

denador do Programa de Redução de Perdas da Copasa, o esforço desenvolvido em busca de mais eficiência obteve resultados acima do esperado na redução dos consumos de energia e água. Iniciado em dezembro de 2004, o projeto de Lagoa Santa conseguiu, em dois anos, uma redução de 20 % do índice de perdas de água do sistema; a diminuição do consumo específico de energia elétrica de 1,0 kWh/m³ de água consumida para 0,9 kWh/m³; além da redução de cerca de 30 % no consumo de energia elétrica no horário de pico, sem prejuízo ao abastecimento da cidade. A meta inicial da Copasa no projeto de Lagoa Santa era reduzir, no prazo de 24 meses, o índice de perdas de

mento Ambiental (Procel-Sanear), em parceria com o Ministério das Cidades e com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Eletrobrás/Cepel). O objetivo foi escolher projetos de conservação e uso racional de energia elétrica e de água em sistemas de abastecimento. Para chegar a estes resultados, a Copasa também foi

econômica no investimento, o que surpreende técnicos em todo o Brasil. O custo total inicial do projeto foi de cerca de R$ 196 mil, sendo R$ 148 mil com recursos da Eletrobrás e R$ 48 mil em investimento da própria companhia. Em função dos primeiros resultados, a Copasa já ampliou seus investimentos em torno de R$ 15 mil. O engenheiro Paulo Roberto Cherem explica que o projeto de Lagoa Santa consiste no controle operacional das vazões e pressões de bombeamento, de modo que os conjuntos motobombas possam ser desligados no horário sazonal – entre 17 h e 22 h – quando o preço da energia elétrica é mais alto. De acordo com o engenheiro Vanir de Oliveira, “a partir desse processo será possível reduzir as cargas nos horários mais caros”. Ele assinala ainda que a principal conquista foi o desenvolvimento de uma metodologia de gestão integrada de perdas de água e eficiência energética, que será absorvida pela empresa e aplicada em diversos outros sistemas, resultando,

METAS ESTABELECIDAS PARA O PROJETO Energia economizada (MWh/ano) 440 Redução de perdas reais de água (m³/ano.ligação) 32,4 Energia economizada (R$) 148.605,00 Recursos Copasa (R$) 47.823,04 Investimento total (R$) 196.428,04

24

Revista Ecos 30 - abril.indd 24

19/04/10 14:30:15


certamente, em melhores desempenhos operacionais e redução dos custos. Cherem lembra que a Copasa pretende expandir a me-

todologia adotada no projeto de Lagoa Santa para diversos outros sistemas de abastecimento de água sob sua concessão. A Copasa, criada em

1974, opera os sistemas de abastecimento de água tratada de 610 municípios mineiros, atendendo mais de 12 milhões de habitantes.

Comusa iniciou programa de controle em 2004 Selecionada no processo de chamadas públicas de projetos de conservação e uso racional de energia elétrica e água no setor de saneamento pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica e pela Eletrobrás, a Companhia Municipal de Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo (Comusa) foi uma das 12 empresas da Região Sul que receberam o reconhecimento pelo uso eficiente da energia. De acordo com o diretor técnico da companhia, Júlio Macedo, as soluções encontradas pela Comusa na economia dos custos de energia começaram com a redução das perdas no sistema de

Macedo conta que o sistema caracteriza-se por uma grande estação elevatória de água bruta (EAB) junto ao rio dos Sinos, uma estação de tratamento de água (ETA), onde se situam três reservatórios e duas elevatórias de água tratada: EAT 1 e EAT 4. Cerca de 90 % da

energia elétrica utilizada pela Comusa está concentrada nessas duas unidades. Aproximadamente 40 % do volume produzido são distribuídos por gravidade a partir da ETA, e 60 % são bombeados pelas EAT, abastecendo outros reservatórios espalhados pela cidade. A redução de perdas

Ecos l 30

abastecimento de água por meio da otimização operacional e da automação do siste ma pel o control e de pressão e vazão através de variadores de velocidade e automação.

Foto: Assessoria de Imprensa Comusa

“Em termos de ganhos financeiros, as medidas adotadas pela Comusa representam uma economia anual superior a R$ 42 mil”

25

Revista Ecos 30 - abril.indd 25

19/04/10 14:30:15


METAS ESTABELECIDAS PARA O PROJETO Energia economizada (R$/ano) 42.000,00 Recursos Comusa (R$) R$ 187.000,00 Recursos Eletrobrás (R$) 700.000,00 Investimento total (R$) 887.000,00

bra-cimento, muito suscetível a rupturas. “Nossa meta é substituir 100 quilômetros da rede de fibra-cimento por PAD (tipo de plástico altamente resistente), que é um material mais moderno, deslocando-a de sob as vias de trânsito para debaixo das calçadas. Com isto, no médio e no longo prazo, vamos reduzir os custo de manutenção”, conclui Macedo.

Foto: Assessoria de Imprensa Comusa

de Conservação de Energia e Uso Racional de Abastecimento de Energia, uma distinção pioneira no Rio Grande do Sul. A Comusa abastece mais de 252 mil habitantes na Região Metropolitana de Porto Alegre, e hoje a Companhia tem centrado ações na substituição das tubulações da cidade, tendo em vista que cerca de 40 % da rede é do tipo fi-

Foto: Assessoria de Imprensa Comusa

Março de 2010

reais de 313.116 m³/ano foi alcançada graças à redução de pressão proporcionada pelos conversores de frequência instalados na rede. Além da redução do volume de vazamentos, houve uma redução significativa no número de novas rupturas de tubulações, o que significou economia em gastos com manutenção. “Nós implantamos uma central de controle operacional em que o operador ou a equipe de operação consegue verificar os principais reservatórios da cidade com informações de nível, de vazão, de pressão e ver se o sistema está plenamente abastecido e com sobra de reservação. Desta forma podemos reduzir a velocidade das bombas e assim, nos horários de ponta, quando a energia elétrica é mais cara, otimizar o consumo de energia e ter naturalmente um ganho financeiro”, explica Macedo. Em termos de ganhos financeiros, as medidas adotadas pela Comusa representam uma economia anual superior a R$ 42 mil. “Os benefícios obtidos pela metodologia do projeto, favoreceu, dentre outros, a assimilação das novas práticas e procedimentos pelos funcionários direta ou indiretamente envolvidos na operação do sistema. Tudo isso propiciou uma melhoria no abastecimento, e a redução do índice de rompimento de redes e ramais se refletiram em maior satisfação dos usuários da empresa”, afirma o diretor técnico. O uso eficiente da energia no sistema de saneamento tem sido reconhecido nacionalmente desde 2007, quando a Comusa conquistou pela primeira vez o Prêmio Nacional

26

Revista Ecos 30 - abril.indd 26

19/04/10 14:30:17


Publicações que ajudam a entender a eficiência energética Conteúdo

Abastecimento de Água – O estado da arte e técnicas avançadas

Organizadores: Heber Pimentel Gomes; Rafael Pérez García e Pedro L. Iglesias Rey. Sinopse: O livro é o primeiro volume publicado sobre o tema abastecimento de água, enfatizando o estado da arte e as técnicas avançadas já desenvolvidas e disponibilizadas atualmente no mundo. O propósito do livro é reunir trabalhos técnicos e pesquisas em um único compêndio, agrupados por temas, que abordam o desenvolvimento de avançadas tecnologias, atualmente disponíveis à engenharia de sistemas de abastecimento urbano de água. Essa publicação poderá ser adquirida através da Abes www.abes-dn.org.br, da ABRH www.abrh.org.br e do Lenhs/UFPB.

Eficiência Hidráulica e Energética em Saneamento

Autor: Heber Pimentel Gomes. Este livro tem como objetivo servir de base a estudos de viabilidade econômica de projetos de saneamento, buscando mostrar as metodologias de avaliação econômica, aplicadas a estudos de caso de ações de combate ao desperdício de água e energia. Essa publicação foi elaborada com o apoio da Eletrobrás por intermédio do convênio firmado entre a Eletrobrás, no âmbito do Procel, e a Universidade Federal da ParaíbaUFPB (ECV 230/06).

Sistemas de Bombeamento – Eficiência Energética

Organizador: Heber Pimentel Gomes. Autores: Airton Sampaio Gomes, Heber Pimentel Gomes, Luiz Simão de Andrade Filho, Osvaldo Luiz Cramer de Otero, Ronildo Inácio Soares de Alencar, Saulo de Tarso Bezerra, Sebastião de Paula Coura, Simplício Arnaud da Silva. O objetivo deste livro é proporcionar aos profissionais da área de saneamento e afins as diversas matérias concernentes à engenharia de sistemas de bombeamento, com vistas à adoção de medidas necessárias ao aumento da eficiência energética dos sistemas de abastecimento e de esgotamento sanitário.

Abastecimento de Água

Autor: Milton Tomoyuki Tsutiya. Trata de planejamento e projeto de sistemas de abastecimento de água, envolvendo concepções, consumos, captação, adutoras, elevatórias, redes, perdas, ligações e automações, tem como objetivo, atender a universitários e engenheiros envolvidos com projetos de obras de abastecimento. Contém software para projeto de redes de abastecimento.

Água e Energia

Autor: Alliance – Aliança para Conservação de Energia. As recomendações contidas neste trabalho oferecem uma nova perspectiva com relação à água e à energia. É baseado nas experiências inovadoras das companhias de água dos municípios com relação à redução do uso da energia e à melhora de seus serviços. No site www.abae. org é possível fazer o download gratuito da publicação.

Eficiência Energética nos Sistemas de Saneamento

Autor: Procel/Ibam. O manual se insere numa estratégia de atuação do Procel que a contribuição ao esforço na melhoria da eficiência nos sistemas de saneamento básico. Dirigido ao administrador municipal, oferece uma visão prática dos processos e operação dos sistemas, permitindo identificar os possíveis pontos de desperdício. Esta publicação poderá ser adquirida através do Ibam (saite: http:// www.ibam.org.br)

Redução do Custo de Energia Elétrica em Sistemas de Abastecimento de Água

Autor: Milton Tomoyuki Tsutiva. Esta obra representa um valioso subsídio para os profissionais e uma excelente contribuição à bibliografia técnica no campo da engenharia sanitária nacional. Abrange desde soluções simples e de fácil implantação até as mais complexas, que levam à diminuição de custos através da redução de consumo de energia.

Sistemas de Abastecimento de Água: Dimensionamento Econômico e Operação de Redes e Elevatórias

Autor: Heber Pimentel Gomes. Este livro foi elaborado com o propósito de tornar acessíveis as técnicas de dimensionamento econômico e de simulação da operação de sistemas de abastecimento de água, de forma aplicada, para profissionais da área de saneamento e afins. Os métodos apresentados são acompanhados de exemplos práticos e detalhados, cujos programas e soluções estão disponíveis na internet através do endereço http://lenhs.ct.ufpb.br.

Ecos l 30

Nome

27

Revista Ecos 30 - abril.indd 27

19/04/10 14:30:17


DMAE promove redução de custos e ganhos de eficiência que pudessem nortear o trabalho de monitoramento das perdas com energia elétrica. “A partir dos primeiros estudos realizados, verificamos que era necessário desenvolver projetos que reduzissem nossos elevados gastos com este item fundamental para o funcionamento do sistema”, afirma ele. Cunha Machado explica que foi necessário envolver vários setores do Dmae para criar os indicadores de referência para trabalhar a redução de custos e perdas. “Passaram a atuar no nosso processo desde áreas de ponta como as equipes da manutenção mecânica, operação nas casas de bombas e os grupos de engenharia para, a partir daí, organizamos planos anu-

ais. Um dos primeiros pontos a serem observados foram as faixas de tarifação da energia elétrica que nos cobra a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).” A tarifação de energia elétrica obedece a critérios de demanda. Entre 19 h e 21 h a energia elétrica tem custo maior em decorrência do alto consumo neste horário. “É a chamada tarifa azul, que a gente contratava e pagava um valor determinado em contrato, mesmo que eventualmente não a usasse. Ao avaliar esta situação, a CICEE decidiu formatar um outro tipo de contrato, o da tarifa verde, em que o preço por hora de uso é maior, mas que o Dmae só pagava pelo que efetivamente consumia”, explica Flávio Machado.

