Manual do Dirigente

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SIG - Soc. Ind. Grรกfica - Camarate

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Jorge e o seu Dragão A imaginação é uma espécie de rottweiler tramado de domesticar. Sobretudo porque temos de ir passeá-la à rua e ela tem o dobro do nosso tamanho. É com este senão, quase irrelevante, que o mundo também autoriza que os cães sejam o melhor amigo do homem até que saia no jornal que um rottweiller arrastou o seu dono pela rua e mordeu o rabo de um velhinho. Isto que dizer que a imaginação é mesmo bestial, excepto os medos, as alucinações e as invejas que mordem os rabos dos velhinhos. Felizmente temos os sonhos, os desejos, as fantasias, os amigos imaginários que chegam, quase sempre bem, para eles. A verdade é que foi com eles e com os nossos neurónios coloridos que mudámos o mundo. Se bem te lembras, foi assim que começámos a derrotar as sombras do quarto e soubemos aí que estávamos talhados para vencer. Salvámos vinte vezes a rapariga mais bonita da escola e escapámos por um triz. Vinte vezes prometemos não repetir aquele salto arriscado no final do filme… e repetimos. Fizemos um risco no chão e dissemos aos outros que agora era a sério. Montámos cabanas nas árvores, embrenhámo-nos na floresta, prometemos voltar sozinhos e valentes. Um cavaleiro e um dragão. Amigo, percebo bem o teu espanto por encontrares neste livrinho amizades tão improváveis. Mas deixa-me lembrar-te que se há coisa menos provável numa criança são as suas amizades. Por isso, é altura para lhes dizeres que os maus, um dia, serão bons e os bons serão o máximo, que podem confiar apenas porque lhes estamos a dizer que sim, que os sonhos e desejos fazem sempre sentido. Não foi assim que o teu pai te ensinou que Deus existe, que pode tudo e é Bom? Digo-te agora, já claramente a arriscar, que se o Dragão é fruto da imaginação do Jorge provavelmente ambos são um só. Mas um Dragão é mau, dizes tu? Se são maus, são como os vilões

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manualdodirigente da banda desenhada e ajudam as pessoas a definir os campos morais e assim são bons porque participam amigavelmente na nossa formação de carácter. (Já estás com a cabeça dentro da máquina de lavar? Não desligues já. Agora é que estás pronto para perceber o resto do texto.) Eu entendo-te. Os adultos precisam de desenhar os Dragões e os cavaleiros a lutar. Os cavaleiros ganham sempre e salvam as princesas. É uma regra. Mas vai por mim, pelo Astérix, pelo Spirou, pelo Homem-Aranha, pelo Super-Homem e pelo Tintim, pelo Tanguy e pelo Laverdure e não mates Dragões. A tua imaginação de criança agradece e o Bem vencerá o Mal nem que seja já com as letras a passar e com o pacote das pipocas já vazio. Sei que foi a custo, com a sede e a fome dos grandes Raids, que me acompanhaste até aqui. Mas afinal quem é este Dragão que não é um dragão e o Jorge que não é São Jorge? O Dragão é mais que um produto da imaginação do Jorge: é o Jorge. Completa a sua personalidade, às vezes a sua boa consciência e ajuda a explicar aos outros coisas não tangíveis porque são nossas e não se explicam, não porque sejam grandes segredos, mas porque não se entenderiam. Tecnicamente, as personagens como o Dragão chamam-se Heróis Tandém. São, por exemplo, o Hobbes do Calvin ou o Woodstok do Snoopy ou o Milú do Tintim ou ainda o Jolly Jumper do Lucky Luke e o nosso boneco preferido para nós próprios. Aos olhos dos adultos não existem ou são meros bonecos. Aos nossos olhos de criança vencem connosco todas as batalhas e fazem de nós os fortes que somos. Compreendes agora o segredo? Fica entre nós…

Ricardo Roque Martins

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Maria Helena Andersen

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A.0

Os destinatários da acção pedagógica

A finalidade do Escutismo é, de acordo com o artigo 1 da Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, contribuir para o desenvolvimento de crianças e jovens, ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais e a crescerem como pessoas, como cidadãos responsáveis e ainda como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais. Assim sendo, para implementar o Projecto Educativo do Corpo Nacional de Escutas de maneira progressiva e adequada a cada secção, é importante o dirigente conhecer as características específicas de cada grupo etário. Isto justifica-se porque os desafios, vivências, interesses, expectativas e maturidade que existem nos elementos de cada um dos grupos etários que constituem as nossas secções são diferentes de grupo para grupo. Por essa razão, os dirigentes que desenvolvem a sua acção pedagógica numa determinada secção devem saber caracterizar globalmente os elementos dessa faixa etária, reconhecendo sinais identificadores e característicos do seu nível de desenvolvimento, para lhes poderem proporcionar experiências educativas enriquecedoras e estruturantes. No entanto, isto não é suficiente: é também necessário conhecer cada elemento individualmente. Tal como dizia o nosso fundador, Baden-Powell, o dirigente deve conhecer “todos em geral e cada um em particular”. De facto, e ainda que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com ritmo diferente de elemento para elemento, é necessário caracterizar estes últimos em várias dimensões da personalidade, para que, no Escutismo, se consigam trabalhar as diferentes parcelas do ser. Assim, no final, a soma das parcelas será superior ao todo.

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manualdodirigente Estas são as dimensões da personalidade a ter em conta: o desenvolvimento físico, o desenvolvimento afectivo, o desenvolvimento do carácter, o desenvolvimento espiritual, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento social. Poderíamos descrevê-las, de forma breve, assim:

A área do desenvolvimento físico está relacionada com a responsabilização pelo crescimento e bom funcionamento do organismo de cada um.

O desenvolvimento afectivo está relacionado com os sentimentos individuais e a capacidade de os expressar de modo a obter e manter um sentimento de liberdade, equilíbrio e maturidade emocional.

A área de desenvolvimento do carácter diz respeito às responsabilidades para consigo mesmo e ao direito ao auto desenvolvimento, à aprendizagem e ao crescimento em busca de felicidade, respeitando os outros. Relaciona-se ainda com a escolha de objectivos e a definição de acções e opções que permitem concretizá-los.

A área de desenvolvimento espiritual prende-se com o aprofundamento do conhecimento espiritual e a compreensão da herança moral da nossa comunidade, descobrindo a realidade mística que dá significado à vida e retirando conclusões para o dia-a-dia, mantendo o respeito pelas opções religiosas de outros.

O desenvolvimento intelectual integra o desenvolvimento da capacidade de raciocínio, de inovação e do uso original da informação, relacionando-se ainda com a capacidade de adaptação a novas situações.

O desenvolvimento social diz respeito à compreensão do conceito de interdependência social e ao desenvolvimento da capacidade de cooperar e liderar.

No desenvolvimento integral das crianças e jovens, é importante que as actividades escutistas contemplem todas estas dimensões e que as experiências que lhes são proporcionadas lhes permitem obter mais valias em termos educativos, e sejam efectuadas num ambiente seguro, que permitirá a cada elemento adquirir confiança em si próprio, nos outros e no mundo. Neste processo, os dirigentes são sempre, e em todas as situações, o garante do ambiente seguro em que as actividades se desenrolam e não podem em nenhuma circunstância demitir-se deste papel. Ao fazê-lo estariam a colocar em causa a confiança que os diversos parceiros (pais, o próprio elemento, CNE, Igreja) neles depositam e que neles investiram através dos vários momentos do percurso formativo para se ser dirigente do CNE.

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Região de Aveiro

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A.1

A criança dos 6 aos 10 anos

AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

Por volta dos seis anos, começa um período de grande agitação física. Nesta fase, a criança deseja expressar-se com o corpo, gostando de saltar e trepar. O jogo acaba por ser, assim, o meio privilegiado de expressão e libertação de energia, permitindo o desenvolvimento da habilidade motora. Nesta idade, no entanto, existe ainda alguma dificuldade a nível da lateralidade (não estando completamente definida, há dificuldade em reconhecer a direita e a esquerda) e da destreza das mãos e pontas dos dedos, pelo que é importante serem desenvolvidas actividades manuais. Cerca dos oito anos de idade, a energia na criança é inesgotável e ela começa a melhorar o seu desempenho a nível motor e a adquirir orientação espácio-temporal, melhorando a sua noção de perspectiva e proporção do corpo humano. A partir dos nove anos, a capacidade motora encontra-se plenamente desenvolvida, aparecendo a força muscular e o equilíbrio. É nesta fase que a competitividade atinge o auge, o que torna a criança capaz de grandes esforços físicos e apreciadora de brincadeiras marcadamente físicas (gosta de se 'fazer de forte'), em que mede a sua força e destreza em comparação com os outros. Globalmente, o período entre os seis e os dez anos é ainda marcado pela consolidação dos hábitos de higiene e por um aperfeiçoamento da autonomia nessas tarefas. Esta é, por fim, uma fase em que a criança mostra grande interesse por temas sexuais, revelando especial curiosidade sobre a relação entre os sexos, as diferenças anatómicas e a reprodução.

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A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos: - a desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e de actividades manuais variadas; - a consolidar hábitos de higiene (ou a criá-los, no caso de quem os não tem), promovendo a progressiva autonomia individual; - a usufruir de uma alimentação adequada, incutindo em cada criança hábitos alimentares salutares (como comer a horas certas e com moderação e ingerir alimentos saudáveis e variados). Assim se evitam problemas alimentares como a má nutrição e a obesidade.

Desenvolvimento Afectivo Ao longo do período em que se encontra na Alcateia, a necessidade de afecto e protecção da criança é imensa e constante. De facto, a passagem de um mundo conhecido (família) para um mundo novo e inseguro pode levá-la a atravessar uma fase de insegurança, de afirmação de si mesma e de comparação com os colegas. Nesta altura, a criança apresenta um humor estável (por norma é muito alegre), por norma só alterado por emoções fortes e contraditórias, mas que pode desaparecer com a mesma rapidez com que surgiu. Entre os seis e os sete anos, a criança é muito espontânea e revela-se muito sensível à humilhação e às repreensões. Como valoriza muito o adulto, não aprecia a sua censura e pode mesmo fazer coisas contrariada, apenas com o intuito de agradar. Entretanto, começa a revelar uma grande necessidade de cooperação e companhei­ rismo. Com o crescimento, o grupo torna-se o foco central dos seus interesses e ocupa o lugar que antes pertencia à família.

A este nível, a Equipa de Animação deve: - criar um ambiente saudável e tranquilo, em que os lobitos se sintam seguros afectivamente e sejam capazes de revelar o que pensam sem medo de chacota ou repreensões; - ajudar os lobitos a desenvolver a cooperação e companheirismo no seu Bando e na sua Alcateia, através da competição entre Bandos e da entreajuda entre todos; - ajudar os lobitos a assumir Àquêlá e restante Equipa de Animação como amigos e modelos a seguir.

Desenvolvimento do Carácter O carácter é a dimensão que constrói a identidade pessoal e, nesta etapa da infância, começa a ser apurado nas suas várias dimensões.

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Relativamente aos adultos, a criança desta faixa etária estabelece relações de grande proximidade com os mais velhos, que idealiza e vê como seus modelos, e pode ser


manualdodirigente muito influenciada por eles. Nesta etapa, o desenvolvimento moral constrói-se nas relações interpessoais: boa conduta é a que agrada aos outros. A criança tenta, assim, viver de acordo com o que as pessoas próximas esperam de si, necessitando da sua aprovação. Para além disto, desenvolve a sua consciência crítica e o sentido de justiça, na medida em que dá valor ao que faz, gosta de ser reconhecida pelos outros e sabe distinguir o bem e o mal, embora tendo por base as consequências das suas acções. A estas características junta-se ainda uma grande sinceridade, que leva as crianças, sobretudo as mais novas, a não ter pudores em revelar o que pensam.

A este nível, a vida em Alcateia deve levar os lobitos a construir a sua personalidade de forma coerente, progressiva e desafiante, ajudando-os: - a desenvolver a sua consciência crítica, nomeadamente através da avaliação das actividades e dos seus comportamentos; - a analisar os seus actos, tomando consciência das suas consequências e da necessidade de modificar comportamentos (através da recordação constante da Lei e Máximas, das conversas em Bando e em Conselho de Alcateia, etc.); - a respeitar a opinião alheia, aceitando pontos de vista diferentes.

Desenvolvimento Espiritual A dimensão espiritual está relacionada com o significado da vida. Para além disso, não se desenvolve de forma independente das relações que estabelecemos com os outros e connosco mesmos, mas baseia-se na sociabilidade, inteligência e afectividade. Assim sendo, e porque a vida da criança, nesta altura, gira muito à volta da família, é nela que a imagem de Deus começa a tomar forma: é ao tomar consciência das imperfeições dos pais que a criança começa a distingui-los de Deus. Por volta dos seis e sete anos, e porque a capacidade de abstracção ainda não está muito presente, Deus não é visto de forma simbólica. É, sim, olhado como um homem grande e poderoso, com barbas brancas, o Criador do mundo que a criança conhece. Mais próxima é a imagem de Jesus enquanto criança, que funciona como modelo a seguir. Depois, a partir dos oito anos, a presença divina personaliza-se e há uma valorização moral do bem e do mal no seu comportamento e no dos outros. Surge ainda, de forma marcada, a noção de justiça.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar cada lobito: - a identificar-se com o Menino Jesus e a vê-lo como exemplo (através de histórias e da reflexão sobre o comportamento que Jesus assumiria em diversas situações); - a analisar os diversos comportamentos que assume, ensinando-o a escolher entre o bem e o mal. 7


manualdodirigente Desenvolvimento Intelectual A criança de seis anos apresenta uma curiosidade activa, um imenso desejo de saber e uma grande capacidade de observação dos detalhes. É nesta fase que aprende a ler e a escrever, o que lhe dá um maior acesso à informação e lhe permite, sozinha, descobrir mais coisas acerca de temas do seu interesse, como a vida dos animais e a Natureza em geral. É também atraída por histórias e narrações. A este nível, a sua visão do mundo é caracterizada por um objectivismo ingénuo, que a leva a ter dificuldade em separar de forma clara o mundo real e a fantasia. Possui ainda desejo de se expressar de múltiplas maneiras, mas ainda não consegue pôr em prática as suas ideias. Ao atingir novos níveis de compreensão e expressão, começa a ter mais facilidade em se colocar no lugar do outro, reconhecendo que ele poderá ter interesses, necessidades e sentimentos diferentes dos seus. Pouco a pouco, começa assim a conseguir ter em conta pontos de vista diferentes do seu e aprende que nem sempre pode fazer as coisas segundo a sua vontade. Cerca dos sete anos, a inteligência intuitiva sofre uma profunda transformação. A partir daqui, a criança vai além das aparências e das observações fortuitas, passando a reflectir e a tentar compreender a lógica dos objectos e dos acontecimentos. Começa assim a sentir necessidade de organizar o real através das classificações, comparações e hierarquizações. Isto revela-se, por exemplo, no seu gosto por colecções. Depois dos oito anos, continua a curiosidade insaciável em conhecer o mundo e a criança revela grande capacidade de memorização. Pouco a pouco, acaba por se tornar autónoma num grande número de tarefas rotineiras, muitas vezes exigindo fazê-las sozinha.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos: - a desenvolver o gosto pelo conhecimento em geral e pela natureza em particular (através da observação da vida animal e vegetal, da preparação de colecções, etc.); - a desenvolver a criatividade, ajudando-os a explorar a sua imaginação (através da narração de histórias, da criação de poemas e canções, da realização de danças e peças teatrais, etc.); - a aprender a partilhar pontos de vista e a respeitar a vontade alheia (através da apresentação e votação de sugestões para as Caçadas, da realização de reuniões de Bando e Conselhos de Alcateia, etc.)

Desenvolvimento Social

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Os seis anos de idade constituem um marco importantíssimo na vida da criança, dado que a entrada num ambiente escolar mais estruturado leva ao aparecimento das primeiras condutas de responsabilidade. É também nesta altura que a criança começa a integrar-se em grupos, de forma espontânea, para jogar, realizar tarefas e crescer a nível social: há uma busca da aprovação do grupo e muitas vezes surgem tentativas de imposição aos companheiros, o que revela o egocentrismo infantil ('eu é que sei, eu é que mando'). Geralmente a criança tende a colocar-se do lado do educador.


manualdodirigente A partir dos oito anos, ao superar o egocentrismo, a relação com o grupo começa a assumir importância vital e torna-se necessária a existência de uma hierarquia e de papéis bem definidos. A criança começa então a participar em jogos colectivos, com regras já existentes e outras inventadas pelo grupo e que este faz cumprir. Esta experiência em pequeno grupo é fundamental para a sua socialização e manter-se-á ao longo da sua vida como experiência significativa de integração pessoal. A criança começa, assim, a descobrir a vida em sociedade, afastando-se progressivamente do adulto: deixa de necessitar que este estabeleça as regras, passando a criar e a fazer respeitar as regras do grupo. Diminui assim a necessidade da protecção dos pais e, conforme tenha sido vivida esta relação parental, assim se projectará no grupo de forma segura ou insegura.

A este nível, a vida em Alcateia deve ajudar os lobitos:

Arquivo CNE

- a participar em actividades que estimulem a cooperação (como actividades de Bando, os jogos e as caçadas vividas com os outros lobitos); - a desenvolver a responsabilidade para com o grupo (através, por exemplo, da atribuição de cargos individuais).

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Maria Helena Andersen

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A.2

O adolescente dos 10 aos 17 anos

Em termos gerais, a Adolescência inicia-se entre os 11 e os 13 anos e termina pelos 19 anos – muito embora este seja um período incerto, dado que varia bastante. Tudo depende, basicamente, da natureza do indivíduo, da sua história pessoal e das características sociais e culturais da comunidade onde vive. Assim sendo, é possível, por exemplo, que alguns adolescentes de 13 ou 14 anos se situem ainda numa fase muito infantil, enquanto que outros já adquiriram autonomia e maturidade próprias de uma idade mais avançada. Esta é a razão por que importa reflectir sobre a fase da adolescência como um todo, sem fazer uma distinção concreta entre exploradores e pioneiros: alguns exploradores podem revelar já uma maturidade acima da média, enquanto que alguns pioneiros podem situar­-se, ainda, num estádio de desenvolvimento mais atrasado. No entanto, convém que os dirigentes tenham a noção de que, por norma, na Expedição e na Comunidade encontram dois grupos distintos de rapazes e raparigas que diferem muito entre si no que diz respeito à sua maturação e à sua maneira de ser, comportamentos e expectativas. Assim sendo, e porque as necessidades de aperfeiçoamento pessoal são distintas, devem ser diferentes as formas de actuação de um adulto em cada um dos grupos. Pegue-se em experiências únicas, personalidades irrepetíveis, interesses múltiplos, ideias em constante mudança, vivências pessoais, contextos diferenciados e aí encontraremos qualquer um dos nossos grupos. É perante esta junção de sujeitos que qualquer dirigente se depara, na unidade em que trabalha. Se os rapazes e raparigas com quem trabalhamos são tão distintos entre si, será pouco eficaz adoptar métodos e técnicas únicos e pré-determinados, já que corremos o risco de muitos adolescentes ficarem pelo caminho, desistindo ou, pior ainda, sentindo a exclusão num movimento que se pretende aberto e solidário.

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manualdodirigente Quando falamos de desenvolvimentos diferenciados, falamos de uma possibilidade educativa abrangente e positiva que não inclui, certamente, o atenuar e 'camuflar' de dife­ renças e dificuldades, mas que pretende a integração de aprendizagens em que todos beneficiam e onde existe um espaço onde cada pessoa pode construir o seu projecto de trabalho. Assim, a diversidade implica sempre instabilidade, dúvidas, reorganizações, ritmos que não se repetem e ser-nos-á prejudicial manter uma rigidez nas estratégias e pedagogias.

AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

O desenvolvimento do corpo, sobretudo nestas idades, determina fortemente algumas características da personalidade de cada adolescente, pelo que é importante compreender cada transformação física e, assim, entendermos alguns comportamentos e reacções. Entre o que mais prende a atenção de um adolescente entre os 11 e os 13 anos estão as transformações que acompanham o início da puberdade, na qual geralmente se regista uma rápida aceleração no crescimento – primeiro na altura (sobretudo a nível de pernas e tronco) e depois no peso – que transforma, rapidamente, a imagem que o adolescente tem de si próprio. Esta mudança brusca provoca um desequilíbrio físico: o crescimento acelerado promove uma ânsia por actividades expansivas (há um maior vigor físico, sobretudo nos rapazes, pelo que se tornam muito limitadas e enfadonhas as actividades confinadas a espaços reduzidos), mas o desenvolvimento muscular e da coordenação não acompanham o crescimento da estrutura óssea, pelo que surgem gestos desajeitados e desconexos. Esta é, ainda, a fase em que começam a surgir características sexuais secundárias, ou aquilo a que chamamos as formas físicas mais próprias de cada sexo (crescimento de pêlos e de seios, mudanças na voz e na textura da pele, etc.). Estas mudanças provocam, muitas vezes, momentos de grande fadiga, ansiedade e angústia em relação a um desenvolvimento físico que o adolescente considera 'anormal', por comparação com os outros. Surge, assim, no adolescente, uma hipersensibilidade perante julgamentos físicos e um desconforto em relação a si mesmo: é como se não se sentisse bem na sua própria pele.

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Entre os 14 e 17 anos dá-se um aumento do tamanho corporal, formas e capacidades físicas, desaparecendo a tendência para a descoordenação física, tão típica dos anos anteriores. Estabelece-se também a maturidade sexual e reprodutiva e desenvolve-se, de forma mais estável, a identidade sexual. Toda esta estabilidade potencia o desenvolvimento de novas capacidades, impulsos e potencialidades que é preciso identificar, experimentar e controlar.


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A este nível, na Expedição deve-se: - desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e de actividades manuais variadas; - promover um ambiente sereno e respeitador, em que todas as transformações são consideradas próprias e normais, para que a instabilidade emocional daí decorrente não adquira proporções prejudiciais ao equilíbrio. Na Comunidade deve-se: - fomentar um ambiente tranquilo e respeitador, que permita ajudar cada um conhecer e respeitar o seu corpo, aceitando com serenidade as mudanças; - estimular o respeito pelo outro sexo, valorizando as diferenças físicas existentes; - desenvolver a aptidão corporal através de actividades estimulantes que desafiem a descoberta de novas capacidades físicas.

Desenvolvimento Afectivo Nos adolescentes entre os 11 e os 13 anos, dá-se um despertar dos impulsos sexuais devido ao início da puberdade biológica. Este despertar tem impacto no campo afectivo, marcado agora por emoções fortes e confusas que, pela sua dominância, gerem todo o comportamento, também ele confuso e muitas vezes marcado por reacções emocionais desproporcionadas que o adolescente se esforça por entender. A este nível, desenvolvem-se especialmente a necessidade de afirmação como indivíduo (marcada em especial pela identificação com heróis, com quem o adolescente aspira a parecer-se) e a necessidade de desenvolver as suas amizades. A atenção que um adulto presta a um adolescente desta idade deve estar muito virada para a compreensão destas emoções, dado que elas podem originar desequilíbrios a nível de comportamentos. Cerca dos 14 anos, a necessidade de criar e renovar amizades e de se afirmar como indivíduo é agora preponderante. Esta é a altura das amizades profundas e “para toda a vida”, em que a escolha dos amigos vai sempre ao encontro daquilo que o adolescente considera ser os padrões certos de agir, pensar e falar. Procura-se não a diferença, mas a semelhança (a adesão a novos valores marca a escolha dos amigos), o melhor amigo surge como confidente e companheiro preferido e há uma maior consideração pelos sentimentos dos outros. Para além disto, surge a necessidade de estabelecer uma ligação afectiva com outra pessoa. Este é, assim, o período da atracção, das grandes paixões e dos primeiros amores (surge mais cedo nas raparigas).

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manualdodirigente Claro que toda esta procura vem acompanhada de grandes períodos de instabilidade emocional, com mudanças de humor súbitas – em que num momento é possível estar muito bem, noutro em profunda tristeza e desânimo –, dado que há uma alternância entre o que se sonha e aquilo que é possível. Os períodos de tristeza são, em geral, períodos de isolamento.

A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a: - entender que as pessoas são diferentes e por isso experimentam emoções diferentes nas mesmas situações; - perceber que o isolamento nunca é a solução e que deve partilhar as suas emoções e os seus receios; - escolher amigos adequados, sabendo distinguir aqueles que poderão ajudá-lo. Na III secção, o dirigente deve: - ajudar o adolescente a perceber como deve lidar com as diferentes emoções; - auxiliar a escolher as amizades em função de valores positivos.

Desenvolvimento do Carácter Até aos 13 anos, a capacidade de reflectir sobre a sua própria opinião e a opinião dos outros leva os adolescentes a questionar as orientações estabelecidas, sobretudo as do núcleo familiar. Podemos falar, assim, do início de um período de oposição e rejeição de ideias provenientes de figuras com quem antes havia uma identificação. Para além disto, o adolescente desta idade consegue já descrever-se em termos de pensamentos internos, sentimentos, capacidades e atributos, demonstrando capacidade de auto-análise. Pelos 14-17 anos observam-se verdadeiras crises de identidade, em que o adolescente se vira para si mesmo para operar uma descoberta consciente do “eu” e procurar algo que lhe seja próprio, só seu. Este processo, em que se dá um alargamento das actividades realizadas por iniciativa própria, nem sempre é pacífico, na medida em que podem surgir problemas de auto-estima e conflitos (não é criança, mas também não é adulto, embora se considere igual a ele). Para além disto, os esforços dirigem-se sobretudo para a procura de novos modelos de comportamento (os modelos de identificação deixam, muitas vezes, de ser os pais para serem outros adultos de referência ou os pares), o que pode produzir uma consequente alteração do sistema de valores.

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Por fim, o adolescente tem tendência a construir grandes sonhos e aspirações e a desenvolver sentimentos de invulnerabilidade. É frequente, a este nível, que o adolescente se proponha a refazer a sociedade na qual é chamado a viver, não dando atenção a potenciais situações de risco em que se pode colocar.


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A este nível, na Expedição deve-se: - explorar a Lei e os Princípios sobretudo a nível da necessidade de desenvolver o auto-domínio e de respeitar e obedecer aos mais velhos; - criar actividades que permitam a descoberta de si mesmo (as suas capacidades, qualidades, sentimentos, etc.). Na Comunidade, o dirigente deve: - encorajar a discussão de ideias sobre o papel que cada um ocupa no espaço familiar e social e os valores que devem ser defendidos; - actuar de forma cuidadosa e coerente, dado que facilmente se pode converter num modelo de vida; - auxiliar os seus elementos a reconhecer as potenciais situações de risco, ajudando-os a encontrar estratégias de resolução de problemas.

Desenvolvimento Espiritual A adolescência marca o momento de passagem entre a chamada Fé de criança, herdada dos pais e da vivência em comunidade, e a Fé pessoal, interior, que se interliga com os próprios actos, numa busca do sentido das coisas, sem que haja uma aceitação tácita de princípios. Dos 11 aos 13 anos, surge uma maior preocupação com as questões morais e um melhor entendimento destas. Assim, os princípios, deveres e responsabilidades éticas começam a ser defendidos com esforço, sobretudo em momentos de grupo: os adolescentes tomam consciência de que todos devem seguir as mesmas leis e regras para manutenção da harmonia e entendimento do grupo. Aceitam, assim, os princípios morais como meio de partilha de direitos e responsabilidades com os outros. Contudo, esta situação, muitas vezes, só é visível quando existe uma quebra no entendimento comum, em que se levantam as típicas questões do “não é justo”, ou do “uns podem e outros não”. A partir dos 14 anos, a simbologia, o interesse por outras vivências de Fé e por problemas éticos e de defesa de valores tornam-se marcos das vivências espirituais dos adolescentes. Nesta fase, surge um interesse mais marcado por ideologias e religiões diferentes da sua, que é acompanhado por alguma reserva na expressão de questões espirituais e convicções da sua própria religião. Para além disto, começam a pôr-se em causa as práticas religiosas da infância. Isto não invalida, contudo, o interesse por problemas éticos e ideológicos. Na verdade, por volta dos 15 anos, o adolescente começa a apreciar a utilização de símbolos para expressar significados espirituais, é frequentemente radical na defesa de valores e chega a demonstrar, por vezes, capacidade de um grande altruísmo. Tem, também, a noção de que é necessário estabelecer contratos e seguir as mesmas 'leis' para haver entendimento no grupo.

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manualdodirigente A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a: - desenvolver a sua fé e a sua espiritualidade, procurando responder às suas dúvidas e auxiliando-o no seu caminho de busca. - assumir Jesus como um exemplo a seguir na defesa de valores como a justiça, a solidariedade, o amor ao próximo, etc.

Na III secção, o dirigente deve ajudar o pioneiro a: - identificar-se com o Jesus Cristo e a vê-lo como exemplo de defesa radical dos valores cristãos; - compreender a validade e riqueza das celebrações comunitárias, espaço privilegiado de comunhão com Deus e os irmãos; - assumir-se como cristão comprometido com o mundo.

Desenvolvimento Intelectual Pelos 11-13 anos surge a necessidade de produzir, de fazer coisas sozinho. Esta capacidade para agir de forma concreta permite desenvolver sentimentos de competência e valores próprios ('eu sou capaz', 'eu consigo') e é acompanhada pelo desenvolvimento da capacidade de pensar de forma lógica sobre ideias e dados abstractos. Assim, e embora o adolescente continue a precisar de estruturas e actividades delineadas passo­a-­passo (senão dispersa-se facilmente), consegue já descobrir soluções para problemas apresentados apenas na teoria. Isto fá-lo desenvolver a apetência para a investigação e aprendizagem de coisas novas, a que se associa, ainda, uma boa capacidade de memorização.

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Dos 14 aos 17 anos, a capacidade de raciocínio melhora: surgem as hipóteses e deduções de relações entre as coisas que permitem criticar o estabelecido, produzir interrogações sobre o futuro e sobre a sociedade, forjar argumentos lógicos e detectar, rapidamente, falhas nos argumentos dos outros. Isto implica que, antes de agir, o adolescente apresenta já uma predisposição (ainda que tenha de ser solicitada) para reflectir sobre os assuntos, ponderando hipóteses e alargando o seu pensamento à perspectiva dos outros. Revela, assim, capacidade para estar alerta, mas ainda está sujeito a devaneios e ao “sonhar acordado”. Começam-se, também, a definir interesses e vocações, na medida em que o adolescente começa a pensar no futuro e a elaborar programas de vida.


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A este nível, na Expedição deve-se: - promover actividades que desenvolvam a actividade de pensamento lógico e a capacidade de abstracção (apresentação de problemas - “Nesta situação, o que farias?” - ou de desafios, como montar uma tenda com um pano e corda); - proporcionar actividades de descoberta (da Natureza, de novas realidades e culturas) que estimulem a curiosidade; - estimular a preparação cuidada das actividades, de forma a evitar a tendência para a dispersão. Na comunidade deve-se: - encorajar a discussão de ideias, estimulando a exploração de diversas perspectivas, hipóteses e soluções; - estimular a reflexão pessoal sobre interesses, sonhos e capacidades.

Desenvolvimento Social Um adolescente dos 11 aos 13 anos é, em geral, capaz de reflectir sobre os seus próprios pensamentos e percebe que os outros fazem o mesmo. Nesta altura, começa a procurar a sua própria conduta (questionando as regras da infância, que lhe impõem uma conduta estabelecida por outros), mas, sempre que não consegue seguir o padrão de conduta que escolheu, tem tendência a produzir sentimentos de culpa e recriminação que o levam a tentar justificar o seu comportamento ou a tentar compensar alguém pelo que fez de errado. Nesta busca por um comportamento autónomo, desenvolve uma compreensão genuína do que significa fazer parte de um grupo e adere voluntariamente às suas normas, que assumem um carácter absolutamente sagrado (a equidade e justiça, por exemplo, são levadas muito a sério – “se eu não posso quebrar as regras o outro também não pode” ou “é justo que ele venha à actividade porque ajudou a planeá-la”). Dá-se, assim, um período de expansão social em que se formam relações de lealdade que começam a ser mais importantes para o adolescente do que quaisquer outras (é o grupo que manda). Nesta fase, desenvolve-se o conceito de género (homem e mulher) e respectivos papéis. O adulto precisa de estar atento, pois os estereótipos ligados a cada género (um homem faz isto, uma mulher aquilo) têm uma influência poderosa nas percepções dos adolescentes, o que leva, geralmente, a que os desvios aos papéis tradicionais sejam alvo de críticas e gozo. Pode-se ainda afirmar que, num âmbito geral, os rapazes são vistos como mais aventureiros e dispostos a actividades que envolvam riscos, sendo também mais assertivos na adesão a grupos, enquanto que as raparigas tendem a ser mais conscientes socialmente, mais atenciosas a novos membros e mais flexíveis nos seus estereótipos do que os rapazes.

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manualdodirigente Perante isto, por norma, na interacção entre adolescentes de ambos os sexos, surgem fronteiras físicas demarcadas. Em geral, ainda se definem por grupos separados por género e por afinidade de interesses, existindo sempre uma certa rivalidade natural entre sexos. Contudo, têm um gosto especial pelo trabalho em equipa (embora conservem um espírito independente), pelo que conseguem muito bem desenvolver actividades em conjunto, principalmente se à rivalidade se sobrepuser a necessidade de trabalhar em conjunto para atingir um determinado fim. Quando assim acontece, desenvolvem relações de pares baseadas no respeito e apoio mútuos. Na passagem para os anos seguintes, o adolescente vê as relações como um processo de partilha mútua onde todos podem vir a beneficiar de satisfação e compreensão social. Assim, entre os 14 e os 17 anos, os adolescentes possuem uma grande capacidade de adaptação a novos grupos sociais e estabelecem relações fáceis com outros (da mesma idade ou de outras), desde que o seu modo de ser se enquadre nos seus padrões de acção. Isto gera duas situações distintas. Por um lado, existe alguma incerteza em relação ao que são as expectativas do grupo e àquilo que é esperado ou aceite, o que gera uma preocupação injustificada (sentem que são o alvo constante das atenções dos outros). Por outro lado, começam a viver em grupos mais unidos, baseados na confiança mútua, onde há a procura de uma identidade comum. Por fim, este é, também, um período de reestruturação social, onde predomina a rebeldia contra a autoridade estabelecida e se escuta melhor a opinião de alguém que é diferente. Assim, podem surgir comportamentos negativos de inconformismo e de agressividade para com os outros. Para além disso, os adolescentes podem ser extremamente críticos e francos na expressão da sua opinião, sentindo, muitas vezes, que as suas experiências são únicas e ninguém as pode compreender.

A este nível, na II secção deve auxiliar-se o explorador a: - compreender que as regras do grupo não se podem sobrepor à sua consciência e àquilo que está certo (a referência constante à Lei, aqui, é determinante); - compreender que as relações entre os pares se devem basear sempre no respeito e solidariedade mútuos, superando-se as diferenças. Na III secção, o dirigente deve ajudar o pioneiro a: - compreender que, apesar de pertencer a um grupo, ele é uma pessoa com características próprias a respeitar e a desenvolver; - construir grupos coesos e que defendam valores positivos; - tomar consciência de que a autoridade não é sempre negativa e que a negociação é um caminho mais positivo do que a agressividade e a rebeldia.

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Gonçalo Vieira

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A.3

O jovem dos 18 aos 22 anos.

A partir dos 18 anos, aproximadamente, os factores sociais, económicos e personalidade são os que influenciam mais directamente o desenvolvimento do jovem. Assim, os seus interesses, perspectivas, ideias e valores dependem bastante dos seus grupos de referência e do facto de a sua vida se desenrolar em cidades ou em meios rurais. Esta faixa etária contempla estudantes do Ensino Superior e jovens que estão já a entrar no mercado de trabalho. Os primeiros estão mais protegidos e vivem uma falsa independência, pois, apesar de viverem sozinhos, ainda são sustentados e bastante apoiados pelos pais. São, geralmente, mais individualistas e de espírito aberto, prontos para a mudança. Ao invés, os segundos são, na sua maioria, mais maduros na maneira e pensar e agir e estão mais presos a compromissos. No entanto, apesar das diferenças, muitas coisas os unem. A vida adulta é um período longo de desenvolvimento, passando o adulto por experiências múltiplas, complexas e variadas. A entrada nesta fase é sempre um período de crescimento, escolhas, angústias, ansiedades, alegrias e compromissos. É importante que os Chefes de Clã e Equipas de Animação tenham presentes que, apesar de terem à sua frente jovens adultos, estes ainda agora estão a aprender a viver e caminhar pelas suas próprias pernas. São jovens que contam com o apoio e suporte do irmão mais velho e que muitas vezes se encontram perdidos perante o admirável mundo novo que se abre à sua frente.

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manualdodirigente AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento Físico

A nível físico, os jovens atingem a sua maturação por volta dos 18 anos. São sexualmente maduros e, nesta fase, o interesse sexual aumenta. Associado a esta maturação sexual e ao aumento da liberdade, aumenta o risco de doenças sexualmente transmissíveis. Note-se que, agora, homens e mulheres são fisicamente distintos e, nestas idades, as diferenças estão totalmente estabelecidas, sendo eles maiores e mais fortes. Nesta fase, é frequente os jovens começarem a andar mais de carro e transportes públicos, deixando de praticar desporto por começarem a trabalhar ou irem estudar para longe da terra natal, o que agrava os riscos relacionados com o sedentarismo. Para além disto, podem também surgir problemas relacionados com a má alimentação, uma vez que muitos deles saem de casa e, por estarem sozinhos, começam a ter horários desregulados, acompanhados de 'saltos' de refeições ou 'noitadas' para estudar. Há também mais probabilidade de vícios como o tabaco e a cafeína.

Perante isto, o Clã deve ser: - um espaço de promoção da actividade física, tentando sempre ir mais além, mas com respeito pelas limitações de cada um; - um espaço de crescimento, conhecimento e aceitação de cada Caminheiro; - um espaço de promoção de hábitos para uma vida saudável.

Desenvolvimento Afectivo O jovem adulto está, progressivamente, a afastar-se dos pais, o que pode provocar problemas. Assim, por um lado, a saída de casa (para estudar ou definitiva) pode ser um choque, pois, para além do conforto físico e psicológico que a casa dos pais oferece, os contactos familiares tendem a ser menos frequentes, o que, quando o jovem está menos bem, pode causar sofrimento, por não sentir o suporte imediato da família. Por outro lado, o afastamento pode implicar também uma fase de conflito com os seus: ao mesmo tempo que o jovem gosta do conforto familiar, sente-se também asfixiado por ele, tentando e exigindo a sua cada vez maior autonomia. Neste âmbito, os amigos e os pares assumem especial importância, quer para os momentos descontraídos, de festa e convívio, quer para os momentos de crise. Por estar numa etapa mais madura da sua afectividade, onde surgem relacionamentos amorosos mais sérios. Esta pode ser uma etapa perigosa na vida do jovem, pois é uma fase de muita novidade e muitas vezes as coisas não correm como tinha idealizado, deixando-o frustrado e mexendo com a sua auto-estima.

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A este nível, o Clã deve ser: - um espaço de amizade e compreensão; - um espaço que promova a partilha de emoções de modo a que possam ser clarificadas e melhor compreendidas pelo Caminheiro; - um espaço que promova a auto-estima de forma equilibrada.

Desenvolvimento do Carácter Quando chega a esta faixa etária, o jovem já tem muito do seu carácter formado. No entanto, esta nunca é uma construção fechada, podendo o jovem e o adulto desenvolver algumas particularidades do seu carácter. Nesta altura, a formação do carácter está quase exclusivamente entregue ao próprio. De facto, já com um quadro de valores, o jovem escolhe, conscientemente, as ideias a que quer aderir e põe em prática os valores que professa. O que importa nesta fase é apoiar o jovem, de modo a que consolide o seu carácter dentro do sistema de valores proposto pelo escutismo e ajudá-lo na caminhada para a total autonomia, fazendo-o perceber que a responsabilidade é a expressão máxima da liberdade de cada um.

Para isto, o Clã deve ser: - um espaço de escolhas conscientes, que promova a autonomia; - um espaço de valores e de regras comummente aceites; - um espaço de responsabilidade e de responsabilização; - uma família em que todos se empenham para que ela prospere.

Desenvolvimento Espiritual Se esta é uma idade de muitas dúvidas, é também a idade de muitos esclarecimentos. Passando a fase de maior rebeldia (durante a adolescência), o jovem adulto é capaz de pensar e discernir a nível espiritual. Nota-se, assim, que procura conforto no seu Deus, voltando a aproximar-se da religião. De facto, capaz de compreender melhor a história e os princípios da religião que professa, o jovem vive mais intensa e conscientemente a relação com Deus e busca respostas para além do que é visível, apoiando-se numa maior complexidade intelectual. É, assim, uma altura de estreitamento da relação com Deus. As vivências espirituais proporcionadas nesta altura assumem especial importância para que o jovem possa desenvolver a sua espiritualidade.

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manualdodirigente Para contribuir para o desenvolvimento nesta área, o Clã deve ser: - um espaço em que se pode descobrir e conhecer o projecto de Felicidade que Jesus nos propõe; - um espaço de Igreja e oração; - um espaço de testemunho dos valores do Evangelho; - um espaço de serviço. Desenvolvimento Intelectual Por volta dos 18 anos, os jovens começam a desenvolver um tipo de pensamento adequado à complexidade da vida adulta. Curioso e ainda sem muitas responsabilidades a nível financeiro e familiar, o jovem procura saber sobre temas que lhe interessam e ter experiências diferentes, valorizando o seu crescimento pessoal. A este nível, as várias experiências de vida vão sendo integradas, proporcionado ao jovem o conhecimento necessário para a resolução dos problemas que vão surgindo, mesmo quando se depara pela primeira vez com uma determinada situação. Para além disto, começa a compreender e aceitar que o conhecimento e os valores são relativos às pessoas e aos contextos, isto é, que o que é certo para uns pode ser apenas provável para outros e altamente incerto para muitos. A aceitação da contradição caracteriza o pensamento do jovem adulto, o que permite que, perante pontos de vista diferentes, o jovem consiga integrá-los e organizá-los, percebendo que a contradição nem sempre pode ser resolvida pela eliminação de um dos pontos de vista em confronto e ainda que a contradição e o conflito, longe de serem fontes de confusão e marasmo, são um potencial constante de clarificação e crescimento.

A este nível, o Clã deve ser: - um espaço que incentive a constante procura de conhecimentos; - um espaço de apresentação e debate; - um espaço que promova a procura de soluções para os problemas individuais e do Clã; - um espaço de estímulo da criatividade.

Desenvolvimento Social Nesta faixa etária, a vida social do jovem atinge o seu ponto mais agitado. Gosta de sair de casa, passear, conhecer pessoas e fazer amigos. É uma etapa da vida onde os jovens se envolvem em muitas causas sociais, agregando-se a associações e missões e tornando-se mais activistas daquilo em que acreditam (principalmente os universitários, pelo próprio meio em que estão inseridos).

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No entanto, por descrédito ou desmotivação, pode ocorrer o reverso da medalha e o jovem pode cair no marasmo, não se interessando pelos seus direitos ou deveres enquanto cidadão. A este nível, pode haver a sensação de que, faça-se o que se fizer, não se tem poder para lutar contra o que está instalado. Esta sensação pode produzir tristeza, inactividade e desresponsabilização pelas suas escolhas.


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Rover

A este nível, o Clã deve ser: - um espaço que promova o conhecimento de direitos e deveres do Caminheiro, enquanto cidadão; - um espaço que incentive a participação activa na vida comunitária; - um espaço de empatia e serviço; - um espaço de promoção do trabalho em equipa e de respeito pelo colectivo.

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Tiago Vaz

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B.1

Proposta Educativa do CNE

O Escutismo é um movimento de educação não-formal que contribui para a educação dos jovens através de um sistema de valores, tal como se expressa no documento “A Missão do Escutismo”, Durban 1999:

“A missão do Escutismo consiste em contribuir para a educação dos jovens, partindo de um sistema de valores enunciados na Lei e na Promessa escutistas, ajudando a construir um mundo melhor, em que as pessoas se sintam plenamente realizadas como indivíduos e desempenhem um papel construtivo na sociedade. Isto é alcançado: envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação, num processo de educação não-formal; utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o principal agente do seu próprio desenvolvimento, para se tornar uma pessoa autónoma, solidária, responsável e comprometida; ajudando os jovens na definição de um sistema de valores baseado em princípios espirituais, sociais e pessoais expressos na Lei e na Promessa." A Missão do Escutismo, Durban, 1999

A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas foram levadas a elaborar a sua Proposta Educativa, na qual expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo que podem oferecer aos jovens de uma determinada comunidade e por um determinado

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manualdodirigente tempo. A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na Proposta Educativa “Educamos. Para quê?”, aprovada no Conselho Nacional Plenário de Maio de 2003.

EDUCAMOS. PARA QUÊ?

Uma Proposta Educativa do Corpo Nacional de Escutas

O CNE ajuda jovens a crescer… …a procurar a sua própria Felicidade e a contribuir decisivamente para a dos outros. …a descobrir e viver segundo os Valores do Homem Novo. O CNE procura, através do Método Escutista, ajudar cada jovem a educarse… ...para se tornar consciente do Ser; ● uma pessoa responsável, autónoma e perseverante; justa, leal e honesta ● uma pessoa criativa e ousada face aos desafios e que cultiva o espírito crítico de modo a distinguir o essencial ● uma pessoa alegre, sensível e compreensiva, consciente de si própria, das suas limitações e potencialidades ● uma pessoa solidária e fraterna, que promove o respeito e a tolerância na sua relação com os outros ● uma pessoa que assume integralmente o seu compromisso cristão como opção de vida ● uma pessoa que respeita o seu corpo como manifestação de vida e com ele se relaciona de forma equilibrada ...para se tornar detentor de Saber; pessoa que reconhece as suas imperfeições e as procura superar de uma forma constante ● uma pessoa que busca sempre mais e usa esses conhecimentos para fundamentar as suas decisões, expressando adequadamente as suas ideias ● uma pessoa que valoriza as sua emoções e afectos, vivendo-os em equilíbrio ● uma pessoa atenta ao Mundo, no qual identifica o seu papel, valorizando o trabalho em equipa ● uma pessoa que procura aprofundar sempre o seu esclarecimento na Fé ● uma pessoa que conhece as capacidades e limites do seu corpo, reconhecendo as ameaças ao mesmo ● uma

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...para se tornar preparado para Agir; ● uma pessoa que, comprometendo-se, age de acordo com as suas opções, respeitando os outros e o mundo ● uma pessoa empreendedora, activa no desenvolvimento de iniciativas e que cuida da sua própria formação ● uma pessoa que cultiva amizades e que vive o amor de uma forma plena, dando disso testemunho em família ● uma pessoa que assume o seu papel na comunidade, exercendo a cidadania de uma forma participativa e generosa ● uma pessoa que evangeliza pelo testemunho e pela partilha, no respeito pelas convicções dos outros, contribuindo assim para a construção da paz ● uma pessoa que, reconhecendo o seu corpo como meio para transformar o Mundo, cuida dele em harmonia com o ambiente O CNE ajuda jovens a crescer... ...para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres responsáveis e membros activos de comunidades, na construção de um mundo melhor.

Com esta proposta, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessidades educativas das crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método escutistas. Ao mesmo tempo, a proposta pretende ser referência para a acção continuada dos animadores adultos e também um compromisso educativo perante a sociedade. Sendo um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades características do Movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de determinadas competências e características nas crianças, nos adolescentes e nos jovens.

Este documento é um género de Bilhete de Identidade ou cartão-de-visita que pode ser usado:

quando se recebe um novo elemento e os Pais querem saber o que é o Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube desportivo; nas reuniões de Pais; quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo; numa reunião com a Autarquia; num pedido de apoio financeiro;

Ou ainda em: num momento de formação da Equipa de Animação; num jogo sobre valores; num jogo sobre as qualidades individuais; etc.

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Telma Domingues

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B.2

Áreas de desenvolvimento, Trilhos e Objectivos Educa­tivos

O Escutismo considera muito importante o desenvolvimento integral de todos os aspectos da personalidade das crianças e dos jovens. Neste sentido, e depois de analisadas as intenções do fundador do Movimento Escutista e as diversas dimensões da personalidade humana, foram estabelecidas seis áreas de desenvolvimento pessoal que são, assim, o instrumento para a aplicação prática da Proposta Educativa. São elas:

Desenvolvimento físico

Incentiva o conhecimento e desenvolvimento do corpo.

F

Desenvolvimento afectivo

Favorece a equilibrada orientação dos afectos e a valorização pessoal.

A

Desenvolvimento do carácter

Promove o aperfeiçoamento de valores e de atitudes e o ser mais.

C

Desenvolvimento espiritual

Aprofunda o sentido de Deus.

E

Desenvolvimento intelectual

Fomenta a exploração e criatividade.

Desenvolvimento social

Estimula o encontro, a partilha e o sentido do outro.

I S

Em cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades educacionais – três trilhos educativos – que tomam em conta as necessidades e aspirações das crianças, dos adolescentes e dos jovens em particular. São, assim, caminhos de crescimento a trabalhar em cada área que definem os objectivos de crescimento a atingir no final do tempo vivido em cada secção.

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ÁREAS

TRILHOS Desempenho

Área de Desenvolvimento físico

Auto-conhecimento Bem-estar físico

Relacionamento e sensibilidade Área de Desenvolvimento Afectivo

Equilíbrio emocional Auto-estima

Autonomia Área de Desenvolvimento do Carácter

Responsabilidade Coerência

Descoberta Área de Desenvolvimento Espiritual

Aprofundamento Serviço

Área de Desenvolvimento Intelectual

rentabilizar e desenvolver as suas capacidades; destreza física; conhecer os seus limites; conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo maturação manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar comportamentos de risco

auto-expressão; intereducação; valorização dos laços familiares; opção de vida; sentido do belo e do estético saber lidar com as emoções (controlar/ exprimir); manter um estado interior de liberdade; maturidade conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se

tornar-se independente; capacidade de optar; construir o seu quadro de referências ser consequente; perseverança e empenho; levar a bom termo um projecto assumido viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as suas ideias

disponibilidade interior; interiorização progressiva; busca do transcendente no específico cristão dar testemunho pelos actos do dia-a-dia; viver em comunidade; estar aberto ao diálogo inter-religioso ntegração e participação activa na Igreja; um mundo novo; evangelização

Procura do conhecimento

desejo de saber; procura e selecção de informação; iniciativa; auto-formação

Resolução de problemas

capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estratégias de resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações

Criatividade e Expressão

apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado

Exercer activamente cidadania Área de Desenvolvimento Social

Os objectivos de cada trilho relacionam-se com:

Solidariedade e tolerância Interacção e cooperação

direitos e deveres; tolerância social; intervenção social serviço; interajuda; tolerância assertividade; espírito de equipa; assumir o seu papel nos grupos de pertença

Cada trilho é constituído por um conjunto de objectivos educativos que têm em conta as necessidades de crescimento e aspirações das crianças e dos jovens e procuram ajudá-los a desenvolver as suas capacidades [conhecimentos, competências e atitudes].

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Neste sentido, foram criados objectivos educativos finais, que são os objectivos a serem atingidos, em cada área, no final do percurso educativo (ou seja, à saída da IV Secção). Para além destes, foram depois criados objectivos educativos de secção, que constituem metas intermédias a serem cumpridas aquando da transição de uma secção para a seguinte.


manualdodirigente Em cada secção, os elementos são chamados a escolher, para cada etapa de progresso, um trilho de cada área, em que encontram depois um conjunto de objectivos que devem procurar atingir. Só se considera um trilho cumprido quando o elemento conseguiu crescer a ponto de cumprir todos os objectivos daquele trilho. Neste âmbito, a IV Secção apresenta uma variação. De facto, apesar de os Trilhos Educativos continuarem presentes nesta secção, estes não são utilizados no processo de escolha dos objectivos. Ao invés, os caminheiros são convidados a escolher directamente os objectivos que pretendem alcançar em determinado momento. Assim, aumenta-se a liberdade de escolha do jovem e permite-se uma maior sintonia destas escolhas com o seu PPV. Devido à sua maturidade, acredita-se que o caminheiro é capaz de escolher, em consciência, o seu percurso, sem necessitar da estruturação que os trilhos oferecem.

Desenvolvimento Físico Dimensão da personalidade: o corpo Trilhos Educativos: Desempenho [rentabilizar e desenvolver as suas capacidades, destreza física; conhecer os seus limites]

Auto-conhecimento [conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo de maturação]

Bem-estar físico [manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar comportamentos de risco]

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-F1. Participo em actividades físicas que me ajudam a ser mais ágil e habilidoso.

Desempenho [rentabilizar e desenvolver as suas capacidades, destreza física; conhecer os seus limites] II SECÇÃO II-F1. Pratico actividades físicas em que testo as minhas capacidades e torno-me mais ágil, flexível e desembaraçado.

III SECÇÃO III-F1. Testo de forma responsável os limites do meu corpo e pratico actividades físicas que me permitem conseguir um desenvolvimento equilibrado.

Objectivo educativo final F-F1. Praticar actividade física que promova o desenvolvimento e manutenção da agilidade, flexibilidade e destreza de forma adequada à sua idade, capacidade e limitações.

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Trilho Educativo

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

I-F2. Conheço os principais órgãos do meu corpo, sei onde estão localizados e para que servem.

II-F2. Aceito que o meu corpo está a mudar e respeito os diferentes ritmos de desenvolvimento quando me comparo com os outros.

III-F2. Aceito as características próprias do meu corpo e respeito as diferenças físicas entre as pessoas.

I-F3. Conheço as principais diferenças do corpo das meninas e dos meninos.

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-F4. Sei o que devo e não devo comer e que tenho de descansar. I-F5. Cuido do meu corpo e do meu aspecto. I-F6. Sei que há comportamentos e produtos que me podem fazer mal.

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Auto-conhecimento [conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo de maturação

II-F3. Conheço o diferente ritmo de crescimento dos rapazes e raparigas e respeito o espaço próprio de cada um.

III-F3. Reconheço que homens e mulheres têm características físicas diferentes e respeito os comportamentos e necessidades que vão surgindo.

Objectivo educativo final F-F2. Conhecer e aceitar o desenvolvimento e amadurecimento do seu corpo com naturalidade. F-F3. Conhecer as características fisiológicas do corpo masculino e feminino e a sua relação com o comportamento e necessidades individuais.

Bem-estar físico [manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar comportamentos de risco] II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

II-F4. Sei equilibrar as minhas actividades físicas com o descanso e uma alimentação saudável.

III-F4. Faço escolhas saudáveis a nível da minha alimentação, repouso e actividades físicas.

F-F4. Cultivar um estilo de vida saudável e equilibrado – alimentação, actividade física e repouso –, adaptado a cada fase do seu desenvolvimento.

II-F5. Esforço-me por ter bom aspecto e tenho hábitos regulares de higiene que contribuem para a minha saúde.

III-F5. Tomo as medidas necessárias para o meu bem-estar físico e ando aprumado.

II-F6. Identifico e evito comportamentos e substâncias prejudiciais à saúde.

III-F6. Conheço os malefícios das substâncias e comportamentos de risco e evito-os

F-F5. Cuidar e valorizar o seu corpo de acordo com os padrões de saúde, revelando aprumo. F-F6. Identificar e evitar, na vida quotidiana, os comportamentos de risco relacionados com a segurança física e consumo de substâncias.


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Desenvolvimento Afectivo Dimensão da personalidade: os sentimentos e as emoções Trilhos Educativos: Relacionamento e sensibilidade [auto-expressão; intereducação; valorização dos laços familiares; opção de vida; sentido do belo e do estético]

Equilíbrio emocional [saber lidar com as emoções “controlar/exprimir”; manter um estado interior de liberdade; maturidade]

Auto-estima [conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se]

Trilho Educativo

Relacionamento e sensibilidade [auto-expressão; intereducação; valorização dos laços familiares; opção de vida; sentido do belo e do estético]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-A1. Escolho as minhas amizades e dou-me bem com todos.

II-A1. Comprometome com o bem-estar e crescimento do grupo, mantendo uma relação amigável com os outros elementos.

III-A1. Valorizo as minhas relações afectivas e demonstro equilíbrio na gestão de conflitos.

F-A1. Valorizar e demonstrar sensibilidade nas suas relações afectivas, de modo consequente com a opção de vida assumida.

III-A2. Comprometo-me com o bem-estar da minha família.

F-A2. Respeitar a existência de várias sensibilidades estéticas e artísticas, formando a sua opinião com sentido crítico.

I-A2.Escuto e respeito os mais velhos, tendo os pais como exemplo. I-A3. Distingo aquilo que gosto e não gosto e consigo falar sobre isso. I-A4. Sei que meninos e meninas se comportam de maneira diferente e respeito isso.

II-A2. Valorizo a minha família e assumo o meu papel no seio da mesma. II-A3. Expresso interesse e espírito crítico por uma forma de arte. II-A4. Aceito as diferentes formas de demonstrar sentimentos, nos rapazes e nas raparigas.

III-A3. Reconheço que existem diversas sensibilidades estéticas e partilho os meus gostos. III-A4. Encaro com naturalidade a minha sexualidade e procuro integrá-la harmoniosamente na minha vida, respeitando-me a mim e aos outros.

F-A3. Assumir a própria sexualidade aceitando a complementaridade Homem / Mulher e vivê-la como expressão responsável de amor.

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Trilho Educativo

Equilíbrio emocional [saber lidar com as emoções “controlar/exprimir”; manter um estado interior de liberdade; maturidade]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-A5. Sou capaz de falar daquilo que sinto.

II-A5. Reconheço e exprimo as minhas emoções com naturalidade e sem magoar os outros.

III-A5. Ajo de forma ponderada e reflectida, respeitando os sentimentos dos outros.

F-A4. Ser capaz de identificar, compreender e expressar as suas emoções, tendo em conta o contexto e os sentimentos dos outros.

III-A6. Reconheço quando me excedo e esforço-me por corrigir o meu comportamento.

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-A6. Sei quais são as minhas qualidades e os meus defeitos. I-A7. Esforço-me por ser melhor. I-A8. Esforço-me por fazer tudo, mesmo quando tenho medo ou acho que não sou capaz.

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Auto-estima [conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se]

II SECÇÃO II-A6. Assumo as minhas qualidades e defeitos. II-A7. Reconheço os meus erros e procuro corrigi-los. II-A8.Empenho-me em ultrapassar as minhas dificuldades e melhorar tudo o que tenho de bom.

III SECÇÃO III-A7.Reconheço as características da minha personalidade. III-A8.Reconheço que erro e comprometo-me a melhorar as minhas características menos positivas. III-A9. Aceito as minhas próprias limitações, esforçando-me sempre por melhorar. III-A10. Conheço bem as minhas capacidades e invisto no meu desenvolvimento.

Objectivo educativo final F-A5. Reconhecer e aceitar as características da sua personalidade, mantendo uma atitude de aperfeiçoamento constante. F-A6. Valorizar as próprias capacidades, superando limitações e adoptando uma atitude positiva perante a vida.


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Desenvolvimento do Carácter Dimensão da personalidade: a atitude Trilhos Educativos: Autonomia [tornar-se independente; capacidade de optar; construir o seu quadro de referências]

Responsabilidade [ser consequente; perseverança e empenho; levar a bom termo um projecto assumido]

Coerência [viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as suas ideias

Trilho Educativo

I SECÇÃO

Autonomia [tornar-se independente; capacidade de optar; construir o seu quadro de referências]

II SECÇÃO

III SECÇÃO

I-C1. Sei a Lei e as Máximas da Alcateia e percebo o que querem dizer.

II-C1. Conheço e compreendo a Lei do Escuta e os Princípios.

I-C2. Tenho em conta a opinião dos mais velhos quando tomo decisões.

II-C2. Assumo as minhas opiniões, participando activamente nas decisões que me dizem respeito.

III.C2. Sou capaz de fazer opções e de reconhecer as suas implicações.

II-C3. Escolho e participo em actividades que me ajudam a crescer.

III-C3. Estabeleço para mim, com regularidade, metas a atingir em várias áreas da minha vida.

I-C3. Participo em actividades que me ajudam a aprender coisas novas.

III-C1. Escolho conscientemente as minhas referências e valores fundamentais.

Objectivo educativo final F-C1. Possuir e desenvolver um quadro de valores que são fruto de uma opção consciente. F-C2. Ser capaz de formular e construir as suas próprias opções, assumindo-as com clareza. F-C3. Mostrar-se responsável pelo seu desenvolvimento, colocando a si próprio objectivos de progressão pessoal.

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Trilho Educativo

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-C4. Cumpro as tarefas que me são dadas, porque sei que isso é importante para todos.

II-C4. Desempenho o papel que me é atribuído dentro dos grupos a que pertenço com responsabilidade e empenho.

III-C4. Correspondo à confiança que em mim depositam.

F-C4. Demonstrar empenho e vontade de agir, assumindo as suas responsabilidades em todos os projectos que enceta, estabelecendo prioridades e respeitando-as.

I-C5. Não desisto, mesmo quando as tarefas são difíceis. I-C6.Reconheço que as minhas acções têm consequências.

Trilho Educativo

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Responsabilidade [ser consequente; perseverança e empenho; levar a bom termo um projecto assumido]

II-C5. Não desanimo perante as dificuldades e procuro sempre aprender com elas. II-C6. Prevejo as consequências que as minhas acções/ decisões têm na vida dos grupos de que faço parte.

III-C5. Reconheço a importância das minhas tarefas, estabeleço prioridades e respeito-as. III-C6. Encaro os obstáculos sem desistir de encontrar soluções ou alternativas e reconhecendo as lições a tirar.

F-C5. Demonstrar perseverança nos momentos de dificuldade, procurando ultrapassá-los com optimismo. F-C6. Ser consequente com as opções que toma, assumindo a responsabilidade pelos seus actos.

III-C7. Assumo as minhas acções, aceitando as consequências das mesmas para mim ou para os grupos a que pertenço.

Coerência [viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as suas ideias]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

I-C7. Defendo o que me parece certo de forma alegre e calma.

II-C7. Defendo as ideias e comportamentos que me parecem correctos.

I-C8. Mostro, pelas minhas acções, que conheço a Lei e as Máximas da Alcateia.

II-C8. Demonstro que os meus comportamentos diários estão de acordo com a Lei do Escuta e os Princípios.

III SECÇÃO III-C8. Partilho e defendo aquilo em que acredito de forma serena e fundamentada. III-C9. Ajo, em cada dia, de acordo com as convicções e referências que vou tomando para mim, tendo consciência do testemunho que dou aos outros

Objectivo educativo final F-C7. Ser consistente e convicto na defesa das suas ideias e valores. F-C8. Dar testemunho, agindo em coerência com o seu sistema de valores.


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Desenvolvimento Espiritual Dimensão da personalidade: o sentido de Deus Trilhos Educativos: Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progressiva; buscado transcendente no específico cristão] Aprofundamento [dar testemunho pelos actos do dia-a-dia; viver em comunidade; estar aberto ao diálogo inter-religioso] Serviço [integração e participação activa na Igreja; participar na construção de um mundo novo; evangelização]

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-E1. Conheço as primeiras histórias da Bíblia. I-E2. Sei como Jesus nasceu e que Ele quer ser o meu melhor amigo. I-E3. Sei que a Igreja é uma família a que eu pertenço.

Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progressiva; busca do transcendente no específico cristão]

II SECÇÃO II-E1. Conheço e compreendo a história dos heróis que procuraram alcançar a Terra Prometida, a partir da Aliança. II-E2. Conheço e percebo a mensagem contida nas parábolas e milagres de Jesus Cristo. II-E3. Descubro que somos Igreja e que nela todos temos um papel a desempenhar.

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

III-E1. Conheço e compreendo a vida dos profetas.

F-E1. Conhecer e compreender o modo como Deus se deu a conhecer à humanidade, propondo-lhe um Projecto de Felicidade Plena [História da Salvação].

III-E2. Conheço e percebo a vida de Jesus com os Apóstolos. III.E3. Reconheço que cada membro da Igreja é diferente e que isso é importante e enriquece a comunidade.

F-E2. Conhecer em profundidade a mensagem e a proposta de Jesus Cristo [Mistério da Encarnação e Mistério Pascal]. F-E3. Reconhecer que a pertença à Igreja é um sinal de Deus no mundo de hoje [Igreja Sacramento Universal de Salvação].

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Trilho Educativo

Descoberta [disponibilidade interior; interiorização progressiva; busca do transcendente no específico cristão]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-E4. Sei que a oração diária é a maneira de eu falar com Jesus.

II-E4. Sei que me relaciono com Deus sempre que faço oração pessoal e participo na oração comunitária.

III-E4. Vivo a oração como parte do meu quotidiano e participo nas celebrações comunitárias.

F-E4. Aprofundar os hábitos de oração pessoal e assumir-se como membro activo da Igreja na celebração comunitária.

III-E5. Conheço a perspectiva da Igreja sobre os temas principais a partir da fundamentação Bíblica.

F-E5. Integrar na sua vida os valores do Evangelho, vivendo as propostas da Igreja.

I-E5. Imito Jesus, porque sei que Ele é um exemplo a seguir. I-E6. Identifico diferentes religiões.

II-E5. Integro-me cada vez mais na minha comunidade paroquial, através da catequese, celebrando os sacramentos que a Igreja me propõe. II-E6. Identifico as principais diferenças e semelhanças entre as religiões.

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-E7. Respeito a Criação de Deus [pessoas e Natureza] I-E8. Falo de Jesus aos meus amigos e explico-lhes porque é que Ele é importante para mim.

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III-E6. Aprofundo as razões da minha fé no contacto com as outras religiões.

F-E6. Conhecer as principais religiões distinguindo e valorizando a identidade da Igreja Católica.

Serviço [integração e participação activa na Igreja; participar na construção de um mundo novo; evangelização]

II SECÇÃO

III SECÇÃO

II-E7. Cuido e protejo a Natureza, consciente de que isso é importante para a vida das pessoas.

III-E7. Defendo a vida humana como um valor absoluto.

II.E8. Falo da minha vivência em comunidade e convido outros a participar.

III-E8. Sei o que é ser “Sal da Terra e Luz do Mundo” e ponho-me ao serviço dos outros.

Objectivo educativo final F-E7. Testemunhar que a presença de Deus no mundo dignifica a vida humana e a Natureza. F-E8. Viver o compromisso Cristão como missão no mundo em todas as dimensões [humanas, sociais, económicas, culturais e políticas].


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Desenvolvimento Intelectual Dimensão da personalidade: a inteligência Trilhos Educativos: Procura do conhecimento [desejo do saber; procura e selecção de informação; iniciativa; auto-formação] Resolução de problemas [capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estratégias de resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações] Criatividade e Expressão [apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado]

Trilho Educativo

I SECÇÃO I-I1. Proponho à Alcateia temas novos para pesquisar I-I2. Sei onde procurar e guardar novas informações. I-I3. Sou capaz de escolher o que mais gostava de fazer e aprender.

Procura do conhecimento [desejo do saber; procura e selecção de informação; iniciativa; auto-formação]

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

II-I1. Procuro descobrir o mundo que me rodeia, a partir das minhas experiências.

III-I1. Procuro sempre aumentar os meus conhecimentos, diversificando as vivências.

F-I1. Procurar de forma activa e continuada novos saberes e vivências, como forma de contribuir para o seu crescimento pessoal.

II-I2. Conheço e utilizo diferentes meios de recolha da informação.

III-I2. Sei onde procurar a informação e selecciono-a de acordo com as necessidades.

F-I2. Conhecer e utilizar formas adequadas de recolha e tratamento de informação e, dentro dessas, distinguir o essencial do acessório.

III-I3. Conheço as minhas aptidões, sou capaz de optar por uma área profissional ou de estudo e identificar outros domínios de interesse pessoal.

F-I3. Definir o seu itinerário de formação preocupando-se em mantê-lo actualizado.

II-I3. Descubro as minhas aptidões e aprofundo os assuntos que me interessam e podem ser úteis no futuro.

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Trilho Educativo

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

I-I4. Sou desembaraçado e uso as coisas que aprendo para resolver problemas.

II-I4. Enfrento situações novas usando o que aprendi.

III-I4. Sei avaliar as experiências que vivo e utilizo o que aprendo de forma criativa nas novas situações que enfrento.

I-I5. Sei dizer quando há um problema e o que é preciso fazer para o resolver.

Trilho Educativo

II-I5. Consigo identificar, de forma organizada, as causas de um problema e propor soluções.

III-I5. Analiso problemas, proponho soluções e escolho a mais adequada.

Objectivo educativo final F-I4. Adaptar-se e superar novas situações, avaliando-as à luz de experiências anteriores e conhecimentos adquiridos. F-I5. Analisar os problemas de forma crítica, sugerindo e aplicando estratégias de resolução dos mesmos.

Criatividade e Expressão [apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-I6. Gosto de imaginar e de fazer coisas novas.

II-I6. Aceito desafios que me fazem imaginar e criar coisas diferentes.

III-I6. Assumo o desafio de criar ideias e projectos inovadores em que relaciono os meus conhecimentos e gostos.

F-I6. Ser capaz de utilizar conhecimentos, percepções e intuições na criação de novas ideias e obras, mantendo um espírito aberto e inovador.

I-I7. Sou capaz de apresentar e explicar aquilo que imagino.

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Resolução de problemas [capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estratégias de resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações]

II-I7. Utilizo de modo criativo diferentes formas de expressar ideias e emoções.

III-I7. Apresento ideias e emoções de forma criativa, explorando diferentes técnicas e meios e adequando-as a quem me dirijo.

F-I7. Expressar ideias e emoções de forma lógica e criativa, adaptada ao[s] destinatário[s] e utilizando os meios adequados.


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Desenvolvimento Social Dimensão da personalidade: a integração social Trilhos Educativos: Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerância social; intervenção social] Solidariedade e tolerância [serviço; inter-ajuda; tolerância] Interacção e cooperação [assertividade; espírito de equipa; assumir o seu papel nos grupos de pertença]

Trilho Educativo

Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerância social; intervenção social]

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

I-S1. Conheço as regras de boa educação que me fazem dar bem com os outros.

II-S1. Dou exemplo de cumprimento das regras de boa convivência na comunidade.

III-S1. Conheço os meus deveres e direitos e promovo que, à minha volta, os outros os conheçam.

I-S2. Participo da melhor vontade em todas as actividades

II-S2. Descubro a necessidade de participar nos vários grupos onde me integro.

I-S3. Respeito aquilo que é de todos. I-S4. Não me aborreço quando perco nas votações e nos jogos.

II-S3. Cuido do que é de todos. II-S4. Aceito as derrotas em todas as situações, com respeito e sem desanimar.

III-S2. Participo activamente nas comunidades em que me insiro, intervindo na promoção de causas comuns. III-S3. Quando perco uma votação, aceito a decisão e trabalho nesse sentido.

Objectivo educativo final F-S1. Conhecer e exercer os seus direitos e deveres enquanto cidadão. F-S2. Participar activa e conscientemente nos vários espaços sociais onde se insere, intervindo de uma forma informada, respeitadora e construtiva. F-S3. Respeitar as regras democráticas e assumir como suas as decisões tomadas colectivamente.

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Trilho Educativo

I SECÇÃO I-S5. Procuro ser útil aos outros no meu dia-a-dia. I-S6. Sou capaz de escutar e dar importância às opiniões dos outros, aguardando a minha vez de falar.

Solidariedade e tolerância [serviço; interajuda; tolerância]

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

II-S5. Sou sensível às situações de necessidade no meio que me rodeia e procuro ser útil na sua resolução.

III-S4. Identifico situações em que posso ser útil na resolução ou minimização de um problema social.

F-S4. Assumir que é parte da sociedade onde se insere, agindo numa perspectiva de serviço libertador e de construção de futuro.

II-S6. Sei manter um diálogo, apresentando os meus argumentos com entusiasmo e ouvindo os dos outros.

III-S5. Participo, sozinho ou em equipa, na resolução ou minimização de um problema social.

F-S5. Usar de empatia na forma de comunicar com os outros, demonstrando tolerância e respeito perante outros pontos de vista.

III-S6. Exponho as minhas ideias, respeitando e valorizando as dos outros.

Trilho Educativo

I SECÇÃO

II SECÇÃO

III SECÇÃO

Objectivo educativo final

I-S7. Sou capaz de trabalhar com os outros.

II-S7. Reconheço as vantagens de trabalhar em grupo e contribuo com os meus conhecimentos e o meu trabalho.

III-S7. Valorizo as diferentes funções no grupo e desempenho o melhor possível aquelas que me são confiadas.

F-S6. Mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, contribuindo activamente para o sucesso do colectivo através do desempenho com competência do seu papel.

II-S8. Demonstro que sei orientar respeitando as opiniões dos outros.

III-S8. Respeito as necessidades do grupo, nunca sobrepondo a minha liderança.

F-S7. Assumir papéis de liderança, de forma equilibrada, tendo em conta as suas necessidades e as do grupo.

I-S8. Sou amigo dos outros quando sou eu a mandar.

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Exercer activamente cidadania [direitos e deveres; tolerância social; intervenção social]


João Antunes

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C.0

As Sete Maravilhas do Método

O Movimento Escutista tem uma missão definida: educar, promovendo o desenvolvimento das crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e de serviço, de modo harmonioso com a sua própria personalidade e com a comunidade em que vivem. A finalidade do Movimento escutista é “contribuir para o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais, quer como pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais.” In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo I

De que forma consegue o Movimento Escutista atingir a sua finalidade? Consegue fazê-lo através do sistema criado por B.-P., entretanto apurado e aprofundado durante quase um século, a que vulgarmente se dá o nome de Método Escutista. Este método, a nossa forma de educar, é único e genial e tem dado provas disso mesmo ao longo dos seus cem anos de existência. Sem ele, não se pode verdadeiramente fazer Escutismo.

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O Método Escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado em: Uma Promessa e uma Lei. Uma educação pela acção. Uma vida em pequenos grupos (por exemplo, a Patrulha), envolvendo, com o auxílio e o conselho de adultos, a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidades pelos jovens e uma preparação para a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à aquisição de competências, à confiança em si, ao serviço dos outros e à capacidade quer de cooperar, quer de dirigir. Programas de actividades variados, progressivos e estimulantes, baseados nos interesses dos participantes, incluindo jogos, técnicas úteis, e a realização de serviços à comunidade; estas actividades desenrolar-se-ão, principalmente, ao ar livre, em contacto com a Natureza.”

In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo III

Neste sentido, vemos que o Método Escutista, a partir da forma natural como as crianças, os adolescentes e os jovens se relacionam, permite explorar diferentes opções educativas, realçando o que eles aprendem uns com os outros e potenciando verdadeiras experiências educativas, tais como: O alargamento de horizontes: o campo de acção e de experimentação da criança/adolescente/jovem vai aumentado à medida que cresce; O transporte da criança/adolescente/jovem da imaginação à realidade: os heróis e heroínas não existem só em lendas, mas são indivíduos de carne e osso e o mundo fictício das histórias desafia a exploração do mundo real; O crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e a assunção de responsabilidades são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura em sociedade; A interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais): assim se desenvolve um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se adere;

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O incentivo a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo novas metas a alcançar;


manualdodirigente Um ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor pedagógico: a correcta aplicação do método proporciona a criação de um espaço seguro onde as crianças/adolescentes/jovens aprendem, erram e voltam a aprender numa dinâmica de crescimento; Uma relação de confiança com alguém que educa, preparando, apoiando, aconselhando e encorajando. Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, falta apenas caminhar. E o caminho possui sete características essenciais de que não podemos abdicar e que consideramos maravilhosas, por constituírem a base do Método Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método Escutista”:

Lei e Promessa

Mística e Simbologia

Vida na Natureza

Aprender Fazendo

Sistema de Patrulhas

Sistema de Progressão Pessoal

Relação Educativa

Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo distinto, de acordo com as características próprias de cada faixa etária e tendo em conta o grau de autonomia, de maturidade e de responsabilidade de cada criança, adolescente ou jovem. Bibliografia: Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista Estatutos e Regulamentos do CNE As características essenciais do Escutismo. Documento de referência para apoio à elaboração do PEP (Plano Estratégico Participativo do CNE e da RAP – Renovação da Acção Pedagógica).

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João Lagartinho

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C.1

Lei e Promessa

C.1.0 Um quadro referência de valores A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a viver em comunidade. Na Igreja, esses valores têm por base os Mandamentos da Lei de Deus. Cada sociedade, por seu lado, incute valores relacionados com a moral e o respeito por si mesmo, pelo outro e pela propriedade. O Método Escutista também possui o seu veículo de transmissão de valores, a Maravilha a que chamamos Lei e Promessa, e onde integramos não apenas estes dois elementos, mas ainda outros que os complementam: os Princípios do Escuta, a Lei e Máximas da Alcateia e outros elementos que transmitem os valores escutistas, como as orações escutistas. Para cada Escuteiro e para a Unidade onde está inserido, a Lei do Escuta é um apelo positivo a fazer melhor e a desenvolver-se a si próprio. Neste sentido, é um código de vida intimamente ligado aos Princípios do Escutismo. Através desta proposta de vivência concreta e de uma formulação positiva (e não de proibição) dos ideais, torna-se possível ao Escuteiro perceber os valores propostos pelo Movimento Escutista para uma vida rumo à felicidade e ao desenvolvimento de todo o potencial encerrado dentro de cada um. Valor, neste sentido, é algo fundamental, valioso e estável que, para uma pessoa, inclui aquilo que são as coisas essenciais em que se deve acreditar e que têm importância vital na sua forma de estar na vida. A Promessa, por seu lado, é a resposta pessoal do jovem a este apelo. Assim, é uma dádiva de si mesmo e implica um compromisso livremente aceite por rapazes e raparigas que se comprometem a fazer o seu melhor para viver de acordo com os valores inscritos na Lei. Esta Promessa é feita perante os seus pares de forma a que simbolize

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manualdodirigente não apenas o seu comprometimento pessoal, mas também um comprometimento para com os outros. Vemos, então, que a Lei e Promessa encerram em si, de forma simples, os valores que Baden Powell considerava básicos para uma sociedade mais justa e feliz. Naturalmente estes valores só são possíveis de compreender na sua totalidade após algum tempo de permanência e vivência na secção, através das várias actividades que se vão desenrolando e que permitem compreender de forma mais profunda o seu significado. É por isso que têm de estar obrigatoriamente presentes no desenrolar das actividades escutistas (na sua ausência não estaremos a fazer Escutismo): só assim será possível que os elementos os integrem na sua matriz pessoal e, de forma natural, os tornem parte significativa da sua acção diária na sociedade em que se inserem. De facto, estes valores mas não se limitam estritamente ao campo escutista: idealmente, a aceitação voluntária dos princípios e valores subjacentes à Lei e à Promessa ditam um modo de vida que se alarga a todas as diferentes vertentes da vida do escuteiro.

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manualdodirigente C.1.1 A Lei e Promessa na Alcateia No caso dos lobitos, os valores escutistas estão resumidos na Lei e Máximas e na Promessa. Através deles o lobito é chamado a comprometer-se livremente com ideais que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais justo e mais solidário.