Março de 2010

Foto: Maria de Lourdes Wolff/Dmae

O Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Porto Alegre (Dmae) vem desde 2004 obtendo um ótimo desempenho no combate ao desperdício e na melhora da eficiência energética do sistema de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto na capital gaúcha. Entre os anos de 2008 e 2009, o Dmae conseguiu reduzir em cerca de R$ 2,5 milhões o gasto com energia elétrica, representando um ganho superior a 5 % no orçamento previsto para o período. Flávio da Cunha Machado, diretor da Divisão de Água, explica que, ao constituir uma comissão interna de controle da energia elétrica (CICEE), o Dmae passou a avaliar os custos e a desenvolver indicadores

28

Revista Ecos 30 - abril.indd 28

19/04/10 14:30:17


Foto: Ieda Pezzi/Dmae

Ecos l 30

Foto: Ieda Pezzi/Dmae

Sobre os novos custos de tarifação e aplicando controle de gestão que evitavam o consumo além dos limites impostos pela CEEE, o Dmae passou a ter redução de custos efetivos, chegando hoje à faixa de R$ 22,7 milhões contra mais de 24 milhões projetados para o ano de 2009. “Isto sem considerar que em 2009 houve aumento de tarifa de energia, o que significaria normalmente até um acréscimo de valores sobre o que foi projetado inicialmente.” Álvaro Silveira Neto, engenheiro de manutenção do Dmae, revela que a economia acumulada nos anos de 2008 e 2009 representou para o Departamento uma redução de gastos na ordem de R$ 2,5 milhões. “Manejando as casas de bombas e com medidas auxiliares junto aos reservatórios, onde estudamos os horários de pico e conseguimos aplicar mecanismos que nos permitem trabalhar com o mínimo de energia, com os reservatórios cheios e isso nos permitir em alguns casos até desligar os equipamentos para garantir a economia, sem afetar o abastecimento”, completa o engenheiro. Silveira Neto revela que, paralelamente ao controle dos gastos, foram implantadas medidas de treinamento de pessoal de vários setores, informatização e monitoramento do sistema a partir de uma central, controle dos pontos de fuga de água e troca de bombas de modelos mais antigos por modelos mais eficientes que fazem o mesmo trabalho gastando 50 % menos energia.

29

Revista Ecos 30 - abril.indd 29

19/04/10 14:30:18


Sabesp analisa fontes alternativas como novas soluções energéticas ção em leilões regulados. Aproveitamento do gás gerado em aterros sanitários, grande incidência de raios solares sobre todas as regiões do país e uma região litorânea com pontos de vento constantes têm inspirado os pesquisadores a criar projetos de geração de energia com novas fontes (biomassa, solar e eólica) ou mesmo pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) na geração de energia elétrica.

No estado de São Paulo, a Companhia de Saneamento (Sabesp) já está investindo no desenvolvimento de uma matriz energética diversificada para a região, estudando também o potencial eólico no território paulista, assim como as possibilidades remanescentes do aproveitamento hídrico por meio de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). De acordo com o Adriano Anaia Pereira, gerente de gestão de energia da Companhia

Março de 2010

Embora o Brasil possua uma geração de energia considerada limpa, em função da predominância da base hidrelétrica, o país, por questões ambientais e de diversificação, tem firmado a necessidade de se buscar novas fontes de energia. Com isso, a geração de energia renovável vem ganhando espaço tanto no planejamento das políticas públicas energéticas como por meio de novos empreendimentos e da comercializa-

30

Revista Ecos 30 - abril.indd 30

19/04/10 14:30:21


sumo de energia e consequente redução dos custos de operação, contribuindo para aumentar a competitividade da empresa. Anaia Pereira revela que no Projeto de Eficiência Energética da Sabesp, implementado em duas Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) da Sabesp, ABC e Parque Novo Mundo, está em andamento, uma ETE que utiliza o processo de lodos ativados e é constituída por duas fases: líquido e sólido. Nas unidades de digestão, os lodos adensados primários e secundários são transferidos para os digestores anaeróbicos. No processo de digestão realizado pelas bactérias metanogênicas, ocorre à liberação do gás, com predominância de metano (CH4) que é utilizado para a homogeneização do lodo, no tempo em que ele permanece

"O investimento estimado para a construção das PCH é de aproximadamente R$ 21 milhões. Todo esse valor será investido pelo vencedor da licitação realizada em 2009. A operação comercial tem início previsto para novembro de 2012."

projetos com o objetivo de identificar oportunidades de melhoria nos equipamentos e nos processos. O resultado, explica o gerente de gestão de energia da Sabesp, o esperado é uma maior eficiência, com diminuição do con-

digerindo. O excesso desse gás deverá ser aproveitado para geração de energia elétrica. Nos sistemas de abastecimento de água existem potenciais quando se desloca água, principalmente na fase de adução de água bruta, ou

quando se transporta água de outras bacias (transposição de bacias) por intermédio de túneis e canais, como também a energia dos efluentes das ETE nos pontos de lançamentos, ou mesmo no ponto de chegada na estação de tratamento. A construção de PCH em reservatórios e barragens já existentes e necessários à produção de água potável representa medida ambientalmente sustentável, pois não gera qualquer dano ambiental adicional. No sistema Cantareira, que é um complexo composto por cinco bacias hidrográficas e seis reservatórios interligados por túneis, canais e sistemas de bombeamento, que fornecem cerca de 33 m³/s, sendo responsável pelo abastecimento de água para metade da população da Região Metropolitana de São Paulo, a Sabesp está analisando esse sistema de várias represas em desníveis, interligadas por túneis com dissipação de energia por intermédio de válvulas e estruturas de concreto, foram identificados sítios com potencial de aproveitamento energético. Ali o investimento estimado para a construção das PCHs é de aproximadamente R$ 21 milhões. Todo esse valor será investido pelo vencedor da licitação realizada em 2009. A operação comercial tem início previsto para novembro de 2012. Ele complementa informando que a energia assegurada é de 58,7 GWh/ano (2,8 % do consumo Sabesp).

Ecos l 30

Foto: Divulgação/Sabesp

de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), estão em curso pesquisas para o aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar para a geração de energia e estudos de viabilidade técnico-econômica da implantação de usina de geração de energia a partir de resíduos sólidos. “Há um esforço conjunto do Estado, no âmbito da Secretaria de Saneamento e Energia e de outras pastas, para a promoção do desenvolvimento sustentável, que acontece quando há desenvolvimento econômico e social também. No entanto, é muito comum que se polarizem as posições entre desenvolvimento e sustentabilidade”, afirma Anaia Pereira. Segundo ele, em 2008*, a Sabesp respondeu por cerca de 1,84 % de toda a energia elétrica consumida no Estado de São Paulo. Já em 2009, os gastos da Sabesp com energia elétrica foram de aproximadamente R$ 482,2 milhões, constituindo a terceira maior despesa (atrás de pessoal e serviços). Nesse contexto, diversas áreas da Sabesp vêm desenvolvendo

31

Revista Ecos 30 - abril.indd 31

19/04/10 14:30:21


Eficiência deve ser buscada no consumo, e também na cultura de uso racional Apesar de as áreas administrativas das empresas de saneamento responderem por percentuais pequenos de consumo de energia em relação ao consumo geral (normalmente inferiores a 6 % do total) a preocupação em formar a cultura do uso racional é um aspecto importante que não pode ser esquecido. Esta é a opinião da professora e pesquisadora Belkys

Gonçalves Bittencourt, do Instituto do Meio Ambiente e Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) que se dedica ao estudo do tema. A professora explica que para o uso eficiente da energia elétrica é necessário um somatório de ações que vão desde a gestão dos equipamentos e pessoas, passando pelo uso adequado da

iluminação dos ambientes e também pelo treinamento e qualificação do pessoal envolvido. Belkys Gonçalves Bittencourt lembra que cada tipo de atividade e de ambiente exige um tipo de iluminação. Existem estudos e normas que orientam os projetistas a aproveitarem da melhor maneira os recursos, equipamentos e lâmpadas existentes no mercado. “A iluminação

Março de 2010

Foto: Luciano Lanes/PMPA

32

Revista Ecos 30 - abril.indd 32

19/04/10 14:30:22


“O nível de iluminância é um importante fator para aproveitar ao máximo a luminosidade dos ambientes e reduzir o uso de iluminação artificial, que em excesso pode prejudicar a visibilidade e por consequência o conforto das pessoas que habitam ou usam aquele espaço.” é o chuveiro, a geladeira e outro aparelho mais potente o principal responsável pelo custo da conta de energia e nem sempre estes são os aparelhos responsáveis por este excesso de consumo.” A eficiência luminosa é outro aspecto (lúmen/watt) que precisa ser observado no caso de lâmpadas esclarece a professora. Segundo a professora Belkys, as lâmpadas incandescentes comuns têm, em geral, de 10 a 14 lúmens por watt, enquanto as lâmpadas florescentes chegam a 104 lúmens por watt. “A gente consegue gerar muito mais luz visível, consumindo menos energia. Então, é preciso pensar em todos estes aspectos para que o consumo de energia seja sempre racional e sem desperdícios”, conclui ela.

Ecos l 30

A professora Belkys observa que ambientes mal projetados podem muitas vezes até dispor de luminosidade natural, mas de forma inadequada, que obriga, por exemplo, no período de verão a utilização de ar condicionado para reduzir o calor interno. “Aí também não adianta de um lado economizar com lâmpadas e gastar com condicionadores de ar. Por isso é fundamental ter um estudo de cada projeto e encontrar soluções que promova equilíbrio entre a iluminação e a temperatura dos ambientes.” A professora da diz que a iluminação em residências, por exemplo, responde por cerca de 25 % da conta de energia e que, assim como a refrigeração, é um item de grande consumo. “Às vezes pensamos que

Foto: Stock Photo

adequada ajuda no ânimo, no desempenho e capacidade produtiva das pessoas. Isto também tem a ver com a qualidade de trabalho dos profissionais e tudo isso dever ser considerado quando se faz uma análise do uso adequado da energia. Cabe aos engenheiros eletricistas fazerem o que se chama de estudo luminotécnico”, observa ela. Além de ambientes que podem ser iluminados de forma natural a partir de projetos arquitetônicos que se proponham a aproveitar a luz solar, um aspecto importante destacado pela professora da Pucrs são as cores das paredes. Ela lembra que as cores com que são pintadas as paredes podem ajudar a clarear ou escurecer ambientes, repercutindo no maior ou menor consumo de energia. “O nível de iluminância é um importante fator para aproveitar ao máximo a luminosidade dos ambientes e reduzir o uso de iluminação artificial, que em excesso pode prejudicar a visibilidade e por consequência o conforto das pessoas que habitam ou usam aquele espaço.”

33

Revista Ecos 30 - abril.indd 33

19/04/10 14:30:22


Porto Alegre já tem um centro de energias renováveis

Março de 2010

O Centro de Referência em Energias Renováveis (Crer) de Porto Alegre foi inaugurado em setembro de 2009 e visa a promover e incentivar, com ações e projetos, o uso de tecnologias em energias renováveis e em eficiência energética no âmbito das comunidades locais e regionais. Também vai possibilitar à comunidade o acesso a exemplos de projetos já existentes, a criação de parcerias voltadas a ações de promoção de energias renováveis e a eficiência energética, além de utilizar e promover o uso de fontes renováveis e sustentáveis de energia e gerar empregos. O Crer de Porto Alegre funciona na sede da Biblioteca Roberto Xavier (avenida Carlos Gomes 2.120), onde estão à disposição informações, conceitos, projetos, linhas de pesquisa e uma série de atividades pertinentes a esta nova visão mundial, que prioriza o uso de energias renováveis. Os impactos dos centros de referência em energias renováveis no âmbito nacional e internacional incluem o estabelecimento de uma referência (benchmark) para outros go-

Fotos: Sergio Louruz

Sandra Goulart Jornalista, assessora de imprensa da Smam

vernos locais ao redor do mundo na formulação e implementação de políticas de energia, além de aumentar a demanda de por tecnologias tecnolog energias renováveis. SegunS do o se secretá-

rio municipal do Meio Ambiente, Professor Garcia, incentivador do projeto, dentre as metas e atividades a serem desenvolvidas pelo Crer, destacam-se a integração entre a Prefeitura de Porto Alegre e as cidades da Rede Elo, além da

34

Revista Ecos 30 - abril.indd 34

19/04/10 14:30:23


interação e da articulação com outros centros de referência. O projeto Rede Elo (Comunidades Modelo em Energias Renováveis Locais) foi iniciado em 2005 pelo Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade) para criar um elo entre governos locais do mundo que agem como líderes na promoção de energias renováveis e eficiência energética em centros urbanos. O projeto faz parte da Campanha Cidades para a Proteção do Clima (CCP) e recebe apoio financeiro da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GTZ). As cidades de Belo Horizonte, Betim, Porto Alegre, Salvador, São Paulo e Volta Redonda compõem a Rede Elo. O Secretariado Mundial do Iclei está em Toronto, no Canadá, e é representado na região pelo seu Secretariado da América Latina e Caribe (Lacs), em Buenos Aires, com escritório de projetos em São Paulo. Desde 1997, Porto Alegre integra o Iclei e, em 2008, foi escolhida para ser a Segunda Cidade Mode-

lo da Rede Elo no Brasil. Em maio de 2009 foi assinado o termo de convênio para participação de Porto Alegre como Cidade Modelo da Rede Elo. Como agência ambiental e de desenvolvimento sustentável internacional para governos locais, o Iclei fornece informações, providencia treinamento, organiza conferências, facilita o intercâmbio entre cidades e a constituição de redes, executa pesquisas e projetos-piloto, além de

prestar serviços técnicos e de consultoria. As atividades da Rede Elo criam centros de referência e capacitação, implementam programas de conscientização, estabelecem parcerias públicoprivadas e outras parcerias voltadas à promoção de energias renováveis e eficiência energética, principalmente no âmbito local; desenvolvem políticas locais para eficiência energética e promoção de energias renováveis e também promovem e divulgam o envolvimento de governos locais no uso e na expansão de fontes de energia renováveis, apoiando a busca de recursos para o estabelecimento de elos da rede em outros países.