I. A Lei e as Máximas I.1 A Lei da Alcateia

“Não negligenciemos também a Lei da Alcateia. Que por todos os meios possíveis ela se apodere da imaginação dos nossos rapazes e ela dará os seus frutos..” In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

No livro da Selva, aprendemos que existe um “Povo sem lei”, desordeiro, preguiçoso, sujo e sem regras, que vive a partir dos impulsos e dos interesses momentâneos. No lado oposto, temos a vida da Alcateia, o “Povo Livre”, onde cada lobo conhece o seu lugar e as regras de socialização e reconhece no velho lobo, Àquêlá, a autoridade moral para guiar e proteger todos. Assim deve ser a vivência das nossas alcateias: temos de reconhecer que cada animador adulto é um velho lobo e que e que os lobitos compreendem e aceitam a sua orientação. Quando caracterizamos psicologicamente o escalão etário dos nossos lobitos, conside­ ramo-los “crianças” que raciocinam sobre factos concretos vividos aqui e agora. Não lhes podemos transmitir valores sobre situações hipotéticas que eles não entendem e ainda não viveram. Assim sendo, a Lei da Alcateia põe as coisas no presente:

O lobito escuta Àquêlá. O lobito não se escuta a si próprio.

O lobito, ao repetir esta lei tão simples, memoriza-a e inconscientemente vive-a. No entanto, não deixa nunca de atender ao comportamento dos adultos, observando como estes vivem e cumprem as regras no “grande jogo da vida”. Ao decompormos a Lei da Alcateia, encontramos em primeiro lugar “O lobito escuta Àquêlá”. Aqui está presente o valor da obediência e o reconhecimento da autoridade de Àquêlá (os chefes, os pais, os professores, as catequistas, etc.), reconhecimento este que advém da capacidade que o adulto tem para ensinar, ajudar, acarinhar e proteger

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manualdodirigente a criança. Depois surge “O lobito não se escuta a si próprio”, onde encontramos a valorização da renúncia do lobito aos seus interesses pessoais em favor dos interesses e necessidades do grupo (Alcateia). O lobito aprenderá que o facto de viver em Alcateia fará com que tenha de abdicar dos seus pequenos egoísmos, fazendo grupo com todos os outros lobitos. A simplicidade da Lei encerra assim os valores básicos da vivência em Alcateia.

I.2 As Máximas da Alcateia O lobito entende e consegue viver a sua lei, pois esta encerra regras bem simples. No entanto, precisa de mais algumas orientações que o guiem nas boas relações consigo próprio e com a sociedade. É por isso que existem as 'Máximas':

O Lobito pensa primeiro no seu semelhante. O Lobito sabe ver e ouvir. O lobito é asseado. O lobito é verdadeiro. O lobito é alegre.

1º O lobito pensa primeiro no seu semelhante. Esta máxima corrobora o segundo artigo da lei do lobito ao contrariar tendências egoístas que o lobito possa ter. De facto, o lobito, ao conhecer o Livro da Selva, sonhando e imaginando a vida de Maugli, compreende o espírito de entreajuda, altruísmo e solida­ riedade em que os animais da selva viviam. É assim que o nosso lobito deve encarar a sua relação com os outros, disponibilizando-se da melhor vontade a ajudar os outros, mesmo que isso implique deixar um plano seu para segundo lugar. Ao mesmo tempo, a vivência desta máxima levá-lo-á a melhor aceitar a ajuda dos outros quando dela necessitar. Não precisamos de grandes feitos heróicos. É nos pequenos gestos que podemos ajudar, emprestando um objecto, cedendo um lugar, ajudando a executar uma tarefa mais elaborada, etc.

2º O lobito sabe ver e ouvir.

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Diz a sabedoria popular que se temos dois ouvidos e dois olhos, mas por outro lado uma boca, é porque devemos ouvir e ver mais do que falar. Ouvir e ver são fundamentais para a aprendizagem e para o conhecimento da realidade à nossa volta.


manualdodirigente E o lobito deve ouvir e ver não só por obediência ao que os mais velhos dizem, mas também para entrar em intimidade e familiaridade com todo o ambiente que o rodeia. Por outro lado, ouvir e ver é imprescindível para evitar que o mal aconteça ou pelo menos para evitar distracções e acidentes. De facto, a vida na selva é plena de sons, cores e sombras, tal como a vida nas “selvas” onde os nossos lobitos vivem e compete-nos estar atentos para descobrirmos as suas maravilhas: quantas vezes, nas nossas actividades, nos deitamos na relva, fechamos os olhos e entramos noutro mundo cheio de novas sensações? Também o lobito terá de aprender a observar o meio que o rodeia, interpretando-o.

3º O lobito é asseado. Maugli teve a experiência de viver entre o “Povo sem lei”, os Banderlougues, nas “moradas frias”, e ficou perturbado com a desordem, sujidade e anarquia que se vivia naquele local. Através desta Máxima, é pedido ao lobito que cuide da sua higiene pessoal, em pequenos gestos: cara lavada, unhas cortadas e limpas, roupa asseada, cabelo lavado e penteado, etc. Mas o seu asseio tem também de passar pelo arrumo e limpeza de tudo o que diga respeito à vida da Alcateia: covil, tenda, campo, etc.

4º O lobito é verdadeiro. Depois de Maugli ser resgatado do cativeiro dos Banderlougues, foi sincero e explicou a Balu que toda aquela confusão se deveu à sua curiosidade e ao desrespeito pelos conselhos dos mais velhos. Seguindo o exemplo de Máugli, também o lobito deverá procurar ser sempre verdadeiro, quer quando fez alguma coisa errada quer quando viu alguém a fazer uma coisa errada. Implica, assim, ser fiel ao que realmente está a sentir e ser honesto sobre o que pensa sobre uma situação ou pessoa. Desta forma, o lobito aprende não apenas que é importante conquistar a confiança dos outros, mas também que é essencial assumir a responsabilidade pelas suas atitudes, aceitando as consequências dos seus actos.

5º O lobito é alegre. A alegria faz com que cada um de nós seja mais feliz, encarando a vida com leveza e sem fazer de cada contrariedade um pesadelo. De facto, rir, cantar, brincar são a receita para uma vida plena, na medida em que nos ajudam a desenvolver o optimismo. As crianças são, por natureza, alegres e, por isso, é essencial que os nossos lobitos desenvolvam esta característica, aprendendo a não se deixarem abater pelas contrariedades. De facto, manter a alegria passa por perceber que, na vida, há sempre uma solução ao nosso alcance. Assim, a Alcateia será um espaço desejado, uma verdadeira 'Família Feliz', onde se ensina o valor da alegria e a importância de nos esforçarmos por encarar todas as situações com optimismo.

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manualdodirigente I.3 Como viver a lei e as máximas na alcateia A Lei e as Máximas ajudam à aquisição de normas de convivência básicas e promovem a convivência equilibrada do grupo e o enriquecimento das relações humanas. Para que tal aconteça de forma natural, pode recorrer-se a várias estratégias para inculcar valores:

jogos que impliquem partilha, auxílio mútuo, disciplina, lealdade, etc.; exemplos do dia-a-dia (retirados de histórias que podem ser contadas ou representadas) que os lobitos assumam como conhecidos; reflexões sobre comportamentos dos lobitos (que podem ser analisados à luz, por exemplo, do comportamento de Máugli, do Menino Jesus e de São Francisco de Assis, Santa Clara ou dos Beatos Francisco e Jacinta Marto).

Neste processo, o dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para que, em cada lobito, se formem valores que irão nortear a sua vida futura e que são muito mais facilmente inculcados agora do que mais tarde. Para que isto aconteça, não nos podemos esquecer que o exemplo ocupa um lugar central na educação para os valo­ res. Assim sendo, é essencial que o dirigente assuma como seus os valores que quer transmitir e se esforce por os cumprir, procurando ser, realmente, um modelo a seguir. E isto não se pode fazer apenas quando os elementos estão presentes, dado que não sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos. De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, solidariedade para com um elemento mais difícil ou paciência para com os desobedientes quando os dirigentes não se falam, mentem, rejeitam algum elemento de forma ostensiva ou se descontrolam quando lidam com o grupo. Educa mais quem apresenta um comportamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na coerência de atitudes, no encorajamento perante o erro e o desânimo, na defesa de comportamentos saudáveis.

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manualdodirigente

Boas práticas: - Construir com os lobitos uma árvore (desenhada, cartolina, ramo seco, etc.) em cuja parte superior estejam os artigos da Lei e, um pouco mais abaixo, as Máximas. Sempre que eles não cumpram uma Lei ou uma Máxima na Alcateia, o seu nome é colocado junto a essa Lei ou Máxima. Este jogo tem o objectivo de levar cada lobito a lembrar­-se de que tem de fazer uma boa acção para que o nome dele saia da árvore, que podemos chamar “O arbusto das Moradas Frias”. - Convidar um lobito, sempre que não cumpra a Lei ou as Máximas, a fazer uma pesquisa no Livro da Selva sobre o momento em que também Máugli não as cumpriu, complementando-a, ou não, com um desenho. Isto para que o lobito sinta que Maúgli também fazia traquinices e que por vezes tinha de se sujeitar aos castigos de Bálu e Bàguirà. - Construir, com os lobitos, um quadro com a Lei e as Máximas para valorizar e embelezar o Covil. - Incutir no Guia de Bando que, sempre que os lobitos do Bando não cumpram a Lei ou Máximas, ele deve ser o primeiro a chamar-lhes atenção, para que sintam autoridade por parte do seu Guia, respeitando-o, e aprendam a seguir os valores da Alcateia. - Convidar os lobitos a colocar na porta do quarto um quadro com a Lei e Máximas. - Criar um cartão com várias boas acções diárias que o lobito se compromete a fazer. Depois, os Pais vão assinando essas acções à medida que o lobito as vai cumprindo. Assim, vão-se ganhando hábitos de boas práticas diárias. - Convidar o Lobito a fazer um cartaz em A3 sobre a Lei e as Máximas que pode levar para a sala de aula para explicar aos colegas. Normalmente existe mais do que um lobito na sala, pelo que podem juntar-se e explicar aos colegas o que é a Alcateia e que Lei e Máximas tem. Esta acção também pode ser feita na catequese. O animador terá de acertar estes pormenores com os outros educadores, mas de forma que o Lobito não se aperceba. Esta acção funciona caso exista um conhecimento e um bom relacionamento com as outras estruturas locais.

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manualdodirigente II. A Promessa Iniciada há já algum tempo a etapa de adesão ao Movimento, a data da Investidura e da Promessa estará a aproximar-se. É importante, para não dizer fundamental, que os nossos lobitos entendam o verdadeiro significado da Promessa, que está para lá do que é visível – a simples imposição do lenço.

“Se o ideal do lobitismo, a lei, divisa, etc., capta sobretudo a imaginação do rapaz, a promessa faz sobretudo o apelo ao seu coração. Considerai a palavra “promessa” na sua acepção geral. Que é que leva um homem a fazer a sua promessa? Há na promessa algo de essencialmente generoso. Além de tudo para fazer uma promessa é necessário que haja dois. (…) Com efeito, a Promessa é uma segurança dada a alguém, de qualquer coisa que será fielmente cumprida. Não é uma simples declaração, é um compromisso, a palavra de um homem que, de todo o coração, deseja que um outro confie nele.” In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

A Promessa é um compromisso assumido pelo lobito de uma forma livre e sentida e podemos encarar este acto em duas vertentes. Por um lado significará o momento a partir do qual o lobito se sente verdadeiramente um membro da Alcateia: fez a sua caminhada, conhece a vida e a lei da Alcateia, conhece os outros lobitos e os seus chefes e pode e quer, finalmente, ser um lobito. É aqui que o cerimonial da Alcateia lhe confere publicamente o estatuto de ‘lobito’ e lhe permite usar o sonhado lenço, símbolo da sua integração definitiva. Por outro lado, a Promessa reveste-se de uma importância vital, porque o lobito vai atestar perante os seus pares, dirigentes e comunidade local que quer ser lobito, que conhece a Lei da Alcateia, que tem disponibilidade para ajudar os outros e quer conviver correctamente com os seus amigos, Jesus, os lobitos e todas as pessoas. Este compromisso só fará sentido se feito publicamente, percebendo o lobito que está a dar a sua palavra e que todos irão estar atentos ao cumprimento das suas intenções.

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Neste âmbito, é relativamente frequente encontrar lobitos que, embora não tenham os requisitos básicos para fazer a sua promessa, acabam por a fazer apenas por uma questão de calendário do Agrupamento. Esta situação deve ser evitada, na medida em que muitas vezes premeia a preguiça e o desinteresse (não apeteceu ao lobito saber de cor a Lei e as Máximas, embora queira o lenço, por exemplo). Para a evitar, é fundamental que o dirigente fale aos aspirantes e aos lobitos da importância da promessa, evocando-a sempre que for necessário responsabilizar o lobito por alguma coisa que faça. Neste sentido, afirmações como ‘Tu prometeste ser amigo de Jesus’ ou ‘Tu prometeste cumprir a Lei da Alcateia’ ajudam o lobito a tomar consciência do valor e da responsabilidade das suas acções.


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“Entre todas as pessoas do mundo, vós sois aquela a quem ele prometeu ser um bom lobito. Tomai pois a sério a vossa missão de Velho Lobo e dai uma grande importância à Promessa que vos fazem esses pequeninos.” In Barclay, Vera, Sabedoria da Selva.

III. A Oração do lobito O imaginário da vida na Selva, com as suas vivências e personagens – Maugli, Áquêlá, Balú, Baguirá, Racxa, etc. –, é um espaço de excelência para transmitir de forma simples grandes valores que temos no Cristianismo. Por isso, a referência a Jesus Cristo e a promoção de uma relação pessoal de cada lobito com Ele têm de acompanhar as referências ao Livro da Selva. De facto, e porque Ele é o centro e o absoluto na educação cristã, tudo o resto concorre para o entendimento e vivência dos valores cristãos. A oração do lobito promove a identificação do lobito com a figura do Jesus Menino, para quem é levado a olhar como exemplo a seguir. De facto, Jesus foi menino como todos os nossos lobitos e também Ele foi descobrindo, à medida que foi crescendo, a grande missão que Lhe estava reservada. Ao rezarem a oração do lobito, os lobitos entregamse totalmente a Jesus, compreendendo a importância de O imitar para crescer de forma equilibrada e feliz. Nesta oração, faz-se também referência à figura de Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, a quem os lobitos são levados a pedir a intercessão para crescer em graça e idade, como também Jesus Menino cresceu: “enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.” (Lc 2, 40). Ao papel maternal de Maria, os lobitos, como crianças que são, são particularmente sensíveis. Decidiu-se, por isso, recuperar a versão original da Oração do Lobito, onde Maria surge como a “doce Mãe” de Jesus e de todos os homens:

Divino Menino Jesus nós Vos oferecemos inteiramente o nosso coração. Enchei-o das Vossas virtudes e ensinai-nos a imitar-Vos. Nós queremos seguir o Vosso exemplo, com toda a nossa boa vontade, para assim, com a ajuda de Maria, nossa doce Mãe, crescermos em graça e idade. Ámen 55


manualdodirigente A melhor forma de ensinar esta oração aos lobitos é rezá-la frequentemente, tal como se reza o Pai Nosso ou a Avé-Maria. Pode rezar-se isoladamente ou a fechar uma oração onde se cantou, fizeram petições, ou se leu uma passagem do Evangelho (ver, por exemplo, as passagens existentes no livro Trocado para Miúdos, 2009, Edições CNE).

Boas práticas: -Construir, com os lobitos, um quadro com a Oração do Lobito para valorizar e embelezar o Covil. -Construir com os lobitos uma pequena pagela com a Oração do Lobito e um desenho alusivo à mesma. Fazer vários exemplares da pagela e oferecer um exemplar a cada lobito. -Sugerir ao pais que rezem a Oração do Lobito com o seu filho ou filha à noite, ao deitar. -Terminar sempre as orações que se façam em Alcateia com a Oração do Lobito.

Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Manual do Lobito. Edições CNE. BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva. Edições CNE. Celebrações do CNE, Edições CNE. FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE.

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manualdodirigente C.1.2 A Lei e Promessa na Expedição, Comunidade e Clã I. A Lei Para o Escuteiro do CNE, a Lei engloba os 10 Artigos da Lei, enunciados por B.-P., e os 3 Princípios do CNE.

Os Princípios 1. O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida. 2. O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão. 3. O dever do Escuta começa em casa. A Lei 1. A honra do Escuta inspira confiança. 2. O Escuta é leal. 3. O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção. 4. O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas. 5. O Escuta é delicado e respeitador. 6. O Escuta protege as plantas e os animais. 7. O Escuta é obediente. 8. O Escuta tem sempre boa disposição de espírito. 9. O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio. 10. O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

a) Os três Princípios Os 3 Princípios do CNE focam três dimensões que o Movimento Escutista crê fundamentais para a vida do jovem. Segundo a WOSM (Organização Mundial do Movimento Escutista), o Escuteiro deve viver segundo as seguintes dimensões: Deus, Outros e Eu. No CNE, os Escuteiros, no seu dia-a-dia, vão completando o seu desenvolvimento, vivendo segundo essas mesmas dimensões: Deus, País (outros) e Família (eu). Cada um destes Princípios estabelece um ideal a alcançar, com os quais o Escuteiro se compromete, criando metas específicas que visam desenvolver a responsabilidade de cada um a nível espiritual, social e pessoal. Sugestão: Ver Regulamento Geral do CNE, Artigo 3º.

1º Princípio: O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida. O primeiro Princípio do Escuta elege como ideal o compromisso com Deus, fonte de felicidade. Esta dimensão espiritual está presente no Movimento Escutista desde o início. Com a adesão a princípios espirituais, pretende-se que o Escuteiro assuma a sua fidelidade à Religião que professa, numa aceitação dos deveres que daí decorrem, vivendo a alegria de integrar a Igreja de Jesus Cristo.

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“Não temam responder generosamente ao chamado do Senhor. Deixem que vossa fé brilhe no mundo, que as vossas acções mostrem o vosso compromisso com a mensagem salvadora do Evangelho!” Papa João Paulo II, Mensagem para a XVII Jornada Mundial da Juventude

2º Princípio: O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão. Este Princípio proclama a responsabilidade para com os outros. Essa responsabilidade deve ir no sentido da promoção da Paz, da compreensão e cooperação entre todos e na participação activa e empenhada no desenvolvimento da comunidade.

“Talvez não vejais bem como um simples rapazinho poderá ser útil à Pátria, mas alistando- -se nos escuteiros e cumprindo a Lei escutista todos os rapazes podem ser úteis. «A Pátria acima de mim» deve ser a vossa divisa.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

Neste sentido, sentir-se filho de Portugal não é assumir nenhum tipo de nacionalismo. Pensar na pátria é pensar no nosso próximo, é assumir responsabilidade na construção de um país justo, economicamente equilibrado e onde a igualdade não é uma utopia. O bom cidadão, assim, é aquele que contribui para o bem do país, servindo-o de todas as formas possíveis. Isto implica usar com moderação os seus recursos naturais, cumprir os deveres cívicos, contribuir para o desenvolvimento da sociedade e fomentar a solidariedade, entre muitas outras coisas.

3º Princípio: O dever do Escuta começa em casa. Neste princípio, vemos espelhados o ideal de cuidar de si, assim como dos que lhe são próximos e parte integrante da sua vida, como a família. Esta é a célula fundamental da sociedade. De facto, é em grande parte no seio da família que o indivíduo forma a sua personalidade e apreende valores, descobrindo a importância da dignidade, da confiança, do diálogo, da cooperação, do bom uso da liberdade, da obediência. No entanto, para que esta aprendizagem seja profícua é necessário que exista disponibilidade para estar com os outros e partilhar sentimentos e acções. Por isto, como já disse antes, o Céu não é qualquer coisa vaga, algures lá em cima nos ares. Fica aqui mesmo na Terra, no teu próprio Lar. Não depende da riqueza ou da posição, mas depende de ti criá-lo, a teu modo, com o teu próprio cérebro, coração e mãos.” B.-P., A Caminho do Triunfo

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manualdodirigente Resumindo, os Princípios do Escuta relacionam-se de forma específica com os seguintes valores:

O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida

HONRA CONFIANÇA SERVIÇO

O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão.

CIDADANIA CUMPRIMENTO DO DEVER SOLIDARIEDADE DISPONIBILIDADE

O dever do Escuta começa em casa

AMOR DEVER

b) Os dez artigos da Lei De acordo com aquilo que o próprio B.-P. definiu, o Movimento Escutista propõe a cada elemento um conjunto alargado de valores que, interligados, permitem desenvolver o sentido da responsabilidade, aprender a fazer opções e criar hábitos de convivência e respeito para consigo mesmo e com o outro. Esses valores estão explicitamente definidos nos artigos da Lei do Escuta:

1º A honra do Escuta inspira confiança. A honra do Escuta inspira confiança, porque ele actua com honestidade em tudo o que diz e faz. Os outros reconhecem no Escuteiro a sua honradez e confiam nele, porque mostra e vive segundo esse valor. Na prática, significa que o Escuteiro assume que a sua liberdade o leva a agir de forma a nunca ser contrário à verdade, demonstrando a sua coerência de vida: Aquilo em que acredito é aquilo que ponho em prática (tanto em público como em privado); O que eu penso e digo é o que eu faço; O que eu digo é a verdade; O que eu me comprometo a fazer, faço-o com seriedade.

“O Chefe pergunta então: «Sabes o que é a tua honra?» O Aspirante: - «Sei sim; quer dizer que se pode confiar que sou verdadeiro e honesto»” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº3)

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manualdodirigente 2º O Escuta é leal. Ser leal é assumir compromissos e cumprir a palavra dada, ser fiel às suas convicções e franco para com todos, sabendo agir de acordo com a sua consciência. O Escuteiro leal respeita as regras do jogo da vida, actuando com coerência e respeito por si mesmo e pelos outros. Não faz batota, não engana, não atraiçoa, não desampara ninguém.

“A lealdade era característica que acima de tudo distinguia os cavaleiros. Estes eram sempre dedicadamente leais ao rei e à sua Pátria.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº21)

3º O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção. Ser útil é ter disponibilidade para ajudar os outros em todas as circunstâncias. Quem assim procura agir, habitua-se a não orientar a vida exclusivamente pelos seus próprios interesses, aprendendo a viver em verdadeira comunidade e espírito de serviço.

“Como Caminheiro, o teu objectivo supremo é SERVIR. Sempre se pode confiar em que estarás pronto a sacrificar tempo, comodidades ou, sendo preciso, a própria vida, pelos outros.” B.-P., A Caminho do Triunfo

Para o Escuteiro, o altruísmo aprende-se através da boa-acção diária, cuja prática é importante incutir em cada um. É ela que o exercita na arte de praticar o bem; é ela que, pela repetição, acaba por criar o hábito de estar atento para o bem-estar dos outros e de ter disponibilidade para os auxiliar. A boa-acção deve ser realizada de forma discreta e sem esperar recompensa. A humildade de fazer o bem sem esperar elogios é essencial: é o que permite que seja o Amor a guiar as nossas acções. E Amor é o que Deus espera de nós. O que começa com uma pequena boa-acção diária acaba numa vida de serviço.

4º O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas. Num mundo como o de hoje, onde o egoísmo e a exclusão são quase banais, a amizade é um valor precioso, pelo que este artigo da Lei do Escuta, que se divide em duas partes, manifesta cada vez mais relevância. Numa primeira parte, mais geral, foca-se a necessidade de estarmos disponíveis para amar todos (escuteiros, não escuteiros, amigos, não amigos, etc.). A segunda parte proclama a fraternidade escutista mundial. Ser amigo de todos implica ser capaz de se colocar no lugar do outro, actuando com respeito e solidariedade perante as suas necessidades e diferenças e aprendendo a perdoar.

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O escuteiro tem que ser capaz de deixar cair medos, incompreensões e hostilidades,


manualdodirigente pondo de lado reservas sem sentido relacionadas com raça, credo, sexo, cultura, classe social, nacionalidade, etc. e mostrando sempre disponibilidade interior para aceitar como possível amigo aquele que ainda lhe é desconhecido. Ao ser escuteiro, o jovem sabe que está ligado a todos os escuteiros do mundo pelo mesmo ideal, a mesma promessa e os mesmos valores, numa verdadeira fraternidade global.

“Os escuteiros de todo o mundo são embaixadores da amizade, que se dedicam a criar amigos e a abater barreiras erguidas pela cor, credo e classe social.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº26)

5º O Escuta é delicado e respeitador. Ser respeitador é ter consideração pelos outros e pela sua dignidade, é ter em conta os seus direitos e ser tolerante perante ideias diferentes. Esta consideração pela dignidade do outro traduz-se, na prática, pela delicadeza com que tratamos os demais. O escuteiro deve comportar-se de forma amável, sensível e afectuosa, mas não deve fazê-lo porque é bonito e fica bem: deve-o fazer sinceramente, com o coração. Ser delicado e respeitador é também não magoar os outros. O escuteiro não precisa de chocar, melindrar, ou afrontar as outras pessoas para fazer ver e respeitar o seu ponto de vista. Fá-lo de forma equilibrada e sem recurso à grosseria.

“Se desprezardes os outros rapazes, porque têm uma casa mais pobre do que a vossa, não passais de presunçosos. Se odiardes os outros rapazes, porque nasceram mais ricos do que vós, sois loucos. Cada um de nós precisa de aceitar a sorte que lhe tocou no mundo e aproveitá-la o melhor possível e colaborar com os que o cercam.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº26)

6º O Escuta protege as plantas e os animais. No tempo de B.-P., não existiam as preocupações ambientais que hoje proclamamos. Contudo, como visionário que era, Baden-Powell apercebeu-se da importância da Natureza e da necessidade de a respeitar e proteger. E por isso concebeu este artigo da Lei, através do qual todo o escuteiro é impelido a tomar consciência de que faz parte de um obra maior e de que, como tal, tem o dever de amar e proteger todas as outras criaturas,

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manualdodirigente que tal como nós, fazem parte da Criação de Deus.

“O estudo da Natureza mostrar-vos-á as coisas maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite.” B.-P., Última Mensagem

Isto não se faz apenas com grandes gestos, mas começa com os pequenos. Assim, pequenas acções também são capazes de mudar o mundo e ajudam a preservar a beleza que Deus criou, para que todos usufruam dela. O escuteiro aprecia e preserva a Natureza, servindo-se dela e pondo-se ao seu serviço de forma equilibrada. Assim se cultiva o sentido da responsabilidade perante as maravilhas de Deus, hoje tão exploradas e votadas ao desprezo.

7º O Escuta é obediente. Todos os grupos possuem regras próprias, que os seus membros assumem como necessárias para o bem-comum e que evitam a anarquia e o caos. E, se há regras informais, outras são mais formais, como as leis, regulamentos, normas. Ser obediente não é mais do que conhecer e perceber as regras e leis dos grupos a que se pertence, tomá-las como suas e respeitá-las.

“Os Escuteiros desta [Patrulha] cumprem as suas ordens [do Guia], não com receio de castigo (…), mas porque constituem um todo que joga em conjunto e que apoia o seu Guia para honra e êxito da Patrulha.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº4)

Obediência não é submissão. Ser obediente é, em plena consciência, reconhecer como legítima e necessária uma determinada autoridade, determinadas regras. Ser submisso é não pensar no porquê das coisas e acatar ordens por desconhecimento, medo ou vergonha. Assim, o escuteiro deve perceber e sentir que obedecer não é sinal de fraqueza e não é uma humilhação. Obedecer é ter consciência que ainda se tem muito que aprender e que o bom funcionamento do grupo está directamente dependente do cumprimento das regras por parte dos seus membros. Por fim, há ainda duas ideias que devem ser trabalhadas no Escuteiro: A autoridade não é mandar. Um bom líder não precisa ser ditador, os outros seguem-no porque lhe reconhecem autoridade, sabem que estão bem liderados, que o seu grupo vai bem e que podem aprender muito.

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Obediência não é supressão da consciência. Um indivíduo não deve obedecer se a actuação que lhe é exigida for contrária ao que acredita, sente e defende.


manualdodirigente 8º O Escuta tem sempre boa disposição de espírito. A alegria é, sem dúvida, uma das características que se deve apontar a todo o escuteiro. Não o estar alegre, mas o ser alegre. Aquela alegria pura de quem tem a consciência tranquila, de quem se sente bem consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Quem assim procede é feliz, pois dessa alegria chega a força interior para enfrentar os maiores desaires. Vivendo assim, o Escuteiro opta por viver a vida com optimismo, preferindo a esperança à preocupação e ao medo. Para além disto, importa transmitir que, por mais difícil que seja o caminho, por mais desespero que possa sentir, o escuteiro procura sempre, em Deus, uma solução para dias melhores e sorri.

“Quando se trabalha de bom humor, o trabalho transforma-se em prazer, e esta alegre disposição torna também alegre os outros, o que constitui um dos deveres do Escuteiro.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº21)

9º O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio. Este artigo da Lei envolve três ideias distintas que se revelam bastante importantes num mundo consumista como o nosso, onde os bens materiais são cada vez mais valorizados, em detrimento das coisas realmente valiosas. Em primeiro lugar, defende que todo o escuteiro deve ser sóbrio. Com isto, pretende-se chamar a atenção para o equilíbrio que cada um deve ter na sua vida. Ser sóbrio significa viver sem exageros, tanto a nível de pensamento como de acções. Assim, o escuteiro, por um lado, esforça-se por conseguir o que quer e fica contente pelo que alcançou, não tendo inveja dos outros se conseguiram mais ou melhor; por outro lado, procura ter uma vida equilibrada, sem exageros, mostrando saber as coisas realmente importantes da vida. Assim não desperdiça o seu tempo e vive mais.

“A orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais retira à vida humana o seu sentido mais profundo.” Papa João Paulo II – Homilia do XV centenário do nascimento de São Bento e Santa Escolástica, 23 de Março de 1980

Em segundo lugar, foca o controlo do dinheiro, dizendo que o escuteiro deve ser económico. E ser económico não é ser “forreta”, mas sim fazer uma boa gestão do seu dinheiro. Ou seja, o escuteiro não gasta tudo o que tem nem arranja dívidas, mas deve ser capaz de fazer planos conscienciosos para o que possui, amealhando e gastando apenas o que precisa. É necessário que o escuteiro perceba que o que traz felicidade não é a fortuna, mas sim

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manualdodirigente o bom uso do que se tem, e que a satisfação advém de conseguir as coisas com o nosso trabalho. Por fim, este artigo aborda o respeito pelos bens dos outros. Quem é sóbrio e económico valoriza o que faz e o que tem e, consequentemente, procede de igual forma para com os outros. Assim, protege o que lhe emprestam como se fosse seu e restitui-o quando já não precisa, devolve o que encontra ao seu legítimo dono, não rouba e não vandaliza propriedade alheia.

10º O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.” Mt 5, 8

Quando procura a pureza de pensamentos, o escuta evita o egoísmo e a inveja e procura que todas as suas intenções e ideias sejam pautadas pela verdade, tolerância e honestidade. Já a pureza nas palavras não se resume a evitar uma linguagem obscena ou agressiva, mas implica também a capacidade de não usar as palavras como arma para ferir alguém (com humilhações, mexericos, acusações sem fundamento ou ofensas). Por fim, a pureza das acções impele o escuteiro a evitar todos os comportamentos potencialmente prejudiciais para si e para os outros. As acções de cada escuteiro devem ser de ajuda para com os outros, de delicadeza. Em cada gesto deve dar o melhor de si ao mundo, sempre pautado pelo respeito que sente por si e pelos outros. Resumindo, podemos considerar que os artigos da Lei do Escuta englobam vários valores:

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A honra do Escuta inspira confiança

VERDADE, CONFIANÇA e COERÊNCIA

O Escuta é leal.

LEALDADE e FIDELIDADE

O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.

ALTRUÍSMO, HUMILDADE, SERVIÇO e AMOR

O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.

AMIZADE, DISPONIBILIDADE e PERDÃO

O Escuta é delicado e respeitador

RESPEITO e DELICADEZ

O Escuta protege as plantas e os animais.

RESPONSABILIDADE, CONTEMPLAÇÃO e PROTECÇÃO


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O Escuta é obediente.

OBEDIÊNCIA, DISCIPLINA e HUMILDADE

O Escuta tem sempre boa disposição de espírito

ALEGRIA, OPTIMISMO e ESPERANÇA

O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.

SOBRIEDADE, ECONOMIA e HONESTIDADE

O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

PUREZA, INTEGRIDADE e RENÚNCIA

II. A Promessa Iniciada há já algum tempo a fase de Adesão, a data do Compromisso Pessoal estará a aproximar-se. E neste momento, é fundamental que o escuteiro entenda e sinta o verdadeiro significado da Promessa e que esta não seja mais um rito engraçado.

“Vês, portanto, que o escutismo não é apenas divertimento, mas exige muito de ti, e eu sei que posso confiar em que farás tudo o que puderes para cumprires a promessa.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº 3)

A Promessa Escutista Prometo pela minha honra e com a graça de Deus, fazer todo o possível por:

- cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria; - auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias; - obedecer à Lei do Escuta.

A promessa como um quadro-referência de valores

Prometo, Pela minha honra e com a graça de Deus, Fazer todo o possível por:

O Movimento Escutista contribui para a educação dos jovens propondo-lhes um projecto de vida assente em valores espirituais, sociais e pessoais a que devem aderir de forma livre. A Promessa deve ser, então, um momento de decisão pessoal, em que o escuteiro, sentindo-se preparado para viver os valores descobertos e propostos na Lei, assume o

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manualdodirigente compromisso de fazer todos os possíveis por os viver e aprofundar ao longo do seu crescimento. E assume-o com a consciência de que se está a responsabilizar (pela minha honra) e de que Deus o acompanha no seu esforço (e com a graça de Deus). Isto não significa que os escuteiros não possam faltar ao prometido (“fazer todo o possível por” implica esforço pessoal, mas não garante sucesso). Só quem não conhece a natureza humana poderá exigir ou esperar que não haja falhas. É aqui que o Dirigente assume um papel basilar: sempre que necessário, compete-lhe relembrar aos seus elementos, com o máximo de clareza, a Promessa e o que ela significa, para os ajudar a compreender a seriedade do compromisso que vão assumir. E caso verifique que os escuteiros não assumem com responsabilidade a preparação para esse compromisso (ou seja, logo à partida não fazem todos os possíveis por), não deve permitir facilitismos: o lenço não é dado, é conquistado por aquele que, de facto, compreende que está a assumir um compromisso e que trabalha para o poder fazer de forma consciente. Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria. Deus é presença constante na nossa vida, aparecendo de forma natural e espontânea. Ele partilha os nossos projectos, sonhos, inquietações e alegrias. Será possível o escuteiro assumir um compromisso tão importante se não exprimir a sua Fé e não convidar Deus a estar presente, fazer parte e a caminhar com ele? O compromisso do Escuteiro é com Ele, por Ele e diante Dele. Ao assumir este compromisso, o escuteiro inclui também nele o próximo, a família, os amigos e todos os que, com ele, fazem parte da Igreja de Deus: é nosso dever, enquanto membros desta Igreja, ser testemunhas de Deus e mostrá-Lo aos outros no nosso dia­-a-dia. “Ao cumprirmos os deveres para com Deus, sejamos-lhe sempre gratos. Sempre que apreciamos um prazer, ou um bom jogo, ou conseguimos fazer algum bem, demos-lhe graças, com uma ou duas palavras pelo menos, como fazemos às refeições.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº22)

A Promessa é também um compromisso para com o país. Por isso, o escuteiro deve cumprir os deveres de cidadania para com a sua pátria. Deve, assim, servir a terra em que vive, assumindo o compromisso de salvaguardar a Natureza, de fomentar a justiça, a paz, a solidariedade e de proteger e perpetuar as tradições históricas e culturais (idioma, tradições, músicas tradicionais, etc.) que fazem parte da identidade do país a que pertence. “Em tudo o que fizerdes, pensai na vossa Pátria. Não gasteis todo o vosso tempo e dinheiro apenas em vos divertirdes, mas pensai primeiro como podereis contribuir para o bem comum.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

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manualdodirigente Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias O escuta deve estar disponível para auxiliar o próximo, não importando as condições e as circunstâncias em que o faz. Assim, deve combater a indiferença e prestar atenção aos sinais de quem precisa de apoio e muitas vezes sofre em silêncio, por vergonha, medo ou para não gerar preocupações. O auxílio ao próximo não tem que passar por actos de elevado heroísmo: pequenos gestos podem causar imensa felicidade. Neste sentido, a boa-acção é um convite a agir e a converter o compromisso da Promessa em acções concretas. E a insistência na sua prática diária permite que cada escuteiro, de forma espontânea e gratuita, adquira capacidade de estar sempre preparado, de forma voluntária e sincera, para servir o próximo.

“Quando nos levantamos de manhã, lembremo-nos de que temos de fazer uma boa acção em benefício doutrem durante o dia. Façamos um nó no lenço para nos lembrarmos dela. Se alguma vez verificarmos que nos esquecemos de fazer a boa acção, façamos duas no dia seguinte. Lembremo-nos de que pela Promessa Escutista estamos «pela nossa honra» obrigados a proceder assim. Mas não suponhamos que os escuteiros não precisam de fazer senão uma boa acção por dia. Têm que fazer uma, se puderem fazer cinquenta, tanto melhor.” B.-P., Escutismo para Rapazes (Palestra de Bivaque nº2)

Obedecer à Lei do Escuta Prometer obedecer à Lei do Escuta não significa saber os artigos da Lei de cor, pela ordem correcta, ou cumpri-la como cumprimos de forma obrigatória qualquer outra Lei do Estado. O compromisso vai mais além: ao aceitar a Lei, o escuteiro está a assumir a responsabilidade de viver de acordo com os seus valores. Pretende-se que viva a Lei porque ela faz parte das suas convicções e por ela pauta a sua integridade. Ao aceitar viver a Lei, o escuteiro fá-lo de forma natural, sem fingimentos, com responsabilidade e durante a toda a sua vida. Decerto todos já ouvimos dizer: Escuteiro uma vez, escuteiro para sempre.

O Dirigente tem como tarefa: - Manter nos seus elementos o desejo de ser fiel ao seu compromisso, não permitindo que se esqueçam dele. - Sempre que possível deve relembrar aos seus escuteiros a sua Promessa, levando-os a reflectir sobre aquilo a que se comprometeram e a analisar o seu desempenho, crescimento e conduta individual.

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manualdodirigente Boa Prática: Uma das alturas propícias para a reflexão sobre a Promessa é o momento em que noviços ou aspirantes se preparam para ela. Ao incentivar os escuteiros mais velhos e investidos a acompanhar um noviço/aspirante na sua preparação para este compromisso e ao convidá-los a renovar a sua Promessa, o Dirigente está também a ajudá-los a crescer.

Eis, de forma resumida, os valores presentes na fórmula da Promessa:

Prometo…

COMPROMISSO PESSOAL

pela minha honra…

RESPONSABILIZAÇÃO PESSOAL

com a graça de Deus…

AFIRMAÇÃO DA FÉ

Cumprir os meus deveres

MISSÃO

para com Deus, a Igreja e a Pátria.

CIDADANIA

Auxiliar os meus semelhantes…

SOLIDARIEDADE, AMOR

Obedecer à Lei do Escuta

RESPONSABILIDADE

III. Oração do Escuta A Oração do Escuta foi criada a partir de um texto de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e foi adaptada ao escutismo católico pelo Padre Jacques Sevin, jesuíta francês, fundador da associação Scouts de France. É utilizada como a Oração do Escuteiro em várias associações escutistas de todo o mundo. A Oração do Escuta sintetiza dois aspectos essenciais da vida cristã, o Amor a Deus e o Amor ao próximo:

Senhor Jesus,

ensinai-me

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O escuteiro dirige-se directamente a Cristo, num diálogo fraterno e respeitoso, abrindo o coração para O escutar.

A prece que faz é um pedido de sabedoria. O escuteiro não pede uma acção directa de transformação fácil e automática, pede que lhe seja ensinado como proceder, ele próprio, a essa transformação.


manualdodirigente

a ser generoso

a servir-vos como Vós o mereceis

a dar-me sem medida

a combater sem cuidar das feridas

a trabalhar sem procurar descanso

a gastar-me sem esperar outra recompensa, senão saber que faço a Vossa vontade santa. Ámen

E segue-se a identificação das características dessa transformação: GENEROSIDADE - A generosidade é o dom daquele que dá para satisfação da necessidade do próximo, em detrimento da sua, e não porque lhe sobra.

SERVIÇO A DEUS – Esta forma de servir implica viver segundo os valores do Evangelho.

SERVIÇO AOS OUTROS – A missão, viver ao serviço dos outros, não quando apetece ou dá jeito, mas é uma opção de vida. PERSEVERANÇA – A perseverança é o dom daquele que não desanima nas contrariedades e nas dificuldades, conservando-se firme e continuando o seu projecto. ESFORÇO – O empenho é necessário a tudo o que se faz e só assim se pode ter bons resultados.

CAPACIDADE DE ENTREGA – A capacidade de entrega é o dom daquele que serve o outro, humilde, dedicada e confiadamente, sem medo do que possa vir. E FÉ – A Fé impele a ter uma relação pessoal com Deus e assim leva-nos a crescer na confiança de que o maior bem está no cumprimento da Sua vontade.

Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes. Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., A Caminho do Triunfo. Edições CNE. NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva. Edições CNE.

Maria Helena Andersen

SEVIN, Jacques, Evangelho do Escuteiro, Porto: Edições Salesianas, 2003.

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manualdodirigente C.1.2.1 A vivência na Expedição I. Viver a Lei No Escutismo para Rapazes, B.-P. diz-nos o seguinte sobre a Lei: “a lei do escuteiro contém as regras que se aplicam aos escuteiros de todo o mundo, e que tu prometes cumprir quando és admitido como escuteiro.” Mais à frente, diz B.-P. sobre a Promessa: “esta promessa é muito difícil de cumprir, mas é muito séria e o rapaz não será escuteiro se não fizer todo o possível por viver de harmonia com ela. Vês, portanto, que o escutismo não é apenas divertimento, mas exige muito de ti, e eu sei que posso confiar em que farás tudo quanto puderes para cumprires a promessa.” Com estas reflexões, B.-P. lembra-nos, por um lado, a seriedade e dificuldade em cumprir a Lei e por outro a confiança em que o escuteiro fará tudo o que puder para cumprir a Promessa. Com os exploradores deverá ser também essa a postura da Equipa de Animação: por um lado, apresentar a Lei tal qual ela é, sem facilitismos, e, por outro, ter (e demonstrar) sempre confiança em que o explorador se esforçará cada vez mais por cumprir a Lei.

Para que seja mais fácil incutir os valores da Lei nos exploradores, que devem conhecer e entender todos os seus artigos, há algumas boas práticas que se devem seguir: - A Lei deverá estar presente na Base (se possível no Canto de Patrulha), de forma a que esteja sempre visível. - Os valores da Lei devem ser incutidos sobretudo com actividades e jogos, criando situações que levem o explorador a vivenciar esses valores. De facto, o explorador aprende mais pela vivência ou experimentação do que por reflexões ou conselhos directos. Assim, aprenderá mais depressa a importância do cantil se ficar sem água num raide do que com uma palestra dada pelo chefe a propósito do cantil. Por essa razão, o mais pequeno dos jogos permite viver valores como a fraternidade (sendo um jogo de equipa), a obediência (às regras o jogo), a alegria (saber perder e saber ganhar), a lealdade (para com a sua equipa e os outros), etc. Outras actividades, como a participação numa boa-acção colectiva, permitirão viver outros valores. O mesmo acontece com a vida em Patrulha. - O dirigente não deverá perder a oportunidade de realçar, de forma positiva, a vivência da Lei. Assim, o dirigente terá mais sucesso se realçar as vezes em que um escuteiro cumpre a Lei do que se chamar a atenção sempre que este não a cumpre. Como dizia B.-P., “eu sei que posso confiar em que farás tudo para cumprires a promessa”. Cada escuteiro deverá sentir esta confiança dos seus dirigentes e não o medo de ser castigado caso não cumpra a Lei. - Outra forma de transmitir os valores da Lei aos nossos exploradores, e sem a qual nenhuma outra terá sucesso, é o nosso exemplo. O dirigente terá de ser sempre exemplo da Lei, não só quando está diante dos exploradores, mas em todos os momentos da sua vida, incluindo na relação com os outros adultos do Agrupamento. Assim, os exploradores terão de ver na equipa de animação a vivência dos valores que esta lhes apresenta na Lei do Escuta. De facto, como poderá funcionar uma Patrulha se a Equipa de Animação não se entende? Como irá reagir um Guia se o seu chefe não respeita os adultos com que trabalha? 70


manualdodirigente II. Viver a Promessa Na Expedição, o explorador fará a sua Promessa de Escuta que irá renovando nas secções seguintes. A Promessa do Escuta, que torna escuteiro o rapaz ou rapariga, é uma escolha reflectida que o explorador assume de forma pessoal, mesmo que a celebre juntamente com outros exploradores da Expedição. A Promessa será sempre indissociável da Lei do Escuta: cumpri-la é viver a Lei. Esta decisão é feita de forma livre, não se tornando, portanto, uma prisão. A Promessa de Escuta é um compromisso para a vida, como diz B.-P. na sua última mensagem “Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes – apegai-vos sempre à vossa promessa escutista – mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.” Para ajudar os exploradores a viverem a sua Promessa nada melhor do que o exemplo da sua Equipa de Animação que, tal como em relação à Lei do Escuta, deve ver as coisas sempre pelo lado positivo. De facto, a conduta alegre de quem cumpre a Promessa, porque assim o quer e não porque alguém nos obriga, é o melhor exemplo para um explorador.

Eis algumas boas práticas para ajudar os exploradores a viverem a Promessa de Escuta: - O aspirante ou noviço deve saber o que se espera de um escuteiro antes de fazer a sua Promessa. Assim, e ainda antes de decorar o cerimonial, deverá perceber o que ele significa. Para isso deve contar com a ajuda da Equipa de Animação. - A preparação da Promessa, assim como da Vigília, deverá ser feita de forma extremamente cuidada, para dar a perceber ao futuro escuteiro a importância do momento que irá viver. - As Promessas deverão ser momentos únicos, evitando repetições e rotinas. Neste sentido, os guiões a ser preparados para a cerimónia deverão ter a data e os nomes dos que fazem a sua Promessa, evitando cópias que passam de umas Promessas para outras. - É importante que a Promessa de novas escuteiros seja celebrada por toda a família escutista. No entanto, o momento mais importante é o momento da Promessa e não qualquer festa que se lhe possa associar.

III. Viver a Oração do Escuta Ao chegar à Expedição, um aspirante ou noviço depara-se com muitas coisas novas e uma delas é a Oração do Escuta. Não será, para os exploradores, a primeira oração que aprendem: aqueles que passaram pela Alcateia já aprenderam a Oração do Lobito e todos aprenderam várias orações em casa e na catequese. Tal como com todas as outras orações, não podemos falar da Oração do Escuta como mais uma oração para ser decorada, apesar de se pretender que os exploradores a aprendam e a memorizem. De facto, a Oração do Escuta deve ser vista como um pedido a Deus para que Este nos ajude a cumprir a nossa Promessa. Deve por isso ser rezada

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manualdodirigente ou cantada sempre que queremos ter presente a vivência da Lei e da Promessa do Escuta. E deve ser rezada com a calma necessária para que as palavras tenham sentido, podendo até, se as circunstâncias o aconselharem, explicar-se o sentido das expressões que juntas formam a oração. O que o dirigente não pode é deixar que a rotina se instale, fazendo com que se reze a Oração do Escuta de forma “papagueada”, como quem diz a tabuada.

Seguem-se algumas indicações para que a Oração do Escuta esteja sempre presente na vida da Expedição. - A Oração do Escuta deverá estar presente na Base, tal como a Lei, os Princípios e a Promessa de Escuta. Mais do que um elemento decorativo, deverá ser uma marca da nossa condição de escuteiros católicos. - Sempre que seja rezada em Expedição, a Oração do Escuta deverá ser rezada por todos os exploradores. Neste caso, o quadro presente na Base poderá ser uma ajuda. Como os exploradores nem sempre estão na Base, poderá ser entregue a cada explorador uma pagela com a oração. Assim, sempre que for necessário, todos a poderão rezar. E porque não desafiar cada explorador a fazer a sua própria pagela? - A Oração do Escuta não é exclusiva do Corpo Nacional de Escutas. Muitos outros escuteiros católicos por todo o mundo usam esta oração nas suas línguas. Descobrir a forma que a Oração do Escuta toma noutras línguas, para além de ajudar a descobrir a dimensão internacional do Escutismo, poderá ajudar a perceber o seu significado. - Se a Oração do Escuta for usada em alguma cerimonial, como a Vigília antes das Promessas, não nos devemos esquecer de incluir todo o seu texto no guião desse cerimonial.

Bibliografia: NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edição do CNE. PHILIPPS, Roland E., Cartas a um Guia de Patrulhas, Edição do CNE – Junta Regional de Braga.

Arquivo CNE

BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes, Edição do CNE.

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manualdodirigente C.1.2.2 A vivência na Comunidade I. Viver a Lei A Lei do Escuta é, para o pioneiro, a codificação – o contrato, poderia dizer-se – através da qual o jovem alcança a plenitude da sua adesão ao ideal de pioneiro que lhe é proposto e a que ele, voluntariamente, adere através da sua promessa e/ou investidura. Contudo, enquanto para um explorador este contrato é apresentado e é aceite de forma fechada – apesar de ele poder entender que pode ser mudado com o consentimento com o dirigente – o mesmo não se passa com o pioneiro.

“Lentamente (e especialmente na segunda metade da adolescência - por volta dos 15 anos) o jovem torna-se capaz de compreender o conceito de valores universais: justiça, reciprocidade, igualdade, dignidade. Um “direito” é definido de acordo com a adesão pessoal e consciente a princípios morais. Este é o estádio de acesso a um conceito 'adulto' da Lei.” In «Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais», do Departamento de Educação e Desenvolvimento, Bureau do Escutismo Mundial – Organização Mundial do Movimento Escutista

De facto, a Lei do Escuta, para o pioneiro, é muito mais do que um conjunto de obrigações que o “Ser escuteiro” implica. O pioneiro tem necessidade e deve ser estimulado a encontrar o alcance pleno do decálogo da Lei, dos Princípios e também, em consequência, da Promessa. Perceber a que valores (universais) cada artigo da Lei está associado acaba por ser, assim, não só uma boa prática, mas, acima de tudo, um elemento essencial da vivência da Lei na Comunidade. Neste sentido, o papel do dirigente é fundamental na promoção de uma descodificação aberta e de uma procura livre e participada da parte do jovem, para que a adesão aos valores seja consciente e plena. O animador adulto deverá, ainda, perceber que as directrizes seguintes são importantes e funcionam como um auxílio à sua acção com o jovem: a) A Lei e a Promessa são elementos essenciais do Método Escutista; b) Para um pioneiro, a Lei tem de ser compreendida para além do conjunto de obrigações às quais o jovem tem de se submeter; c) A Lei do Escuta tem uma formulação positiva e não proibitiva. Os artigos não determinam um “não faças”, mas um “O escuta é…” Este aspecto é muito importante e está patente na formulação essencial do escutismo desde a sua essência e fundação: “A Lei do Escuta foi elaborada mais para o guiar nas suas acções do que para lhe reprimir os defeitos” (in Auxiliar do Chefe Escuta, de B.-P.). d) Esta formulação positiva da Lei do Escuta deve ser entendida como o fundamento

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manualdodirigente de um modelo de educação baseado no amor e liberdade (e não no temor e repressão). Educar pela liberdade implica uma responsabilização intensa do jovem e que tem de ser por ele assumida como uma responsabilização pessoal (para consigo próprio e no seu desenvolvimento) e colectiva (do jovem perante os outros); e) A Lei do Escuta não deve ser entendida como uma codificação para um jovem ser escuteiro e enquanto é escuteiro, mas como um modelo de vida a que o jovem adere para o futuro. A Lei do Escuta só será realmente útil se a sua adesão se verificar no futuro, na idade adulta, e nas acções de quem, na sua formação, aderiu ao movimento escutista; f) Como em tudo no escutismo, a Lei deve ser “descoberta” através da vida em grupo, na Equipa e na Comunidade. Assim, ela tem de estar presente nas experiências diárias dos jovens e nas actividades escutistas que a equipa e a Comunidade vivenciam – no Empreendimento, portanto, e especialmente em momentos de avaliação; g) O exemplo dos mais velhos – escuteiros e dirigentes – na vivência da Lei do Escuta é, especialmente nesta “maravilha”, um aspecto muito importante; h) A Lei do Escuta é uma formulação universal e comum a toda a fraternidade escutista, independentemente da forma como, ao longo de um século, o movimento se adaptou a várias culturas e religiões diferentes. Este facto tem de ser visto como um factor de universalidade e dimensão global a que o pioneiro deve ser sensível.

Boas práticas: - A Lei do Escuta afixada no Canto da Equipa ou no Abrigo O Decálogo da Lei do Escuta e os Três Princípios devem estar afixados no Abrigo (ou mesmo no Canto da Equipa), em local de destaque. À medida que o trabalho de descoberta e descodificação da Lei seja feito pela Comunidade ou pela Equipa, este “quadro” pode ser incrementado – com a indicação dos valores associados a cada artigo, por exemplo. Descodificar a Lei do Escuta na reunião semanal: Ao longo de várias reuniões semanais – no âmbito da adesão à secção por parte de aspirantes e noviços, por exemplo – constitui uma boa prática a partilha de reflexões, em Comunidade ou em Equipa, sobre um artigo da Lei e os valores a ele associados. Assim, um pioneiro apresenta a sua explicação do que entende ser o objectivo do artigo da Lei e os outros partilham pontos de vista a esse respeito. Numa vivência mais profunda desta boa prática, o pioneiro pode mesmo propor-se a desenvolver acções concretas de vivência dos valores associados a um artigo escolhido. - Descobrir a Lei do Escuta na Fraternidade Escutista: Para uma tomada de consciência do carácter universal da Lei do Escuta, pode ser interessante que os pioneiros “coleccionem” a formulação da Lei desde os escritos originais do Fundador até aos dias de hoje e, na actualidade, reúnam articulados de várias associações mundiais, de escuteiros de outros países, conti74


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nentes, culturas ou religiões. Numa exploração comparativa, o pioneiro pode ser convidado a reflectir sobre formas diferentes de dizer, codificar e aceitar os mesmos valores por realidades diferentes. - Debater o alcance da Lei do Escuta: O pioneiro gosta de debater, de contraditar, de questionar. A Lei do Escuta pode constituir-se como um bom tema para a Comunidade debater. Note-se, contudo, que o debate deve ser bem preparado pelo moderador, para que possa ser uma boa oportunidade de crescimento e de descodificação da Lei do Escuta. - A Lei nos jogos, no Empreendimento e nas orações: Faz sentido que haja a preocupação de nunca esquecer a Lei, e os valores que ela procura inculcar, nas actividades, jogos, empreendimentos (na preparação, realização e avaliação) e orações (nos momentos de prece, acção de graças ou nas reflexões sobre o patrono e modelos de vida). - A vigília das promessas e a cerimónia de investidura como celebração da Lei: A vigília das promessas e a cerimónia de investidura são momentos em que a enunciação do articulado da Lei deve ser fomentado e servir de ponto de apoio e oportunidade para uma celebração da Lei e do ideal escutista, no seu modelo de vida, de sociedade e na educação pela Paz. Estes momentos celebrativos têm de ser preparados com cuidado, devendo-se fomentar a participação dos pioneiros na sua preparação. - Carta dos Deveres do Homem: A reflexão sobre a Carta dos Deveres do Homem (uma formulação do CNE em 2009 – no Ano para a Educação dos Direitos Fundamentais) pode constituir uma óptima oportunidade pedagógica para ajudar os pioneiros e a Comunidade a crescer a nível dos valores. - Textos de B.-P.: Há um conjunto vasto de texto do fundador sobre a Lei do Escuta e os objectivos que preconiza. Na publicação “O Rasto do Fundador”, por exemplo, há uma entrada sobre o assunto, que deve ser complementada com tudo o que é citado sobre valores associados à lei. - Conjunto de textos publicados na Flor-de-Lis: A revista Flor-de-Lis publicou entre Janeiro e Dezembro de 2003 dez textos muito interessantes sobre a visão actual e descodificação de cada um dos artigos da lei. - Texto “Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais” O texto “Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais” – ‘Relevance of the Scout Law and Promise to current educational needs’ – é um texto do departamento de Educação e Desenvolvimento do Bureau do Escutismo Mundial que está traduzido por Matilde Correia dos Santos e disponível em www.caleidoscópio.online.pt

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II. Viver a Promessa A Promessa deve ser entendida e apresentada ao Pioneiro como a proclamação solene do contrato de adesão e do quadro de valores pela qual se renova ou se torna escuteiro. Se o decálogo da Lei são as cláusulas desse compromisso, premissas que o pioneiro conhece, discute, interioriza, assume e vive, a Promessa é a assinatura, é o assumir publicamente: “Eu quero viver desta maneira!” É por ser algo muito importante que é fundamental que esta 'adesão', esta resposta ao Apelo que lhe foi feito quando entrou na Comunidade, seja feita de forma verdadeira, sem pressões ou condicionalismos de qualquer espécie. Assim, o compromisso é feito quando tem de ser feito, ao ritmo de cada pioneiro, que se deve comprometer de forma completamente livre e voluntária. De facto, tem de ser o pioneiro a reconhecer que quer fazer parte da Comunidade e assumir o compromisso de viver a Lei do Escuta perante a sua família e a sua Comunidade.

Boas práticas: - Descodificar a fórmula da Promessa Ao longo de várias reuniões semanais – no âmbito da adesão à secção por parte de aspirantes e noviços, por exemplo – pode constituir-se uma boa prática a partilha de reflexões, em Comunidade ou em Equipa, sobre a fórmula da Promessa. É importante que o pioneiro perceba, claramente, cada palavra que vai enunciar no dia da investidura: a “quem” promete, “o que promete” e de que forma o faz. 76


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- Afixar a fórmula da Promessa no Abrigo ou no Canto da Equipa A fórmula da Promessa deve estar afixada no Abrigo (ou mesmo no Canto da Equipa), em local de destaque. A criatividade dos pioneiros ajudará a ilustrar as principais ideias que resultam da descodificação que fizeram a propósito do que foi ou vai ser proclamado. - Debater o alcance da Promessa O que é, realmente, um escuteiro, o que distingue o escuteiro ideal do escuteiro real, o que muda com o compromisso solene e a investidura serão, certamente, bons pontos de partida para um debate e uma reflexão em Equipa ou em Comunidade, especialmente em momentos em que seja necessário mostrar que determinados comportamentos violaram o conteúdo da Promessa e põem em causa a sã convivência na Comunidade. - Ajudar a preparar a vigília das promessas e a cerimónia de investidura A Promessa é o ponto alto da vida de qualquer escuteiro. Envolver o futuro pioneiro na preparação dos momentos da vigília da Promessa e na cerimónia de investidura é uma boa prática que vai enriquecer o envolvimento do jovem. - Dinamizar a noite e a vigília das promessas A dinamização de actividades (mesmo que sejam para o futuro pioneiro levar e fazer em casa) na noite anterior ao dia da Promessa pode ser muito importante. De facto, a reflexão, solitária ou em Equipa/Comunidade, ajudará a interiorizar a real dimensão do que acontecerá no dia seguinte. Assim se aproxima a vigília da Velada d’Armas dos cavaleiros medievais, que está na génese da nossa Vigília antes das Promessas e que decorria durante toda a madrugada. - O momento da investidura Há um momento no cerimonial tradicional da investidura do pioneiro em que o Chefe pergunta a todos os pioneiros se aceitam na Comunidade os jovens que ali estão, à sua frente. A resposta a esta questão deve ser alvo de uma adesão e de um compromisso que os pioneiros já investidos devem compreender completamente. Constitui boa prática que a resposta vá para além do que está escrito no ‘livro dos cerimoniais’ e possa ser um texto que os pioneiros mais antigos recitam naquele momento, enriquecendo a cerimónia. Com os mesmos objectivos, faz sentido que, quando os aspirantes e noviços estão a recitar a fórmula da promessa, toda a Comunidade a proclame também, em voz alta, numa renovação colectiva e perpétua da Promessa de Escuteiro. - A renovação da Promessa Constitui uma boa prática que, no ponto alto do empreendimento mais importante do ano, ou num momento de particular importância e emotividade da vida da Comunidade, os pioneiros, em ambiente de oração e de acção de graças, renovem a sua Promessa, recitando a sua fórmula, em saudação à bandeira e/ou em ambiente de solenidade e celebração.

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manualdodirigente III. Viver a Oração Inspirada nos textos de Santo Inácio de Loyola, a Oração do Escuta é uma das mais belas peças da poética litúrgica que o património escutista católico encerra. Na sua versão cantada, ou simplesmente no texto poético que a compõe – e cuja reflexão se propõe acima –, é um fantástico ponto de partida para uma vivência enriquecedora do pioneiro na sua fé e na comunhão com a sua Comunidade. Neste âmbito, há vários documentos e ideias que podem ajudar os dirigentes da Equipa de Animação da Comunidade no trabalho preparatório para realização de acções no domínio da consciencialização dos pioneiros nesta matéria.

Boas práticas: - A Oração do Escuta afixada no Canto da Equipa ou no Abrigo Resulta numa boa prática que a Oração do Escuta esteja afixada no Abrigo (ou mesmo no Canto da Equipa), em local de destaque. A criatividade dos pioneiros colocada ao serviço da arte, na decoração de uma moldura ou mesmo na apresentação do texto da oração, pode ser uma óptima oportunidade pedagógica. - Rezar e entender a Oração do Escuta A Oração do Escuta – na versão cantada ou simplesmente rezada – deve ser usada com regularidade nos momentos de prece, de acção de graças e de reflexão e partilha da Comunidade. Ela própria deve ser, sempre que possível e que se entenda adequado, objecto de reflexão e descodificação, para uma melhor aceitação e adesão da parte do pioneiro. - Descobrir Santo Inácio de Loyola e o Padre Jacques Sevin A Oração do Escuta – na formulação do CNE – foi traduzida da formulação do Padre Jacques Sevin, jesuíta e fundador dos Scout de France que, por sua vez, a criou a partir de textos de Santo Inácio de Loyola – Fundador da Companhia de Jesus. Descobrir a origem da Oração, e a vida e obra de Santo Inácio de Loyola – e de toda a temática inaciana – e do Padre Jacques Sevin pode revelar-se uma boa prática e um interessante desafio para os pioneiros. - Descobrir a Oração do Escuta na Fraternidade Escutista Católica A Oração do Escuta tem formulação idêntica à de várias associações católicas de muitos países do mundo. Para uma tomada de consciência do carácter internacional da Oração do Escuta, pode ser interessante que os pioneiros “coleccionem” a formulação da oração usada por várias associações mundiais, de escuteiros de outros países. Numa exploração comparativa, o pioneiro pode ser convidado a reflectir sobre a forma como culturas distintas dizem, codificam e aceitam os mesmos valores. - A biografia do Santo Inácio de Loyola e Jacques Sevin Na internet há um vasto conjunto de trabalhos sobre esta temática, nomeadamente em sítios relacionados com a Companhia de Jesus. 78


manualdodirigente Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Auxiliar do Chefe Escuta, Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., Educação pelo Amor substitui Educação pelo Temor, Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., Escutismo para Rapazes, Edições CNE. Celebrações do CNE, Edições CNE. FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE. Flor de Lis – órgão oficial do CNE. Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edições CNE. O Rasto do Fundador, Edições CNE. SANTOS, Matilde Correia (trad.), Importância da Lei e da Promessa Escutistas para as necessidades educacionais actuais, Bureau do Escutismo Mundial, in www.caleidoscópio.online.pt.

Arquivo CNE

SCOUTES DE FRANCE, Baden-Powell Hoje, Edições CNE.

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manualdodirigente C.1.2.3 A vivência no Clã I. Viver a Lei e a Promessa A Promessa e a Lei Escutista são exigentes. Mas é dever do escuteiro “fazer todo o possível” para as cumprir. Não apenas quando dá jeito, quando é fácil, ou quando se está de lenço ao pescoço… mas sempre! Durante o seu percurso no escutismo, o jovem é muitas vezes solicitado para saber a Lei, para cumprir a Lei, etc. Quando chega à IV secção essa insistência na Lei muitas vezes desaparece. Isto acontece porque já são mais velhos e pensa-se que já a devem saber de “cor e salteado”, porque se acha que já não é necessário andar sempre a relembrar a Lei aos caminheiros, ou por qualquer outro motivo… Contudo, a verdade é que também o caminheiro diz na sua Promessa que vai obedecer à Lei do Escuta. É conveniente, então, que seja relembrado de várias formas do que prometeu e que consiga perceber cada artigo da lei à luz da sua idade, maturidade e vida, dentro e fora do escutismo.

Não é despropositado que a Lei do Escuta esteja afixada no Albergue. No entanto, se calhar, o poster com os dez artigos da Lei ao fim de algum tempo torna-se hábito e deixa-se de reparar nele. Porque não fazer uma coisa mais dinâmica? Ex 1 - Proposta para a Avaliação da Caminhada Fazer o exercício de reflectir onde esteve presente cada artigo da Lei na Caminhada realizada. Se todos os artigos estiverem presentes, o Clã está de parabéns. Se não, há sempre hipóteses de melhorar na Caminhada seguinte. Ex 2 – Proposta para o Albergue Afixar a Lei no Albergue e, por baixo de cada artigo, escrever o que o Clã faz para o cumprir. Ex: ‘“O Escuta é delicado e respeitador”, por isso o nosso Clã preocupa-se em conhecer todos os elementos do Agrupamento, tratá-los com dignidade e ajudá-los nas suas dificuldades.’ (esta dinâmica também pode ser individual) Ex 3 – Carta de Clã Pegando um pouco no exemplo anterior, ou fazendo de uma outra forma qualquer, procurar ter presente a Lei do Escuta quando se elabora a Carta de Clã.

Para além do cumprimento da lei, no seu compromisso o caminheiro prometeu estar sempre ao serviço. E é isso que se espera dele. De facto, para o caminheiro, cumprir a sua Promessa é, acima de tudo, estar ao Serviço.

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A Promessa de Escuteiro é difícil de cumprir para todos, desde os mais novos aos mais velhos, não excluindo os dirigentes. Contudo, todos têm que se esforçar por a cumprir


manualdodirigente e procurar ser exemplo a seguir. A este nível, a Equipa de Animação deve ser um pilar forte e coeso e deve lembrar-se que, como nos disse B-P, “o exemplo não é uma forma de educar, é a única”. Assim sendo, os dirigentes têm mais este incentivo para cumprir da sua Promessa, pois não podem exigir aos escuteiros aquilo que eles próprios não são capazes de dar. Note-se que não é eficaz que a Equipa de Animação recorra à Lei e à Promessa apenas quando pretende relembrar aos caminheiros os seus deveres. Deve, sim, relembrá-la principalmente quando se pretende elogiar aqueles que se esforçam por a cumprir. Convém também ter em conta que as actividades escutistas são, por excelência, o local onde os caminheiros podem experimentar os valores da Lei e o que prometeram no seu compromisso. Mas as actividades dos caminheiros não devem ser pensadas como um casulo, “uma cena de escuteiros”, mas sim, e sempre, como exemplo para a vida, como aprendizagem, como oportunidade, para os jovens crescerem e serem, na sua vida, no seu dia a dia, aquilo que B-P um dia sonhou para eles: Cidadão conscientes e de vistas largas!

Reparemos na seguinte situação, que já aconteceu várias vezes, em que se cai no facilitismo, tornando a mensagem pouco eficaz: Os caminheiros estão no Albergue e, em vez de irem arrumar as tendas que trouxeram do último acampamento, preparam-se para sair. O dirigente chega e diz: “O dever do Escuta começa em casa, ou já se esqueceram? Ninguém sai daqui antes de deixar isto tudo melhor do que encontraram!” Muito mais eficaz é usar o reforço positivo: Os caminheiros incluíram na sua Caminhada um projecto de limpeza das matas do concelho. O dirigente diz: “Gostei muito que, para além de mostrarem disponibilidade para o serviço e consciência cívica, se tenham lembrado que o Escuta protege as plantas e os animais.”

Para um jovem nesta idade, muitas são as solicitações e muitas coisas estão agora a revelar-se interessantes. O papel da Equipa de Animação pode parecer ingrato, nesta luta desleal, mas na realidade não é. De facto, não há nada mais gratificante para uma Equipa de Animação do que ver os frutos do seu trabalho representados na vida equilibrada e baseada em valores positivos daqueles que os seguem.

II. Viver a Oração do Escuta Tal como a Promessa e a Lei, também a Oração do Escuta se reveste de uma exigência e de uma beleza muitas vezes esquecidas na IV secção.

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manualdodirigente Passado que está o tempo de a aprender, como acontece nos exploradores, e de achar que 'não tem nada a ver', como pode acontecer nos pioneiros, a maturidade dos caminheiros já permite que a assumam na sua vida, tal como os artigos da Lei e os Princípios. De facto, não basta saber a oração e rezá-la de forma automática, sem olhar para o sentido do que se diz. Uma oração é para ser rezada de forma consciente e pressupõe que a pessoa que a reza esteja a sentir o que está a dizer. Assim sendo, ao rezar a Oração do Escuta, o caminheiro deve ser levado a assumir-se como adulto na fé, olhando Jesus Cristo não como um estranho, mas sim como um ideal, o Homem-Novo… Por isso o trata por “Senhor Jesus”… Para além disto, o que o caminheiro faz é pedir a Jesus que o ensine e ajude a cumprir a sua promessa de estar sempre ao Serviço. Assim, e porque está consciente de que não caminha sozinho e de que terá sempre que ser suficientemente humilde para aprender o que os outros (e a vida) têm para lhe ensinar, o caminheiro pede “ensinai-me”. Os caminheiros, ao logo do seu caminho de crescimento, também na fé, aperceber-seão de que o Serviço é entrega incondicional, é dar-se na totalidade. E, porque quem se entrega plenamente sabe que receberá muito mais do que o que deu, devem ter também a noção de que a maior recompensa é, simplesmente, saber que “ faço a Vossa vontade Santa”… Isso basta! Não menos importante, e presença obrigatória no Albergue, é a Oração do caminheiro.

Oração do Caminheiro Senhor Jesus, Que Vos apresentastes aos homens como um caminho vivo, Irradiando claridade que vem do alto: Dignai-Vos ser O meu guia e companheiro Nos caminhos da vida, Como um dia O fostes no caminho de Emaús; Iluminai-me com o Vosso Espírito, A fim de saber descobrir O caminho do Vosso melhor serviço; E que, alimentado com a Eucaristia, Verdadeiro Pão de todos os Caminheiros, Apesar das fadigas e das contradições da jornada Eu possa caminhar alegremente convosco Em direcção ao Pai e aos irmãos Ámen. 82


manualdodirigente Esta Oração do caminheiro encerra em si muita da mística e simbologia da IV secção. Assim, fala de um “Caminho Vivo” – Jesus Cristo, o Homem-Novo –, que se revela no Caminho de Emaús (ver explicação na secção da mística); do Pão que alimenta, tanto o dia-a-dia como na Eucaristia; de Caminho e de Serviço; das fadigas que se apagam nas alegrias do caminho; e da descoberta e do fogo (a claridade, o Espírito). Um caminheiro que queira viver a sua vida em pleno é de certeza espelho de felicidade. Por isso, esta oração deve sempre acompanhá-lo, na medida em que é uma oração de revelação, em que o caminheiro pede, para as suas obras, a companhia de Cristo, assumindo que o caminho é vazio quando caminhamos sem Ele. Perante isto, a Oração do caminheiro não pode passar indiferente na vida da secção. De facto, ao desenvolver a sua identidade enquanto caminheiro, no seio da Tribo, do Clã, do Agrupamento, do Movimento, não será difícil para o caminheiro fazer suas estas palavras. Contudo, ao longo da sua caminhada no Clã, o caminheiro só a vai compreendendo e dando sentido se a rezar conscientemente. De facto, e como já foi dito, uma oração não é uma “lengalenga” e não deve ser dita só porque sim. Deve ser rezada e sentida! Neste âmbito, a Equipa de Animação tem um papel fundamental, já que lhe compete motivar para a vivência destas duas orações e procurar aprofundar o seu sentido. De facto, se os dirigentes não compreenderem o seu significado, dificilmente conseguirão que os seus elementos o façam. Por outro lado, a Equipa de Animação deve ajudar a enquadrar estas orações na vida do Clã e de cada caminheiro, dinamizando-as, com a ajuda de caminheiros mais velhos, de modo a que elas façam parte da vivência na secção e não se tornem mais um poster na parede do Albergue.

Boas práticas: - Ter a Oração do Escuta e a Oração do Caminheiro impressa num local bem visível do Albergue. - Começar ou terminar as reuniões de Tribo com uma destas Orações. - Convidar alguém que desmonte a “Oração do Caminheiro” e que proporcione um espaço criativo de debate. - Em Tribo ou em Clã, ir escolhendo uma frase de uma das orações e aprofundá-las ao longo de uma reunião ou de uma actividade. - Pedir aos Caminheiros que encontrem poesias ou músicas, mesmo do seu dia-a-dia, que lhes façam lembrar a Oração do Escuta ou a Oração do Caminheiro e que criem com elas um momento de oração (para uma actividade, reunião, Conselho de Agrupamento, etc.).

Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Auxiliar do Chefe Escuta, Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., A Caminho do Triunfo, Edições CNE. Celebrações do CNE, Edições CNE. FORESTIER, M. D., Pela Educação à Liberdade, Edições CNE. Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. NORMAND, Jean-Pierre, A Lei do Escuta – uma fonte viva, Edições CNE. O Rasto do Fundador, Edições CNE.

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Gonçalo Vieira

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C.2

Mística e Simbologia

C.2.0 'Mística' e 'Imaginário' do Programa Educativo A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell a partir da sua experiência como condutor de homens e da meditação sobre a educação dos jovens. Tudo começou no momento em que assumiu como missão dar um sentido à vida de tantos rapazes que mergulhavam numa existência desequilibrada de vícios e delitos. O Movimento escutista possui, assim, na sua génese, uma intenção educativa e a sua finalidade é clara:

«O fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a próxima geração seja dotada de bom senso num mundo insensato, e que desenvolva a mais elevada concretização do Serviço, que é o serviço activo do Amor e do Dever para com Deus e o próximo».

(No Rasto do Fundador, 80)

Assim se sintetiza o Espírito escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às gerações mais novas. Para o conseguir, Baden-Powell cria um movimento baseado no Jogo, onde abundam histórias, ambientes, pessoas/heróis, símbolos. Numa palavra: cria um Imaginário.

Entende-se por Imaginário: Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios. Envolve uma história com heróis e símbolos. Induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de determinados valores, na medida em que fomenta a identificação com os heróis e a atribuição de importância e significado aos símbolos da história.

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manualdodirigente Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica, de jogo. Busca também educar. E esta intenção educativa faz despontar a Mística, que constitui a expressão do ideal espiritual a transmitir, sendo como que a alma do jogo, aquilo que lhe dá sentido. Para Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e um dos objectivos do Movimento consiste em ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-se por cumprir a Sua vontade.

«NO MOVIMENTO não há qualquer 'lado religioso', nem a religião 'entra' em lado algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE AO ESCUTISMO.» No Rasto do Fundador, 153

Neste sentido, e porque o CNE procura educar dentro dos valores da Igreja Católica, são estes que dão forma à Mística que se procura desenvolver em cada secção.

Em sentido estrito, entende-se por Mística: Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.

O Escutismo propõe ainda um vasto enquadramento simbólico que visa exprimir o ideal presente na Mística e no Imaginário de cada secção, com vista à sua mais profunda vivência. Falamos a este nível, da simbologia escutista.

Por simbologia, entendemos: Conjunto de elementos/objectos representativos de realidades, características ou atitudes que materializam o ideal proposto por cada secção e, por isso, nos unem e aproximam desse ideal. No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm um ou mais símbolos, que podem estar integrados num conjunto de símbolos complementares.

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Com o intuito de estimular para a vivência da Mística e do Imaginário, o Projecto Educativo do CNE apresenta ainda a figura de Patronos.


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Entende-se por Patrono: Santo ou Beato da Igreja que, no decurso da sua vida, encarnou na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da Mística e do Imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhido como intercessor e exemplo de vida para os elementos dessa mesma secção.

Santa Maria Mãe dos Escutas

São Jorge

São Nuno de Santa Maria

São Francisco de Assis

São Tiago Maior

São Pedro

São Paulo

São patronos: Santa Maria, Mãe dos escutas; São Jorge, patrono mundial do Movimento escutista; São Nuno de Santa Maria, patrono do CNE; e também São Francisco de Assis, patrono dos lobitos; São Tiago Maior, patrono dos exploradores/moços; São Pedro, patrono dos pioneiros/marinheiros; e São Paulo, patrono dos caminheiros/companheiros. Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes figuras históricas cuja vida também pode ser encarada como um exemplo. São, por isso, referências a ter igualmente em conta, embora de forma distinta: os modelos de vida são escolhidos para exprimir a diversidade de carismas e, também, para atender à especificidade de cada local, com as suas tradições religiosas; as grandes figuras históricas são apresentadas no sentido de estimular o desenvolvimento dos talentos de cada um, mas sem se apresentar aqui o todo da vida da pessoa.

Entende­-se por Modelo de Vida: Figura da Igreja Católica que, à semelhança do Patrono, também encarna os valores e ideais da Mística e do Imaginário da secção a que está ligada e que exprime a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver. Entende­-se por Grande Figura: Personalidade que, na sua vida, realizou grandes feitos, associados ao Imaginário da secção, que marcaram a História da Humanidade.

A Mística do Programa Educativo do CNE A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se (nenhuma vale por si mesma), na medida em que estão interligadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na

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manualdodirigente lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro: O louvor ao Criador: o lobito louva Deus­ Criador, descobrindo-O no que o rodeia; A descoberta da Terra Prometida: o explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida; A Igreja em construção: o pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo; A vida no Homem Novo: o caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser. Com o percurso sugerido, procura-se que o escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimensões, uma sobrenatural (a realidade que nos transcende) e uma natural (a realidade onde se vive), e que ambas se relacionam intimamente. Sendo Cristo – nas palavras de H.Urs von Balthasar – “o abraço de Deus à humanidade”, Ele representa a única possibilidade de o Homem entrar em comunhão com Deus, isto é, de o natural se tornar sobrenatural. Só Cristo é o Caminho para chegar ao Pai. Por isso, em síntese, todo o percurso proposto na Mística do CNE visa conduzir à comunhão mais perfeita com o Senhor Jesus. Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro e fonte de irradiação de sentido.

JESUS CRISTO

O louvor ao Criador

O Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia.

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A descoberta da Terra Prometida

A Igreja em construção

A Vida no Homem Novo

O Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida.

O Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo.

O Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.


manualdodirigente O Imaginário do Programa Educativo do CNE O Imaginário do Programa Educativo do CNE assume duas vertentes. Uma, mais simples, relaciona-se com a utilização de histórias criadas/adaptadas com cariz educativo nos diversos projectos de cada secção (sempre que há uma Caçada, Aventura, Empreendimento ou Caminhada pode existir um imaginário específico para esse projecto).

Numa outra vertente, mais complexa, o Imaginário é, tal como a Mística, uma proposta específica para cada secção e procura-se, através dele, transmitir valores específicos, visando a formação humana dos elementos. Em cada secção, à excepção da Quarta, este Imaginário “formal” deve ser trabalhado, sem prejuízo dos imaginários “informais” de cada projecto específico. Assim:

na 1ª Secção, o Imaginário está associado à 'História da Selva' criada por Rudyard Kipling, mais especificamente à vida de Máugli, o Menino-Lobo, na Alcateia de Seiouni.

na 2ª Secção, o Imaginário está ligado à figura do explorador que parte à aventura da descoberta de novos mundos.

na 3ª Secção, o Imaginário está associado, de forma muito concreta, à construção de novos mundos (depois de descobertas novas realidades, na 2ª secção, é altura agora de construir comunidade, pondo mãos à obra no sentido de desenvolver a capacidade de viver com e para os outros). Assume-se, assim, que, se o explorador é aquele que descobre novas terras, o pioneiro é o que constrói novas comunidades.

à 4ª Secção não é associado nenhum Imaginário específico, na medida em que se entende que aos jovens adultos é mais útil a observação do mundo real. De facto, nesta fase, importa preparar homens e mulheres para que, desenvolvendo um conhecimento consciente de si mesmos e da realidade envolvente, possam envolver-se de forma activa e eficaz na contínua renovação do mundo, participando nela como cidadãos conscientes e responsáveis.

Em conclusão, e relacionando Mística e Imaginário das Secções, poderíamos dizer que os lobitos, através da história de Máugli, são levados a contemplar o mundo que os rodeia, aprendendo a louvar o Criador com S. Francisco de Assis. Após esta contemplação, os exploradores são convidados a encontrar novos mundos e 'partem', com o exemplo do Povo de Deus e de S. Tiago, à descoberta da Terra Prometida. Depois destas descobertas, e já pioneiros que se dedicam a construir novas comunidades, são chamados a ajudar na construção da Igreja, seguindo o exemplo de S. Pedro. Por fim, este auxílio acaba por se converter, no Caminheirismo, na assunção de uma vida de Serviço aos outros, alicerçada na Fé em Deus.

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manualdodirigente C.2.1 Mística e simbologia na Alcateia I. Mística dos lobitos: «O louvor ao Criador». Vimos já (capítulo A.1) que a capacidade de abstracção própria de uma criança com a idade de lobito não lhe permite compreender a realidade existencial de Deus, tanto quanto é possível ao Homem compreender. Por esta razão, aos olhos dos lobitos, Deus é representado, frequentemente através de alguns traços concretos (é, por norma, um homem grande e poderoso, com barbas brancas). Mais próxima e mais concreta é a imagem de Jesus, bastante mais fácil de compreender, dado o conhecimento que o Novo Testamento oferece de alguns aspectos da sua dimensão humana. No entanto, particularmente no âmbito da mística da Alcateia, não se devem excluir as menções a Deus (Uno e Trino) como o Criador do mundo em que vivemos e de tudo o que dispomos e é bonito.

Perante isto, a ligação da criança ao mundo espiritual faz-se essencialmente de duas formas: através da descoberta de Deus na vida concreta do dia-a-dia, ou seja, nos seres, nos objectos, nos acontecimentos, na Natureza, na beleza do que o Homem constrói e, acima de tudo, no próprio Homem; através do conhecimento da figura de Jesus, nomeadamente da Sua infância e da Sua relação de amor com os mais pequeninos.

Assim sendo, ao ver a beleza da Natureza (mares, rios, montanhas, vales, plantas, animais, etc.) e, sobretudo, a beleza do próprio ser humano, o lobito começa a descobrir Deus como Pai. Este, Criador de tudo quanto existe, ama muito todos os seus filhos e quer que todos sejam felizes. Para que isso aconteça, enviou ao mundo o seu próprio Filho: Jesus, que começou por ser o «Menino Jesus». A Ele o lobito reza a sua oração e começa a oferecer o coração, pedindo para que o encha de virtudes e ensine a imitá-Lo. Quando o lobito descobre as maravilhas da Natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebendo que Este o ama, aprende a louvar o Criador.

Neste processo, assume papel preponderante a figura do patrono da primeira secção, São Francisco de Assis. Profundamente apaixonado por Cristo, São Francisco de Assis aprendeu a situar a sua vida no plano do Amor de Deus pela Humanidade, descobrindo que tudo é dom de Deus: toda a Criação fala de Deus e as mais pequenas coisas podem ser caminho para Ele;

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as nossas atitudes podem revelar a presença de Deus: «é dando que se recebe» e é «morrendo que se ressuscita para a vida eterna».


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São Francisco De Assis Assis é uma pequena cidade que fica situada no norte de Itália. Foi nesta cidade que nasceu Francisco, pelo ano de 1181. Seu pai era comerciante de tecidos e queria que o filho se dedicasse ao mesmo ofício, mas Francisco preferia divertirse e desfrutar do mundo. Foi uma criança alegre, tinha muitos amigos, era de trato amável, de profunda religiosidade e pureza. Já jovem, ouviu a voz de Deus no seu coração, sentiu que Ele o chamava e convidava a um jogo maior, que duraria toda a sua vida: procurar restaurar a Igreja de Jesus, que tinha muitos problemas. Francisco aceitou o convite, decidiu oferecer todas as suas coisas e ser pobre, colocando toda a sua esperança em Deus a quem chamou “Pai-nosso que estais nos céus”.

São Francisco de Assis

Agora ele é conhecido pelo seu amor à Natureza e aos homens, e pela simplicidade e humildade com que amava e ajudava a todos. Tinha uma maneira especial de comunicar com os animais e era muito querido por todas as crianças. Tinha sempre mensagens de paz e um sorriso para todos os que o rodeavam. Francisco foi o primeiro a fazer um presépio ao vivo, numa pequena povoação chamada Grécio, o que deu origem à tradição, que ainda hoje se mantém, dos nossos presépios. Aos 45 anos ficou muito doente e morreu na tarde do dia 3 de Outubro de 1226, em Assis. Antes de morrer deixou esta mensagem: “Permanecei firmes no amor de Deus e n'Ele perseverai até ao fim. Bem-aventurados os que perseverarem na obra começada!”. Todos os anos, no dia 4 de Outubro, o mundo inteiro celebra a entrada de São Francisco no céu.

Francisco de Assis, um modelo para os Lobitos Ao longo da sua vida e em cada uma das suas aventuras, Francisco de Assis procurou ser sempre melhor. Ao recordar ou ao ler as suas histórias à Alcateia, poderemos mostrar como ele conhecia e cuidava do seu corpo, porque sabia que era Criação de Deus; tratava de solucionar os seus problemas, pois sentia a alegria de viver e queria construir um mundo melhor. Era alegre e dizia sempre a verdade, para cumprir as tarefas diárias com os seus amigos; sabia escutar e dizia o que sentia, para ser mais feliz e conversar facilmente com o Pai do céu; era muito amigo e ajudava sempre os outros, porque em cada pessoa encontrava o seu próximo e a Cristo; aprendeu a conhecer a Deus e a amá-I’O como o seu grande amigo. São Francisco foi uma criança igual a todos os Lobitos: inquieto e travesso, umas vezes portava-se bem mas outras vezes menos bem, mas foi sempre um bom amigo, a ponto de ser amigo até daqueles que não conhecia, dos pobres e dos doentes. Quando ouviu a voz de Jesus que o chamava para uma tarefa difícil, teve dúvidas. Custou-lhe muito, mas por fim ganhou coragem e, atrevendo-se,

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entregou toda a sua vida a Jesus, o seu melhor amigo. Viveu segundo aquilo em que acreditava. Ele compreendeu a integração do homem na Natureza, e ao mesmo tempo que cuidava de plantas e animais fez-se amigo de todos os homens. Isto fez de São Francisco um ser acolhedor para com todos e cheio de uma alegria que contagiava todos os outros. A simplicidade ajudou-o a aproximar-se mais e a amar toda a gente, porque entendeu que o mais importante não é o que se tem, mas sim o que se partilha. Para ajudar a sua comunidade foi um homem muito activo, pedindo sempre a Deus mais energia para que a sua oração se reflectisse em cada uma das suas acções. Se algo distinguiu Francisco, acima de tudo, foi o seu desejo de dialogar muito com Deus, na simplicidade e alegria, tal como era a sua vida, e fazer sempre a Sua vontade para ser sempre melhor. Fr. Albertino Rodrigues, OFM

Para que os lobitos aprendam com São Francisco de Assis a louvar o Criador é preciso que: sejam capazes de ver em Deus Pai a origem de tudo o que existe; sejam capazes de se deixar encantar pela beleza da obra Criada (Natureza e Homem); vejam no «Menino Jesus» o maior dom de Deus à Humanidade e aprendam a viver como Ele e para Ele.

Como modelos de vida, os lobitos podem ainda seguir o exemplo de Santa Clara de Assis, que seguiu as pisadas de São Francisco na humildade e devoção a Deus, e dos Beatos Francisco e Jacinta, meninos que assumiram plenamente a total confiança e amor a Deus. A animação da vivência cristã deve surgir com naturalidade, fazendo parte de toda a vida da Alcateia e não de acções isoladas. Aliás esta inserção vai permitir que o lobito compreenda que o verdadeiro sentido do catolicismo é o de ser vivido no dia-a-dia, na Alcateia, na escola e, em casa, e vai também possibilitar ao dirigente, aproveitando as características dessas idades, a transmissão deste verdadeiro sentido em Cristo através da sua forma de estar na sociedade.

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Boas práticas: O desenvolvimento da Mística deve fazer-se nas diversas actividades, enriquecendo-as com valores e exemplos a seguir. Eis algumas sugestões: - orações de louvor criadas pelos lobitos. Estas orações podem ter temas específicos (louvor à chuva, ao calor, às árvores, etc.), de forma a exercitar a sua capacidade de contemplação da Natureza e a compreensão de que ela é dom de Deus;


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- cânticos adequados à infância que louvem os dons de Deus; - utilização da mística; - decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário da Alcateia; - exploração de episódios da vida de Jesus e dos Beatos Francisco e Jacinta que permitam a reflexão e adesão a atitudes e valores; - exploração de alguns episódios da vida de São Francisco, Santa Clara e outros franciscanos, normalmente denominados ‘Florinhas de São Francisco’ (a história do Lobo de Gúbio é uma dessas Florinhas). Todos os conceitos e formas de estar deverão ser apresentados aos lobitos inseridos nestas pequenas histórias: qualquer tentativa de conversar de forma mais abstracta tende a não dar quaisquer frutos.

Bibliografia: Florinhas de S. Francisco ­http://www.procasp.org.br/subcapitulo.php?cSubcap=58 Francisco, O Cavaleiro de Assis ­www.arquidiocese.org.br; www.diskshop.com.br PIHAN, Jean, S. Francisco de Assis, Editorial Franciscana, 1985. GUITON, Gerard, Descobrir S. Francisco, Editorial Franciscana VELOSO, Tiago M. P., Francisco de Assis, Homem da Natureza. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2009. In http://www.passionista.org/livros/ecologia.pdf VÁRIOS, Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2002. http://www.servitasdefatima.org/Pages/Pastorinhos.aspx

II. Imaginário e simbologia dos lobitos: «A vida de Máugli (Livro da Selva)» A nível de símbolos, na Alcateia destaca-se a Cabeça de Lobo, que encima o Mastro

O Totem da Alcateia deve ocupar um lugar de destaque no Covil e guardá-lo ou transportá-lo (como prémio de um concurso de Bandos, por exemplo) deve ser uma honra para o Bando. De igual forma, as bandeirolas, que também são marcadas pela Cabeça de Lobo, devem ser valorizadas e muito bem cuidadas pelos lobitos, já que são a primeira 'marca' do Bando a que pertencem. Totem da Alcateia, como símbolo máximo do grupo e de cada lobito. Este símbolo é de especial importância, já que o imaginário da Primeira Secção gira todo à volta da história de Máugli, nos dois volumes de “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling ('O Livro da Selva' e 'O Segundo Livro da Selva'). Nesta obra, Kipling faz, através dos animais da Selva, uma descrição rigorosa da sociedade. O tema da selva não é importante por si próprio: o que nele conta é o significado que

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manualdodirigente lhe dão os lobitos. É um imaginário em que se cria uma atmosfera na qual os objectivos do lobitismo são mais facilmente transmitidos. Isto porque, na infância, a apreensão e abstracção que a criança faz da realidade é ainda reduzida e por isso o recurso à fantasia ajuda em muito a transmitir os valores que se pretende transmitir. Assim, quando o lobito é confrontado com o símbolo da selva, sente esse símbolo não como uma ficção, mas como um elemento que para ele tem valor de verdade e se reveste de um significado. É por esta razão que, ao ouvir histórias, a criança se identifica com o herói e vive os sonhos desse mesmo herói: ao conhecer a história de Máugli, o 'Menino-Lobo', o 'Cachorro de Homem', a 'Rãzinha', o lobito sente-se também um Máugli, ora corajoso ora frágil, sábio ou ignorante. E através das atitudes reveladas pelo Menino-Lobo, começa a tomar resoluções, desenvolver valores, ultrapassar etapas e aprender a ajudar os outros.

Exemplo: Diz-nos a história da Selva que o Cachorro de Homem desobedeceu às ordens de Bálu e se juntou aos Bândarlougues, o que gerou grande confusão (A Caçada de Cá). Máugli acaba por se arrepender do seu comportamento e aprende que deve ouvir os bichos da Selva. Sempre que existir um lobito desobediente, o Àquêlá deve relembrar esta história. É mais fácil modificar o comportamento de um lobito usando o exemplo de Máugli (que para ele é um herói real) do que chamá-lo para uma conversa ‘adulta’ em que se enumeram as razões por que ele se deve portar bem. O Àquêlá deve também incutir a ideia de que é uma grande vergonha ter comportamentos próprios de Bândarlougue. Como encaram a história da Selva como se fosse real, os lobitos detestam ser apelidados de Bândarlougue.

Neste contexto, as diversas figuras que surgem no Livro da Selva revestem-se de especial importância. De facto, a História da Selva não é mais do que a descrição da sociedade humana: os animais simbolizam os defeitos e qualidades dos homens e representam o contraste entre povos com estilos de vida ou formas de agir muito diferentes. E para uma criança é bem mais fácil compreender a sociedade em que vive através de uma história. Através dela, ela confronta-se com o Bem e o Mal e compreende mais facilmente as situações construtivas e não construtivas com que nos defrontamos continuamente na vida e por quais devemos optar.

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Neste sentido, a Alcateia de Seiouni é uma sociedade reconhecida na Jangal pela sua capacidade de organização. Os lobos constituem o Povo Livre: aquele que, porque cumpre as leis instituídas, não ultrapassa os seus direitos nem prejudica ninguém. Nesta sociedade, o pequeno Máugli aprende a ser livre por meio da solidariedade para com a Alcateia e através do respeito à lei. De início, é acolhido pelos seus pais (Pai Lobo e Racxa) e irmão lobito (Irmão Cinzento), que representam todos aqueles que são capazes de amar incondicionalmente os outros, sem preocupações sobre raças. Para além disto, é também protegido pelo Chefe da Alcateia (Àquêlá), que simboliza a liderança serena e equilibrada, que não se atemoriza perante ameaças ou dúvidas. A sabedoria e a bondade dos velhos lobos ensinam-no a distinguir os exemplos que deve imitar e a ter


manualdodirigente cuidado para não assumir atitudes que, na fábula, se atribuem à estupidez dos macacos ou à maldade de Xer Cane. De facto, em contraposição com esta sociedade organizada, cumpridora e solidária, surgem os macacos – os Bândarlougues –, o Povo sem Lei: sem ordem, sem solidariedade, sem metas claras para alcançar e sem constância para chegar a elas, não se pode ser livre, nem puro, nem bom. Ser Bândarlougue é, assim, espalhar boatos, fazer barulho, sujar tudo, destruir, sem nunca pisar em terra firme, sem assumir uma responsabilidade ou comprometer-se com qualquer projecto. Outros animais gravitam em torno destas duas sociedades, representando também o Bem e o Mal. Xer Cane, o tigre, simboliza a maldade pura: ele representa aqueles seres que se regem pela crueldade, cobiça, vaidade e frieza. Acompanha-o no Mal Tábàqui, o chacal lisonjeiro e cobarde, que ganha a vida a inventar histórias sobre os outros: simboliza a hipocrisia e a tendência para o mexerico. Os amigos e protectores de Máugli simbolizam, por sua vez, o Bem. Destacam-se, como mais importantes: Bàguirà, a pantera esperta e ágil, é a caçadora que ensina Máugli a reconhecer os melhores caminhos para a caça. É símbolo de todos aqueles que, pela sua experiência de vida (muitas vezes dolorosa) nos ensinam a reflectir sobre os caminhos a seguir. Balu, o urso, ensina as Leis da Selva e as vozes dos animais: simboliza o conhecimento, a ponderação, a tranquilidade e a benevolência que normalmente os sábios possuem. Cá, o pitão, de carácter inicialmente dúbio e esquivo, mas que se torna leal amigo de Máugli e com ele ajuda a proteger a Jangal, representa todos aqueles que, apesar de aparentarem não ser de confiança, acabam por se revelar leais e amigos. Hati, o elefante, é o guardião das memórias e dos valores. Simboliza, assim, todos os que se preocupam em conservar as histórias passadas para retirar delas ensinamentos para o futuro, ajudando o grupo a reger-se por valores. Há outros nomes e outros símbolos associados à história de Máugli que também podem ser explorados nas características que assumem na história. É o caso, por exemplo, de Mangue (o morcego que espalha as notícias pela Selva), Tchil (o milhafre que vigia o território), Rama (o chefe dos búfalos), Fao (o lobo que substitui Àquêlá na chefia da Alcateia), etc. Como já vimos, a vivência em Alcateia obriga à evocação constante dos acontecimentos da Jangal dando origem a uma série de nomes e símbolos com os quais os lobitos convi-

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manualdodirigente vem constantemente. É o caso, entre outras, das palavras lobito, Alcateia, Covil, Grande Uivo, Rocha do Conselho, Rocha da Paz, Caçada, Bando, Mastro de Honra (ou Totem), Círculo do Conselho, Danças da Selva, Dentada (conhecimentos adquiridos pelos lobitos que contribuem para a concretização do sistema de progresso ou insígnias de competência – usa-se a expressão: “O lobito deu uma dentada nas pistas”, por exemplo), Flor Vermelha (nome dado ao Fogo de Conselho dos lobitos), etc.. Esses nomes e símbolos que têm origem da história do Povo Livre são reforçados por outros que se originaram na tradição do Movimento escutista, tais como o uniforme, o caderno de caça, o livro de ouro, o Conselho de Guias, o Conselho de Alcateia, o Conselho de Honra, a divisa, a Equipa de Animação, o patrono, a bandeirola, e o Guia da Alcateia, por exemplo. Também a cor amarela do lenço funciona como um símbolo na Alcateia: para além da alegria, a cor do sol dourado relembra Jesus, amigo de todos os lobitos, que ilumina o caminho de cada um e ajuda a crescer. O amarelo, assim, relembra ao lobito que deve ser alegre e procurar imitar o exemplo de Jesus em cada momento da sua vida.

Bibliografia: B.-P., Manual do Lobito, Edições CNE. KIPLING, R., O Livro da Selva. Lisboa: Livros do Brasil, 2007. KIPLING, R., O Segundo Livro da Selva. Lisboa: Livros do Brasil, 2007. BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva, Edições CNE. Alaiii, Edições CNE.

III. Cerimoniais A mística e o imaginário da Alcateia, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão concreta nos diversos cerimoniais que a 'Família Feliz' desenvolve.

Exemplos de cerimoniais próprios para lobitos: Grande Uivo, Círculo de Parada, danças da Selva, abertura e bênção da Flor Vermelha (Fogo de Conselho), Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura de cargos, entrega de insígnias, etc. Todos devem utilizar a linguagem e simbologia da Alcateia.

Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:

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Desenrolar-se em ambiente escutista, estando presentes conteúdos relacionados com ele, como a Lei e as Máximas, exemplos, cânticos adequados, imagens


manualdodirigente relacionadas com a mística e imaginário, etc.. Neste sentido, deve-se zelar pela presença de símbolos e linguagem adequados à Alcateia. Isto permite que haja um ambiente propício a que a mensagem seja de facto absorvida, na medida em que os conteúdos possuem uma carga formativa. Sempre que possível, devese utilizar a Natureza para realizar os cerimoniais, já que o ar livre é o espaço privilegiado para as actividades escutistas). Ter dignidade e demonstrar respeito pelos valores escutistas: a título de exemplo, são de evitar cerimoniais de passagem de secção que se convertam em verdadeiros atentados à Lei do Lobito ou do Escuta, por implicarem faltas de higiene, perigos para a saúde ou perda de dignidade dos elementos. Ser preparados com antecedência e correctamente, a nível da sua duração (há que ter em conta a idade dos lobitos) materiais e ensaios, para que haja uma integração adequada na vivência das secção e na idade dos lobitos. Promover a participação directa e activa dos lobitos, na medida em que isto permite que todos se sintam envolvidos, motivados e integrados na Alcateia. No entanto, este envolvimento deve implicar sempre alguma flexibilidade, na medida em que é possível que algumas crianças tenham mais dificuldade em estar à vontade para participar. Sofrer modificações periódicas (com novos materiais, outras canções, etc.) e criativas, para que não se tornem desactualizado e desadequado. Note-se que, embora as tradições reforcem a coesão do grupo, caso não haja, de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos e da forma como os conteúdos são explorados, os lobitos podem começar a desmotivar-se, por ser sempre tudo igual.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais dos Bandos (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro) possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o dirigente auxilie os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao lema do Bando e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

Bibliografia: B.-P., Manual do Lobito, Edições CNE. Alaiii, Edições CNE. Cerimoniais do CNE, Edições CNE.

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manualdodirigente C.2.2 Mística e simbologia na Expedição I. Mística dos exploradores e moços: «A descoberta da Terra Prometida». Com a adolescência, chega o período da vida em que os heróis e as aventuras seduzem e são fonte de motivação. Nesta altura, e porque a abstracção o permite, o adolescente começa a compreender a grandeza de Deus. Neste momento, é, então, convidado a aceitar a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida. Sabemos que, ao longo da história de Israel, Deus concluiu várias vezes uma aliança com o Seu povo, mas só Jesus Cristo vem estabelecer a “Nova e eterna Aliança”. O explorador ainda não entende, naturalmente, todo o alcance desta Aliança em Cristo, mas sente-se motivado a fazer caminho de descoberta. Por isso, começa por acolher o desafio que Deus lhe coloca e, tal como o Povo Hebreu fez ao caminhar pelo deserto, aceita partir em busca do cumprimento das promessas de Deus, isto é da Terra Prometida onde “mana leite e mel”. Deste modo, aprende, que, no estabelecimento da Aliança com o Seu Povo, Deus oferece a garantia da Sua protecção paternal e aponta-lhe o caminho da Terra Prometida. Essa aliança é renovada em Jesus Cristo que Se torna, entre outras coisas, o exemplo a seguir pelo explorador, dada a sua tendência a seguir heróis que se batem por causas justas. Nas parábolas e nos milagres e em toda a vida de Jesus Cristo o explorador descobre que Deus também quer fazer a Sua aliança com ele. Assim, nesta etapa da sua vida, o explorador/moço descobre cada vez mais que Deus está presente. Aceita o desafio de se pôr a caminho, acolhendo a aliança com Deus, tal como o Povo do Antigo Testamento: é altura de novos caminhos, de novas formas de viver e de se dar aos outros que só Deus pode ajudar a encontrar. Pelo caminho (ou seja, ao longo da sua passagem pela secção), Deus revela-se, aumentando a sua fé, coragem e audácia. Jesus é o seu maior e mais completo exemplo de vida.

O Patrono: São Tiago Maior O exemplo do patrono da 2ª secção, São Tiago (Maior), pode servir de estímulo a todos a quantos têm a coragem de se pôr a caminho, para partilhar com outros a descoberta que já fizeram. Chamado por Cristo, São Tiago viu concretizadas as promessas de Deus ao seu Povo, ao testemunhar o poder da Ressurreição de Cristo. A partir daí, fortalecido pelo Espírito Santo, São Tiago assumiu a fé de forma destemida e aceitou testemunhá-la até às últimas consequências (Act. 12,1-2). Sendo originário da Galileia, São Tiago terá aceitado o desafio de partilhar com outros povos o tesouro da fé: segundo a tradição, teria vindo até à Península Ibérica, para evangelizar, tendo desenvolvido actividade sobretudo na Galiza e na zona hoje correspondente a Aragão.

São Tiago Maior

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Assim, São Tiago foi um autêntico explorador, na medida em que aceitou pôr-se a caminho, guiado pela «estrela» da fé que o animava e fortalecido pelo desejo insaciável de a dar a conhecer. Mesmo sem saber que dificuldades iria encontrar, São Tiago partiu com o intuito de apontar, também aos outros, o caminho para a «Terra Prometida»: o caminho para Deus.

Outros exemplos Os exploradores podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíblicas e santos que serão também para eles modelos de vida: Abraão, Moisés, David, Santo António, Santa Isabel de Portugal.

Abraão Abraão foi o primeiro patriarca do povo hebreu. Tendo recebido indicação de Deus, deixou a sua cidade e dirigiu-se com a sua família para Canaã. Sendo já velho, e não tendo um filho primogénito, Sara, sua esposa, concebeu por graça de Deus e nasceu Isaac. Quando Isaac era ainda criança, Deus chamou Abraão e pediu que ele levasse o seu filho ao alto do monte Moriah. A meio do caminho, Deus pediu a Abraão que sacrificasse Isaac para mostrar o seu amor por Ele. Abraão não se recusou em pegar num punhal, colocando-o sobre o seu filho. Deus então mandou um anjo para segurar o punho de Abraão, dizendo estar satisfeito com a sua obediência. Em recompensa, Deus prometeu a Abraão que a sua descendência seria tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar.

Moisés Figura proeminente do Antigo Testamento, Moisés foi salvo das águas pela filha do Faraó, sendo educado na corte. Após matar um feitor egípcio, foi obrigado a exilar-se. Depois de encontrar Deus na sarça ardente, regressou do exílio para libertar o seu povo da escravidão do Egipto e conduziu-o até às portas de Canaã, a terra prometida por Deus a Abraão. Durante a longa jornada, atravessou o Mar Vermelho e subiu ao Monte Sinai, onde recebeu as tábuas com os Mandamentos da Lei de Deus. Guiou o seu povo durante 40 anos, atravessando o deserto, e morreu depois de contemplar a Terra Prometida.

David Tocou lira para acalmar o rei Saul, primeiro rei de Israel. Quando o exército filisteu enfrentou os israelitas, um gigante chamado Golias desafiou o exército israelita a enviar um homem para enfrentá-lo. Os israelitas tiveram medo de Golias, mas

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David decidiu enfrentá-lo e fê-lo munido apenas de uma funda e algumas pedras. Logo no início do combate, David acertou com uma pedra na cabeça do gigante, derrubando-o. Teve, então, de fugir para o deserto, por inveja do rei Saul. Com a morte do rei, governou a tribo de Judá, tendo-se tornado o fundador de um estado unificado e independente, que englobava todo o Israel. Apesar desse estado ter subsistido pouco tempo, ficou para sempre na memória dos israelitas como um tempo ideal.

Santo António Fernando Bulhões nasceu em Lisboa a 15 de Agosto de 1195. Em 1210, tornouse noviço da Ordem dos Agostinhos. Em 1220, motivado pelo desejo de ser missionário, trocou o hábito de agostinho pelo de frade franciscano, tendo adoptado o nome de Frei António. Em 1221, embarcou em missão com destino ao Norte de África, mas voltou a Portugal gravemente doente. Na viagem de regresso, uma forte tempestade empurrou a embarcação que o transportava para a Sicília. No ano seguinte, conheceu São Francisco, em Assis, tendo-se tornado pregador da ordem Franciscana. Partiu depois para o sul de França, onde ensinou Teologia em Montpellier e em Toulouse e pregou em Puy e em Limoges. Após a morte de São Francisco de Assis, regressou a Itália. Em 1231, dirigiu-se a Pádua para acabar os seus dias, mas faleceu no caminho, em Arcella, a 13 de Junho. Foi canonizado a 30 de Maio de 1232 pelo Papa Gregório IX. A sua festa litúrgica celebra-se a 13 de Junho.

Santa Isabel de Portugal Santa Isabel, filha dos reis de Aragão, nasceu no ano de 1271. Era ainda muito jovem quando foi dada em casamento ao rei D. Dinis. Dedicou-se de modo singular à oração e às obras de misericórdia, tendo criado um hospital, uma casa de refúgio para mulheres e um orfanato. Procurou ser sempre instrumento de concórdia entre todos e revelou uma exemplar perseverança e capacidade de sofrimento num casamento que não a fez feliz. Depois da morte de seu marido, distribuiu os seus bens pelos pobres e tomou o hábito da Ordem Terceira de São Francisco, dedicando-se ao serviço de Deus e de todos os que dela precisaram. Morreu em Estremoz, no ano 1336, quando mediava o acordo de paz entre seu filho e seu genro. A sua festa litúrgica celebra-se a 4 de Julho, data da sua morte.

O desenvolvimento da Mística pode fazer-se com recurso à utilização, em diversas actividades, de temas relacionados com a Mística da secção, possibilitando o enriquecimento das mesmas com valores e exemplos a seguir.

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Boas Práticas: - exploração de histórias do Antigo Testamento ligadas à procura e descoberta da Terra Prometida; - exploração de histórias ligadas à vida de Jesus Cristo que permitam a reflexão/interiorização de atitudes e valores relacionados com as dificuldades que a descoberta de novos caminhos acarreta (incompreensão, defesa da Verdade, procura do que está certo, etc.); - exploração da mensagem contida nas parábolas e milagres de Jesus Cristo; - decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário da Expedição - orações e cânticos criados pelos exploradores/moços. Estas orações podem apelar à reflexão sobre a fé, a coragem para defender os seus próprios valores, a vontade de conhecer melhor Deus.

Bibliografia: Bíblia Sagrada. Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE. Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

II. Imaginário dos exploradores e moços: «O explorador» O imaginário da segunda secção gira à volta do Explorador, aquele que parte à aventura da descoberta de novos mundos, que vai mais longe, mais além, aquele que descobre. Logo no início do “Escutismo para Rapazes”, na Palestra de Bivaque nº1, B.-P. descreve­-nos essa personagem do explorador em tempo de paz. Ao longo de todo o livro são muitas as histórias e exemplos que B.-P. conta destes “verdadeiros homens em toda a acepção da palavra”. O explorador aprendeu a viver na natureza, a amá-la e respeitá-la. É um homem capaz de cuidar de si próprio e de ajudar os outros. Adapta-se ao meio ambiente em que vive e tira dele o maior proveito. Os exploradores são mestres na exploração – a arte de explorar. Como nos diz B.-P., é uma arte fácil de aprender, concluindo: “A melhor maneira de aprender é entrar para os escuteiros”. Para ajudar a viver este Imaginário, os exploradores podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de grandes exploradores como Fernão de Magalhães (1ª Circum-navegação da Terra), Ernest Shackleton (explorador da Antártida), Neil Armstrong (1º homem na Lua), Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1ª travessia aérea do Atlântico Sul), Jacques Cousteau (oceanógrafo), Dian Fossey (zoóloga, ficou célebre o seu trabalho com os gorilas-da-montanha), Infante D. Henrique (o Navegador), Rosie Stancer (exploradora do Ártico e da Antártida), etc.

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manualdodirigente Simbologia dos exploradores/moços Para ajudar os exploradores a viver a Mística e o Imaginário, a 2ª secção terá como símbolos a Flor-de-Lis, a Vara, o Chapéu, o Cantil e a Estrela.

A FLOR-DE-LIS – de nome científico Sprekelia formosissima, é o símbolo do escutismo de que o explorador é a imagem mais facilmente reconhecida (até pela tradução da palavra inglesa scout, por exemplo). Nas três folhas da florde-lis reconhecemos os três princípios do escutismo e os três compromissos assumidos na fórmula da promessa escutista. A flor-de-lis é, também, símbolo de rumo, indicando o norte nas cartas topográficas e de marear. É portanto um auxiliar básico de alguém que pretende descobrir o mundo. O Norte que a Flor de Lis representa é, acima de tudo, o próprio Cristo, pois só Ele dá sentido à nossa vida A VARA – é um símbolo que evoca a vara de Moisés, no Antigo Testamento, sinal usado por Deus para manifestar o seu poder. De facto, a vara de Moisés transformou-se em serpente, para que os egípcios acreditassem, permitiu a Moisés abrir caminho através do mar, fez com que brotasse água do rochedo, etc. Para além disto, é facilmente associada ao imaginário do escuteiro dos primeiros anos da fundação e, por outro lado, à simbologia de São Tiago Maior, o peregrino. A Vara do escuteiro tem um conjunto alargado de utilidades, de onde se destaca o auxílio: à caminhada, à progressão da marcha, na navegação, no ultrapassar de obstáculos, em relação aos perigos e às adversidades. Simboliza assim a solidariedade, o progresso e a vontade de se pôr a caminho e partir à aventura. O CHAPÉU – é símbolo da protecção. Em primeira análise, o “Chapéu” do cristão, ou a sua protecção é, antes de tudo, a própria Fé. Em termos físicos, permite o abrigo do sol, do frio, da chuva, etc. É ainda associado à imagem que temos do próprio B.-P., que se preocupou em arranjar um chapéu para os

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manualdodirigente escuteiros. Também São Tiago é reconhecido pelo chapéu que caracteriza o traje do peregrino, especialmente no contexto dos caminhos de Santiago de Compostela. O CANTIL – é, na sua vertente de depósito, símbolo da responsabilidade – andar sem água não é inteligente. Mas é também símbolo de coerência, de estar preparado, como pedia B.-P. Numa Patrulha, gerir a água durante uma actividade é tarefa muito importante que implica a consciência de que podem surgir imprevistos para os quais temos que estar preparados. Está associado também à sede de conhecimento, à sede de descoberta e de acção, característica do explorador. Por fim, representa também a água viva que é Cristo, oferecida a quem dela quiser beber. Essa Água sacia verdadeiramente para a vida eterna. A cabaça, associada à imagem de São Tiago Maior é, também, ou acima de tudo, um cantil. A ESTRELA – é símbolo da orientação. A Estrela Polar e o Cruzeiro do Sul são referências de orientação, especialmente de noite, quando é mais difícil encontrar e seguir um rumo. Todos os grandes exploradores recorreram a elas para concretizar os seus sonhos. São pilares na imensidão do céu, sinal da grandeza de Deus, que nos transmitem a segurança da fé e a certeza do sucesso. Foi uma estrela que, segundo a lenda, permitiu encontrar o túmulo do Apóstolo São Tiago e é lá, no Campo da Estrela (Campus stellae – Compostela), que permanecem os seus restos mortais. A vieira, símbolo jacobeu, é, também, de certa forma, uma estrela. Além disso, do ponto de vista bíblico, a estrela evoca ainda a Aliança de Deus com Abraão, em que lhe promete uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu, imagem do Povo que Deus escolheu para Si, do qual também nós somos parte.

Cor verde Não sendo formalmente um símbolo, a cor verde é um sinal identificativo da 2ª secção, sendo-lhe atribuído um significado especial. Tal como é referido na imposição do lenço na Promessa de explorador, o verde é símbolo da Natureza e da esperança que todos colocam no explorador. A Natureza é o espaço privilegiado em que o explorador vive as suas aventuras. Quanto à esperança posta no explorador, já B.-P. escrevia na Palestra de Bivaque nº 3 do Escutismo para Rapazes a propósito da Promessa: “…eu sei que posso confiar em que farás tudo quanto puderes para cumprires a promessa.”

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manualdodirigente Linguagem simbólica nos exploradores Para além de todos os símbolos já descritos, existem termos e nomenclaturas que adquirem, na Expedição, uma dimensão e significado específicos. São termos que estão intimamente ligados à secção e que a seguir se descrevem:

Explorador– adolescente que faz parte da 2ª secção do CNE. Tal como explicado acima, é aquele que parte à descoberta de novos mundos. Expedição– Conjunto de exploradores que se agrupam para partirem em viagem à descoberta de algo: da selva, do mar, das regiões polares, da montanha… A pertença a este grupo desperta a vontade de estar em movimento, de partir em aventura.1 Aventura– Actividade de descoberta que deve ser planeada pela Expedição, sendo depois realizada e avaliada em conjunto. Patrulha– Um pequeno grupo de exploradores, dentro de uma Expedição, com tarefas próprias a desempenhar para o sucesso da Aventura. Base– Local de onde partem os exploradores quando saem. Serve de apoio, de porto de abrigo, de ponto de partida e chegada das aventuras.

A nível dos marítimos, a nomenclatura está também adaptada à secção:

Moço– adolescente que faz parte da 2ª secção do CNE. Tal como explicado acima, é aquele que parte à descoberta de novos mundos, usando o mar como instrumento privilegiado de aprendizagem. Flotilha– Conjunto de moços que formam um grupo unido que desenvolve as suas aventuras no mar, descobrindo os seus segredos. Expedição– Viagem de descoberta e exploração que deve ser planeada e avaliada pela Flotilha (ver nota 1). Tripulação– Um pequeno grupo de moços, dentro da Flotilha, com tarefas próprias a desempenhar na embarcação para o sucesso da Expedição. Base– Local de onde partem os moços quando saem. Serve de apoio, de porto de abrigo, de ponto de partida e chegada das expedições. 1

Note-se que, aqui, Expedição tem o sentido de 'grupo de pessoas que se deslocam a um lugar para descobrir algo', sentido este

que é distinto de Expedição como 'viagem de descoberta empreendida por um grupo' – sentido com que Expedição é utilizada no escutismo marítimo. Ambos os significados existem no dicionário e compete aos dirigentes explicar aos seus elementos que a riqueza e diversidade da Língua Portuguesa nos permite utilizar uma palavra com vários sentidos.

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Boas práticas: - Ter presentes os símbolos na Base e usá-los para distinguir o que diz respeito à secção dentro do Agrupamento. - Durante o “Apelo” (adesão formal aos exploradores), cada futuro explorador deve arranjar a sua vara pessoal. Esta deverá tornar-se uma “obra de arte” ao longo da vivência na Expedição. No canto de Patrulha construir um local apropriado para serem guardadas as varas pessoais de todos os elementos da Patrulha. - Ter na sede um canteiro com a flor-de-lis. - Descobrir as diferentes formas da Flor-de-Lis das Associações Escutistas espalhadas pelo Mundo. O resultado poderá dar um belo quadro para o canto de Patrulha. Poderá ser feito o mesmo usando representações de mapas antigos onde figurem a rosa-dos-ventos e a flor-de-lis. - Em raid, usar o cantil e o chapéu. - Na sede e em acampamento, promover comportamentos que permitam gerir a água de forma mais responsável. - Descobrir nos Evangelhos o sentido de “água viva”. - No acampamento, à noite, contemplar o céu estrelado, identificar várias constelações e usar o texto bíblico com a referência às estrelas do céu e à descendência de Abraão (Gn. 22, 1-18). - Descobrir e representar passagens bíblicas ligadas à descoberta da Terra Prometida onde estão presentes símbolos dos exploradores. Eis alguns exemplos: a vara de Aarão transformada em serpente diante do faraó; a vara de Aarão a florescer; as estrelas do céu e a descendência de Abraão; o toque da vara de Moisés no rochedo, fazendo brotar água; David e a bilha (cantil) do rei Saul; o aparecimento das estrelas no quarto dia da Criação; a estrela que guia os magos vindos do Oriente;…

Bibliografia: Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

III. Cerimoniais Existem diversos cerimoniais escutistas que são veículo da mística e imaginário próprios de cada secção: servem-se dos símbolos das secções e de linguagem tipicamente escutista para marcarem e darem sentido a momentos marcantes da secção ou agrupamento.

Exemplos de cerimoniais escutistas vividos por exploradores: Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura de cargos, Totemização, entrega de insígnias, etc. Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos das secções e linguagem tipicamente escutista. 106


manualdodirigente A intenção pedagógica deste tipo de momentos deverá ser valorizada. Assim, pretendese que os cerimoniais sejam: Vividos num ambiente “místico”, que facilite a interiorização da mensagem que se pretende passar. Os conteúdos escutistas (Lei, patrono, etc.) deverão estar incluídos e a sua inserção no cerimonial deverá ser feita de forma cativante: com cânticos, imagens escutistas, etc. Realizados num local que permita um envolvimento adequado de todos os participantes. A Natureza deverá ser sempre espaço privilegiado para os cerimoniais (tal como o é para todas actividade escutistas) Dignos e que respeitem os valores escutistas. A postura dos elementos, a segurança ou a higiene não deverão pôr em causa o cumprimento da Lei do Escuta. Adequados à secção em termos de linguagem, duração e conteúdos. Participados. Os escuteiros deverão sentir-se integrados e parte do Cerimonial, ajudando ou intervindo nos momentos adequados. A intenção de tornar os Cerimoniais participados implica alguma flexibilidade para que os elementos se sintam realmente à vontade para intervir. Preparados atempadamente e com a atenção devida. Surpresa! Não implica que os Cerimoniais mudem radicalmente a cada vez que se realizam: é bom manter algumas tradições pois reforçam a coesão do grupo. Mas convém não ceder às repetições que se podem tornar desmotivantes e antiquadas. A revisão das dinâmicas e textos, dos símbolos, imagens e valores explorados pode permitir modificar o que está desactualizado ou incoerente.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais das Patrulhas (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro) possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o dirigente auxilie os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao totem e ao lema da Patrulha e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

Bibliografia: Cerimoniais do CNE, Edições CNE.

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manualdodirigente C.2.3 Mística e simbologia na Comunidade I. Mística dos pioneiros: «A Igreja em construção» Depois da chegada à Terra Prometida, é Cristo quem estabelece a Nova e Eterna Aliança e o início de um tempo novo para o Povo de Deus. Cristo, com palavras e obras, inaugura na terra o Reino de Deus e institui a Sua Igreja para ser portadora desta novidade. Pedra viva do Templo do Senhor, o pioneiro é chamado a assumir o seu lugar na construção dessa Igreja – de acordo com o pedido e sugerido por Cristo –, colocando os seus talentos ao serviço da Comunidade e assumindo a tarefa de ser construtor de comunhão e de sociedade. Tal tarefa não é fácil: numa idade em que a dúvida se instala, o desafio é ajudar a que o pioneiro/marinheiro seja capaz de ultrapassar as suas perplexidades, compreenda a grandeza do amor de Deus e se assuma como cristão convicto e actuante. Para facilitar a plena vivência da fé, o patrono da Terceira secção é São Pedro.

São Pedro Apóstolo escolhido por Cristo para presidir à Igreja nascente, São Pedro (Galileia, século I a.C. – Roma, 67 d.C.) é tão importante quanto humilde. Foi Deus quem quis tornar forte o que antes era fraco e, apesar das limitações e debilidades humanas deste Apóstolo, quis com ele empreender a obra grandiosa de construção da Igreja de Cristo. Nesse sentido, São Pedro é pioneiro de um tempo novo, o tempo da vida «com Cristo», o tempo das primeiras comunidades que partilharam os ensinamentos do Filho de Deus. São Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja se começou a erguer e, nesse sentido, foi sobretudo construtor de comunidade. Em seu redor surgiram outros que, atraídos pelo seu testemunho de vida descobriram a presença do Senhor Ressuscitado na Igreja, Seu Corpo. Com São Pedro, os pioneiros descobrem o sentido comunitário da vida e sentemse motivados a pôr a render os seus talentos, em vista do bem comum, com o sentido último de ajudar a construir na terra o Reino dos Céus. Tem festa litúrgica a 29 de Junho, juntamente com São Paulo.

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Os pioneiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras da Igreja que serão também para eles modelos de vida: São João de Brito, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Catarina de Sena.

São Pedro


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São João de Brito São João de Brito foi um missionário jesuíta português, nascido em Lisboa, em 1 de Março de 1647. Realizou missões na China, no Tibete e na Índia, onde foi assassinado e martirizado, em 4 de Fevereiro de 1693, em Urgur. Tornou-se um missionário muito popular e foi muitas vezes chamado de “o Francisco Xavier Português”. Em 22 de Junho de 1947, foi canonizado pelo Papa Pio XII. Tem festa litúrgica a 4 de Fevereiro.

Santa Teresinha do Menino Jesus Teresa de Lisieux nasceu em Alençon, em França, em 2 de Janeiro de 1873. Foi uma religiosa carmelita descalça francesa e Doutora da Igreja. Faleceu em Lisieux, em 30 de Setembro de 1897, com vinte e quatro anos apenas. O livro que lhe deu maior notoriedade foi “História de uma Alma” e é conhecida como Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face ou, popularmente, Santa Teresinha. Tem festa litúrgica a 1 de Outubro.

Santa Catarina de Sena Catarina nasceu em Siena, em Itália, em 25 de Março de 1347, tornou-se religiosa na Ordem Terceira de São Domingos e morreu em 29 de Abril de 1380. Foi uma personalidade muito influente no Grande Cisma da Igreja Católica do Ocidente – relacionado com o problema da sede da Igreja ser em Roma ou em Avinhão. Em 1970, o Papa Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja. O Papa João Paulo II declarou--a co-padroeira da Europa.

Para desenvolver a mística da secção, os dirigentes da Equipa de Animação da Comunidade devem zelar para que, na realização das actividades, ela esteja presente. Neste sentido, há vários documentos e ideias que os podem ajudar neste domínio.

Boas práticas: A presença das referências no Abrigo: Ter no Abrigo uma imagem de São Pedro – por que não uma peça moldada ou esculpida pelos próprios pioneiros? – é importante para que a comunidade tenha presente o simbolismo do seu patrono e o seu legado. O facto de serem os pioneiros a fazer a figura do patrono ajuda, ainda, a uma melhor compreensão hagiológica dos sinais que caracterizam a representação do santo. Faz sentido, também, nalgum local comum do abrigo haver espaço para a afixação de uma imagem ou de um símbolo que represente os modelos de vida que enquadram a mística do pioneiro. 109


manualdodirigente Conhecer a vida e a acção dos primeiros cristãos: A compreensão dos primeiros passos da Cristandade é, também, uma boa prática acessível a todos os pioneiros. Conhecer as “declarações de Cristo” sobre o que havia a fazer depois da sua partida e do que para si era o modelo de um tempo novo. Conhecer as viagens e as adversidades dos apóstolos a quem foi destinada a tarefa de espalhar a Boa-Nova – como São Tiago ou São Tomé, por exemplo –, a acção de São Paulo e de São Pedro logo após a Ascensão de Jesus. A vida quotidiana e as proibições do culto dos primeiros cristãos, a vida das primeiras comunidades cristãs, as perseguições, as prisões e os martírios infligidos aos fiéis, etc. A informação decorrente desta pesquisa pode ser usada no empreendimento, pode ser divulgada através de cartazes, de um filme, ou de qualquer outro suporte. A vida de São Pedro: Em momentos de partilha, ou pelo menos no empreendimento, pode revelar-se enriquecedor associar a vida de São Pedro e os momentos históricos retratados nos evangelhos aos momentos específicos e característicos da vida do pioneiro, pessoalmente, em Equipa ou em Comunidade. Assim, as dúvidas iniciais de Simão Pedro quando Cristo lhe pede que “se faça ao largo”, o seu desprendimento quase imediato depois da pesca milagrosa, a humildade, mas também a necessidade de reconhecimento de Pedro na Última Ceia, a narrativa das três negações de Pedro são apenas alguns dos aspectos nos quais o pioneiro vai encontrar paralelismo e reconhecimento e que podem ajudar a interiorizar o testemunho do patrono. Vários documentos: Os evangelhos: Os quatro evangelhos do Novo Testamento podem ser uma extraordinária ferramenta para aprofundar e desenvolver a Mística dos pioneiros, nomeadamente explorando as histórias relacionadas com São Pedro ou com Jesus ligadas à construção do Reino de Deus. Filmes, documentários e séries televisivas: Há alguns filmes, documentários e séries televisivas que podem ajudar a compreender a vida de São Pedro e dos primeiros cristãos. Películas mais antigas como ‘Ben-hur’ ou ‘Quo-vadis’ – há uma versão americana de 1951 e outra italiana de 1985 –, até séries mais modernas como ‘Rome’, da HBO (especialmente a segunda série), mostram o quotidiano da vida dos primeiros cristãos. Há, ainda, inúmeros documentários e filmes sobre a vida dos apóstolos que podem ajudar a visualizar melhor esta temática.

Bibliografia: Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE. Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

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manualdodirigente II. Imaginário dos pioneiros: «O pioneiro» O imaginário da Secção gira todo à volta do pioneiro, aquele que, depois da descoberta do mundo que o rodeia, é assolado por um sentimento de insatisfação, de um ímpeto de fazer diferente, de mudar, de inovar, que o leva a soltar-se do que considera supérfluo para pôr mãos à obra na construção e concretização do seu sonho, das suas ambições. Nesta tarefa, preocupa-se em conhecer o que há, em saber o que já foi feito por outros, em conhecer e melhorar as suas próprias capacidades, em adquirir as ferramentas de que precisa. Reúne, a seguir, as vontades para o seu empreendimento. O pioneiro prefere trabalhar em equipa, em conjunto, e o seu querer e o dos outros é capaz de, realmente, transformar, inovar, construir. O pioneiro é o insatisfeito, o que primeiro inova e primeiro constrói a comunidade. Reconhecemos este perfil em Pedro, o pescador de homens e construtor da Igreja nascente, reconhecemo-lo nos primeiros navegadores e nos primeiros colonos das novas terras do Novo Mundo, mas, também, nos primeiros astronautas, nos cientistas e nos investigadores da modernidade e no rosto de cada adolescente. O pioneiro vive sobre a máxima Saber, Querer e Agir, sendo fiel a si próprio e aos seus sonhos.

Saber, Querer e Agir Esta frase, esta máxima, apresenta-se ao pioneiro como o enaltecer das suas próprias características. Do mesmo modo que o Papa João Paulo II, num discurso aos jovens, em 1985 dizia: «Jovens, sede jovens», esta máxima interpela o pioneiro a ser pioneiro. E o pioneiro tem como características a ânsia de conhecimento e de respostas – muitas vezes no seu interior e no mundo que o rodeia –, a vontade e a energia de inovar, de fazer diferente, e, por fim, a necessidade de acção em todo o momento. O assumir desta máxima – três poderosos verbos – vai reflectir-se no âmbito do imaginário do pioneiro, mas também nos símbolos da secção, na linguagem simbólica e na nomenclatura das etapas do sistema de progressão pessoal. Ser pioneiro, realmente… O imaginário da secção ultrapassa um enquadramento meramente simbólico. Na terceira secção, o imaginário é, também, e imediatamente, um desafio. Um desafio, um repto, que deve ser lançado ao adolescente logo que ele manifesta desejo de integrar a secção. E isso, em actos concretos, manifesta-se em primeiro lugar, numa atitude de desprendimento perante tudo o que é acessório, centrando-se no que é essencial e lhe permite aprofundar o conhecimento de si mesmo e do

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mundo. Esta atitude de desprendimento, aliás, é típica dos adolescentes desta idade, que, na busca da afirmação da sua maturidade, procuram largar as marcas da sua meninice. Em segundo lugar, o adolescente deve dar azo à necessidade natural de procurar a razão de ser de tudo – o conhecimento (Saber) do mundo que o rodeia, da experiência dos outros, dos limites do que é possível – e de se munir das ferramentas que lhe permitem adquirir autonomia. Este conhecimento vai aprofundar a vontade (Querer) de transformar o seu sonho em realidade, uma vontade que deve ser aplaudida e ajudada. Neste processo de vontade, o adolescente não está sozinho: a vontade é colectiva, na medida em que é no grupo e com o grupo que vai conseguindo concretizar as suas aspirações. É, assim, em Comunidade, no Empreendimento, que pode atingir o culminar do crescimento na secção: a capacidade de construção (Agir) dos seus sonhos e a experiência adquirida ao longo de todo o processo são o legado que transportam consigo ao partir para uma nova fase.

Para apoiar e ajudar na percepção do alcance do imaginário que lhe é proposto, o pioneiro pode ainda ser chamado a conhecer e a seguir o exemplo de Grandes Pioneiros da História da Humanidade. Tomemos, a título de exemplo, nomes de personalidades como Leonardo da Vinci, Padre António Vieira, Albert Einstein, Marie Curie, Florence Nightingale ou Isadora Duncan, entre muitos outros.

Boas práticas: Lista aberta de grandes pioneiros: Ou no abrigo, num cartaz, ou num apontamento pessoal ou da Equipa, é boa prática ir construindo, com o tempo, uma lista dos Grandes Pioneiros. Uma lista de nomes, com uma menção biográfica (como data de nascimento e de morte, se for caso disso) e a nota da razão que justifica o título de grande pioneiro. Esta lista pode revelar-se importante como apoio na procura de imaginários para o empreendimento, na preparação de actividades de reflexão ou outras e, acima de tudo, como referência e ajuda na hora de escolher um grande pioneiro da humanidade para dar nome à Equipa. Esta lista deve ir sendo actualizada a todo o tempo e, eventualmente ser transmitida às ‘gerações seguintes’ pela história da Comunidade.

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Documentos: filmes, documentários e séries televisivas: Há alguns filmes, documentários e séries televisivas que podem ajudar a compreender e a visualizar melhor do que falamos quando nos referimos a um pioneiro. Há canais especializados na exibição de biografias de grandes pioneiros. Documentários sobre primeiros navegadores, sobre os primeiros colonos das novas terras do Novo Mundo, mas, também, nos primeiros astronautas, nos cientistas e nos investigadores da modernidade entre outros.


manualdodirigente Bibliografia: Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE.

Simbologia dos pioneiros O pioneiro que vive sobre a máxima Saber, Querer e Agir, sendo fiel a si próprio e aos seus sonhos, facilmente se revê em símbolos como a Gota de Água, a Rosa-dos-Ventos, a Machada e o Icthus (peixe, símbolo dos primeiros cristãos).

Para alguém que sente necessidade de mudar, de construir o seu espaço e o seu mundo onde nada existe, estes símbolos apresentam-se como ferramentas de transformação:

A Gota de Água é símbolo da pureza que vem de Deus. É para nós, também, o símbolo do próprio pioneiro, do jovem enquanto pessoa, indivíduo. Procuramos que seja transparente — consigo próprio e com os outros. Que seja alento e alimento para os que o rodeiam. Que consiga fazer parte de um grupo, juntar-se a outras gotas e tornar-se torrente. Nesta individualidade procuramos salientar o SABER. O saber-Ser, o saber-Estar, o saber-Fazer e todos os outros saberes que vêm à tona, resultado do combate que o pioneiro trava consigo próprio pela marca da individualidade. A Gota de Água torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Intelectual, Espiritual e Afectivo. A Rosa dos Ventos é símbolo do rumo certo, da boa escolha, da decisão ponderada – daquela que encontramos quando seguimos o projecto de Deus. É para nós, também, o símbolo daquilo que é a vida do pioneiro, nas suas escolhas, na sua atitude, no que quer dos outros. Procuramos que tome sempre

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manualdodirigente o rumo certo, que esteja preparado para optar, para escolher… Que possa falhar, errar, mas em segurança, e que aprenda, que tire das experiências lições de vida. Que seja, de igual modo, portador de vontades, agregador de desejos e de disponibilidade. Procuramos, com a Rosa dos Ventos, salientar o QUERER. A importância da escolha, das suas consequências, mas, também, a importância da vontade, da disponibilidade. A Rosa dos Ventos torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Social, Afectivo e Espiritual. A Machada é símbolo da construção, da acção, da transformação do mundo segundo a vontade de Deus. É para nós, também, o símbolo daquilo que é o potencial do pioneiro, das suas capacidades, da sua energia transformadora, do resultado final da combinação do que quer com o que sabe... Procuramos que esteja apto a fazer, que domine a técnica, que consiga converter o sonhado, o desejado, em matéria, em realização e realidade. Procuramos, com a Machada, salientar o AGIR. A Machada torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Físico e do Carácter e também Espiritual, pois esta dimensão está sempre presente em toda a acção, ainda que nem sempre de forma explícita. O Icthus é símbolo da presença de Jesus Cristo, entre os homens, que estabelece para sempre a nova e eterna Aliança. O peixe simboliza Jesus Cristo – a palavra peixe, em grego, escreve-se Icthus (embora a transliteração do grego pudesse sugerir, mais exactamente, ICTHYS), que foi, pelos primeiros cristãos perseguidos, adoptado como acróstico de "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” (Iesus Christos Theou Uios Soter) e símbolo secreto de identificação mútua. É para nós, também, o símbolo da evidência e da materialização de Deus à nossa frente, como alimento do corpo e da alma. É, também, símbolo do patrono, São Pedro, um pescador que, convertido, se tornou pescador de homens e testemunho da construção do novo reino inaugurado por Cristo. Procuramos que, para o pioneiro, o Icthus seja símbolo de fé, mas também de lógica e racionalidade assente na incarnação do Verbo de Deus, na «materialização» de Deus em Cristo, pois fé e razão não se contrapõem. Procuramos, com o Icthus, salientar o ACREDITAR consciente. O Icthus torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Espiritual e, também, do Carácter e Intelectual.

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manualdodirigente O azul do céu e do mar A cor azul não é, pelo menos formalmente, um símbolo. Mas sendo um sinal distintivo da secção ao qual é atribuída uma justificação simbólica, temos de a ele fazer referência. O azul dos pioneiros recorda – como é referido no momento da imposição do lenço, logo após a promessa – “a imensidão do céu e a profundidade dos mares, simboliza a grandeza do ideal 'sempre mais longe' no serviço do bem” que na promessa o pioneiro promete viver.

Linguagem simbólica nos pioneiros O enquadramento simbólico da secção integra, ainda, um conjunto de outros conceitos e nomenclaturas usados na terceira secção que importa fazer notar. No código dos pioneiros palavras como Pioneiro, Equipa, Comunidade e Abrigo têm significados precisos. Pioneiro é o adolescente jovem que integra a terceira secção no CNE. A razão de ser da utilização desta palavra é amplamente explicada acima. Um conjunto de pioneiros, com uma identidade própria, objectivos comuns e relações formais de co-responsabilidade constitui uma Equipa, termo facilmente perceptível e enquadrável. No âmbito da ciência, por exemplo, onde o objectivo é inovar, e onde há grandes pioneiros, o trabalho é feito por equipas de investigação. A palavra Comunidade, que designa o conjunto dos pioneiros e das suas Equipas numa unidade, tem uma grande carga simbólica. Os pioneiros (aqueles que inovam, desbravam, que se instalam, que constroem, que desenvolvem) na história e no quotidiano organizam--se em comunidades. A comunidade dos primeiros cristãos, as comunidades de pioneiros colonizadores nos novos territórios, a comunidade científica que engloba o conjunto dos investigadores pioneiros, e, mais recentemente, as comunidades virtuais que se criam na internet nas redes sociais e outras. São termos usados nestes contextos e facilmente reconhecíveis por todos. Mesmo em termos semânticos, a palavra Comunidade é uma mais valia no contexto escutista: uma Comunidade de pioneiros congrega, nestas idades, especialmente, a "qualidade daquilo que é comum". Pretende-se, assim, que haja elos de ligação entre os pioneiros, elos que os ligam na diversidade das características de cada um. A palavra Comunidade elogia o aspecto ideal do conjunto dos pioneiros, a união na diversidade. Para além disto, uma Comunidade de pioneiros procura ser uma "Sociedade", onde os jovens ensaiam relações sociais e escolhas, têm vivências, experimentam em ambiente de perfeita segurança, planejam e desenvolvem em conjunto projectos organizados, a que chamamos Empreendimentos. Uma sociedade/comunidade com "Identidade", com "Paridade" (aspecto tão importante na relação educativa nos pioneiros) garante ao pioneiro o lugar a salvo, o porto de abrigo que deve ser, também, o conjunto dos seus amigos, das pessoas que o estimam e por quem ele sente estima. Faz sentido, assim, ter um Abrigo como local, a sede, onde os pioneiros têm instalado o seu património. O

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manualdodirigente abrigo é um termo associado à ideia de ter sido construído para proteger. Porto de abrigo é, também, espaço de protecção e de serenidade. A nível dos escuteiros marítimos, a nomenclatura está também adaptada à secção. Ao adolescente, ao jovem escuteiro integrado na terceira secção do CNE num agrupamento marítimo, chamamos Marinheiro. O uso da palavra adapta-se plenamente ao imaginário da secção, em contexto náutico. O marinheiro é alguém que se dispõe a arriscar a adoptar um estilo de vida desprendido na concretização de um sonho e de uma missão na perspectiva da máxima: Saber, Querer e Agir. O conjunto de marinheiros que aceita viver sob uma identidade própria, relações formais de co-responsabilidade e objectivos comuns é uma Equipagem – termo sinónimo da tripulação de uma embarcação. A palavra Frota – expressão de natureza náutica, entendida como o conjunto de navios dispostos a navegar juntos – designa a Unidade dos marinheiros e das suas Equipagens. Aos projectos organizados pela frota de marinheiros, no sentido da vivência de actividades e experiências, em ambiente de perfeita segurança, por si planeadas e desenvolvidas, em conjunto, chamamos Cruzeiros. O Abrigo é, também nos agrupamentos marítimos, o local, a sede, onde os marinheiros têm instalado o seu património e têm definido o seu local de reunião e de “porto” seguro.

Boas práticas: Os símbolos como identificação da secção: Ter no Abrigo uma representação dos quatro símbolos da secção – com objectos ou representações gráficas – é importante para que a Comunidade tenha presente esses elementos como pertença comum dos pioneiros de toda a associação. É, também uma boa prática usar os símbolos como sinal distintivo da secção dentro do agrupamento – para marcar objectos da Comunidade, para sinalizar a localização do abrigo, dos avisos exclusivos da Comunidade, etc. Ajuda, desta maneira, a que todos – mesmos os que não pertencem à Comunidade – associem a simbologia à secção.

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“O nosso azul” É um poema que foi escrito e utilizado como hino do Campo dos Pioneiros no XVIII Acampamento Nacional do CNE, no Palheirão, em 1992, e simboliza bem o que pode ser uma forma interessante de fazer chegar a simbologia aos pioneiros e trabalhar de forma criativa, com a música, por exemplo, esta temática: O NOSSO AZUL (Hino dos Pioneiros no XVIII ACANAC) O nosso azul, cor do céu e do mar, Dá-nos mais força, para lá chegar. Chegar é ser feliz, sentir-te perto de mim Poder cantar e rir, dizer-te sempre que sim. Somos pioneiros, e sempre os primeiros, Queremos viver, sempre a crescer. Pega na mochila, na tua viola, Vamos em equipa, todos acampar. Vamos acampar, para serra e para o mar, E à fogueira, as cantigas ao luar. Seguimos a pista, de mãos dadas, E, em conjunto, rumo ao fim. Somos pioneiros, construtores do Mundo, Sentimos força, p´ra criar e lutar. Protege o verde, que nos deixa viver, Estar sempre Alerta para Servir.

Bibliografia: Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. Cartões com Enquadramento Simbólico, Edições CNE.

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manualdodirigente III. Cerimoniais A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão concreta nos diversos cerimoniais escutistas.

Eis alguns exemplos de cerimoniais tipicamente escutistas: Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Guias, Investidura de cargos, Totemização, entrega de insígnias, Passagens de secção etc. Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos das secções e linguagem tipicamente escutista.

Cuidados a ter nos cerimoniais escutistas Os cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:

Estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis, exemplo de B.-P., patronos, etc.), como a nível da elaboração (cânticos, imagens escutistas, etc.), o que implica desenvolver um ambiente “místico” (com recurso a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade da mensagem. Será indicado, sempre que possível, utilizar o espaço da Natureza para as realizar (é preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado para todas as actividades escutistas); Revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas; Possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequada à secção a que se dirigem;

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Implicar uma participação activa dos escuteiros (não ficam apenas a ouvir), de forma a que se sintam integrados na Unidade. Envolver directamente o grupo a que se destina, recorrendo ao auxílio dos elementos e a alusões sobre as suas características, induz a que todos se sintam envolvidos e motivados. Este envol-


manualdodirigente vimento deve implicar alguma flexibilidade, para que todos se sintam à vontade para participar; Ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, duração, ensaios), integrando-se de forma adequada na vivência das secções e na idade dos participantes; Ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que de início pode parecer que reforça a coesão do grupo (por se tratar e uma tradição) pode acabar por se tornar antiquado e desmotivante. Convém, por isso, efectuar, de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos usados e dos valores explorados, para que se possa modificar o que está desactualizado, desadequado ou incoerente.

Papel do Dirigente nos cerimoniais de Equipa : O dirigente deve ter a preocupação de auxiliar os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores, mesmo nos cerimoniais exclusivos da Equipa. Deve, ainda, ajudar na compreensão de valores místicos da Secção, de gestos, fórmulas e acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

Bibliografia: Cerimoniais do CNE, Edições CNE

Maria Amélia Gama

Caminho a seguir, Edições CNE.

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manualdodirigente C.2.4 Mística e simbologia no Clã I. Mística dos Caminheiros e Companheiros: «A vida no Homem Novo». A construção da Igreja de Cristo, sinal da maturidade da fé, projecta o Homem para o mundo. O cristão, chamado a ser «sal da terra», «luz do mundo» e «fermento na massa», assume o seu lugar activo na construção dos «novos céus e da nova terra». O Reino de Deus, cuja lei está sintetizada nas Bem-Aventuranças, é a vida em Cristo, o Homem Novo: essa é a meta a alcançar pelo caminheiro. Neste sentido, o caminheiro é chamado a assumir integralmente o ideal do Homem Novo. Sabe que a novidade não consiste na adesão permanente às últimas modas, mas sim na descoberta, aprofundamento e assunção dos valores genuínos que estão ligados à própria natureza do Homem e que, por isso mesmo, o farão ser mais feliz. Assim, não busca uma felicidade ligada a coisas efémeras (dinheiro, fama, prazer, vicio, …), mas a verdadeira Felicidade, aquela que tem como referência a novidade radical das BemAventuranças. Num tempo como o que se vive, de extraordinários avanços em todos os campos e em que o progresso parece não ter limite, é cada vez mais necessário mergulhar no interior de si mesmo para encontrar algo verdadeiramente inovador: a vontade de amar, o gosto de fazer, a necessidade de partilhar, o desejo de viver, o prazer de Servir, a satisfação de sentir, a emoção de criar. Neste sentido, a proposta que é feita aos caminheiros não é meramente romântica. É uma proposta concreta destinada a ser vivida todos os dias na sua escola, no seu trabalho, com os seus amigos, com a sua família, etc. Dentro do seu mundo estarão assim, a ser, artesãos de um mundo novo. De forma a potenciar a descoberta da verdadeira felicidade, o caminheiro é convidado a ter como exemplo São Paulo, o escolhido para o anúncio da Boa Nova aos gentios. De facto, São Paulo é ícone da universalidade da Igreja: a salvação que Cristo anuncia, e inaugura, tem como destinatários os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e culturas. Com São Paulo como Patrono, o caminheiro aprende a dialogar com todas as pessoas, no respeito pela diferença e pelo ritmo de cada um, mas afirmando a existência de um só caminho para a salvação: Cristo Jesus. Sem medo de o afirmar, o caminheiro assume o seu lugar activo na sociedade, procurando dar um contributo para que o Homem se realize plenamente, de acordo com o projecto de Deus. A vida em Cristo, o Homem Novo, é a meta para a qual caminha, até que possa dizer um dia, como São Paulo, «já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gal. 2,20). Os caminheiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíblicas e santos que serão também, para eles, modelos de vida. Ex.: Abraão, Moisés, São João Baptista, São João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, Santa Teresa Benedita da Cruz, Beato João Paulo II, Santo Inácio de Loyola,... A estas figuras da Igreja, juntam-se ainda grandes personalidades da História, como Aristides Sousa Mendes, Aung San Suu

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manualdodirigente Kyi, Wangari Maathai, Mahatma Ghandi, Martin Luther King e Nelson Mandela, entre outros: são exemplo de grandes Caminheiros, que deixaram caminho a seguir pela vida que viveram ou vivem.

«(…) foi o ter-se adoptado e desenvolvido a tal ponto o Caminheirismo noutros países, que este constitui já o núcleo duma Fraternidade universal de jovens orientados pelo mesmo ideal de SERVIR, ligados pelos laços de amizade e bom entendimento. É este, a meu ver, um passo decisivo para o nosso objectivo, que é promover, na terra, entre os homens, o estabelecimento do Reino de Deus, de Paz e de Boa Vontade.» B.-P. – A Caminho do Triunfo

Os caminheiros são ainda convidados a olhar para algumas passagens bíblicas de forma especial, apesar de terem sempre o todo da Palavra de Deus como alimento de vida. Uma é a passagem do Evangelho de São Lucas sobre o Caminho de Emaús (Lc. 24, 1335), uma das que melhor descreve o Caminheirismo, percurso de revelação, descoberta, decisão e alegria, onde se propõe aos caminheiros que experimentem o verdadeiro sentido de fazer caminho: descobrirem permanentemente o que os rodeia e, principalmente, quem os rodeia. A exemplo de São Paulo, o desafio é Caminhar sem nunca desistir ou parar, tentando perceber os sinais que, permanentemente, encontram no caminho. Outra é a passagem relacionada com as Bem-Aventuranças (Mt. 5, 3-12), propostas como o caminho para a Felicidade.

Bem-Aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Bem-Aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-Aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-Aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Bem-aventurados sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegraivos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam. (Mateus 5, 3-12)

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manualdodirigente As Bem-Aventuranças podem ser difíceis de compreender à primeira vista, pois valorizam comportamentos e valores antagónicos aos que a sociedade nos habituou a valorizar. Ser Bem-aventurado significa ser Feliz. Podemos afirmar sem receio que, as Bem-Aventuranças ensinam-nos um revolucionário caminho para a felicidade a que aspira todo o ser humano. Não a felicidade como o mundo a vê e propõe ­– material e efémera –, mas a verdadeira felicidade. As Bem-Aventuranças são, no fundo, um programa de vida cristã e abrem-nos o caminho para uma vida em Cristo, com Cristo e para Cristo. Nesta mensagem, Jesus ensina a maneira de vivermos para que o mundo seja um lugar muito melhor para todos. E dá os critérios para podermos avaliar o que realmente tem valor na vida.

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. Pobres em espírito são aqueles que, mesmo possuindo bens materiais, conseguem não ter o coração preso a eles. Não quer dizer que a pobreza seja um bem ou que se tenha que passar por ela para se poder ser feliz. O que Jesus anuncia é que somente aqueles que por livre escolha não ficam presos ao material e se colocam à disposição dos outros, alcançarão o Reino do Céus. Assim, quem é materialmente rico, atingiu uma posição social de prestígio e se torna altivo, humilhando os menos afortunados e pensando apenas em si, não caminha para a felicidade. Mas se põe as suas próprias capacidades e dons ao serviço dos outros, se dá a sua disponibilidade a quem precisa de ajuda, então é pobre em espírito. Esta mensagem não é de resignação, mas de esperança: ninguém mais estará em situação de necessitado quando todos se tornarem pobres em espírito, colocando os dons que receberam de Deus ao serviço dos irmãos.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Segundo o profeta Isaías, os que choram são aqueles que não têm uma casa onde habitar, que não têm campos para cultivar, que experimentam uma dor profunda perante uma sociedade dominada ainda pela injustiça e que estão insatisfeitos e esperam de Deus a salvação. No entanto, quem acredita, não tem motivo para dor e lágrimas e será consolado, pois a felicidade não está no que se possui, está no modo como se vive a vida.

Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. No sentido de Santa Teresa de Jesus, «a humildade é a verdade». O Humilde é aquele que aceita a verdade da sua condição, reconhecendo aquilo de que é capaz, mas também as suas limitações. A humildade é o sentimento fundamental evangélico. Humildes

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manualdodirigente são, assim, os que são pacientes, tolerantes e servos de todos; aqueles que confiam em Deus e esperam a vinda do Seu reino; aqueles que, diante das injustiças, assumem as suas convicções e não respondem do mesmo modo que são tratados.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Justiça no Evangelho é sinónimo de Salvação, isto é, participação na vida de Deus. Assim, os que procuram justiça não procuram castigo, mas salvação, arrependimento e a recuperação de quem fez mal, cometendo o pecado. Quem experimenta esta fome e esta sede para a salvação do irmão, será saciado. Ser justo não é julgar, mas dar a mão.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Na Bíblia, a misericórdia, mais do que um sentimento de compaixão ou perdão, é uma acção em favor de quem necessita de ajuda. O exemplo mais claro é o do samaritano que usou de misericórdia para com o homem agredido pelos bandidos (Lc. 10, 30-37). Misericordiosos são aqueles que fazem obras de misericórdia. Os que não olham para si, pondo-se ao serviço dos outros, os que se empenham para que as pessoas necessitadas encontrem aquilo de que precisam. Por assim procederem, encontrarão a misericórdia dos outros e de Deus.

Bem-Aventurados os puros de coração, porque verão a Deus Não tem coração puro aquele que serve dois senhores, que se guia pelo bem e pelo mal conforme precisa, o que tem uma conduta que não está de acordo com a fé que professa. Os puros de coração são aqueles que têm um comportamento ético conforme a vontade de Deus, aqueles que têm um coração indiviso, os que não amam simultaneamente Deus e os ídolos, mas que souberam escolher qual o verdadeiro caminho que leva à felicidade. Os puros de coração são Bem-Aventurados porque é a eles, e somente a eles, que é dado fazer uma profunda experiência de Deus.

Bem-Aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus Paz não significa somente ausência de guerras. Indica bem-estar, prosperidade, justiça, saúde, alegria, harmonia com Deus, com os outros e consigo mesmo. Bem-Aventurado é, sem dúvida, aquele que, sem recorrer à violência ou uso de armas, se empenha com todas as forças para pôr fim às guerras e aos conflitos através do diálogo, da concórdia e da paz. Os operadores da paz não são os que se resignam. São os que recusam o uso da violência para restabelecer a justiça, não se deixando levar pela ira e por sentimentos de ódio

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manualdodirigente e de vingança. São aqueles que se empenham para que esta vida plena seja possível para cada homem. A eles está reservada a mais linda das promessas: Deus considera­-os seus filhos.

Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus Jesus não glorifica a perseguição, nem considera os que sofrem mais importantes que os outros. Declara que os que são perseguidos não são abandonados por Deus, mesmo que sejam abandonados pelo Homem. Assim, os que sofrem são felizes porque o fazem pela sua fidelidade ao Senhor e a perseguição torna-se motivo de alegria porque demonstra que foi feita a escolha certa, aquela que está de acordo com a sabedoria de Deus. De facto, a única força capaz de romper a espiral de violência é a do amor e do perdão.

“A Igreja vê-vos com confiança e espera que sejam o povo das Bem-Aventuranças!”

Papa João Paulo II – Mensagem para a XVII Jornada Mundial da Juventude

Bibliografia: SANTOS, Albertine et al., Onde moras? Uma história de encontro – Guia para a iniciação das crianças à fé cristã. Prior Velho: Paulinas, 2006. DUMAIS, Marcel, Sermão da Montanha. Lisboa: Difusora Bíblica, 1999.

Simbologia dos Caminheiros e Companheiros As dimensões De forma a reforçar a Mística da Secção, o itinerário do caminheiro vive-se em torno de quatro dimensões que adquirem um valor simbólico: Caminho, Comunidade, Serviço e Partida. É um itinerário de progressão pessoal, de tomada de consciência das possibilidades de evolução, de pensamento, que se lhes oferece na vida em Clã e na vida de cada dia. No final deste itinerário, o caminheiro está a franquear as portas da vida adulta, livre e responsável, prestes a tomar a vida nas suas mãos.

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Este itinerário tem assim quatro vertentes: é individual, mas também comunitário, está virado para o serviço aos outros e para o desafio do desconhecido. Essas quatro vertentes estão presentes nas quatro dimensões em que o caminheiro vai crescendo:


manualdodirigente O percurso individual – o Caminho Nos caminheiros, o jovem é desafiado a escolher um itinerário de descoberta e de acção que o leve a tornar-se construtor de um Mundo Novo. O Caminho significa, então, a abertura, a largueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacidade de aceitar a mudança, de viver na própria mudança. É, também, um espaço de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial. Por fim, é um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção de si mesmo, de aprendizagem da capacidade de se comprometer para além do imediato. Graças a isto, este Caminho dos caminheiros é, tal como o dos Peregrinos, testemunho de vida cristã. Ser caminheiro é ser mais (superar-se a si mesmo)… É ser Peregrino: no Caminho de Emaús, Cristo Ressuscitado revelou-se aos seus discípulos, caminhando com eles lado a lado…

O percurso em grupo – a Comunidade. Durante o Caminho, o jovem é interpelado a avançar lado a lado com o outro. O Caminho ajuda-o, assim, a desenvolver a sua capacidade de acolher o outro, de o ajudar a avançar, de se deixar ajudar, de partilhar com ele as alegrias e tristezas da jornada. A Tribo é o espaço privilegiado para esta relação, já que é nela que se vive o início da comunhão que se potencia depois na vivência em Clã. Ser caminheiro é ser com (participar na Caminhada com os outros)… É ser Discípulo: no Caminho de Emaús, Cristo foi reconhecido pela fracção do pão…

Um percurso com sentido - o Serviço. É o apelo das Bem-Aventuranças que dá sentido ao caminho conjunto, que se torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor e de construção da paz. Contudo, segundo este apelo, a comunidade não pode viver eternamente virada sobre si mesma. Viver o Serviço é um compromisso de cada instante que o caminheiro expressa ao longo do seu itinerário. Este Serviço é algo natural que não implica forçosamente um acto físico ou um dom material, na medida em que pode assumir-se como um suporte moral, um intercâmbio ou outras coisas ainda. Para além disto é gratuito, embora enriqueça quem o presta: o Serviço é uma dinâmica de descoberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”. Neste sentido, ‘Servir’ é tornar-se apto para a missão.

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manualdodirigente Esta vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, em Tribo e em Clã, devendo ser convertida em acções de longo termo que denotem uma vontade de compromisso e não surjam apenas como “mini- -serviços” rápidos e sem continuidade. Ser caminheiro é ser para (tornar-se apto para a Missão)… É ser Testemunho: no Caminho de Emaús, Cristo serviu os seus discípulos ao explicar-lhes as Escrituras…

Um percurso para a vida: a Partida. O caminheiro tem de avançar progressivamente para a sua Partida, que exprime simbolicamente que o acto de caminhar é mais importante do que o acto de chegar. É por isso que, no final do seu tempo de caminheiro, quando sai do Clã, o jovem não chega ao fim do seu caminho, mas parte para um novo caminho. De facto, o fim de uma etapa significa sempre o início de outra e a Partida é o momento de o caminheiro se lançar no caminho da vida e é também um ‘Envio’ (só pode haver Partida se houver quem envie). Ser caminheiro é amar… É ser Enviado: no caminho de Emaús, Cristo, “partiu”... E eles reconheceram-n’O vivo e ressuscitado.

Os símbolos Estas quatro dimensões que o caminheiro vive na sua passagem pelo Clã, com vista a preparar-se para a sua vida adulta, são coloridas por um certo número de sinais com uma elevada carga simbólica: Vara bifurcada, Mochila, Pão, Evangelho, Tenda e Fogo.