Proteção do clima A Campanha das Cidades para a Proteção do Clima (CCP) é uma das ações promovidas pelo Iclei em âmbito mundial visando a reverter a tendência de aquecimento do planeta, melhorar a qualidade do ar e a qualidade da vida urbana. Ela reúne cidades interessadas em preparar e executar planos de ações que reduzam a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e já inclui mais de 650 municípios. A CCP executa diversos projetos de assistência técnica com enfoques inovadores para promover e colocar em prática medidas de eficiência energética, gestão integrada de resíduos sólidos, transporte sustentável.

Ecos l 30

Estão disponíveis informações, conceitos, projetos, linhas de pesquisa e atividades relativas ao uso de energias renováveis.

35

Revista Ecos 30 - abril.indd 35

19/04/10 14:30:25


Dmae estuda aproveitamento do gás metano para a geração de energia

Março de 2010

Uma parceria entre o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre e o projeto "Promovendo o Uso do Biogás Local para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil" (REEEP " Renewable Energy and Energy Efficiency Partnership), iniciativa do secretariado latino-americano da organização Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI), está em andamento e deverá apresentar os primeiros resultados do diagnóstico no próximo dia 31 de julho. A iniciativa, que será acompanhada nacionalmente pelos municípios de Manaus (AM) e Betim (MG), promete ser um grande achado ambiental e econômico para o município de Porto Alegre. A proposta básica do projeto, iniciada em fevereiro deste ano, consiste em dar aproveitamento ao gás metano que é produzido e desperdiçado atualmente nas estações de tratamento de esgotos da capital gaúcha. De acordo com o biólogo da Divisão de Pesquisa do Dmae, Evandro Colares, a isso se torna muito importante na medida em que Porto Alegre

Arquivo/Dmae

Ademar Vargas de Freitas jornalista

36

Revista Ecos 30 - abril.indd 36

19/04/10 14:30:26


Arquivo/Dmae

deve ampliar para a faixa de 80% o índice de tratamento de esgotos da cidade nos próximos meses. “Certamente com a entrada em operação das novas estações de tratamento que estão em obras, as ETE Serraria e Sarandi, a geração de gás metano vai praticamente triplicar em Porto Alegre”, confirma ele. O gás metano é um dos principais agentes no fenômeno ambiental conhecido como efeito estufa. A liberação deste gás no ambiente natural ajuda a acelerar o aquecimento global que tem sido objeto de preocupação de pesquisadores, cientistas e ambientalistas em todo mundo. Ainda não existe uma quantificação do que é produzido de gás atualmente, e esta será a primeira tarfefa do estudo que está em andamento pelo ICLEI, que deve concentrar a pesquisa nos digestores de lodo da ETE Navegantes e nos pequenos reatores UASB operados pelo Dmae (Esmeralda e Bosque dos Maias). A partir deste

estudo, de acordo com o assessor técnico do ICLEI no Brasil, Guilherme Johnston, a cidade terá condições técnicas para pleitear recursos internacionais para a implementação dos sistemas de aproveitamento do gás gerado espontaneamente nas estações de tratamento. "Porto Alegre foi escolhida para participar do projeto pela importância que tem, do ponto de vista social, geográfico, econômico e populacional", afirma Johnston. De acordo com o assessor do ICLEI, o desafio de encontrar uma solução para o problema, tendo em vista que a decomposição e o tratamento dos esgotos geram inevitavelmente o gás metano, pode transformar o que é negativo em algo positivo. “É possivel, e o estudo deve confirmar isto, que Porto Alegre não só vá evitar o lançamento inadequado do gás na atmosfera como também contribuir para maior eficiência energética, gerando energia elétrica a partir do gás coletado nas estações de tratamento”, observa.

A energia elétrica produzida a partir do biogás terá um papel importante na composição dos custos de tratamento de água da capital gaúcha. Evandro Colares acredita que talvez o Dmae possa até vender ou repassar para o sistema elétrico de Porto Alegre a energia elétrica excedente. “Com isso, estaremos configurando um ganho, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico e de eficiência energética”, completa o biólogo, lembrando que o Dmae tem na energia elétrica o segundo mais importante componente de custo para a operação de seu sistema de tratamento e distribuição de água. Já o assesor de projetos do ICLEI destaca que a proposta não deve representar custos para o Dmae nem para a cidade. “Por ser uma de nossas mais antigas parceiras (Porto Alegre participa desde 1997 das ações ambientais do ICLEI), fizemos a escolha da cidade para o desenvolvimento deste trabalho técnico”, complementa.

Ecos l 30

ETE São João/Navegantes

37

Revista Ecos 30 - abril.indd 37

19/04/10 14:30:27


Março de 2010

Os projetos do ICLEI Lançado como o conselho internacional para iniciativas ambientais locais, em 1990, na sede das Nações Unidas, em Nova York, o ICLEI, enquanto movimento, desenvolve e gerencia diversas campanhas e programas que abordam questões de sustentabilidade local e protegem bens comuns globais (como qualidade do ar, clima e água), fazendo a ligação entre a ação local e as metas e objetivos de acordos internacionais. Arquivo/Dmae

Johnston ressalta que o ICLEI é uma associação democrática e internacional de governos locais e organizações governamentais nacionais e regionais que assumiram um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Ele explica que hoje são mais de 1.100 cidades, municípios e associações no mundo todo que fazem parte da comunidade de membros da instituição. “De certa forma, ao colocar as cidades no primeiro plano de ações, estamos delegando aos gestores municipais, que têm contato mais próximo com a população, a posibilidade de rapidamente desenvolver projetos ambientais com resultados mais efetivos.” Apostando na possibilidade do projeto de Porto Alegre vir a ser implementado com sucesso, Johnston garante que a iniciativa deverá nortear projetos semelhantes em todo o Brasil e na América Latina. "Pelo caráter inovador deste projeto, tenho plena convicção de que a cidade de Porto Alegre será referência mundial para o tema. A partir do estudo a cidade conseguirá pleitear recursos internacionais e servir de exemplo nacional e internacional.” Ao final do estudo, que será apresentado sob a forma de um relatório técnico, também será editado um manual e apresentado um seminário que servirá de orientação para outras localidades. "O espírito da proposta é justamente o de colocar as cidades de Porto Alegre, Manaus e Betim, onde os estudos estão sendo feitos, no foco dos projetos deste tipo, que são preconizados pelo Protocolo de Kyoto", finaliza.

ETE Bosque dos Maias

Entre as principais atribuições do ICLEI está a ajuda aos governos locais para a promoção da conscientização política sobre questões-chave, além de estabelecer planos de ação para atingir objetivos concretos e mensuráveis. Como agência ambiental e de desenvolvimento sustentável internacional para governos locais, o ICLEI fornece informações, providencia treinamento, organiza conferências, facilita o intercâmbio entre cidades e a constituição de redes, executa pesquisas e projetos-piloto, além de prestar serviços técnicos e de consultoria.

O ICLEI tem apoio de financiadores de projetos e das cidades anfitriãs, e conta com o respaldo de muitas agências de cooperação, como o Escritório Australiano do Efeito Estufa, a Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (CIDA), a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), a Comissão Européia, a Fundação Ambiental Alemã e a Agência Norte-americana de Proteção Ambiental (EPA).

O Projeto REEEP e o gás metano A parceria entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre dá continuidade às atividades desenvolvidas no Projeto M2MBrasil que recebe auxílio financeiro do REEEP (Renewable Energy and Energy Efficiency Partnership) e buscará auxiliar a implantação de atividades de recuperação de metano. A proposta é desenvolver políticas para regular sistemas de despejo de resíduos sólidos (incluindo aterros sanitários) e estações de tratamento de esgoto com o objetivo de gerar energia a partir da recuperação do biogás. Dentre as ações do projeto estão: a produção de um Guia para Autoridades Locais que mostre como implementar a recuperação de metano para produzir energia a partir do biogás gerado em estações de tratamento de efluentes; e a organização de um workshop sobre como utilizar o guia, desenvolvendo estratégias energéticas municipais que promovam energias renováveis. De acordo com Guilherme Johnston, a ICLEI vai auxiliar as cidades modelos a partici-

38

Revista Ecos 30 - abril.indd 38

19/04/10 14:30:28


par em um workshop internacional que tem como objetivo principal disseminar as atividades do projeto. Johnston explica que uma das principais preocupações do ICLEI é o estabelecimento de uma referência para outros governos locais na formulação e implantação de políticas energéticas, tendo em vista que esta já é uma questão de

grande preocupação no Brasil e no mundo. Segundo o asesor do ICLEI no Brasil, é preciso garantir que cidades brasileiras avaliem opções para gerar energia a partir resíduos e efluentes em suas operações municipais e comunidades servidas por elas, reduzindo custos, ao mesmo tempo em que se produz efeitos

positivos no ambiente natural. Ele lembra que Porto Alegre também poderá, a partir da implementação do sistema de aproveitamento do gás, requerer créditos de carbono, que é um mecanismo internacional de compensação para a redução dos efeitos do aquecimento global. Isto poderá significar o ingresso de receita para a cidade.

estufa e o o it e f e o e r b o S a ib a m a is s oto Protocolo de Ky de março de 1998, acional, ratificado em 15

Ecos l 30

um instrumento intern pelo efeito estufa O Protocolo de Kyoto é s. Estes são responsáveis nte lue po s se ga de s õe dia 16 de feiss oficialmente em vigor no que visa a reduzir as em u tro en oto Ky de lo co l. O Proto ade de Kyoto (Japão). e pelo aquecimento globa gociado em 1997, na cid ne e o tid cu dis o sid ter pelo qual os países vereiro de 2005, após ro há um cronograma nt co en ste de r rti pa a 2008 e 2012 No documento gerado ntes entre os anos de lue po s se ga de ão iss o, metano, %, a em são: dióxido de carbon devem reduzir, em 5,2 do or ac no os ad cit s do). Os gase rados e hexafluoreto (primeira fase do acor hidrocarbonetos perfluo , os ad or flu s eto on rb por indústrias. óxido nitroso, hidroca itidos principalmente em o sã s trê s e ambienos im últ Os de enxofre. rios setores econômico vá em r re or oc ve de sugere ntes as metas. O protocolo A emissão destes polue m ire ing at ra pa si colaborar entre (biocombustíveis, tais. Os países devem tes de energias limpas fon de o us do o nt me au eas verdes; a ações comuns, como: o florestas e de outras ár de o çã ote pr a ); lar l e à dimia e so do ao consumo raciona energia eólica, biomass an vis , rte po ns tra e de energia o de lixo orgânico. otimização de sistemas em sistemas de depósit tes en es pr , no ta me nuição das emissões de

39

Revista Ecos 30 - abril.indd 39

19/04/10 14:30:29


Eficiência energética no saneamento: um desafio a ser vencido Airton Sampaio Gomes Consultor do Cepel – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, vinculado à holding Eletrobrás

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), as despesas com energia elétrica das operadoras do setor atingiram o montante de R$ 2,58 bilhões em 2007, constituindo, para a maioria delas, a segunda despesa da pauta de custos operacionais, sendo que em 626 sistemas já representam o primeiro item de custo, como se vê no Quadro 1. Foto: DIvulgação/Dmae

Quadro 1 – Representatividade do custo de energia elétrica na pauta de despesas de exploração MUNICÍPIOS ITEM DE CUSTO 626 Primeiro 1463 Segundo 1348 Terceiro 563 Quarto

O consumo de energia elétrica do setor saneamento está resumido no Quadro 2. Quadro 2 – Consumo anual de energia elétrica por tipo de sistema Sistemas de AGUA - MWh/ano Sistemas de ESGOTOS - MWh/ano TOTAL - MWh/ano

9.812.457 598.209 10.410.666

Março de 2010

Fonte: SNIS, 2007, adaptado

A literatura técnica aponta que 90 % a 95 % do consumo de energia elétrica nos sistemas de abastecimento são atribuíveis aos sistemas de bombeamento. A menor parcela é destinada a sistemas auxiliares e à iluminação (Tsutiya, 2001). Os dados do SNIS apontam que pelo menos 70 % deste consumo se dão em sistemas de abastecimento com potência instalada acima de 500 kW.