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manualdodirigente A Vara bifurcada é, antes de tudo, companheira e apoio no caminho. E, como B.-P. tão bem sabia, muitas vezes na vida temos diante de nós dois caminhos para seguir: o egoísmo e o serviço… A vara bifurcada torna-se, assim, o símbolo da necessidade de o caminheiro fazer ou renovar a cada passo as suas opções, as suas decisões e a rota que entende seguir nas encruzilhadas do caminho, tendo sempre presente o compromisso que assumiu de aderir continuamente ao projecto das Bem-Aventuranças. A Mochila convida o jovem a pôr-se a caminho, a arriscar, a decidir se quer empreender ou não esta viagem que o pode levar longe. É ao caminhar de mochila às costas que o caminheiro descobre o que é útil e o que é supérfluo, o que o faz penar e o que o impele para a frente. Descobre também a diferença entre o acessório e o essencial: como na mochila só se deve levar o essencial para a jornada, fazem parte do seu conteúdo, simbolicamente, o Pão, o Evangelho e a Tenda. A mochila torna-se assim o suporte neste Caminho, simbolizando o seu desprendimento e a sua determinação de ir sempre mais além. O Pão é alimento por excelência, fruto do trabalho de muitos homens e mulheres. Quando é repartido por outros transforma-se em comunhão, na medida em que ajuda a construir “humanidades novas” onde a fome de amor não aconteça. Ser caminheiro alimentado por este Pão de cada dia é ser certeza da construção de um mundo melhor onde todos se reconhecem como irmãos. O Evangelho representa a importância que Jesus Cristo tem para o caminheiro: a Boa Nova anunciada e oferecida a toda a Humanidade é a referência máxima do amor que se dá até ao fim numa Cruz. Nessa Cruz podemos ver o sinal «mais» onde acontece a Nova Aliança entre o Céu e a Terra, entre o Divino e o Humano... Sempre que a nossa vida se transfigura à luz desta Vida, o Reino de Deus torna-se mais visível. A Tenda, transportada na mochila, é sinal da mobilidade do caminheiro, da sua capacidade de se fazer ao largo, da sua prontidão para se pôr em marcha. Ao ser montada, demonstra a necessidade de paragem temporária, de descanso. A tenda também é sinal de acolhimento dos outros, da presença de Deus no meio do seu povo. O Fogo simboliza a descida do Espírito Santo. No Escutismo, reúne, aquece e ilumina a história que somos: à volta de uma fogueira muito acontece, desde conselhos dos mais velhos a olhares dos mais novos. São vidas que se constroem, aquecidas por outra Vida que dá mais vida - uma força transformadora a que chamamos Espírito Santo. A sua descida sobre cada caminheiro ilumina e renova cada passo e projecto.

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manualdodirigente A cor do fogo e do sangue O lenço dos caminheiros é de cor vermelha. Na Liturgia, é a cor do Espírito Santo e, assim, relembra permanentemente aos caminheiros a presença Dele nas suas vidas. É também cor do sangue e, por isso, símbolo de vida e de amor. Assim, o lenço rubro lembra ao caminheiro que ele é vida, é testemunho, é força, é energia, é calor e, por isso, não pode parar… A sua vida tem que ser uma caminhada permanente. O caminheiro não se acomoda…É uma alma inquieta que procura sempre mais.

A linguagem simbólica Também as designações associadas aos caminheiros se revestem de simbologia. A sua escolha foi feita tendo como base a mística do caminheiro e aquilo que se pretende que ele viva na sua passagem pelo Clã. Ao assumir como sua esta linguagem tão própria, ele assume também parte da sua identidade enquanto caminheiro. Clã foi desde sempre o nome atribuído por Baden-Powell à secção dos caminheiros; por achar que estes deveriam ter laços fortes entre si, semelhantes aos laços familiares dos clãs escoceses. Daí também considerar o Caminheirismo uma Fraternidade. Na génese da sua definição, Tribo é o mesmo que 'Família' ou 'Clã'. No entanto, olhando para a história da Igreja, encontramos as 12 Tribos de Israel que provinham do Clã de Jacob. A maioria destas tribos eram nómadas, caminhantes sem morada permanente. É esta a forma de estar que se espera das Tribos de caminheiros: que sejam despojadas e estejam sempre prontas a partir para uma Caminhada, projecto planeado, organizado e executado em conjunto. À frente de cada Tribo está um Guia, ajudado pelo seu Subguia. Pretende-se que este caminheiro lidere e seja Guia para os outros, não um chefe autoritário. Que seja um exemplo a seguir, não só para a sua Tribo, mas em todos os contextos em que se insere. O Albergue é um local de pernoita, onde os peregrinos descansam da jornada, mas onde não pensam ficar. Mais do que um local de chegada e acolhimento, é um local de partida para um destino maior. Assim sendo, como o local de reunião dos caminheiros, é um local de partida para a jornada constante rumo à Felicidade e a Jesus Cristo – o Homem-Novo. A nível do escutismo marítimo, também existe nomenclatura específica, adequada à especificidade destes escuteiros.

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Os Companheiros formam uma Comunidade. Assim como as comunidades piscatórias, em que muitas vezes são formadas por descendentes de uma mesma família, por gente que defende os seus e as suas tradições, pretende-se que a Comunidade dos Companheiros seja um grupo de laços estreitos, onde se cultivem ideais e responsabilidades, onde se planeiem e executem projectos em conjunto.


manualdodirigente Companhas é o nome, atribuído tradicionalmente à tripulação de um barco ou a um conjunto de pescadores que partilham a faina marítima. Os Companheiros devem seguir o mesmo ideal de grupo fraterno e unido que, tal como a tripulação de um barco, tem que saber o rumo a seguir e todos têm que se esforçar para poderem avançar, em vez de ficarem à deriva. Este é o ideal defendido por B.-P. para a IV secção: uma grande Fraternidade. A Companha é liderada por um Arrais. O arrais de um barco deve ser um guia, pessoa que reúne consensos e cujo principal objectivo é levar a sua embarcação e os seus a bom porto. Tal como o Clã, a Comunidade abriga-se num Albergue, pois o seu lugar é a navegar, apenas precisam de um local onde reabastecer, restaurar forçar e de onde partem para outros destinos, destinos maiores.

Bibliografia: SANTOS, Albertine et al., Onde moras? Uma história de encontro – Guia para a iniciação das crianças à fé cristã. Prior Velho: Paulinas, 2006. DUMAIS, Marcel, Sermão da Montanha. Lisboa: Difusora Bíblica, 1999.

II. Cerimoniais A mística da IV secção e respectiva simbologia (que ajuda a colorir as vivências dos caminheiros) devem estar sempre presentes nas actividades e na vida da Tribo e do Clã. Mas há momentos na vida dos caminheiros em que devem estar especialmente presentes: nos cerimoniais.

Exemplos de cerimoniais escutistas: - Abertura e bênção do Fogo de Conselho - Vigília de Oração - Promessa - Investidura de Guias - Investidura de cargos - Totemização - Entrega de insígnias - Partida, - etc.

Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos da secção e linguagem tipicamente escutista.

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manualdodirigente Os cerimoniais devem estar envolvidos por um ambiente escutista, sendo o momento ideal para relembrar Leis, ensinamentos do Fundador, exemplos dos patronos, etc. Os cânticos devem ser adequados e os símbolos devem ajudar a desenvolver um ambiente místico que contribua para que a mensagem seja correctamente apreendida. Na medida em que, para o Escutismo, a Natureza é um espaço incomparável de crescimento e aprendizagem, deve-se, sempre que possível, utilizá-la nas cerimónias escutistas, que devem ter sempre presente a Lei do Escuta, revestindo-se de dignidade e de consideração pelos valores escutistas. A preparação e realização de uma cerimónia implica sempre a participação activa dos caminheiros, devendo permitir uma certa flexibilidade, para que todos se sintam confortáveis e motivados para participar. A preparação é quase tão importante como a própria cerimónia, na medida em que ajuda a que tudo corra conforme o desejado e seja conferida dignidade e importância ao acto que se vai realizar. A participação activa permite que todos percebam que são parte integrante do Clã e compreendam que o que se está a realizar é para eles e por eles, não sendo apenas uma tradição a manter. Apesar de o CNE ter proposto cerimoniais para vários momentos, é importante que não se caia na monotonia. De início, as estratégias podem ser as mesmas, na medida em que, assim, permitem a construção de uma tradição que reforça a unidade do Clã. Contudo, se nunca se inovar, as cerimónias podem vir a tornar-se obsoletas e desmotivantes. Assim sendo, importa, de vez em quando, rever as estratégias utilizadas (renovando dinâmicas, símbolos, valores mencionados, etc.), para que se possa modificar dar nova vida às cerimónias.

Partida A Cerimónia da Partida é exclusiva da IV secção e é um dos mais importantes cerimoniais dos caminheiros. Note-se que a Partida não é para os que atingem os 22 anos, para os que querem sair do CNE ou para os que vão ser Dirigentes… A Partida é um envio, é o reconhecimento das vivências do caminheiro, por parte do Clã. Assim sendo, não parte o que quer ir embora, mas sim o que é enviado. O caminheiro que parte é aquele em que o Clã deposita a sua confiança, aquele que, ao longo da sua caminhada na secção, provou viver plenamente os valores escutistas. Assim, é aquele que é exemplo de vida no Homem Novo e que o Clã envia para o mundo por ser boa semente. No escutismo marítimo, a Partida designa-se por Largada.

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Oração da Caminheiro que parte Senhor: Ajuda-me a ser: Bastante Homem, para saber Temer Bastante Corajoso, para saber Vencer Bastante Sincero, para a Deus Conhecer Bastante Humilde, para a Deus Crer Bastante Rico, para sempre Dar Bastante Bom, para sempre Pedir Bastante Enérgico, para sempre Exigir Bastante Generoso, para sempre Perdoar Bastante Forte, para sempre Ajudar Bastante Recto, para sempre Guiar Bastante Humano, para saber Amar Bastante Cristão, para saber Viver e saber Morrer. AMEN

Bibliografia: Cerimoniais do CNE, Edições do CNE. Sugestão:

Mafalda

Ler também “A Partida”, no capítulo do Sistema de Progresso deste manual.

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João Almeida

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C.3

Vida na Natureza

C.3.0 O valor pedagógico do contacto com a Natureza

“A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo” B.-P.

O contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo valor pedagógico que contém, como espaço privilegiado para o jogo escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos, capacidades e da consciência crítica, como oportunidade de crescimento, como materialização, visível, da obra do Criador, interessa, por isso, retirar dele todo o benefício. De facto, para um escuteiro, o contacto com a Natureza é condição imprescindível para um crescimento pessoal e colectivo. Neste sentido, é importante que a criança, o adolescente e o jovem cresçam sentindo-se parte integrante da Natureza. Só assim perceberão que se deve velar por ela não apenas porque é necessário preservar os recursos naturais disponíveis, mas porque, ao cuidar dela, estão a cuidar da sua própria 'casa', ou seja, de si próprios e de todos os outros (irmãos escutas, família, amigos, colegas, vizinhos, etc.).

a) Um laboratório Graças ao avanço da ciência e da técnica, é cada vez mais possível optimizar o conforto de vida a todos os níveis (desde a mobilidade à climatização, passando pela comunica-

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manualdodirigente ção, etc.), contrariando o ambiente natural, o que nos isola do resto da nossa 'casa', a Natureza. Por esta razão, a vida ao ar livre permite-nos experimentar sensações diferentes e desafia-nos a criar, com o que temos ao nosso alcance e sem destruir, o conforto que nos é necessário (protecção da chuva, lume para cozinhar, técnicas de orientação, etc.) para nos sentirmos parte integrante da Natureza. No fundo, para nos sentirmos em casa. Neste sentido, e como considerava B.-P., o espaço natural é um laboratório. De facto, é na Natureza – pela observação e pela comparação – que muitas vezes a criança, o adolescente e o jovem descobrem outras formas de viver e compreendem o funcionamento do seu organismo e de outros fenómenos naturais, que lhes permitem entender mais facilmente as relações sociais que o Homem tem como qualquer animal social. Para além disto, o contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte dessa mesma comunidade. De facto, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura em relação aos seus pares e aos mais velhos — que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial.

Porquê um laboratório? Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as mais importantes; Porque é o espaço ideal para descobrir a criação de Deus, a forma como os vários elementos se completam e sustentam e o papel do Homem em todo o ecossistema; Porque permite que cada um adquira a consciência de que é passageiro e não dono do planeta; Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual; Porque permite a aquisição de conceitos e valores relacionados com a Ecologia e o desenvolvimento sustentável; Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e obstáculos; Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento do seu próprio corpo e do ambiente que o rodeia.

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O papel do dirigente Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor meio de educação. Por outro lado cumpre-lhe incentivar a realização de actividades que procurem conhecer a história natural e as ciências da Terra e da Vida, investindo na observação e análise crítica da vida natural e da Natureza em estado puro e na preservação de espécies e de ecossistemas.

b) Um clube O espaço natural é, também, o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. A este nível, lembramo-nos imediatamente dos acampamentos, mas convém salientar que o contacto com a Natureza não se resume a eles: todo o jogo escutista deve ter como território ideal o ar livre e a Natureza. De facto, é a partir da observação dela e da vivência, individual e colectiva, no espaço natural que a criança, o adolescente e o jovem compreendem o conjunto das regras instintivas que presidem à natureza humana e sociedade, por exemplo.

Porquê um clube? Porque a Natureza permite descobrir o ambiente natural, as regras sociais básicas e a cooperação instintiva com os pares, no Bando, Patrulha, Equipa ou Tribo; Porque é o melhor espaço para o jogo social espontâneo, e para o desenvolvimento da educação integral, sobretudo a nível da auto-disciplina, espírito de equipa e valores morais; Porque ajuda a desenvolver capacidades de adaptação a realidades naturais e sociais diferenciadas conforme o local onde se 'joga'; Porque permite o confronto com ambientes menos confortáveis que levam os escuteiros a superar as suas dificuldades e os incentiva a respeitar a Natureza.

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O papel do dirigente Compete ao dirigente, a este nível, desenvolver, sempre que possível, a realização de actividades e jogos escutistas em ambiente natural e ao ar livre, privilegiando o trabalho de Bando, Patrulha, Equipa ou Tribo. Isto permite-lhe animar a secção numa lógica de aproveitamento da Natureza como espaço para o crescimento saudável e harmonioso dos escuteiros.

c) Um templo A Natureza também deve ser, para crianças, adolescentes e jovens, um espaço de contemplação e de deslumbramento, uma montra privilegiada para vivenciar Deus: de facto, é o campo mais limpo e claro da Criação. Assim, todos devem ser convidados a descobrir nela a beleza de toda a obra de Deus, as mais elementares intenções de sã convivência e o poder do livre arbítrio dado por Deus ao Homem.

Porquê um templo? Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”; Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica, a ligação a Deus; Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de todos os sentidos e da própria natureza da pessoa.

Papel do dirigente Neste domínio, seria importante que o dirigente entendesse que deve aproveitar o ambiente natural como um espaço privilegiado para incentivar atitudes de oração, através da contemplação e da reflexão sobre as maravilhas da Criação, auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus. Para além disso, cumpre-lhe ainda incentivar, sempre que possível a partilha fraterna dos dons de Deus em nós.

Bibliografia: OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e Paula Almeida. Edições CNE, 2004. WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.

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manualdodirigente C.3.1 A Vida na Natureza na Alcateia A Alcateia vive, à partida, no meio da Natureza, tão simplesmente porque todo o seu imaginário se desenrola aí: somos lobos a viver em comunidade, como na Selva de Seiouni Máugli também viveu. Assim sendo, cativar o lobito para o contacto com a Natureza é uma tarefa particularmente fácil: basta relatar as aventuras que Máugli viveu na Selva e o que aprendeu no contacto com os outros animais. Para além disto, qualquer lobito saudável gosta de estar ao ar livre, a correr, a esconder-se, a saltar poças, etc., embora não se baste a si próprio. Tendo isto em conta, é fundamental que o dirigente promova a vida ao ar livre em todas as actividades, usando-a como ferramenta para desenvolver cada lobito em diversas vertentes.

A Natureza como laboratório

“Pelas belas e longas tardes de Verão a mãe loba conduzia os lobitos em pequenas expedições para caçarem para si próprios. Não era nem a grande rena nem a raposinha sagaz, como se poderia supor, mas ratazanas, ratos e outra caça miúda – a isso se limitavam as ambições da mãe para os seus filhotes. (...) Era de espantar a rapidez com que os lobitos aprendiam que a caça não se apanha sem trabalho, como se colhem as amoras, e alteravam o processo de caça, rastejando em vez de correrem tanto à vista que até o porco­-espinho teria de os ver, escondendo-se atrás dos rochedos e arbustos, até o momento preciso, e caindo então sobre a presa como um açor sobre uma formiga. Lobo que não saiba apanhar gafanhotos nada vale na caça ao coelho – tal parecia ser o motivo secreto que levava a mãe loba, nas tardes de sol, a não fazer caso dos matagais onde a caça se acoitava em abundância e a conduzir os seus lobitos às planícies secas do caribu. Aí, durante horas, eles caçavam os esquivos gafanhotos (...) O jogo é o primeiro grande educador – isto é tão verdadeiro para animais como para o Homem – e, para os lobitos, as suas corridas perdidas atrás dos gafanhotos eram tão emocionantes como para a Alcateia uma caçada ao veado, tão cheia de surpresas como uma corrida pela neve macia atrás de uma ninhada de linces. E embora o não soubessem, em todas as horas dessas tardes luminosas aprendiam coisas que não esqueciam e lhe seriam úteis para toda a vida.”

W.Y.Long, Northern Trails, 59-61

Na fase de crescimento em que se encontram, os lobitos estão a desenvolver a actividade dos sentidos (mexer, tocar, cheirar, ouvir, ver, sentir), a usar a interacção com o meio envolvente para enriquecer e diversificar a memória e a linguagem e a descobrir que existe o outro. Nisto seguem o exemplo de Máugli, também ele um menino curioso e em crescimento.

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manualdodirigente De acordo com isto, o contacto com a Natureza é uma ferramenta única para o correcto desenvolvimento sensorial do lobito, uma vez que favorece a interacção com as coisas reais (feitas de matéria concreta). Esta interacção não é em nada substituível pelas imagens dos videojogos, mesmo quando simulam movimentos reais. De facto, apenas o contacto com a realidade das coisas provoca sensações e estímulos que permitem desenvolver realmente o lobito: através de um videojogo, uma criança pode desenvolver toda a destreza ao nível dos 10 dedos da mão, mas nunca ao nível das pernas como seria se de facto tivesse que saltar na realidade (que lhe permite ainda sentir coisas como a respiração acelerada, o bater do coração, o vento na cara ao correr, etc.). Para além disto, é neste contacto real com a Natureza que o lobito vai tomando consciência das suas características, apercebendo-se da sua fragilidade e da necessidade de a proteger de comportamento pouco ecológicos. De facto, o contacto com a Natureza só será pedagogicamente vantajoso se conseguirmos tomar consciência da forma como interferimos com o ambiente. Neste sentido, se soubermos a razão por que plantas e animais vivem em determinados locais e quais as suas características e hábitos poderemos ajudar a proteger a vida selvagem. Da mesma forma, se soubermos o que sucede a desperdícios como resíduos domésticos ou químicos industriais, podemos tomar medidas que ajudem a tornar a Terra mais limpa. Tendo em conta a curiosidade e energia tão próprias dos lobitos, compete ao dirigente ajudar os lobitos a desenvolverem-se através do ar livre, programando actividades que os estimulem a desvendar os segredos da Natureza, a descobrir a riqueza da interacção com ela e a adquirir consciência da sua responsabilidade ecológica. Assim, deve criar actividades de descoberta que proporcionem aos lobitos conhecimentos úteis e divertidos sobre as plantas e os animais da sua região, por exemplo, e incentivar os seus elementos a assumir comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza. Duas coisas não deve esquecer:

conhecer é muito importante, dado que só se pode amar e proteger aquilo que realmente se conhece;

Gonçalo Vieira

o exemplo é o melhor meio de educação.

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Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia: - Fazer a separação de lixos em Alcateia e incentivar o mesmo em casa de cada lobito (pode-se fazer um concurso sobre isto, por exemplo); - Reaproveitar objectos, reciclando-os (por exemplo, aproveitar materiais usados para prendas, construção de um pórtico num acampamento ou decoração do Covil); - Visitar centros de conservação da Natureza (neste âmbito, e porque vivemos em Alcateia, é de especial interesse saber como vive e podemos proteger o lobo ibérico); - Investigar a vida de alguns animais e plantas da sua região; - Realizar actividades de desenvolvimentos dos sentidos (por exemplo, distinguir diferentes cheiros de plantas, reconhecer árvores pelo toque, identificar alimentos variados pelo paladar, aprender a reconhecer o piar de várias aves, construir um herbário fotográfico, etc.); - Fazer uma reportagem fotográfica sobre comportamentos muito ou pouco ecológicos da comunidade em que o Agrupamento está inserido.

A Natureza como um clube Ao contactar com o meio natural, ao "brincar na Selva", pomos o lobito em contacto com uma parte de si próprio que não atinge através de palavras ou conceitos. De facto, quando falamos da Selva ao lobito, quando imaginariamente o colocamos lá e ele aprende a viver nela, conseguimos uni-lo ao seu "eu", ao seu subconsciente, tão importante como o seu próprio ser, tão precioso como a própria Vida. E é neste subconsciente que, através do contacto com a Natureza, o lobito vai começando a compreender algumas das suas características e aprende instintivamente como se organiza o mundo e como devemos viver em sociedade. A este nível, coisas tão simples como observar um formigueiro ou cuidar de uma planta permitem que o lobito compreenda que tudo na Natureza obedece a uma certa ordem e a regras que, quando não respeitadas, arrastam consigo a destruição. E, se isto acontece com os animais, também acontece com os homens. Por essa razão, a vida ao ar livre permite que o lobito aprenda também a estar com os outros e se habitue a relacionar-se positivamente com os seus pares, contando com eles para vencer desafios e dificuldades. É o começo da vivência em grupo, que tem muita importância a este nível: no ambiente de ar livre, a interacção com os pares promove a vontade de encontrar e conhecer coisas novas da realidade e potencia as descobertas. Assim sendo, a Natureza é um local cheio de novidades e surpresas que em muito favorece a vivência em grupo. Neste sentido, quando jogamos a "estar na Selva" com os lobitos, quando lhes contamos uma história dela, quando lhes descrevemos a Selva com todas as suas maravilhas e com todos os seus perigos, quando despertamos a sua imaginação a propósito de todos os seus recursos inacessíveis ou quando os levamos a investigar como é a vida natural,

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manualdodirigente saibamos que, ainda que não o compreendam, eles se sentem ligados tanto a uma dimensão pessoal, a eles próprios, como a uma dimensão universal, a um valor comum. Já não estamos a brincar: tocamos algo que tem valor de realidade, ensinamo-los a conhecerem-se e a conhecer os outros. A este nível, o dirigente deve promover actividades que ajudem os lobitos a compreender que também são responsáveis, a nível individual, pela conservação da Natureza e que o trabalho conjunto com os outros lobitos permite conhecer novas realidades e ultrapassar dificuldades, embora exija regras para ser proveitoso. Assim, deve criar actividades ao ar livre que levem os lobitos a descobrir como se organiza a Natureza, o que cada um pode fazer para a proteger e como se trabalha em grupo (mais especificamente, em Bando).

Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia: - Investigar como se organizam os animais, verificando como é a sua vida em comunidade (lobos, formigas, abelhas, elefantes, baleias, etc.); - Plantar uma árvore e cuidar dela em Bando; - Procurar, em Bando, soluções para resolver problemas ecológicos simples da sua comunidade (por exemplo, elaborar cartazes de sensibilização ecológica, investigar onde é que deveriam existir caixotes do lixo e informar as autoridades competentes, etc.); - Estimular boas práticas ambientais que demonstram respeito pela comunidade: não deitar papéis para o chão, separar os lixos, arrumar as suas coisas adequadamente, etc.; - Proteger pequenas árvores existentes no local de acampamento, para que não sejam destruídas (colocando, por exemplo, uma cerca de paus ou pedras à sua volta para formar um pequeno canteiro).

A Natureza como templo Para uma criança, é bem mais fácil compreender a sociedade através de uma história. No caso dos lobitos, e como já vimos, a Selva - o ar livre - é o símbolo de aventura e de mistério, o lugar onde existem animais selvagens, tesouros imensos, raças desconhecidas, lugares onde viveram os primeiros homens e onde ele gostaria de viver. Assim, quando levamos a criança a brincar na Natureza, a descobri-la, a conhecê-la, a respeitála, levamo-la a descobrir-se a si próprio, aos outros e também a Deus.

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manualdodirigente De facto, a vida ao ar livre constitui uma ocasião privilegiada para se implementar a Animação da Fé, na medida em que permite um contacto muito próximo com inúmeras maravilhas de Deus que os lobitos, donos de sensibilidade estética, conseguem perceber, respeitar e admirar. Neste sentido, é possível ajudar os lobitos a sentir que a Natureza, com toda a sua beleza, é um presente de Deus para os homens e que, sem ela, não seria possível viver neste planeta. Por essa razão, devemos não apenas agradecer ao Criador pela sua existência, mas também respeitá-la, amá-la e protegê-la. Neste âmbito, é importante também a figura de São Francisco de Assis, padroeiro dos lobitos e, porventura, o primeiro e um dos maiores ambientalistas da história da Humanidade. De facto, uma das características mais próprias de São Francisco é precisamente o seu amor pela Natureza e há várias histórias – como a do Lobo de Gúbio – que o atestam. De igual forma, os Pastorinhos de Fátima também podem ser evocados, sobretudo o pequeno Francisco, considerado muito sensível à Natureza e apaixonado por animais.

“A vida do Francisco contempla­tivo é apelo de almas contemplativas, almas que se deixem enamorar de Deus e mergulhem profunda­mente no seu mistério, almas que façam do silêncio o espaço vital das suas comunicações com Deus. Por elas, Deus torna-se presente no meio dos homens. Bem necessárias são essas almas, para que o deserto de Deus se torne oásis. O Francisco chama por elas. Era um encanto vê-lo sentado nos penedos mais altos a tocar o pífaro e a cantar: «Amo a Deus no Céu. Amo-O também na terra, amo o campo, as flores. Amo as ovelhas na serra.» Na Natureza sabia descobrir o rasto de Deus; por isso contemplava extasiado o lindo nascer e pôr do sol, o seu reflexo nas vidraças das janelas ou nas gotas de orvalho. Como Francisco de Assis, amava os passarinhos, porque são criaturas de Deus. Partia o pão para eles em pedacinhos pequenos, em cima dos penedos; chamava por eles: «Coitadinhos! Estão cheios de fome. Venham, venham comer.»” In Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta, Secretariado dos Pastorinhos

Perante tudo isto, o dirigente deve aproveitar todos os momentos vividos ao ar livre para, sempre que se propiciar, chamar a atenção para a beleza da Criação, presente de Deus. Note-se que, para o fazer, deve ele próprio ser sensível ao que vai encontrando em cada momento: uma pedra brilhante, um ninho com ovos, o som de um riacho, etc.. Tudo deve servir para ajudar o lobito a contemplar e respeitar a Natureza, a reconhecer Deus naquilo que o rodeia e a agradecer-Lhe pelo que criou.

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Sugestões de actividades a desenvolver em Alcateia: - Contar passagens da vida de São Francisco de Assis e dos Pastorinhos de Fátima onde há contacto e cuidado com a Natureza; - Incentivar uma oração espontânea sobre a Natureza; - Explorar o Cântico das Criaturas (ou Cântico do Irmão Sol, atribuído a São Francisco de Assis) através de um jogral, uma canção ou um cartaz construído pelos lobitos; - Elaborar jogos de contemplação da Natureza (procurar sinais de Deus na Natureza – coisas bonitas que vão encontrando, por exemplo; ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros uns para os outros ao acordar; observar as estrelas, uma noite; etc.).

Bibliografia: OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e Paula Almeida, Edições CNE. Ajuda a salvar o Mundo, Edições CNE. FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho. FRUTOS, José et. al., Sendas Ecológicas: para a descoberta do ambiente, Edições Salesianas. LONG, William J., Northern Trails, Boston: Ginn & Company, 1905, in http://ia331303.us.archive.org/0/items/northerntrailsso00longiala/northerntrailsso00longiala.pdf (em inglês) VÁRIOS, Os Bem-Aventurados Francisco e Jacinta. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2002. VELOSO, Tiago M. P., Francisco de Assis, Homem da Natureza. Braga: Universidade Católica Portuguesa, 2009. In http://www.passionista.org/livros/ecologia.pdf GONÇALVES, Joaquim C., 'S. Francisco de Assis e a ecologia.' In Dois mil anos: vidas e percursos. Lisboa, Edições Didaskalia, 2001: 159-180. http://www.servitasdefatima.org/Pages/Pastorinhos.aspx http://www.criancaenatureza.pt/scid/webnature/default.asp

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manualdodirigente C.3.2 A Vida na Natureza na Expedição A Natureza como um laboratório O contacto com a Natureza permite ao explorador conhecer o mundo que o rodeia e as consequências da acção do Homem sobre esse mundo. A Aventura deverá, nas suas acções (sejam ou não em campo), permitir que os exploradores façam essa descoberta. Neste sentido, as várias actividades a desenvolver ao longo da Aventura deverão levar o explorador a perceber que as suas acções têm impacto no mundo à sua volta e que se torna necessário reduzir as consequências nefastas para o meio ambiente, mesmo que isso acarrete maior trabalho ou leve mais tempo. Para além disto, o explorador deverá perceber que pequenos gestos repetidos muitas vezes poderão fazer a diferença e que cabe a cada um, a começar por si próprio, assumir essa responsabilidade com a nossa casa – o Planeta Terra.

Há um conjunto de actividades e comportamentos que podemos incentivar os exploradores a desenvolver. Eis alguns exemplos: 1. A Base – o ponto de partida Deverá ser na Base que começam a ser adquiridos os gestos que fazem a diferença na conservação da Natureza. Eis alguns desses gestos: - Criação e manutenção de um ecoponto na Base ou para todo o Agrupamento; - Redução do consumo de energia (usar lâmpadas economizadoras, abrir um estore ou persiana em vez de acender a luz, ter o cuidado de apagar a luz ao sair da Base, etc.); - Redução dos materiais usados, como por exemplo papel, reutilizando-o sempre que seja possível; - Recuperação de material – por exemplo arranjar uma tenda em vez de comprar uma tenda nova. 2. Actividades com impactos reduzidos As actividades ao ar livre levadas a cabo por escuteiros causam sempre impacto na Natureza. Preparar as actividades de forma a que o impacto seja o mais reduzido possível é uma forma de formar consciências preocupadas com o meio ambiente. Eis alguns dos cuidados que devemos ter em atenção: - Reduzir o lixo que levamos para um acampamento; - Separar o lixo; - Reduzir o consumo de água na cozinha, na lavagem da louça, nos banhos, etc.; - Escolher ementas que permitam reduzir o lixo produzido e a energia gasta; - Reduzir os danos causados na vegetação rasteira pelo pisoteio; - Minorar os efeitos da montagem do campo. 3. Conhecer para consciencializar Podem-se ainda programar actividades que contemplem visitas a um Centro de Triagem de Lixos, uma Quinta ou Horta Pedagógica, um Centro de Conservação da Natureza (Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, por exemplo), uma Reserva ou Parque Natural. Estas visitas são uma magnífica oportunidade para o explorador descobrir a Natureza, com os seus animais e plantas. E conhecer é o primeiro passo para amar…

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manualdodirigente A Natureza como um clube A Natureza é o ambiente próprio para que o explorador, em Patrulha, realize as suas actividades. A vida na Natureza não são só acampamentos, raides, jogos nocturnos e outros jogos: todo o tipo de actividades devem servir de motivo para sairmos da Base e procurarmos o ar livre. Estas actividades devem estar previstas na Aventura e serão, em muitos casos, a sua grande actividade. De facto, é na Natureza que os exploradores melhor desenvolvem as relações entre todos os elementos da Patrulha, já que é em campo que esta é constantemente colocada perante novos desafios. Para que estas actividades se possam realizar com sucesso, os exploradores, em Patrulha, deverão ter conhecimentos das técnicas que os ajudarão a desenvencilharem-se em campo. Neste sentido, técnicas como pioneirismo, campismo, orientação, cozinha, socorrismo, etc. devem ser praticadas de forma a que, quando chegar a grande actividade, esta seja uma festa e não um contínuo desenrolar de queixumes e lamentações. De entre todas as actividades ao ar livre que se podem proporcionar aos exploradores, o acampamento tem especial destaque. De facto, este continua a ser um dos maiores atractivos do Escutismo, como o próprio B.-P. sabia: “A parte mais agradável da vida do explorador é o acampar” (Palestra de Bivaque nº2 do “Escutismo para Rapazes”). Contudo, para que o acampamento se torne numa actividade marcante e educativa há que ter alguns cuidados (caso contrário a experiência poderá ser traumatizante). Assim, as Patrulhas deverão ser capazes de criar o mínimo conforto em campo, montando-o com um mínimo de condições de comodidade e segurança. Não se lhes exigem grandes construções: o que se pretende é que sejam capazes de montar a sua tenda e de construir uma mesa para todos, uma cozinha e o pórtico do campo da Patrulha. Estas serão as construções básicas para que possam viver durante os dias do acampamento com um mínimo de comodidade.

Para que as actividades decorram da melhor forma e ajudem a Patrulha a criar e desenvolver laços fortes de união, há algumas boas práticas que podemos desenvolver: 1. Preparação com antecedência Se na próxima grande actividade irá ser usada uma técnica que as Patrulhas ainda não dominam, devemse fazer algumas experiências numa actividade anterior, de forma a que haja algum treino que assegure o êxito na grande actividade que se vai desenrolar. 2. Existência de prémios Criar um clima de competição sadia é uma forma de levar as Patrulhas a um maior empenho na vida em campo. Neste âmbito, podem ser criados prémios como, por exemplo, “o melhor campo” ou “a melhor cozinha”. 144


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Acampamentos por Patrulha B.-P. diz-nos que “a Patrulha é sempre a unidade em Escutismo, quer para o trabalho quer para os jogos, para a disciplina ou para o dever” (Auxiliar do Chefe Escuta). Neste sentido, os acampamentos devem ser organizados por Patrulha, devendo cada uma ter o seu campo, com as suas tendas, a sua cozinha. Para além disto, todas as actividades em campo deverão ser efectuadas também por Patrulha: jogar, cozinhar, tomar as refeições ou lavar a louça devem ser momentos em que a Patrulha, estando junta, se torna mais unida e mais eficiente.

A Natureza como um templo

“A finalidade do estudo da Natureza é desenvolver a compreensão de Deus Criador, e incutir o sentido da beleza da Natureza.” B.-P., Girl Guiding

As actividades ao ar livre são uma excelente oportunidade para que os exploradores se sintam mais perto de Deus. De facto, a vida na Natureza dá muitas oportunidades para que o explorador se aperceba da obra maravilhosa da criação. Este é mais uma das razões pelas quais as actividades na Natureza devem estar presentes na Aventura. Nesta área, a Equipa de Animação terá de ter uma particular atenção na preparação e enriquecimento da Aventura. No entanto há oportunidades que não se preparam e, por isso, os dirigentes devem estar atentos a pormenores que possam passar despercebidos: a flor que nasceu no meio das pedras ou aquele pinheiro que teimou em crescer em cima de uma rocha, um céu estrelado ou um pôr-do-sol na praia, o regato que canta por entre as pedras ou o Sol que desponta no alto da montanha, o céu estrelado ou o Sol depois de uma chuvada, o pássaro que canta empoleirado numa árvore ou o esquilo que salta de ramo em ramo. Eis momentos que temos de saber aproveitar para aproximar o explorador do Criador.

Neste sentido, eis algumas sugestões que podemos pôr em prática: 1. Prática quotidiana da oração Em campo, o início de um jogo, a abertura ou encerramento do acampamento, as refeições, o fogo de conselho, tudo são momentos em que podemos e devemos louvar e dar graças a Deus. 2. Um ambiente especial leva a uma oração especial 145


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A oração não pode ser encarada como uma rotina ou obrigação. Assim, uma oração da noite enquanto se observa um céu estrelado ou uma oração da manhã no cimo de um monte, ao romper da aurora, são exemplos de como a Natureza pode ajudar a tornar diferentes estes momentos. 3. Os Ciclos da Natureza e as Festas Cristãs As grandes festas Cristãs (o Natal e a Páscoa) coincidem com pontos de viragem nos ciclos da Natureza. A partir do Natal os dias começam a crescer e na altura da Páscoa começa a Primavera e toda a Natureza se renova. Neste sentido, a linguagem da Natureza pode ajudar os exploradores a perceber os grandes acontecimentos do ano litúrgico.

Bibliografia: BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE. OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Edições CNE, 2004.

Gonçalo Vieira

WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.

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manualdodirigente C.3.3 A Vida na Natureza na Comunidade A Natureza como um laboratório A Comunidade dos pioneiros deve ter a preocupação de procurar ter no seu seio pessoas sensíveis à preservação do Planeta Terra e de todos os seus ecossistemas, especialmente dos que lhe são mais próximos e onde a sua acção possa ser mais bem aproveitada. De facto, pessoas sensíveis têm comportamentos diários de responsabilidade e coerência capazes de fazer a diferença e de inovar – como é timbre de todo o pioneiro. Não é difícil para um pioneiro perceber que o ambiente natural tem um manancial enorme de oportunidades através das quais ele pode crescer e saber mais sobre a razão de ser das coisas e do impacto das nossas acções. É fundamental, por isso, que todos os Empreendimentos da Comunidade, sejam capazes de acrescentar alguma coisa ao conhecimento da história natural e das ciências da Terra e da Vida – directa ou indirectamente. A observação e análise crítica da vida natural, a preservação de espécies e de ecossistemas, o estar em contacto com a Natureza em estado puro é, então, muito importante.

Boas práticas: - O Abrigo eco-responsável A primeira casa (os gregos chamavam-lhe oikos, que deu origem a eco, como em ecologia) da Comunidade dos pioneiros é o Abrigo. Fará, por isso, sentido que seja nele que se tomem as primeiras medidas de preservação do planeta. E haverá, certamente, muito a fazer: um uso responsável da energia, com a utilização de lâmpadas de baixo consumo, ou a possibilidade de recurso exclusivo a energias renováveis, a separação de lixos, o reaproveitamento de objectos e materiais como o papel (reciclagem) são apenas alguns exemplos. - O Acampamento de impacto mínimo Muitas vezes é angustiante observarmos o impacto que um acampamento de escuteiros – e especialmente de pioneiros – pode fazer no ecossistema onde, temporariamente, se instalou uma Equipa ou uma Comunidade. De facto, a madeira para as construções, os lixos, os ruídos, o fogo e os cozinhados podem parecer-nos coisa natural, mas a sua utilização descuidada pode fazer mossa em certos ambientes. Procurar fazer uma actividade com impacto mínimo pode constituir uma boa ideia (falamos de impacto mínimo, porque reconhecemos que haverá, sempre, algum impacto). Neste sentido, a compostagem de resíduos orgânicos, a drenagem e filtragem das águas de lavagem, a investigação e promoção de formas de cozinhar com menos impacto e a consciencialização da Comunidade são importantes.

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- Pensar global, agir local A observação e monitorização de um problema ambiental na área geográfica de implantação da Comunidade de pioneiros pode ser uma óptima oportunidade educativa para o progresso pessoal dos elementos, para a coesão da Comunidade e até para a afirmação do Escutismo na região. Neste âmbito, os pioneiros podem encontrar o problema, analisá-lo e procurar encontrar as razões que lhe deram origem e as acções que o podem minimizar ou extinguir. A sensibilização da população, de autarcas e de organismos para a partilha de responsabilidades pode ser um segundo passo para uma intervenção local. Assim, é possível que vários problemas ambientais sejam resolvidos graças aos jovens. - Observar é ver com a alma Conhecer o mundo que nos rodeia e o património natural da nossa terra também é conhecermo-nos a nós próprios. Assim, a visita a centros de investigação e conservação da Natureza e a reservas naturais – com a possibilidade de participar em acções de voluntariado em alguns deles, por exemplo – pode constituir, também, uma extraordinária oportunidade educativa. De facto, a observação de espécies em santuários naturais ou reservas ou a identificação e listagem de espécies animais e vegetais que coabitam connosco numa limitada área geográfica são actividades de que nenhum pioneiro pode prescindir. - Vários documentos: - Carta do índio Seattle Trata-se de uma resposta do chefe da tribo Duwamish ao Presidente dos Estados Unidos, que queria comprar as terras da sua comunidade. O texto terá sido escrito em 1854 e é também conhecido como ‘Manifesto da Terra-Mãe’. - O Papalagui Tuiavii, chefe da tribo Tiavéa, nos Mares do Sul, depois de ter visitado a Europa, explica aos seus conterrâneos os hábitos, usos e costumes do homem ocidental, a quem chama ‘Papalagui’ (branco, estrangeiro). O choque entre as duas culturas, nomeadamente no que toca à relação com a Natureza, é grande e Tuiavii descreve-o. O livro faz parte do Plano Nacional de Leitura para o terceiro ciclo do ensino básico. - Carta de Aalborg Este documento, assinado em 1994, em Aalborg, na Dinamarca, pelos representantes das cidades europeias, está relacionado com a sustentabilidade do planeta e é essencial para compreender a necessidade de promover comportamentos, a nível local, para a preservação do planeta. A Carta de Aalborg é a base para a Agenda 21 local, no seguimento do projecto de Agenda 21 das Nações Unidas.

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manualdodirigente Bibliografia: OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e Paula Almeida, Edições CNE. Ajuda a salvar o Mundo, Edições CNE. FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho. FRUTOS, José et. al., Sendas Ecológicas: para a descoberta do ambiente, Edições Salesianas.

A Natureza como um clube É no ambiente natural que o pioneiro tem mais oportunidades de inovar. A adaptação da Natureza às necessidades do homem foi das primeiras inovações humanas e marca, em todos os momentos, as características do ser pioneiro, que é 'o primeiro e o inovador'. Assim, é na Natureza que a Comunidade de pioneiros tem mais oportunidades de se mostrar capaz e de sonhar. Seja no acampamento, no raide, num bivaque ou numa descida de rio, a Natureza é o melhor palco para a Equipa viver o jogo escutista com intensidade e paixão. É por esta razão que todas as actividades e jogos escutistas têm uma componente feita em ambiente natural e ao ar livre, aproveitando as características de cada território em particular.

Boas práticas: - O livro dos locais a descobrir Tantas vezes, quando visitamos um qualquer local, vemos televisão ou conversamos com um amigo, dizemos: “Esse era um sítio espectacular para fazer uma actividade”. Contudo, muitas vezes a lembrança não passa disso mesmo. Será uma boa prática fazer o registo – por Equipa, Comunidade ou a título individual (o pioneiro ou o dirigente) – de todos estes locais que passam à nossa frente. Esse registo, em forma de livro, por exemplo, pode ter as seguintes indicações: nome do local, sua indicação geográfica ou de GPS, tipo de actividades que melhor se lhe adequam, contactos a estabelecer para lá poder desenvolver a actividade, transportes que o servem, etc. Assim, sempre que houver necessidade de escolher um local, em fase de preparação do empreendimento, já está ‘meio caminho andado’ e nunca faltarão ideias. - A noite como a melhor parte do dia A Natureza que nos rodeia toma novas formas na noite. Os nossos olhos começam por não distinguir nada no breu da noite, mas depressa se adaptam e, depois, é a luz que cega. A realização de raides nocturnos ou mesmo de grandes jogos (de estratégia, por exemplo) que se prolongam noite dentro é uma óptima oportunidade para a adequação da Equipa a uma realidade nova e eventualmente hostil. De facto, é uma possibilidade para o cenário do desafio ganhar novas formas, dar mais adrenalina e unir mais a Equipa, que fica mais vulnerável pela limitação da visão. Incentivar os pioneiros a organizar jogos nocturnos arrojados e interessantes é, por isso, uma oportunidade a não perder. Do mesmo modo a realização de raides nocturnos cuidados e bem enquadrados é uma boa ideia para dar coesão às Equipas, por exemplo. 149


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- Vários documentos: - “O Deus das Moscas”, de William Golding Trata-se de um romance que pode ferir susceptibilidades. Sugerimo-lo aqui para leitura dos adultos e não dos pioneiros. Nesta obra, o autor ensaia a brutalidade de um grupo de crianças numa selva, focando a sua luta pela sobrevivência sem adultos e, logo, talvez por isso, sem códigos morais. - Livros de memórias e biografias de grandes pioneiros A vida de grandes pioneiros e da sua luta pela mudança e pela transformação pode motivar a Comunidade dos pioneiros a desenvolver imaginários arrojados nas suas actividades, havendo sempre uma ligação com a Natureza e com o espaço que esse herói tentou dominar. - Guias turísticos e de divulgação As revistas e outras publicações divulgam, com frequência, guias com locais naturais do nosso país que classificam como maravilhas ou espaços a não perder. Muitas vezes sugerem até a realização de percursos pedestres ou de exploração de alguns territórios. Coleccionar esses guias e tê-los no Abrigo ou em local acessível aos pioneiros pode ser um importante atractivo para a realização de actividades em locais novos e com grande valia pedagógica.

Bibliografia: OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e Paula Almeida, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Mil e uma actividades para escuteiros, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE.

A Natureza como um templo “O estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”. A frase é de B.-P. e mostra bem o que, para o nosso fundador, é a atitude que o pioneiro deve ter para com a Natureza: uma atitude de estudo e de observação, no sentido da compreensão, da contemplação e do deleite. Muitas vezes não há grande necessidade de proferir ardentes palavras de oração, quando o silêncio, o espanto e o sorriso de um pioneiro, perante uma paisagem exuberante, se fazem sentir. Ao dirigente cabe saber o momento em que pode intervir no sentido de sensibilizar os pioneiros para o que os rodeia e para mostrar a graça de Deus nos pequenos sinais que nos deixa no caminho.

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Boas práticas: - Oração de contemplação As maravilhas e a beleza (ou não) do que a Natureza oferece são uma oportunidade educativa – que não se ensaia e que depende muito da sensibilidade do próprio dirigente -que se pode aproveitar para incentivar os pioneiros a agradecer a Deus. Seja a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do sol (no fundo aquilo que torna especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja), tudo pode ser utilizado. Quando, num raide, os pioneiros chegaram ao cume de uma montanha, podemos incentivá-los a contemplar e agradecer. Não se diz com isto que o dirigente deve acompanhar os pioneiros em todos os momentos de um raide. Contudo, no material que produz – mensagens, caderno de caça, etc. – é conveniente deixar sempre um convite à contemplação e louvor a Deus. - Os ciclos e Deus Em Portugal, o Sol nasce e põe-se todos os dias. A Lua tem ciclos mensais de que muitas vezes não damos conta, mas nos acompanham, influenciando-nos e influenciando a Natureza. Procurar admirar estes fenómenos, em contexto de actividade escutista, e aproveitá-los para criar momentos de espiritualidade no meio do quotidiano ou para fazer uma oração da manhã ou da noite, por exemplo, pode ser interessante e uma boa oportunidade pedagógica de crescimento.

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- Documento: A vida de São Francisco de Assis São Francisco de Assis é considerado, por muitos, como o primeiro ecologista. São-lhe atribuídos textos fantásticos de louvor a Deus, como o “Cântico das Criaturas”, por exemplo. A sua vida é, provavelmente, o melhor e maior testemunho do que pode ser uma atitude contemplativa da Natureza.

Bibliografia: OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Tradução portuguesa e adaptação Ana Luísa Ramos e Paula Almeida, Edições CNE.

Gonçalo Vieira

A Pedagogia da Fé no Escutismo, Edições CNE.

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manualdodirigente C.3.4 A Vida na Natureza no Clã A vida ao ar livre é uma das vertentes que mais identifica o escutismo e a vivência na IV secção não escapa a esta característica. Aliás, B.-P. disse-nos que os caminheiros eram a fraternidade do Ar Livre e do Serviço. De facto, para o fundador, o contacto com a Natureza tinha que fazer parte da formação de jovens saudáveis e felizes. E, na verdade, todos os caminheiros que experimentam este contacto, desenvolvendo as suas actividades na Natureza, sabem o quanto é especial esta vivência: ela fá-los sentir pequenos perante a obra de Deus, mas gigantes por fazerem parte desta maravilha em que nada foi deixado ao acaso.

A Natureza como um laboratório: a consciência ambiental No contexto actual da Humanidade, as preocupações ambientais são uma constante do dia-a-dia. De facto, a consciência ambiental dos jovens tem aumentado ao longo dos anos e hoje temos, sem dúvida, pessoas muito mais atentas ao que se passa em seu redor e que estão conscientes de que vivemos num planeta frágil e delicado cujos recursos naturais são finitos. Neste âmbito, não é apenas fundamental que todos, sem excepção, estejam alerta para esta realidade: é igualmente importante que se disponham a fazer a sua parte para deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraram.Assim, não se espera que os caminheiros tenham apenas uma atitude de respeito para com a Obra da Criação. Observando a Lei – nomeadamente o artigo “O Escuta protege as plantas e os animais” –, espera-se que manifestem a atitude proactiva de tentar perceber os ecossistemas, de procurar saber o que fazer, de ajudar a educar as gerações mais novas e de demonstrar comportamentos adequados, de modo a diminuir a pegada ecológica de cada um. Note-se que a Equipa de Animação deve ter consciência de que é exemplo, pelo que é a ela que compete, em primeiro lugar, demonstrar comportamentos equilibrados (como implementar medidas de redução de energia, de vigilância a nível do impacto ambiental, etc.). De facto, não basta mostrar e promover o que se deve fazer: é preciso viver isso com os caminheiros.

Não se é caminheiro apenas quando se está em actividade, por isso pode-se fazer muita coisa, todos os dias, para melhorar a vida do planeta e para adquirir consciência de que é preciso contribuir para isso. Assim, a nível individual, pode-se: - Preferir transportes públicos e combinar boleias, sempre que possível, em vez de cada um levar o seu 153


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carro vazio; - Minimizar o uso de sacos de plástico; - Reduzir o consumo de água; - Utilizar lâmpadas económicas; - Desligar aparelhos eléctricos e lâmpadas quando possível; - Reciclar, reduzir e reutilizar; -.. … E na vida em Clã? - Utilizar lâmpadas económicas no Albergue; - Promover a decoração do espaço do Albergue com materiais biodegradáveis e reciclados; - Fazer a separação de lixos nas actividades; - Reduzir o consumo de água nas actividades; - Criar um código de conduta para as actividades, onde, por exemplo, se refere como é que os caminheiros se vão comportar em relação ao lixo, barulho, impacto no local, fogo, águas de lavagens, etc.; - Incentivar a existência de preocupações ambientais no PPV; - Conhecer as áreas protegidas do nosso país, que fazem parte no nosso património natural;

Oportunidades escutistas para a IV secção desenvolver esta Maravilha: - Insígnia Mundial de Conservação da Natureza - Programa Scouts of the World

A Natureza como um clube: fraternidade e oportunidade de crescimento Nas actividades ao ar livre, o conforto a que os caminheiros estão habituados desaparece… A cama é dura, faz frio e calor, chove, é preciso andar a pé, há quem ache que se perdeu, o caminho é íngreme, é preciso montar e desmontar, falta água, a comida não é suficiente, etc.

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Perante isto, e com o cansaço acumulado, é fácil surgirem discussões. Contudo, é mais comum todos estes obstáculos abrirem a mente e ajudarem o grupo a sentir-se mais unido e coeso, dado que o esforço em conjunto ajuda a perceber que, se todos trabalharem para o mesmo, é mais fácil alcançar os objectivos propostos. Esta é a razão pela qual o


manualdodirigente jogo escutista, vivido ao ar livre,é uma escola de vida. De facto, é óptimo para a coesão das Tribos e para a vida do Clã e este benefício é reconhecido até por quem não é escuteiro: não é à toa que as grandes empresas recorrem a práticas “outdoor” para reforçar a coesão entre as equipas dos seus colaboradores. Note-se que não são só os objectivos a atingir ou as dificuldades que unem as pessoas: acima de tudo, é o próprio contexto – a Natureza – que incentiva a coesão. De facto, quando só se leva o essencial na mochila, é necessário contar com os outros e unir esforços para arranjar estratégias, poder seguir caminho e atingir os objectivos de cada um e da Tribo. Assim sendo, todas as situações que surgem fomentam a criatividade e a união do grupo.

As actividades ao ar livre acabam por ser uma metáfora da vida: - É preciso esforço e perseverança para se conseguir o que se quer. - É mais fácil progredir quando se avança em conjunto. - Caminhar sozinho é sempre mais duro. - Não é necessário muito mais na vida do que o essencial para sobreviver e amigos que façam o caminho connosco.

Neste âmbito, a Equipa de Animação deve orientar o Clã nas actividades ao ar livre, sobretudo para que nestas se promova a coesão e haja segurança. É também importante que os Dirigentes vivam estas actividades: o ar livre não é só uma coisa para caminheiros, deve ser partilhado com os seus irmãos mais velhos. No entanto, este acompanhamento deve salvaguardar sempre o espaço da Tribo e do Clã, pois os caminheiros também precisam de estar sozinhos com os seus pares.

Eis algumas sugestões: - As Tribos podem preparar momentos diferentes das actividades, para poderem surpreender os outros caminheiros. - Deve existir a preocupação de conhecer os locais onde as actividades vão decorrer, para que se possa prever o melhor possível o que vai acontecer e proceder às adaptações necessárias. - A Equipa de Animação deve ser capaz de proporcionar, no jogo escutista e em contacto com a Natureza, momentos capazes de contribuir para a coesão das Tribos e do Clã. 155


manualdodirigente A Natureza como um templo: a vivência espiritual

O estudo da Natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior. Última Mensagem de B.-P.

Uma das coisas mais importantes que a vida ao ar livre proporciona é o encontro com o nosso ser mais íntimo e a proximidade com toda a obra de Deus, que acaba por nos deixar mais próximos Dele. Assim, e embora a vida ao ar livre seja a marca do escutismo, ela é, acima de tudo, um meio privilegiado de estar com Deus, cuja presença se encontra em cada flor, na água corrente, numa borboleta, num prado, nas montanhas, etc. Um momento propício para este encontro é a noite: quando se está na Natureza, ela acaba por ter um impacto diferente e pode ser aproveitada de modo a proporcionar momentos de convívio, reflexão, de avaliação e até de relaxamento. De facto, quem nunca sentiu especial ao olhar o céu estrelado? Quem não fez as sua reflexões mais profundas em redor de uma fogueira? Quem nunca se sentiu mais acompanhado do que nunca, mesmo quando estava sozinho numa caminhada nocturna? Neste âmbito, o Fogo de Conselho é um momento sempre especial. E, quando se desenrola só com caminheiros, pode ser interessante fazê-lo de modo mais espontâneo, de forma a que os sentimentos e emoções venham ao de cima e se selem amizades. Para além disto, é importante incentivar os caminheiros a contactar frequentemente com a Natureza, proporcionando-lhes momentos de simbiose com toda a obra de Deus, para que se sintam parte integrante da obra da Criação.

Neste sentido, pode-se: - Iniciar a actividade durante a noite, com uma pequena caminhada e algumas reflexões que preparem o dia seguinte. - Pernoitar num locar e ver como ele parece diferente no outro dia de manhã. - Procurar que o Fogo de Conselho seja um espaço de conversa, reflexão e avaliação. - Preparar momentos de oração que explorem a noite e os seus elementos. - Chamar a atenção dos seus caminheiros para a beleza de cada paisagem, colocando-os em sintonia com Deus Criador. Bibliografia: http://portal.icnb.pt www.quercus.pt www.lpn.pt OPIE, Frank, Escuteiro Global: Um Escutismo para a Natureza e Ambiente. Edições CNE, 2004.

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WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo. Edições CNE, 1990.


Região de Portalegre e Castelo Branco

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C.4

Aprender fazendo

C.4.0 Valor pedagógico do «Aprender Fazendo» A 'Educação pela Acção' é uma das características do Método Escutista. Poderia, até, dizer-se que – ao contrário da Educação formal que é ministrada nas escolas e apoiada por outros agentes de Educação – o Escutismo fornece ao escuteiro as ferramentas para que o jovem possa formar-se, auto-educar-se, no sentido de se tornar um membro activo e responsável na sua comunidade. Apesar de o exemplo ser aquilo a que B.-P. chamou “a única forma de educar”, isto não significa que ele eduque apenas através da explicação teórica de “como é que se deve fazer” ou do “ver fazer”. Pelo contrário, no Escutismo, para aprender é necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico e activo e o exemplo dos dirigentes deve estar impregnado deste dinamismo. Desde sempre, então, que o Aprender Fazendo reflecte a visão do Escutismo como método educativo activo para crianças e jovens. Estes possuem, naturalmente, desejo de aventuras, de desafios e de acção e as actividades escutistas devem conter oportunidades de satisfazer esses anseios, permitindo-lhes descobrir, experimentar e explorar novos mundos, com vista ao seu próprio desenvolvimento. Através do Aprender Fazendo, a criança ou jovem vai progressivamente experimentando, sentindo, vivendo novas formas de fazer, pondo “as mãos na massa”. Isto significa que não se limita a ver ou ouvir de forma passiva, mas é chamado a ser sempre um elemento activo e dinâmico da sua aprendizagem. Ao longo deste processo, vai adquirindo progressivamente maior autonomia no desempenho das suas tarefas, tornando-se cada vez mais agente activo da construção dos seus próprios conhecimentos e capacidades.

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manualdodirigente Esta 'Educação pela Acção' deve-se fazer em todos os momentos que a experiência escutista proporciona: reuniões semanais, actividades de campo ou de sede, acampamentos, jogos diversos, encontros de Núcleo, de Região ou nacionais. Para além disto, acontece não só na hora da acção, mas desde o início, na própria preparação das actividades, e atendendo ao grau de autonomia de cada um. Neste âmbito, com a correcta aplicação do Aprender Fazendo, a criança ou jovem envolve-se verdadeiramente na realização das tarefas e projectos, assume responsabilidades e desempenha diferentes papéis, percebendo assim o sentido das coisas que foi aprendendo. Desta forma não se centra apenas no desenvolvimento de habilidades mais práticas ou 'manuais', o que possibilita a descoberta de facetas da sua personalidade que, de outra maneira, poderia até não vir a descobrir. Este elemento do método preconiza, assim, a adopção de uma atitude activa da criança e do jovem relativamente a tudo aquilo que lhe diga respeito ao longo da vida, relacionando-se com a constante descoberta das capacidades próprias em diferentes contextos e a sua correcta utilização em prol de si mesmo e da sua comunidade. O próprio fundador do Movimento Escutista, Baden-Powell, refere que as crianças querem fazer coisas e, como tal, a aprendizagem activa deve ser encorajada. No entanto é importante que lhes seja permitido cometer erros pois, desta forma, vão adquirindo experiência. De facto, convém lembrarmo-nos de que 'quem nunca errou, nunca fez nada!'

I. O valor do jogo Esta forma de aprender, eminentemente prática, activa, pressupõe o uso intensivo do jogo, olhado aqui como espaço de descoberta das capacidades individuais, de expressão da criatividade e de consciencialização do papel que cada um deve individualmente desempenhar para ajudar ao sucesso colectivo do seu pequeno grupo. Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. De facto, o ser humano é um ser lúdico, que espontaneamente se organiza para jogar a qualquer coisa, desde o mais simples ao mais elaborado e complexo jogo. Neste âmbito, para concretizar a sua intenção educativa, o Escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no dinamismo natural das crianças e jovens, que, neste gosto pelo jogo, descobrem espontaneamente a necessidade de se organizar, de criar e respeitar regras sociais, de colaborar entre si e de interiorizar os valores do grupo O chamado 'jogo social espontâneo' estimula o desenvolvimento do ser humano, na medida em que o ajuda a progredir a nível pessoal e social: quando bem utilizado, permite descobrir os talentos de cada um; desenvolve capacidades individuais como a imaginação, a destreza, a flexibilidade, a orientação, a capacidade estratégica, etc.; apura os sentidos e a concentração; ajuda a entender a necessidade de cumprir regras; permite desenvolver o espírito de grupo, o respeito pelo outro e a auto-confiança; etc. Este tipo de jogo tem características específicas: pode desenrolar-se à volta de um imaginário, respondendo a sonhos, a aspirações (os médicos, os polícias e ladrões, etc.); tem sempre uma acção e um espaço (a rua, a natureza, um pátio); exige a participação de um grupo (por isso se chama 'jogo social'); tem papéis (as tarefas dos vários jogadores) e regras definidas.

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manualdodirigente Ao observar estas características, Baden-Powell compreendeu que o jogo era uma excelente ferramenta pedagógica e adoptou-o como base do trabalho. Deu origem, assim, ao 'jogo escutista', composto também ele por elementos essenciais: Imaginário: deve ter sempre uma história, baseada na Mística e Imaginário de cada secção ou em imaginários específicos dos projectos que se vão realizando (os índios, os exploradores, etc.); Acção: implica sempre uma actividade cujas características devem ser pensadas e preparadas – é o caso do projecto da secção: Caçada, Aventura, Empreendimento, Caminhada; Espaço: deve ser vivido essencialmente ao ar livre, na Natureza, podendo também desenrolar-se no espaço da sede ou da comunidade envolvente; Grupo: desenrola-se essencialmente à volta dos pequenos grupos de cada secção (Bandos, Patrulhas, Equipas, Tribos), que devem ser respeitados, pois são a base da aprendizagem do trabalho em grupo; Regras: para além das regras específicas do jogo, baseia-se sempre no estrito cumprimento da Lei (que se juntam os Princípios, Máximas dos lobitos e Promessa), interiorizada, aprofundada e enriquecida com novas regras, de actividade em actividade; Papéis: exige que cada elemento tenha uma tarefa específica que é da sua responsabilidade (por exemplo, os cargos e funções – guia, cozinheiro, secretário, etc.).

“Assim, ajudada pelo dirigente, a criança/jovem graças ao jogo irá aderir livremente a novas regras, viver a experiência insubstituível da criação de uma comunidade onde cada um tem o seu lugar e deve respeitar os outros; onde explora o mundo que a rodeia conseguindo a pouco e pouco a construção de um espaço simbólico interior, necessário à elaboração do pensamento.” Baden-Powell hoje

Todos estes elementos ajudam o dirigente a educar melhor os seus elementos. De facto, o jogo escutista permite desenvolver, em cada um, por exemplo, a cidadania, a solidariedade e a responsabilidade. De facto, através dele cada elemento exercita as capacidades necessárias ao seu desenvolvimento integral (autodisciplina, vida em sociedade, afectividade, criatividade, valores morais, espírito de equipa, etc.) e é levado a compreender que o bem-estar do grupo depende do cumprimento das tarefas individuais e do respeito pelas normas, fazendo-o perceber que estamos inseridos numa sociedade em que todos têm direitos e deveres e que a partilha e a entreajuda são essenciais.

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É absolutamente essencial que, na utilização do jogo escutista, as regras estejam previamente definidas e sejam conhecidas por todos. Para além disto, é imprescindível que, depois, as actividades realizadas sejam avaliadas e contabilizadas a nível do progresso efectuado. Só assim se ajuda cada elemento a tomar consciência do caminho que trilhou, dos progressos que fez e do que ainda necessita desenvolver.

II. Actividades de secção “As actividades são a parte mais visível do Programa; representam o que os jovens fazem no Escutismo.” Baden-Powell

No Movimento escutista, os jovens aprendem fazendo e não apenas de forma teórica ou por verem o adulto fazer. A aprendizagem pela acção permite uma aprendizagem por descobertas, de forma activa e gradualmente mais responsável, fazendo com que os conhecimentos, competências e atitudes se interiorizem se forma natural. Assim, de alguma maneira, os jovens auto-educam-se. De facto, quando um escuteiro vai acampar e tem de construir as infra-estruturas do seu campo, está a passar para o campo do real o que aprendeu e treinou uma tarde na sede. Da mesma forma, quando escolhe os projectos que gostaria de realizar e se envolve na sua realização, consegue perceber a utilidade do que vai aprendendo (o que o motiva para aprender mais), desenvolver as suas capacidades e descobrir habilidades e gostos que, de outro modo, provavelmente não descobriria. Está, assim, a aprender pela acção. As actividades são o meio privilegiado para alcançar essa aprendizagem. Segundo a WOSM (documentação RAP), são “um conjunto de experiências que proporciona a cada jovem a oportunidade de adquirir conhecimentos, competências e atitudes que o/a levam a atingir um ou mais objectivos educativos estabelecidos.” Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é absolutamente fundamental ter em atenção o seguinte: As actividades têm de ser programadas, seleccionadas e desenvolvidas de forma adequada. Uma actividade bem projectada, com sentido, com objectivos bem definidos e com empenhada participação de todos os intervenientes é sempre uma maravilhosa oportunidade de crescimento individual e colectivo, mesmo que as coisas não corram bem. A falta de programação e organização, nas actividades, torna as actividades fracas: têm pouco conteúdo e qualidade, são confusas e provocam facilmente a desmotivação dos elementos.

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É importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a seguir um padrão na sua forma de realização. Não podemos deixar que a rotina se instale e constitua uma “pedra na engrenagem”, já que, se isto acontecer, as actividades podem perder o seu valor educativo e o seu interesse por parte dos nossos jovens escuteiros. Por esta razão, é necessário, de tempos a tempos, ir introduzindo variações, questionarmo--nos se não poderemos melhorar as actividades ou projectar novas componentes que as tornem mais atractivas.

Cada grupo tem as suas actividades específicas, que podem variar de secção para secção ou em termos de tempo, espaço ou grau de autonomia e desenvolvimento dos elementos. De facto, um acampamento de lobitos não pode ter os mesmos tempos de um acampamento de pioneiros. Já um raide de caminheiros, por exemplo, permite um grau de autonomia maior por parte das tribos do que um de exploradores. É importante, a este nível, que a Equipa de Animação tenha consciência das características da secção que lidera e das especificidades do grupo, para que todas as actividades realizadas sejam adequadas e contribuam, de facto, para o crescimento de cada elemento.

III. O método do Projecto Entre as actividades típicas de cada secção, encontramos uma grande actividade que, pela necessidade de planeamento, organização e valor educativo necessita de ser explorada com mais detalhe. Falamos do Projecto, cuja metodologia é aplicada em todas se secções.

1. Pedagogia do Projecto Quando alguém, certo dia, terá perguntado a B.-P. o que deveria fazer com os rapazes, o velho general terá respondido: “Pergunta-lhes!” (“Ask the boy”). Esta é, até hoje, uma frase idiomática, um mote, uma inspiração para o dirigente, no trabalho que lhe compete a nível do “Aprender Fazendo”.

O que é um Projecto? É um conjunto determinado de acções inter-relacionadas que se planeiam e implementam com vista a atingir um objectivo específico num determinado prazo. No Escutismo, é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um objectivo comum.

Um projecto escutista: É um desafio colectivo;

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manualdodirigente Tem uma meta clara e um horizonte temporal; Envolve 4 fases principais; Está baseado no uso do Método Escutista; Incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem; Tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas; Inclui objectivos individuais e de grupo; Procura que cada elemento do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo se comprometa em atingir objectivos adequados à sua idade através de esforço pessoal.

2. Valor educativo do Método do Projecto Desenvolve a capacidade de dialogar e trabalhar em cooperação com outros. Contribui para garantir a genuína participação dos elementos nas decisões que lhes dizem respeito, ajudando-os a exercitar a comunicação, a cooperação e a manifestação activa das opiniões. Desenvolve a responsabilidade. Permite compreender o valor de atingir objectivos, tendo, portanto, um efeito motivador. Permite a descoberta de talentos ou a sua busca. Permite treinar competências de diversa ordem. Cria hábitos de funcionamento “em projecto”, úteis para a vida contemporânea.

3. As Fases do Projecto 1ª Fase: Idealização e Escolha Nesta fase, realizam-se as seguintes actividades pela ordem apresentada: 1- Motivação/orientação prévia levada a cabo no Conselho de Guias; 2- Desenvolvimento de uma ideia em Bando/Patrulha/Equipa/Tribo (este é um espaço privilegiado para a participação e criatividade); 3- Apresentação criativa dos projectos preparados por cada Bando/ Patrulha/ Equipa/ Tribo no Conselho de Alcateia/ Expedição/ Comunidade/ Clã; 4- Escolha, de forma democrática, de um dos projectos idealizados.

2ª Fase: Preparação Após a escolha, o projecto é depois enriquecido pelo Conselho de Guias. Este enriquecimento deve conter o seguinte:

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Análise da actividade na sua globalidade, para definir: Que aspectos devem ser reforçados no projecto; Que outros objectivos se podem incluir; Que aspectos operacionais merecem especial atenção; Que se pode incluir dos projectos das outras Patrulhas que não foram aceites


manualdodirigente Análise dos objectivos propostos, para verificar: Que objectivos concretos se querem atingir; Que actividades se pode sugerir que sejam adicionadas; Verificação dos valores escutistas presentes na actividade, em especial: Que dimensões educativas se querem trabalhar com cada acção definida; Onde estão presentes os elementos do Método Escutista; Exploração, até ao limite possível, do progresso individual, verificando: Que objectivos educativos de secção podem ser trabalhados. De seguida, em Bando/Patrulha/Equipa/Tribo (ou ainda em Conselho de Guias), preparam-se as diversas actividades relacionadas com o projecto. Estas actividades, que incluem, por exemplo, ateliers, tarefas e missões, responsabilidades, contactos e recursos de diversos tipos (Humanos, Financeiros, Materiais, etc.) são depois calendarizadas e anotadas no Painel do Projecto que deve ser colocado num local bem visível.

É dever do Dirigente orientar e não substituir os seus escuteiros na planificação de actividades e na realização e tarefas. Só assim permite que o escuteiro seja o principal motor da sua educação. É preciso não esquecer, então, que educamos para a autonomia. Por isso, é necessário que, mantendo-nos vigilantes e atentos, eduquemos com autonomia.

3ª Fase: Realização Nesta fase é a altura de viver o projecto e deve ser feito tudo o que foi preparado: acções, acampamentos, jogos, visitas, construções, actividades artísticas (como cantar e representar).

4ª Fase: Avaliação Esta é uma fase importantíssima, em que se procura “extrair o sumo” ao que se viveu. Deve ser feita: Pelo Conselho de Guias; Pela Alcateia/Expedição/Comunidade/Clã; Pelos Bandos/Patrulhas/Equipas/Tribos. Consiste na análise do que foi realizado, procurando perceber como correram as diversas actividades e o que se atingiu, em termos educativos (o que se adquiriu). Deve ainda contemplar os seguintes aspectos essenciais: Deve ser feita em vários momentos – 'a quente' (logo no fim do projecto) e algum tempo mais tarde (para proporcionar uma reflexão mais detalhada e menos emotiva);

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manualdodirigente Deve ser feita de forma criativa, para que todos se sintam motivados em participar; Deve avaliar várias coisas:O que correu bem? Que erros se cometeram? Que objectivos não se alcançaram? Porquê? Que fazer para que esses aspectos menos positivos sejam ultrapassados na próxima Aventura? Que sugestões para o futuro (para os projectos seguintes, para os próximos objectivos educativos a atingir, etc.)?; Deve reconhecer o progresso feito a nível do alcance de objectivos educativos e insígnias de especialidade.

1ª Fase: IDEALIZAÇÃO E ESCOLHA

2ª Fase: PREPARAÇÃO

Motivar e orientar através do Conselho de Guias.

Organizar, planificar e enriquecer o Projecto em Conselho de Guias.

Viver o projecto através da realização das actividades programadas.

Reunir em Bandos/ Patrulhas/ Equipas/ Tribos para definir e distribuir tarefas individuais e colectivas.

À medida que as actividades vão sendo desenvolvidas, o Painel do Projecto deve ser enriquecido no Covil/ Base/ Abrigo/ Albergue.

Preparar um projecto de Bando/ Patrulha/ Equipa/ Tribo: - Reunir as ideias individuais. - Escolher um tema e imaginário sugestivo e cativante; - Definir o que se quer fazer, como, porquê e onde. Apresentar o projecto em Conselho de Alcateia/ Expedição/ Comunidade/ Clã: Apresentação original e criativa - cartazes, canções, peças de teatro, fotografias, mapas, postais. Eleger o projecto (pelo Conselho de Alcateia/ Expedição/ Comunidade/ Clã).

Elaborar o Painel do Projecto, que deve ser afixado no Covil/ Base/ Abrigo/ Albergue. A Equipa de Animação acompanha o projecto e aconselha sempre que achar necessário (conforme a secção, a Equipa de animação é mais ou menos interventiva).

3ª Fase: REALIZAÇÃO

A Equipa de Animação: - motiva a Alcateia/ Expedição/ Comunidade/ Clã; - vive a Caçada/ Aventura/ Empreendimento/ Caminhada; - soluciona ou ajuda a solucionar imprevistos (conforme a secção).

4ª Fase: AVALIAÇÃO

Celebrar o final do Projecto, analisando o que sucedeu. Avaliar o Projecto: Avaliação global pelos Conselhos de Guias e de Alcateia/Expedição/ Comunidade/Clã e ainda pelos Bandos/Patrulhas/Equipas/ Tribos. Esta avaliação deve conter: - propostas de alteração/correcção do que correu menos bem; - verificação dos objectivos alcançados a nível do projecto e a nível do progresso pessoal; - verificação dos níveis de participação. Reconhecimento do progresso a nível dos objectivos educativos e das especialidades. A Equipa de Animação (em conjunto com os elementos): - lança pontos para debate; - faz o balanço do Projecto e objectivos alcançados; - analisa os CCA.

Bibliografia: BADEN-POWELL, Robert, Auxiliar do Chefe-Escuta, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para Escuteiros, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell hoje – Pistas para um Educador no Escutismo, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE. WIERTSEMA, Huberta, 100 Jogos de Movimento. Porto: Edições ASA, 2003. SEQUEIRA, Luís e DINIS, Alfredo O., Vamos Jogar – Manual de Jogos. Braga: Editorial A.O., 1989.

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manualdodirigente C.4.1 Formas de Aprender Fazendo na Alcateia Os lobitos, pela idade que têm, são ávidos de histórias, de novas descobertas e brincadeiras. De facto, duas das características fundamentais das crianças na idade dos lobitos são a imaginação e o gosto pelo jogo, dois elementos fundamentais nas actividades escutistas. Qualquer actividade é um meio privilegiado para trabalhar o 'aprender fazendo', na medida em que é através delas que se conseguem criar diferentes situações que permitem aprender e aprofundar as experiências. Nesse sentido, é muito importante que tudo o que se faz na Alcateia seja programado, seleccionado e desenvolvido de forma adequada. De facto, o improviso – a que normalmente chamamos preparar actividades “em cima do joelho” – não é uma boa solução, na medida em que este tipo de preparação conduz à falta de materiais importantes, a confusões a propósito do que se vai fazer ou a atrasos e tempos mortos, por exemplo. Por outro lado, há que ter em atenção que a imaginação é uma das grandes responsáveis pelo sucesso de uma actividade. Assim, é responsabilidade da Equipa de Animação não deixar esmorecer o entusiasmo. De facto, o lobito, na sua sede de aprender, passa rapidamente de um interesse para outro, não conseguindo estar muito tempo a fazer a mesma coisa (se tal acontecer, corre-se o risco de ele nada fazer ou de não fazer senão metade, porque se aborrece). Por tudo isto, é fundamental que a Equipa de Animação prepare actividades variadas e estimulantes e as viva com entusiasmo e empenho, encarnando verdadeiramente o espírito da Selva. Para além disto, é importante que vá introduzindo inovações, sobretudo em actividades repetitivas: elas permitem a fuga à rotina e mantêm aceso o interesse e a vontade de aprender dos lobitos.

A Equipa de Animação deve organizar as actividades de acordo com as características psicológicas e gostos dos lobitos, formulando os objectivos do ano e programando as actividades por trimestres. Esta planificação deve ser maleável, para poder sofrer os ajustes necessários. Ao planificar o ano, a Chefia deverá pensar no seguinte: - O Quê? Definição dos grandes objectivos para a Unidade. - Quando? Em que época (por exemplo, Natal, Carnaval, Páscoa, Verão...) - Quem? Pensar nos elementos que pertencem à Equipa de Animação ou a convidar. - Para Quem? Unidade, Bandos, Guias, Subguias, Aspirantes, elementos na mesma Etapa. - Onde? Meio físico (sede, campo, outro), meio social (Unidade, paróquia,...), etc. Esta forma de programar deve ser utilizada na planificação e programação de todas as actividades da I Secção.

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manualdodirigente As actividades da Alcateia As actividades da Alcateia giram à volta de dois tipos: Reuniões de Alcateia (com ou sem tema específico) e Caçadas. Há ainda lugar para outras actividades: Conselhos de Guias, Conselhos de Alcateia, acampamentos, bivaques, visitas de estudo, festas, celebrações, etc.

I. As Reuniões de Alcateia As actividades da Alcateia desenrolam­-se sobretudo em reuniões semanais, com uma duração aproximada de uma hora e meia/duas horas. Estas reuniões tanto servem para pôr em prática uma Caçada, como se podem consagrar exclusivamente ao trabalho de Bando (servindo para auxiliar cada lobito/Bando a desenvolver-se em aspectos específicos, para fazer Conselhos de Alcateia, para ensinar algum aspecto particular de técnica escutista, educação ambiental, etc.), pondo em prática o jogo escutista. Compete à Equipa de Animação a tarefa de saber dosear a forma e o ritmo das actividades próprias da secção que se propõe desenvolver e que podem ser de diversos tipos: Actividades de expressão: histórias (contadas pelos dirigentes ou pelos próprios lobitos ou Bandos), danças da Selva, dramatizações, canções, trabalhos manuais, etc.; Actividades ao ar livre: jogos de movimento (gincanas, obstáculos, jogos tradicionais, etc.), pistas, raides, acampamentos, reconhecimento da Natureza, etc.; Actividades de técnica escutista: pioneirismo, pistas, códigos, etc.; Actividades de desenvolvimento social: festas (Natal, idosos, etc.), campanhas de angariação de alimentos ou brinquedos, entrevistas a pessoas/instituições locais, etc.

É conveniente que as reuniões estejam sujeitas a temas, como por exemplo:

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a vida dos animais selvagens (formigas, abelhas, castores, etc.);

os animais domésticos (ovelhas, vacas, gatos, cães, etc.);

Os animais marinhos (peixes, mamíferos);

A pesca;

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O jornal;

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Os correios;


manualdodirigente O mercado; O trânsito; As plantas. Neste caso, todas as actividades da reunião terão um elo de ligação que é o tema e que pode ser enriquecido pelo trabalho dos Bandos, devendo ter sempre em conta a importância do jogo. A duração máxima para estas reuniões com tema é de duas reuniões, sendo aconselhável, no entanto, um só tema para uma reunião. Uma reunião de Alcateia pode ter, por exemplo, o esquema seguinte, que não é uma “receita” para todas as reuniões, mas pode servir de orientação:

MOMENTO

ACTIVIDADE

TEMPO

Grande Uivo

5 min.

Período de Informações

2 a 5 min.

Canção e Dança da Selva

2 a 5 min.

Reunião de Bando

20 min.

Período de Administração (contas, presenças, etc)

5 min.

Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc.)

15 min.

Jogo

15 min.

Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc.)

30 min.

Avaliação

2 a 5 min.

Encerramento (oração e/ou cântico)

2 a 5 min.