Combater as perdas de água nos sistemas operacionais é fundamental

O consumo do setor equivale a cerca de 2,6 % do consumo total do país (412 TWh em 2007, BEN 2008). O SNIS 2007, no documento chamado Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos 2007 - Visão Geral da Prestação de Serviços (MCidades, 2009), apresenta a matriz de Balanço Hídrico Brasil, realizada a partir dos dados coletados de 2007. Este balanço evidencia que as perdas reais de água (perdas técnicas, na linguagem dos sistemas de energia), basicamente constituídas por vazamentos nas redes e ramais prediais, chegam a 28 % do volume que é disponibilizado na entrada dos sistemas distribuidores. Além das perdas

40

Revista Ecos 30 - abril.indd 40

19/04/10 14:30:29


Consumo medido faturado 6.530.893.000 m3/ano Consumo não medido faturado 1.504.855.000 m3/ano

Consumo autorizado faturado 8.035.748.000 m3/ano Consumo autorizado 8.469.085.000 m3/ano Margem de erro [+/-] 2,6 % Volume anual de entrada no sistema 14.028.887.000 m3/ano Margem de erro [*/-] 20,0 % Perdas de água 5.559.802.000 m3/ano Margem de erro [+/-] 50,6%

Consumo autorizado não faturado 433.337.000 m3/ano Margen de erro [+/-] 50,0 %

Água faturada 8.035.748.000 m3/ano

Consumo medido não faturado 0 m3/ano Consumo não medido não faturado 433.337.000 m3/ano Margem de erro [+/-] 50,0 % Consumo não autorizado 522.241.472 m3/ano Margem de erro [+/-] 46,0 %

Perdas Aparentes 1.632.493.282 m3/ano Margen de erro [+/-] 20,0 %

Imprecisões dos medidores e erros de manipulação dos dados 1.110.251.810 m3/ano Margem de erro [+/-] 20,0 %

Água não faturada 5.993.139.000 m3/ano Margem de erro [+/-] 46,8 %

Perdas reais 3.927.308.718 m3/ano Margem de erro [+/-] 72,1 %

OBS: este balanço foi feito utilizando-se o software freeware WB Easy Calc, desenvolvido por Roland Lienberger, para o Banco Mundial

Figura 1 – Matriz do balanço hídrico para o Brasil, com dados dos sistemas de abastecimento de água (SNIS 2007)

reais (técnicas) há ainda as perdas aparentes (comerciais), não levadas em conta neste estudo. Considerando-se que o consumo de energia elétrica nos sistemas de abastecimento de água é também um dado levantado pelo SNIS, temos então a situação mostrada no Quadro 3. Outro dado a ser apreciado é o “volume de perdas reais anuais inevitáveis”. Este volume é determinado segundo uma fórmula empírica determinada por Lambert, pesquisador da IWA (International Water Association). Leva em conta a extensão de redes e ramais e supõe um sistema com boa infraestrutura e bem gerenciado. O cálculo das perdas reais anuais inevitáveis aplicado ao Balanço Hídrico Brasil leva a um número substancialmente menor que 10 % das perdas reais anuais totais. No estudo que fizemos, por conservadorismo e arbitrariamente, considerou-se que as perdas inevitáveis sejam 10 % das perdas reais totais. Ou seja, para a produção e distribuição de 1.430 m³ de água se gasta 1 MWh, ou, de outra forma, 0,70 kWh/m³. Só com a redução das perdas reais para um patamar próximo ao limite das perdas inevitáveis, poderia se conseguir uma redução de 2,62

TWh por ano no consumo de energia do setor saneamento. Estimou-se que com a implementação de outras medidas de eficientização de sistemas de bombeamento possa se chegar a uma economia de 2,08 TWh por ano. Ou seja, o potencial técnico de redução do consumo de energia elétrica, chega a 45 % do consumo atual. O potencial de economia de energia elétrica é elevado, tendo em vista a existência de: • grandes perdas de água por vazamentos nas redes e ramais prediais; • dimensionamento inadequado dos equipamentos elétricos e eletromecânicos, que operam fora do ponto de rendimento ideal; • má utilização da capacidade de reservação, impedindo a racionalização do despacho das unidades e em consequência a redução da demanda no horário da ponta; • precariedade do controle operacional, expressa na ausência de equipamentos para medição de parâmetros elétricos e hidráulicos, telemetria e sistemas supervisórios, especialmente nos sistemas distribuidores; • deficiências de setorização dos sistemas e falta de controle de pressão adequados;

Quadro 3 – Cálculo de parâmetros de consumo, com dados do SNIS.

Volume total produzido e distribuído em 2007 Produção e distribuição unitária de água por MWh Consumo específico médio de energia elétrica por m³

Valor 9.812.457 14.028.887.000

Unid MWh/ano

SNIS 2007

Fonte

m³/ano

Balanço Hídrico Brasil - 2007

1.429,70

m³/MWh

parâmetro médio calculado

0,70

kWh/m³

parâmetro médio calculado

Ecos l 30

Parâmetros Consumo total de energia elétrica em sistemas de água em 2007

41

Revista Ecos 30 - abril.indd 41

19/04/10 14:30:31


• deficiências no controle de vazamentos; • deficiências na gestão da infraestrutura; • escassez de mão de obra qualificada; • prevalência da manutenção corretiva em detrimento da preditiva e preventiva. No que toca a projetos de eficiência energética nos sistemas de bombeamento, a simples substituição de equipamentos por outros teoricamente mais eficientes não garante o sucesso do projeto, visto que o dimensionamento deve levar em conta as reais condições operacionais das instalações, que só podem ser determinadas por registros confiáveis das grandezas elétricas e hidráulicas.

Outra recomendação dos especialistas é que as medidas de promoção da eficiência energética das instalações sejam acompanhadas de medidas para redução das perdas de água por vazamentos, sob pena de comprometimento do resultado das primeiras. Também é importante que ocorra a continuidade de ações de capacitação do setor de saneamento em relação à eficiência energética, tanto no que diz respeito à gestão quanto ao projeto e à operação. Em particular, há necessidade de reforço do parque de projetistas especializados no setor, para atendimento às prestadoras de serviço, inclusive no tocante à elaboração de projetos para apresentação aos agentes financiadores.

Março de 2010

Potencial técnico de economia decorrente de intervenções nos processos de bombeamento e de reservação prego de sistemas de automação e regras operacionais otimizadas. Por último, a utilização de motores mais eficientes ou de alto rendimento, também apresentam algum potencial de economia. É possível concluir que o custo, a preços de mercado, das perdas de energia elétrica no saneamento chega ao montante de R$ 800 milhões por ano.

Foto: Maria de Louders Wolff/Dmae

Estas medidas incluem ações como adequação de válvulas, barriletes e adutoras em sistemas de bombeamento no sentido de reduzir perdas de carga; redução de perda de carga por limpeza e revestimento ou ampliação de diâmetro das tubulações (ou tubulação adicional), eliminação de ar e modulação de carga nos sistemas com ou sem o uso de conversores de frequência, mas principalmente por intermédio destes últimos. Este grupo de medidas apresenta um potencial significativo, pois muitos dos sistemas hoje em operação foram projetados em uma época em que os gastos com energia eram pouco relevantes no saneamento. Desta forma, o impacto das perdas de carga não foi devidamente considerado nos sistemas de bombeamento, com o complicador de que sistemas com tubulação de maior diâmetro oneram o investimento inicial. Outra situação comum nos sistemas em operação é o bombeamento direto na rede distribuidora sem considerar as variações de demanda. Também se encontra situações em que o bombeamento foi dimensionado para final de plano, mas opera hoje com uma demanda muito menor. Isto ocorre principalmente em elevatórias de esgotos, mas também nos sistemas de abastecimento. Também são importantes ações como o dimensionamento adequado dos conjuntos motobomba, a utilização de bombas mais eficientes, o uso adequado dos sistemas de reservação e o em-

Macromedidores: um auxílio no combate às perdas

42

Revista Ecos 30 - abril.indd 42

19/04/10 14:30:31


Revista Ecos 30 - marรงo.indd 43

06/04/10 14:49:50


Revista Ecos 30 - marรงo.indd 44

06/04/10 14:49:50



Prefeitura Municipal de Porto Alegre Supervisão de Comunicação da PMPA Coordenação da Assessoria de Comunicação do Dmae Angélica Ritter - Mtb 11.010 Edição Maria de Lourdes da Cunha Wolff - Mtb 6.535 Fotos da capa Marcelino Heck - Jardins da Hidráulica Moinhos de Vento Planejamento gráfico e diagramação Vinícius Kraskin e Rafael Cividini - Nova Pauta Revisão Com Mais Comunicação Impressão Oficina Litográfica do Dmae Tiragem 5.000 exemplares

ECOS Técnica é uma publicação quadrimestral, encartada na Revista ECOS, no 30, ano 16, março de 2010, do Departamento Municipal de Água e Esgotos, dedicada à divulgação de trabalhos técnicos realizados pelos funcionários do Dmae, na área de saneamento ambiental e recursos hídricos. Comissão Editorial da ECOS Técnica Airana Ramalho do Canto Aline Fronckowiak Salis Angélica Ritter Flávia Helena Righi de Oliveira Iara Conceição Morandi José Giovani da Costa Nunes Luiz Fernando Alves da Silva Márcio Suminski Maria de Lourdes da Cunha Wolff Melissa Vieira da Silva Sandra Mara Moura Pereira (coordenação) Correspondência Encarte ECOS Técnica Unidmae - Universidade Corporativa do Dmae Rua 24 de Outubro, 200 CEP 90510-000 - Porto Alegre - RS e-mail: ecostecnica@dmae.prefpoa.com.br


Apresentação

Racionalização Energética: alternativa para evitar desabastecimento de água A busca de alternativas para redução do consumo de energia é um dos fatores que motivam os técnicos do DMAE a inovar a metodologia da operação dos grupos motor-bomba a partir do Centro de Comando Operacional em Porto Alegre. Neste contexto, além de baixar o consumo energético, contribui para a sustentabilidade dos mananciais, evitando desperdício de água, uma vez que esta fica reservada, garantindo assim que não ocorra desabastecimento para os porto-alegrenses. A ousadia desses técnicos tangencia outras mudanças corporativas, quais sejam, mudanças culturais na supressão de práticas laborais bastante arraigadas e, consequentemente, a adoção de atitudes de compartilhamento de conhecimentos, monitoramento de indicadores de resultados e espírito de trabalho em equipe, exigindo, portanto capacitação e desenvolvimentos focados para operadores de estações elevatórias. As práticas de monitoramentos são recorrentes também entre os técnicos da Divisão de Pesquisas que procedem o acompanhamento das variações sazonais e os fatores que implicam na proliferação de cianobactérias no lago Guaíba.


Índice

3 Apresentação

5 Considerações sobre a variação temporal do fitoplâncton em um ponto amostral do lago Guaíba: estudo de longa duração

14 Utilização Racional de Energia Elétrica na Operação de Estações Elevatórias de Água Tratada do Dmae de

22 Normas para apresentação de artigos técnicos e destaque fotográfico na ECOS Técnica

Foto: Rogério Ribeiro / Arquivo DMAE

Porto Alegre em Horário Sazonal


Considerações sobre a variação temporal do fitoplâncton em um ponto amostral do lago Guaíba: estudo de longa duração Rodrigo da Rocha Andrade1 Danilo Giroldo2

Resumo Variação quali-quantitativa do fitoplâncton ocorre em diferentes escalas temporais. Variação sazonal é associada às recorrências climático-hidrológicas, enquanto que ciclos interanuais são influenciados por perturbações climáticas e antrópicas. Estudos de longa duração são importantes, pois fornecem informação continuamente atualizada e permitem distinção entre ciclos típicos e atípicos. Os monitoramentos efetuados pelo Dmae no lago Guaíba apresentam potencialidade em estudos de longa duração. Este trabalho objetivou apresentar as forças que regem a variação temporal do fitoplâncton em um ponto amostral do lago (julho de 1996 a junho de 2006). Foram analisados fitoplâncton total, temperaturas do ar e da água, chuva acumulada, nível da água, disco de Secchi, profundidade, sólidos suspensos totais e clorofila-a. Fitoplâncton total e clorofila-a apresentaram o mesmo comportamento na correlação com demais variáveis e foram relacionadas às temperaturas e ao disco de Secchi. A análise de componentes principais, com poder de explicação de 86,5%, mostrou que as forças que direcionaram a variação sazonal e interanual do fitoplâncton foram de natureza climática e hidrológica. Ao longo dos anos, a diminuição da profundidade confirmou a natureza deposicional do ponto e o aumento da transparência, acompanhada da redução de chuvas correspondeu ao desenvolvimento de cianobactérias. Os resultados confirmaram o potencial dos monitoramentos em modelagem e produção de informação para a população.