TEMPO TOTAL

76 a 90 min.

II. O projecto da Alcateia: A Caçada Na Alcateia, dá­-se o nome de Caçada ao projecto que a Alcateia prepara e desenvolve ao longo de algumas semanas (por norma entre um a dois meses, incluindo todas as fases). Este nome está integrado no imaginário da secção: Máugli cresceu entre os lobitos, na companhia do Pai Lobo e Mãe Loba, seus pais adoptivos. Com eles e outros animais

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manualdodirigente aprendeu a caçar, partindo de pequenas coisas: primeiro aprendeu a distinguir o rumor das ervas, as notas do canto da coruja, as pegadas dos animais; depois caçou pequenos animais, como gafanhotos, lagartixas, grilos. E assim, aos poucos, adquiriu habilidade e destreza, tomando-se hábil caçador. Como Máugli, pretende-se que os lobitos escolham e realizem pequenas actividades onde aprendem coisas novas e se habituam a colaborar e a assumir responsabilidades, vencendo as dificuldades com que se vão deparando. Assim, se a Caçada for bem preparada, e em clima de entusiasmo, os lobitos têm oportunidade de adquirir experiências que os prepararão para uma vida futura e de beneficiar de uma Educação Integral, ou seja, a Educação proposta por B.-P.. Desta maneira, uma Caçada deve ajudar a desenvolver, em cada lobito a imaginação, a Fé, a saúde, o respeito, a responsabilidade, o espírito de iniciativa, etc., favorecendo nele a auto-confiança e ajudando-o a ser cada vez mais autónomo. É esse o sentido do projecto na Alcateia. É desejável que a Alcateia faça uma Caçada por trimestre em que participe toda a Alcateia e em cuja preparação colaborem todos os Bandos. Neste âmbito, é importante que haja respeito pelo método do projecto, em todas as suas fases, para que cada lobito tenha um papel activo na escolha, preparação e realização das actividades que ele próprio desenvolve e se sinta cada vez mais útil no seio da Família Feliz em que está inserido – a Alcateia. Neste sentido, há que respeitar a existência dos seguintes elementos: Imaginário definido a explorar e a desenvolver. Plano comum que deve ter em conta características dos lobitos como a idade, o desenvolvimento psicológico, o progresso e a coesão da própria Alcateia. Um tempo de organização e realização adequado: a Caçada não deve ser muito prolongada, pois pode tomar-se fastidiosa e desmotivadora para os lobitos. Possibilidade de poder haver um progresso de cada lobito ao longo das diversas actividades. Tarefas específicas para cada lobito: ter funções específicas permite que o lobito contribua "Da Melhor Vontade" e com toda a sua alegria e coragem para o êxito da Caçada, o que o ajuda a sentir-se importante e feliz.

Como viver as Fases do projecto na Alcateia A preparação da Caçada, ainda que esta seja muito simples, obedece sempre a regras e momentos, como vimos na introdução geral deste capítulo. Da mesma maneira, imaginário e acção exigem sempre uma preparação. Vejamos agora algumas características específicas do método do projecto na Alcateia.

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Ao desenvolver uma Caçada, o lobito não actua sozinho, mas sim em grupo, desde a preparação até à realização o que lhe permite, pouco a pouco, ir conseguindo maiores relações de cooperação e de socialização no grupo que integra.

1ª Fase: Idealização e Escolha Para que os lobitos possam sugerir coisas interessantes, compete à Equipa de Animação fazer uma preparação que motive cada um a contribuir com boas sugestões. Assim, nesta fase, a Equipa de Animação já deve ter ideias concretas sobre o que pretende para ser possível, em Conselho de Guias, direccionar as ideias dos lobitos. É importante, assim, que lance um tema, dando ideias sobre o imaginário a tratar. O lobito, como qualquer outra criança é dotado do instinto do maravilhoso e entusiasma-se com toda a acção que tenha um centro de interesse onde ele possa encarnar o papel de determinado personagem (cavaleiro, índio, herói, santo...). Assim, o lançamento de um tema, que depois irá converter-se numa história, ajuda-o a entusiasmar-se e a imaginar o que gostaria de fazer. De seguida, o tema é apresentado ao Conselho de Alcateia, que é, sem dúvida, o mais importante ponto de partida para uma Caçada, pois é aqui que são tomadas as grandes decisões. Por esta razão, a Equipa de Animação deve preocupar-se em criar bons imaginários e apresentá-los de forma atractiva, podendo recorrer a técnicas como cartazes, fotografias, postais, filmes, diaporamas, saídas (visitas ao campo, cidade, etc.), jogos, leituras, dramatizações, etc.

Sugestões para imaginários das Caçadas: - O circo; - Saltimbancos; - A viagem de um folha de árvore à volta do Mundo; - Uma viagem ao fundo do mar; - A Selva; - As cruzadas; - Índios e Cowboys; - A conquista do castelo; - Robin dos Bosques; - Viagens de Marco Pólo; - Vidas de santos: São Francisco de Assis, Santa Clara de Assis, Beatos Francisco e Jacinta, Rainha Santa Isabel, São Nuno de Santa Maria, etc.; - Histórias bíblicas: A arca de Noé, Moisés, passagens da vida de Jesus; - História de Portugal (Povos que habitaram a Península, D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, Egas Moniz, Missionários portugueses, Viriato, Sertório, etc.). 169


manualdodirigente Uma vez introduzido um tema a toda a Alcateia, compete aos Bandos apresentar sugestões sobre o que gostariam de fazer. Neste sentido, a Equipa de Animação pode dar pistas: O que queremos fazer? Como vamos fazer? Porque é que queremos fazer isto? E onde? Depois, cada Bando reúne e prepara a sua proposta, competindo a cada Guia de Bando ou outro elemento registar todas as ideias. Após este momento, a Alcateia volta a reunir para que cada Bando exponha as suas ideias de forma criativa (podem recorrer a cartazes, canções, peças de teatro, fotografias, mapas, etc.). Note-se que quanto mais interessante for uma apresentação, mais hipóteses terá de ser escolhida pelos outros lobitos. Por essa razão, os dirigentes devem acompanhar de perto a sua preparação, incentivando os lobitos a usar toda a criatividade que conseguirem. À medida que cada exposição é feita, num quadro apropriado vão-se registando todas as sugestões: assim, no fim, todos sabem o que cada Bando sugeriu. Perante todas as propostas, é importante que os dirigentes ajudem os lobitos a reflectir sobre as sugestões, para que cada um decida pela Caçada que ofereça mais garantias de êxito. Depois desta breve análise, é escolhida a Caçada e aqui cada lobito tem direito a um voto (treino da democracia).De seguida, pode haver algum espaço para que os lobitos sugiram acções que enriqueçam a Caçada escolhida, de novo com a ajuda dos dirigentes, para que todos possam manifestar a sua opinião.

2ª Fase: Preparação Após a escolha da Caçada, compete à Equipa de Animação proceder ao enriquecimento da Caçada, tendo em atenção, em especial: A definição concreta e clara dos objectivos a atingir; A definição das áreas educativas e das oportunidades educativas a trabalhar; A verificação dos elementos do Método Escutista que estão presentes e de quais devem ser reforçados; Os aspectos que devem ser reforçados e os que exigem especial atenção; A integração de sugestões relacionadas com as propostas dos Bandos que não venceram; Outras actividades que se podem incluir.

Note-se, neste ponto, o papel importante que o imaginário desempenha: ao desenvolver acções que se relacionem com imaginários, a imaginação dos lobitos intensifica-se de tal forma que eles vivem mais intensamente os momentos da Caçada. Assim, se o ima-

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manualdodirigente ginário for bem explorado, cada lobito tem a possibilidade de desenvolver capacidades e de satisfazer necessidades e desejos que, por qualquer motivo, na vida real lhe estavam vedados. Assim, os temas a desenvolver devem implicar acções em que o imaginário seja bem realçado, dando oportunidade a que a Caçada vá de encontro à fantasia das crianças.

A nível do imaginário e das acções a realizar, é conveniente que se mantenha, ao longo da Caçada, um certo mistério que envolva as actividades. Assim, há conhecimentos que só devem ser do domínio da Chefia (como por exemplo, como acaba a história que se está a trabalhar na Caçada ou todas as actividades que se vão realizar no final da mesma). De facto, manter o mistério é muito importante para uma boa actividade de lobitos, na medida em que os mantém motivados e interessados.

Depois deste enriquecimento, é necessário, em Conselho de Guias, explicar o resultado final obtido e preparar concretamente as actividades. Para tal, podem ser definidas claramente com os Guias as seguintes questões: O que temos de preparar: actividades, ateliers, jogos, etc.; Como e quando fazer: que tarefas é necessário distribuir (preparar materiais, fazer objectos, etc.) ; Quando: qual o calendário a definir; Quem faz: que responsabilidades vai assumir cada elemento; Onde. Conforme as acções a desenvolver, vão surgir tarefas que os lobitos poderão realizar. Compete ao Conselho de Guias defini-las e distribui-las, sempre sob a direcção da Equipa de Animação. Cada Bando responsabilizar-se-á pela tarefa ou tarefas que tiver de desempenhar e, dentro do Bando, cada lobito, individualmente, terá de assumir alguma responsabilidade.

Eis algumas tarefas que os lobitos podem desempenhar, dentro de uma Caçada: - Preparação do espaço onde vão ser realizadas as Caçadas; - Fabrico de disfarces, trajes e outro vestuário adequado à acção (em ateliers); - Fabrico dos mais variados utensílios e objectos a utilizar na Caçada; - Criação de poemas e canções relacionadas com o imaginário da Caçada; - Preparação de um atelier (pelos lobitos mais velhos) onde se ensinam aos mais novos algumas técnicas escutistas (danças, nós, pistas, códigos, etc.).

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manualdodirigente Na véspera da realização da Caçada, o dirigente, em conjunto com os Guias de Bando, deve certificar-se de que tudo está em ordem e assegurar-se de que cada um cumpriu da melhor maneira possível o que lhe foi confiado.

3ª Fase: Realização Nesta fase, cada lobito e/ou Bando deverá pôr em prática as tarefas pelas quais ficou responsabilizado, competindo aos Guias, e na medida do possível, coordenar os trabalhos dos Bandos.

Neste processo, a Equipa de Animação deve ser entusiasta, incitando cada lobito à descoberta, despertando-lhe a curiosidade e tornando-o desejoso de saber. Mas, no momento de dificuldades, é também quem anima e ajuda a ultrapassar os obstáculos. Neste sentido, à Equipa de Animação compete supervisionar, de forma geral, as actividades (vendo se cada lobito está a corresponder àquilo que lhe foi confiado), tentar ultrapassar os problemas que vão surgindo, em conjunto com os Guias e/ ou a Alcateia e estimular todos os lobitos para que, tal como prepararam a actividade, a realizem da melhor forma, cumprindo até ao fim tudo aquilo a que se propuseram. Só em caso de necessidade é que se deve ajudar o Guia de Bando ou algum lobito de forma mais individualizada. Assim, o papel dos dirigentes é auxiliar cada Guia a dirigir o seu Bando, nunca o substituindo ou fazendo o trabalho dele: a chefia do Bando compete ao seu Guia e não ao dirigente.

Depois de realizadas todas as tarefas, a Caçada deve terminar numa actividade de campo, festa (pais, amigos, lares, hospitais, etc.), acampamento ou celebração onde se põe em prática o que se aprendeu e planeou através da realização de actividades como as que se seguem: jogos de interior ou exterior, de curta e longa duração, etc. saídas variadas: pistas (pode-se fazer um concursos inter-Bandos); excursões de observação da Natureza (para treino dos sentidos e protecção do ambiente); visitas de estudo (para conhecimento da história, usos, costumes da zona onde vive ou de outras zonas); etc. técnicas de expressão e comunicação: canções (cantar e usar instrumentos musicais), danças (da Selva, folclóricas, etc.), dramatizações (teatro de sombras, fantoches, mímica, improvisos, etc.), ateliers de construção (de cartazes, jornais, objectos para o Covil, etc.)

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aplicação de técnicas escutistas como montagem de campo, pioneirismo, orientação, Flor Vermelha (fogo de conselho), etc.


manualdodirigente momentos celebrativos de reconhecimento do progresso feito (etapas de progresso, trilhos alcançados, insígnias de competência) ou de animação litúrgica (pequenas vigílias, orações para os momentos do dia, observação da Criação/ Natureza, etc.). E, como cada lobito deu o seu melhor na preparação, agora esforçar­-se-á por desempenhar o seu papel, contribuindo assim para que esta festa decorra no melhor ambiente, onde reine a alegria, boa disposição e o espírito de entre­ajuda.

4ª Fase: Avaliação Uma vez realizada a Caçada, é importante avaliá-la em dois momentos: Logo a seguir à acção – é importante que cada lobito, no momento em que ainda se encontra sob os efeitos da Caçada (positivos ou negativos) manifeste a sua opinião; Num Conselho de Alcateia, passados alguns dias, destinado a esse fim – esta avaliação da Caçada é indispensável. Quer num quer noutro momento, é importante que o lobito, individualmente, em Bando e/ ou Alcateia faça uma pequena reflexão sobre: O alcance dos objectivos inicialmente definidos; O cumprimento do programa previamente fixado; O seu empenho individual e em Bando (se foi o mais conveniente para o êxito da acção, se cumpriu todas as tarefas que lhe foram confiadas, etc.); Como se pode alterar/corrigir o que correu menos bem; Que sugestões pode dar para Caçadas que eventualmente se venham a realizar. Esta reflexão não tem de ser escrita nem necessita de ser um momento aborrecido ou constrangedor para o lobito. Assim, compete à Equipa de Animação usar meios criativos para que a avaliação seja espontânea e verdadeira e não dar oportunidade aos lobitos de fazerem críticas destrutivas (relativas a um ou outro lobito que por acaso não desempenhou tão bem o seu papel), que podem provocar consequências nefastas. Bibliografia: Alaiii, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Manual do Lobito, Edições CNE. Jogos para lobitos, Edições CNE. O acampamento de lobitos, Edições CNE. Flor de Lis – órgão oficial do CNE. SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.

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manualdodirigente C.4.2 Formas de Aprender Fazendo na Expedição

“Os rapazes chegam a ver aventuras até mesmo num charco de água suja.” “A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Escutismo, ele sente-se parente do pele-vermelha, do pioneiro e do sertanejo.” Auxiliar do Chefe Escuta, Baden-Powell

Os exploradores são enérgicos, instintivos, imaginativos, gostam de desafios e de se descobrirem a si mesmos e ao mundo que os rodeia de forma intensa, apaixonada, vibrante. O explorador é, assim, e por natureza, alguém activo, que busca algo, que nunca está satisfeito, que quer descobrir, que “parte à descoberta do desconhecido”. E fá-lo dando muita importância à vivência em grupo e à necessidade de ter um círculo íntimo de amigos: é em conjunto com eles que dá azo à descoberta do seu potencial, vivendo sonhos, emoções, aventuras... O lugar próprio do explorador é, assim, junto da sua Expedição, a viver Aventuras na Natureza, que aprende a respeitar e a amar, vendo nela a obra de Deus e reconhecendo toda a sua enorme variedade como uma dádiva a preservar e defender.

I. As Actividades da II Secção O dia-a-dia da Expedição tem de ser um espaço onde os exploradores se sentem entre amigos e são apoiados pelos mais velhos. Neste espaço, devem sentir que a sua voz conta e que aqui podem concretizar as suas ideias. Se os exploradores se sentirem acarinhados, compreendidos e ouvidos irão sentir-se felizes e motivados a voltar sempre e com mais entusiasmo. As actividades da Expedição realizam-se, em primeiro lugar, ao longo das reuniões semanais. O programa para estas reuniões não deve ser muito rígido e deverá ter a flexibilidade para se adaptar a algum imprevisto que possa surgir. No entanto, deverá contemplar os seguintes elementos: Abertura - Marca o início da actividade. Deve ser simples e breve, mas não rotineira. As Patrulhas podem formar dando o seu Grito, a que se segue, por exemplo, uma mensagem do Chefe de Expedição ou a apresentação de alguém que, naquela reunião em particular, irá ajudar a Expedição em determinado assunto. Deve fazer-se também uma oração, que é responsabilidade da Patrulha encarregada da animação. Este momento transmite dignidade, é um incentivo à disciplina e à coesão e predispõe para as tarefas a desempenhar.

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manualdodirigente Tempo de trabalho – Tempo para tratar das tarefas da Patrulha, de acordo com a fase do projecto em curso. Assim, poderá ser uma Reunião de Patrulha para idealizar a proposta da Patrulha, ou para desempenhar alguma tarefa atribuída à Patrulha na preparação da Aventura. Poderá ainda ser um momento para os responsáveis pelos ateliers se reunirem de acordo com as tarefas distribuídas ou ainda um momento em que os titulares dos cargos da Patrulha desempenham os seus trabalhos (por exemplo, os Cozinheiros de Patrulha definem a ementa do próximo acampamento, o Guarda-Material verifica o estado do material de campo da Patrulha, etc.). Tempo de aprender – Tempo para adquirir novos conhecimentos ou desenvolver técnicas conforme as necessidades da Expedição ou da Aventura em curso (por exemplo, montar e desmontar a tenda da Patrulha antes do próximo acampamento da Expedição, fazer ateliers de pioneirismo ou socorrismo, etc.). Envolver elementos externos à Equipa de Animação poderá ser uma forma de prender melhor a atenção dos exploradores (Por exemplo, quem ensina a usar um extintor é um bombeiro). Em todos os casos não esquecer nunca que os exploradores aprendem fazendo. Tempo de jogar – O jogo pode servir para motivar os exploradores para o que se irá passar a seguir, para sedimentar conhecimentos adquiridos, para gastar energias ou para ajudar a retomar a atenção para os trabalhos seguintes (por exemplo, pode-se fazer uma corrida de cavaletes depois de a Patrulha ter aprendido as ligações). Fecho – Tal como no início, também no final deverá haver uma breve cerimónia que encerra a reunião. Deverá ter as mesmas características da abertura, incluindo ainda uma breve avaliação. Poderão ser incluídos avisos ou recomendações, lembrando as tarefas a desempenhar até à próxima reunião (por exemplo, saber os horários dos transportes para o local da próxima actividade), Os exploradores deverão ser motivados a porem em prática, fora da vivência em Unidade, a Lei, a Promessa e os Princípios do Escuta.

O tempo de cada momento deverá ser definido de acordo com as características da Expedição, o tempo disponível para a reunião e as necessidades da Aventura que a Expedição vive no momento.

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MOMENTO

ACTIVIDADE

TEMPO

Abertura

5 min.

Jogo/canção

2 a 5 min.

Reunião de Patrulha/Atelier

20 min.

Jogo

15 min.

Tempo de aprender

15 min.

Jogo

20 min.

Avaliação

2 a 5 min.

Fecho

2 a 5 min.

TEMPO TOTAL

76 a 90 min.

O Jogo nas actividades

“O Escutismo é um jogo de jovens, sobre a direcção deles mesmos, em que os irmãos mais velhos podem oferecer aos mais novos um ambiente saudável e encorajá-los a praticar actividades saudáveis, que os ajudarão a desenvolver o civismo.” Auxiliar do Chefe Escuta, Baden-Powell

No escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas na Patrulha, uma pequena sociedade em que todos têm direitos e deveres e um papel importante. Aqui, só a vontade e trabalho de todos permite atingir os objectivos delineados. Assim sendo, o jogo dá-lhe a oportunidade de, aderindo livremente às regras, dar expressão à sua inteligência criativa para optimizar a estratégia no seio da sua Patrulha.

O jogo em Patrulha permite construir algo em comunidade, um verdadeiro espírito de Grupo: o Espírito de Patrulha.

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Assim sendo, o jogo permite ao explorador enriquecer, pouco a pouco, a sua personalidade, através de experiências sempre novas, de situações diferentes e de funções diversas. Para além disto, ajuda-o também a descobrir o mundo que o rodeia, os objectos,


manualdodirigente os sentimentos, as regras de uma sociedade onde cada um é uma peça importantíssima na criação do reino de Deus. O explorador assumirá intuitivamente esta realidade, num clima de sonho, num espaço simbólico e numa aventura imaginária. Também aqui o papel da Equipa de Animação é fundamental. De facto, cabe-lhe zelar para que o jogo seja mesmo motivador e motor de aprendizagem. Neste âmbito, mesmo os pequenos jogos (com o objectivo de dinamizar um ou outro momento da reunião) deverão estar embebidos pelo espírito da Aventura em curso. Para além disto, a Equipa de Animação deve ter o cuidado de preparar tudo convenientemente. Assim, os jogos deverão ser avaliados com critérios objectivos e previamente estabelecidos, e a pontuação deverá ser afixada na própria semana ou semana seguinte de uma maneira atraente no painel da Unidade. Por outro lado, a Equipa deve ajudar e orientar os exploradores, mas nunca resolver um problema por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não é importante.

II. A Aventura – O Projecto da Expedição Uma Aventura, enquanto projecto da II secção, decorre em períodos até 3 meses e deve ser orientada de acordo com os objectivos definidos para o ano pelo Agrupamento e pelo Plano Anual da Unidade, aprovado em Conselho de Guias. A Aventura é o concretizar de todos os sonhos, desejos e anseios que os escuteiros transportam na sua vivência na Patrulha e na Expedição. É função primordial da Equipa de Animação da Expedição estimular a imaginação, o trabalho, o compromisso e o investimento de todos os elementos da unidade, de forma a permitir que a Aventura se concretize de uma maneira positiva e seja um momento enriquecedor e marcante para todos os que a viveram. Ao longo do projecto, a Equipa de Animação deve assegurar o entusiasmo e o empenho de todos os intervenientes, ajudando a ultrapassar dificuldades e assegurando a exequibilidade do projecto. Primordial é ainda que a Equipa de Animação seja capaz de efectuar as suas “ausências pedagógicas”, isto é, que permita que os exploradores, as Patrulhas e a Expedição sejam cada vez mais autónomos, cada vez mais auto-suficientes. Contudo, tudo isto deve decorrer num ambiente seguro, ou seja, onde se pode errar. De facto, é importante que os elementos experimentem, que façam, que se enganem, que errem: é normal, é salutar e é educativo! Recordemos, a este nível, as palavras do nosso fundador: “Quem nunca errou, nunca fez nada!”

Na animação da vida da Expedição pretende-se que a Equipa de Animação seja capaz de criar um ambiente que motive os exploradores a viverem aventuras e a descobrirem o mundo que os rodeia. Este ambiente é fundamental para o seu bem-estar e desenvolvimento equilibrado, permitindo que os exploradores apreendam os valores contidos na Lei, na Promessa e nos Princípios do Escuta. Para

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tal, torna-se necessário que a Equipa de Animação tenha sempre presente que a animação da vida da Expedição não se faz de improviso e que o dia-a-dia da Expedição tem de estar integrado na Aventura em curso, permitindo desenvolver os objectivos definidos no Plano Anual. Ao preparar as actividades da Aventura, a Equipa de Animação deverá ter em atenção o seguinte: • O Imaginário, a Mística e a Simbologia, próprias dos exploradores e da Aventura em curso devem estar sempre presentes. Estes elementos ajudam a criar um ambiente propício ao desenvolvimento dos exploradores. • Os exploradores necessitam de muito movimento, pelo que, havendo palestras, elas devem ter uma duração adequada às suas características. De facto, não podemos esquecer que os exploradores aprendem sobretudo pela experimentação. • Cada um dos exploradores é diferente e necessita de atenção e estímulos distintos. A Equipa de Animação deverá demonstrar à vontade em todas as situações de forma a permitir que os exploradores se sintam à vontade sendo eles próprios. • Para que se possa estabelecer uma relação educativa que dê frutos, é necessário que se crie um clima de confiança mútua entre a Equipa de Animação e cada um dos exploradores. Note-se que não é função da Equipa de Animação substituir as Patrulhas na preparação da Aventura, “convidando” depois os elementos a nela participarem. Isso pode ser uma actividade qualquer... Escutismo não é.

As Fases da Aventura Na 1ª Fase, de idealização e escolha, é importante pôr os elementos a sonhar, fazendo­-os reflectir em perguntas como: Que gostarias de ser? Qual é o herói que gostavas de ser? Que aventura agora te enchia as medidas? Estas e outras perguntas devem ser formuladas/encorajadas em Conselho de Guias para que tenhamos um “pontapé de saída” para a Aventura. É o lançar da semente, do desejo de partir à descoberta do desconhecido, que depois cada Patrulha irá trabalhar.

Durante a idealização do projecto de Aventura, pelas Patrulhas, a Equipa de Animação deverá, em Conselho de Guias, motivar, orientar, ajudar e dar sugestões às Patrulhas sobre os seus projectos.

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manualdodirigente Só depois deverão ser privilegiadas as Reuniões de Patrulha por forma a que estas possam idealizar não só o seu projecto, mas também a forma de o apresentarem à Expedição. Este é o momento para cada uma para criar e apresentar o seu projecto à Expedição, pondo em prática as mais diversas técnicas para o apresentar de uma forma atractiva e inovadora.

No momento da apresentação todos os elementos da Patrulha devem ser chamados a ter um papel activo. É um momento importante de união e entreajuda na Patrulha e deve haver particular atenção/ apoio aos elementos mais introvertidos ou tímidos.

A este nível, é importante que a Equipa de Animação encoraje os exploradores a criar e apresentar imaginários interessantes e que permitam novas descobertas e aprendizagens ao longo da Aventura.

Exemplos de imaginários para Aventuras: - As cruzadas; - O espaço; - A Idade Média; - Os Piratas; - As Viagens Marítimas; - Os Índios; - O “Far-West”; - A procura do ouro; - A libertação do Egipto; - David e Golias;… Nestas Aventuras, os exploradores são os heróis: “Somos astronautas em busca de uma galáxia longínqua!” “Somos navegadores em busca de tesouros escondidos em ilhas distantes!” “Somos cavaleiros em busca de um objecto sagrado para a nossa Expedição!”

A escolha do melhor projecto, em Conselho de Expedição, é importante, na medida em que permite treinar a democracia. Assim, e depois de ressalvados todos os aspectos positivos de cada projecto, procede-se a uma votação em que cada elemento das Patrulhas tem um voto. Aqui pode inserir-se um componente de negociação do estilo “voto no projecto da vossa Patrulha, caso integrem este aspecto do nosso projecto.”

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A votação/ escolha é um momento educativo importante por implicar a hipótese dos exploradores de uma Patrulha não verem o seu esforço reconhecido e poderem ficar tristes e/ou frustrados. Aqui, é de primordial importância a acção da Equipa de Animação: deve fazer ver que, no final, aquele já não é o projecto de Aventura da Patrulha A ou B, mas sim de toda a Expedição, na medida em que deve integrar sugestões dadas pelos projectos que não venceram.

À escolha, segue-se depois o Enriquecimento, em que deverá existir o cuidado de integrar sugestões dos projectos não escolhidos e outras ideias dos exploradores. Contudo, há que zelar para que a Aventura não deixe de ter coerência em termos de Imaginário e não fique sobrecarregada com demasiadas acções.

No Enriquecimento, a Equipa de Animação deverá garantir que a Aventura ajudará a atingir os objectivos propostos tanto no Plano Anual do Agrupamento, como no Plano Anual da Expedição.

Na 2ª Fase, e depois de realizado o enriquecimento do projecto escolhido, em Conselho de Guias começa-se a preparar tudo: é o momento para definir papéis e responsabilidades para pôr no terreno a Aventura e concretizá-la.

O Conselho de Guias deverá acompanhar o desenrolar de toda a preparação da Aventura reunindo sempre que necessário. Num determinado Conselho de Guias poderá estar presente o responsável de um atelier cujo trabalho seja importante conhecer nesse momento.

Tudo o que ficar definido – actividades, ateliers, tarefas, etc.,não esquecendo os recursos necessários – deve constar do Painel de Aventura, onde se colocam todas as informações relevantes à aventura que se está a viver:

Nome; Lema; Data de realização; Local; Objectivos; Actividades (à medida que vão sendo realizadas).

O Painel de Aventura é elaborado pela Expedição para permitir acompanhar a evolução da Aventura e manter a motivação dos elementos.

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manualdodirigente A Aventura, deverá conter um conjunto de pequenas actividades, jogos, etc.,que têm de estar de acordo como imaginário da Aventura. Aliás, toda a Base, os cantos de Patrulha, etc., devem ser decorados de acordo com a Aventura escolhida, e em qualquer actividade o explorador deverá sentir e viver o imaginário em curso. Todas as actividades têm de se desenrolar por uma sequência lógica (seguindo o imaginário) e devem culminar pelo menos numa grande actividade: o ponto mais alto da Aventura. Para além disto, a Aventura deve comportar tarefas relacionadas com ateliers e também tarefas específicas destinadas a cada Patrulha e a cada explorador, bem como a implementação dos Cargos e das Funções de Patrulha.

Durante esta 2ª Fase da Aventura, deverão ser realizadas Reuniões de Patrulha de acordo com as tarefas distribuídas, não esquecendo o tempo necessário a que cada atelier possa desenvolver aquelas que lhes foram atribuídas.

A 3ª Fase da Aventura é a fase da realização concreta das actividades planeadas. E aqui devem ser colocados desafios aos exploradores no sentido de estes realmente viverem o projecto, a Aventura! Para isto, devem ser desafiados a encarnar da forma mais intensa possível o conjunto de personagens e de situações definidas pelo projecto escolhido.

É importante, na fase de realização concreta das actividades, usar de facto o imaginário da Aventura (através de trajes, canções, construções, jogos, etc.), levando os exploradores a encarnar o papel dos heróis que idealizaram. Assim se ajuda a melhorar a sua criatividade e a manter a motivação.

Na última fase, a da avaliação, é preciso ver o que marcou e ganhou raízes nos exploradores depois da Aventura. Esta avaliação é muito importante e deve ser feita pela Expedição e Patrulhas, em momentos variados: uma avaliação a quente, no final da Aventura e antes de regressar à Base, e em outro momento, mais a frio (na semana seguinte, durante a primeira reunião da Expedição pós-Aventura, por exemplo).

A Avaliação deverá ser feita numa perspectiva positiva, realçando sobretudo o que se conseguiu atingir e zelando para que todos tenham o direito de se fazer ouvir. Os erros deverão ser usados como forma de crescimento, de forma a evitar voltar a cometê-los em próximas Aventuras.

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manualdodirigente Bibliografia: BADEN-POWELL, Robert, Mil e uma Actividades para escuteiros. Edições CNE. FARIA, Manuel, Jogos para exploradores, Edições CNE. FITZSIMONS, Cecilia, 50 Actividades para Miúdos, Editorial Caminho. Flor de Lis – órgão oficial do CNE. Nós e as construções. Edições CNE. Nós e os Nós. Edições CNE. OPPIE, Frankie, Escuteiro Global. Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE.

Gonçalo Vieira

WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.

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C.4.3 Formas de Aprender Fazendo na Comunidade O 'Saber-fazer' – a par do “Saber-Ser' e do 'Saber-Saber' –, o 'Agir' – em conjunto com o 'Saber' e com o 'Querer' –, são desígnios que se apresentam ao pioneiro e, por conseguinte ao animador adulto que trabalha na Comunidade. Esta capacidade, a aptidão para a 'construção' – da Igreja, da Comunidade, de si próprio – está bem presente na necessidade fundamental de trabalhar, dignamente e com todo o empenho, o Aprender fazendo com os pioneiros.

I. 'As reuniões' como escola na vida No Escutismo, as reuniões – Reunião de Equipa – e conselhos – Conselho de Guias e Conselho de Comunidade, são uma grande oportunidade de crescimento dos jovens a nível do Aprender fazendo (o seu valor pedagógico está explicitado no capítulo sobre o Sistema de Patrulhas). De facto, pela vivência prática das reuniões, os pioneiros apreendem uma série de regras e conceitos com forte valor pedagógico e que lhes vão ser muito úteis no futuro. A reunião de Equipa é o espaço privilegiado onde cada pioneiro partilha as suas ideias, apresenta sugestões, questiona os outros elementos e constrói o projecto (conjunto de soluções para Empreendimentos e actividades) a apre­sentar pela Equipa ao Conselho de Comunidade.

Estas reuniões devem realizar-se semanalmente e, embora não obedeçam a nenhum programa rígido, devem contemplar alguns elementos básicos: a abertura (oração, recomendações iniciais, etc.), tempo para a vida de Equipa (verificação de presenças, quotas, etc.), para pôr em prática o Empreendimento (através da sua idealização ou da realização de tarefas se já estiver escolhido), para adquirir ou pôr em prática conhecimentos (por exemplo, de técnica escutista) e para jogar. Na sua conclusão, deve haver ainda espaço para uma oração final, avaliação breve e avisos. Pode ainda ser necessário, em

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manualdodirigente alguma reunião, incluir momentos como cerimoniais (por exemplo, o da Investidura de Guias), Conselhos (de Guias ou de Comunidade), lanche, preparação da Eucaristia, etc. (ver, também, o capítulo Sistema de Patrulhas sobre este assunto é desenvolvido).

O espaço do jogo e da técnica escutista Nas reuniões semanais deve haver lugar tanto para o jogo como para a técnica escutista. Pode pensar-se que o jogo escutista está mais vocacionado para os exploradores ou lobitos do que para os pioneiros. Não será, de todo, assim. De facto, para os pioneiros, o jogo é, acima de tudo, uma oportunidade pedagógica assente na pedagogia da valorização do esforço de cooperação e que permite ao jovem testar em segurança os seus limites, as suas capacidades e potencialidades e, na continuação, avaliá-las e aumentá-las. O papel do dirigente, nos jogos escutista da Comunidade, passa pela orientação para que o jogo seja motivador e motor de aprendizagem. Nesse âmbito, a sua presença torna-se imprescindível. Assim sendo, o dirigente não pode assumir o papel de simples árbitro, mas deverá olhar para ele como uma importante componente educativa para o pioneiro.

Boa prática: O jogo para os pioneiros será necessariamente diferente do que se pratica nas outras secções, mas, embora os elementos fundamentais sejam os mesmos, deve haver, uma adequação à idade. Por outro lado, eles próprios têm noção exacta do tipo de jogos que preferem e têm autonomia suficiente para contribuírem para a preparação desses jogos. Jogos de destreza física e de estratégia intelectual estão, por norma, entre os preferidos.

Por seu turno, a técnica escutista é o elemento mais facilmente ligado ao 'Aprender Fazendo', pela componente de habilidade manual que encerra. Este é um elemento muito importante da pedagogia escutista e deve estar presente em toda a acção que o método promove e proporciona. Nos pioneiros, a secção em que a mística passa pela edificação da Igreja Nascente, em que o imaginário se relaciona com a construção das primeiras comunidades cristãs, em que um dos símbolos é a machada, a técnica torna-se, assim, um elemento central e que importa valorizar. Assim sendo, o trabalho com os pioneiros tem, necessariamente, uma forte incidência no domínio da técnica escutista, que deve ser aprofundada, em ateliês dos Empreendimentos, nos acampamentos, nos raides, nos jogos, em toda a vida em campo e na natureza.

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Neste sentido, é imprescindível que, antes da Promessa, o aspirante/noviço já domine alguma técnica escutista como códigos e cifras, sinais de pista, cozinha em campo, pio-


manualdodirigente neirismo (nós e amarrações, construções em madeira com encaixes – froissartage) e manuseamento de ferramentas e equipamentos (instrumentos de trabalho com a madeira, como machadas, maços, martelos, formões, puas, serras e serrotes, etc.; equipamentos necessários à vida em campo, como petromax, fogões a gás, etc.).

Boa prática: A técnica escutista está em todo lado na acção escutista e não é pelo facto de não haver provas de natureza técnica que ela deixa de existir. Interessa, pois, que o animador adulto tenha perfeita consciência de quais devem ser os conhecimentos técnicos mínimos que o pioneiro precisa de dominar. Constitui, portanto, uma boa prática, que a Direcção do Agrupamento produza um documento que possa estabelecer quais são os aspectos técnicos que a Alcateia e a Expedição procurarão fomentar, de modo a que não se repitam nem se antecipem conhecimentos e competências que depois se mostrem desajustadas. Note-se que estes conhecimentos e competências podem ser diferentes de realidade para realidade. De facto, num certo Agrupamento, localizado num determinado meio (com características sociais e sociológicas próprias), os escuteiros podem dominar alguns aspectos técnicos de vida ao ar livre que não serão tão habituais noutro Agrupamento.

II. A pedagogia do Projecto nos pioneiros: o Empreendimento O Empreendimento é um conjunto de acções inter-relacionadas que os pioneiros –, individualmente e em Equipa/Comunidade e com o apoio dos adultos da Equipa de Animação – planeiam e implementam de forma gradual com vista a atingir um objectivo último, concreto, num determinado espaço de tempo. Um Empreendimento é, então, um conjunto de momentos e de iniciativas que podem demorar vários fins-de-semana de actividades e que se materializam em formas tão diversas como reuniões, jogos, acampamentos, raids, ateliês, actividades com a comunidade paroquial, viagens, entre outras. É importante, no entanto, que estas actividades procurem responder a um determinado objectivo, definido previamente e estejam interligadas.

Boa prática: É importante que um cartaz com o esquema das diversas fases do empreendimento esteja afixado em local de destaque no Abrigo (ou no Canto da Equipa). De facto, a familiaridade dos pioneiros com o esquema das fases do empreendimento vai ajudar muito o jovem na sua vida futura: o método do projecto é uma forma de organização de actividades adaptável a todas as realidades (escola, vida profissional, projectos pessoais) e conhecê-lo e interiorizá-lo pode revelar-se importante no “mundo real”. 185


manualdodirigente Ao longo de um ano escutista, a Comunidade pode realizar vários Empreendimentos, cabendo ao Conselho de Guias a decisão sobre o número de projectos a realizar, os períodos temporais que procurarão ocupar e as datas de início e fim dos mesmos. Isto deve ser definido no início do ano escutista. Para além disto, compete também a esta estrutura estabelecer – se necessário e em consonância com o que é o entendimento da Comunidade – algumas ideias que devem estar presentes nos projectos a apresentar pelas Equipas (por exemplo, estabelecer que um determinado empreendimento deve cumprir determinados objectivos ou que um acampamento deve-se realizar num determinado local). Essa determinação deve ser estabelecida previamente ao trabalho de Idealização das Equipas.

Boa prática: No início de cada ano escutista, a Equipa de Animação deve procurar munir-se de toda a informação possível para planificar da melhor maneira os meses que se seguem. Neste sentido, deve procurar saber, em concreto, as datas do calendário escolar dos pioneiros (com especificidades como períodos escolares e exames nacionais/provas de acesso) e as datas das actividades escutistas de relevo (de Agrupamento, Núcleo, regionais e nacionais, que por vezes exigem actividades/jogos de preparação). Para além disto, deve ter em conta os Planos Trienais que o Agrupamento, o Núcleo, a Região ou a Junta Central podem ter preparado (têm objectivos sequenciais, envolvimento temático estruturado no sentido de “dar sentido ao caminho” de cada escuteiro, Equipa, Comunidade e Agrupamento). De facto, faz todo o sentido que, a par da planificação das actividades no tempo, haja a preocupação de saber que propostas nos fazem as estruturas dos níveis superiores em cada ano. Todos ganham com esse esforço e essa coerência.

1.ª Fase – IDEALIZAÇÃO E ESCOLHA Marcada a data do Conselho de Comunidade para a escolha do Empreendimento (pelo Conselho de Guias), cabe à Equipa de Animação dar início à motivação dos pioneiros, procurando o envolvimento, fomentando a criatividade, estimulando os pioneiros a irem mais além e organizando prioridades na multidão de sonhos e ideias que povoam a sua imaginação e ambição.

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Apesar de este momento de motivação ocorrer, por norma, no Conselho de Guias, tal não é obrigatório: a motivação pode ser feita através de um jogo, de uma pequena actividade realizada na reunião semanal ou de uma conversa dos Chefe de Comunidade a toda a Comunidade, no início ou no final da reunião semanal. O que se pretende é que o dirigente crie condições que possibilitem, favoreçam e estimulem a iniciativa e a criatividade de cada um dos elementos (ajudando-os a sonhar, a optar, a ser criativos). Para isto, tem de ter consciência de que o seu exemplo, dinamismo e entusiasmo contribuem positivamente para animar e motivar os pioneiros.


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Boas práticas: - O papel do Guia no momento da Motivação O Guia é um importante agente de motivação, pelo que é importante que o seu papel seja valorizado por parte da Equipa de Animação, que deve respeitar o seu papel e as deliberações tomadas nos diferentes conselhos. - O teu progresso é o nosso progresso Em cada fase do Empreendimento, a Equipa de Animação deve ter em conta que o elemento central do Projecto é o crescimento do pioneiro e que todas as actividades devem ter esse objectivo. Neste âmbito, é também importante que os pioneiros tenham consciência de que as actividades de um empreendimento são oportunidades pedagógicas ideais para a concretização e validação dos objectivos educativos do seu progresso pessoal. Esta informação deve ser dada aos pioneiros no momento da motivação para que se sintam estimulados a incluir, num empreendimento, as acções concretas com que se comprometeram no seu progresso pessoal. - “Guiai… não empurrai!” (B.-P.) O processo de motivação não é uma ‘ordem’ da Equipa de Animação para que se prepare um determinado empreendimento nem implica a indução de ideias por parte da Equipa de Animação. Assim sendo, os dirigentes devem estimular a criatividade dos pioneiros sem darem sugestões pré-concebidas (a menos que isso tenha, de facto, relevância pedagógica e seja feito com esse objectivo). Para além disto, devem ter atenção o grau de autonomia que devem respeitar para que o crescimento dos pioneiros seja feito em “aprender fazendo” e não em “obedecendo”. Depois da motivação, segue-se o momento da concepção de uma proposta de Empreendimento. Esta concepção começa na cabeça de cada pioneiro (cada um tem noção do que gostava de fazer e das acções concretas que tem de realizar para validar os objectivos que escolheu) e é seguida de um trabalho de diálogo dentro da Equipa, que tem de se entender para apresentar um projecto comum. Note-se que a proposta de cada Equipa deve ser o mais concreta e completa possível, contemplando objectivos, o modo como são concretizados (acções concretas, actividades a realizar) e os aspectos logísticos a ter em conta (custo das actividades, formas de financiamento, transporte, locais de pernoita etc.). Interessa ainda que a proposta seja apresentada da forma mais atractiva possível, para aumentar as possibilidades de ser escolhida. A seguir é feita a apresentação de cada uma das propostas, em Conselho de Comunidade, competindo a cada Equipa fazer uma apresentação o mais atractiva possível do projecto que concebeu (deve saber “vender” o seu trabalho). Este momento é uma oportunidade para trabalhar a expressividade oral e corporal e a criatividade e revela-se de especial importância no crescimento dos pioneiros: sensibilizar um grupo para as qualidades de uma proposta, é uma tarefa que a realidade do mundo do trabalho pode vir a exigir a cada um, mais tarde. Para além disto, esta é uma oportunidade para integrar os escuteiros mais tímidos ou introvertidos e para fomentar o Espírito de Equipa (a Equipa une-se em torno de um objectivo concreto para o qual todos terão contribuído).

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Boas práticas: - Ajudar a conceber Este momento de concepção é feito exclusivamente pelos pioneiros, mas o dirigente deve mostrar-se atento e disponível para ajudar a conceber bons projectos. Note-se, contudo, que não interessa que intervenha sem ser solicitado. - Usar ferramentas A Comunidade pode ter, no Abrigo, ferramentas que podem apoiar as Equipas na concepção da sua proposta: um mapa de Portugal com as redes de transportes, documentos sobre parques escutistas ou naturais, maravilhas da Natureza, património histórico ou cultural, etc. Para além disto, pode também usar-se a internet, criando uma lista de ligações úteis de parques escutistas, comboios, parques naturais, câmara municipais, entre outros. Por fim, também podem servir de apoio e inspiração livros de receitas, fórmulas de capitação alimentar, cartazes de antigos empreendimentos e fotografias e relatórios de actividades passadas. - Ser eficaz Os pioneiros podem conseguir uma apresentação atraente recorrendo a meios tecnológicos, peças teatrais, um jogo, etc. Faz sentido que sejam incentivados a abandonar a estratégia do cartaz de cartolina, usando a sua criatividade para fazerem com que os outros “se liguem” ao projecto da sua Equipa.

Todo este processo termina com a escolha de uma das propostas, momento importante para a formação da cidadania a nível do que é decisão democrática. Assim, depois de apresentadas as propostas, deve haver um espaço para que se possa fazer perguntas sobre elas (para tirar dúvidas ou explicitar algum aspecto), a que se segue a votação. Aqui, cada pioneiro vota na proposta que mais lhe agrada e a proposta mais votada passa a ser o Empreendimento da Comunidade. Note-se que, quanto mais empenhado o pioneiro estiver na concepção da proposta da sua Equipa, mais difícil será para ele votar numa proposta que não a sua, o que pode prejudicar a decisão democrática, porque pode dar origem a empates e injustiças (pode ganhar a Equipa que tiver um maior número de elementos, por exemplo). A forma de resolver esta situação não é fácil, mas pode passar, caso se prevejam complicações, por inserir uma componente de negociação: dá-se o voto a outra proposta em troca da integração de um determinado componente do projecto da sua Equipa. Esta é uma boa oportunidade de formação da cidadania: a tomada de decisões com vista ao bem-estar colectivo.

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Para que uma Equipa ganhe é preciso que todas as outras percam, mas perder não é fácil. Nestes momentos de frustração e desapontamento perante uma derrota na votação, o papel da Equipa de Animação é de particular relevância: compete-lhe ensinar a perder. Esta pedagogia da derrota passa por ensinar os pioneiros a perceber o que correu mal


manualdodirigente (para não repetirem o mesmo erro numa próxima ocasião) e por procurar incentivá-los a participar na fase de enriquecimento, integrando algumas das suas sugestões na proposta vencedora.

2.ª Fase – PREPARAÇÃO A segunda fase do Empreendimento é a da Preparação. Depois da escolha, cada Equipa deve pensar como se pode melhorar a proposta vencedora e de que forma é que uma proposta boa se pode tornar num espectacular Empreendimento. Também a Equipa de Animação deve proceder ao mesmo esforço e à mesma análise. Estamos, assim, num momento de enriquecimento, em que se aperfeiçoa a proposta vencedora, muitas vezes com contributos das propostas preteridas.

O Enriquecimento é, talvez, a fase do Empreendimento em que o papel do dirigente é mais relevante. Neste momento, compete-lhe: - preocupar-se em valorizar a actividade escolhida de forma global, ajudando os pioneiros a aproveitar aspectos que constaram de propostas preteridas na fase de Escolha. - dar realismo e pragmatismo à proposta vencedora, retirando aspectos impossíveis de concretizar (por serem inviáveis ou por não se ajustarem). - valorizar os objectivos propostos, adicionando outras actividades ou sugerindo a retirada de actividades que são supérfluas. - impregnar o projecto de valores escutistas, procurando que estejam presentes todos os elementos do Método Escutista e todas as áreas de desenvolvimento. - adaptar o Empreendimento à progressão pessoal de todos e não apenas à dos pioneiros que pertencem à Equipa cuja proposta foi a mais votada. Isto implica zelar para que todos os pioneiros possam desenvolver acções concretas para a validação dos objectivos educativos do seu sistema de progressão pessoal.

Feito esse trabalho em Equipa, o Conselho de Guias reúne para definir concretamente as características do Empreendimento. Após este enriquecimento, cabe-lhe definir os passos seguintes até à realização de cada uma das diferentes actividades. Nesse sentido, é sua tarefa o planeamento das medidas a tomar e da estratégia a seguir. Após o estabelecimento de um plano, é altura de proceder à organização das actividades a realizar. Este passo exige a participação de todos, na medida em que implica a divisão de tarefas por todos os elementos (ninguém deve ficar de fora).

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Boas práticas: - Comissões técnicas O Conselho de Guias, no planeamento e organização das actividades, pode determinar a criação de Comissões Técnicas, pequenos grupos compostos por elementos de diferentes Equipas da Comunidade que se agrupam com uma missão específica (cada elemento só deve participar numa, para que todos possam experimentar e crescer). Podem constituir-se comissões técnicas para a animação de um acampamento(animação de todos os momentos comuns e de oração da actividade), organização logística da actividade (condições para acampar, transportes, etc.), finanças, saúde e alimentação, contactos e relações públicas, etc. Os elementos que formam as Comissões Técnicas devem definir um responsável para cada Comissão (que tem assento no Conselho de Guias, sempre que necessário) e podem procurar formação na área que estão a tratar, assim como promover essa mesma formação na Comunidade, através, por exemplo, de ateliês. Os dados acerca da Comissão Técnica são colocados no Painel do Empreendimento, para que toda a Comunidade possa acompanhar a sua evolução. - Atribuição de funções Durante a organização e a realização de um Empreendimento específico, pode surgir a necessidade de realizar tarefas que impliquem o exercício de funções (responsabilidades temporárias atribuídas a cada elemento e que são diferentes dos cargos – ver capítulo do Sistema de Patrulhas para mais informações). Assim, por exemplo, num Empreendimento que contemple um acampamento, poderá haver a necessidade de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, ou financeiros ou socorristas, etc. É importante incentivar a atribuição de funções, na medida em que o seu desempenho permite que os pioneiros experimentem novas realidades, podendo descobrir talentos e gostos escondidos (por exemplo, um secretário que nunca teve o cargo de animador pode, num acampamento, cumprir essa função). - Painel do Empreendimento Todas as acções deve estar inscritas no Painel do Empreendimento, registo público do dia-a-dia do Empreendimento: o nome do projecto, o lema, os objectivos, cada uma das actividades – com as respectivas datas, locais e as fotografias das já realizadas –, e, ainda a composição das comissões técnicas – a sua constituição, tarefas e missões –, os ateliês preparatórios, bem como espaço para informações comuns, e as listas dos afazeres e tarefas. Assim se expõem todas as informações relevantes acerca do projecto que se está a viver, o que é factor de motivação para os pioneiros, que observam a evolução do que estão a realizar. 3.ª Fase – REALIZAÇÃO

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A terceira fase do Empreendimento é a da Realização, o momento da vivência concreta do Empreendimento. Esta é a fase em que as coisas acontecem, se constroem e se materializam na actividade que foi preparada (acampamento, raid, etc.).


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Boa prática: Pese embora alguma adaptação ou alteração, deve procurar-se que as actividades de um Empreendimento sejam realizadas e vividas o mais próximo possível do que foi idealizado e organizado. Assim sendo, e mesmo que, na hora da verdade, se pense que se poderia ter feito tudo de modo diferente, é importante que se realize o que foi planeado e organizado, para que não haja desmotivação por parte dos pioneiros, que certamente prepararam tudo com entusiasmo.

4.ª Fase – AVALIAÇÃO A quarta etapa é a da Avaliação, ou seja a identificação – primeiro individual e depois colectiva (em Equipa e/ou em Comunidade) – do que correu bem, do que correu menos bem e do que correu mal na concretização dos objectivos definidos. Essa avaliação deve ser feita em consciência e com toda a honestidade. Há inúmeros métodos que se podem utilizar, conforme o tipo de avaliação que se pretende: conversa informal, placard de avaliação, preenchimento de um formulário, etc. O dirigente deve conhecer estas diferentes formas para poder utilizar a que mais se adequa à vida da Comunidade num determinado momento. Neste âmbito, importa que procure verificar pontos específicos que podem ser úteis para crescimento da Comunidade ou para a elaboração de novos projectos. Deve, assim, zelar para que a avaliação permita a recolha de sugestões futuras. É nesta fase também que a Comunidade celebra a sua evolução, partilhando as vivências que a enriqueceram e registando o progresso alcançado pelos seus elementos. Assim, este deve ser um momento em que não só se recorda o que correu menos bem, mas também se ajuda os pioneiros a sentir orgulho pelo que fizeram e alcançaram – mesmo que o que tenha acontecido não tenha sido um rotundo sucesso. O que é importante é que conseguiram completar o tríodo: “Saber, Querer e Agir!”.

Boa prática: - Registo da Avaliação Tanto os pioneiros como a Equipa de Animação devem fazer um registo da avaliação da actividade, através de relatórios, do registo no Painel do Empreendimento ou no Livro de Ouro da Equipa, no Diário de Vivências dos pioneiros, etc. Este registo poderá servir de guia durante a organização de actividades futuras, evitando que se repitam os mesmos erros. - Celebrar O final do Empreendimento pode ser marcado por uma festa, um jantar, uma exposição de fotografias, a exibição de um filme com os melhores momentos e a história do Empreendimento. 191


manualdodirigente Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para escuteiros, Edições CNE. Flor de Lis – órgão oficial do CNE. Nós e os Nós, Edições CNE. Nós e as construções, Edições CNE. OPPIE, Frankie, Escuteiro Global, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, O Empreendimento (Colecção Manual do Dirigente n.º 10), Edições CNE.

Joana Martins

WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.

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C.4.4 Formas de Aprender Fazendo no Clã

“Se queres triunfar, precisas de concluir a tua educação, educando­-te a ti mesmo. Proponho que o faças com três objectivos principais: prepara-te para as responsabilidades: - do teu futuro ou profissão; - de futuro pai de filhos; - de cidadão e guia de outros homens.” B.-P., A Caminho do Triunfo

I. Actividades da IV Secção A aprendizagem pela acção motiva os jovens, pois eles estão a fazer coisas reais e úteis enquanto interiorizam, de forma natural, todas as descobertas, tornando-se mais conhecedores de variados temas, ganhando novas habilidades e adquirindo novas atitudes (Conhecimentos, Competências e Atitudes). Ao experimentarem, conseguem perceber para que tarefas estão mais aptos e também melhorar o que fazem menos bem. É também uma forma de descobrirem novos interesses e talentos.

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“O fim da educação Caminheira é auxiliar os jovens a tornarem-se cidadãos felizes, saudáveis e úteis e dar a cada um a possibilidade de se preparar para uma carreira que lhe seja útil. Permite ao rapaz mais velho continuar sujeito a influências benéficas no período difícil da transição para a idade adulta.” B.-P., A Caminho do Triunfo

No “aprender fazendo” verifica-se uma espécie de auto-educação, na medida em que são os próprios jovens os responsáveis pela sua aprendizagem prática. Esta aprendizagem desenvolve-se de forma privilegiada nas actividades com os outros caminheiros. Na verdade, os pares e as tarefas em conjunto são fundamentais para a motivação para a aprendizagem pela acção. Uma vez que se pretende que as actividades sejam pedagógicas e contribuam para o desenvolvimento pessoal do jovem, tendo um efeito importante e positivo neles, é crucial que as mesmas sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas da melhor forma. O facto de se preparar uma actividade “em cima do joelho” pode implicar improvisos que tenham consequências nefastas na experiência dos caminheiros.

As actividades são propostas, organizadas e realizadas pelos caminheiros, mas a Equipa de Animação tem sempre o papel fundamental de garantir que as actividades não são meramente de recreio. De facto, as actividades têm que ser pedagógicas e contribuir para o desenvolvimento pessoal de cada caminheiro, assim como para a evolução do Clã.

As actividades desenvolvidas num Clã tendem, ao longo do tempo, a seguir um determinado padrão, seja na sua forma de realização, seja na sua forma de participação. Isto acontece, por exemplo, porque a mesma Equipa de Animação está há muito tempo no Clã, ou porque se trata de uma tradição, ou ainda porque os caminheiros aprendem uns com os outros e às vezes têm uma fraca imaginação ou motivação. Seria extremamente preocupante se a rotina se instalasse na vida de um Clã, e não permitisse a criação de novos projectos e o surgimento de novas ideias. É normal que esta dificuldade algum dia apareça, mas não é permitido que se instale e nada se faça para mudar. Os dirigentes devem ter a preocupação de as actividades não se tornarem rotineiras para que não se corra o risco de perderem o seu valor educativo e o interesse por parte dos caminheiros.

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A inovação é algo extremamente importante nas actividades. Por isso é tão importante avaliar: só assim se pode ter sempre presente a questão “onde é que se pode melho-


manualdodirigente rar?” e se pode ir introduzindo variáveis que tornem as actividades mais atractivas, tendo sempre em atenção que elas, por serem “originais”, não podem deixar de ser escutistas e devem ser impregnadas dos seus valores e métodos. Outra coisa que a Equipa de Animação deve ter sempre presente, é que os Clãs não são sempre iguais e que o grupo de jovens que tem à sua frente muda de ano para ano. Daí ser tão importante adaptar o modo de trabalhar, actividades, timings, etc. ao grupo que se tem “aqui e agora”, pois o que resulta com uns, pode não resultar com outros.

Exemplos de actividades a desenvolver com o Clã: -Actividades de campo: descida de rio (jangada, canoa, a pé…), raide de sobrevivência, hike, acampamentos, limpeza de matas/florestas/praias, vigilância de matas, protecção a espécies protegidas -Actividades desportivas: jogos de diversas modalidades ou tradicionais, torneios, trilhos pedestres, montanhismo -Actividades de expressão: espectáculo de dança, dramatizações (encenação/mimo de parábolas, por exemplo), exposições, jornal do Clã, ateliers de expressão dramática, de pinturas faciais e caracterização, de construção de instrumentos musicais, etc. -Actividades sociais: animação de tempos litúrgicos (Natal, Páscoa, etc.) ou festas (para doentes e/ou idosos, por exemplo), colaboração em campanhas de solidariedade (Banco Alimentar, recolha de brinquedos, etc.), organização de actividades culturais, peddy-papers, etc.

II. A Caminhada – O Projecto do Clã A idade dos caminheiros permite-lhes o alcance de uma maior autonomia, que lhes proporciona uma acção mais ousada e com resultados mais visíveis face ao trabalho desenvolvido. Os caminheiros são curiosos e ousados, querem saber mais, fazer mais e diferente. Não querem estagnar, investem na sua evolução enquanto pessoas, gostam da novidade e querem conhecer o mundo, as pessoas, os lugares e as ideias. Procuram vivências diferentes, procuram viajar, principalmente para o estrangeiro e com isso apreendem novos conhecimentos e pontos de vista… É assim que se definem como Homens, cidadãos do Mundo! Uma Caminhada é premiada pela ousadia. Ter um projecto assumido por todos, que conte com o empenho de todo o Clã, é um sucesso com toda a certeza. Os projectos dos caminheiros são bastante ousados e, se estes os conseguirem executar, estarão sem dúvida no caminho certo, provando que conseguiram apostar em algo importante e adequado à realidade do Clã.

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manualdodirigente Aqui é fundamental o papel da Equipa de Animação, que deve acompanhar os seus caminheiros, para que se consigam orientar no equilíbrio entre as Caminhadas ousadas e as Caminhadas realizáveis. De facto, por muito atractivas que sejam as ideias e as propostas, o Clã deve preparar Caminhadas que pode mesmo realizar, para que depois o resultado não redunde em frustrações, desmotivação e abandono. Neste âmbito, o papel da Equipa de Animação pode ser importante (ajuda a dosear o entusiasmo).

A Equipa de Animação deve acompanhar todas as fases da Caminhada, sempre como irmãos mais velhos, deixando grande autonomia aos caminheiros e viver o Projecto tanto quanto possível com os seus Escuteiros.

Para além disto, e a nível pedagógico, para os caminheiros é valiosa a percepção de que sozinhos não conseguiriam atingir metas que se tornam mais fáceis quando há um esforço conjunto.

Elaborar uma Caminhada. Para elaborar uma Caminhada é importante estar ciente dos passos do Método de Projecto anteriormente descritos. As Caminhadas do Clã devem evoluir de umas para as outras, não esquecendo que, quando se parte para uma nova Caminhada, temos sempre experiências (positivas e negativas) vividas anteriormente que nos condicionam. Isso é bom, pois permite que o Clã cresça e se desenvolva.

Na Caminhada é imprescindível: - Viver em Clã, logo viver em Tribo: respeitar a Carta de Clã; - Assumir responsabilidades; - Descobrir-se, progredindo pessoalmente com o apoio dos outros; - Abrir-se ao mundo: agir no seio da sociedade, ou seja, não só em prol de cada um, ou do Clã, mas agir para a comunidade; - Cultivar o espírito de Serviço.

A Caminhada deve contemplar vários passos, em que cada caminheiro é chamado a pronunciar-se em maior ou menor grau ou desempenha um papel. Isto é muito importante, na medida em que a Caminhada terá êxito se, em Clã e em Tribo, cada um dos seus membros se empenhar.

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Na 1ª Fase do Método do Projecto, encontramos dois momentos em que a Tribo tem um papel fundamental: a idealização de um projecto e o diálogo sobre o mesmo. Após isto, ocorre a escolha do projecto, feita em Conselho de Clã, a que se segue o enriquecimento


manualdodirigente da Caminhada. Este último passo faz-se, por norma, em Conselho de Guias, mas, se o Clã entender que é preferível, pode optar por enriquecer a Caminhada no Conselho de Clã (pode-se proceder assim se daí não resultar grande confusão e poucas decisões). Na 2ª Fase da Caminhada, a 'Preparação', a organização é feita por todos, consoante o cargo e as tarefas que cada um assumiu (note-se que podem ser diferentes dos cargos assumidos na Tribo). A Caminhada deve ser preparada minuciosamente, para que não aconteçam contratempos e se possa minimizar o risco de acidentes. Chega depois a hora de viver a parte mais visível da Caminhada – a 3ª Fase do Projecto. Aqui, e embora possa ser necessário adaptar-se alguma coisa, deve-se viver a Caminhada tal como foi idealizada e organizada, para que não haja desmotivação por parte dos caminheiros, que certamente prepararam tudo com entusiasmo. Depois da realização de tudo o que foi planeado, entramos na 4ª Fase da Caminhada, que implica a avaliação, em Tribos e em Clã, do que foi feito. A este nível, deve haver discussão sobre se os objectivos foram atingidos ou não (quer os da Caminhada em si, quer os individuais) e o que correu mal, para que se possa corrigir de futuro. Para além disto, deve-se reforçar tudo o que correu bem, por forma a que o Clã possa celebrar mais uma meta atingida e partilhar as suas vivências e o seu progresso.

A avaliação final da Caminhada é das fases mais importantes do Projecto, pois permite corrigir, acertar caminhos e crescer. Não menos importante é a avaliação de cada uma das actividades que compõem a Caminhada, logo após a sua realização, de modo a que, de umas actividades para outras, se possa fazer pequenas alterações do que correu menos bem, sempre numa perspectiva de crescimento e evolução contínua.

Participar na Caminhada É importante identificar os aspectos e assuntos da Caminhada que interessem a cada um, o que há para fazer e o que há a aprender, de modo a que os caminheiros possam escolher o que é mais adequado para cada elemento e permite progredir aquando da distribuição de tarefas no seio do Clã. Só assim a Caminhada é uma construção colectiva, em que se tem em conta os desejos de todos os caminheiros. Sem dúvida, será necessário negociar, fazer compromissos, encontrar ideias comuns. Isto é essencial, de modo a que cada um tenha espaço para crescer. Neste âmbito, por vezes será necessário realizar tarefas que ninguém, à partida, quer fazer, mas que são necessárias para a realização da Caminhada. Neste momento, é importante ajudar os caminheiros a perceber que não podem esquecer que a Caminhada é uma construção de todos e que, por vezes, têm de se fazer coisas de que se gosta menos para que o Projecto funcione e ande para a frente. De facto, a Caminhada só será

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manualdodirigente verdadeiramente do Clã se todos se empenharem ao máximo e derem um pouco da sua energia e disponibilidade. Para além das diferentes tarefas a realizar, durante a Caminhada, podem ainda formar­-se “Comissões Técnicas”, pequenos grupos formados por elementos de diferentes Tribos que se agrupam com uma missão específica dentro da Caminhada. A formação de Comissões Técnicas durante as Caminhadas não é obrigatória, mas elas são um bom modo de trabalhar e de ajudar os caminheiros a desenvolver algumas valências menos trabalhadas. Estas Comissões têm características específicas: Deve ser definido um responsável de cada Comissão, que deve estar presente no Conselho de Guias aquando do enriquecimento da Caminhada. A Comissão Técnica é formalizada no Painel da Caminhada e os elementos não devem ser sempre os mesmos nas mesmas Comissões Técnicas, de forma a que todos possam experimentar e crescer. Os elementos que formam as Comissões Técnicas podem procurar formação na área em que estão a trabalhar, assim como promover essa mesma formação no Clã, através, por exemplo, de ateliers e workshops.

Exemplo de Comissões Técnicas e suas funções: - Comissão Técnica de Animação – elementos de várias Tribos juntam-se para planear e tratar especificamente dos momentos e dinâmicas de animação na realização da Caminhada (não tem que ser, obrigatoriamente formada pelos animadores das Tribos, podendo escolher-se outros elementos para essa função). - Comissão Técnica de Reportagem – elementos de várias Tribos tratam da recolha de informação e fotos para uma notícia no jornal ou blog/site da Secção/ Agrupamento ou para o relatório da actividade. - Comissão Técnica de Logística – elementos que tratam de tudo o que é necessário para a realização das actividades: material, transportes, levantamento das condições para acampar e realizar determinadas actividades, etc.

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Para além desta vivência em grupo, a Caminhada é um motor de progressão pessoal. Neste sentido, os objectivos pessoais de cada um, delineados no Projecto Pessoal de Vida - PPV (parte fechada), têm, com certeza, alguns pontos que podem ser integrados na Caminhada, podendo ser, dessa forma, partilhados com todo o Clã. Para além destes objectivos pessoais, também os objectivos educativos escolhidos por cada um, projectados no PPV (parte aberta) e já, de algum modo, integrados na Carta de Clã, devem ser introduzidos na Caminhada, de modo a que cada um possa progredir no seu Sistema


manualdodirigente de Progresso Pessoal. Só assim a Caminhada permitirá adquirir novos conhecimentos, novas competências e novas atitudes. Note-se, ainda, que é preciso ter em conta duas coisas: O Caminho não será sempre direito: a Caminhada terá altos e baixos, curvas e contra-curvas, até mesmo paragens que a tornam desencorajante. Mas estes momentos fazem parte da Caminhada e ultrapassá-los fortalecerá todos e tornará o Clã mais unido. Assim sendo, é importante que os caminheiros estejam preparados para algum desaire do caminho. Nestas situações, o papel da Equipa de Animação é fundamental, competindo-lhe sempre motivar, desmistificar o problema e ajudar os caminheiros a procurar as suas próprias soluções. Não se pretende que seja a Equipa de Animação a fazer e a andar com a Caminhada para a frente, mas que ela seja capaz de pôr os caminheiros ‘a mexer’ quando desanimam. O Caminho será movimentado: cada Tribo e Clã viverá momentos de entusiasmo e de satisfação, mas também desacordos, desacertos e falta de motivação. Para encontrar uma solução para os problemas que surgirem, é importante analisá-los e discuti-los em Tribo ou Clã. Mais uma vez é fundamental o irmão mais velho estar atento e presente, principalmente como moderador de algumas discussões que possam surgir, mas deixando sempre a resolução dos problemas e conflitos para os caminheiros.

Duração da Caminhada A duração da Caminhada, assim como o número de actividades que deverão integrar a mesma, deve ser decidida pelo Clã, não havendo uma regra rígida a seguir. Importante é que as datas da realização das actividades que integram a Caminhada sejam escolhidas de comum acordo e de modo a que todos possam participar. Para estarem sempre presentes, devem ser afixadas no Painel de Caminhada.

Por a Caminhada ser um compromisso do Clã, as actividades devem ser marcadas com tempo e por todos e tem que haver uma responsabilização dos caminheiros para gerirem a sua vida em torno das datas definidas.

Quanto ao número de Caminhadas a realizar, geralmente faz-se uma Caminhada, que acompanha o ano escutista. No entanto, têm-se verificado bons resultados quando se realizam duas Caminhadas por ano escutista: uma de Setembro a Dezembro e outra de Fevereiro a Junho, sensivelmente. Esta divisão pode ter vantagens:

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manualdodirigente Obriga os caminheiros a começar a trabalhar logo no início do ano lectivo (têm cerca de 3 meses para realizar a 1ª caminhada, pelo que não podem estar parados), em vez de projectarem todas as actividades no futuro e passarem os primeiros meses sem saber bem o que fazer. Permite deixar livre o mês de Janeiro, altura em que é frequente abandono das actividades escutistas (por ser um mês de exames e entrega de trabalhos para quem está no Ensino Superior). Não havendo responsabilidades a cumprir nesta altura, depois desta época os caminheiros, que realizaram e avaliaram já uma primeira Caminhada, voltam cheios de vontade para uma segunda, em vez de haver um interregno na Caminhada anual, faltas constantes e um grande espaçamento temporal entre actividades da mesma Caminhada (perdendo-se o fio condutor que deve ter).

Boa prática: Fazer mais do que uma Caminhada por ano, seguindo sempre todas as fases do Método Projecto, porque é mais motivador: - em Caminhadas mais curtas, é possível ver mais depressa os resultados, o que torna as actividades mais aliciantes para os caminheiros; - há pouco tempo para levar a cabo as Caminhadas, pelo que os caminheiros são obrigados a manter-se activos, não deixando para depois o que é necessário fazer agora.

Bibliografia: BADEN-POWELL, R. S. S., Mil e uma Actividades para escuteiros, Edições CNE. Flor de Lis – órgão oficial do CNE. Nós e os Nós, Edições CNE. Nós e as construções, Edições CNE. OPPIE, Frankie, Escuteiro Global, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, A Pedagogia do Projecto (Colecção Manual do Dirigente n.º 1), Edições CNE. WOSM/WWF, Ajuda a Salvar o Mundo, Edições CNE.

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Tiago Pereira

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C.5

Sistema de Patrulhas

C.5.0 O modelo criado por B.-P.

“O Sistema de Patrulhas é o principal motor do Escutismo, permitindo a cada Escuteiro encontrar o seu lugar entre os outros.” Baden-Powell Hoje – pistas para um educador no Escutismo

O sistema de patrulhas, tal como B.-P. o idealizou, assenta na divisão de rapazes e raparigas em pequenos grupos – Patrulha –, dentro dos quais estabelecem relações e são chamados a assumir diversas tarefas para a promoção do bem-comum. Um dos elementos assume a direcção e cada um dos restantes é chamado a desempenhar tarefas específicas, que permitem a cada um contribuir para o bem geral. Esta divisão de tarefas incentiva, assim, a co-responsabilidade e permite a aprendizagem da democracia e da solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a compreensão do papel do líder e da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo. No CNE, os pequenos grupos têm nomes diferentes, consoante a secção a que se ligam. Assim, a Alcateia divide-se em Bandos, a Expedição em Patrulhas, a Comunidade em Equipas e o Clã em Tribos.

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manualdodirigente I. Vivência e valor pedagógico O Sistema de Patrulhas ajuda a dar forma ao método de educação natural e não formal pensado por B.-P., na medida em que induz cada elemento a desenvolver-se pelo contacto natural com os outros. Assim, este sistema permite que haja, nas Unidades e, por conseguinte, em todo o Escutismo, um verdadeiro esforço de cooperação: cada elemento cresce com os outros e entre eles e, pela vivência conjunta e pela prática da Lei do Escuta, aprende que o seu valor individual deve estar sempre ao serviço do Bando/ Patrulha/Equipa/Tribo e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha segundo as suas forças e recebe segundo as suas necessidades. Assim sendo, a Patrulha surge como uma micro-sociedade, um grupo de rapazes e raparigas que estão unidos por ideais e objectivos comuns, são regidos por uma mesma lei – a Lei do Escuta – e vivem juntos experiências inesquecíveis. E, ao assumir a responsabilidade de determinadas tarefas no seio do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo – essenciais para o sucesso das actividades –, cada elemento é levado a renunciar ao seu egocentrismo e a aprofundar o seu sentido de responsabilidade e solidariedade. Para além disto, a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens permite ainda a promoção de valores como o da liderança responsável, da democracia e do trabalho em equipa, unindo os elementos num ideal comum, repleto de camaradagem, cumplicidade e amizade.

Bibliografia: PHILIPPS, Roland, O Sistema de Patrulhas, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, Edições CNE.

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manualdodirigente II. ORGANIZAÇÃO A nível prático, o Sistema de Patrulhas, no CNE, assume as seguintes características gerais:

Designação do elemento e sua idade

Lobito (a) - Criança dos 6 aos 10 anos

Explorador (a) - Crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos

Pioneiro (a) - Adolescentes e jovens dos 14 aos 18 anos

Caminheiro (a) - Jovens dos 18 aos 22 anos

Designação do pequeno grupo e suas características

Bando - 5 a 7 lobitos - De preferência, sempre mistos - Identificado por uma de cinco cores: Branco, Cinzento, Preto, Castanho e Ruivo - Constituído por elementos de diferentes idades - Liderados por um Guia de Bando

Patrulha -4a8 exploradores - De preferência, sempre mistos - Identificada por nome de animais - Constituída por elementos de diferentes idades - Liderados por um Guia de Patrulha

Equipa 4 a 8 pioneiros - De preferência, sempre mistos - Identificada por Santo da igreja, ou um pioneiro da Humanidade ou herói nacional. - Constituída por elementos de diferentes idades - Liderados por um Guia de Equipa

Tribo -4a8 caminheiros - De preferência, sempre mistos - Identificada por Santo da igreja, ou um benemérito da Humanidade ou herói nacional. - Constituída por elementos de diferentes idades - Liderados por um Guia de Tribo

Tripulação - 4 a 8 moços - Liderados por um Timoneiro

Escutismo marítimo:

Escutismo marítimo:

Equipagem - 4 a 8 marinheiros - Liderados por um Mestre

Companha -4a8 companheiros - Liderados por um Arrais

Alcateia (2 a 5 bandos)

Expedição (2 a 5 patrulhas)

Comunidade (2 a 5 equipas)

Escutismo marítimo:

Escutismo marítimo:

Escutismo marítimo:

Clã (Entre 10 e 32 caminheiros)

Alcateia (2 a 5 bandos)

Flotilha (2 a 5 tripulações)

Frota (2 a 5 equipagens)

Comunidade (Entre 10 e 32 companheiros)

Designação do local de reunião

Covil

Base

Abrigo

Albergue

Designação do Projecto

Caçada Escutismo marítimo: Caçada

Aventura Escutismo marítimo: Expedição

Empreendimento Escutismo marítimo: Cruzeiro

Caminhada Escutismo marítimo: Campanha

Escutismo marítimo: Bando - 5 a 7 lobitos - Liderados por um Guia de Bando

Designação da Unidade

Escutismo marítimo:

Escutismo marítimo:

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manualdodirigente C.5.1 O Sistema de Patrulhas na Alcateia I. O Sistema de Bandos Quando criou o Lobitismo, B.-P. imaginou um sistema similar ao Sistema de Patrulhas que denominou 'Sistema de Bandos'. Tal como no caso dos escuteiros mais velhos, este sistema baseia-se na organização da Secção em pequenos grupos que partilham brincadeiras e responsabilidades.

a) Características gerais Vejamos as características gerais que este sistema tem: Denomina-se Alcateia a Unidade formada por Bandos de lobitos e pela sua Equipa de Animação. Dentro de cada Alcateia, os lobitos estão organizados em pequenos grupos, denominados Bandos, segundo as suas particulares predilecções, afinidades e características.

Cada Alcateia tem entre dois a cinco Bandos.

Não pode haver mais do que cinco Bandos. Cada um dos Bandos designa-se e distingue-se obrigatoriamente por uma das cinco cores que o pêlo dos lobos pode ter: branco, cinzento, preto, castanho e ruivo. Estas cores figuram no distintivo da Bando de cada lobito e na bandeirola de Bando. Não se podem usar outras cores para os nomes dos Bandos

Os nomes dos Bandos seguem uma ordem fixa: se a Alcateia só tiver dois Bandos, estes devem ter como nome Bando Branco e Bando Cinzento. Ao terceiro Bando criado chamar-se-á Preto, o quarto será o Castanho e o quinto será o Ruivo.

b) Número de elementos

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A experiência recomenda que cada Bando deve ter entre 5 a 7 lobitos, por uma questão de funcionamento. De facto, e dada a pouca autonomia dos lobitos, um Bando com apenas 4 elementos poderia prejudicar o normal funcionamento das actividades (seriam muito poucos nos jogos, ficariam sobrecarregados em termos dos cargos a desempenhar, etc.). Por outro lado, um Bando com 8 elementos torna a tarefa do Guia muito difícil de realizar, correndo-se o risco de ser o dirigente a substituí-lo nessa tarefa. Na verdade, um Guia de Bando tem pouca autonomia e ter tantos elementos a seu cargo implica uma


manualdodirigente capacidade de organização e de liderança que a maioria das crianças não tem. No entanto, em casos excepcionais (como a existência de uma Alcateia apenas com 9 elementos), os Bandos poderão ter 4 ou 8 lobitos. Esta situação deve ser encarada sempre como uma solução a prazo, já que não é a melhor solução do ponto de vista pedagógico. A decisão cabe à Equipa de Animação, que deve ter em conta alguns critérios, como o número de elementos da Alcateia, o tamanho do Covil (pode não ter espaço para 3 Bandos de 5 lobitos, por exemplo), o número de dirigentes da Unidade (ver características das Equipas de Animação, neste capítulo), etc.

c) A formação dos Bandos Ao formar Bandos, os dirigentes têm de ter em conta sobretudo dois parâmetros: o género e a idade. A nível de género, os Bandos devem ser sempre mistos, englobando, na medida do possível um número similar de rapazes e raparigas. Note-se que nunca deve existir um Bando que tenha apenas um elemento de um género (por exemplo, um lobito e cinco lobitas), na medida em que isso pode fazer com que o lobito que está sozinho se sinta isolado e fique desmotivado. Sabemos que, na idade dos lobitos, nem sempre é fácil pôr meninos e meninas a trabalhar em conjunto, mas esta situação é necessária não apenas porque espelha a sociedade a que pertencemos (onde homens e mulheres partilham vivências), mas também porque ensina as crianças a partilhar e a respeitar o outro. De facto, viver, aprender e brincar em conjunto com o outro género permite que as crianças exercitem o respeito, a solidariedade, a tolerância, a partilha, etc.

Em acampamento, a tenda deve ser vista como um espaço de intimidade e privacidade. Assim, e independentemente da idade dos lobitos, rapazes e raparigas devem dormir em tendas separadas, embora possam partilhar o mesmo canto de Bando.

Já a nível de idade, o mais adequado, em termos pedagógicos, é a existência de Bandos verticais, na medida em que permitem maiores benefícios.

Bandos verticais são os que possuem elementos de diferentes idades. Bandos horizontais são aqueles em que todos os elementos têm a mesma idade.

De facto, e ainda que a heterogeneidade de idades possa criar obstáculos (pode haver uma grande diferença de interesses ou maturidade), a sua existência pode trazer enormes benefícios:

205


manualdodirigente Permite o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos, que, ao partilharem o seu conhecimento (ensinando e orientando), desenvolvem o sentido de solidariedade, tolerância e paciência. Permite a transmissão de conhecimentos e a manutenção, por essa via, das tradições e costumes da Alcateia (o que contribui para o espírito de corpo). Permite que os mais novos se exercitem na obediência e no respeito pelos mais velhos. Os Bandos horizontais, ou seja, com lobitos todos da mesma idade e na mesma fase de desenvolvimento, devem ser evitados. Assim, esta situação só deve ser utilizada em casos da mais absoluta necessidade. De facto, e ainda que este tipo de Bandos facilite a integração dos elementos (partilham interesses, gostam das mesmas brincadeiras, etc.), possui grandes desvantagens: Não permite a transmissão de conhecimentos dos mais velhos para os mais novos, algo absolutamente essencial no sistema imaginado por B.-P., que defendia a aprendizagem através do 'irmão mais velho'; Nas situações de competição, e porque não há equilíbrio de idades, os Bandos com lobitos mais velhos têm muito mais probabilidades de vencer. Isto pode conduzir tanto a sentimentos de frustração por parte dos mais novos, com a sentimentos de vaidade e orgulho excessivo por parte dos mais velhos, perdendo-­ -se os valores da solidariedade, fraternidade e humildade. Na formação dos Bandos, para além do género e da idade, é importante que a Equipa de Animação tenha em conta critérios como a fase de desenvolvimento das crianças, empatias e afinidades, proximidade familiar entre elas, laços de amizade, etc. Assim, e embora a integração na Alcateia seja facilitada pelo facto de as crianças se aproximarem umas das outras de forma espontânea e informal, criando facilmente relações de amizade, nunca a formação dos Bandos deve ser deixada ao critério delas, porque isso facilmente conduziria a Bandos desiguais (os mais velhos, os amigos, os irmãos têm tendência natural para se juntarem). Tendo isto em conta, a distribuição de novos lobitos pelos Bandos é sempre da responsabilidade da Equipa de Animação.

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Depois de formados os Bandos, a Equipa de Animação pode constituí-los, em Alcateia, usando o jogo, o que, para além de tornar este momento dinâmico e divertido, permite criar nos lobitos a ideia de que, de alguma forma, contribuíram para esta formação. Eis algumas sugestões: - Espalhar, por um terreno, fitinhas da cor dos Bandos com o nome de cada lobito. Cada um tem de procurar a fita com o seu nome e deve-se juntar aos elementos que possuem a mesma cor. Ganha o Bando que primeiro ficar completo. - Fazer uma pista em que são deixadas mensagens que permitem que os lobitos vão completando os Bandos (por exemplo, a primeira mensagem pode dizer quem são os guias, a segunda pode dizer que aspirantes estão em que Bando, etc.). - Dar aos lobitos um conjunto de frases que dão indicações precisas sobre quem se deve juntar a quem (por exemplo, a única lobita que usa tranças deve juntar-se ao único lobito com óculos, etc.)


manualdodirigente d) O espírito de Bando e de Alcateia

“A«linguagem da selva», a utilização dos Totens, as «palavras-chave» e os cânticos. Eis alguns dos principais aspectos da vida da Alcateia nos quais o ambiente da selva se vive continuamente.” Alaiii!, 14

O espírito de corpo de um grupo – chamado, nos lobitos, espírito de Bando ou espírito de Alcateia – é o ambiente de cumplicidade, hábitos e tradições que permite criar uma identidade comum e une os elementos de um grupo. Sem esta identidade comum, os lobitos não se sentem parte de coisa nenhuma e desmotivam com facilidade. Pelo contrário, se este espírito funcionar, os lobitos sentem-se parte da Família Feliz que a Alcateia deve ser. Para que este espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a duas estratégias: Promover constantemente o trabalho em equipa em cada Bando (como a divisão de tarefas, a co-responsabilização, a decisão democrática, etc.), dado que ele une e fortalece. Usar ferramentas pedagógicas como objectos, símbolos e tradições escutistas que foram idealizadas para promover a identidade do grupo (uniforme, o totem, o livro de ouro, a divisa, a bandeirola, etc.). Eis algumas das ferramentas pedagógicas que se usam para a promoção do Espírito de Bando e Alcateia: Mastro de Honra, Mastro Totem ou Vara Totem Cada Alcateia tem o seu Mastro de Honra, ou Totem, vara no alto da qual se fixa uma figura recortada, desenhada ou esculpida em madeira, representando uma cabeça de Lobo. No Totem são inscritos sinais representativos da história da Alcateia pois são lá colocados os nomes de todos os lobitos que fazem promessa e outros símbolos que sejam importantes para o grupo (por exemplo uma fita com o nome de todos os lobitos que participaram numa determinada actividade, com o nome dos lobitos que progrediram, actividades importantes da Alcateia, prémios e distinções recebidas, etc.). O Totem acompanha a Alcateia em todas as actividades (incluindo missas e procissões, por exemplo), por se tratar do seu símbolo máximo. Ocupa necessariamente um lugar de destaque no Covil, devendo ser muito respeitado. Pode ser usado como prémio (por exemplo, quando um Bando vence uma competição, pode ficar com o Totem no seu canto durante uma semana ou transportá-lo numa actividade). Canto do Bando Canto, no Covil, que pertence exclusivamente ao Bando e é da sua responsabilidade. Só o Bando e a chefia podem aceder a este lugar, que pode estar organizado e deco-

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manualdodirigente rado ao gosto dos lobitos (deve-se zelar para que esteja asseado e em ordem). Pode incluir espaços variados: local de arrumação de materiais (cordas, material escolar, etc.), quadros variados (de nós, de sinais de pista, de presenças, com colecções), decoração relacionada com a história da Selva, etc.

“Calculo que muitos de vós tenhais na sede um cantinho vosso ou uma pequena parte da parede confiada ao Bando. Se assim é, pertence-vos torná-lo tanto quanto possível alegre e «lobítico». (...) Enfim, há um conjunto de coisas a fazer para dar a vossa toca o aspecto dum verdadeiro covil (...).” Baden-Powell, Manual do Lobito, 92-93

Bandeirola Vara com uma bandeirola em tecido branco, debruado a amarelo, com a cabeça de lobo desenhada, da cor do Bando. Cada Bando é identificado através de uma vara destas, que fica guardada num lugar especial no canto do Bando. Sempre que o Bando sai em actividade, acompanha-o, devendo ser transportada pelo Guia (pode ser transportada pelo subguia se o Guia estiver incumbido de outras tarefas ou não participar na actividade). Livro de Ouro Caderno onde se registam as actividades e acontecimentos marcantes da vida da Alcateia, sendo um depósito da história da Unidade. Guarda ainda os nomes dos lobitos que passaram pela Alcateia, as competências obtidas, etc., através de textos, fotografias e desenhos. Por fim, aqui se registam também as tradições ou hábitos da Alcateia. Por ser um 'tesouro', só deve ser aberto de forma cerimoniosa. Totem pessoal Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um totem pessoal, um nome de um animal que personifica as características do escuteiro e com o qual ele se identifica ou cujas capacidades gostava de ter. É seguido de um adjectivo que deve ser uma característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar. A nível deste assunto, há divergências de actuação, pelo que exploraremos aqui as três estratégias que normalmente se usam: a) Umas Alcateias optam por não utilizar o totem pessoal, deixando o seu uso para a Expedição. Desta maneira, reforçam o imaginário da 2ª secção, permitindo que os lobitos desejem novas experiências (BP, aliás, dizia que não se devia dar aos lobitos ferramentas próprias para exploradores);

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b) Algumas Alcateias utilizam os chamados 'Nomes da Selva', o que as coloca no meio das duas situações anteriores. Aqui, parte­-se do pressuposto de que todos os lobitos já têm um totem: são lobos. Como tal, o que os distingue é uma característica, sempre que possível positiva, e é por essa característica que são conhecidos na Alcateia ('Amiga',


manualdodirigente 'Sorridente', 'Forte', 'Alegre', etc.). Desaparecem, assim, os 'nomes de Homem' e os lobitos são completamente imersos no espírito da Alcateia: são lobos e, como tal, têm nome de lobo. c) Outras Alcateias utilizam o Totem pessoal, levando cada lobito a escolher um animal com o qual se identifique ou que goste particularmente, bem como, uma característica pessoal inata à criança (ex. Lobo distraído, Golfinho Brincalhão, Pantera atento). Assim se procura levar a Alcateia perceber que todos são diferentes, mas de uma forma positiva, ou seja, não existem características boas nem más, mas sim diferentes. Saudação A saudação dos lobitos difere da dos escuteiros por usar dois dedos abertos, que representam os artigos da Lei do Lobito e as orelhas do lobo, quando está atento. Assim se relaciona este símbolo com o imaginário da secção e se reforça a coesão por se tratar de um 'sinal secreto' (B.-P., Manual do Lobito, 23), cujo significado só os lobitos conhecem. Os membros da Equipa de Animação da Alcateia usam a saudação normal, salvo quando saúdam os lobitos, situação em que, por razões de ordem educativa, utilizarão a saudação específica da I Secção. Competição entre Bandos A criação de um quadro de pontuação no Covil, à vista de todos, para atribuição de pontos aos Bandos em todos os pormenores das suas actividades (assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento, respeito pela Lei, alegria, /etc.) permite estimular a competição entre os Bandos. Esta competição, quando realizada de forma saudável (por exemplo durante uma Caçada), funciona como incentivo e vontade de ser melhor e desenvolve o espírito de Bando, na medida em que leva os lobitos a zelar pelo sucesso do seu Bando. Para além disto, e se for organizada com sentido de justiça, atenção e cuidado, estimula o respeito pelas regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória, promove o gosto pela eficiência e por ser melhor, etc. No caso da Alcateia, pode­-se optar por não utilizar pontuação numérica, mas sim visual. Um quadro que se vai pintando, boiões que se vão enchendo de nozes, contas que se vão enfiando num fio são exemplos de pontuações visuais que vão mostrando aos Bandos a progressão de cada um, estimulando a competição saudável. Cerimoniais e formaturas Na Alcateia há cerimoniais e formaturas específicos que ajudam a criar o sentido de corpo. Para além da Promessa, que segue um cerimonial próprio e diferente do das outras secções (ver livro de cerimoniais do CNE ), existem o Grande Uivo, do Círculo de Conselho e do Círculo de Parada. Eis as suas características gerais: GRANDE UIVO É a saudação colectiva que os lobitos fazem habitualmente aos seus Chefes ou a um visitante. Executa-se da seguinte maneira: a) Por ordem de Àquêlá, o Guia designado pelo Conselho de Guias, ou na falta deste, o Guia mais antigo (ou outro Guia) gritará com tom agudo e prolon­gado: «A-la-iii...»;

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manualdodirigente b) Ao ouvir este grito, todos os Lobitos, correndo e uivando "Hiauuu" formam o Círculo de Parada em torno de Àquêlá, por Bandos, ficando cada Guia à direita do seu Bando e os Bandos à esquerda uns dos outros pela ordem se­guinte: branco, cinzento, preto, castanho e ruivo; c) Formando o Círculo, ao grito de "Àquêlá" soltado pelo Guia designado, todos os lobitos se acocoram, ficando com os calcanhares unidos e levanta­dos, joelhos afastados, pontas dos dedos em apoio no solo. Imitam assim a posição do Lobo sentado. A face deve estar erguida para o Chefe fitando-o com satisfação; d) Logo que tomam esta posição os lobitos gritam a plenos pulmões, uníssona e pausadamente: "Àquêlá! Serei melhor! melhor! melhor!"; e) Ao gritar "melhor" pela terceira vez, todos se levantam num movimento rá­pido e simultâneo, ficando bem direitos, com as mãos aos lados da cabeça, em saudação dupla, imitando as orelhas de um Lobo; f) Então Àquêlá interroga, dizendo a primeira palavra pausadamente e as síla­bas seguintes rápidas, mas destacadamente: "Quereis cap, cap, cap, cap? (cumprir a promessa)"; g) Num grito prolongado, todos respondem: "Sim... (e baixando o braço esquerdo) cov, cov, cov, cov! (com vontade)". E baixando o braço direito, ficam em sentido, aguardando as ordens de Àquêlá. CÍRCULO DE CONSELHO É formado pelos lobitos, colocados na mesma disposição do Grande Uivo, e deve ter de cinco a sete passos de diâmetro, consoante o número de lobitos. O local que Àquêlá ocupa no centro do Círculo denomina-se Rocha do Conselho e é demarcado por um pequeno círculo de pedras ou de giz traçado no solo. Os lobitos formam o Círculo do Conselho para receber instruções ou ouvir belas histórias contadas por Àquêlá. O Guia de Bando designado orientará a formação do Círculo de Conselho, procedendo como nas alíneas a) e b) do Grande Uivo. À voz de "lobitos! Formar Conselho", dada pelo Chefe de Alcateia, os lobitos dão um a dois passos para o centro do Círculo.

“Deve ser absolutamente proibida a formatura a quatro (...). A formatura da Alcateia é o Círculo e não a fila, e não haverá dificuldades em o formar se os lobitos compreenderem a voz de 'Alcateia!! Alcateia! Alcateia!!!'” Baden-Powell, Manual do Lobito, 168

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CÍRCULO DE PARADA O Círculo de Parada destina-se à execução das Danças da Selva, de certos jogos e cerimónias e forma-se como se descreve nas alíneas a) e b) do Grande Uivo.


manualdodirigente II. Cargos e funções dos elementos

“Já vedes que numa Alcateia cada lobo tem o seu ofício. (...). Eis, pois, em resumo, o dever principal dum Escuta: desempenhar o seu papel naquilo que lhe compete.” Baden-Powell, Manual do Lobito, 32

No Lobitismo, mantêm-se, para as crianças, algumas características do Sistema de Patrulhas idealizado por B.-P.. Uma delas é a atribuição de cargos individuais, ou seja, a responsabilização de cada lobito por uma tarefa específica e pessoal dentro do Bando a que pertence. Através disto, procura-se que cada criança desenvolva o seu sentido de dever e sinta que tem um papel importante a nível do bem-estar e sucesso do Bando. De facto, responsabilizado perante os outros no que concerne à sua actuação, o lobito sente-se indispensável ao Bando e conquista um lugar de importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança do seu Bando (em questões de material, é ao Guarda de Material que cabe a tarefa de chefiar o Bando, etc.) e revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução dos problemas. Esta divisão de tarefas permite que as crianças aprendam progressivamente a desempenhar diversos papéis de forma responsável e se preparem para a vida. Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Bandos: que cada lobito cresça consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de pilares para a vida. O desempenho de um cargo no seio do Bando ou de uma função na Caçada constitui uma oportunidade de ouro para progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções privilegia o crescimento em várias áreas.

a) O Cargo Dentro do Bando, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma forma de motivar a participação do escuteiro e de desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade para o bem-estar dos outros.

CARGO Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.). O exercício de um cargo implica o uso da insígnia correspondente. Dentro do Bando, é conveniente que todos possuam um cargo, já que, através dele, podemos motivar os lobitos e ajudá-los a desenvolver o seu sentido de responsabilidade.

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manualdodirigente Note-se, contudo, que cada lobito não deve desempenhar mais do que um cargo de cada vez, para que não fique sobrecarregado. A única excepção é o subguia que, por ser, na maioria da vezes, um adjunto, pode ter uma outra responsabilidade, só sua. Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos: Guia, Subguia, Secretário/Cronista, Tesoureiro, Guarda de material. Podem ainda existir alguns cargos complementares: Animador, Socorrista/Botica, Intendente Informático. Estes cargos devem ser rotativos, para que cada lobito possa crescer em diversas áreas de desenvolvimento. Assim, não é aconselhável que um lobito desempenhe sempre o mesmo cargo ao longo dos anos que permanece na Alcateia.

O exercício de um cargo permite o crescimento em áreas de desenvolvimento específicas, pelo que pode ser usado pela Equipa de Animação para ajudar cada elemento a crescer em determinada direcção. Assim, pode­-se dar a cada lobito um cargo que o possa ajudar a desenvolver numa área em que apresente dificuldades (por exemplo, um tesoureiro tem de possuir capacidades de raciocínio matemático e de organização da informação). Note-se, contudo, que: - pode haver necessidade de organizar ateliers ou criar actividades específicas para cada cargo, para que os lobitos possam desenvolver ao máximo as suas capacidades, aprendendo mais sobre as suas responsabilidades e pondo em prática as tarefas que lhes competem (um lobito que não possa exercer o seu cargo em nenhuma circunstância facilmente se desinteressa, a este nível); - há que avaliar as reais capacidades de cada lobito, sob pena de algum poder ficar frustrado ou começar a rejeitar as tarefas que lhe foram atribuídas (por exemplo, um lobito muito tímido pode ter grandes dificuldades em exercer o cargo de animador).

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manualdodirigente Cargos básicos 1. Guia

“Um Bando compreende (…) rapazes debaixo da direcção de um Guia, auxiliado por um Subguia. Deve dar-se-lhes apenas a responsabilidade real de mandar e ensinar, sob a fiscalização directa do Chefe. O guia de Bando não é um «Guia de Patrulha mais novo» e não deve considerar­-se capaz de tomar conta do Bando e instruí-lo.” Baden-Powell, Manual do Lobito, 167

O cargo de Guia é muito importante na Alcateia, na medida em que permite que a liderança comece a ser treinada desde a infância. Note-se, contudo, que os lobitos demonstram muitas dificuldades neste domínio, pelo que devem ser constantemente ajudados pelos dirigentes, que devem estar presentes em todos os momentos.

O Guia de cada Bando é escolhido por Àquêlá e respectiva Equipa de Animação, em sintonia com cada Bando.

Ao Guia compete, sempre com o auxílio do dirigente: Dirigir e animar o seu Bando; Ajudar o seu Bando a progredir; Transportar a bandeirola do Bando; Representar o Bando nos Conselhos de Guias, dando algumas informações sobre o seu Bando e recebendo indicações e instruções para transmitir; Representar o Bando no Conselho de Alcateia, explicando as ideias e projectos do Bando; Distribuir tarefas e cargos; Nomear o Subguia, ouvindo o Bando e os dirigentes; Formar a Alcateia em Círculo de Conselho e de Parada e dirigir o Grande Uivo (se for escolhido para tal em Conselho de Guias).

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manualdodirigente Há que ter em conta que: Quem dirige o Bando não é o chefe, mas sim o Guia. Há que resistir à tentação de substituir o Guia nas tarefas de liderança quando se verifica que ele tem dificuldades a este nível. Compete ao dirigente estar presente e ensiná-lo a liderar (dando-lhe sugestões, por exemplo), mas não o substituindo. Esta formação pode ter momentos próprios, na medida em que podem ser criados ateliês ou discutidos assuntos específicos no Conselho de Guias (por exemplo, como se deve portar um Guia, como ajudar os mais novos, etc.). Os dirigentes devem ir rodando pelos Bandos, não se habituando a trabalhar apenas com um, para que possam conhecer todos os lobitos.

O Guia de Alcateia Sempre que a Equipa de Animação julgar necessário, pode ser nomeado um Guia de Alcateia, que deve ser eleito entre os Guias. Este cargo é exercido durante o ano escutista em que o Guia é eleito, mas pode terminar se o lobito assim entender ou se Conselho de Guias o decidir. A existência deste Guia pode revelar-se interessante, na medida em que pode permitir à Equipa de Animação exercitar de forma especial a liderança com algum lobito. É essencial que o Guia de Alcateia: Respeite os Guias de Bando, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos. Seja um exemplo a seguir para os outros, tanto a nível da sua postura, como do seu progresso pessoal. Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a si próprio.

2. SubGuia

“A vida de Bando está na base da vida em família feliz. Animada de guias e subguias de Bando empreendedores e atentos aos outros, a Alcateia assentará em bases sólidas pois os Bandos serão outras tantas células de progresso e da dinamismo.” Alaiii!I, 27

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O Guia tem por braço direito o Subguia, que o auxilia e substitui em caso de ausência. Esta responsabilidade reveste-se, assim, de especial importância, na medida em que um lobito que a tenha deve estar atento à evolução do Bando e desenvolver as suas capacidades de liderança, que pode ter de usar a qualquer momento. Contudo, e como este


manualdodirigente cargo não implica uma responsabilização constante, o lobito que o desempenha pode acumulá-lo com outro cargo dentro do Bando. Para que Guia e Subguia consigam trabalhar em conjunto, devem conhecer-se bem. Isto implica que o Subguia deve ser escolhido pelo Guia, que terá tendência a escolher alguém com quem tem afinidades. Note-se, contudo, que tanto o Bando como os dirigentes devem dar a sua opinião acerca desta escolha.

3. Secretário/cronista É o especialista do Bando na área da documentação e da comunicação básica. Tem como principais tarefas: Arquivar os documentos do Bando (por exemplo, as mensagens dadas num jogo de pista); Ajudar a tratar de toda a correspondência do Bando (por exemplo, um postal de Natal para outra Alcateia ou Bando).

4. Tesoureiro É o especialista do Bando na área económica. Tem como principais tarefas: Ajudar a anotar e recolher as quotas; Ajudar a verificar o preço do material a adquirir para as actividades; Participar, à sua medida, em campanhas de angariação de fundos.

5. Guarda de material É o responsável pela conservação do seu material e equipamento. Tem como principais tarefas: Ajudar os dirigentes a inventariar o equipamento e material do Bando (para ver se não falta nada); Cuidar do equipamento e material do Bando (verificar se os marcadores estão tapados e bem arrumados, se a cola está bem fechada, se as folhas estão arrumadas, se a corda não está molhada, etc.); Controlar, nas actividades, o equipamento e material utilizados, verificando o seu estado de conservação à saída e no regresso.

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manualdodirigente Cargos complementares 1. Animador É o responsável por ajudar o Bando em todos os momentos de animação. Tem como principais tarefas: Ajudar a preparar os novos elementos do Bando para as cerimónias e rituais; Coordenar, nas actividades, encenações, gritos, canções, etc. do Bando.

2. Socorrista/Botica É o responsável pela saúde do Bando. Tem como principais tarefas: Cuidar da farmácia do Bando; Tratar as pequenas feridas dos elementos do Bando, quando em actividade, sempre sob supervisão do dirigente; Ajudar a zelar pela higiene do Bando nas actividades.

3. Intendente É o especialista do Bando na área gastronómica. Tem como principais tarefas: Ajudar os dirigentes a elaborar a lista de alimentos para as actividades; Distribuir, de forma equitativa, os géneros alimentícios nas actividades.

4. Informático É o especialista de comunicação e procura de informação do Bando. Tem como principais tarefas: Procurar informação relacionada com locais de realização de actividades (lendas, histórias, tradições, etc.); Ajudar os dirigentes a escolher informação para pôr no site do Agrupamento ou da Alcateia; Ajudar os dirigentes a organizar e guardar os ficheiros informáticos do Bando (documentos, fotografias, etc.).

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manualdodirigente Em resumo, os cargos caracterizam-se por: Desempenho de um cargo

Ao longo do ano

Duração do cargo

6 meses a 1 ano

Distribuição dos cargos

Pelo Guia eleito Recomenda-se um cargo por lobito

Cargos básicos

Guia, subguia, secretário/cronista, tesoureiro, guarda de material

Cargos complementares

Animador, socorrista/botica, intendente, informático

b) A Função Durante uma Caçada, pode surgir necessidade de realizar tarefas específicas que impliquem o exercício de funções.

FUNÇÃO Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada lobito. Assim, por exemplo, numa Caçada que contemple um acampamento, pode haver necessidade de existir um ou mais guardas de material, socorristas, etc. É possível que cada lobito desempenhe mais do que uma função (o guarda de material pode ser também o encarregado das construções, o animador pode ser também treinador, etc.). O exercício de uma função não é acompanhado pelo uso de uma insígnia.

Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras (secretário/cronista, repórter, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, treinador, explorador, navegador, etc.). Partilham com os cargos o facto de estarem ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento, podendo ser usadas para auxiliar um lobito a progredir numa área onde não seja tão forte.

FUNÇÃO

ÁREA PRINCIPAL

OUTRAS ÁREAS

BREVE DESCRIÇÃO DAS SUAS TAREFAS

Secretário

Intelectual

Carácter, Social

Trata do painel da caçada, regista o que vai acontecendo e prepara um resumo do que aconteceu para a avaliação.

Repórter

Intelectual

Carácter, Social

Documenta uma actividade através de um texto e/ou fotografias ou desenhos. Coordena um jornal de parede ou de papel do Bando.

Relações públicas

Intelectual

Carácter, Social

Estabelece contactos com outros Bandos, secções, grupos, agrupamentos, entidades, etc., na companhia (ou com aviso prévio) dos dirigentes.

Tesoureiro

Intelectual

Carácter, Social

Participa na orçamentação da actividade, ajudando a controlar contas e pagamentos, para depois poder informar o tesoureiro do Bando..

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FUNÇÃO

OUTRAS ÁREAS

BREVE DESCRIÇÃO DAS SUAS TAREFAS

Guarda de material

Intelectual

Carácter, Físico

Prepara a lista de material que o Bando leva para uma actividade, tentando com isso identificar falhas. Em campo é o responsável pelo estaleiro de material e por alertar todos os lobitos do Bando para os cuidados a ter com a utilização do equipamento e para a segurança dos elementos.

Animador

Espiritual

Carácter, Social, Afectivo

Memoriza poemas, músicas, danças e/ou gritos de animação para poder animar momentos dinâmicos e de reflexão e oração da Alcateia ou o Bando.

Carácter, Social

Procura pesquisar formas de apresentação dramática e coordena as apresentações na Flor Vermelha (Fogo de Conselho), sendo o responsável por verificar as vestes e outros elementos cénicos.

Saltimbanco

Afectivo

Socorrista

Físico

Carácter, Social, Intelectual

É o responsável pela mala de primeiros socorros do Bando, procurando verificar onde está o material que deve ter, se este está bem guardado e qual o seu prazo de validade. Deve saber para que serve cada objecto e o seu modo de aplicação (por exemplo, como se usa um termómetro), informando-se quando não sabe.

Ambientalista

Social

Carácter

Ajuda os dirigentes a tratar do lixo e verifica se os outros lobitos do Bando são responsáveis a nível dos cuidados ambientais (se não deixam lixo espalhado, se protegem as plantas, etc.).

Carácter, Físico

Ajuda a programar as compras alimentares para uma actividade, informando-se sobre os melhores locais de compra e preços. Distribui ingredientes pelos elementos do Bando, nas saídas em que cada um leva o seu almoço.

Carácter, Físico

Faz pesquisas sobre construções simples que o Bando pode ajudar a fazer. Ajuda os dirigentes a analisar as condições físicas do local das actividades, para ver onde se devem montar as construções. Coordena algumas montagens (tendas, por exemplo). ens (tendas, por exemplo).do.

Intendente

Encarregado das construções

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ÁREA PRINCIPAL

Intelectual

Intelectual

Informático

Intelectual

Carácter

Ajuda a elaborar e organizar documentos informáticos (por exemplo, listas de material) necessários para a actividade. Ajuda a enriquecer os conteúdos do site de Agrupamento/Alcateia ou um jornal de parede.

Cozinheiro

Físico

Carácter, Intelectual

Ajuda os dirigentes na cozinha, preparando alguns alimentos. Colaborar com a construção da ementa para a Actividade.

Treinador

Físico

Carácter, Intelectual

Conhece vários jogos que se podem fazer em qualquer altura. Ajuda a orientar a ginástica matinal.

Explorador

Intelectual

Carácter, Físico

Ajuda a coordenar os meios de transporte para o local. Ajuda os dirigentes a analisar as condições do local da actividade em coordenação com o encarregado de construções.

Descodifica -dor

Intelectual

Carácter, Físico

É o principal responsável pela descodificação de mensagens, nas actividades. Inventa novos códigos.

Navegador

Intelectual

Carácter, Físico

Ajuda a definir trajectos a seguir, incluindo paragens para descanso e alimentação. Conhece bem os sinais de pista e ajuda a orientar o Bando.


manualdodirigente O desempenho de uma função pode ser feito pelo lobito que detém o cargo relacionado com ela (por exemplo, o tesoureiro pode ser o financeiro, o cozinheiro pode ser o intendente, etc.), mas esta situação não é obrigatória (o tesoureiro do Bando pode, numa actividade, ter a função de cozinheiro, por exemplo). No entanto, isto não significa que o detentor do cargo fique sem responsabilidade: um tesoureiro de Bando tem sempre a obrigação de ajudar o lobito que vai desempenhar a função de financeiro e de controlar, com a ajuda dos dirigentes, o que vai acontecendo. Em termos de periodicidade, as funções vão mudando de actividade para actividade (por exemplo, de Caçada em Caçada), para que cada lobito possa experimentar várias tarefas. Neste âmbito, a Equipa de Animação deve ter em conta: As necessidades de cada actividade, relativamente ao número e tipo de funções que são necessárias (por exemplo, se não houver necessidade de cozinheiros, esta função não deve existir); A capacidade e vontade de cada lobito para aprender uma nova tarefa ou para pôr em prática algum talento que tenha. Assim, na distribuição de funções, devem ser tidos em consideração os gostos e as capacidades de cada lobito.

Em resumo, as funções caracterizam-se por: Exercício de uma função

Ao longo de uma actividade

Duração da função

Variável de acordo com a duração da actividade

Distribuição das funções

Pelo Conselho de Guias / actividade 1 lobito pode desempenhar 1 ou mais funções

Funções (lista apenas ilustrativa)

Secretário, repórter, financeiro, guarda do material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista, intendente, informático, encarregado das construções, treinador, explorador, navegador, etc.

III. Equipas de Animação

“Para poder apreciar estes aspectos, os velhos lobos repartem a tarefa, observando cada um, um Bando, o que permitirá aliás, conhecer melhor os lobitos e o seu progresso pessoal (...).” Alaiii!, 27

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manualdodirigente À frente de cada Alcateia está sempre um Chefe de Unidade, o seu Adjunto e outros instrutores necessários (que podem ser dirigentes ou candidatos a dirigente). Atendendo a que as Unidades são mistas, é fundamental que a Equipa de Animação também o seja, não só porque é importante que seja representativa da sociedade em que a Unidade se insere, que representa, mas também porque podem ocorrer situações em que a presença de um único género crie algum desconforto nos lobitos. É muito importante que o número de elementos da Equipa de Animação seja adequado: cada Bando deve ser ajudado por um dirigente, ficando Àquêlá de fora para poder ir gerindo os tempos e as actividades. Assim, e embora a dimensão das Equipas de Animação dependa do efectivo da Unidade, é essencial que o número de dirigentes seja igual ao número de Bandos, a que se acrescenta Àquêlá (por exemplo, se a Alcateia tem 5 Bandos, deve ter 6 dirigentes, se tem 3 Bandos, precisa de 4, etc.).

Para além disto, todos terão nomes dos animais da história de Máugli, no «Livro da Selva» de Rudyard Kipling, devendo ser tratados pelos lobitos por esses nomes (na Alcateia não há homens, só animais, pelo que não faz sentido usar nomes de homem). A distribuição dos nomes de animais pelos dirigentes obedece a algumas regras: - O Chefe de Alcateia toma a designação de Àquêlá. - Os outros membros da Equipa de Animação assumem outros nomes da história de Máugli, sendo que devem existir sempre, antes dos restantes animais, um Bálu e uma Bàguirà. - Não devem ser usados os nomes de Xer-Cane e Tàbàqui (é essencial que os dirigentes personifiquem os animais que apresentam uma boa conduta e não aqueles que têm um comportamento negativo). - Nenhum dirigente pode assumir o nome de Máugli (os lobitos identificam-se com o Menino-Lobo, querendo ser como ele, pelo que não faz sentido esta figura ser associada a um dirigente).

Atendendo à idade dos lobitos, ainda pouco autónomos, a Equipa de Animação tem competências bastante alargadas e uma responsabilidade acrescida.

“Para uma equipa de chefes, é necessário primeiramente tomar consciência das suas responsabilidades de educadores.” Alaiii!, 59

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manualdodirigente Assim, as suas tarefas passam por: Elaborar o plano educativo anual da Alcateia, tendo em conta outros planos (de Agrupamento, Regional, de Núcleo, Nacional). Executar as tarefas de gestão de Unidade. Programar antecipadamente todas as actividades (desde uma reunião semanal até aos acampamentos de Verão), de forma a não prejudicar a qualidade pedagógica das actividades com tempos mortos e improviso. Reunir com o Conselho de Guias, ensinando os lobitos a participar activamente na planificação da vida da Alcateia. Programar e organizar cada Caçada aos seguintes níveis: Propor projectos de Caçada, motivando os lobitos para a sua concepção, preparação e organização. Ajudar cada guia a orientar os seus lobitos na reunião de Bando, no momento da elaboração de propostas para o projecto de cada Caçada. Enriquecer a Caçada escolhida em Conselho de Alcateia a nível de imaginário, objectivos, fio condutor de actividades e programação de cada uma delas; Velar pela execução das tarefas distribuídas aos lobitos; Promover a correcta realização de todas as actividades, bem como a avaliação final. Procurar ter uma relação pessoal com cada lobito de forma a conhecer as circunstâncias da sua vida e cultivar o conhecimento próximo de cada um para poder desenvolver e potenciar as suas qualidades e capacidades. Orientar cada lobito a nível de todas as tarefas que lhe competem, desde as inerentes ao seu cargo/função, até às mais rotineiras (como vestir/despir, arrumar saco-cama, etc.), para que adquiram mais autonomia (pode ser necessário integrar estes ensinamentos no plano educativo da Alcateia: só depois de aprenderem as coisas rotineiras e simples é que os lobitos deverão avançar para tarefas mais escutistas). “O grande princípio a seguir na direcção de uma Alcateia de lobitos, princípio que os seduz e lhes pode corrigir os defeitos, é fazer deles uma família feliz – não apenas uma família, mas uma família feliz.” Baden-Powell, Manual do Lobito, 166

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A qualidade e inovação das actividades e a motivação dos lobitos dependem da boa interacção e da capacidade de trabalho da Equipa de Animação. Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e todos se mantenham motivados, é importante que a Equipa de Animação se dê bem e reúna semanalmente, sendo importante que, pelo menos de vez em quando, o Assistente de Agrupamento esteja presente (ainda que seja transversal ao Agrupamento, o Assistente é um precioso auxílio, uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa). Note-se que só através das reuniões se consegue planear todos os momentos da vida da Alcateia e evitar o improviso, que provoca a falta de qualidade a nível pedagógico. De facto, este deve ser apenas um recurso perante uma situação inesperada e não a regra.

IV. Reuniões e Conselhos Tanto nas reuniões com tema como nas reuniões de preparação de Caçadas (ver capítulo 'aprender fazendo’), há espaço para diversos tipos de encontro entre lobitos. Em actividades ao ar livre, o espaço preferencial, mas, também, na sede, na intimidade do Bando ou entre a Alcateia. Falamos, aqui, das reuniões de Bando e dos Conselhos de Guias e de Alcateia, momentos importantes de crescimento.

a) Reunião de Bando Uma reunião de Bando deve ter, no máximo, 20 minutos e é nela que o Guia conversa com o Bando sobre os assuntos do Conselho de Guias: promessas, actividades, projectos, angariações de fundos, etc. Também pode ser usada para preparar as propostas do Bando para as Caçadas ou para realizar um ateliê. Assim se estimula o diálogo, a cooperação e responsabilidade, a auto-gestão, a organização, a participação de todos e a capacidade crítica.

Esta reunião é exclusiva do Bando, mas é necessário que um dirigente esteja presente, apenas para auxiliar o Guia, sempre que possível, a coordenar os seus elementos e zelar para que todas as informações sejam dadas.

b) Conselho de Guias

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Tal como nas outras secções, o Conselho de Guias reveste-se de especial importância na Alcateia, já que é o órgão consultivo que, sob a coordenação de Àquêlá, orienta a vida da Alcateia, competindo-lhe:


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Conversar sobre assuntos gerais da Alcateia; Preparar as reuniões de Bando; Motivar para a preparação das Caçadas e para a sua realização, distribuindo as tarefas dos Bandos, escolhendo ateliês, etc.; Analisar o progresso de cada lobito, assuntos disciplinares, distinções e prémios; Dar formação aos Guias sobre competências específicas; Fixar os critérios para a escolha do Guia de Bando que orienta o Grande Uivo, o Círculo de Conselho e o Círculo de Parada. Assim se estimula o sentido de organização, cooperação e responsabilidade (os Guias sentem-se mais próximos das decisões e percebem que são importantes para o seu crescimento e dos amigos), o sentido de chefia (ali aprendem a melhorar a nível da liderança) e a liberdade e autonomia. Este Conselho é formado por um número variável de membros, devendo ter-se em atenção a constituição da Alcateia. Nele têm assento sempre a Equipa de Animação e os Guias, mas, se os Bandos forem apenas dois ou três, os Subguias também poderão participar. Quem preside ao Conselho de Guias é Àquêlá, mas deve procurar que o Guia de Alcateia, se existir, o auxilie na coordenação dos trabalhos. Note-se que, para garantir uma boa reunião, é essencial que a Equipa de Animação a prepare convenientemente. A sua periodicidade deve ser estipulada pelo próprio Conselho. No entanto, seria desejável que fosse semanal (diária, em campo), devendo ocorrer meia hora antes ou depois da reunião da Alcateia, para evitar que esta última seja prejudicada pela ausência de dirigentes e Guias. Se for antes, servirá sobretudo para preparar actividades; se for depois, deve servir para avaliar o que foi feito. Eis um possível horário para um Conselho de Guias: 2 minutos

Oração inicial e/ou cântico

5 minutos

Informações

5 minutos

Sugestões, interesses, problemas dos Bandos

15 minutos

Preparação da Reunião de Bando - Formação específica

3 minutos

Oração final/ cântico.

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manualdodirigente c) Conselho de Alcateia O Conselho de Alcateia é o órgão deliberativo máximo da Alcateia, tendo, por isso, muita importância. De facto, aqui tomam-se todas as decisões sobre a Alcateia (como a escolha da Caçada). É realizado sempre que necessário (para escolher e avaliar as Caçadas, quando é necessário analisar o trabalho dos Bandos, receber novos elementos, etc.) e nele têm assento todos os lobitos e a Equipa de Animação, sendo que todos podem dar a sua opinião. Assim se estimula a vivência comunitária e o sentido de participação democrática e se desenvolve a capacidade crítica e de avaliação e o respeito pelas ideias e opiniões alheias. Ao Conselho de Alcateia compete: Analisar o bom funcionamento dos Bandos e o progresso de cada lobito. Reconhecer o progresso de cada lobito, as distinções e os prémios. Escolher a Caçada, depois de cada Bando apresentar as suas propostas (cada lobito tem direito a um voto). Dar sugestões sobre ateliês e actividades que se podem integrar na Caçada vencedora. Avaliar a Caçada, analisando, por exemplo, as actividades e ateliês realizados (para verificar se o trabalho de cada lobito atingiu o nível técnico pretendido).

Àquêlá coordena os trabalhos, organizando os tempos, a participação e intervenção dos lobitos, a apresentação de propostas, as votações, etc. É necessário que permita que todos participem, para que os lobitos compreendam que, numa comunidade democrática, todos são importantes.

V. Sede Embora o território do Bando deva ser a Natureza, nem sempre é possível estar sempre em contacto com ela. Deve existir, assim, um local de reunião da Alcateia, o Covil, que deverá ser, tanto quanto possível, um espaço próprio decorado de acordo com o imaginário da História da Selva, incluindo representação dos animais da Selva. Este ambiente de selva é fundamental, na medida em que permite o envolvimento do lobito na mística e imaginário da Secção.

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No Covil, deve haver lugar para os cantos dos Bandos, espaço exclusivo para a chefia (estante, armário, baú), espaço comum para reuniões de Conselhos de Alcateia, de Guias e de Equipa de Animação. Para além disto, convém que tenha espaço para o Totem da Alcateia, Rocha do Conselho e oratório e cartazes para o progresso individual, o plano anual, a Lei e as Máximas do lobito, imagem de Baden-Powell, etc.


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Na vida da Alcateia os lugares, os espaços, os momentos devem estar associados a locais da Jangal onde têm lugar momentos importantes da vida de Máugli, da Alcateia de Seiôuni, e de todos os animais. O Covil pode, assim, assemelhar­se a um local onde existem os diversos espaços da Selva: - A Rocha do Conselho é o círculo que marca o espaço onde toda a Alcateia se reúne para tomar as decisões importantes. Na Rocha do Conselho posiciona-se Àquêlá e à volta dele, em círculo de Conselho, está toda a Alcateia. É neste espaço que têm lugar as reuniões do Conselho de Alcateia. - A Rocha da Paz é local de paz entre todo: na Alcateia, pode marcar o sítio onde os lobitos vão resolver os seus problemas uns com os outros, sendo, assim o local da reconciliação. Pode também ser o oratório. As Moradas Frias, local onde não há lei, pode ser o nome dado ao local do castigo na Alcateia: é aquele sítio para onde ninguém quer ir porque é sinónimo de ser um Bândarlougue. - A Aldeia dos Homens é o espaço exterior ao Covil. É um sítio desconhecido, potencialmente perigoso a que os lobitos vão tendo cada vez mais acesso à medida que vão crescendo.

Bibliografia: Alaiii, Edições CNE. BADEN-POWELL, R. S. S., Manual do Lobito. Edições CNE. BARCLAY, Vera, Sabedoria da Selva. Edições CNE. Cadernos de Função, Edições CNE. Celebrações do CNE, Edições CNE. PHILIPS, Roland, O sistema de patrulhas, Edições CNE. Regulamentos do CNE

Miguel Lontro

THURMAN, John, O conselho de guias, Edições CNE.

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C.5.2 O Sistema de Patrulhas na Expedição, Comunidade e Clã I. Constituição a) Nome

“O grupo é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira, quer para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geralmente escolhido para chefe.” Baden-Powell, O Sistema de Patrulhas, 7 (introdução)

No CNE a designação 'Patrulha' é diferente em cada uma das secções para que esteja mais de acordo com o enquadramento simbólico adoptado para cada secção. Assim, se na Expedição se utiliza especificamente a designação “Patrulha”, na Comunidade emprega-se “Equipa” e no Clã, “Tribo”. Ao conjunto formado por estes pequenos grupos, a que se junta a Equipa de Animação, chamamos, genericamente, Unidade.

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Todas as Patrulhas têm um Totem – nome de um animal, escolhido pela Patrulha – que as distingue dentro da Expedição. Dessa escolha resulta o uso do nome do animal, mas devem ser assumidas, também, as vivências, qualidades e virtudes que lhe estão comummente atribuídas. Devem ainda ser objecto de estudo as suas capacidades físicas, hábitos e lendas: quanto maior o contacto com as características do animal, maior será a ligação entre todos os elementos, que partilham um conhecimento comum e só deles. No capítulo referente ao espírito de Patrulha, é abordada a questão do lema, grito, bandeirola, etc., decorrentes do totem da Patrulha. Sugerimos que os exploradores usem como Totem um de 44 animais definidos, uma vez que são todos facilmente identificados através do seu símbolo (já à venda no DMF) e do seu grito (som produzido pelo animal). A maior parte destes animais existe na nossa fauna nacional. Ao invés de usar os gritos sugeridos no 'Escutismo para Rapazes', cada Patrulha deverá fazer uma pesquisa sobre os sons reais dos animais, por forma descobrir o verdadeiro grito do seu animal. Essa pesquisa pode ser uma verdadeira aventura: a Patrulha pode partir à caça desse som, deslocando-se até um local onde o possa registar. Pode ainda pesquisá-lo na Internet (o método fica ao critério e ao desejo de aventura de cada Patrulha). Todos os elementos da Patrulha deverão conseguir reproduzir o som real do animal.

As Equipas têm um Patrono que as distingue dentro da Comunidade. Este Patrono é escolhido pela Equipa e pode ser um santo da Igreja, um pioneiro da Humanidade ou ainda um herói nacional. Se por um lado devem ser os pioneiros a escolher o nome do seu Patrono, por outro lado deve haver critérios rigorosos e inflexíveis para essa escolha, na medida em que uma escolha desapropriada pode conduzir a situações de conflito, de brincadeira ou de chacota (escolher como Patrono uma figura que, apesar de conhecida, não é um exemplo, mas é escolhida apenas por brincadeira, não permite que os pioneiros encontrem nela um exemplo de vida). Neste sentido, qualquer escolha deve ser consciente e pensada e deve ser justificada à Comunidade e à Equipa de Animação, referindo-se as qualidades do Patrono e as características que os pioneiros poderão imitar. Para a escolha de nomes apropriados, há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.

As Tribos são um pequeno grupo de elementos que partilha ideais, tradições e responsabilidades, criando, a partir daí, uma identidade própria. Esta identidade passa pela existência de um Patrono– nome de um santo da Igreja (como Santa Zita), benemérito da Humanidade (Jean Henri Dunant, por exemplo) ou herói nacional (como Aristides de Sousa Mendes), escolhido pela Tribo – que as identifica e que as distingue dentro do Clã. Este Patrono deve ter características com as quais a Tribo se identifique e cuja vida conheça, revelando-se um exemplo que os caminheiros procuram seguir. Para a escolha de nomes apropriados, há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.

227


manualdodirigente b) Número de elementos Muito embora não se possa definir o número ideal de elementos de uma Patrulha, Equipa ou Tribo, a experiência recomenda que esse número esteja compreendido entre 5 a 8 elementos. Isto por uma questão de funcionamento – a quantidade de tarefas a realizar por Patrulhas/Equipas/Tribos exige um número mínimo de elementos e não permite, por outro lado, que eles sejam muitos –, mas, também, por uma questão de convenção – para melhor funcionamento e harmonização colectiva. Acontece, no entanto, que, se numa unidade, e por determinada razão, só existirem 9 elementos, terá de se arranjar uma solução enquanto o grupo não cresce. Assim, aceita-­ -se que, em casos excepcionais, haja uma divisão e o pequeno grupo possa ser constituído por 4 elementos. Note-se, no entanto, que essa deve ser encarada como uma solução a prazo e não a melhor resolução do ponto de vista pedagógico.

c) A construção da Patrulha/ Equipa/ Tribo Os adolescentes e os jovens criam empatia e laços de amizade com relativa facilidade, o que pode proporcionar uma boa integração de novos elementos. Para a fomentar, deverá dar-se espaço à Unidade e aos noviços/aspirantes para que possam, de forma espontânea e informal, criar essas relações de amizade, integrando-se naturalmente. Note-se, contudo, que, apesar desta adaptação natural, a distribuição de novos elementos pelas Patrulhas/Equipas/Tribos é sempre da responsabilidade da Equipa de Animação, ouvido o Conselho de Guias, na medida em que é ela que tem noção clara das características e necessidades da Unidade e de cada elemento, em particular.

Para formar as Patrulhas/Equipas/Tribos, por que não recorrer a um jogo? Eis um exemplo: Depois de observado o grupo, a Equipa de Animação forma as Patrulhas/Equipas/Tribos, mas não informa a Unidade sobre isto. Apresenta-lhe, sim, um conjunto de critérios que é preciso cumprir para formar as Patrulhas/Equipas/Tribos (por exemplo, critérios de idade e género, interesses, características físicas, etc.). Estes critérios induzem os elementos a escolher-se uns aos outros, de acordo com a formação inicial da Equipa de Animação, na medida em que são exclusivos (por exemplo, uma Patrulha é formada a partir de características únicas: o único rapaz de olhos azuis + o único rapaz que anda na banda + a única rapariga que anda no ballet, etc.). Isto permite que a Equipa de Animação determine a formação das Patrulhas/Equipas/Tribos, mas que os elementos pensem que tiveram um papel nessa formação.

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manualdodirigente O género Recomenda-se que as Patrulhas/Equipas/Tribos sejam mistas, isto é, que sejam constituídas por elementos de géneros diferentes, ainda que as especificidades de cada Unidade (como a existência de poucos elementos de um género) possam exigir, a determinada altura, grupos exclusivamente de um género. Há vantagens na constituição de Patrulha/Equipa/Tribo mistas, que passam, sobretudo, pelo facto de os adolescentes e jovens viverem, estudarem e se divertirem em conjunto independentemente do género a que pertençam. Por essa razão, pequenos grupos mistos transmitem de forma mais fiel a imagem da sociedade a que pertencemos. Todavia, caberá à Equipa de Animação analisar costumes, culturas, temores, e assim decidir sobre qual o melhor método a adoptar.

Na implementação de Patrulhas/Equipas/Tribos mistas, há que salvaguardar e acautelar duas situações: - Numa Patrulha/Equipa/Tribo mista, nunca deve existir apenas um elemento de um género (por exemplo, 5 raparigas e 1 rapaz), já que isto limita a partilha de experiências e pode desmotivar o elemento que está isolado. - Em acampamento, a tenda deve ser vista como um espaço de intimidade em que a privacidade dos géneros tem de ser conservada. Por essa razão, cada Patrulha/Equipa/Tribo mista deve ter duas tendas: uma para rapazes, outra para raparigas.

A idade Consideram-se verticais as Patrulhas/Equipas/Tribos constituídas por elementos de diferentes idades. Denominam-se Patrulha/Equipa/Tribo horizontais as que possuem elementos todos com a mesma idade. O aconselhamento pedagógico vai claramente para o modelo vertical. De facto, a integração, numa Patrulha/Equipa/Tribo, de adolescentes ou jovens de diversas idades é a situação mais positiva. É certo que esta heterogeneidade poderá criar obstáculos no seio do pequeno grupo, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade em que cada um deles se pode encontrar, mas, por outro lado, poderá trazer também enormes benefícios, dos quais destacamos o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos e a partilha do conhecimento.

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Compete aos elementos mais velhos, olhados como exemplo a seguir, ensinar e orientar os mais novos e dar testemunho dos costumes que vão sendo construídos no seio da Patrulha/Equipa/Tribo. Assim se estimula a solidariedade e se mantêm as tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva e a formação de espírito de corpo ao longo da vida.

Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos de necessidade, é a implementação do modelo horizontal que, por sua vez, integra adolescentes ou jovens da mesma idade e na mesma fase de desenvolvimento. Isto facilita a integração dos elementos na Patrulha/ Equipa/Tribo (uma vez que partilham interesses), mas tem grandes desvantagens: Quando se dá a passagem simultânea de todos os elementos para a secção seguinte extingue-se esse pequeno grupo e não houve lugar à aprendizagem colectiva e à transmissão de tradições da Patrulha/Equipa/Tribo. Nos jogos e competições sadias, e porque não há equilíbrio de idades, as Patrulha/Equipa/Tribo com elementos mais velhos têm mais probabilidades de vencer as mais novas, perdendo-se os valores da solidariedade e da fraternidade. A estratégia do 'irmão mais velho', que orienta e ensina, é impossível de implementar, dado que não há diferenças etárias.

d) O espírito de Patrulha/Equipa/Tribo

“O espírito de patrulha quer dizer que cada um dos membros da patrulha sente que é parte essencial de um todo completo e uno – um corpo em que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o fim de se atingir a perfeição e plenitude do conjunto.” Roland Philips, O Sistema de Patrulhas,25

São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica e o que se entende por “espírito de Patrulha/Equipa/Tribo”, ou aquilo que vulgarmente se chama de “espírito de corpo” – a rede de identidades, de cumplicidades, de hábitos e tradições que dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um determinado grupo. Pode dizer-se que uma Patrulha/Equipa/Tribo se assemelha a um corpo humano: cada órgão e cada membro tem a sua função e todos funcionam para o mesmo objectivo, mas, se um deles adoece, todo o corpo sofre com isso e deixa de funcionar perfeitamente. São Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8), utiliza exactamente essa imagem.

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O mesmo se passa com uma Patrulha/Equipa/Tribo que não tenha espírito de corpo: se os seus elementos não sentem que funcionam como um corpo, que pertencem a um


manualdodirigente grupo, vão desmotivar-se e tudo vai deixar de funcionar. Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos de acções: Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa: divisão de tarefas, democracia interna para decisão de interesses comuns, corresponsabilização, debate, etc. Toda a responsabilidade individual, se for devidamente assumida, une e fortalece. Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos escuteiros as ferramentas pedagógicas (objectos, símbolos e tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que foram idealizadas com vista à distinção e promoção da identidade dos grupos. Algumas são sugeridas por B.-P. nas várias publicações e intervenções que fez (o grito, a bandeirola, por exemplo) e outras (como o Livro de Ouro) foram nascendo com o tempo.

Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Patrulha/Equipa/Tribo - Totem ou Patrono Totem é o animal que cada Patrulha escolhe para lhe servir de identificação, como vimos anteriormente. O Patrono, por seu lado, é a individualidade escolhida por Equipas ou Tribos como exemplo a seguir, pelas suas características de vida. Tanto num caso como no outro, o conhecimento aprofundado das características e qualidades que vão servir de exemplo aos escuteiros reforça o espírito de corpo: todos partilham de um ideal de vida a seguir que é comum a toda a Patrulha/ Equipa/Tribo. - Divisa ou Lema Frase escolhida de acordo com o nome da Patrulha e da Equipa. No caso dos exploradores, deverá fazer referência às características mais evidentes do Totem, funcionando como um objectivo que a Patrulha pretende alcançar (por exemplo, a Patrulha Puma poderá ter como divisa ‘Com as quatro patas a correr, o nosso destino é vencer!’). Nos pioneiros, a Divisa ou Lema deve procurar ser um mote de vida do Patrono (por exemplo, a Equipa de Gago Coutinho poderia ter como divisa ‘Mais longe e mais alto!’). - Grito Sinal sonoro, utilizado exclusivamente pelos membros da Patrulha, que imita o som produzido pelo animal escolhido para totem. O grito permite que a Patrulha comunique entre si, distinguindo-se das outras, mas serve também para chamar todos os seus elementos para formatura ou reunião. Na formatura em si, é lança-

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do pelo Guia para informar que a Patrulha está pronta para ouvir e se apresentar. Salientava B.-P., no Escutismo para Rapazes, que “nenhum Escuteiro poderá servir-se do grito de Patrulha que não seja a sua”. Numa Equipa de pioneiros, não havendo lugar à reprodução da voz de um animal, o Grito assume a forma de proclamação da divisa ou lema da Equipa, quando é necessário dar o sinal de que a Equipa está completa na formatura. - Bandeirola Pequeno estandarte da Patrulha e da Equipa, é um sinal da sua presença que deve estar presente em todas as actividades. Deve ocupar um lugar especial no canto de Patrulha ou da Equipa, sendo sempre honrada e querida pelos elementos (nunca deve ser maltratada ou deixada ao acaso). Pode ser adquirida no DMF, mas é aconselhável que seja feita pelos escuteiros, nascendo da sua imaginação. Pode ser fabricada em diversos materiais (penas, pêlo, tecido, etc.) e ter diferentes formas (triangular, rectangular, etc.). Deve sempre respeitar as dimensões máximas de 25cm X 40cm e reproduzir obrigatoriamente o Totem, no caso dos exploradores, ou ter um sinal identificativo do Patrono, no caso dos pioneiros. Pode ainda conter o lema, as cores do animal totem, etc. A vara do Guia, que a suporta, pode ser decorada com elementos a gosto da Patrulha ou da Equipa (como entalhes, desenhos, troféus, nomes, etc.). - Livro de Ouro Caderno confidencial a que poderão aceder apenas os elementos actuais e os do passado da Patrulha ou da Equipa. Serve para transmitir aos futuros elementos as experiências vividas, na medida em que regista todos os feitos e acontecimentos marcantes da vida da Patrulha ou Equipa. Regista, assim, a sua história, os motivos de orgulho do seu passado e os acontecimentos relevantes do presente. Guarda, também, textos, fotografias, desenhos, etc. que recolhem informação, consoante se trate de exploradores ou pioneiros, sobre o Totem ou o Patrono, o grito e lema, códigos secretos, nomes dos elementos que passaram pela Patrulha ou Equipa, actividades realizadas, competências obtidas, etc.

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É no Livro de Ouro que se registam ainda as tradições, instrumentos fundamentais para fazer com que a Patrulha ou Equipa seja única e igual a si mesma. De facto, o carácter secreto de algumas dessas tradições aguça e fortalece o espírito de corpo (elas são exclusivas daquele pequeno grupo e mais ninguém pode conhecê-las, a não ser que tenha a honra de ingressar no grupo). Estas tradições podem ser instituídas e conseguidas nas mais diversas formas: através de simbologias próprias, de rituais e cerimoniais, de códigos secretos, de nomes de totens pessoais, etc. Dada a riqueza deste Livro e a sua importância, ele deve ser decorado com cuidado e muito bem tratado (deve ser quase uma obra de arte). A sua natureza secreta leva a que só deva ser aberto de forma cerimoniosa e pelos elementos da Patrulha ou Equipa.


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- Totens pessoais Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um totem pessoal, que o acompanha ao longo da sua passagem pelas diversas secções. Trata-se de um nome usado pelo próprio e pelos seus irmãos escuteiros, quase como uma segunda identidade, exclusivamente escutista. O totem pessoal é um animal que personifica as características do escuteiro e com o qual ele se identifica ou cujas capacidades gostaria de ter. É seguido de um adjectivo que deve ser uma característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar. Nos exploradores, é possível que o totem de Patrulha seja aquele com o qual todos os elementos se identifiquem, sendo adoptado como totem pessoal de todos. Contudo, isto não é obrigatório. - Canto de Patrulha/Equipa/Tribo Sempre que possível, deve existir na Base/Abrigo/Albergue um local exclusivamente reservado à Patrulha/Equipa/Tribo, da sua responsabilidade e a que só ela e a chefia podem aceder. Este canto pode estar organizado e decorado como cada pequeno grupo entender, exigindo-se, porém, asseio e ordem. O canto pode incluir, entre outras coisas, espaço para materiais (cordas, tenda, ferramentas, material escolar, etc.), quadros variados (de informações, de nós, de sinais de pista, de presenças, com colecções, fotos da Patrulha/Equipa/Tribo em actividades, etc.), local para arrumar as varas, decoração relacionada com o totem ou patrono, mesa e bancos para todos, etc. Nos exploradores, pode ainda ter um nome associado ao totem – ‘Ninho do Corvo’, ‘Ramo da Serpente’, ‘Covil do Lobo’, ‘Toca da Raposa’, etc. - Quadro Inter-patrulhas/Inter-equipas Painel de pontuação que promove a competição entre Patrulhas ou Equipas, através da atribuição de pontos a aspectos da vida na sede e das actividades – assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento, respeito pela Lei, alegria, etc. A pontuação obtida por cada Patrulha ou Equipa é, depois, registada neste painel, que deve estar afixado na Base ou no Abrigo. A definição de pontuações pode ser um importante instrumento pedagógico, na medida em que a competição é uma ferramenta riquíssima na animação dos grupos de escuteiros e torna as tarefas mais simples ‘missões’ de grande importância. Neste âmbito, a competição entre as Patrulhas ou Equipas (ao longo de um ano escutista ou durante uma Aventura ou Empreendimento), organizada com sentido de justiça, atenção e dedicação, possui várias vantagens: faz crescer substancialmente o espírito de corpo (todos são obrigados a ‘lutar’ pelo seu grupo),promove o respeito pelas regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória, desenvolve a eficiência e o gosto por ser melhor, etc.

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Ricardo Perna

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Bibliografia: Regulamento Geral do CNE Mística e Simbologia do CNE, Edições CNE. BADEN-POWELL, Robert, Escutismo para Rapazes, Edições CNE. PHILIPS, Roland, O Sistema de Patrulhas, Edições CNE. SCOUTS DE FRANCE, Baden-Powell Hoje, Edições CNE.

II. Cargos e funções dos seus membros “A finalidade do Sistema de Patrulhas é principalmente atribuir autêntica responsabilidade a tantos rapazes quanto seja possível para lhes formar o carácter.” Aids. WB.34

“Por ele cada rapaz é levado a ver que tem uma responsabilidade individual para bem da sua Patrulha.” Aids.WB.4

O Sistema de Patrulhas, tal com B.-P. o pensou, aposta amplamente na atribuição de cargos individuais. Assim se entrega a cada escuteiro a execução de uma tarefa pessoal dentro do Patrulha/Equipa/Tribo. Responsabilizado, desta forma, perante os outros no que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável ao seu grupo e conquista um lugar de importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança (por exemplo, em questões de material, é ao Guarda de Material que cabe a tarefa de chefiar a Patrulha/Equipa/Tribo, etc.) e tem de revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução dos problemas relacionados com o seu cargo.

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Para além disto, o desempenho de um cargo no seio do Patrulha/Equipa/Tribo ou de uma função no Projecto da Unidade constitui uma oportunidade de ouro para progredir, na medida em que o exercício de cargos e funções permite o crescimento em várias áreas.


manualdodirigente De facto, a divisão de tarefas permite que os adolescentes e os jovens aprendam progressivamente a desempenhar diversos papéis de forma responsável e se preparem para a vida. Será esse, de facto, um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Patrulhas: que cada escuteiro cresça consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de pilares para a vida.

a) O Cargo Dentro da Patrulha/Equipa/Tribo, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma forma de motivar o escuteiro a participar nas actividades do grupo e a desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade para o bem-estar dos outros. Neste sentido, é importante que haja um conjunto variado de cargos, por forma a satisfazer as necessidades dos grupos e os interesses e aptidões de todos os escuteiros.

Conceito de CARGO Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.).

Sugestão: O exercício de um cargo privilegia sempre o crescimento numa determinada área de desenvolvimento (ser Guia, por exemplo, potencia o crescimento sobretudo a nível da gestão, liderança, etc.), podendo ainda potenciar o aperfeiçoamento de outras áreas. Nesta medida, o cargo é uma ferramenta pedagógica específica que a Equipa de Animação poderá utilizar para desenvolver em cada elemento aspectos específicos. Assim sendo, pode dar a um escuteiro, tendo em atenção as suas capacidades e desenvolvimento, um cargo que o possa incentivar a desenvolver determinadas características e competências numa área em que pode revelar dificuldades.

Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos na Patrulha/Equipa/Tribo: Guia, Subguia, Secretário/Cronista, Tesoureiro, Guarda de material.

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manualdodirigente Se houver mais elementos, poderão ainda ser desempenhados os cargos complementares de: Animador, Socorrista/Botica, Intendente Informático. O exercício de cada um destes cargos implica o uso da insígnia correspondente. Na atribuição de cargos aos elementos de cada Patrulha/Equipa/Tribo, dever-se-á ter em conta o seguinte: Os cargos devem ser exercidos de forma rotativa, para que os escuteiros ampliem os seus conhecimentos e competências nas diversas áreas de desenvolvimento. Não é desejável que um escuteiro desempenhe mais do que um cargo na Patrulha/Equipa/Tribo, na medida em que isto implica uma acumulação excessiva de responsabilidades. É sobretudo importante evitar que o Guia acumule outro cargo, já que deve estar concentrado na coordenação dos seus elementos. A única excepção a esta regra é o cargo de Subguia, que permite a acumulação com outro cargo. Cada escuteiro deve desenvolver ao máximo as suas capacidades no desempenho de um cargo único, devendo, para isso, procurar saber mais sobre as responsabilidades que lhe são inerentes ao longo do período de tempo em que o detém.

Sugestão: A Equipa de Animação deverá considerar a oportunidade de organizar ateliês para cada cargo, recorrendo, por exemplo, aos elementos que desempenharam esses mesmos cargos no ano anterior, a outros dirigentes, pais, etc. As actividades da secção devem também contemplar a possibilidade de explorar as diversas tarefas inerentes a cada cargo (podem até ser criadas actividades específicas para aprofundar cada um). Cargos básicos 1.Guia

“Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutismo, se não fosse Chefe Mundial. Ele respondeu: «Se me permitissem escolher, escolheria o de Guia de Patrulha».” J. Marques da Silva, Pistas para o Guia de Patrulha (Edições Flor de Lis, 1970)

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manualdodirigente O cargo de Guia é muito importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto, numa Unidade onde é correctamente implementado o Sistema de Patrulhas, o dirigente tem no Guia um grande aliado na condução do grupo: ele actua como intermediário entre a Equipa de Animação e os restantes escuteiros e é a ele que compete (e nunca ao dirigente) a liderança da Patrulha/Equipa/Tribo.

Boa prática: Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos Guias para que estes a façam chegar aos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo. Nunca deve falar para a Unidade como se todos fossem iguais: se o fizer, que valor dá aos Guias?

Ao Guia compete: Dirigir e animar a sua Patrulha/Equipa/Tribo. Distribuir tarefas e cargos. Transportar a bandeirola de Patrulha/Equipa/Tribo. Representar a Patrulha/Equipa/Tribo nos Conselhos de Guias. Nomear o Subguia, ouvida a Patrulha/Equipa/Tribo. Analisar e propor a validação do progresso dos seus elementos. O 'poder' que o cargo de Guia tem atrai, por norma, todos os elementos de Patrulha/Equipa/Tribo, que assim aspiram a vir a exercer tarefas contínuas de liderança. No entanto, e pelas consequências negativas que uma má escolha acarreta, há que ter especial atenção à sua eleição, que deve ser secreta. De facto, um mau Guia, incapaz de liderar, de assumir a Lei ou de assumir responsabilidades, dá origem a Patrulhas/Equipas/Tribos fracas, desorganizadas ou que não conhecem o valor do espírito de corpo. Para evitar más lideranças, o chefe deve promover momentos de formação para os seus Guias. Estes momentos podem passar por encontros de formação específica para Guias ou podem surgir nos Conselhos de Guias. “As qualidades de chefia são em parte naturais e em parte adquiridas. As qualidades naturais são importantes, pois que, por muito excelente que um rapaz seja, não pode ter a esperança de vir a ser Guia deveras eficiente, se não possuir uma parcela daquela qualidade especial – daquele magnetismo pessoal…” Roland Philips, O Sistema de Patrulhas, 13

Apesar do cuidado e da vigilância que o dirigente é chamado a exercer a este nível, não deve ser ele a impor a sua escolha à Patrulha/Equipa/Tribo. De facto, e na medida do possível, devem ser os elementos a escolher o seu Guia. Contudo, o dirigente deve ter em atenção a necessidade de ter elementos de ambos os géneros na chefia destes pequenos grupos e pode dar indicações sobre o perfil que o Guia deve possuir (particularmente nas secções mais jovens).

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manualdodirigente Apesar destas indicações, pode dar-se o caso de uma Patrulha/Equipa/Tribo escolher para Guia um elemento que, embora líder natural, não revela um comportamento exemplar. Neste caso, a Equipa de Animação não deve impedir este elemento de ascender ao cargo, mas compete-lhe encontrar estratégias para que esse Guia sinta a importância do cargo e melhore a sua conduta até se tornar um exemplo a seguir. De facto, muitos escuteiros com condutas pouco adequadas têm apenas falta de auto-estima e, como não querem perder o cargo (através do qual adquirem uma importância que nunca tiveram), respondem muito bem ao reforço positivo e à exigência dos dirigentes.

Se houver necessidade de destituir o Guia de Patrulha/Equipa/Tribo – ou pelo próprio grupo ou pela Equipa de Animação –, este acto deve resultar de uma decisão tomada em Conselho de Lei (o Guia nunca deve ser destituído por iniciativa isolada da Equipa de Animação da Unidade) e deve ser bem ponderado. No entanto, não deve ser evitado caso se conclua que, de facto, é o melhor para a Patrulha/Equipa/Tribo e para o elemento.

O Guia de Expedição/ Comunidade/ Clã Para além do Guia de Patrulha/Equipa/Tribo, a Unidade ainda pode ter um guia de Expedição, Comunidade ou de Clã (adiante designado Guia de Unidade) que deve ser eleito, de entre os Guias, por voto secreto individual e em Conselho da Unidade. O seu mandato termina no final do ano escutista em foi eleito, mas pode ser interrompido por decisão do próprio ou por determinação do Conselho de Guias. Apesar de a sua existência não ser obrigatória, o Guia da Unidade é uma mais valia para a Equipa de Animação, uma vez que exerce funções de liderança e aconselhamento: coopera com todos os Guias na interpretação das dificuldades e valências de cada um dos elementos, actua como elo de ligação entre os escuteiros e a Equipa de Animação e representa toda a Unidade. Por esta razão, deve revelar capacidades de liderança e organização, sendo um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no seu progresso pessoal. Ao Guia da Unidade compete:

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Presidir ao Conselho de Guias; Auxiliar a Equipa de Animação em todas as actividades da Unidade; Incentivar, apoiar e monitorizar a evolução dos elementos no sistema de progresso; Transmitir à Equipa de Animação a sua perspectiva do que se passa nas Patrulhas/Equipas/Tribos; Identificar problemas de liderança na Unidade, partilhandoos com a Equipa de Animação; Aconselhar os Guias, nomeadamente em questões que digam respeito à liderança das Patrulhas/Equipas/Tribos.


manualdodirigente É essencial que o Guia da Unidade: Respeite os outros Guias, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos. Procure um equilíbrio constante entre a disponibilidade necessária para o exercício do seu cargo e todas as obrigações para com a família, escola e Igreja. Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar--se a si próprio.

2.Subguia O Guia é acompanhado, na sua função de liderança, pelo Subguia, um elemento da Patrulha/Equipa/Tribo que o co-adjuva e substitui em caso de ausência. Esta função reveste-se, assim, de especial importância. Para que entre Guia e Subguia haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial que ambos se conheçam bem. Por essa razão, o Subguia não deve resultar de uma imposição do dirigente ou de uma eleição da Patrulha/Equipa/Tribo: deve, sim, ser uma escolha pessoal do Guia, que tende naturalmente a seleccionar um amigo ou um elemento com quem tem afinidades. Assim se promove a complementaridade e interajuda.

“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá esperar que um rapaz a desempenhe só por si. (…) O Subguia é um rapaz escolhido pelo Guia para seu ajudante. É essencial que o Guia e o Subguia trabalhem em íntima colaboração. O Chefe que escolhe os Subguias comete um erro.” Roland Philips, O Sistema de Patrulhas

Compete ao Subguia auxiliar o Guia em todas as suas tarefas, acompanhando-o de forma próxima, não apenas para o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas capacidades de chefia. Como este cargo é subsidiário, o elemento que o desempenha pode acumulá-lo com outro cargo dentro da Patrulha/Equipa/Tribo.

3.Secretário/Cronista É o especialista na área da comunicação escrita, oral e audio­visual. Terá como principais atribuições: Cuidar e ilustrar o Livro de Ouro da Patrulha ou Equipa; Redigir convocatórias e actas de Patrulha/Equipa/Tribo; Arquivar os documentos de Patrulha/Equipa/Tribo; Tratar de toda a correspondência de Patrulha/Equipa/Tribo; Ter um registo dos dados pessoais dos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo (nome, data de nascimento, filiação, contactos, etc.; Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores; Preparar os momentos de comunicação: reportagens fotográficas ou outras, entrevistas, jornal de parede, etc.

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manualdodirigente 4. Tesoureiro É o especialista na área da intervenção económica. Terá como principais atribuições: Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo informática, se assim preferir) e demais receitas de Patrulha/Equipa/Tribo e recolha das mesmas; Orçamentar as actividades de Patrulha/Equipa/Tribo, bem como o respectivo controlo das contas; Planificar as campanhas de angariação de fundos da Patrulha/Equipa/Tribo.

5. Guarda de material É o perito na conservação do material da Patrulha/Equipa/Tribo. Terá como principais atribuições: Inventariar o material; Controlar as saídas de material de Patrulha/Equipa/Tribo; Zelar pelo bom estado de conservação do material; Prever o material necessário para as actividades; Requisitar o material para as actividades de Patrulha/Equipa/Tribo. Cargos complementares

1. Animador É o guardião das tradições da Patrulha/Equipa/Tribo. Tem como principais atribuições: Coordenar as cerimónias e rituais da Patrulha/Equipa/Tribo; Preparar os novos elementos para estas cerimónias e rituais; Transmitir o historial da Patrulha/Equipa/Tribo; Coordenar as apresentações da Patrulha/Equipa/Tribo (em Fogo de Conselho, por exemplo).

2. Socorrista/Botica É o técnico de saúde da Patrulha/Equipa/Tribo. Terá como principais atribuições: Equipar e cuidar da farmácia da Patrulha/Equipa/Tribo; Tratar as pequenas feridas dos elementos ao seu cuidado, quando em actividade; Zelar pela higiene e segurança física da Patrulha/Equipa/Tribo nas actividades; Ter um registo dos dados pessoais dos elementos da Patrulha/Equipa/Tribo (número do cartão de saúde, alergias, doenças, etc.).

3. Intendente É o especialista na área gastronómica. Terá como principais atribuições: Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimen­tação de Patrulha/Equipa/Tribo, bem como a sua aquisição e/ou requisição à Unidade; Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico de Patrulha/Equipa/Tribo (ementas,

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manualdodirigente receitas e riqueza nutritiva destas); Zelar para que todos os elementos da Patrulha/Equipa/Tribo adquiram conhecimentos básicos de cozinha e participem na confecção de refeições, auxiliando o elemento que tem a função de cozinheiro.

4.Informático É o especialista no relacionamento com pessoas e entidades exteriores. Terá como principais atribuições: Auxiliar o Secretário a estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores; Pesquisar e compilar, em formato electrónico, informação relativa a locais de realização de actividades (informação histórica, cultural), mantendo um ficheiro actualizado; Manter informações sobre a Patrulha/Equipa/Tribo na Internet, sob supervisão do dirigente (site de Patrulha/Equipa/Tribo, Blog, correio electrónico, etc.); Gerir os ficheiros informáticos usados (documentos, imagens, cartazes, fotografias, etc.), em colaboração estreita com o Secretário/Cronista e o Tesoureiro da Patrulha/Equipa/Tribo.

Em resumo: Distribuição dos cargos

Ao longo do ano

Duração do cargo

6 meses a 1 ano

Distribuição dos cargos

Pelo Guia eleito. Recomenda-se um cargo por jovem, e todos os jovens têm de ter um cargo.

Cargos básicos Cargos complementares

Guia, subguia, secretário/cronista, tesoureiro, guarda de material Animador, socorrista/botica, intendente, informático

b) A Função Durante um projecto específico, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organização ou de realização de tarefas que impliquem o exercício de funções.

Conceito de FUNÇÃO Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada elemento. Assim, por exemplo, numa projecto que contemple um acampamento, poderá haver necessidade de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, financeiro, socorristas, etc. É possível que cada elemento desempenhe mais do que uma função (o guarda de material pode ser também o encarregado das construções, o animador pode ser também treinador, etc.).

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manualdodirigente Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras: secretário/cronista, repórter, tesoureiro, guarda do material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista/botica, intendente, informático, encarregado das construções, treinador, explorador, descodificador, navegador, etc. Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento, podendo ser usadas como ferramentas de auxílio à progressão de cada elemento. Da mesma forma que um Guia de Patrulha/Equipa/Tribo não pode acumular outros cargos, também ninguém pode ter a função de Guia.

Quadro ilustrativo de funções

Função

Área principal que permite desenvolver

Outras áreas

Breve descrição

Secretário/ Cronista

Intelectual

Carácter, Social

Tem gosto pela escrita, e normalmente é um elemento organizado. Coordena o painel de actividade, regista os acontecimentos e prepara o relatório final do projecto.

Repórter

Intelectual

Carácter

Documenta as actividades através de fotos e texto, coordena um jornal de parede ou de papel e prepara apresentações com vídeo ou fotografias, podendo usar as novas tecnologias.

Relações públicas

Físico

Carácter, Intelectual

Coordena os contactos com o exterior (outras patrulhas, secções, grupos, agrupamentos, entidades, etc.), usando várias ferramentas: telefone, internet, cartas, etc. Zela ainda pela apresentação e boa imagem da Patrulha/Equipa/Tribo nas actividades.

Tesoureiro

Intelectual

Carácter, Social

Orçamenta actividades, controla contas e pagamentos e planeia campanhas de financiamento, prestando contas ao Tesoureiro da Patrulha/ Equipa/Tribo.do.

Carácter, Físico

Deve ser um elemento com especial interesse pelo equipamento. Compete-lhe preparar a lista de material da Patrulha/Equipa/Tribo, fazer um constante controlo do inventário (tentando identificar falhas) e resolver pequenos problemas no equipamento com o Guarda de Material de Patrulha/Equipa/Tribo. Em campo, é o responsável pelo estaleiro de material e por alertar todos os elementos para os cuidados a ter com a utilização do equipamento e com a segurança.do.

Carácter, Social, Afectivo

Deve ser um elemento que se sente à vontade para animar a Patrulha/Equipa/Tribo ou a Unidade e memoriza facilmente letras, músicas, danças e gritos de animação. É responsável por animar os momentos dinâmicos e os de reflexão e oração das actividades.do.

Carácter, Social

Deve ter especial interesse por representações e coordena-as no Fogo de Conselho. Para isto, deve pesquisar diversas formas de apresentação, tentando encontrar a que mais se adapte ao imaginário do momento, e é ainda o responsável por vestes e outros elementos cénicos. do.

Guarda de material

Animador

Saltimbanco

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Intelectual

Espiritual

Afectivo


manualdodirigente

Função

Socorrista/ botica

Ambientalista

Intendente

Encarregado das construções

Informático

Cozinheiro

Treinador

Explorador

Navegador

Descodificador

Área principal que permite desenvolver

Físico

Social

Intelectual

Intelectual

Intelectual

Físico

Físico

Intelectual

Intelectual

Intelectual

Outras áreas

Breve descrição

Carácter, Social, Intelectual

É o elemento responsável pela mala de primeiros socorros da Patrulha/Equipa/Tribo. Compete-lhe, assim, saber onde está, quais as suas condições de higiene e o que deve fazer parte dela. Para além disto, deve saber os prazos de validade dos diversos materiais e medicamentos, para que servem e como se utilizam e aplicam. É fundamental que mostre interesse em se informar e formar.

Carácter

É o responsável pelas análise das condições ambientais do local de uma actividade, pelo tratamento de lixos, racionalização de recursos e verificação das condições sanitárias e de higiene.

Carácter, Físico

Compete-lhe programar compras, descobrir os melhores locais de compra e respectivos preços, acondicionar correctamente todos os alimentos em campo e distribuir os ingredientes pelas Patrulhas/Equipas/Tribos.

Carácter, Físico

É um elemento com um interesse especial por projectos de construções de campo. Compete-lhe fazer pesquisas sobre construções e tentar arranjar um projecto bem desenhado e calculado ao pormenor. Para além disto, analisa as condições físicas do local de uma actividade, coordena as construções e faz listas de materiais para o Tesoureiro poder orçamentar e o Intendente programar a compra.do.

Carácter

Compete-lhe armazenar, em formato electrónico, os documentos que forem necessários (relatórios, cartas, fotos, etc.) e ainda coordenar o site/blog da Patrulha/Equipa/Tribo enquanto durar a actividade.o.

Carácter, Intelectual

É o elemento que, numa actividade, actua como responsável na cozinha (embora possa ter ajudantes, sobretudo se for uma actividade que dure vários dias). Antes de ir para campo, deve colaborar com o Intendente e Equipa de Animação na construção da ementa para a actividade.o.

Carácter, Intelectual

É o elemento responsável pela “boa forma” dos elementos da sua Patrulha/Equipa/Tribo, dando sentido à máxima “mente sã em corpo são”. Pode orientar a ginástica matinal e deve conhecer vários jogos de movimento e coordenação motora.o.

Carácter, Físico

Compete-lhe coordenar os meios de transporte para o local de uma actividade e analisar as suas condições (em coordenação com ambientalista e encarregado de construções). Dá formação à Patrulha/Equipa/Tribo a nível dos meios de orientação, em coordenação com o Navegador.

Carácter, Físico

Dá formação à Patrulha/Equipa/Tribo a nível dos meios de orientação (em coordenação com o explorador), coordenando as actividades de orientação. Para além disto, define os trajectos a seguir numa actividade ou as etapas de um raide, incluindo paragens para descanso e alimentação (em coordenação com a Equipa de Animação).

Carácter, Físico

Será o elemento que tem um especial interesse por códigos e aprende a descodificar mensagens com rapidez e eficácia. Também pode tratar de inventar novos códigos, que apenas os elementos da sua Patrulha/Equipa/Tribo conseguem descodificar.