Introdução Fitoplâncton é definido como a comunidade de microorganismos fotossintéticos, principalmente algas e cianobactérias, adaptados a permanecer toda a vida, ou parte dela, em aparente suspensão nas águas abertas de ecossistemas aquáticos marinhos, estuarinos e continentais (Reynolds, 2006). Ele representa importante fonte

de alimento para os consumidores, sendo o principal grupo de produtores da zona pelágica (Reynolds, 1984; Sommer, 1989). A variação quali-quantitativa do fitoplâncton ocorre em diferentes escalas ao longo do tempo e envolve aspectos relacionados ao seu tempo de geração, às intensidade e durabilidade das condições ambientais e aos distúrbios associados. Sendo assim, podem ser reconhecidas,

Graduação em Ciências Biológicas (Ufrgs), especialização em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), especialização em Vigilância Ambiental em Saúde (ESP/UFPel), Mestre em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais - ênfase em Microalgas Continentais (Furg), orientado. 2 Graduação em Ciências Biológicas, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Ecologia de Recursos Naturais (UFSCar), vice-diretor do Instituto de Ciências Biológicas da Furg, orientador. 1

l Março de 2010

Palavras-chave: clima subtropical, microalgas continentais, variação interanual.

5


l Dmae ECOS Técnica 6

desde variações horárias a diárias (variação nictemeral), até variações dentro e ao longo dos anos (variações sazonais e interanuais) (Barbosa e Padisák, 2004). As variações sazonais do fitoplâncton são associadas às recorrências cíclicas do clima e da hidrologia, enquanto que ciclos interanuais podem ser influenciados por perturbações climáticas e antrópicas. Perturbações dessa natureza são difíceis de ser discriminadas em análises de ciclos anuais isoladamente (Valdes-Weaver et al., 2006). Estudos de longa duração podem indicar mudanças relacionadas às perturbações climáticas, hidrológicas ou antropogênicas em rios, lagos, reservatórios e estuários (Richardson, 1997). Eles são muito importantes porque, ao fornecerem informação continuamente atualizada, permitem a distinção entre ciclos típicos e atípicos ao longo dos anos (Zohary et al. 1996). Estudos de longa duração têm sido amplamente produzidos em todo o mundo para avaliar os efeitos de eutrofização, oligotrofização e perturbações climáticas sobre o fitoplâncton (p.e., Tolotti e Thies, 2002; Anneville et al., 2004; Jeppesen et al., 2007). Apesar de sua importância, estudos de longa duração são escassos para o Brasil (Bicudo et al., 2006). Alguns deles estão inseridos no Programa Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), que está vinculado à International Long Term Ecological Research (ILTER) (Seeliger et al., 2002). Para o Rio Grande do Sul, estado localizado na zona subtropical do Brasil, consta um único estudo de longa duração realizado por Abreu et al. (2009) que avaliou a variação da clorofila-a de curta e longa escalas entre os anos de 1984 e 2007 na laguna dos Patos. Nesse estudo observou-se correlação positiva significativa entre a variação anual da chuva e valores médios anuais de clorofila-a, que foram relacionados às perturbações causadas pelo fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) (Berlato e Fontana, 2003).

Os monitoramentos efetuados pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) no lago Guaíba, principal manancial de abastecimento de Porto Alegre (RS), apresentam potencialidade em estudos de longa duração. O caráter sistemático ao conjunto de análises realizadas permite a associação com dados quali-quantitativos de comunidades bioindicadoras, tais como diatomoflórula epilítica, macroinvertebrados bentônicos e fitoplâncton. Essas associações podem ser utilizadas em modelagem matemática (Markensten e Pierson, 2007), em diagnósticos e planos de contingenciamento ambiental, em avaliação dos impactos dos investimentos em saneamento, em análises de perturbações climáticas e na produção de informação para a população. Este estudo de longa duração objetivou apresentar as principais forças que regem a variação temporal do fitoplâncton em um ponto amostral do lago Guaíba, Rio Grande do Sul, Brasil. Metodologia O ponto de coleta considerado foi a captação de água Menino Deus (30º03'31"S - 51º14'09"W), a 500 m da margem esquerda do lago Guaíba, em frente ao parque Marinha do Brasil, município de Porto Alegre. Estão previstos investimentos em tratamento para os esgotos sanitários (Programa Integrado Socioambiental, Pisa) da bacia do arroio Dilúvio, com foz à montante do ponto de estudo, tornando relevante a memória das condições anteriores à implantação dessas melhorias para avaliações futuras. As coletas foram realizadas entre julho de 1996 e junho de 2006 (n = 118), com auxílio da embarcação Salminus (Dmae). As amostras do fitoplâncton foram acondicionadas em frascos opacos de polietileno, e alíquotas foram preservadas em lugol acético (0,25%). A contagem foi realizada em câmara de Sedg-


do ar (12,0 a 31,0 ºC) e da água (12,8 a 29,0 ºC) demonstraram recorrência cíclica sazonal ao longo dos anos e apresentaram, em geral, correspondência direta com a variação de clorofila-a (0,0 a 19,9 mg.l-1) e fitoplâncton total (26 a 12.342 ind.ml-1). As variações dos volumes de chuva (0,6 a 252,3 mm) corresponderam às variações do nível da água (0,27 a 2,34 m). Normalmente, os mais baixos valores desses descritores corresponderam aos picos de temperatura e clorofila-a nos meses de verão, entre dezembro e março. Os meses entre o final do outono e o início da primavera, de junho a outubro apresentaram os maiores valores de chuva acumulada, nível da água, profundidade e sólidos suspensos totais. Os perfis temporais permitiram verificar o aumento considerável nos valores do disco de Secchi, bem como a redução da profundidade e dos teores dos sólidos suspensos totais em direção aos anos finais da série. As variações mínimas de chuva acumulada foram mais elevadas entre 1997 e 1998 e também tenderam a valores mais reduzidos em direção aos anos finais, com exceção do inverno de 2005, que registrou o maior valor acumulado para a série (253,2 mm) (Figura 1).

wick-Rafter (APHA, 1995), em microscópio binocular, aumento médio de 300x. Foram considerados como indivíduos as células, colônias, filamentos e cenóbios contados. As variáveis analisadas para este trabalho foram temperatura do ar - Tar e da água - Tag, chuva acumulada nos trinta dias anteriores à coleta - CH (8o Distrito de Meteorologia), nível da água - Hnm (Superintendência de Portos e Hidrovias), disco de Secchi - Zs, profundidade - Zmax, sólidos suspensos totais SST, e clorofila-a - Cla. As metodologias analíticas, crítica e padronização dos dados, organização das séries temporais e inferências estatísticas encontram-se em Andrade (2009). As análises de componentes principais - ACP para o resumo das informações foram realizadas com o auxílio do pacote estatístico livre Past (Hammer et al., 2001). Resultados As estatísticas para os descritores considerados neste trabalho são apresentadas na Tabela 1, e os perfis temporais dos escores padronizados das variáveis ambientais podem ser visualizados na Figura 1. As variações dos valores mínimos e máximos das temperaturas

Unidade

Código

Mín.

Máx.

Média

s

Temperatura do ar

ºC

Tar

12,0

31,0

21,8

4,7

Temperatura da água

ºC

Tag

12,8

29,0

21,3

4,5

mm

CH

0,6

252,3

118,0

62,0

Nível da água

m

Hnm

0,27

2,34

1,22

0,43

Disco de Secchi

m

Zs

0,15

0,70

0,36

0,11

Profundidade

m

Zmax

8,5

12,0

10,4

0,7

Sólidos suspensos totais

g.l -1

SST

<10

46

22,8

8,4

Clorofila-a

g.l -1

Cla

0,0

19,9

3,0

3,6

FITOT

26

12.342

278*

2,1*

Chuva acumulada

Fitoplâncton total

ind.ml

-1

l Março de 2010

Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis ambientais e do fitoplâncton total. Lago Guaíba, RS, julho/1996 a junho/2006. Mín. - mínimo; Máx. - máximo; s - desvio padrão; (*) Média e desvio para dados log-transformados (logx+1).

7


Figura 1. Perfis temporal dos escores padronizados (z) da temperatura do ar Tar (ºC) e disco de Secchi - Zs (m), temperatura da água - Tag (ºC) e clorofila-a Cla ( g.l-1), chuva acumulada - CH (mm) e nível da água - Hnm (m), profundidade μg.l-1). Lago Guaíba, RS, julho/1996 - Zmax (m) e sólidos suspensos totais - SST (μ a junho/2006. As relações entre as correlações lineares do fitoplâncton total e da clorofila-a com as variáveis ambientais são apresentadas na Figura 2. Em geral, o maior desenvolvimento do fitoplâncton total e da clorofila-a foram significativamente (r > ± 0,180, α < 0,05) e positivamente relacionados às temperaturas do ar, da água e disco de Secchi, e

Cla

0,600

negativamente relacionados aos sólidos suspensos totais, chuva acumulada, profundidade e nível da água. A correlação da clorofila-a com as variáveis ambientais foi mais forte que a correlação do fitoplâncton total. O coeficiente de correlação linear entre clorofila-a e fitoplâncton total foi robusta e significativa (r = 0,498, p < 0,05).

FITOT

r crítico (+)

r crítico (-)

0,400

r

0,200 0,000

l Dmae ECOS Técnica

-0,200

8

-0,400 -0,600 Tag

Tar

Zs

SST

CH

Zmax

Hnm

Figura 2. Relação entre correlações do fitoplâncton total e da clorofila-a Cla com as variáveis ambientais. O significado dos códigos das variáveis encontra-se na Tabela 1. Valores críticos: r = ± 0,180 (? =0,05). Lago Guaíba, RS, julho/1996 a junho/2006.


nella formosa), e aos períodos de 2003 a 2006, quando ocorreram picos de clorofila-a associados a florações de Cyanophyceae/ Cyanobacteria (Planktothrix isothrix). O lado negativo do eixo I correspondeu a todos os meses de inverno, maio e junho (meio e final de outono), estando principalmente relacionados às águas altas. Assim como os meses de outono, os meses de primavera apresentaram amplo gradiente de temperaturas. As séries interanuais de 1996 a 2000 posicionaram-se junto ao maior gradiente de chuvas, profundidade e sólidos suspensos totais.

O diagrama (biplot) da análise de componentes principais - ACP com a disposição dos autovetores das variáveis ambientais e dos escores das unidades temporais mensais e interanuais pode ser visualizado na Figura 3. As variáveis Tar, Tag, Cla e Zs posicionaram-se no lado positivo do eixo I (CP I) e foram associadas ao verão e aos meses de dezembro (final da primavera) e abril (início do outono). As séries interanuais nesse lado do eixo corresponderam aos períodos de 1996-1997, quando ocorreram picos de clorofila-a associados a florações de Bacillariophyceae (Asterio-

05_06

1,6

04_05

Jun 1,2 03_04

Mai Ago

0,8

Set

0,4

Jul

Abr 96_97 Zs

-1,6

-1,2

-0,8

-0,4 Hnm CH Zmax SST -0,4 01_02 99_00 02_03 -0,8 Nov 98_99

97_98 00_01 Out

-1,2 -1,6 -2

CP II 20,6 %

-2

CP I 65,9 %

0,4Cla

0,8

1,2

1,6

TarTag Dez Mar

Fev Jan

Inverno

Verão

Primavera

Outono

Interanuais

As percentagens de explicação e correlações das variáveis com os dois primeiros eixos (CP I e II) da ACP são apresentadas na Tabela 2. O eixo I (CP I) foi principalmente representado em seu lado positivo pelas variáveis Cla (r = 0,894), Tar (r = 0,868), Tag (r = 0,861) e pelas

unidades temporais (e escores) janeiro (1,720), fevereiro (1,675), março (1,314), 2004-2005 (1,043) e dezembro (1,020). O lado negativo do eixo I foi principalmente representado pelas variáveis Hnm (r = -0, 851) e CH (r = -0,809) e pelas unidades temporais julho (-1,614), outu-

l Março de 2010

Figura 3. Biplot da análise de componentes principais - ACP com a disposição dos autovetores das variáveis temperatura do ar - Tar, temperatura da água Tag, chuva acumulada - CH, nível da água - Hnm, disco de Secchi - Zs, profundidade - Zmax, sólidos suspensos totais - SST, clorofila-a - Cla e das unidades temporais mensais (jan - dez) e interanuais (96_97 - 05_06). Lago Guaíba, RS, julho/1996 a junho/2006.

9


Discussão

bro (-1,228), setembro (-1,156), 19981999 (-1,121) e 1997-1998 (-1, 106). O eixo II (CP II) foi principalmente representado em seu lado positivo pela Zs (r = 0,635) e pelas unidades temporais 20052006 (1,679), 2004-2005 (1,520), 20032004 (1,222). O lado negativo do eixo II foi principalmente representado por SST (r = -0,651) e pelas unidades temporais outubro (-1,594), 2000-2001 (-1,207) e 1997-1998 (-1,073).

As correlações entre as variáveis e a análise de componentes principais - ACP apresentadas neste trabalho permitiram verificar que as principais forças que direcionaram a variação quantitativa sazonal e interanual do fitoplâncton na série de longa duração foram de natureza climática (Tar, Tag, CH) e hidrológica (Hnm, Zmax).

Tabela 2. Percentagem de explicação, correlações das variáveis e escores das unidades temporais com os dois primeiros eixos (CP I e II) da ACP. O significado dos códigos das variáveis encontra-se na Tabela 1. CP

l Dmae ECOS Técnica

% de explicação

10

I

II

65,9

20,6

Variáveis ambientais Tar Tag CH Hnm Zs Zmax SST Cla

0,868 0,862 -0,809 -0,851 0,688 -0,745 -0,661 0,894

Unidades temporais Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun 96_97 97_98 98_99 99_00 00_01 01_02 02_03 03_04 04_05 05_06

-1,614 -1,211 -1,156 -1,228 -0,004 1,020 1,720 1,675 1,314 0,788 -0,504 -0,945 0,439 -1,106 -1,121 -0,043 -0,543 -0,303 -0,389 0,467 1,043 0,702

Correlações -0,469 -0,485 -0,363 -0,119 0,635 -0,428 -0,652 -0,036 Escores 0,577 0,882 0,445 -1,594 -0,760 -0,611 -0,713 -0,701 -0,748 0,746 1,075 1,422 0,439 -1,073 -0,851 -0,573 -1,207 -0,518 -0,595 1,122 1,520 1,679


ocorreu entre 2003-2006. Ao contrário, na Lagoa dos Patos a produção fitoplanctônica é potencializada em períodos de chuvas acima da média (El Niño) (Abreu et al., 2009). Os resultados sugerem que a competência no arraste de nutrientes do lago Guaíba para a Lagoa dos Patos em períodos de muita chuva contribuem para o aumento da produção na Lagoa. Ao contrário, em períodos de seca, o tempo de detenção hidráulica do lago Guaíba é aumentado, potencializando o desenvolvimento de cianobactérias, que consomem os nutrientes, reduzindo essa contribuição para a Lagoa dos Patos. A correlação menos robusta entre temperaturas e densidade em relação à clorofila-a foi associada às imprecisões atribuídas à contagem de indivíduos, que superestima as formas unicelulares nanoplanctônicas e subestima a quantificação das formas unicelulares e multicelulares micro a mesoplanctônicas (Maizonave et al., 2009). Assim, o uso de técnicas mais precisas de quantificação, tais como o biovolume (Torgan et al., 1998), poderiam ser buscadas em estudos futuros para o lago. De qualquer maneira, o efeito estocástico atribuído ao considerável número de amostras (n = 118) permitiu correlações significativas da densidade do fitoplâncton total com as variáveis consideradas. Conclusões Este trabalho analisou alguns resultados de dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais da Furg. Os dados de monitoramento efetuado pelo Dmae e analisados demonstraram a sua qualidade na avaliação de processos e alterações ao longo dos anos para o lago Guaíba. Com isso, ratifica-se a importância do monitoramento do lago Guaíba em estudos de longa duração, de modelagem matemática, de diagnóstico e contingenciamento ambiental, avaliação dos impactos dos investimentos em saneamento, análises

l Março de 2010

Temperatura é chave determinante na abundância sazonal e na distribuição e variações geográficas do fitoplâncton. Baixas temperaturas reduzem atividade enzimática, fluidez de membrana e cadeia de transferência de elétrons e, consequentemente, reduzem as taxas de fotossíntese, respiração e absorção de nutrientes pelo fitoplâncton (Harris, 1986). Para esse estudo, a distribuição antagônica entre meses de inverno e verão corresponderam à sazonalidade térmica e, concomitantemente, ao desenvolvimento do fitoplâncton. A diminuição da profundidade do ponto estudado ao longo dos anos confirmou a natureza deposicional da área de estudo. O lago Guaíba é considerado uma bacia sedimentar, localizado na planície de inundação da foz dos rios Jacuí, Caí, dos Sinos e Gravataí (Nicolodi, 2007). O conceito de pulso de inundação é aplicável à compreensão da hidrodinâmica do sistema (Rodrigues et al., 2007). As correlações negativas significativas de Tar e Tag com Hnm, CH e Zmax e a distribuição dessas variáveis na ACP, permitiram afirmar que sazonalidade térmica foi acompanhada de sazonalidade hidrológica. A análise de componentes principais permitiu afirmar que, ao longo dos anos, a combinação entre menores valores acumulados de chuva e SST e maiores transparências (disco de Secchi), provavelmente associados a anomalias provocadas pelo fenômeno El Niño, propiciaram maior desenvolvimento do fitoplâncton (maiores picos de clorofila). A associação das unidades temporais interanuais entre 2003 e 2006 com Zs e os baixos valores acumulados de chuva ilustraram o efeito de perturbação climática nas alterações da comunidade fitoplanctônica do lago Guaíba (desenvolvimento de Planktothrix isothrix,Planktothrix agardhii e de Planktothricoides raciborskii). Os resultados deste trabalho mostraram que em períodos de seca (La Niña) ocorre aumento da produção fitoplanctônica no lago Guaíba (clorofila-a), como

11


de perturbações climáticas e produção de informação para a população. Os autores agradecem ao Departamento Municipal de Água e Esgotos, ao 8o Distrito de Meteorologia e à Superintendência de Portos e Hidrovias pela disponibilidade dos dados. Os autores também agradecem à química Iara Conceição Morandi e à bióloga Carmem Rosália M. Maizonave pela revisão crítica e pelas sugestões apresentadas a este trabalho. Referências bibliográficas ABREU, P. C., BERGESCH, M., PROENÇA, L. A. E ODEBRECHT, C. 2008. Short- and long-term chlorophyll-a variability in the shallow microtidal Patos Lagoon Estuary, Southern Brasil. Estuaries and Coasts. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 1995. Standard methods for the examination of water and wastewater. APHA, 19th ed. ANDRADE, R. DA R. 2009. Variação temporal do fitoplâncton em um ponto amostral do Lago Guaíba, Rio Grande do Sul, Brasil. Universidade Federal do Rio Grande, Dissertação de Mestrado, 155p.

l Dmae ECOS Técnica

ANNEVILLE, O., SOUISSI, S., GAMMETER, S. E STRAILE, D. 2004. Seasonal and interannual scales of variability in phytoplankton dynamics in three perialpine lakes over a period of 28 years. Freshwater Biology, n.49, v.1, p. 98-115.

12

BARBOSA, F. A. R. E PADISÁK, J. 2004. Algumas considerações sobre desenho amostral para estudos de longa duração. In: Bicudo, C. E. M. e Bicudo, D. C. (org.). Amostragem em Limnologia. Ed. RiMa, p. 343-351. BERLATO, M. A. E FONTANA, D. 2003. El niño e la niña. Porto Alegre, Editora da Ufrgs, 110 p.

BICUDO, D. C., FONSECA, B. M., BICUDO, C. E. M, BINI, L. M. E JESUS, T. A. 2006. Remoção de Eichhornia crassipes em um reservatório tropical raso e suas implicações na classificação trófica do sistema: estudo de longa duração no Lago das Garças, São Paulo, Brasil. In: Tundisi, T. M. e Galli, C.S. (ed.). Eutrofização na América do Sul: causas, consequências e tecnologias de gerenciamento e controle. Instituto Internacional de Ecologia, p. 413-438. HAMMER, Ø., HARPER, D. A. T. E RYAN, P. D. PAST: Paleontological statistics software package for education and data analysis. Paleont. Electron., v.4, n.1, 9pp. HARRIS, G. P. 1986. Phytoplankton Ecology. Structure, Function and Flutuation. Chapman and Hall. JEPPESEN, E., SØNDERGAARD, M., MEERHOFF, M., LAURIDSEN, T. L. E JENSEN, J. P. 2007. Shallow lakes restoration by nutrient loading reduction - some recent findings and challenges ahead. Hydrobiologia, v. 584, n.1, p. 239-252. MAIZONAVE, C. R. M., ANDRADE, R. R., THEWES, M. R. E SCHERER, K. D. 2009. Florações de algas e cianobactérias no Lago Guaíba: série histórica do Dmae de Porto Alegre, RS. Ecos Técnica, Encarte, n. 2 (submetido). MARKENSTEN, H. E PIERSON, D. C. 2007. Weather driven influences on phytoplankton succession in a shallow lake during contrasting years: Application of PROTBAS. Ecol. Modelling, v. 207, n. 2-4, p. 128-136. NICOLODI, J. L. 2007. O padrão de ondas no Lago Guaíba e sua influência nos processos de sedimentação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Tese de Doutorado, 195 p.


REYNOLDS, C. S. 1984. The ecology of Freshwater Phytoplankton. Cambridge University Press, 384 p. REYNOLDS, C. S. 2006. Ecology of phytoplankton. Cambrigde University Press, 534 p. RODRIGUES, S. C., TORGAN, L. C. E SCHWARZBOLD, A. 2007. Composição e variação sazonal do fitoplâncton na foz dos rios do Delta do Jacuí, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 21, n.3, 707-721. SEELIGER, U., CORDAZZO, C. E BARBOSA, F. A. R. 2002. Os Sites e o Programa Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração. Belo Horizonte, Gráfica e Editora o Lutador, 184p. SOMMER, U. (ED.). 1989. Plankton Ecology. Sucession in Plankton Communities. Springer-Verlag, 369 p.

TORGAN, L. C., BECKER, V. E RODRIGUES, S. C. 1998. Volume celular de espécies fitoplanctônicas na Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, RS. Biociências, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 183-186. VALDES-WEAVER, L.M., PIEHLER, M.F., PINCKNEY, J.L., HOWE, K.E. ROSIGNOL, K. ET AL. 2006. Long-term temporal and spatial trends in phytoplankton biomass and class-level taxonomic composition in the hydrologically variable NeusePamlico estuarine continuum, NC, USA. Limnology and Oceanography, n 51, p.1410-1420. ZOHARY, T. A. M., PAISMADEIRA, R. R. E HAMBRIGHT, K. D. 1996. Interannual phytoplankton dynamics of a hypereutrophic African lake. Archiv für Hydrobiologie, n. 136, p. 105-126.

l Março de 2010

TOLOTTI, M. E THIES, H. 2002. Phytoplankton community and limnochemistry of Piburger See (Tyrol, Austria) 28 years after lake restoration. J. Limnol., n. 61, p. 77-88.

13


Utilização Racional de Energia Elétrica na Operação de Estações Elevatórias de Água Tratada do Dmae de Porto Alegre em Horário Sazonal Roberto Rivelino Gomes Lopes¹ Flávio da Cunha Machado² Carlos Oliveira Cardoso³

Resumo O objetivo deste trabalho é demonstrar que é possível realizar ações de grande repercussão financeira escolhendo o tipo de tarifa de energia elétrica adequada e adaptando a operação dos sistemas de distribuição de água tratada de forma racional. A experiência do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre traz nesta publicação, como na prática, ajustes no modo de operar o sistema que resultaram em redução nos custos com consumo de energia elétrica. Estas ações se mostram vantajosas para a concessionária distribuidora de energia elétrica, pois o consumo requerido pelas empresas de saneamento através das estações elevatórias e de tratamento representa um percentual significativo do consumo total de energia elétrica. Neste trabalho demonstra-se como é feito o deslocamento da operação dos grupos motor-bomba para fora do horário de maior consumo de energia, conhecido como horário fora de ponta. Com essa prática ocorre uma redução nos custos com energia elétrica para as companhias de fornecimento de água tratada e coleta de esgotos. Palavras chave: eficiência energética, saneamento, horário sazonal e economia.

l Dmae ECOS Técnica

Introdução

14

No Brasil, estima-se que as empresas de saneamento representam aproximadamente 3% do consumo de energia elétrica, assim, gastos com energia elétrica neste setor ocupam a segunda posição no orçamento, perdendo somente para despesas com pessoal. Segundo estudos especializados, a perda de energia elétrica no setor corresponde a um valor significativo, devido a alguns fatores, entre os principais estão o uso ineficiente de equipamentos, a falta de capacitação de pessoal, os projetos mal dimensionados e as perdas de água no sistema de abastecimento. Porto Alegre tem uma população de

aproximadamente 1,45 milhão de habitantes. A autarquia responsável pela produção e distribuição de água tratada, coleta e tratamento de esgoto cloacal é o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). O Dmae tem sete sistemas de tratamento de água e produz anualmente 175,42 milhões de metros cúbicos de água tratada, distribuída à população através de suas 87 estações de bombeamento de água tratada (EBAT). Aproximadamente 90% do custo de energia elétrica do Dmae são gastos com as estações elevatórias. Visando o controle e à redução dos custos com energia elétrica, em 2006 o Dmae implantou a Comissão Interna de Controles de Energia Elétrica (CICEE - Dmae). Esta

1 Graduação em Economia pela PUC RS 2 Graduado em Engenharia Civil pela UFRGS, diretor da Divisão de Água, responsável pela Gestão de Ações Operacionais da Comissão Interna de Controles de Energia Elétrica do DMAE e responsável pela ação de Setorização do Programa de Combate Orientado a Perdas de Água do DMAE 3 Graduado em Engenharia Civil pela PUC RS, chefe da Seção de Distribuição do DMAE e membro da Comissão Interna de Controles de Energia Elétrica do DMAE