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manualdodirigente

Note-se que a existência de funções implica que o detentor de um cargo pode optar por assumir uma função (com características e tarefas diferentes das do seu cargo) numa actividade específica. Contudo, isto não diminui as suas responsabilidades: se alguém assumir a função de realizar as suas tarefas, ele, como detentor do cargo, deve vigiar o que é feito. Por exemplo: o João tem o cargo de Tesoureiro e pediu para ter a função de Socorrista num acampamento. A Luísa, por seu lado, pediu para ter a função de Tesoureira nessa mesma actividade. Como o detentor do cargo de Tesoureiro é o João, ele deve zelar para que o trabalho da Luísa seja bem feito nessa actividade. Assim, compete-lhe ajudá-la (caso ela não saiba o que fazer) e, no fim da actividade, deve reunir com ela para analisar o orçamento feito, avaliar as necessidades de fundos e receber e conferir as contas.

A periodicidade do exercício da função deverá ser avaliada actividade a actividade, promovendo-se assim a rotação de funções e valorizando as experiências que cada um pode ter ao longo do ano ou da sua vivência na secção. Os critérios a ter em conta relativamente à rotatividade deverão englobar: As necessidades particulares de cada actividade face às funções (se não houver necessidade de cozinheiros, quem tinha esta função terá de ter outra, por exemplo); A disponibilidade/vontade dos escuteiros em aprender ou aplicar aptidões específicas associadas a uma determinada função. Assim sendo, ao distribuir as funções, o Conselho de Guias deverá ter em conta as apetências e gostos de cada elemento. Nesta dinâmica, não se prevê que o exercício de uma função seja acompanhado pelo uso de qualquer insígnia correspondente.

Boa prática: Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, o dirigente pode sugerir aos seus Guias a elaboração de escalas de serviço nas actividades que o justificarem. Esta ferramenta permite aumentar a eficácia de Patrulha/Equipa/Tribo (cada um tem noção exacta da sua responsabilidade) e ajuda a reforçar o espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o bem do grupo.

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manualdodirigente Em resumo:

Exercício de uma função

Ao longo de uma actividade

Duração da função

Variável de acordo com a duração da actividade

Distribuição das funções

Pelo Conselho de Guias, tendo em conta as características de cada actividade. Um escuteiro pode desempenhar uma ou mais funções

Funções (lista apenas ilustrativa)

Secretário/cronista, repórter, financeiro, guarda do material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista/botica, intendente, informático, encarregado das construções, treinador, explorador, descodificador, navegador, etc.

III. Equipas de Animação

“Os princípios do Escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação, depende do Chefe e do modo como ele os aplica.” Baden-Powell, Auxiliar do Chefe Escuta

a) Constituição A dimensão das Equipas de Animação dependerá do efectivo da Unidade, bem como das idades dos elementos que compõem essa mesma Unidade. Contudo, deve haver sempre um Chefe de Unidade, que pode ser coadjuvado por um Chefe de Unidade Adjunto, Instrutores e Candidatos a Dirigente.

Na Expedição, aconselha-se a que haja um animador adulto por cada Patrulha, incluindo o próprio Chefe de Expedição. Assim, para um grupo com 4 Patrulhas devem existir 4 dirigentes. Nos casos em que não é possível cumprir esta indicação, a Equipa de Animação deve ter, no mínimo, Chefe de Unidade e um outro elemento adjunto (investido ou em formação).

Na Comunidade, é aconselhada a existência de um animador adulto por cada dez pioneiros, o que faz com que a Equipa de Animação comporte vários elementos. Caso isto não seja possível, no mínimo deve ter Chefe de Unidade e um outro elemento adjunto (investido ou em formação).

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manualdodirigente

No Clã, atendendo a particularidades de efectivo muito díspares, a Equipa de Animação deve ser constituída por um número de elementos tal que permita conhecer individualmente e em profundidade cada um dos caminheiros.

Atendendo a que a realidade evidencia a existência de Unidades mistas, é fundamental que a Equipa de Animação também o seja, sob pena de se criar algum desconforto dos elementos perante determinado tipo de situação que possa ocorrer. De facto, poderá haver situações e necessidades específicas dos elementos que os farão buscar apoio no dirigente do mesmo sexo, pelo que é importante que esta premissa seja salvaguardada.

b) Competências As competências da Equipa de Animação passam por: Coordenar a organização da vida da Unidade; Executar as tarefas de gestão de Unidade que são da sua responsabilidade; Inventariar e aplicar soluções de optimização do pequeno grupo e da Unidade; Ajudar o Conselho de Guias na selecção dos objectivos do plano anual da Unidade; Contribuir para o enriquecimento do plano anual da Unidade; Ajudar na elaboração dos ante-projectos da Secção (Aventura, Empreendimento, Caminhada); Enriquecer a programação das actividades dos projectos; Velar pela execução das tarefas distribuídas; Analisar cada escuteiro de forma a poder ajudar a superar dificuldades; Responsabilizar-se, em última instância, pela vivência da Unidade e pelo progresso individual dos escuteiros.

246

A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motivação que é necessária empreender na Unidade (as “injecções de entusiasmo”), dependem da boa afinidade, interacção e capacidade de trabalho da Equipa de Animação.


manualdodirigente Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e para que se tenha uma Unidade motivada, é importante que a Equipa de Animação reúna com frequência, não permitindo que vigore o improviso (que deve surgir apenas numa situação inesperada e não ser a regra). Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de Animação, sendo um precioso auxílio uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa.

IV. Reuniões e Conselhos A vivência escutista é feita entre os irmãos escuteiros em actividades ao ar livre, na sede, na intimidade da Patrulha ou entre a Unidade. O espaço de reunião é, então, um momento importante do crescimento escutista e deve ser valorizado e vivido com entusiasmo. Há diversos tipos de reuniões e conselhos em cada secção. No capítulo do 'aprender fazendo' exploram-se algumas das suas particularidades, na medida em que é nestes momentos que se desenrolam as actividades práticas escutistas. Vejamos aqui outras características destes momentos.

a) Reunião de Patrulha/ Equipa/ Tribo Uma reunião de Patrulha/Equipa/Tribo deve ser muito própria e muito íntima, na medida em que só a ela diz respeito, pelo que este momento pode assumir muitas formas. Neste âmbito, enquanto momento de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da Patrulha/Equipa/Tribo. Por isso, o animador adulto, os dirigentes apenas deverão participar se e só se tal for solicitado. A reunião de Patrulha/Equipa/Tribo tem diversos objectivos: Elaborar uma proposta de Projecto (a apresentar em Conselho de Unidade), pensando no imaginário a propor, actividades a realizar, etc.; Resolver os problemas financeiros e administrativos de Patrulha/Equipa/Tribo; Tratar de assuntos de interesse geral de Patrulha/Equipa/Tribo para serem levados, ou não, a Conselho de Guias; Avaliar a evolução técnico-espiritual de Patrulha/Equipa/Tribo; Elaborar o Livro de Ouro, no caso da Patrulha e da Equipa; Indicar os cargos a criar em Patrulha/Equipa/Tribo, bem como os respectivos titulares. Analisar e debater a validação dos objectivos educativos do sistema de progresso dos elementos.

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manualdodirigente Neste âmbito, tem um grande valor pedagógico, já que permite desenvolver: O espírito de corpo; O sentido de organização e responsabilidade mútua; O sentido de auto-gestão; O diálogo e a cooperação; A capacidade avaliativa; A participação e envolvimento no sistema de progresso dos escuteiros. Esta reunião pode ter uma duração variável, na medida em que pode ocupar todo o tempo do encontro semanal da Unidade ou apenas uma parte dele, dando espaço para actividades em comum de toda a Secção, como orações, instrução, jogos entre todas as Patrulhas/Equipas/Tribos ou Conselhos de Unidade e de Guias.

b) Conselho de Guias

“O Conselho de Guias é tão velho como o Escutismo e é fundamento essencial para um Escutismo eficiente no Grupo. Sem o Conselho de Guias a procurar desempenhar as suas funções eficazmente, o sistema de Patrulhas está condenado (...) ao fracasso.” John Thurman, O conselho de guias

Enquanto órgão permanente que orienta a vida da Secção (sob a coordenação do Chefe de Unidade), este conselho é o elemento mais importante do Sistema de Patrulhas e tem um grande valor pedagógico, na medida em que permite desenvolver o sentido de chefia, organização e responsabilidade e promove o diálogo e a cooperação, estimulando ainda a autonomia e a liberdade. Aqui, mais que nunca, o Guia marca a sua posição de responsável de Patrulha/Equipa/ Tribo, competindo-lhe fazer valer os interesses, projectos e realizações dela e receber indicações e advertências a respeito da mesma. Como responsável pela Patrulha/Equipa/Tribo, o Guia deve pôr a Equipa de Animação ao corrente dos progressos e dificuldades de cada um dos seus elementos. Como conselheiro, o Guia deve também participar com as suas sugestões, ideias e aprovações na orientação definida para a Unidade.

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É importante que o Guia se aperceba da amplitude de acções e de responsabilidades que tem enquanto membro dos Conselhos.


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Boa prática: O Chefe de Unidade pode propor ao Conselho de Guias a elaboração de um Regulamento de Funcionamento (Regimento) do Conselho, que deverá ser simples, mas deve espelhar as competências e funções de cada membro (por exemplo, quem redige as actas). Para além disto, deve estabelecer a periodicidade e horário do conselho, em que suporte são registadas as actas, o que acontece em caso de votações com empates e/ou falta de membros, etc. Além da vantagem organizativa e da implementação de normas de funcionamento, este documento contribuirá também para reforçar a importância do Conselho e de quem nele tem assento.

1. Constituição O Conselho de Guias é composto pelos Guias de Patrulha/Equipa/Tribo e pelo Chefe de Unidade, competindo a sua gestão ao Guia da Unidade. Não havendo este cargo, a tarefa caberá a quem o Conselho definir: geralmente é ao Guia mais antigo, mas pode ser rotativa (passando todos os guias pela experiência de gerir o Conselho de Guias). Poderão participar, também, os Subguias e todos os elementos da Equipa de Animação. No entanto, isto implica que a Unidade não seja muito grande. De facto, se ela for constituída por cinco Patrulha/Equipa/Tribo, por exemplo, uma reunião com Guias, Subguias e toda a Equipa de Animação implica demasiados participantes. Paralelamente, pode surgir outro problema: se Guias e Subguias estão no Conselho e este se realiza no horário normal de actividades da Unidade, quem orienta a Patrulha/Equipa/Tribo? E quem orienta a restante Unidade se a totalidade da Equipa de Animação estiver no Conselho? Perante esta possibilidade, deve-se colocar à consideração do próprio Conselho quem tem assento nele (se somente Chefe de Unidade e Guias, se toda a Equipa de Animação, Guias e Subguias). Para além disto, pode-se optar por dinamizar este Conselho fora do horário de actividades da Unidade, não permitindo que a Secção fique ao abandono durante as actividades.

Boa prática: Porque não “converter” o Conselho de Guias num jantar em casa do Chefe de Unidade? Este momento de maior intimidade trará inúmeros benefícios: a informalidade, a cumplicidade, a confiança, a aproximação entre dirigente e Guias e uma mais fácil partilha de vivências, segredos, preocupações, etc.

2. Tarefas: Compete ao Conselho de Guias: Tratar dos assuntos gerais da Unidade;

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manualdodirigente Elaborar plano anual da Unidade; Estabelecer a ligação entre o plano anual da Unidade e os planos de Patrulha/ Equipa/Tribo; Estimular o lançamento e preparação das propostas de Aventuras/Empreendimentos/Caminhadas; Enriquecer o Projecto da Secção depois da sua escolha, integrando partes de outras propostas não escolhidas; Acompanhar as ideias para as actividades; Distribuir missões de Patrulha/Equipa/Tribo; Escolher os ateliês necessários para realizar um Projecto e nomear os seus responsáveis; Analisar e validar o progresso de cada elemento e o progresso conjunto das Patrulhas/Equipas/Tribos; Tomar decisões sobre a gestão administrativa e financeira da Unidade; Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.

Após a aprovação de cada projecto de Secção, e havendo responsáveis das oficinas (ateliês) com quem é necessário reunir para que ele se possa concretizar, estes podem ser chamados ao Conselho de Guias para ajudar a: Seleccionar os meios que são necessários para a execução da parte técnica do projecto; Fixar o público-alvo de cada ateliê; Inventariar as potencialidades de cada ateliê, deixando margem à cria­ tividade; Verificar as especialidades potenciais a tirar durante o projecto; Inventariar e prever os meios materiais e financeiros para a realização do projecto. Seleccionar os meios adequados; Comprovar a possibilidade de resolução dos problemas.

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manualdodirigente 3. Periodicidade A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio conselho. Todavia, sugere-se uma regularidade semanal, que se deve converter em diária quando a Unidade está em campo. Eis um exemplo dos diversos momentos que podem ser incluídos num Conselho de Guias:

5 minutos

Oração inicial e/ou cântico

5 minutos

Leitura da Acta do último Conselho

20 minutos

Reflexão das Patrulha/Equipa/Tribo sobre a vivência de cada uma.

20 minutos

Espaço destinado à formação.

5 minutos

Espaço para os avisos

20 minutos

Espaço para discussão de projectos de Patrulha/Equipa/Tribo.

12 minutos

Espaço para reflexão sobre áreas temáticas.

3 minutos

Oração final/ cântico.

4. Papel do Animador Adulto Também no seio do Conselho de Guias é fundamental que o dirigente esteja ciente das suas atribuições e competências, devendo ter um especial cuidado em coordenar os trabalhos sem se substituir ao Guia da Unidade e aos restantes Guias. É ainda importante e fundamental perceber que o Chefe de Unidade não tem voto no Conselho de Guias, mas que isto não implica qualquer diminuição da sua responsabilidade pedagógica naquele órgão: ainda que o Chefe de Unidade não tenha direito de voto, tem direito de veto. No entanto este é um direito que só deve ser usado em última instância e em casos manifestos de incumprimento das tarefas e funções do Conselho de Guias. De facto, um Conselho de Guias onde um Chefe tenha que exercer o direito de veto sobre uma decisão é indicador de que algo está mal na Unidade!

c) O Conselho de Lei “O Conselho reúne em si dois poderes: o executivo e o judicial. O Conselho só reúne com capacidade judicial quando se tenha cometido qualquer violação da Lei do Escuteiro.” Roland Philips, O sistema de patrulhas

251


manualdodirigente O Conselho de Lei permite tratar de casos disciplinares com reconhecida gravidade e é formado a partir do Conselho de Guias. Só reúne quando existem fortes razões para tal. É muito importante o seu valor pedagógico, na medida em que, através dele, de desenvolve o sentido de chefia e de integração na vida comunitária e se promove a capacidade de avaliação, decisão e responsabilidade, estimulando-se constantemente o respeito pelas ideias e opiniões alheias.

1. Constituição e tarefas O Conselho de Lei é formado pela Equipa de Animação, Guias e elementos implicados no caso a tratar. Podem ainda ser chamadas outras pessoas para ajudar (Chefe de Agrupamento, Assistente, testemunhas, etc.). Quando se junta, compete-lhe: Analisar os problemas disciplinares graves; Ouvir os implicados; Ouvir as vítimas e ver quais os prejuízos; Decidir-se como reparar os erros; Tomar medidas para que o caso não se volte a repetir; Decidir se o caso deve ser apresentado em Reunião de Direcção do Agrupamento.

2. Papel do Animador Adulto À semelhança do Conselho de Guias, o dirigente não se deverá sobrepor ao Guia da Unidade e aos restantes Guias, mas assiste-lhe o direito de veto da decisão tomada pelo Conselho. Todavia, neste Conselho deverá ter especial atenção às emoções geradas, tentando acalmar os ânimos e apelar ao verdadeiro sentido de justiça (nem sempre é fácil, para os Guias, manterem um distanciamento em relação ao elemento com problemas, na medida em que pode haver amigos envolvidos).

d) Conselho de Expedição/ Comunidade/ Clã 1. Constituição e tarefas Este Conselho é fundamentalmente deliberativo e engloba toda a Unidade, que se reúne sempre que necessário (para escolher ou avaliar um projecto, analisar o trabalho de Patrulha/Equipa/Tribo, etc.) com o propósito de conversar sobre a vida do grupo, de reconhecer o progresso de cada escuteiro realizado ao longo do projecto, de atribuir distinções e prémios e de escolher um projecto para realizar. Neste âmbito, é um momento importante porque através dele se promove:

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manualdodirigente O sentido de integração na vida comunitária e de participação; O sentido de auto-gestão; O respeito pelas ideias e opiniões alheias (saber perder). A capacidade de avaliar crítica e objectivamente uma situação.

As tarefas deste Conselho são: Escolher o Projecto de Secção (um voto por cada elemento), depois de cada Patrulha/ Equipa/Tribo, através do seu representante, publicitar as vantagens e qualidades da sua proposta e de se colocar à disposição para esclarecer dúvidas; Dar sugestões sobre os ateliês necessários; Avaliar os Projectos; Analisar o funcionamento dos ateliês e se o trabalho de cada elemento nos mesmos atingiu o nível técnico pretendido; Analisar o bom funcionamento de Patrulha/Equipa/Tribo e o seu progresso; No caso da IV Secção, analisar se a Carta de Clã está a ser cumprida.

2. Papel do Animador Adulto Quando o Conselho reúne com o propósito de escolher o Projecto da Secção, o dirigente deverá ter um papel de coordenação, sem ingerência demasiada, no sentido de deixar fluir as propostas e ambições dos membros do conselho relativamente ao que pretendem com a actividade que estão a preparar. Para além disto, desempenha ainda um papel organizativo, na medida em que faz a gestão das diferentes propostas elaboradas pelas Patrulha/Equipa/Tribo e contabiliza os resultados aquando da votação. Se o Conselho reúne para avaliação do progresso dos elementos ou outros assuntos, o dirigente deverá ouvir as opiniões dos Guias e restantes elementos (coordenando as intervenções) e ajudar a delinear projectos que visem cumprir os objectivos traçados pelos elementos relativamente ao seu progresso individual.

Nos diversos assuntos todos têm direito a exprimir-se e a opinar, devendo a Equipa de Animação zelar para que isso seja possível.

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manualdodirigente V. Sede O “território” da Patrulha/Equipa/Tribo, por excelência, é o campo, a Natureza. Todavia, como nem sempre é possível estar em comunhão com ela, cada Unidade tem a sua sede, que é, então, o local onde se reúne. A sede deverá ser íntima, exclusiva, é o espaço onde se “respiram” as tradições e o espírito de Unidade. A sede da Expedição chama-se Base. A sede da Comunidade chama-se Abrigo. A sede do Clã chama-se Albergue.

Na sede, deve haver lugar para: Cantos de Patrulha/Equipa/Tribo; Espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a chefia; Oratório; Espaço comum para reuniões de Conselhos da Unidade, de Guias e de Equipa de Animação. Para além disto, convém que tenha espaço para o painel do Projecto de Secção e diversos quadros, como um quadro do progresso (onde é registado o progresso de cada elemento), ordens de serviço, pontuação inter-Patrulha/Equipa/Tribo, escalas de serviço para tarefas comuns. Pode haver também lugar para quadros decorativos (sistema de progresso, uniforme, Baden-Powell, Lei e Princípios, sinais de pista, etc.).

Cada Patrulha/Equipa/Tribo pode ter um Canto decorado de acordo com a natureza do espaço onde vive o seu animal Totem ou Patrono. Por exemplo, o charco da Rã, o ninho da Águia, a toca do Esquilo, etc.

Bibliografia: Cadernos de Função, Edições CNE. Manual do Guia de Patrulha, Edições CNE. PHILIPS, Roland, O sistema de patrulhas, Edições CNE. THURMAN, John, O conselho de guias, Edições CNE. Regulamentos do CNE.

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Maria Helena Andersen

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C.6

Progresso Pessoal

C.6.0 Valor pedagógico do Sistema de Progresso

“Porque nos havemos de preocupar com a formação individual?”, perguntam. Porque é a única forma por que se pode educar. Podemos instruir qualquer número de rapazes, mil de cada vez, se tivermos voz forte e métodos atraentes para manter a disciplina. Mas isso não é educação. In Aids, WB, 30

A progressão pessoal tem por objectivo essencial ajudar cada criança ou jovem a envolver--se de forma consciente e activa no seu próprio desenvolvimento. Desta forma, aprende a comprometer-se verdadeiramente com o seu crescimento, condição essencial para a sua educação.

“O segredo de uma sã educação é fazer com que cada aluno aprenda por si mesmo, em vez de instituí-lo injectando-lhe conhecimentos de uma maneira estereotipada.” In Aids, WB, 30

O sistema de progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem três características principais: está centrado no indivíduo; considera as capacidades de cada um; é baseado num conjunto de objectivos educativos.

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manualdodirigente Importa, no entanto, perceber que não se pretende criar indivíduos perfeitos ou servir de base para estimular qualquer tipo de individualismo. De facto, o objectivo do Escutismo é formar cidadãos conscientes e preocupados tanto com o seu próprio bem-estar e desenvolvimento como com o dos demais.

“A educação individual implica uma total confiança entre o professor e o aluno, baseada na relação entre irmão mais velho e irmão mais novo; empregando um tratamento diferente para cada caso, graças ao conhecimento pessoal do seu temperamento, idade e carácter.” in Aids (edição 1919), 16

Para o conseguir, procura-se que cada criança ou jovem, através do sistema de progresso, atinja os objectivos educativos da Secção em que se insere (adquirindo, assim, conhecimentos, competências e atitudes). Esta maravilha do Método Escutista, então, guia­-o no seu percurso de desenvolvimento, sem o forçar a escolher caminhos pré-determinados. É, sim, uma oportunidade de aprofundamento de habilidades próprias, valorização pessoal ou até mesmo de descoberta vocacional que impulsiona crianças e jovens a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da sua vida. Desta forma pode ser um excelente auxiliar para ajudar cada indivíduo a alcançar todo o potencial encerrado dentro de si, levando-o a ser e fazer melhor.

O sistema de progresso é orientado por objectivos educativos de secção e apresenta as seguintes componentes, que representam as suas principais vantagens: - o diagnóstico inicial é valorizado; - há um reforço da consciência pessoal do elemento no que diz respeito ao seu progresso e à sua preparação para a Promessa (é ele que reconhece que está preparado para assumir um compromisso com a Unidade); - são identificadas oportunidades educativas que permitem atingir determinados objectivos a nível de crescimento; - na relação educativa entre elemento e dirigente surge a possibilidade de negociação sobre o caminho a percorrer e as metas a atingir; - o diagnóstico, a avaliação e o reconhecimento envolvem diversos intervenientes (os pares, os dirigentes e outros organismos), o que enriquece o processo.

Bibliografia:

256

BADEN-POWELL, Robert, O Rasto do Fundador, Edições CNE.


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C.6.1 O Sistema de Progresso na Alcateia Durante a sua passagem pela Alcateia, os lobitos vivem alguns momentos importantes: primeiro, passam por um processo de integração – que envolve um diagnóstico inicial e uma etapa de adesão à secção, que culmina com a Promessa – e depois entram num processo de vivência, onde percorrem as diferentes etapas de progresso até à saída da secção, que culmina com a passagem para a II Secção. De seguida, descrever-se-á cada uma destas fases e as suas características principais.

I. A integração na Secção a) O Diagnóstico inicial Todas as crianças que entram para a Alcateia apresentam características diferentes a nível da sua personalidade e crescimento: idade, contexto familiar e escolar, níveis de desenvolvimento intelectual, virtudes e defeitos, capacidades e dificuldades. Assim sendo, cada uma está num estádio de desenvolvimento próprio e, por isso, tem de principiar o seu caminho na secção de um ponto de partida próprio e diferente do das outras crianças. Só assim crescerá de forma harmoniosa e, idealmente conseguirá atingir em pleno os objectivos educativos da secção.

Compete à Equipa de Animação promover o desenvolvimento pessoal equilibrado de cada lobito, ajudando-o a atingir os objectivos de crescimento da secção. No entanto, para o fazer tem de conhecer bem a criança que chega à Alcateia. A este momento de conhecimento e investigação chamamos diagnóstico inicial.

Esta fase de diagnóstico é muito importante para o que sucede depois da Promessa. De facto, depois dela, o lobito vai ter de escolher, com os Velhos Lobos, os trilhos em que vai evoluir e esta escolha tem de ter em consideração as suas necessidades de desenvolvimento, que só conhecemos se fizermos um diagnóstico profundo do elemento.

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No diagnóstico inicial, a Equipa de Animação deve promover actividades variadas que permitam saber concretamente quais são as características da criança que chega. Estas actividades podem passar por: ·-observar a criança em dinâmicas e jogos variados, pensados especificamente para o efeito: este tipo de actividade constitui uma excelente oportunidade para conhecer e testar comportamentos e é a melhor forma de observar e conhecer sem que a criança se aperceba. ·-observar o comportamento e reacções da criança durante as primeiras actividades e reuniões. ·-conversar informalmente com os Pais e com a própria criança: esta conversa permite aos dirigentes conhecer melhor os lobitos e pode ajudá-los a definir prioridades a nível do projecto de progressão individual de cada um e das formas como ele será implementado. Para além disto, ajuda os pais a reflectir sobre o desenvolvimento do seu filho ou filha e, para a criança, é uma experiência para se conhecer melhor e ver reconhecido o seu valor. ·-conversar com outros agentes educativos que podem ter informações importantes (catequistas, professores, etc.). Todas estas observações podem ser registadas numa folha própria onde se mencionam as informações recolhidas nas diversas conversas e também os conhecimentos, comportamentos e atitudes que o lobito revela em cada reunião (pode-se fazer o registo de acontecimentos e atitudes que ilustrem o que se atingiu). Esta folha pode tomar muitas formas (no anexo 1 – Apoio ao registo de CCAs - lobitos – apresenta-se um exemplo) e pode ser descritiva (com explicações detalhadas) ou valorativa (ter alíneas em que se avalia, por exemplo, de 1 a 4 – de não adquirido a totalmente adquirido). Para além disto, pode tanto ser usada no diagnóstico inicial como ao longo do percurso do lobito, para avaliar o seu progresso.

O que acontece com lobitos de 7 e 8 anos? No caso de estarmos perante um aspirante com idade igual ao 2º ou 3º ano na Secção (7 ou 8 anos), o diagnóstico formal pode incluir informações mais aprofundadas de outros agente educativos (professor, catequista, etc.), na medida em que é possível que a criança já tenha adquirido alguns dos conhecimentos, competências e atitudes que a proposta educativa da Alcateia se propõe ajudar a desenvolver (ou seja, já terá atingido alguns objectivos educativos). A recolha de boas informações, nestas idades, é fundamental, na medida em que, depois da fase de adesão e da Promessa, a Equipa de Animação terá de definir concretamente que objectivos educativos é que o lobito já atingiu, se já possui trilhos completos e em que etapa de progresso vai ser integrado. Assim, no reconhecimento do progresso pessoal, se o lobito tiver completado todos os objectivos:

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De 1 trilho de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 1; De 1 a 2 trilhos de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 2; De 2 a 3 trilhos de cada área de desenvolvimento: fica na etapa 3.

Note-se que: 1. Se um lobito for colocado na primeira etapa por ter apenas um trilho ou dois completos, é aconselhável que escolha outros seis trilhos (um de cada área) para esta etapa e deixe de lado – para reavaliação na etapa seguinte – os trilhos que aparentemente já completou 2. O aspirante só completa uma etapa se tiver completado um trilho de cada área de desenvolvimento pessoal. No caso de existir um lobito, por exemplo, que tenha completado dois trilhos da área de desenvolvimento espiritual, 2 da área de desenvolvimento físico e 1 da área de desenvolvimento intelectual, ele fica na primeira etapa porque ainda lhe falta alcançar um trilho das outras áreas (social, afectiva e de carácter). 3. Caso um lobito tenha alcançado 7 trilhos (de áreas diferentes), é colocado na segunda etapa e deve escolher 5 trilhos para a completar.

O que acontece com lobitos de 9 anos? No caso de a Alcateia receber um aspirante com 9 anos, a Equipa de Animação deverá realizar um diagnóstico formal o mais completo possível (caso seja necessário, podese mesmo recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito preferencialmente na presença de dois dirigentes da Unidade, para poder haver várias opiniões). Depois deste diagnóstico, duas coisas podem ocorrer: Se se percebe que a criança não cumpre todos os trilhos educativos da Alcateia (ainda não atingiu todos os objectivos educativos), ela fica como aspirante na Alcateia, inicia a sua adesão e após a Promessa é colocada na etapa de progresso adequada (de acordo com os trilhos que já alcançou). Se se percebe que o aspirante já atingiu todos os objectivos educativos e cumpriu, por isso, todos os trilhos educativos da Alcateia, ele pode passar a ser aspirante nos exploradores. Esta opção tem de ser muito bem equacionada, já que pode ser traumático para o aspirante ir para os exploradores se tiver todos os amigos na Alcateia e se encontrar no 4º ano de escolaridade. É por isso necessário avaliar bem a situação deste lobito a nível de família, grau de escolaridade e grupo de pares.

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Esquema 1 RESUMO- SECÇÃO I

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manualdodirigente b) A etapa de Adesão Quando dá início à sua adesão à Alcateia, o aspirante a lobito recebe uma insígnia de adesão e passa a chamar-se “Pata-Tenra”.

Esta etapa tem alguns objectivos: Ajudar o aspirante a adquirir conhecimentos básicos acerca do funcionamento da Alcateia: como se organiza a unidade, qual a mística e imaginário que a definem, que actividades se fazem e quais são os compromissos de um lobito (adesão a um quadro de valores). Permitir uma experimentação concreta do método escutista, através da vivência real da vida de bando e das actividades da secção (nomeadamente uma Caçada). Levar o aspirante a contactar e reflectir sobre o compromisso que deverá assumir formalmente na sua Promessa e sobre a forma como se desenrola o progresso depois da Promessa. Para além de tudo isto, durante a adesão o aspirante toma conhecimento das áreas de desenvolvimento (“os Bichos da Selva que lhe vão ensinar coisas”) e dos trilhos educativos (“trilhos da Selva por onde ele vai andar”) do sistema de progresso. Nos lobitos, as áreas de desenvolvimento e os trilhos educativos estão recodificadas de forma a estarem mais próximos do imaginário dos lobitos. Assim, a cada área está associado um personagem da história da Selva e cada trilho está convertido numa acção que esse animal desempenha, como se vê no quadro seguinte:

Afectivo

Racxa

Relacionamento e sensibilidade Racxa acolhe Máugli no Covil

Equilíbrio emocional Racxa defende Máugli de Xer Cane

Auto-estima Racxa ama Máugli como ele é

Carácter

Balú

Autonomia Bàlu ensina a Lei da Selva

Responsabilidade Bálu ajuda a cumprir a Lei

Coerência Bálu orgulha-se de Máugli

Espiritual

Hathi

Descoberta Halthi conta a história de Tha

Vivência Hathi guarda toda a Sabedoria da Selva

Serviço Máugli aprende com Halthi a Sabedoria da Selva

Físico

Desempenho Cá defende Màugli dos Bândarlougues

Auto-conhecimento Cá muda de pele

Bem-estar físico Máugli brinca com Cá

Intelectual

Bàguirà

Procura do conhecimento Màugli e Bàguirà caçam juntos

Resolução de problemas Bàguirà responsabiliza Máugli

Expressão/Comunicação Bàguirà defende Máugli na Rocha do Conselho

Social

Àquêlà

Exercício activo da cidadania Àquêlà orienta as reuniões na Rocha do Conselho

Cooperação e solidariedade Àquêlà ajuda Fao

Interacção Àquêlà ajuda Máugli a guiar os búfalos

A ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos é aprofundada no Anexo 2.

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manualdodirigente c) A Promessa A preparação para o compromisso A vivência correcta da fase de adesão permite que cada aspirante se consciencialize da realidade da vida da Alcateia e possa, de forma individual, tomar a decisão de aderir ou não à secção, através da Promessa. Note-se que, apesar de competir à criança, em primeiro lugar, o reconhecimento de que gosta de estar na Alcateia e de que quer fazer a sua Promessa, há muitos lobitos para quem esta decisão não é fácil: são crianças de tenra idade que, muitas vezes, não estão habituadas a tomar decisões. Para além disto, durante a fase de adesão, cada lobito revela um ritmo próprio de adaptação a novas pessoas e a novas regras que deve ser respeitado. Isto significa que, enquanto uns decidem rapidamente aderir ao Movimento e se preparam num curto espaço de tempo para fazer a Promessa, outros podem demorar mais tempo. Assim sendo, a duração da adesão deve ser adaptada ao aspirante, embora não deva ultrapassar os 4 meses. Por tudo isto, os aspirantes devem ser acompanhados de muito perto pelos dirigentes, que devem tentar ajudá-los a escolher o que querem fazer e a preparar-se para o seu compromisso.

A Promessa deve ser preparada com todo o cuidado e, com base em dinâmicas propostas, o seu sentido e importância deve ser explicado ao aspirante, para que este possa tomar consciência do valor deste compromisso, fortalecendo a sua decisão de aderir ou não à Alcateia.

Validação da Promessa Neste processo, o papel dos pares, ou seja, dos Guias, no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos é bastante importante. De facto, é no Conselho de Guias que se verifica como está a decorrer a fase de adesão dos aspirantes, nomeadamente a nível da vivência no Bando, na Alcateia e nas actividades típicas. Depois de tudo avaliado, e caso se conclua que o aspirante está pronto para fazer a sua Promessa, os Guias elaboram uma proposta que deve ser validada por todos em Conselho de Alcateia.

A avaliação dos elementos em Conselho de Guias implica um suporte cuidado e uma orientação clara por parte da Equipa de Animação. De facto, a autonomia dos lobitos é limitada, pelo que não se pode deixar tudo nas mãos deles (em muitos casos não saberiam o que fazer ou decidir). Há que ter cuidado, contudo, em orientar e não em substituir: a Equipa de Animação deve ajudar os Guias a emitir opiniões fundamentadas e a tomar decisões ponderadas em conjunto, mas não os deve substituir nas tomadas de decisão. No entanto, a última palavra é sempre dos dirigentes.

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manualdodirigente Depois de tudo estar decidido, a Promessa deve ser marcada no máximo até 2 meses a seguir à decisão de adesão. Note-se que, apesar de ela ser agora individualizada, os aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, caso haja vários que tenham visto ser validada a sua decisão dentro do mesmo tempo.

II. A Vivência da Secção a) As Etapas de Progresso Preparação das etapas de Progresso Durante a fase de adesão, o lobito deve conhecer e preparar a forma como se vai desenrolar o seu progresso a partir da Promessa. Assim, através do diálogo, e tendo em conta o diagnóstico inicial, a Equipa de Animação tem de o ajudar a escolher o seu primeiro percurso de progresso.

Em termos de etapas de progresso, e para reforçar o compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa. Assim se dá relevo ao compromisso assumido pelo lobito de procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a alcançar os objectivos educativos da Secção.

Nome das etapas No caso dos lobitos, os nomes das etapas de progresso são “Lobo Valente”, “Lobo Cortês” e “Lobo Amigo”. Tal como as áreas de desenvolvimento, estes nomes também estão associadas ao imaginário da secção: utilizou-se linguagem concreta e com uma simbologia própria (Pata-Tenra, por exemplo), valores (como a Amizade) e ensinamentos presentes na História da Selva.

“Coração valente e língua cortês – disse –, levar-te-ão longe através da Selva, homenzinho.” O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 73

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manualdodirigente Etapa do Pata-Tenra (adesão) Pata-Tenra' é o lobito que mal sabe andar e que nem caça, por não ter ainda forças nas suas patas. É aquele que precisa de ajuda para descobrir e compreender as primeiras leis e os primeiros segredos da selva, porque tem tudo para aprender. Precisa, assim, dos Velhos Lobos e dos lobitos mais velhos para crescer em alcateia e se tornar um bom lobito. O distintivo de progresso da secção possui, para além da etapa de Pata-Tenra, outras três partes, cada uma correspondendo a uma das etapas depois da Adesão. Em cada parte encontra-se uma qualidade do lobito. Etapa do Lobo Valente O início de uma nova pista arrasta consigo, por norma, o medo do desconhecido. Na idade dos lobitos, este desconhecido toma diversas formas: são os chefes que não conhecem, as primeiras noites de acampamento, um grupo de crianças desconhecido, espaços novos, etc. Mas o lobito deve ser semelhante a Máugli: ele, que representa todos os lobitos, encara pela primeira vez a Selva com toda a sua coragem. Assim, não manifesta nenhum medo, antes enfrenta a nova realidade de cabeça erguida.

“– Que pequenino! Que nuzinho e que ousado! – disse brandamente Mãe Loba. (…) – Eia! Está a comer com os outros. Este é então um cachorro de homem. (…) Chegou nu, de noite, só e esfomeado; todavia, não tinha medo!” O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 16, 19

Nesta etapa, encontramos um lobito que, embora já saiba andar, ainda tem um longo caminho pela frente, nem sempre fácil de percorrer. Para o conseguir, vai precisar de toda a sua valentia. Com a ajuda da Alcateia, vai aprender a controlar o medo e a trabalhar o auto-domínio.

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manualdodirigente Etapa do Lobo Cortês

“OBRIGADO – DESCULPE – SE FAZ FAVOR Três palavras de ordem que a Alcateia não pode deixar de viver.” Alaiii

Conhecidos os principais caminhos da Selva, esta é a altura em que o lobito é responsabilizado de forma mais activa. Esta é a época em que começa a ser um exemplo para os outros. É a época em que tem de ser cortês, ou seja, em que tem que se revelar amável e respeitador para com os outros, sobretudo os mais novos, que precisam de mais ajuda. No entanto, para o ser tem de aprender a controlar-se: é altura de cumprir a Lei de forma instintiva, aprendendo a reflectir sobre os seus actos e respectivas consequências. Só assim pode aperfeiçoar-se: um lobito já relativamente autónomo sabe que deve ser delicado no falar, mesmo que tenha de dizer algumas coisas que nem todos gostam de ouvir e que deve ser gentil com todos sem se revelar subserviente ou bajulador. Conhece, assim, os caminhos certos e os errados: não gosta de faltas de respeito, de ofensas, de troça e sabe que os mais novos são mais frágeis e que devem ser protegidos e ajudados. É chamado, a este nível, a seguir o exemplo de Máugli, que foi chamado a reflectir e a dominar-se, respeitando os mais fracos e sendo amável.

“Os miúdos da aldeia irritavam-no deveras. Felizmente, a Lei da Selva ensinara-o a dominar a cólera, porque na Selva a vida e sustento dependem desse poder; (…) só a consciência de que não era desportivo matar pequenos cachorros nus o impedia de pegar neles e de os rachar ao meio.” O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, p. 87

Já mais crescido, o lobito começa agora a ser capaz de ser amável e paciente para com os mais novos, os Patas-Tenras acabados de chegar e que precisam de ser ajudados. Nesta etapa, deve mostrar-se alegre, respeitador, simpático e ajudar a zelar por todos e pelo bem da Alcateia. Etapa do Lobo Amigo Na última etapa da vida na Alcateia, o lobito é chamado a ajudar os Velhos Lobos a ajudar a instruir os mais novos. É agora, mais do que nunca, um modelo para os restantes e deve ser um exemplo de amizade. Assim, deve ser capaz de perdoar, em vez de se mostrar vingativo, ressentido ou rancoroso; e deve ser capaz de ajudar os que mais

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manualdodirigente necessitam, mesmo que não goste muito deles: é que não é fácil ensinar os mais novos, que ainda não conhecem os caminhos da Jangal e a Lei do Povo Livre. É preciso muita paciência e brandura para ajudar Àquêlá e ensinar os faltosos, mas um lobito é sempre um irmão, nunca um inimigo, e os mais fortes protegem sempre os mais fracos. Também aqui é chamado a seguir o exemplo do Menino-Lobo: é a amizade, o amor e a gratidão que estão presentes quando Máugli protege a Alcateia e, mais tarde, quando abandona a Aldeia dos Homens.

“Uma mulher – era Messua – atravessou a correr para a manada e gritou: - Ó filho, filho! Dizem que és bruxo, que podes tornar-te em qualquer bicho que queiras. Não acredito, mas vai-te daqui, senão matamte (…). Máugli soltou um riso breve e desdenhoso porque uma pedra lhe acertara. – (…) Não sou bruxo nenhum, Messua. (…) Girou com os calcanhares e afastou-se com o Lobo Solitário, e, olhando para as estrelas sentiu-se contente. – Para mim acabou-se o dormir dentro de armadilhas, Àquêlá. Peguemos na pele de Xer Cane e vamo-nos. Não, não faremos mal à aldeia, porque Messua foi boa para mim.” O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, pp. 103-104

Na última etapa, o lobito já cresceu: está cheio de vida e no máximo das suas capacidades. Já é capaz, assim, de uivar tal como Àquêlá, com cuja idade e experiência aprende a ser melhor. Compete-lhe agora, neste âmbito, ser um exemplo para os outros: um lobo amigo domina a sua vontade e os seus sentimentos e cumpre a Lei da Alcateia e a sua Promessa (escuta Àquêlá, pensa primeiro nos seus semelhantes e é amigo de Jesus, amando os outros).

Quando as quatro insígnias se completam, podemos verificar que o lobo Pata-Tenra observa atentamente o uivo do lobo Amigo. Assim se torna claro que, num ciclo interminável, os mais novos aprendem com o exemplo dos mais velhos.

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manualdodirigente b) Os Objectivos Educativos A progressão por objectivos Toda a dinâmica do sistema de progresso assenta no desenvolvimento individual de conhecimentos, competências e atitudes, com base em três esferas do saber: o saber saber, o saber fazer e o saber ser. Estes conhecimentos, competências e atitudes desenvolvem-se através de um conjunto de objectivos definidos para vários trilhos que, por sua vez, integram áreas de desenvolvimento. Progredir significa, neste âmbito, atingir objectivos em campos que a criança ainda não evoluiu e não aprofundar indefinidamente conhecimentos, competências e atitudes já dominados. Por exemplo: se se percebe que um lobito já cumpre tudo o que está dentro de um objectivo, então este último é dado como atingido e o progresso passará por tentar atingir outros objectivos, ainda não cumpridos. Estrutura do sistema de progresso O sistema de progresso está estruturado da seguinte forma: Tem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual e social. Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos. Cada trilho educativo contém um ou mais objectivos educativos. Em cada etapa de progresso, o lobito tem de procurar evoluir em todas as 6 áreas de desenvolvimento. Para isso, vai trabalhar em 6 trilhos, um de cada área, procurando atingir os objectivos presentes neles. Note-se que compete a cada lobito, em primeiro lugar, a construção das suas etapas de progresso, na medida em que deve seleccionar um trilho de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento em cada etapa. Contudo, não pode estar sozinho neste processo de decisão. Pelo contrário, deve ser ajudado pelos dirigentes, na medida em que, pela idade que tem, é frequente não conseguir tomar decisões ou escolher o que mais lhe convém. Neste processo, então, o Àquêlá (ou outro dirigente) desempenha um papel importante: Deve diagnosticar os conhecimentos, competências e atitudes que o lobito já detém, ajudando-o a seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas etapas; Deve observar a evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

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A escolha individualizada de trilhos implica que: - dois ou mais lobitos podem trabalhar objectivos diferentes apesar de estarem na mesma etapa de progresso. Vejamos um exemplo: um lobito, para a sua etapa de Lobo Valente, por exemplo escolhe trilhos como os de sensibilidade e relacionamento (área afectiva), autonomia (área do carácter), vivência (área espiritual), desempenho (área física), procura do saber (área intelectual) e exercício activo da cidadania (área social). Outro lobito, na mesma etapa, escolhe trilhos diferentes destes, pelo que vai trabalhar objectivos educativos diferentes. - dois ou mais lobitos podem trabalhar os mesmos trilhos mesmo estando em etapas diferentes. Por exemplo, um lobito na etapa de Lobo Valente pode escolher trilhos que outro lobito, já na etapa de Lobo Cortês, também pode querer seleccionar (por ainda não os ter cumprido).

É de esperar e de desejar que a maioria dos lobitos atinja o fim do sistema de progresso, ou seja, que à data de saída da Alcateia a maioria tenha conseguido completar todos os trilhos. No entanto, pode haver lobitos que não completam todos os trilhos da Alcateia antes de passar de Secção (isto pode acontecer tanto com lobitos que estão desde os 6 anos na Alcateia, como com os que entraram com 9). Nesse caso, os trilhos não alcançados nos lobitos não transitam nem se acumulam com os trilhos dos exploradores. Perante esta situação, o Àquêlá deve informar o Chefe da Expedição acerca da situação destes lobitos, explicando que objectivos/trilhos ficaram por atingir e porquê. Assim se identificam as dificuldades de desenvolvimento desses lobitos. Depois disto, o Chefe da Expedição deve acompanhar com especial cuidado escolha dos primeiros trilhos destes novos exploradores: o ideal será que as áreas/trilhos mais frágeis sejam os primeiros a ser trabalhados, para que as dificuldades não se aprofundem.

c) As Oportunidades Educativas As actividades Para atingir os objectivos de cada etapa, os lobitos têm de realizar algumas actividades que lhe permitem crescer e desenvolver­-se. A essas actividades, que permitem à criança viver experiências enriquecedoras e desenvolver-se, chamamos oportunidades educativas. Dado que todo o meio ambiente é potencialmente um campo de aprendizagem, elas não surgem apenas no Covil, mas podem também surgir na escola, catequese, associações desportivas ou artísticas, etc., porque em todos estes planos há espaço para o desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes. Assim, todas as actividades que os lobitos fazem dentro e fora da Alcateia (jogos, saídas, vivência de grupo, família ou escola, técnicas, etc.) são oportunidades educativas, na medida em que podem ajudar a alcançar os objectivos educativos da Secção.

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Os dirigentes devem verificar que conhecimentos, competências e atitudes o lobito pode ter adquirido em outros campos que não o escutista, verificando se permitiram atingir objectivos. Se tal acontecer, o lobito não terá de fazer nada para atingir esses objectivos: já estarão concluídos. Neste âmbito, deixam de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem e passa a dizer-se “o lobito deu provas de” (foi observado nele um determinado comportamento recorrente a nível de conhecimentos, competências e atitudes) em vez de “o lobito prestou provas” (realizar uma determinada acção que consiste numa prova específica a fazer num tempo e espaço únicos).

As oportunidades educativas permitem atingir os objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Isto significa que não é pelo facto de fazer uma actividade que um lobito vai atingir automaticamente um objectivo. De facto, é a avaliação do desenvolvimento do lobito que conta (e não a realização ou não da oportunidade educativa): ao observarem o lobito, os dirigentes definem que oportunidades educativas são necessárias para que ele atinja um objectivo. O lobito pode participar nesta definição, na medida em que podem ser “negociadas” com ele as actividades que eventualmente o ajudarão a atingir os objectivos educativos. Esta participação é importante, na medida em que ajuda o lobito a envolver-se no seu próprio desenvolvimento.

Cargos e funções Para além das actividades, o desempenho de um cargo ou função no Bando ou numa Caçada também é uma oportunidade educativa, na medida em que o exercício destas tarefas específicas permite ajudar os lobitos a crescer nas diversas áreas de desenvolvimento. O quadro seguinte demonstra precisamente as áreas que mais facilmente podem ser desenvolvidas pelo desempenho de um determinado cargo ou função: QUADRO ILUSTRATIVO DE CARGOS E DE FUNÇÕES CARGO

ÁREA PRINCIPAL

OUTRAS ÁREAS

Guia

Carácter

Afectivo / Social

Subguia

Carácter

Afectivo / Social

Secretário/cronista

Intelectual

Carácter / Social

Financeiro

Intelectual

Carácter / Social

Guarda do material

Intelectual

Carácter / Físico

Animador

Espiritual

Carácter / Social / Afectivo

Socorrista/botica

Físico

Carácter / Social / Intelectual

Intendente

Intelectual

Carácter / Físico

Informático

Intelectual

Carácter

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manualdodirigente Especialidades Também as especialidades, quando trabalhadas e aplicadas na vida quotidiana dos Bandos, permitem desenvolver aptidões, pelo que também elas constituem oportunidades educativas. O trabalho neste âmbito pode e deve iniciar-se a partir do momento em que o lobito realiza a sua Promessa e entra nas etapas de progresso.

d) Avaliação A avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes que os lobitos vão manifestando e adquirindo não depende de provas que eles realizem em determinado momento. De facto, e como é suposto que tudo o que eles fazem, dentro e fora da Alcateia, seja olhado como oportunidade educativa que contribui para o seu desenvolvimento, há que observar e avaliar o que se passa em outros ambientes educativos (como a família, a escola, o clube desportivo, etc.). Esta avaliação, e posterior validação de objectivos educativos concluídos, deve ser realizada pelos dirigentes de forma contínua e durante um percurso prolongado de tempo, ao longo da vivência escutista do lobito. Isto implica dois tipos de relação: 1. um contacto próximo com os outros agentes educativos que contactam com o lobito (como os pais);

A avaliação do lobito, tal como no diagnóstico inicial, passa por uma ligação estreita entre o dirigente e os pais, para que seja possível receber informações sobre o comportamento do lobito em casa a partir da observação feita por estes. De igual forma, a avaliação do progresso pessoal também poderá ser realizada com a ajuda de professores, catequistas, etc.

2. uma relação muito próxima com o lobito, com quem deve conversar frequentemente sobre os conhecimentos, competências e atitudes que este adquiriu, para verificar se um objectivo educativo está concluído, se o lobito deverá esforçar-­se mais para o concluir e se tem consciência de que está a evoluir.

Esta relação mais personalizada com cada um dos lobitos implica uma boa organização por parte da Equipa de Animação: cada dirigente deve estar incumbido de se relacionar de forma mais próxima com um determinado número de lobitos (preferencialmente 1 por bando, ficando o Àquêlá de fora), de modo a que todos possam ser devidamente acompanhados no seu desenvolvimento pessoal.

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Para além desta avaliação por parte dos dirigentes e da consciencialização por parte do lobito (tem de perceber que evoluiu), também o Conselho de Guias é chamado a avaliar os elementos.


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Repete-se, na progressão de etapa para etapa, o que se faz a propósito da validação da Promessa: o Conselho de Guias é o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas com o progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de progresso. Também esta avaliação exige uma orientação cuidada por parte da Equipa de Animação que, não se devendo substituir aos lobitos nas tomadas de decisão, deve ter a última palavra, para garantir que há justiça e consciência na avaliação.

e) O Reconhecimento O reconhecimento de que um trilho ou uma etapa de progresso foram concluídos deve ser feito depois da avaliação das actividades típicas (altura em que se aprecia a evolução de cada lobito). Este reconhecimento não será registado num cartão de progresso, mas sim no Caderno de Caça do lobito (é um suporte ao progresso e um diário de registo da aprendizagem e vivências na Alcateia), que conterá uma página destacada com uma ilustração relacionada com a história da Selva e contendo as personagens associadas às áreas educativas. À medida que os lobitos concluam os objectivos de um determinado trilho, é-lhes entregue um autocolante para que seja colado nesse mapa da selva. Quando o lobito terminar a sua última etapa (isto significa que tem de completar todos os objectivos educativos da I Secção), irá receber a Anilha de Mérito com o símbolo da Secção (a cabeça de lobo), de forma a ser reconhecida a conclusão do seu percurso educativo na Alcateia. A anilha pode ser usada até ao momento da promessa de explorador.

III. Passagem de Secção Como em qualquer processo de transição, a passagem para a II Secção pode ser assustadora para o lobito, mas não é isso que se quer. O que se pretende é que este momento seja, ao mesmo tempo, suave e desafiante. A adesão informal aos exploradores Para que tudo seja equilibrado, o processo de passagem de secção não se resume a um momento no início do ano escutista, mas prolonga-se, de forma informal, durante o último trimestre do último ano na Alcateia. O objectivo é promover uma aproximação dos lobitos aos exploradores, que funcione como um “quebra-gelo”, ajudando a que os lobitos que vão passar se sintam mais à-vontade e mais seguros. Assim se desvanece o medo do desconhecido e se promove a integração a partir do momento da efectiva passagem e do início da adesão formal à II Secção.

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No seu último trimestre na Alcateia, o lobito continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da I Secção, mas é chamado a familiarizar-se, de forma informal, com a Expedição (conhecer as Patrulhas, os Guias, os Chefes e a Base, ir-se inteirando das dinâmicas da secção, etc.). Para que isto aconteça, pode ser convidado, pelos Guias dos exploradores, a visitar a Base ou a participar em actividades de uma Aventura (jogo, celebração, saída pequena, etc.), por exemplo. A ideia é ir observando, sem participação activa (sem tarefas ou responsabilidades) e de forma informal e sem pressões, como é a vida da Expedição.

A Passagem No início do ano escutista seguinte, o lobito passará definitivamente para a II Secção. Este momento nem sempre é de festa para os lobitos: muitos há que temem deixar a Família Feliz. Neste âmbito, a serenidade e optimismo dos Velhos Lobos é muito importante, assim como a segurança que demonstram. Fundamental é também deixar a porta aberta, ou seja, explicar aos lobitos de que podem sempre vir visitar a Alcateia, para matar saudades, e que todos ficarão felizes se eles vierem ao Covil de vez em quando.

“Bálu interrompeu-os: - Eu ensinei-te a Lei. Compete-me falar – disse – e, embora não possa agora ver os Rochedos à minha frente, vejo longe. Rãzinha, segue a tua própria pista, faz o teu covil com o teu próprio Sangue, a tua Alcateia, a tua Gente. Mas quando houver necessidade de pata, dente, e olho ou de recado levado rapidamente de noite, lembra-te, Senhor da Selva, a Selva está às tuas ordens.” O Segundo Livro da Selva, Correrias da Primavera, pp. 202

Apesar de tudo isto, é possível que algum receio ainda se mantenha. Por essa razão, a cerimónia de passagem é muito importante, na medida em que é um momento que, se mal concretizado, pode marcar negativamente o lobito, prejudicando a sua integração e a sua progressão. Neste sentido, é essencial conceder dignidade e profundidade a este cerimonial, zelando para que marque, de forma positiva, todos os que passam.

No caso dos lobitos, será interessante criar um cerimonial de passagem de secção, onde esteja patente o imaginário da Selva. Por exemplo, na passagem da I para a II, porque não criar um cerimonial que assente na ida de Máugli para a Aldeia dos Homens? Neste processo, o trabalho conjunto das Equipas de Animação intervenientes é fundamental. 272


manualdodirigente O papel das Equipas de Animação A Passagem deve ser marcada por um trabalho de conjunto entre os chefes das duas secções. Assim, deve existir um intercâmbio de ideias em que são explicados alguns pontos essenciais: O Chefe da Expedição deve compreender que é natural que algum lobito sinta necessidade de regressar à Alcateia, sobretudo no início da sua vida da Expedição. Esta necessidade do aspirante não deve ser motivo de troça ou de crítica: todos temos saudades de quem gostamos, permitir a expressão deste sentimento é saudável e positivo e tentar reprimir o aspirante pode levá-lo a rejeitar o novo grupo em que se insere (por não se sentir acolhido nem respeitado).

Ricardo Perna

Quando passa para a II Secção, o lobito vai passar por novo processo de diagnóstico, agora levado a cabo pela Equipa de Animação da Expedição. Este trabalho deve ser precedido por uma conversa entre o Àquêlá e o Chefe da Expedição, no sentido de identificar as áreas em que o noviço tem mais dificuldades e de compreender as particularidades de cada lobito que vai passar. É também este o momento para conversar com mais profundidade sobre aqueles lobitos que não completaram o sistema de progresso e apresentam, por isso, algumas lacunas a nível do seu desenvolvimento.

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manualdodirigente C.6.2. O Sistema de Progresso na Expedição A estrutura do Sistema de Progresso Podemos dividir a passagem do explorador pela 2ª secção em duas grandes fases: a integração (na qual o explorador faz a sua adesão) e a vivência (em que este evolui nas etapas de progresso).

I. Integração

a)Adesão informal aos exploradores Qual o objectivo? O objectivo é promover uma aproximação entre a Expedição e os lobitos que irão passar para os exploradores. Deverá funcionar como “quebra-gelo”, ajudando os lobitos a estar mais à vontade entre aqueles que os irão receber. Permitirá a integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do início do Apelo (adesão formal). Como e quando fazer? A adesão informal iniciar-se-á no último trimestre do último ano de lobito. Neste último trimestre, o lobito continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da Alcateia. Assim, estes momentos deverão ser combinados entre as Equipas de Animação das duas Secções de forma a não perturbar o envolvimento do lobito na sua secção.

Os Guias das Patrulhas deverão convidar os lobitos que irão passar de secção para participarem numa (ou em mais que uma) actividade sua, para conhecerem as Patrulhas, os Guias, a Equipa de Animação, a Base e o tipo de Aventuras que o esperam no ano seguinte. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.

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manualdodirigente b)Diagnóstico inicial Qual o objectivo? Existem diferenças entre todas as crianças na altura em que se juntam à Expedição. A idade, o contexto escolar e familiar, as aptidões e gostos, as dificuldades e medos, o nível de desenvolvimento – todas estas questões fazem de cada criança um elemento diferente de todos os outros. O facto de cada elemento estar, provavelmente, num diferente ponto de partida no que diz respeito a estes e outros factores, exige que a equipa de animação consiga conhecer cada um dos elementos da Expedição, de forma a facilitar a promoção do seu desenvolvimento pessoal harmonioso, ajudando os elementos a atingirem em pleno os objectivos educativos da 2ª secção.

Torna-se portanto imprescindível conhecer a criança que chega à Expedição – a isto chamamos diagnóstico inicial.

Como e quando fazer? Cabe ao Chefe de Expedição, em colaboração com a Equipa de Animação, a partir da chegada de um novo elemento à secção, fazer o diagnóstico inicial.

Há diferentes formas de se chegar às informações relevantes para este processo: · -diálogo formal com os Pais (Por que entrou nos escuteiros? Qual a relação com a escola? Tem algum problema que devamos conhecer? Alguma limitação ou medo? Etc…) · -observação atenta nas primeiras actividades (como se relaciona com os elementos? E c o m a Equipa de Animação? Como reage a regras? Costuma estar atento? Etc…) · -partilha de informações com o Chefe de Alcateia (no caso de ser noviço) · -jogos ou dinâmicas para observar atitudes · -entrevista com o aspirante/noviço (O que gosta de fazer? Gosta da escola? Tem muitos amigos? Gosta da ideia de acampar? Tem actividades extra-curriculares? Etc…) -conversa com o Guia da Patrulha (no caso de ser aspirante com 11 ou 12 anos, para ajudar a definir em que etapa de progresso o elemento se encontra após o Apelo, com base nas actividades e convivência)

Esta abordagem inicial é essencial para a posterior escolha dos trilhos. A escolha deverá ter em conta as necessidades de desenvolvimento do adolescente e deverá incentivar-se a escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente. Ou seja, deve-se motivar para a escolha do que faz o elemento crescer em detrimento do que é facilmente atingível. Claro que a vontade de progredir rapidamente poderá dificultar este trabalho. Mas se ambicionamos o cumprimento de todos os objectivos devemos ajudar o elemento a perceber o que deverá trabalhar em cada momento. Há que procurar o equilíbrio na escolha

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manualdodirigente entre o que é fácil e o que é necessário para cada fase de crescimento e o diagnóstico inicial é importante para se detectarem questões a valorizar. Noviços ou aspirantes com 10 anos O diagnóstico inicial permitirá ao Chefe de Expedição ajudar o elemento numa escolha de trilhos adequada às suas necessidades de crescimento. Os noviços ou aspirantes de 10 anos, terminando a fase de Apelo, começam obrigatoriamente na primeira etapa. Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o aspirante já tenha alcançado algum trilho este será reavaliado mais tarde e o explorador escolhe outros 6 trilhos para a sua 1ª etapa. Aspirantes com 11 ou 12 anos Os dois últimos exemplos de meios de fazer o diagnóstico são de extrema importância quando estamos perante um aspirante com 11 ou 12 anos, pois podem contribuem para a definição da etapa de progresso em que o elemento se encontra após a fase de adesão. Nestes casos, é necessário fazer um reconhecimento do progresso pessoal. Assim, se o elemento tem… Até 1 trilho de cada área de desenvolvimento alcançado – deverá ser colocado na etapa 1 – Aliança Entre 1 e 2 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – estará na etapa 2 - Rumo Entre 2 e 3 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – deverá ser colocado na etapa 3 - Descoberta

Atenção: o aspirante só completa uma etapa se tiver 1 trilho de cada área de desenvolvimento pessoal. Mais uma vez na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o aspirante tenha alcançado mais trilhos que os que permitem fechar uma etapa, estes serão reavaliados mais tarde e o explorador escolhe outros 6 trilhos para a etapa em que se encontra.

Aspirantes com 13 anos No caso de a Expedição receber um aspirante com 13 anos, após o diagnóstico formal surgem 2 hipóteses: Cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e passa a ser aspirante nos pioneiros;

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Não cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e fica como aspirante


manualdodirigente na Expedição, inicia a sua adesão e após a promessa será colocado na etapa de progresso de acordo com os trilhos já alcançados (tal como explicado acima no reconhecimento do progresso pessoal). Se não alcançou todos os trilhos da Expedição, é provável que o aspirante já não tenha tempo para o conseguir antes de passar de secção. Nesse sentido, o Chefe de Expedição deverá informar o Chefe de Comunidade das necessidades de desenvolvimento em áreas específicas. Na nova secção o chefe deverá ter em consideração estas necessidades no percurso individual do jovem. Atenção que os trilhos não alcançados nos exploradores não transitam e acumulam com os trilhos dos pioneiros – apenas são tidas em consideração as necessidades na escolha dos primeiros trilhos na Comunidade. Ou seja, ao passar de secção, o jovem tem perante si apenas os trilhos referentes à 3ª secção. Neste contexto, é sempre necessário reflectir também sobre qual a secção em que o elemento melhor se poderá integra. Se tiver sido trazido por um amigo dos pioneiros, por exemplo, poderá ser aconselhável ficar nos pioneiros e não nos exploradores.

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Esquema 2 RESUMO- SECÇÃO II

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Alguns exemplos de ferramentas de diagnóstico para a atribuição de trilhos: 1­ Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes de cada sessão – Pode também ser usada como diagnóstico. Ver Anexo 3 Este tipo de documento poderá ser preenchido (na totalidade ou parcialmente) pelo próprio com os pais, catequista, guia…. Poderá inclusive valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e atitudes que exemplifiquem. 2­ A entrevista do elemento com o Chefe de Expedição é um momento de reflexão, conhecimento e crescimento muito importante, aumentando essa importância à medida que aumenta a idade do explorador. Para o dirigente é uma oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele explorador. Para a criança é uma experiência única de se conhecer melhor e ver reconhecido o seu valor. É uma oportunidade para validar trilhos, mas também para definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas de os implementar. 3­ E, claro, o Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendizagem activa, constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer.

c)Apelo (Adesão formal aos exploradores)

No caso dos exploradores, os noviços e aspirantes recebem uma insígnia de adesão no seu início que será a insígnia do “Apelo”.

Na vida há algo que nos chama a deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos. Este é o apelo à força da vida, à solidariedade, à vontade, à educação e à entreajuda. Um apelo que vem de cima, que vem do alto…

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manualdodirigente Qual o objectivo? Durante este período pretende-se que o elemento (noviço ou aspirante) tome consciência do funcionamento da unidade, das actividades típicas, mística, simbologia e do que se espera de um explorador. É com base nessa tomada de consciência individual que se pretende que o noviço/aspirante tome, por si, a decisão de aderir ou não à Expedição. Como e quando fazer? Pretende-se que o explorador participe no quotidiano da secção, integrando uma Patrulha. Deverá viver pelo menos uma Aventura de forma a conviver de perto com a aplicação do método a uma actividade típica da secção.

O explorador tem no seu Caderno de Descobertas uma série de questões que o podem orientar nesta fase. Quando e como surgiu o Escutismo e o CNE? Como se organiza o CNE? Quem foi Baden-Powell? Quem foi o São Nuno de Santa Maria? Conheces a Lei, os Princípios e a Oração do Escuta? Como se organizam os Exploradores/Moços? Quais são os Cargos existentes nas Patrulhas/ Tripulações dos Exploradores/Moços? Qual o Imaginário e Mística dos Exploradores/Moços? Conheces o Patrono dos Exploradores/Moços (São Tiago)? e o da tua Expedição/Flotilha? Já sabes trabalhar e viver em Patrulha/Tripulação? Já conheces as áreas e os Trilhos que terás de escolher ? Já participaste numa Aventura/Expedição?

No caso dos aspirantes, a adesão inclui ainda, no campo do conhecer, a organização do agrupamento e o domínio prático de técnica escutista. Deve-se tentar encontrar um equilíbrio entre o que é aprendido pela investigação pessoal motivada pela curiosidade própria de um explorador que quer aderir à Expedição e a aprendizagem feita nas actividades. A Equipa de Animação poderá, por exemplo, abordar alguns destes temas em jogos que prepare. Como já referido, nesta fase o noviço/aspirante deverá ter contacto com as áreas de desenvolvimento e trilhos que terá que escolher. Nos exploradores, os trilhos educativos estão recodificados de forma a serem mais facilmente compreendidos, como se segue:

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manualdodirigente ADP Físico

Afectivo

Caracter

Espiritual Intelectual Social

ÁREA PRINCIPAL

OUTRAS ÁREAS

Desempenho

Gosto de desenvolver as minhas capacidades

Bem-estar físico

Vivo de forma saudável

Auto-conhecimento

Conheço-me e aceito as mudanças que ocorrem em mim

Relacionamento e sensibilidade

Relaciono-me com os outros respeitando as diferenças

Equilíbrio emocional

Sei gerir as minhas emoções

Auto-estima

Conheço-me e quero ser melhor

Autonomia

Faço escolhas para abrir caminhos

Responsabilidade

Assumo as minhas escolhas

Coerência

Vivo de acordo com as minhas ideias

Descoberta

Procuro conhecer a Igreja de Cristo

Aprofundamento

Vivo a Fé Cristã

Serviço

Trabalho para a paz na Boa Acção

Procura do conhecimento

Procuro saber sempre mais

Resolução de problemas

Procuro soluções quando identifico problemas

Criatividade e Expressão

Sou criativo quando apresento aquilo que penso e imagino

Exercer activamente cidadania

Gosto de ser bom cidadão

Solidariedade e tolerância

Sou tolerante e solidário

Interacção e cooperação

Sei viver em grupo

Pretende-se ainda que nesta fase de adesão, o noviço/aspirante contacte e reflicta sobre o compromisso que deverá assumir formalmente na sua Promessa. Com base em dinâmicas propostas, deverá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir ou não à Expedição.

A duração da adesão deverá ser adaptada ao noviço/aspirante. Cada elemento levará o tempo necessário para tomar a sua decisão de aderir ou não. A adaptação a novas pessoas e a novas regras podem por isso resultar em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados. Sugere-se, no entanto, que não ultrapasse os 5 meses

Após decidir que quer aderir à Expedição, o elemento terá que o comunicar. A decisão deverá ser validada por: 1. Conselho de Guias (no qual estará presente a Equipa de Animação) 2. Conselho de Expedição Nestes momentos, deverá haver uma validação da reunião das condições particulares de adesão, nomeadamente no que toca à vivência na Patrulha, na Expedição e na actividade típica. Aconselha-se que o Conselho de Guias vá acompanhando a evolução dos noviços/aspirantes de forma a poder decidir conscientemente.

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manualdodirigente d)Compromisso Estando a criança no centro da acção pedagógica, deverá ser a criança a reconhecer que gosta de estar na Expedição e que quer fazer a sua Promessa.

A Promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser individualizada o que não quer dizer que seja feita individualmente. Pretende-se que o elemento não fique mais de 2 meses à espera desde o momento em que se propõe a fazer a Promessa. Assim, os noviços/ aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação da Expedição.

II. Vivência a)Etapas de progresso No caso dos exploradores, os nomes das etapas de progresso são:

Iª Etapa – Aliança O nó de escota representa muito mais que um simples nó. Representa um nó entre duas partes, distintas na sua essência mas que procuram firmeza na união.

2ª Etapa – Rumo O rumo de um escuteiro é o caminho do bem. Tem uma direcção e, mais que isso, um sentido. Tem rumo, rumo que permite avançar sem medo mas com cautela e olhar de frente o horizonte.

3ª Etapa - Descoberta. Descobrir o caminho a seguir nem sempre é fácil. Requer maturidade, empenho, persistência. Passa também por uma reflexão interior de como Ele está sempre presente na nossa vida, pois essa é sem dúvida a nossa maior descoberta.

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Também em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa. Corresponde ao compromisso assumido pelo explorador em procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a atingir os objectivos educativos da secção.

No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objectivos definidos para os trilhos e estes para as áreas de desenvolvimento. Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar a especialização em conhecimentos, competências e atitudes que o jovem já dominava. Por exemplo, nesta proposta, pretende-se que o jovem seja capaz de jogar um jogo em equipa. Se ele já pratica regularmente um desporto de equipa, o objectivo está cumprido. O progresso será então tentar desenvolver outras atitudes que levem a atingir outros objectivos. Os objectivos estão organizados do seguinte modo: Existem 6 áreas de desenvolvimento: FACEIS (Físico, Afectivo, Carácter, Espiritual, Intelectual, Social) Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos. Cada trilho educativo contém 1 ou mais objectivos educativos.

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manualdodirigente b)A escolha / negociação Cada uma das 3 etapas será variável em termos de composição. Quer isto dizer que cada explorador constrói a sua etapa de progresso, seleccionando 1 trilho de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento. Isto implica que não há etapas definidas. Que sabermos que um explorador está na etapa Rumo não nos dá informação sobre os objectivos que já tem atingidos. Sabemos que já cumpriu um trilho de cada área e que está na segunda etapa. Mas um outro elemento que esteja na etapa Rumo pode-se ter proposto a fazer trilhos completamente diferentes. O explorador tem liberdade de escolha. No entanto, o Chefe de Expedição e o Guia desempenham aqui um papel importante, a 2 níveis: No apoio do diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o explorador já detém e que o ajudam a seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas etapas; Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

Como já foi referido na parte do diagnóstico inicial, a escolha de trilhos deverá ter em conta as necessidades de desenvolvimento da criança e deverá ser incentivada a escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente. Daí falar-se também em Negociação. Ou seja, a Equipa de Animação deve motivar para a escolha do que faz o elemento crescer (em termos de conhecimento, competência e atitudes) em detrimento do que é facilmente atingível.

Como boa prática, sugere-se que, após a escolha dos trilhos, o explorador seja incentivado a definir acções concretas que o ajudem a atingir os objectivos que compõem esse trilho. Não se trata de algo imediato: cumprir a acção/ atingir o objectivo. No entanto, facilita a compreensão do objectivo e do que se pretende por parte do explorador. Deste modo poderá no seu dia-a-dia e na vivência das aventuras trabalhar activamente para atingir os objectivos. Estas acções concretas serão parte das do que chamamos de Oportunidades Educativas.

c)Oportunidades Educativas

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O explorador progride através de oportunidades educativas que o nosso método, com as suas 7 maravilhas, oferece. Abandona-se assim o conceito de prova, obrigatória, facultativa, opcional ou de qualquer outra ordem. Assim, em vez de se dizer que “o explorador prestou provas“ porque realizou determinada acção, faz sentido dizer-se que “o explorador deu provas de” (porque isso foi observado em conhecimentos, competências e atitudes).


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As oportunidades educativas contribuem para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Ou seja, não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade e o alcançar de um objectivo educativo. Daí se referir que a listagem de acções do ponto anterior é parte do que terão que fazer… Mediante a avaliação do desenvolvimento da criança – e não da realização ou não da oportunidade educativa – poderá ser necessário escolher novas oportunidades educativas e insistir na aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes.

Validação de objectivos fora do ambiente escutista Tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros ajuda-os a alcançar os objectivos educativos da secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento pessoal. Assim, os objectivos devem ser apresentados como propostas ou desafios que podem ser alcançados de forma atractiva e divertida através de experiências enriquecedoras que levam ao desenvolvimento pessoal. É possível cumprir objectivos pelos conhecimentos, competências e atitudes adquiridos na vivência escolar e catequética, nos clubes e outras actividades que o explorador tenha. O Chefe de Expedição deverá verificar esses conhecimentos, competências e atitudes não havendo necessidade de o explorador as repetir. Como exemplo, poderemos ter um explorador, nadador de competição, que nada facilmente 100 metros sem necessitar de se desenvolver ou esforçar para isso. No entanto, para outro explorador, apenas o aprender a nadar, o esforço e o ultrapassar de receios pode permitir caminhar na validação de trilhos. Assim, não são as acções mas sim o que elas significam para cada elemento em termos de crescimento que devem ser valorizadas. É importante colocar ao explorador o desafio de aplicar as suas capacidades na sua vida em Patrulha e na Expedição. Só assim o seu desenvolvimento pessoal será partilhado com os outros, permitindo uma aprendizagem de todos. Cargos e Funções Assumir e desempenhar correctamente um cargo no seio da Patrulha ou ter determinada função na Aventura constitui uma oportunidade educativa para progredir. Isto porque o seu exercício privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento.

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manualdodirigente QUADRO ILUSTRATIVO DE CARGOS E DE FUNÇÕES CARGO

ÁREA PRINCIPAL

OUTRAS ÁREAS

Guia

Carácter

Afectivo / Social

Subguia

Carácter

Afectivo / Social

Secretário/cronista

Intelectual

Carácter / Social

Financeiro

Intelectual

Carácter / Social

Guarda do material

Intelectual

Carácter / Físico

Animador

Espiritual

Carácter / Social / Afectivo

Socorrista/botica

Físico

Carácter / Social / Intelectual

Intendente

Intelectual

Carácter / Físico

Informático

Intelectual

Carácter

Especialidades O desenvolvimento de aptidões em determinadas áreas e a sua aplicação na vida da Patrulha privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Assim, as especialidades constituem também uma oportunidade educativa para progredir. O trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se logo após a Promessa de explorador e escolha dos seis trilhos, ou seja, logo que se inicia a fase de vivência – Etapa da Aliança.

d)Avaliação Como fazer? A avaliação dos objectivos educativos implica a observação contínua do progresso do explorador durante um período prolongado de tempo. Isto porque, como já foi referido, não se pode controlar o progresso com um exame ou prova. Assim, foram identificados em documento específico os conhecimentos, competências e atitudes que devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos exploradores. Quando estes forem observados no adolescente e avaliados pelo próprio, pelos “pares” e pela equipa de animação, o Conselho de Guias poderá reconhecer que o explorador alcançou aquele objectivo educativo. É importante que se mantenha o registo de observação dos conhecimentos, competências e atitudes de cada um dos exploradores. Quem participa? É na vida da Patrulha que se vão debatendo os conhecimentos, comportamentos e atitudes que cada explorador vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determinado trilho poderá estar concluído. O explorador – deverá despoletar, junto da Patrulha, o processo de reconhecimento dos trilhos como finalizados.

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manualdodirigente A Patrulha – acordo/desacordo em relação ao reconhecimento do trilho. O Guia – caso a Patrulha esteja de acordo, apresenta a proposta de validação do trilho no Conselho de Guias. O Conselho de Guias - acordo/desacordo em relação ao reconhecimento do trilho. Se estiver de acordo, pede ao Chefe de Expedição para obter a sua validação que, em caso afirmativo, significa que ao explorador lhe foi atribuído o trilho como concluído. Caso os Guias não concordem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o chefe de Unidade dá parecer desfavorável fundamentado, o Guia da Patrulha do explorador em causa explica, na Patrulha, as razões para a não-aceitação da sua proposta, explicando ao explorador o que ele deverá ainda adquirir, em termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir o trilho. Partindo da ideia de que tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros pode constituir uma oportunidade educativa, contribuindo para o seu desenvolvimento, temos que passar a considerar outros “agentes” na avaliação: pais, professores, etc… No entanto, mesmo esta avaliação terá que ser validada pelo processo descrito. Quando fazer? A avaliação dos objectivos deverá basear-se na observação contínua do progresso do explorador. A reconhecimento da finalização dos trilhos deverá ser feita no Conselho de Guias. O reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou de etapas de progresso concluídas deve ser feito na fase da celebração das actividades típicas.

e)Relação Educativa O dirigente e o Conselho de Guias O papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos guias e do Conselho de Guias no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos foi valorizado. As tomadas de decisão relativamente ao progresso dos elementos serão feitas privilegiadamente no Conselho de Guias. Isto implicará que a Equipa de Animação dê suporte e tente orientar os Guias, não os substituindo nas tomadas de decisão mas ajudando a formular opiniões e tomar decisões em conjunto. O dirigente e o explorador O novo sistema de progresso, baseando-se numa escolha individualizada de trilhos irá implicar uma relação mais personalizada com cada um dos elementos. Desde o diagnóstico inicial à observação de conhecimentos, competências e atitudes e à sua avaliação, são muitos os momentos que permitem um conhecimento mais profundo dos elementos. Este acompanhamento (com excepção do diagnóstico inicial que deverá ter a participação do Chefe de Expedição) deverá ser feito por cada um dos elementos da Equipa de Animação em relação a um determinado número de exploradores – preferencialmente 1 por Patrulha.

287


manualdodirigente f)Reconhecimento Caderno de Descobertas O Caderno de Descobertas será utilizado na função de registo do progresso individual. Para além disso, servirá também como diário de vivências pessoais na Expedição e compêndio de informações relevantes para o explorador. Base – painel de progresso Recomenda-se que a Base seja também local para afixar um painel onde esteja explicada a sequência do progresso e em que cada um dos exploradores tenho uma marca feita por ele, que o situe. Poderá ser feito por Expedição, distinguindo as Patrulhas por cores, por exemplo. Cada Patrulha poderá também manter esse registo. Vara Recomenda-se também que cada explorador seja incentivado a ter uma vara (valorizando--se a simbologia) que será trabalhada por ele com elementos decorativos feitos por ele e que marcam o culminar de cada trilho educativo. Anilha Quando o explorador terminar a sua última etapa, ou seja, completar todos os objectivos educativos definidos para a II Secção, irá receber a Anilha de Mérito com o símbolo da Secção, de forma a ser reconhecido que completou a totalidade do percurso educativo proposto aos exploradores. A anilha pode ser usada até ao momento da promessa de pioneiro.

III. Passagem de Secção Adesão informal aos pioneiros Para os exploradores mais velhos o último trimestre do seu último ano na Expedição será já um período de adesão informal aos pioneiros. Como em qualquer processo de transição pretende-se que este seja ao mesmo tempo suave mas também desafiante. Os objectivos desta fase são os mesmos que os descritos na fase da adesão informal aos exploradores, adequando-se à secção. A decisão sobre a passagem de secção O Regulamento Geral do CNE, no n.º1 do art. 23º, fixa as idades dos escuteiros em cada uma das secções. Refere ainda que “A passagem de Secção deve ocorrer no final ou no início do ano escutista em que o Escuteiro tem a idade de sobreposição prevista no número anterior.”