Metodologia Em sistemas de abastecimento de água tratada já instalados e em pleno funcionamento, a lógica do modo de operação a ser adotado deve considerar, inicialmente, uma análise criteriosa das características e dos equipamentos que se tem à disposição para operar tal sistema, objetivando alcançar maior eficiência operacional. Para isso, é necessária uma reestruturação do modelo

que considere as características de cada subsistema, como o aumento da população, instalação de programas de controle, a ampliação e construção de novas elevatórias e reservatórios. E, o mais importante atualmente, o valor das tarifas dos contratos disponíveis com a concessionária de energia elétrica. Visando a reduzir os custos operacionais do Departamento, nos últimos anos havia a seguinte questão a ser resolvida: como reduzir o consumo de energia elétrica nas EBAT durante o horário sazonal, ou até mesmo cessar as operações nestas unidades operacionais, utilizando a reservação de água disponível no sistema sem ocasionar riscos de desabastecimento à população. Desta forma seria possível reduzir os custos operacionais com investimentos praticamente nulos no curto prazo. A opção no Dmae de Porto Alegre foi analisar inicialmente os subsistemas com maior reservação e aqueles que haviam sido recentemente implantados, pois teoricamente haveria a possibilidade de existir uma capacidade de reservação de água tratada maior que a exigida pela demanda atual, dada a previsão futura de aumento de consumo, já que na ampliação ou na construção dos novos sistemas há previsão do aumento da taxa de ocupação populacional da área a ser atendida por tal unidade. Com as informações contidas na base de dados foram feitos levantamentos expeditos visando a identificar os subsistemas com maior potencialidade de redução de custos operacionais através do plano de operação a ser desenvolvido. Ao ser implantado um controle operacional visando a redução da operação no horário sazonal nas primeiras elevatórias do sistema, foi necessário estender esta lógica operacional ao restante das estações que fazem parte desta rede de distribuição de água tratada. Durante o desenvolvimento da lógica operacional para a operação das estações elevatórias é imprescindível que ocorra a adesão ao plano de trabalho de todos os funcionários envolvidos com a operação. Neste sentido foram realizadas reuniões

l Março de 2010

comissão multidisciplinar de ação transversal no Departamento desenvolveu indicadores de controle, bem como definiu conceitos a serem implantados visando a redução dos custos. No final de 2007 optou-se pela troca da tarifa azul pela tarifa verde nas estações com horário sazonal. A tarifa do horário sazonal verde apresenta um custo aproximado oito vezes maior no horário de ponta se comparado ao custo da energia elétrica no horário fora da ponta na concessionária que atende a região de Porto Alegre. Desta forma é possível uma considerável economia de custo de energia elétrica se racionalmente o sistema for operado de forma a desligar os conjuntos motor-bomba das estações elevatórias nos horários de ponta. O Dmae tem um sistema de monitoramento operacional por telemetria, chamado Supervisório, que na versão atual está em operação desde fevereiro de 2007 para as estações de bombeamento de água tratada. Este Supervisório está disponibilizado na Central de Controle Operacional (CCO), possibilitando a visualização em tempo real dos parâmetros operacionais das estações elevatórias e reservatórios, o telecomando e proporciona o acesso a um banco de dados com informações históricas da operação dos sistemas de distribuição de água tratada. Os trabalhos aqui apresentados foram realizados com base no banco de dados operacionais que o Supervisório fornece, somados a levantamentos realizados em campo, além da união do conhecimento técnico de engenharia e de fundamentação econômica.

15


de treinamento e conscientização da necessidade de implantação de novos procedimentos operacionais. A tarefa mais importante que a própria implantação, é a manutenção da forma de operar, segundo a lógica previamente estabelecida, o que só ocorre se todos tiverem conhecimento dos objetivos a serem atingidos e estiverem envolvidos no processo. As reuniões foram realizadas com os grupos de funcionários envolvidos, operadores de estações elevatórias, revisores e operadores do CCO, ora de forma fracionada, focando os pontos de maior relevância para cada grupo de trabalho, ora de forma conjunta com assuntos de caráter geral. É importante observar que uma das características das ações voltadas para mudanças em processos operacionais em empresas de saneamento é o caráter iterativo dos procedimentos adotados nos subsistemas já implantados e a renovação do pacto de esforço conjunto de avançar no desenvolvimento da operação.

l Dmae ECOS Técnica

Desenvolvimento dos trabalhos

16

Inicialmente foram estudadas as estações elevatórias que já possuíam contratação de tarifa na modalidade horário sazonal, naquele momento eram sete EBAT. Estas estações trabalhavam controladas por sistemas automáticos, chave-bóia ou sensor de nível comandado por telemetria, não distinguindo os horários de operação, mas apenas as condições de nível dos reservatórios, conforme os parâmetros operacionais pré-estabelecidos. Com a análise das taxas de consumo dos subsistemas, das vazões disponibilizadas pelos grupos motor-bomba das estações elevatórias e da capacidade de reservação foram desenvolvidos procedimentos operacionais visando a eliminar ou restringir a operação das EBAT durante o horário sazonal. Foram testados novos parâmetros operacionais de forma manual, sem a utilização dos controles existentes com o objetivo de alcançar um nível médio mais eleva-

do dos reservatórios. Após a análise dos resultados foram implantados estes parâmetros nos controladores visando a operar o sistema de forma automática. É imprescindível o controle diário da operação, pois problemas em estações elevatórias podem causar alterações nos níveis de reservação, tais como: paradas operacionais, problemas no fornecimento de energia ou dias de consumos atípicos, causam desequilíbrio no sistema. Desta forma o controlador deve tentar aproximar a operação planejada de forma manual. Paralelamente às ações realizadas nas EBAT com horário sazonal, foram realizados estudos visando à contratação de tarifa na modalidade horário sazonal verde para estações que operavam em tarifa convencional de alta tensão, passando de sete para dez EBAT. Os efeitos no sistema de distribuição de água tratada ocasionaram a adesão das estações de tratamento de água (ETA) e, consequentemente, das suas respectivas estações de bombeamento de água bruta (EBAB), algumas das quais já operavam com tarifas na modalidade de horário sazonal. Estudo de caso 1: Estação Elevatória São Luiz, ações iniciadas em junho de 2008 A análise refere-se a um subsistema em que os ajustes no modo de operação de uma estação elevatória, sem novos investimentos nos últimos anos resultaram em redução dos custos de consumo de energia elétrica, entre outros benefícios, sem, no entanto causar desabastecimento para a população. A EBAT em questão possui três motores instalados de 250cv, e bombas com vazão de aproximadamente 270 litros por segundo, atingindo uma altura manométrica de 49 m.c.a. (metros de coluna de água). Mensalmente esta elevatória opera em média 440 horas com um conjunto motor-bomba, sendo outros dois reservas. Para esta EBAT o contrato com a concessionária de energia elétrica é de 180kw, na modalidade tarifa HSV (horário sazonal verde).


deveria ser acionado manualmente por telemetria com o objetivo de chegar ao início do horário sazonal com o reservatório cheio, pois o consumo médio durante o horário de ponta é de aproximadamente 950m³ de água tratada por hora, correspondendo a cerca de 0,80m de altura do reservatório. O objetivo era evitar o funcionamento do motor em horário de ponta, o qual foi diminuindo gradativamente, sendo reduzido simultaneamente o consumo de energia no horário de ponta, passando da média mensal de 7.254kWh em 2007 para uma média mensal de 439kWh em 2009, portanto, uma redução superior a 16 vezes em horário sazonal. Na figura 1 observa-se o consumo de energia elétrica da EBAT São Luis, de janeiro de 2007 a novembro de 2009. A partir de junho de 2008, mês que marcou o início dos trabalhos de análise dos subsistemas, as curvas superiores que indicam o consumo de energia elétrica em horário fora de ponta e consumo total da elevatória vão se unificando à medida que o tempo vai passando, indicando a redução do consumo de energia elétrica no horário de ponta, a qual segue decrescente com tendência a zerar. Outra questão a considerar, é o fato de o consumo total de energia em kWh da EBAT aumentar, porém, quando contabilizado em valores monetários houve significativa redução, tendo em vista que o valor do kWh em horário fora de ponta é muito mais baixo. Na figura 2 pode ser visualizada a curva ampliada referente ao consumo de energia elétrica no horário de ponta, assim, durante as três horas que a tarifa assume valores mais elevados o consumo foi restringido ao mínimo necessário. Pode-se constatar que se fosse mantido o perfil de consumo de energia elétrica em horário de ponta do ano de 2007, que correspondia a 7.254kWh, por mês, a conta de consumo de energia elétrica desta EBAT estaria aproximadamente R$ 7.833,00 mais cara,

Média com base na operação do ano de 2007, considerando somente o consumo em horário de ponta. Horário em que o valor da tarifa de energia elétrica assume valores que chegam a ser até a nove vezes maiores em relação ao horário fora de ponta, dependendo do tipo de contrato com a concessionária de energia elétrica em contratos com tarifas na modalidade de horário sazonal. Compreende três horas diárias consecutivas no horário de maior consumo, no caso de janeiro das 19h às 22h em Porto Alegre (RS).

4 5

l Março de 2010

Esta EBAT opera em conjunto com um reservatório com capacidade nominal de seis mil metros cúbicos (6.000m³), podendo atingir 4,90 metros de altura e um nível médio de operação de 2,90 metros, com o sistema operando em modo remoto automático, ou seja, o sistema operando por telemetria obedecendo a parâmetros préestabelecidos. Analisando o ciclo de funcionamento desta EBAT e a variação do nível do reservatório, foi verificado em quais horários de funcionamento do conjunto motor-bomba poderiam ser ajustados para se obter uma otimização neste subsistema, não só considerando o funcionamento desta EBAT, mas, como esta poderia interferir no funcionamento das demais EBAT e reservatórios que compõem o sistema de distribuição de água da região. Em princípio, com operação aproximada de 15 horas por dia, restavam 9 horas para ajustar o ciclo de funcionamento do GMB para alcançar o ponto de operação que seria neste caso considerado o ideal. Para o funcionamento desta elevatória eram consumidos em média 80.000 kWh por mês, sendo que destes, em média, 7.254 4 kWh correspondiam ao consumo em horário de ponta 5. A partir de junho de 2008, com estudos realizados, foi constatado que deveria ser alterado o ciclo de operação desta EBAT, não deixando sua operação apenas sob controle do nível do reservatório que é abastecido por esta, mas, sim em função do horário em que o custo da energia elétrica é consideravelmente mais baixo. O acionamento do conjunto motorbomba deveria ocorrer preferencialmente no horário das 22h até as 19h do dia seguinte, período em que a tarifa assume em média o valor de R$ 0,15 por kwh, sendo que, das 19h às 22h, este valor passa a ser em média R$ 1,28 por kWh, de acordo com as contas de energia elétrica desta EBAT no ano de 2009. Assim, dependendo da variação do nível e do horário, o motor

17


Figura 1. Consumo de energia elétrica em kwh da EBAT São Luis jan/2007 a nov/2009.

l Dmae ECOS Técnica

Figura 2. Consumo de energia elétrica em horário de ponta na EBAT São Luis - jan/2007 a nov/2009.

18

com base no consumo no horário de ponta de 2009, que totalizou 4.057kWh até novembro, sendo que o consumo médio foi de 368kWh por mês. Em setembro de 2008, outra ação coordenada pela CICEE-Dmae, foi a alteração da modalidade de contratação de tarifa com a concessionária de energia elétrica, passando do contrato de tarifa azul para o de tarifa verde. O resultado foi uma redução no valor do contrato de demanda que para esta modalidade de tarifa tem um custo menor. Neste estudo de caso, as seguintes questões foram consideradas: ■ havia reserva suficiente para manter o abastecimento durante o desligamento do conjunto motor-bomba;

■ o número de horas de funcionamento

correspondia a aproximadamente 15 por dia, portanto, havia 9 horas para realizar alterações no ciclo de funcionamento do conjunto motor-bomba; ■ o consumo de água é aproximadamente 2.850m³, o que corresponde a 2,40m do reservatório durante as três horas do horário de ponta, restando aproximadamente mais 3.000m³ de água para reserva técnica; sempre que for atingido 4.200m³ de reserva no início do horário de ponta, tornase possível parar o bombeamento, segundo critérios técnicos do Departamento; ■ o valor do kwh de consumo para a tarifa na modalidade horário sazonal verde em horário de ponta custa em média R$ 1,28, e, em média R$ 0,15, em horário fora


de ponta; o consumo em horário de ponta para a EBAT São Luis era de 87.000kwh nos 12 meses em 2007, passando para 5.000kwh nos 12 meses de 2009. Estudo de caso 2: Consumo de energia elétrica com contratação de tarifa horário sazonal verde, tarifa convencional de alta tensão e de baixa tensão no Dmae No Dmae, o consumo de energia elétrica de janeiro a novembro 2009 em R$ na modalidade tarifa horário sazonal verde correspondeu a aproximadamente 65% do total, sendo que o consumo em termos de kWh foi de 68%. A participação dos contratos com tarifa convencional alta tensão e baixa tensão responderam pelos 35% em R$ e 32% em termos de kWh restantes, respectivamente, conforme pode ser visualizado na figura 3. Na figura 4 é possível visualizar o consumo total de energia elétrica nas EBAT, ETA e EBAB em horário de ponta e fora de ponta. Foi a partir de junho de 2008 que os trabalhos começaram a tomar forma, é exatamente a partir deste momento que as duas curvas superiores seguem com a tendência de convergência. A curva mais abaixo, que indica o consumo dentro do horário de ponta, segue com tendência a origem, Custo em R$ de 2009

caindo gradativamente, ou seja, o funcionamento dos grupos motor-bomba está diminuindo neste horário e o consumo está sendo acrescido no horário fora de ponta. Outra constatação importante a considerar neste gráfico é que o consumo que é reduzido em horário de ponta não é totalmente adicionado ao horário fora de ponta; nitidamente se percebe que o consumo total em kWh nestas unidades operacionais também segue uma tendência à redução. O consumo total fora de ponta e dentro do horário de ponta segue com uma curva decrescente. Pode-se atribuir esse fato a vários fatores, entre os quais, substituições de redes, substituições de motores de maior rendimento, substituições de bombas. Mas, sobretudo, o fator mais importante a considerar neste caso sem dúvida foi uma reestruturação no modo de operação, em que foram estudadas estratégias de operação que pudessem responder às necessidades a partir das características, equipamentos, da capacidade de bombeamento e reservação disponíveis em cada um dos sistemas. Foram feitas novas contratações de tarifa sazonal, uma EBAB a partir de maio e logo após três EBAT a partir de novembro de 2008. Com isso, esperava-se que o consumo total de kWh no horário de ponta aumentasse, porém, não foi essa a tendência. Com os estudos realizados para desliConsumo em kWh de 2009

3%

HS

31%

HS

29%

AT

65%

BT

AT

68%

BT

HS = tarifa horário sazonal verde; AT = tarifa convencional de alta tensão; BT = tarifa convencional de baixa tensão.

Figura 3. Consumo de energia elétrica no Dmae de Porto Alegre de janeiro a novembro de 2009, em percentuais em R$ e kWh nas modalidades horário sazonal, convencional alta tensão e baixa tensão.

l Março de 2010

4%

19


Figura 4. Consumo com contrato de tarifa horário sazonal verde nas EBATs, ETAs e EBABs - jan/2007 a dez/2009

l Dmae ECOS Técnica

gamento dos conjuntos motor-bomba, a curva de consumo continuou caindo conforme pode ser visualizado na figura 5. Na medida em que o tempo foi passando, mesmo com o acréscimo de novas unidades operacionais, o desenvolvimento dos trabalhos foi se tornando tecnicamente dominado por toda a equipe de trabalho. Na figura 5 pode ser visualizada a síntese das ações realizadas através deste trabalho que possibilitou a redução do consumo de energia elétrica em horário sazonal nas unidades operacionais com contratos regidos por esta modalidade superior a 1.070.000kWh, o que representa uma redução de custo de aproximada-

20

mente R$ 1.220.000,00, já contabilizado o valor que fo i acrescido no horário fora de ponta, em virtude do efeito deslocamento da operação. Informações importantes a serem consideradas na construção de um trabalho como este nas empresas de saneamento: ■ o pessoal que opera o sistema deve

conhecer exatamente o que está fazendo: tem noção de vazão dos grupos motorbomba, que região é abastecida por cada subsistema, qual o ciclo de funcionamento de cada unidade operacional, quantas

Figura 5. Consumo em kwh no horário de ponta nas EBATs, ETAs e EBABs que operam com tarifa horosazonal - jan/2007 a dez/2009.


horas operam durante o dia e em quais horários, qual a capacidade de reservação disponível e o tempo que esta reserva comporta. Estas informações são imprescindíveis. ■ no setor público muitas vezes as informações são fracionadas, cada um com sua competência e responsabilidade na área em que atua, assim informações importantes podem não estar sob domínio de pessoas que poderiam utilizá-las de forma útil. Para exemplificar, os responsáveis pela contabilidade e processamento de valores de contas de energia elétrica têm conhecimento dos custos que estas contas representam para o Departamento, porém, se os responsáveis pela operação não têm esse conhecimento, podem estar jogando fora a oportunidade de operar o sistema com menores custos, mesmo tendo disponível capacidade de reestruturação no modo de operação; ■ a avaliação de contratos de energia elétrica é fundamental, dependendo da capacidade instalada, automaticamente serão regidos a modalidade com horário sazonal, porém, em unidades com menor capacidade instalada também poderão ser incluídas nos contratos, para isso deve-se ter o conhecimento bem claro das condições de operação de cada unidade operacional e também fazer uma previsão de viabilidade econômica; ■ no setor de saneamento em muitos casos é mais vantajoso um contrato de horário sazonal verde em unidades que podem parar parcialmente ou totalmente sua operação dentro do horário de ponta, pois o valor do contrato de demanda é muito menor, assim como o valor do consumo em kWh no horário fora de ponta.

companhias de saneamento reduzirem seus custos operacionais sem maiores investimentos iniciais. Os benefícios que advirem destas ações poderão ser investidos em outras melhorias que necessitem o aporte de capital, aperfeiçoando cada vez mais os sistemas. O trabalho apresentado faz parte de um ciclo que promove a melhoria dos sistemas de abastecimento de água tratada em um processo que se renova constantemente. Uma vez iniciado não há como deixar de avançar, pois é uma tendência para setor de saneamento, ser cada vez mais exigido com a prestação de serviços de qualidade para a população a um custo adequado. Os investimentos em tecnologia necessariamente devem ser acompanhados pelos investimentos em treinamento de pessoal e planejamentos de médio e longo prazo. Referências bibliográficas TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI 1A EDIÇÃO - 2001 - Redução do custo de energia elétrica em sistemas de abastecimento de água TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI 1A EDIÇÃO - 2004 - Abastecimento de água AIRTON SAMPAIO GOMES, 2007 ORGANIZAÇÃO - Guias Práticos: técnicas de operação em sistemas de abastecimento de água - A conta de energia elétrica no saneamento - Brasília: Ministério das Cidades, SNSA.

Conclui-se com este trabalho que é possível reduzir o custo do consumo de energia elétrica com a escolha correta do tipo de tarifa em conjunto com o planejamento operacional das estações elevatórias e reservatórios. Estas ações são uma maneira de as

l Março de 2010

Considerações finais

21


Normas para apresentação de artigos técnicos e destaque fotográfico na ECOS Técnica 1. Normas de apresentação de Artigo Técnico: 1.1 O estilo de redação deverá ser claro e coerente na exposição das idéias, observando-se o uso adequado da linguagem. Sugerese ao autor que o trabalho passe por uma revisão gramatical antes de seu encaminhamento à Comissão Editorial. 1.2 Os trabalhos deverão ser digitados com o editor de texto Microsoft Word versão 6.0 ou superior. 1.2.1 O texto deverá ser escrito em português, utilizando-se a fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas e parágrafos, alinhamento justificado, papel A4, páginas não numeradas, margens superior e inferior com 2,5 cm e margens esquerda e direita com 3,0 cm. 1.2.2 Palavras estrangeiras deverão ser citadas em itálico. Nomes científicos de espécies e substâncias químicas, bem como unidades de pesos e medidas, deverão obedecer as regras e padrões internacionais. 1.3 Extensão dos textos: deverão ter no mínimo 5 laudas e no máximo 12 laudas (tamanho A4).

l Dmae ECOS Técnica

1.4 O Artigo deverá ter a seguinte estrutura: Título, Autor(es), Resumo, Palavras-chave, Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusões, Referências Bibliográficas.

22

1.4.1 Os títulos e subtítulos deverão estar em negrito e ter apenas a primeira letra da primeira palavra em maiúscula. 1.5 Título do artigo: em português, deverá ser conciso, claro e expressar o conteúdo geral do artigo. 1.6 O(s) autor(es) será(ão) especificado(s) logo abaixo do título. Serão aceitos artigos

com no máximo 4 (quatro) autores, sendo um destes, obrigatoriamente, funcionário do Dmae. É necessário indicar o autor principal do artigo. Demais colaboradores poderão constar, mas serão relacionados ao pé da primeira página. 1.6.1 Quanto ao(s) autor(es), deve constar nome completo, bem como sua respectiva titulação detalhada. 1.7 Resumo: cada artigo deverá ser acompanhado de resumo em português, com extensão máxima de 200 palavras cada. 1.8 Palavras-chave: deverão ser fornecidas no mínimo três e no máximo cinco palavraschave em português, visando à confecção de instrumentos de busca. A Comissão Editorial poderá, a seu critério, substituir ou acrescentar palavras-chave, as quais entenda pertinentes ao conteúdo apresentado e possam melhor auxiliar na indexação e recuperação dos trabalhos. 1.9 Corpo do texto (Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusões, Referências Bibliográficas): deverá ter uma estrutura lógica e sequencial de apresentação, sendo dividido em subtítulos indicativos dos tópicos abordados. 1.9.1 Citações de até 3 (três) linhas deverão ser incluídas no texto entre aspas duplas. Citações com mais de 3 linhas deverão ser recuadas 4 cm a partir da margem, com recuo tamanho de fonte 10, espaçamento simples. 1.9.2 A inclusão de ilustrações, gráficos, desenhos, quadros, tabelas, fotografias etc, deverá se restringir ao necessário para o entendimento do texto. Esses elementos deverão estar localizados o mais próximo possível do trecho onde são mencionados e estar acompanhados de suas respectivas


legendas ou títulos. Fotografias e demais imagens digitalizadas deverão ter resolução mínima de 300dpi e, preferencialmente estar em formato jpeg ou bmp ou tif, podendo ser apresentadas em arquivos separados, com a indicação de sua localização no trabalho. A dimensão máxima deverá ser de 14 cm x 23 cm.

3.2 O autor deve ser identificado com seu nome completo, bem como sua titulação detalhada.

1.9.3 As referências bibliográficas deverão estar de acordo com a NBR-6023 da ABNT.

3.4 Cada autor deverá enviar um mínimo de 40 (quarenta) fotos para que a Comissão Editorial possa escolher 21 (vinte e uma) fotos para o encarte técnico.

A seleção dos artigos será realizada pelos membros da Comissão Editorial da ECOS Técnica que decidirão sobre sua aceitação ou recusa. Essa Comissão contará com o apoio de consultoria técnica especializada, conforme assunto do artigo, sempre que necessário, para contribuir na validação dos artigos. Tal prática assegura isenção, agilidade e objetividade do processo de seleção dos trabalhos. 2.1 O artigo deve tratar, obrigatoriamente, de assunto de interesse e com aplicabilidade no Dmae. 2.2 Artigo com participação de outras entidades serão aceitos, desde que, no mínimo, um dos autores seja servidor do Dmae. 2.3 Todas as normas para apresentação de Artigo Técnico, constantes no item 1, devem ser rigorosamente seguidas. 2.4 Declaração assinada por todos os autores com o número de CPF indicando a responsabilidade do(s) autor(es) pelo conteúdo do artigo e transferência de direitos autorais (copyright) para a ECOS Técnica, caso o artigo venha a ser aceito e/ou escolhido pela Comissão Editorial.

3. Normas de apresentação de Destaque Fotográfico (para capa da ECOS Técnica): 3.1 Os registros fotográficos deverão retratar os mais diversos ambientes do Dmae (não envolvendo pessoas).

4. Critérios para seleção das Fotografias: 4.1 A seleção das fotografias será realizada pelos membros da Comissão Editorial da ECOS Técnica que decidirão sobre sua aceitação ou recusa, preferencialmente vinculando aos assuntos dos artigos técnicos escolhidos. 4.2 Não serão aceitas fotografias de pessoas que não pertençam ao quadro de funcionários do Dmae. 4.2 O autor do registro fotográfico deverá enviar declaração assinada contendo o número de CPF indicando a autoria do trabalho e transferência de direitos autorais (copyright) para a ECOS Técnica, caso a fotografia venha a ser aceita e/ou escolhida pela Comissão Editorial.

5. Para envio de Artigo Técnico e Destaque Fotográfico: 5.1 Os artigos técnicos deverão ser encaminhados em 2 (duas) vias impressas em papel não timbrado e em meio digital, isto é, por CD-ROM, para o endereço abaixo. 5.2 As fotografias deverão ser encaminhadas em CD-ROM, para o endereço abaixo.

Comissão Editorial - ECOS Técnica Rua 24 de Outubro, 200, sala 114 (Prédio Unidmae) CEP 90510-000 - Porto Alegre (RS) ecostecnica@dmae.prefpoa.com.br

l Março de 2010

2. Critérios para seleção dos Artigos Técnicos:

3.3 As fotografias deverão ter resolução mínima de 300dpi e, preferencialmente estar em formato jpeg ou bmp ou tif. A dimensão máxima deverá ser de 14 cm x 23 cm.

23



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.