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Todavia, no seu crescimento a criança/jovem atinge sucessivamente períodos de maturidade diferentes, passando por isso por algumas rupturas a diversos níveis: dos centros de interesse, da imaginação, das formas de pensar e de agir. Todas estas situações são importantes e convém ter presente que nem sempre a idade física corresponde à idade


manualdodirigente psicológica e que os desajustamentos que daí advêm podem justificar uma deficiente integração. O Chefe de Expedição terá que estar atento a estas questões para não correr o risco de falhar a Proposta Educativa do Escutismo. Um explorador não deverá passar para os pioneiros apenas porque atingiu a idade de passar: será necessário que estejam reunidas as condições para que essa passagem corresponda de facto às exigências de período de maturidade diferente. Deverá por isso haver bom senso e alguma flexibilidade na idade de passagem sob pena de se perderem escuteiros.

Cerimonial de passagem A expectativa no momento das passagens e o receio que muitos dos jovens sentem nesta altura perante a mudança, poderá causar um friozinho na barriga aos intervenientes. Esta cerimónia é, também por isto, muito importante e a forma como o elemento se despede da antiga secção e é recebido na nova por marcar desde logo positiva ou negativamente a mudança que se está a dar na sua vida enquanto escuteiro. É então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando um momento marcante e ansiado por todos. As ideias poderão passar por conjugar a mística das diferentes secções, por exemplo. O trabalho conjunto das Equipas de Animação de todas as secções intervenientes para dar consistência à cerimónia.

Arquivo CNE

Informação ao Chefe de Comunidade Do mesmo modo que é aconselhável uma conversa entre o Chefe da Alcateia e o Chefe de Expedição aquando da passagem dos lobitos, poderá ser necessária uma conversa entre o Chefe de Expedição e o Chefe de Comunidade aquando do diagnóstico inicial, no sentido de identificar algumas áreas em que o noviço tenha mais dificuldades.

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manualdodirigente C.6.3. O Sistema de Progresso na Comunidade A estrutura do Sistema de Progresso A passagem do adolescente pela secção é feita em duas grandes fases: a integração e a vivência. Durante a integração, o pioneiro faz a sua adesão à Comunidade. Na vivência dá-se a evolução propriamente dita, é feita o crescimento do adolescente, ao longo das diferentes etapas de progresso. I. Integração

a)Adesão informal aos pioneiros Qual o objectivo? A Adesão Informal é, acima de tudo, uma boa prática, cujo propósito é fomentar a aproximação entre a Comunidade e os exploradores que irão passar de secção, para os pioneiros. A Adesão Informal tem o objectivo de funcionar como uma espécie de “quebra-gelo”, no sentido de auxiliar os exploradores a integrarem-se num novo grupo e se aproximarem dos que os irão receber. Esta prática permitirá uma integração mais facilitada, a partir do momento da efectiva passagem para a Comunidade e do início do Desprendimento (adesão formal). Importa não perder de vista que o objectivo da Adesão Informal é motivar o explorador para a vida na Comunidade e evitar que um ambiente novo e, aparente e eventualmente, hostil o possa afastar.

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Quando e como fazer? Interessará que a Adesão Informal se faça no último trimestre do ano escutista. Os Guias das Equipas convidam os exploradores que vão passar de secção a participarem numa (ou em mais que uma) actividade da Comunidade. Actividade que procurará ser exemplo do “que se faz nos pioneiros”, mas sem perderem de vista os objectivos de encontro e de aproximação aos futuros pioneiros. Este encontro deverá servir para os exploradores conhecerem as Equipas, os seus Guias, a Equipa de Animação, o Abrigo e, de certa maneira, o tipo de actividades e Empreendimentos os esperam no ano seguinte.


manualdodirigente Estes encontros/actividades devem ser vividos de modo informal, sem pressões. A ideia é permitir que os exploradores possam observar, sem uma participação activa, com tarefas ou responsabilidades. Nesta fase final do ano escutista, na recta final da actividade nos exploradores, o jovem continua a pertencer à Expedição de modo pleno e sem reservas a viver todas e completamente as dinâmicas da sua secção.

Boas práticas: - Preparar a Adesão Informal de modo concertado O convite formal para o explorador participar na actividade/encontro com a Comunidade é feito pelos Guias das Equipas. No entanto, interessa não esquecer que tudo deve ser combinado entre as Equipas de Animação – eventualmente, até, em sede de Direcção de Agrupamento – de forma a não perturbar o trabalho em cada uma das secções do Agrupamento e o envolvimento dos escuteiros na secção que continua a ser a sua até à Adesão Formal. O Chefe da Comunidade tem de se preocupar com a Adesão Informal dos exploradores que vai receber, mas, também com a Adesão Informal dos seus pioneiros ao Clã, sendo certo que, alguns destes poderão mesmo ser Guias das Equipas da Comunidade. O envolvimento do explorador na sua Expedição e do pioneiro na Comunidade não podem ser prejudicados nem minimizados ou relativizados de forma alguma na adesão informal à Comunidade e ao Clã, respectivamente.

b)Diagnóstico inicial Qual o objectivo? As pessoas – crianças, adolescentes ou jovens –, mesmo que com a mesma idade, são todas diferentes. Factores como o nível de maturidade, o contexto escolar e familiar, as aptidões e gostos, as dificuldades e medos, o desenvolvimento físico e anatómico, condicionam, de sobremaneira, cada indivíduo nas suas características. Com um sistema de progressão pessoal na associação que se centra na individualidade e nas características de cada criança, adolescente ou jovem, não podemos minimizar o facto de, antes de darmos inicio a um trabalho de crescimento através do escutismo, termos de avaliar e determinar o ponto de partida de cada adolescente quando entra na Comunidade – tenha a idade que tiver. Esta necessidade vai exigir que a Equipa de Animação procure conhecer cada um dos elementos da Comunidade – e aqui falamos de todos, mesmo – de forma a facilitar a adequação de actividades, experiências, conhecimentos e atitudes a um desenvolvimento pessoal harmonioso, ajudando os pioneiros a atingirem em pleno os objectivos educativos que a associação estabelece para a III secção.

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Esta avaliação prévia do adolescente que chega à Comunidade, imprescindível para o conhecer, toma o nome de Diagnóstico Inicial.

Como e quando fazer? A tarefa cabe, em primeiro lugar, ao Chefe de Comunidade que a vai desenvolver em conjunto com a sua Equipa de Animação, num esforço de avaliação e observação colectiva. O Diagnóstico inicial deve ser feito a partir da chegada de um novo elemento à secção. As formas de conseguir coligir as informações relevantes e determinar o estado de desenvolvimento de cada adolescente são diversas. A observação em jogo, na Equipa e nas actividades escutistas, a conversa com o adolescente poderão ser das mais eficazes. A partilha de informações com os principais agentes na educação do jovem – família, professores, treinadores, catequistas e, naturalmente o Chefe da Expedição – serão determinantes.

Boas práticas: Acções que podem ajudar no Diagnóstico inicial - Diálogo formal com os Encarregados de Educação – por que entrou nos escuteiros? Qual a relação com a escola? Tem algum problema que devamos conhecer? Alguma limitação ou medo? Etc.. - Conversa, mesmo que informal, com outros agentes de Educação do adolescente com quem o Chefe de Comunidade possa ter proximidade (especialmente nas comunidades locais pequenas e médias), como professores, treinadores de alguma actividade desportiva, catequistas, etc.. - Partilha de informações com o Chefe de Expedição (no caso de ser noviço). - Observação atenta nas primeiras actividades (como se relaciona com os elementos? E com a Equipa de Animação? Como reage a regras? Costuma estar atento? Etc..) - Promoção e realização de jogos ou dinâmicas especificas para observar comportamentos, conhecimentos e atitudes. - Conversa com o próprio jovem sobre os seus interesses (curriculares, extra-curriculares, vocacionais, de diversão e lazer), preferências (na escola, na internet, na sociedade), gostos de naturezas diversas (musicais, cinematográficos, desportivos etc), relação com autoridade (pais, professores, familiares mais velhos), relação com os outros (amizades, grupos informais), experiência escutista – quando existe – (percurso, actividades marcantes, pessoas que marcaram), etc.. - Conversa com outros elementos da Comunidade – Guias, pioneiros mais velhos, eventuais colegas (no caso de ser aspirante com mais idade, com 16 ou 17 anos).

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O resultado prático do Diagnóstico Inicial Toda esta abordagem inicial, todos os contactos e acções, ajudarão a conhecer o adolescente e serão determinantes em toda a relação educativa que se estabelecerá entre os dirigentes e o escuteiro. E, bem assim, no acompanhamento de todo o sistema de progresso e validação do crescimento do jovem ao longo do tempo em que estará na comunidade. Noviços ou aspirantes com 14 anos O diagnóstico inicial vai possibilitar ao Chefe de Comunidade que a ajuda que vai prestar ao adolescente na escolha de trilhos ainda na fase de adesão (Desprendimento), ainda antes de fazer o compromisso, seja adequada às suas necessidades de crescimento mais prementes, às áreas prioritárias para um desenvolvimento harmonioso e equilibrado. Os noviços ou aspirantes de 14 anos, na fase preparatória para “fazer promessa”, terminando a fase de Desprendimento, começam, obrigatoriamente, a preparar a primeira etapa do seu sistema de progresso, escolhendo trilhos e antevendo acções concretas que permitam validar os objectivos educativos. Na óptica de identificar melhor as necessidades, em vez de, pura e simplesmente, validar competências, o diagnóstico inicial é fundamental. Aspirantes com 15, 16 ou 17 anos O diagnóstico inicial auxiliará, no caso dos aspirantes mais velhos, a definir em que etapa de progresso o elemento se encontra após o Desprendimento, depois de fazer a sua promessa, com base nas suas competências, conhecimentos e atitudes.

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manualdodirigente O posicionamento do jovem no sistema de progresso, depois do Diagnóstico Inicial. Como se viu, o diagnóstico inicial vai permitir o posicionamento do adolescente no sistema de progresso – seja na escolha de trilhos para os de 14 anos, seja na definição da etapa de progresso em que se encontram os mais velhos – após a promessa. Noviços ou aspirantes com 14 anos Feito o diagnóstico inicial de um adolescente de 14 anos – a entrar num percurso completo de três anos na comunidade – vai apurar-se que objectivos educativos estarão já validados com base nas suas competências, conhecimentos e atitudes. Entende-se, no caso dos aspirantes, especificamente, que, uma vez que o adolescente tem um percurso completo à sua frente, no caso de ter alcançado o que seria equivalente a um trilho completo, este deverá ser reavaliado mais tarde, nessa altura eventualmente validado, e o adolescente deve escolher outros 6 trilhos para a sua primeira etapa do sistema de progresso. Aspirantes com 15 ou 16 anos Quando o adolescente, pela sua idade, e tem, naturalmente, um estado de desenvolvimento mais avançado do que é expectável num pioneiro de primeiro ano é possível que, depois da sua promessa, tenha reconhecidos pelo diagnóstico inicial trilhos completos e seja “colocado” numa outra etapa de progresso que não a primeira. Nestes casos, é o próprio diagnóstico inicial que faz o necessário reconhecimento do progresso pessoal. Assim, se o elemento tem: Trilhos validados em diferentes áreas de desenvolvimento, mas ainda não tem seis trilhos diferentes das seis áreas de desenvolvimento – deverá ser colocado na 1.ª etapa – Conhecimento; Pelo menos um trilho de cada área de desenvolvimento e, nalgumas áreas, até dois trilhos validados – estará na 2.ª etapa – Vontade; Pelo menos dois trilhos de cada área de desenvolvimento e, nalgumas áreas, até três trilhos validados – será colocado na 3.ª etapa – Construção;

Não esquecer que o aspirante só completa uma etapa se tiver validados um trilho de cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal. Mais uma vez na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o aspirante tenha alcançado mais trilhos do que os que permitem fechar uma etapa, estes trilhos excedentes deverão ser reavaliados mais tarde e o pioneiro escolhe outros 6 trilhos para a etapa em que se encontra.

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manualdodirigente Aspirantes com 17 anos Num sistema de progresso que centrou toda a atenção num individuo, no escuteiro, nas suas características e individualidade, não poderia deixar de ser dada uma atenção especial ao jovem que, aos 17 anos – ou próximo disso, quando aos 18 será natural que passe para o Clã – ingresse no movimento e, do ponto de vista formal será colocado na Comunidade. A situação, sendo especial, não pode deixar de exigir medidas particulares. Assim, no caso de no Agrupamento ingressar um jovem com 17 anos, deve o diagnóstico inicial ser feito pela Equipa de Animação da Comunidade, com o apoio da Chefia do Clã. E feito o referido diagnóstico pode surgir uma de duas hipóteses: O jovem tem competências, conhecimentos e atitudes que permitem validar todos os objectivos educativos, dos 18 trilhos educativos, que a associação estabelece para a III secção. Neste caso o jovem deve ser colocado no Clã, passando a aspirante a caminheiro; O jovem não tem todos objectivos dos trilhos educativos dos pioneiros validados. Neste caso concreto, ingressa na Comunidade, como aspirante a pioneiro, iniciando a sua adesão, fazendo a sua promessa e sendo colocado na etapa de progresso de acordo com os trilhos já alcançados (tal como explicado acima noreconhecimento do progresso pessoal). Neste segundo caso, importa ter atenção o facto de, dada a sua idade, o jovem já não ter, na Comunidade, tempo suficiente para conseguir validar todos os objectivos educativos da secção. Acontecendo, deve o Chefe da Comunidade informar o Chefe de Clã da situação e das necessidades “prementes” de desenvolvimento em áreas específicas. Na nova secção o chefe deve procurar ter essa informação, e essas necessidades, em conta no apoio e auxilio ao definir do percurso individual do jovem. Lembre-se, no entanto, que com isto não se está a dizer que, no Clã, deve este escuteiro procurar validar objectivos educativos da III Secção. Os trilhos não alcançados nos pioneiros não transitam nem os seus objectivos devem ser acumulados aos trilhos dos caminheiros. O que se pretende é que as necessidades prementes do jovem sejam tidas em consideração quando este escolhe os primeiros objectivos do seu progresso no Clã. Dito de outra forma, no Clã ao jovem são apresentados os objectivos educativos finais da associação, e apenas esses. Sublinha-se a necessidade de a avaliação neste caso concreto ser feita, de modo concertado, com as chefias da Comunidade e do Clã. A decisão sobre em que secção deve ser ingressar um jovem de 17 anos deve, ainda, ter em conta outros pressupostos, para além do diagnóstico inicial quanto a conhecimentos, competências e atitudes coincidentes com objectivos educativos. Se o jovem que ingressa tiver “sido trazido” por um amigo pioneiro, por exemplo, poderá ser aconselhável fique nos pioneiros e não nos caminheiros. Ou se tiver vindo com um caminheiro, será conveniente que ingresse no Clã e não na Comunidade.

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Esquema 3 RESUMO- SECÇÃO III

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Boas práticas: - Ferramentas de apoio ao diagnóstico inicial 1­ Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes. Ver Anexo 4 Um registo clássico e simples que é facilmente preenchido. Em vez de o registo ser feito na dicotomia sim/não, poderá ter uma avaliação quantitativa, numérica, por exemplo de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido), acompanhada do registo de acontecimentos e atitudes que exemplifiquem. 2­A entrevista/conversa do elemento com o Chefe de Comunidade é uma boa oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele escuteiro. Para o adolescente será um momento memorável, sem, no entanto, dever ser encarado como uma prova oral. Faz sentido que pese embora dever ser profícuo seja, de algum modo, informal. É uma oportunidade para validar trilhos, mas também para definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas de os implementar. 3­O Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendizagem activa, constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer. Ver recursos: www.cne-escutismo.pt

c)Adesão formal aos pioneiros: Desprendimento A existência da boa prática Adesão Informal não exclui, nem tão pouco esvazia, o valor pedagógico e a importância para os escuteiros, para a secção e para o agrupamento, da Adesão Formal, do ritual – cheio de sentido comunitário e de tradição escutista – das 'Passagens'.

Boas práticas: - A importância do ritual da ‘Passagem’ Os rituais e os momentos de vida comunitária da secção e do agrupamento com aspectos de cerimónia e, de algum modo, ritualizados, são muito importantes e uma grande oportunidade pedagógica. Para além do aspecto identitário e de fomento do espírito de corpo, estes cerimoniais permitem aos escuteiros a tomada de consciência do agrupamento e do futuro. Não é de somenos importância um explorador tomar consciência do progresso e do processo de crescimento que vai ter de fazer até passar para os caminheiros. É uma grande oportunidade pedagógica, um importante factor de motivação, o acolhimento feito pelos pioneiros mais velhos ao noviço acabado de entrar na Comunidade que, por sua vez, dentro de momentos passam para o Clã. 297


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A cerimónia de passagem assume assim grande relevância e a forma como o elemento vai ser recebido na secção seguinte pode marcar positiva ou negativamente a sua integração e consequentemente a sua progressão. Será então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando esta data um momento marcante na vida de um escuteiro. E porque não criar cerimoniais de passagem de secção, onde esteja patente a mística de ambas as secções? O trabalho conjunto das diversas Equipas de Animação intervenientes é fundamental!

A Adesão do adolescente à Comunidade – seja ele noviço ou aspirante, tenha que idade tiver – é um processo muito importante, e essencial para uma vivência plena do método escutista e do seu crescimento individual no movimento e, especificamente, na secção. Na III secção, esta fase, entre o Ritual da Passagem e a Cerimónia de Compromisso (Promessa para os noviços e Investidura para os aspirantes), tem o nome de Desprendimento.

- Desprendimento No dicionário: Substantivo masculino – 1. Acto de desprender-se (1. Soltar-se, desligar-se, desatar-se, separar-se, libertar-se, 2. Renunciar); 2. Desapego, generosidade; 3. Independência. Na mística da secção: A Igreja em construção de Cristo começa com a Adesão dos primeiros apóstolos, os pescadores do Lago Genesaré, que depois “de se fazerem ao largo”, e de comprovarem o poder do Salvador, “deixam tudo e seguem-no” (Lucas 5, 1 – 11). Neste grupo está o pescador Simão Pedro, que passa, a partir deste momento em que adere ao projecto de Cristo (o ICTHUS), a ser “pescador de homens”. No imaginário do pioneiro: O noviço e o aspirante, como os primeiros apóstolos, “deixam tudo”, soltam-se do que é acessório, “de tudo o que os impede de ver o mundo”, libertam-se de preconceitos e impossibilidades, para aderirem ao caminho do Saber, Querer e Agir, que os levará à Construção de algo novo e inovador. 298


manualdodirigente Depois do ritual da passagem dos aspirantes e da entrada dos noviços cada adolescente recebe a primeira de quatro partes da sua insígnia de progresso. Numa demonstração clara ao jovem e à Comunidade de que o progresso daquele começou imediatamente após a sua entrada na secção e de que o “Desprendimento” é (em sentido objectivo e metafórico) parte integrante desse progresso. Qual o objectivo do “Desprendimento”? Durante o período da fase de Adesão, ou do Desprendimento – que vai desde a passagem ou entrada na secção até ao compromisso – procura-se que o adolescente (noviço ou aspirante) tome consciência de elementos fundamentais como o funcionamento do agrupamento e da unidade, das actividades típicas, da mística e da simbologia da secção, de alguma técnica escutista, bem como do que se espera de um pioneiro. Por outro lado, pretende-se que esta tomada de consciência individual se estenda, por si, à decisão de aderir ou não à Comunidade e, em caso positivo, de promover o seu próprio crescimento individual, o seu progresso pessoal, através de acções concretas que levem à validação de objectivos educativos concretos. Como fazer? Durante o Desprendimento pretende-se que o noviço/aspirante tenha contacto e se integre no quotidiano da secção, fazendo parte de uma Equipa.

A diferença entre Aspirante e Noviço Noviço é nome dado ao adolescente que já fez a promessa de escuteiro nos exploradores e que, chegado aos 14 anos, passa para a Comunidade dos pioneiros; Aspirante é o nome dado ao adolescente que nunca fez a promessa de escuteiro (pode ter sido investido lobito, sem, no entanto, ter feito promessa de escuteiro) e que entra, directamente, para a Comunidade dos pioneiros.

Durante o tempo da Adesão, no contacto com os seus pares, com o método e com o universo escutista, o adolescente deverá adquirir um conjunto de competências, conhecimentos e atitudes que, uma vez verificados, lhe permitirão aderir, através do compromisso, ao movimento (no caso dos aspirantes) ou, apenas, à Comunidade (no caso dos noviços). A fase de Adesão, o Desprendimento, é uma fase de vivência – e não, tão só, de formação ou observação – pelo que o adolescente, não podendo viver um Empreendimento completo (no caso de este ser anual, por exemplo), deve envolver-se, ou ter participado, nalgumas fases do projecto. Do mesmo modo, o adolescente deve ter participado várias actividades – acampamentos, raids, bivaques – de forma a conviver de perto com a aplicação do método a uma actividade típica da secção.

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manualdodirigente O espaço da Equipa é um “território” de oportunidades para essa interacção e integração do adolescente no escutismo. O conhecimento do funcionamento da Unidade e do Agrupamento, as tradições escutistas, a história, a memória colectiva de acontecimentos passados ajudarão o jovem a sentir-se integrado. Os pioneiros mais velhos, a Equipa e, de maneira especial, o Guia podem ter neste domínio um papel extraordinário. O que se espera do pioneiro no Desprendimento? Para além de uma integração saudável na Comunidade, de um contacto proveitoso com o método e com as actividades típicas dos pioneiros há um conjunto de conhecimentos que o noviço/aspirante deve dominar, adquiridos ao longo do Desprendimento.

Sugestão de conhecimentos tidos como relevantes: - Quando e como surgiu o Escutismo e o CNE? - Como se organiza o CNE? - Quem foi Baden-Powell? - Conheces os Princípios e a Lei do Escuta? - Conheces o livro “Escutismo para Rapazes”? - Quem foi o São Nuno de Santa Maria? - Como se organizam os Pioneiros? - Quais são os Cargos existentes nas Equipas de Pioneiros? - Quais são os símbolos e qual é a Mística dos Pioneiros? - Conheces o Patrono dos Pioneiros, o da tua Equipa e o da tua Comunidade? - Já sabes trabalhar e viver em Equipa? - Já participaste num Empreendimento? - Já conheces as Áreas e os Trilhos que terás de escolher na tua Etapa do Conhecimento? - Já pensaste nas acções concretas que pretendes levar a cabo na Etapa do Conhecimento? A presente lista de questões consta do Diário de Vivências (na parte “O que se espera de mim?”) e constituem um modelo de orientação no sentido de harmonização de critérios.

No caso dos aspirantes, a adesão deverá incluir, ainda, no campo do conhecer, a organização do agrupamento e o domínio prático de técnica escutista. Neste sentido, é imprescindível que, antes da Promessa, o aspirante/noviço já domine alguma técnica escutista.

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- Técnica Escutista na fase de “Desprendimento” Durante a fase de “Desprendimento”, é fundamental que o aspirante/noviço já domine alguma técnica escutista. A título meramente exemplificativo considera-se que o jovem conheça nós e amarrações, que tenha algumas bases do que vulgarmente se chama de pioneirismo (principalmente nas construções em madeira amarrações – as bases das construções com encaixes, froissartage, poderão ser apreendidos mais tarde), conheça e saiba manusear ferramentas para a vida em campo, nomeadamente relacionadas com o trabalho com a madeira (machadas, maços, martelos, formões, puas, serras e serrotes, etc), saiba utilizar, em segurança, equipamentos necessários à vida em campo – petromax, fogões a gás, por exemplo –, tenha noções de cozinhas em campo, códigos, cifras, sinais de pista, etc.

Não se pode esperar que o noviço/aspirante consiga, apenas pela investigação pessoal motivada pela curiosidade própria, adquirir todos os conhecimentos tidos como essenciais. No mesmo sentido, nem todos os aspectos da técnica poderão ser completamente adquiridos nas actividades. O trabalho da Equipa de Animação em jogos e no enriquecimento do empreendimento, nesse sentido, podem revelar-se fundamentais. O Desprendimento como ponto de partida para as fases seguintes No sentido do que já foi anteriormente referido, é na fase de Desprendimento que começa a preparação para as fases seguintes do sistema de progresso nos pioneiros. É no Desprendimento que o noviço/aspirante toma conhecimento do funcionamento do sistema de progressão pessoal e das formas de reconhecimento do mesmo. É, também, nesta fase inicial, na adesão que o noviço/aspirante deverá escolher os trilhos, das seis áreas de desenvolvimento, da etapa que iniciará logo após o compromisso. Mas deverá ir mais além e definir, já nesta altura, antes de fazer a sua promessa/investidura, as acções concretas que pretende levar a cabo na etapa seguinte para validação dos objectivos e dos trilhos escolhidos. O compromisso como decisão pessoal do jovem Pretende-se que ao longo da fase de adesão, do Desprendimento, o contacto do noviço/ aspirante com a Comunidade – no quotidiano, nas actividades e nos projectos – proporcione a reflexão necessária sobre a decisão da adesão concreta e definitiva, o compromisso, assumido, formalmente, na sua Promessa/Investidura. Cabe ao jovem determinar quando se sente preparado para assumir esse compromisso, de forma pessoal e sem constrangimentos. Essa decisão deve ser declarada pelo jovem e ratificada pela Equipa, pelo Conselho de Guias, pelo Conselho de Comunidade – onde tem assento a Equipa de Animação. Ou seja, o jovem fará promessa/investidura quando se sentir preparado e quando, cumulativamente, os seus pares e a chefia reconheçam a sua aptidão.

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manualdodirigente O trabalho na Equipa com noviços/aspirantes, na própria Comunidade com a acção determinada da Equipa de Animação deve proporcionar a realização de momentos e de dinâmicas que permitam, progressivamente, ao jovem aspirante/noviço aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir ou não à Comunidade. O procedimento deve iniciar-se com o noviço/aspirante a declarar à sua Equipa e ao seu Guia que decidiu, depois de ponderadas todas as consequências, aderir, definitivamente, à Comunidade e fazer a sua Promessa/Investidura. A Equipa deve receber essa informação e se concordar com ela deve o Guia levá-la ao Conselho de Guias que a deve validar. A decisão deve, ainda, e logo a seguir, ser validada no Conselho de Comunidade. A Equipa de Animação, que tem assento no Conselho de Guias e no Conselho de Comunidade, deve exercer, nestes fóruns, com parcimónia e sentido pedagógico, a sua acção de concordância ou discordância/veto, sempre devidamente fundamentada. Esta validação na Equipa, no Conselho de Guias, no Conselho de Comunidade, sempre com a concordância da Equipa de Animação deve ter subjacente o facto de estarem reunidas as condições particulares de adesão, nomeadamente no que toca à vivência na Equipa, na Comunidade, nas actividades, e em termos de conhecimentos e atitudes. Para tal validação fará sentido que, ao longo de toda a adesão, os Guias de Equipa, e o próprio Conselho de Guias – não valerá a pena falar dos adultos, uma vez que estará subjacente a tudo isto – vá acompanhando a evolução dos noviços/aspirantes de forma a poder decidir, no momento certo, conscientemente. O facto de a decisão de fazer (ou não) o compromisso, e de a determinação da altura em que se sente apto a fazê-lo ser de cada noviço/aspirante faz com que a duração da adesão seja adaptada a cada jovem. Jovens diferentes levarão tempos diferentes a tomar a decisão de aderir ou não. Cada jovem fará uma adaptação a novas pessoas e a novas regras que resultarão em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados. Considera-se que este tempo de adesão não deva ultrapassar os 7 meses. Se no final deste tempo o jovem não tiver tomado uma decisão, importa saber o que se passa, uma vez que alguma coisa poderá não estar a correr convenientemente. Poderá acontecer que, especialmente no caso dos noviços, se dê o caso de todos, num determinado momento, movidos por uma espécie de “efeito de massas”, declarem, ao mesmo tempo, a sua vontade em fazer o compromisso. Não será de todo anormal se houver, entre eles, laços que perduram ou que se estabeleceram durante a adesão. Importa, no entanto, que seja promovida a ideia de que a decisão é pessoal, e que as especificidades de cada individuo – tanto no que são as suas características como no que foi a sua prestação/ participação/integração durante a adesão, como no que são os seus conhecimentos – são valorizadas neste momento.

302


manualdodirigente d)Compromisso Conforme foi referido supra, estando o adolescente no centro da acção pedagógica, deverá ser ele próprio a reconhecer a sua aptidão para fazer parte da Comunidade e fazer a sua Promessa/Investidura. O noviço/aspirante informa a sua Equipa e ao seu Guia que quer aderir à Comunidade e se sente pronto, ponderadas todas as consequências, para fazer a sua Promessa/Investidura. O procedimento segue, depois com a Equipa, a pronunciar-se e, concordando, é o Guia que leva o assunto ao Conselho de Guias – onde a Equipa de Animação tem assento – que a deve validar. A decisão deve, ainda, e logo a seguir, ser validada no Conselho de Comunidade, onde está, também, a Equipa de Animação. Uma vez mais importa salientar que a Equipa de Animação tem obrigação de, nos fóruns próprios, exercer, com sentido pedagógico, a sua acção de concordância ou discordância/veto, sobre a Promessa/Investidura. As posições da Equipa de Animação têm de ser, sempre, devidamente fundamentadas.

A diferença entre Promessa e Investidura Um escuteiro faz a sua Promessa apenas uma vez. Sempre que muda de secção e renova o seu compromisso faz a sua Investidura. Ou seja, no caso da Comunidade, os Aspirantes fazem Promessa de escuteiros e os Noviços fazem a sua Investidura de pioneiros. Promessa e Investidura são genericamente o Compromisso.

Depois de o Conselho de Comunidade validar a aptidão para o aspirante/noviço fazer a promessa/investidura, a cerimónia deve realizar-se num prazo máximo de 2 meses, a contar do momento em que se jovem se propõe a fazer o Compromisso. Este tempo permitirá que mais noviços/aspirantes assumam a vontade de fazer o seu compromisso e isso dará azo a que a promessa/investidura possa ser feita em conjunto, com os jovens agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação da Comunidade.

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Boas práticas: - Valorização do Compromisso O Compromisso, momento marcante na vida de qualquer escuteiro é algo que deve ser valorizado. - A cerimónia do Compromisso pode ter aspectos de individualização, relacionados com a vivência do jovem na secção ou com as suas características pessoais. - A chamada para a cerimónia pode passar a ser feita com o jovem a aproximar-se do Chefe da Comunidade, no altar, saudá-lo e declarar qualquer coisa do tipo: “Chefe, é minha vontade tornar-me Pioneiro!”.

II. Vivência a)Etapas de progresso

ADESÃO INFO RMAL

DESPRENDIMENTO (adesão)

CONHECIMENTO

Nos pioneiros, os nomes das etapas de:

1ª Etapa- Conhecimento

2ª Etapa- Vontade

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VONTADE

CONSTRUÇÃO


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3ª Etapa- Construção

Os nomes das etapas estão intimamente ligados à máxima do pioneiro: “Saber, Querer e Agir”. Esta máxima tem uma graduação, uma espécie de precedências, que impelem para a lógica progressiva e de evolução da personalidade humana.

- Saber = Conhecimento, Querer = Vontade e Agir = Construção. - É relativamente fácil associar as etapas do progresso dos pioneiros à simbologia dos pioneiros: Desprendimento associado ao ICTHUS, Conhecimento ligado à Gota de Água (conhecimento pessoal), Vontade relacionado à Rosa dos Ventos (determinação no rumo), Construção associado à Machada. Vide: Mais desenvolvimentos no Capítulo 2 – Mística e Simbologia

Porque nas etapas de progresso a intenção de reconhecimento do progresso do pioneiro se associa, claramente, à vertente de compromisso pessoal em crescer, evoluir e “construir”, a insígnia de progresso é entregue ao pioneiro no início de cada etapa.

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manualdodirigente Procura-se, assim, que o compromisso assumido pelo jovem no momento em que faz a promessa de adesão ao ideal do pioneiro se associe à progressão nos Conhecimentos, Competências e Atitudes (CCA), que o levam a atingir os objectivos educativos da Secção. Objectivos educativos de secção que estão associados em trilhos em cada uma das seis áreas de desenvolvimento. Procura-se, então, que todas as dinâmicas na Comunidade – reuniões, vida na Equipa, jogos, actividades típicas – constituam (ou possam constituir) oportunidades educativas de progresso – na medida em que permitem a evolução de Conhecimentos, Competências e Atitudes – ao encontro dos objectivos definidos para os trilhos (escolhidos em cada etapa pelo jovem) e estes para as áreas de desenvolvimento.

Em suma: Progredir significará, assim, atingir objectivos, ao invés de aumentar uma espécie de especialização em conhecimentos, competências e atitudes que o jovem já dominava. A progressão centra-se no crescimento, na superação, e não no “prestar prova”.

Organização do progresso no CNE O progresso está organizado da seguinte maneira: Há 6 áreas de desenvolvimento: Físico, Afectivo, Carácter, Espiritual, Intelectual, Social. Cada uma das áreas de desenvolvimento suporta 3 trilhos educativos. Cada trilho educativo tem (um ou mais) objectivos educativos.

Para mais fácil memorização das seis áreas de desenvolvimento considere-se o acróstico: FACEIS F – FISICO A – AFECTIVO C – CARÁCTER E – ESPIRITUAL I – INTELECTUAL S – SOCIAL

Importa que o pioneiro, em cada etapa, progrida, através de acções concretas – especialmente em ambiente escutista, mas não só –, no sentido de validar todos os objectivos de seis trilhos, um de cada uma das seis áreas de desenvolvimento.

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No final de três etapas estarão validados todos os objectivos de todos os trilhos das seis áreas de desenvolvimento.


manualdodirigente b) O processo i. A escolha / negociação Com este figurino é fácil perceber que, respeitada a estrutura, dois escuteiros na mesma etapa poderão ter trilhos distintos, logo objectivos diferentes a superar. Quer isto dizer que cada pioneiro constrói a sua etapa de progresso, seleccionando, individualmente, um trilho de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento. Termos a informação de que um pioneiro está na etapa Vontade não nos permite saber quais os trilhos que validou na primeira etapa, quais os que escolheu para a etapa em que está, nem quais os que lhe restam para a terceira etapa. Assim, o progresso é construído pelo próprio pioneiro, naturalmente que com o apoio do Chefe da Comunidade e do Guia da sua Equipa. Chefe de Comunidade e o Guia desempenham, então, um papel importante neste domínio, a três níveis: Em primeiro lugar na motivação, incentivo, valorização da auto-estima do pioneiro sempre no sentido de o ajudar no seu percurso; Em segundo lugar no apoio ao diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o pioneiro já tem e que o vão ajudar a seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas etapas; Em terceiro lugar na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos. Como já foi referido na parte do diagnóstico inicial, a escolha de trilhos deverá ter em conta as necessidades de desenvolvimento do adolescente e deverá ser incentivada a escolha de trilhos onde o desenvolvimento seja premente. É aí que surge a negociação. A intervenção, mesmo que subtil e indirecta, da Equipa de Animação deve servir para auxiliar o pioneiro a estabelecer um compromisso de progresso pessoal, e a fazer as escolha que o farão, realmente, crescer (em termos de conhecimentos, competências e atitudes) em detrimento do que seria fácil ou automaticamente atingível. O pioneiro faz as suas escolhas e deve ter o Chefe da Comunidade como um parceiro que o auxilia no seu percurso. Parceiro a quem apresenta “a sua proposta” e de quem recebe conselho e opinião. Esta conversa, esta negociação é fundamental para o sucesso do progresso do jovem. Não há qualquer espécie de contrapartida e o Chefe da Comunidade deve ser um apoio e procurar respeitar a autonomia do jovem. Escolhidos os trilhos, e observados os objectivos educativos, o pioneiro deve definir acções concretas conducentes ao seu crescimento para superação e validação dos objectivos que compõem esse trilho. Não se trata de uma relação directa: Cumprir a acção/ validação do objectivo. Isso seria uma prova. E não é isso que se pretende.

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manualdodirigente A acção concreta vai ajudar o pioneiro a consubstanciar um objectivo geral e abstracto em algo real e concreto. Isso vai facilitar a compreensão do objectivo e do potencial de crescimento em cada caso concreto. A Equipa de Animação deve incentivar o pioneiro a estabelecer as acções concretas de acordo com o seu potencial – não o menosprezando nem o sobrevalorizando – e demonstrar que estas acções concretas são auxiliares para o crescimento, oportunidades educativas, que devem ser acompanhadas de gestos de coerência na acção escutista diária, e não provas. Estas acções concretas que o pioneiro identifica para cada um dos objectivos dos trilhos que escolheu poderão consubstanciar-se, preferencialmente, em actividades no ambiente escutista, mas não só: também no dia-a-dia, na escola, nos seus hobbies desportivos ou de lazer, no que são os seus interesses. O Chefe da Comunidade deverá verificar esses conhecimentos, competências e atitudes não havendo necessidade de o pioneiro as repetir. ii.O quotidiano, o crescimento e as Oportunidades Educativas A progressão do pioneiro faz-se, como já se disse, através das oportunidades educativas que o Método Escutista, e as suas sete maravilhas, proporcionam. Abandona-se assim o conceito de prestar provas, obrigatórias, facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem. O crescimento do pioneiro faz-se através da acção escutista, de acções concretas, da vivência escutista nas actividades, com os seus pares, na relação educativa. Assim, em vez de se dizer que “o pioneiro prestou provas” porque realizou determinada acção, faz sentido dizer-se que “o pioneiro deu provas de crescimento em” (porque isso foi observado no crescimento em termos de conhecimentos, competências e atitudes). As oportunidades educativas – no fundo toda a acção escutista – contribuem para o alcançar de objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Ou seja, como já se disse, não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade, de uma acção concreta, e o alcançar de um objectivo educativo. Daí se referir que a listagem de acções do ponto anterior é parte do que terão que fazer… Mediante a avaliação do desenvolvimento do jovem – e não da realização ou não da oportunidade educativa – poderá ser necessário avaliar e ajustar as acções concretas escolhidas no sentido de insistir na aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes. Só em último caso, e quando se perceba que o progresso do pioneiro está obstaculizado por alguma razão, é que se deve recorrer à mudança de algum trilho escolhido no inicio da etapa.

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Validação de objectivos fora do ambiente escutista Tudo o que os pioneiros fazem dentro e fora do ambiente escutista ajuda-os a alcançar


manualdodirigente os objectivos educativos da secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento pessoal. Assim, os objectivos devem ser apresentados como propostas ou desafios que podem ser alcançados de forma atractiva e divertida através de experiências enriquecedoras que levam ao desenvolvimento pessoal. Como já se disse o Chefe da Comunidade deve ter em conta todos os conhecimentos, competências e atitudes que o pioneiro tem, mesmo que apreendidos fora do ambiente escutista, não havendo necessidade de o pioneiro as repetir. Cargos e Funções Assumir e desempenhar correctamente um cargo no seio da Equipa ou ter determinada função no Empreendimento constitui uma oportunidade educativa para progredir. Isto porque o seu exercício privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Especialidades O desenvolvimento de aptidões em determinadas áreas e a sua aplicação na vida da Equipa privilegia o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Assim, as especialidades constituem também uma oportunidade educativa para progredir. O trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se logo após a Promessa e escolha dos seis trilhos, ou seja, logo que se inicia a fase de vivência – Etapa do Conhecimento.

iii. Avaliação e validação A avaliação e a validação do progresso são elementos essenciais de todo o processo Como fazer a avaliação? A avaliação dos objectivos educativos implica a observação contínua do progresso do pioneiro durante um período, relativamente prolongado, de tempo. Isto porque, como já foi referido, não se pode controlar o progresso com um exame ou prova. Assim, foram identificados em documento específico, os conhecimentos, competências e atitudes que devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos pioneiros. A observação desses conhecimentos, competências e atitudes (CCA) no jovem, pelo próprio, pelos seus pares e pela equipa de animação passa-se, então à validação dos objectivos respectivos. A validação Depois do pioneiro reconhecer em si próprio os CCA relativos a um determinado objectivo de um trilho por si escolhido para a etapa em que se encontra, manifesta essa informação à sua Equipa, que deve pronunciar-se sobre o assunto. Esta é a validação pelos pares, que prossegue com a validação pelo Conselho de Guias que reconhecerá, se for caso disso, que o pioneiro deu mostras de que tem aquele objectivo educativo alcançado.

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manualdodirigente A Equipa de Animação, que tem assento no Conselho de Guias, manifestará a sua opinião concordante ou discordante/veto – sempre pedagogicamente fundamentada. Esta será a última palavra para a validação e que deve ser anunciada no Conselho da Comunidade. É importante que se mantenha o registo de observação dos conhecimentos, competências e atitudes de cada um dos pioneiros. Quem participa na avaliação e na validação? Começa na vida da Equipa a avaliação dos conhecimentos, comportamentos e atitudes que cada pioneiro vai adquirindo na prossecução de objectivos e dos trilhos por si escolhidos. A Equipa manifesta o seu acordo ou desacordo em relação ao reconhecimento do trilho. Em caso de concordância, o Guia, apresenta o assunto, para validação no Conselho de Guias. O Conselho de Guias manifesta o seu acordo ou desacordo – fundamentando-o sempre – e a palavra passa para o Chefe de Comunidade e para a sua equipa que têm a última palavra. A validação final do trilho como concluído deve ser comunicada no Conselho da Comunidade. No caso de os Guias não concordarem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o chefe de Unidade dá parecer desfavorável fundamentado, as razões para a não aceitação da sua proposta deve ser sempre expostas à Equipa e ao visado, sendo-lhe explicado o que deve, ainda, procurar alcançar, em termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir o trilho.

Estudo de caso: - Se a Equipa de Animação considera que o objectivo/trilho não deve ser validado e o Conselho de Guias achar que sim? A palavra final cabe sempre à Equipa de Animação. A posição da Equipa de Animação deve ser fundamentada e explicada ao Conselho de Guias, à Equipa e ao pioneiro visado tendo em atenção todos os preceitos pedagogicamente relevantes. - Se a Equipa de Animação considera que o objectivo/trilho deve ser validado e o Conselho de Guias ou a Equipa acharem que não? O Chefe da Comunidade deve procurar perceber o que se passa. Deve procurar saber que motivos levam a Equipa ou o Conselho de Guias a tomarem essa posição. Perceber se é um problema pessoal, de sobrevalorização ou má interpretação dos objectivos educativos ou se há alguma informação acrescida que a chefia não dispõe. Também nesta situação, a sensibilidade pedagógica do adulto deve intervir no sentido de repor a normalidade e o bom-senso. 310


manualdodirigente Partindo da ideia de que tudo o que os pioneiros fazem dentro e fora dos escuteiros pode constituir uma oportunidade educativa, contribuindo para o seu desenvolvimento, temos que passar a considerar outros “agentes” na avaliação: pais, professores, etc… No entanto, mesmo esta avaliação terá que ser validada pelo processo descrito. Quando fazer a avaliação e a validação? A avaliação dos objectivos deverá basear-se na observação continua do progresso do pioneiro. O processo de validação termina com a declaração de opinião da Equipa de Animação, preferencialmente no Conselho de Guias e “proclamada” no Conselho de Comunidade. O reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou de “passagem” de etapas de progresso deve ser feito, em momentos relevantes da vida da Comunidade dos pioneiros, preferencialmente na fase da celebração das actividades típicas.

iv. A Relação Educativa ao longo do processo O dirigente e o Conselho de Guias O papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos Guias e do Conselho de Guias no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos deve ser valorizado. As tomadas de decisão relativamente ao progresso dos elementos serão feitas privilegiadamente no Conselho de Guias. Isto implicará que a Equipa de Animação dê suporte e tente orientar os Guias, não os substituindo nas tomadas de decisão mas ajudando a formular opiniões e tomar decisões em conjunto. O dirigente e o pioneiro O sistema de progresso, baseando-se numa escolha individualizada de trilhos, irá implicar uma relação mais personalizada com cada um dos elementos. Desde o diagnóstico inicial à observação de conhecimentos, competências e atitudes e à sua avaliação, são muitos os momentos que permitirão um conhecimento mais profundo dos elementos.

v. Reconhecimento Todo o progresso pessoal carece de um reconhecimento público, no seio da Comunidade para ser, convenientemente, valorizado. O reconhecimento acaba por ser, então essencial, para que o pioneiro sinta que cresceu. O reconhecimento pode ser feito através das seguintes ferramentas: Diário de Vivências: O Diário de Vivências é o que na tradição escutista se chama um caderno de caça do

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manualdodirigente pioneiro. O Diário de Vivências tem um caderno comum, vendido no DMF e para download no sitio do CNE, e separatas para os pioneiros acrescentarem o que entenderem por conveniente. Nesse caderno comum, consta um espaço que poderá ser utilizado na função de registo do progresso individual. Para além disso, servirá também como diário de vivências pessoais na Comunidade e compêndio de informações relevantes para o pioneiro.

Painel de progresso no Abrigo Recomenda-se que no Abrigo haja espaço para afixar um painel onde esteja mostrada, publicamente, o progresso colectivo e individual, de cada pioneiro, através de uma marca por si produzida, que o situa e identifica.

Anilha de Mérito Quando o pioneiro terminar todos os objectivos da III secção, (todos trilhos de todas as áreas de desenvolvimento) e concluir, portanto, a sua última etapa, receberá uma 'Anilha de Mérito' com o símbolo da Secção, de forma a ser reconhecido por toda a associação como tendo completado a totalidade do percurso educativo proposto aos pioneiros. A anilha poderá ser usada até ao momento da promessa de caminheiro.

III. Passagem de Secção Adesão informal aos caminheiros Para os pioneiros mais velhos o último trimestre do seu último ano na Comunidade será já um período de adesão informal aos caminheiros e como em qualquer processo de transição pretende-se que este seja ao mesmo tempo suave mas também desafiante. A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista na Comunidade. Neste último trimestre, o pioneiro continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da Comunidade. Pretende-se que ele se vá familiarizando, de forma informal, com o Clã. O objectivo é promover uma aproximação aos caminheiros, que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a colocar os pioneiros que passam para os caminheiros mais à-vontade, promovendo uma integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do início da adesão formal. Pretende-se que os Guias de Tribo convidem o pioneiro a participar numa caminhada (ou em parte, se for longa), de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do Clã, conhecer as Tribos, os seus Guias de Tribo, a Equipa de Animação e o Albergue. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.

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manualdodirigente Cerimonial de passagem A expectativa no momento das passagens e o receio que muitos dos jovens sentem nesta altura perante a mudança, dá um carácter muito importante a esta cerimónia. Esta cerimónia é também muito importante pela forma de como o elemento se despede da antiga secção e é recebido na nova, podendo marcar desde logo positiva ou negativamente a mudança que se está a dar na sua vida enquanto escuteiro. É então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando um momento marcante e ansiado por todos. As ideias poderão passar por conjugar a mística das diferentes secções, por exemplo. O trabalho conjunto das Equipas de Animação de todas as secções intervenientes para dar consistência à cerimónia. Informação ao Chefe de Clã Do mesmo modo que é aconselhável uma conversa entre o Chefe da Expedição e o Chefe de Comunidade aquando da passagem dos exploradores, poderá ser necessária uma conversa entre o Chefe de Comunidade e o Chefe de Clã aquando do diagnóstico inicial, no sentido de identificar algumas áreas em que o noviço tenha mais dificuldades.

Bibliografia: Proposta Educativa do CNE – Edições CNE Programa Educativo do CNE – Edições CNE A Pedagogia do Projecto – Colecção Manual do Dirigente n.º 1 – Tradução dos Scout de France – Edições CNE O Empreendimento – Colecção Manual do Dirigente n.º 10 – Tradução dos Scout de France – Edições CNE Flor de Lis – Dossiês sobre Programa Educativo do CNE – órgão oficial do CNE Flor de Lis – Textos sobre Fase Piloto (Boas Práticas) do Projecto RAP – órgão oficial do CNE

Ana Teresa Vermelho

Documentos de Apoio ao RAP – Edições do Bureau Mundial do Escutismo

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manualdodirigente C.6.4 O Sistema de Progresso no Clã A estrutura do Sistema de Progresso A passagem do jovem pelo Clã é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivência. Durante a primeira fase, o noviço/aspirante vai-se integrando no Clã, fazendo a sua adesão e preparação para a Promessa. Neste momento, a Equipa de Animação deve fazer o Diagnóstico Inicial, ou seja, deve tentar conhecer e perceber quem é esta pessoa que começa agora o seu caminho numa nova secção. Depois da Promessa, já Caminheiro, encontra-se na fase da vivência e deve evoluir nas etapas de progresso, sempre na perspectiva de caminhar rumo à Partida, momento que marca o fim do trajecto no Clã.

I. Integração a) A Adesão 1. A Adesão informal ao Clã A Adesão Informal procura familiarizar o noviço com o Clã e deverá iniciar-se no último trimestre da vivência escutista na Comunidade dos pioneiros. Durante este período, o jovem continua a ser pioneiro, a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas da Comunidade. O que se pretende é uma aproximação suave ao Clã e não um afastamento da Comunidade de onde faz parte.

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manualdodirigente O objectivo é promover uma aproximação aos caminheiros que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a colocar os pioneiros que passam para a IV Secção mais à-vontade, promovendo uma integração mais fácil, quando chegarem ao Clã e iniciarem a sua Adesão Formal. Durante esta fase, pretende-se que os pioneiros que vão passar para o Clã no ano escutista seguinte sejam convidados pelos Guias de Tribo a participar numa actividade, de modo informal e sem fazer parte da sua organização, para que se possam inteirar da dinâmica do Clã e conhecer as Tribos, os seus Guias, a Equipa de Animação e o Albergue. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa em termos de tarefas ou responsabilidades.

Adesão Informal: - Surge no último trimestre em que os pioneiros estão na Comunidade; - É uma aproximação e não uma passagem antecipada; - É apenas para os pioneiros que vão passar de secção no ano escutista seguinte; - Implica a participação esporádica numa actividade/ saída/ reunião no Albergue; - Os pioneiros não devem fazer parte da Caminhada (decidir, organizar, etc.); - Por participarem numa actividade do Clã, os pioneiros não deixam de estar integrados na Comunidade. 2. Adesão Formal ao Clã – Etapa Caminho A Adesão Formal ao Clã tem início quando o noviço/aspirante chega realmente ao Clã e prolonga-se até à Promessa. A esta etapa de adesão chama-se Etapa Caminho. Nesta altura, o noviço/ aspirante é acolhido pelo Clã e faz a sua integração pouco a pouco, à medida que vai conhecendo melhor as pessoas, as Tribos, preceitos, costumes, etc. É durante esta fase que a Equipa de Animação deve proceder ao diagnóstico inicial do noviço/ aspirante.

2.1. Diagnóstico inicial Num sistema de progresso orientado por objectivos, torna-se imprescindível conhecer em profundidade o jovem que chega ao Clã. Este é um processo dinâmico e não um único momento. Ao tempo inicial em que se começa a conhecer o jovem em pormenor chamamos Diagnóstico Inicial. Todos os jovens que chegam ao Clã são diferentes em diversos aspectos: idade, contextos familiares, escolares e profissionais, níveis de desenvolvimento, aptidões, dificuldades, entre muitas outras coisas. Desta forma, poderão estar em graus de maturidade e autonomia diferentes. Será papel do Chefe de Clã e da sua Equipa de Animação promover o desenvolvimento harmonioso dos seus elementos (mesmo quando partem

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manualdodirigente de patamares diferenciados e por caminhos que poderão ser diferentes), levando-os a atingir em pleno os objectivos educativos finais.

O diagnóstico inicial e formal deverá ser realizado, em conjunto, pelo aspirante/ noviço, pelo Chefe de Clã e por um caminheiro mais experiente, escolhido pelo aspirante/noviço. Poderá ser necessário recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito.

O resultado prático deste processo de Diagnóstico Inicial vai ser utilizado quando o Chefe de Clã for negociar com o caminheiro o conjunto de objectivos educativos que constituirá a sua etapa de progresso. Isto significa que o Chefe de Clã não precisa de despender demasiada energia no início deste processo, tentando fechar um diagnóstico numa semana ou duas porque, no caso dos caminheiros, tem até 9 meses (tempo máximo para eles aderirem ao Clã) para “afinar” este diagnóstico, completando-o, revendo-o, modificando-o, etc. Contudo, esta fase do Diagnóstico Inicial é crucial para a escolha posterior dos objectivos educativos, uma vez que as opções do jovem devem ter em consideração as suas necessidades e lacunas de desenvolvimento. De facto, o aspirante/noviço deverá ser incentivado a escolher em primeiro lugar os objectivos que sente que terão que ser mais bem trabalhados, concretizando-os em várias acções práticas na parte aberta no seu PPV. O posicionamento do jovem no sistema progresso, depois do Diagnóstico Inicial Diagnóstico a noviços e aspirantes com 18 anos e escolha dos objectivos para a 1ª Etapa (Comunidade): Os noviços e os aspirantes com 18 anos vão sempre para a 1ª etapa. Mesmo que Chefe de Clã e noviço/aspirante considerem que já existem objectivos fechados em número suficiente para completar a 1ª Etapa, esses objectivos devem ser “reservados” e avaliados mais tarde, no final da 1ª etapa. O noviço/aspirante, deve escolher para a sua 1ª etapa um conjunto de objectivos educativos que, decididamente, não foram atingidos. Diagnóstico a aspirantes entre os 19 e 21 anos: O diagnóstico inicial auxiliará, no caso dos aspirantes mais velhos, a definir em que etapa de progresso o elemento se encontra após a Promessa, com base nas suas competências, conhecimentos e atitudes. Este diagnóstico mais formal irá servir para reconhecer - depois da sua fase de adesão - que objectivos educativos ele já detém e que equivalência será atribuída em termos de etapa de progresso.

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Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o elemento já tenha alcançado algum objectivo este fica «fechado» e escolhe outros objectivos para a sua etapa (2 a 3 de cada área). Assim no reconhecimento do progresso pessoal: menos de 2 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançado- etapa 1 (Comunidade) entre 2 a 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados - etapa 2 (Serviço) mais de 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados - etapa 3 (Partida)

Diagnóstico a aspirantes com 22 anos: Deve-se equacionar a hipótese de passar a ser candidato a dirigente.

Exemplo de ferramentas para o Diagnóstico Inicial A folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes para a IV secção deve ser preenchida pelo Chefe de Clã, com a ajuda da sua Equipa de Animação, o próprio noviço/aspirante, o Guia da Tribo onde ele está inserido, etc. Poderá inclusivamente valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e comportamentos que exemplifiquem o que foi atingido. Esta ferramenta não só auxilia ao Diagnóstico Inicial, como pode, também, ser um apoio verificar a evolução do Caminheiro em todas as Etapas do Sistema de Progresso. Ver Anexo 5 A entrevista (conversa mais ou menos estruturada) com o Chefe de Clã ou Adjunto é um momento de reflexão, conhecimento e crescimento muito importante. Para o dirigente é uma possibilidade privilegiada para conhecer melhor aquele Caminheiro. Para o jovem abre-se a oportunidade de falar de si, expor as suas dúvidas, medos, sonhos e projectos e de ver reconhecido o seu valor. É o espaço em que o jovem, auxiliado pelo seu irmão mais velho, começa e definir prioridades, a pensar como dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e em formas concretas de os implementar. O jogo: os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo, como experiências de aprendizagem activa, constituem uma oportunidade, por excelência, para o dirigente observar e avaliar os seus escuteiros. A Vivência no Clã: a observação atenta do comportamento do jovem nas actividades do Clã, ao longo da Etapa Caminho, pode contribuir para perceber como procede em relação aos outros (como reage perante os outros elementos e a Equipa de Animação, por exemplo) e como reage perante regras, novos desafios, tarefas, responsabilidades, etc. Envolvimento de diversas pessoas: Chefe de Comunidade do ano anterior (no caso dos noviços), o próprio (aspirante/noviço), Chefe de Clã/ Equipa de Animação, Caminheiro mais velho e experiente escolhido pelo aspirante/noviço, pais e amigos do jovem, etc. 317


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Esquema 4 RESUMO- SECÇÃO IV

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2.2. Etapa Caminho Quando chegam ao Clã, os noviços e aspirantes iniciam a Etapa Caminho (adesão) e recebem a respectiva insígnia. Durante esta fase de Integração, cada noviço/aspirante irá viver a experiência do Clã de forma muito pessoal, pelo que a adaptação a novas pessoas e a novas dinâmicas podem resultar em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados. O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do noviço/ aspirante sobre como funciona o Clã, como se vive o dia-a-dia das actividades típicas, qual é a mística, a simbologia, o patrono e quais são os compromissos que se esperam de um caminheiro. É com base nessa tomada de consciência individual que cada noviço/ aspirante toma, por si, a decisão de aderir ao Clã, ou seja, de fazer a sua Promessa.

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Durante a Etapa Caminho, o noviço/aspirante tem que, obrigatoriamente, adquirir os conhecimentos e passar pelas vivências que a seguir se apresentam, para poder fazer a sua Promessa: Conhecimentos: - Conhecer a organização do Clã e das Tribos, assim como as suas tradições e funcionamento. - Conhecer a mística e enquadramento simbólico da IV Secção. - Conhecer os percursos de vida e exemplo que constituem para o Caminheiro o Patrono da IV Secção (São Paulo) e o Patrono do seu Clã. - Ler o Livro «A Caminho do Triunfo», escrito por B.-P. para os jovens caminheiros e que ainda hoje é uma referência para o caminheirismo, pela sua actualidade. - Conhecer os Objectivos Educativos que são propostos para a IV secção. - Saber o que é e qual a importância do PPV. Vivências: - Participar no quotidiano da Tribo e do Clã, dentro do sistema de patrulhas. - Participar activamente na Caminhada. O objectivo é que conviva de perto com a aplicação do método projecto numa actividade típica do Clã. - Promover um debate ou dinâmica sobre o livro «A Caminho do Triunfo», com o Clã ou Tribo, de modo a tirar dúvidas e apresentar a sua perspectiva da leitura que fez. - Fazer o PPV.

No caso dos aspirantes, deve adicionar-se, no campo do conhecer, o seguinte:

Conhecimentos: - Organização do Agrupamento. - Vida e mensagem de Baden-Powell. - Domínio prático de técnica escutista e pioneirismo.

É, também, durante a etapa Caminho, que o noviço/aspirante começa a pensar nos objectivos educativos que vai escolher para atingir no primeiro ano de vivência do sistema de progresso – Etapa Comunidade. De facto, será nesta fase que o aspirante/noviço irá conhecer o que se espera dele quando se tornar caminheiro. Com o apoio do Chefe de Clã e de um caminheiro mais experiente (escolhido pelo noviço/aspirante), e tendo em conta o diagnóstico inicial, o caminheiro irá escolher o seu percurso de progresso. Neste âmbito, e após a selecção de 2 a 3 objectivos educativos de cada área de desenvolvimento, o noviço/aspirante

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manualdodirigente deve começar a concretizar o que vai fazer para conseguir atingir os objectivos a que se propôs, assim como as datas limite para o fazer. 3. O Compromisso - Promessa Sempre com o objectivo de colocar o jovem no centro da acção pedagógica, deverá ser em primeiro lugar o jovem a reconhecer que quer pertencer ao Clã e que está apto a fazer a sua promessa – a assumir o seu compromisso perante o Clã. Assim, pretende-se ainda que, durante a etapa Caminho, o noviço/aspirante reflicta e pondere sobre o compromisso que vai assumir formalmente na sua investidura de caminheiro. Com base em dinâmicas propostas pelo Tribo, Clã ou Equipa de Animação, deverá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando, fortalecendo e dando sentido à sua decisão de aderir ao Clã. Cada jovem necessitará de tempo diferenciado para tomar a sua decisão de aderir. Assim sendo, a duração da etapa Caminho deverá ser adaptada ao noviço/aspirante, embora não deva ultrapassar os 9 meses. Quando a Equipa de Animação nota atraso na adesão de um noviço/aspirante, deve avaliar o que se passa, incentivá-lo a completar a etapa Caminho e ajudá-lo nas dificuldades. Não se deve “dar” a Promessa só para que o jovem não fique atrasado em relação aos outros, ou porque todos vão fazê-la. A validação da adesão e da decisão de fazer Promessa por parte do noviço/aspirante deve ser feita no Conselho de Guias, que decide se o noviço/aspirante reúne as condições particulares de adesão, acima descritas, nomeadamente no que toca à vivência na Tribo, no Clã e na Caminhada. Para além disto, o noviço/aspirante só faz a sua Promessa se o Clã também validar que está preparado, com base em proposta dos Guias no Conselho de Clã. A Promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser sempre auto-proposta pelo jovem, deve partir de uma opção individualizada e não resultante de data(s) marcadas “administrativamente”. Após a Validação do Clã, o compromisso pessoal deve ser marcado durante os 2 meses seguintes. Os noviços/aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação do Clã.

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II. Vivência a)Nomes e significado das etapas de progresso Os nomes das etapas de progresso são: Caminho (adesão); Comunidade, Serviço e Partida. As etapas têm o mesmo nome das 4 dimensões do caminheirismo, embora sejam coisas distintas. Em cada Etapa deve valorizar-se cada uma dessas dimensões, mas as outras não devem ser deixadas para trás, abandonadas ou esquecidas. O caminheiro deve ter sempre presente todas as 4 dimensões que o caminheirismo abrange.

1) Adesão - Caminho É nesta fase que o noviço/aspirante inicia o seu caminho no Clã e enceta essa grande aventura de querer tornar-se caminheiro e caminhar para o Homem-Novo. Inicia também o caminho rumo à Partida. O Caminho significa então, a abertura, a lar-

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manualdodirigente gueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacidade de aceitar a mudança, de viver na própria mudança. É também um espaço de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial. Graças a isto, este Caminho dos caminheiros é, tal como o dos peregrinos, testemunho de vida cristã. Finalmente, o Caminho é, também, um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção de si mesmo, de aprendizagem da capacidade de se comprometer para além do imediato. 2)1ª Etapa - Comunidade Ao fazer a sua Promessa, o caminheiro assume o compromisso de pertencer a esta comunidade – o Clã – e de ser activo na comunidade a que pertence. É altura de partilhar experiências e de se dedicar ao Clã que acaba de recebê-lo como irmão. Na Tribo vive-se o início da comunhão, que se potencia na vivência em Clã. É o apelo das Bem-Aventuranças que dá sentido a este caminho conjunto, que se torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor, de construção da paz. Contudo, segundo este apelo, essa comunidade não pode viver virada sobre si mesma. 3)2ª Etapa - Serviço Ao longo do seu percurso, o caminheiro vai assumindo, cada vez mais, o serviço como algo natural, um modo de vida. Nesta etapa, o serviço ao outro e a vontade de ser melhor deve estar reforçada. Contudo, há que ter em atenção que prestar serviço não é forçosamente um acto físico, ou um dom material: pode ser um suporte moral, um intercâmbio, ou muito mais ainda. O serviço é gratuito, mas quem presta serviço enriquece. O serviço é uma dinâmica de descoberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”. Daí que se possa dizer que a verdadeira descoberta só é possível no serviço. Servir é tornar-se apto para a missão

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manualdodirigente A vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, na Tribo e no Clã, em acções de longo termo que denotem uma vontade de compromisso e não apenas “mini-serviços” rápidos, sem continuidade e muitas vezes sem sentido. 4)3ª Etapa - Partida Esta é a Etapa em que o caminheiro se assume como um exemplo para os outros. Está cada vez mais próxima a saída do Clã e as atenções do caminheiro devem voltar-se, cada vez mais, para fora do Clã: é altura de se tornar cada vez mais activo no mundo. Assim sendo, esta é uma etapa em que o caminheiro vive no Clã e para o Clã, mas que cada vez mais deve viver para os outros, para fora do Clã e do próprio CNE, de forma a que possa dizer com verdade que caminha para o Homem-Novo e que o seu exemplo é exemplo a seguir. Para além disto, esta é a etapa em que se deve preparar, mais intensivamente, para receber a Cerimónia da Partida. É, também, onde é convidado a fazer o seu Desafio.

b)Como se desenrola o progresso A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com base nas 3 vertentes do saber: o saber saber, o saber fazer e o saber ser.

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manualdodirigente No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso envolva os objectivos definidos para cada uma das áreas de desenvolvimento. Progredir significará, assim, atingir objectivos. Como se processa a progressão? Existem 6 áreas de desenvolvimento: físico, afectivo, carácter , espiritual, intelec­ tual e social. Cada uma destas áreas de desenvolvimento tem entre 6 a 8 objectivos. FÍSICO

6 ob je ctivos

AF ECTIVO

6 ob je ctivos

CARÁ CTER

8 ob je ctivos

ESPIRITUAL

8 ob je ctivos

INTELECTUAL

7 ob je ctivos

SOCIAL

7 ob je ctivos

Para progredir, o caminheiro tem de escolher, em cada uma das 3 etapas de progresso da secção, vários objectivos a atingir, contemplando todas as áreas de desenvolvimento. Assim sendo, um caminheiro constrói cada etapa de progresso seleccionando 2 a 3 objectivos educativos de cada uma das diferentes áreas de desenvolvimento. Como esta escolha é individual, outro caminheiro pode escolher objectivos distintos para completar a mesma etapa. Exemplo: O Tiago pode, após a sua adesão, seleccionar os seguintes objectivos:

Físico - Identificar e evitar, na vida quotidiana, os comportamentos de risco relacionados com a segurança física e consumo de substâncias. - Conhecer e aceitar o desenvolvimento e amadurecimento do seu corpo com naturalidade.

Afectivo - Valorizar e demonstrar sensibilidade nas suas relações afectivas, de modo consequente com a opção de vida assumida. - Respeitar a existência de várias sensibilidades estéticas e artísticas, formando a sua opinião com sentido crítico.

Carácter - Ser capaz de formular e construir as suas próprias opções, assumindo-as com clareza. - Mostrar-se responsável pelo seu desenvolvimento, colocando a si próprio objectivos de progressão pessoal.

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Espiritual - Conhecer e compreender o modo como Deus se deu a conhecer à humanidade, propondo-lhe um Projecto de Felicidade Plena (História da Salvação). - Conhecer as principais religiões distinguindo e valorizando a identidade da Igreja Católica.

Intelectual - Definir o seu itinerário de formação preocupando-se em mantê-lo actualizado. - Adaptar-se e superar novas situações, avaliando-as à luz de experiências anteriores e conhecimentos adquiridos. - Procurar de forma activa e continuada novos saberes e vivências, como forma de contribuir para o seu crescimento pessoal.

Social - Mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, contribuindo activamente para o sucesso do colectivo através do desempenho com competência do seu papel. - Usar de empatia na forma de comunicar com os outros, demonstrando tolerância e respeito perante outros pontos de vista. - Conhecer e exercer os seus direitos e deveres enquanto cidadão.

Para o Tiago, esta combinação de 14 objectivos educativos constituem a sua etapa Comunidade. A Joana, que também está na etapa Comunidade, pode ter uma combinação de objectivos totalmente diferente da escolhida pelo Tiago.

Como o desenvolvimento se pretende equilibrado, se o elemento já tiver alcançado todos os objectivos de uma determinada área de desenvolvimento, não completa etapa nenhuma: estas só estão completas quando ele atinge, pelo menos, 2 objectivos de cada área de desenvolvimento.

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manualdodirigente Exemplo da Carolina, que está a tentar terminar a etapa Comunidade: Imagine-se que a Carolina tem atingidos 3 objectivos da área de desenvolvimento físico, 2 da área intelectual e 3 da área de social (marcado com ). Para fechar a Etapa 1 – Comunidade - tem ainda de alcançar 2 objectivos (pelo menos) de cada uma das outras 3 áreas restantes. (marcado com , o que ela escolheu atingir, para completar a Etapa).

Caso tenha, pelo menos, 12 objectivos alcançados (pelo menos 2 em cada área de desenvolvimento), passa para a 2ª etapa – Serviço – e escolhe pelo menos mais 12 objectivos (pelo menos 2 de cada área de desenvolvimento) para completar esta 2ª etapa.

Marcados com X os objectivos educativos alcançados pela Carolina na 1ª etapa – Comunidade. A sublinhado, os objectivos educativos a que a Carolina se propõe a atingir na 2ªetapa - Serviço

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manualdodirigente O que se pretende é que, no final, os caminheiros validem todos os 42 objectivos educativos finais definidos. Só assim têm o sistema de progresso completo. Note-se, por fim, que a liberdade de escolha compete inteiramente ao caminheiro. No entanto, o Chefe de Clã e o Guia de Tribo desempenham aqui um papel importante, principalmente a 2 níveis: No apoio ao diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o caminheiro já detém e que o ajudam a seleccionar os objectivos que irão constituir as suas etapas; Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos. A este nível, é importante compreender que progredir implica que o jovem possa aumentar verdadeiramente os seus conhecimentos e competências e desenvolver as suas atitudes, em vez de apenas mostrar o que já domina. Isto significa que um objectivo só estará cumprido quando o caminheiro demonstrar que assume determinado comportamento de forma constante e que, consequentemente, cresceu.

Vejamos um exemplo: um caminheiro escolheu, para um dos seus objectivos, ser capaz de “mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, contribuindo activamente para o sucesso do colectivo através do desempenho com competência do seu papel.” Se ele pratica regularmente um desporto de equipa, onde trabalha bem integrado para sucesso da equipa, isto não significa que o objectivo esteja cumprido. Só o estará quando o caminheiro conseguir transpor isso para as várias áreas da sua vida (por exemplo, na relação com os colegas de estudo em trabalhos de grupo, ou na preparação de uma Caminhada, com a sua Tribo). Se realmente o jovem tem esse objectivo cumprido, o progresso passará então por tentar desenvolver outras atitudes, conhecimentos e comportamentos que o levem a atingir outros objectivos.

Em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa. Corresponde ao compromisso assumido pelo caminheiro em procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a atingir os objectivos educativos finais.

Os caminheiro que terminam o sistema de progresso recebem, como reconhecimento pelo seu empenho e realização dos objectivos a que se propuseram, a Anilha de Mérito.

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manualdodirigente Esta não deve ser apenas entregue ao caminheiro, mas sim, envolvida numa cerimónia, ou momento mais solene. Deste modo, por um lado, está-se a dignificar e a dar como exemplo aquele caminheiro empenhado que completou o seu progresso. Por outro, está­-se a dar um incentivo a todos os outros caminheiros que, certamente, terão mais uma motivação para completar o seu sistema de progresso pessoal.

Nota: A Anilha de Mérito, recebida por quem completa o sistema de progresso, só pode ser usada pelo caminheiro até à cerimónia da Partida

c)As Oportunidades Educativas 1) As Oportunidades Educativas e o alcance de objectivos educativos Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhados no seio do Clã e da Tribo no desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência das Caminhadas. Neste âmbito, tudo o que os caminheiros fazem dentro e fora do movimento ajuda-os a alcançar os objectivos educativos finais, ou seja, a crescer nas 6 áreas de desenvolvimento pessoal. Assim sendo, os objectivos educativos que apresentamos aos jovens nesta idade não são mais do que propostas atractivas que os desafiam a ser mais e melhor. No nosso sistema de progresso faz sentido dizer-se que “o caminheiro deu provas de” (porque isso foi observado em conhecimentos, competências e atitudes) em vez de “o caminheiro prestou provas” (porque realizou uma determinada acção prevista num sistema de progresso com provas especificadas). Neste sentido, o progresso não se faz através de provas específicas e idênticas (obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem) para todos, mas através de oportunidades educativas – actividades e acções – que o nosso método, com as suas 7 maravilhas, oferece. Os caminheiros podem ainda adquirir conhecimentos, competências e atitudes na sua vivência escolar, catequética, nos clubes a que pertençam, equipas de outros organismos, etc., dado que também aqui realizam actividades que podem contribuir para alcançarem objectivos educativos. A ideia é o chefe de Clã verificar esses conhecimentos, competências e atitudes, sem que o caminheiro tenha que os repetir, necessariamente.

As oportunidades educativas permitem que cada jovem viva experiências enriquecedoras que levam ao desenvolvimento pessoal. São elas, assim, que contribuem para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Assim sendo, a cada objectivo educativo devem ser associadas algumas oportunidades educativas, como meras sugestões, que podem ser adaptadas e “negociadas” com os caminheiros. Com isto, pretende-se criar condições para acolher novas propostas e sugestões de oportunidades educativas, potenciando desta forma a participação dos jovens no processo.

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manualdodirigente Note-se que, a este nível, não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade e o alcançar de um objectivo educativo. É através da avaliação do desenvolvimento do jovem – e não da realização ou não da oportunidade educativa – que se pode comprovar a aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes. Se esta aquisição não se verificar ou não for satisfatória, poderá ser necessário escolher novas oportunidades educativas para o caminheiro.

2) As oportunidades educativas e o PPV O PPV deverá ter uma parte aberta, que deve conter os objectivos educativos que o caminheiro que escolheu para atingir na etapa do sistema de progresso em que se encontra, assim como as oportunidades educativas (acções concretas) para os alcançar e respectivas datas em que prevê tê-los atingido. Essa parte é partilhada com a Tribo e com o Chefe de Clã e deve estar exposta no Albergue. A importância da partilha e exposição dos objectivos educativos escolhidos por cada um, prende-se com a possibilidade da Equipa de Animação e todo o Clã poderem e deverem incentivar a ajudar os seus elementos a progredir.

Exemplo PPV Parte Aberta: Objectivo educativo final: “Cultivar um estilo de vida saudável e equilibrado – alimentação, actividade física e repouso – adaptado a cada fase do seu desenvolvimento”. Concretização deste objectivo: 1. O que significa este objectivo para o jovem? 2. Acções concretas que ajudam a atingir o objectivo (Por exemplo: ir ao ginásio 1 vez por semana; fazer 5 refeições por dia, variadas e nutritivas; dormir, pelo menos, 7 horas diárias..).

Será, também, com base nessa partilha da parte aberta do PPV que a Carta de Clã deve ser construída. Para além disto, o PPV conterá ainda uma parte fechada, em que devem constar os objectivos pessoais e íntimos do caminheiro, projectos, sonhos, assim como os passos para os concretizar e as datas em que espera realizá-los. A parte fechada é partilhável ou não, no entanto, é aconselhável que o caminheiro partilhe o seu PPV (parte fechada) com alguém mais velho e mais experiente, que o possa ajudar e orientar, preferencialmente, o Chefe de Clã.

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manualdodirigente 3) As Oportunidades Educativas e as Especialidades Durante a fase da vivência no Clã, o desenvolvimento de aptidões associadas a especialidades constitui igualmente uma oportunidade educativa para progredir. De facto, tal como no desempenho dos cargos e das funções, o trabalho em especialidades e a sua aplicação na vida quotidiana das Tribos privilegiam o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento. Este trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se a partir do momento em que começa a fase da vivência, isto é, logo após o jovem ter realizado a sua Promessa.

4) Avaliação A avaliação de conhecimentos, competências e atitudes Nos caminheiros, é na vida da Tribo que se vão debatendo os conhecimentos, competências e atitudes que cada caminheiro vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determinado objectivo poderá estar concluído. Este processo deverá ser induzido pelo próprio e apoiado pelo caminheiro mais experiente que foi escolhido pelo próprio. O caminheiro, tem que concretizar como pretende alcançar os objectivos, através da escolha de acções concretas, isso faz com que tenha ao seu dispor um excelente indicador sobre a sua própria progressão. Ou seja, a realização, ou não das tarefas com sucesso, ajuda-o a perceber se está perto de atingir o objectivo. Neste sentido, há que ter em conta que a avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos concluídos deve ser feita de forma contínua, ao longo da vivência escutista do jovem. Note-se que, num sistema orientado por objectivos educativos, estes não podem ser controlados como se fossem “provas” ou “exames”. A avaliação tem que ser feita mediante a observação do progresso dos jovens durante um percurso prolongado de tempo. Quando o progresso for observado no jovem e avaliados pelo próprio, pelos “pares” e pela Equipa de Animação, o Conselho de Guias poderá reconhecer que o caminheiro alcançou aquele objectivo educativo. A importância dos pares O reconhecimento que os objectivos foram alcançados e a consequente atribuição da conclusão das etapas de progresso deve ser feito na fase da celebração das Caminhadas. Neste âmbito, e reforçando o papel e a importância dos “pares” e partindo da premissa de que o Clã é autogerido pelos membros que o compõem, também a componente do progresso deverá ser acompanhada e avaliada pelos seus elementos. O Conselho de Guias será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas com o progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de progresso. Em termos de avaliação, se a Tribo concorda que um caminheiro concluiu um determi-

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manualdodirigente nado objectivo, o Guia apresenta esse caso no Conselho de Guias seguinte, sendo o assunto debatido entre os Guias. No caso de Tribos isoladas (quando só há uma Tribo, por haver menos de 10 caminheiros), o assunto é debatido em Tribo e com o Chefe de Clã. Se os Guias de Tribo se colocam de acordo, significa que foi atribuído ao caminheiro o objectivo como concluído. Caso os Guias de Tribo não concordem com a conclusão do objectivo – ou o Chefe de Clã vete a decisão – o Guia de Tribo do caminheiro em causa explica, na Tribo, a não-aceitação da sua proposta, explicando ao caminheiro o que ele deverá ainda adquirir, em termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir o objectivo. Nota: A Promessa e a Partida são aprovadas pelo Conselho de Clã. Outros agentes da avaliação Para além dos caminheiros, novos “agentes” foram considerados na fase de avaliação do progresso pessoal. De facto, se partirmos do pressuposto de que tudo o que os caminheiros fazem, dentro e fora dos escuteiros, contribui para o seu desenvolvimento, e que existem oportunidades educativas a ser concretizadas em outros “ambientes educativos”, tal como a escola, associações, instituições, etc., em alguns casos a avaliação do seu progresso pessoal poderá ser feita também por outros intervenientes.

d)O Desafio No último ano, e quando estiver na etapa Partida, o caminheiro deve ser incentivado a comprometer-se com uma causa pessoal, que envolva uma acção mais continuada no tempo (mínimo de 3 meses). Essa acção deve privilegiar um esforço de cooperação ou de voluntariado com uma instituição ou organização escolhida pelo caminheiro o que poderá implicar uma menor participação do caminheiro na vida do Clã e da sua Tribo e não deve ser penalizado por isso. De facto, deverá ser realizada preferencialmente fora do Agrupamento, embora seja possível que ocorra dentro dele. No entanto, é mais enriquecedor o Desafio ser realizado noutro ambiente, não se resumindo a uma Comissão de Serviço numa Secção, já que isto pode torná-lo redutor. O objectivo do Desafio é permitir que o caminheiro faça do Servir o seu lema, de forma ambiciosa e individual. Estando na última etapa do sistema de progresso e, provavelmente, no seu último ano no Clã, está a preparar-se activamente para a Cerimónia da Partida. Assim sendo, este ano, o caminheiro deve, cada vez mais, transpor o que aprendeu e cresceu no Clã para a sua vida pessoal, fora do Movimento. O caminheiro deve tentar provar ao Clã que merece receber a Cerimónia da Partida, pois é um exemplo a seguir na sociedade. Este Desafio deve ser apresentado e partilhado no Clã, na medida em que o caminheiro

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manualdodirigente deve ir dando testemunho da sua experiência. Todo o Clã é incentivado a crescer com esta experiência de um dos seus elementos. Para o caminheiro, o Desafio constitui uma excelente oportunidade concluir o seu progresso.

e)A Cerimónia da Partida O final do percurso pessoal de um caminheiro deverá ser assinalado pela Cerimónia da Partida, se o Clã o acha merecedor. Este momento que deve constituir o grande objectivo para o qual se prepara ao longo de toda a sua passagem pelo Clã. Quando o caminheiro termina a sua última etapa, ou seja, quando completa todos os objectivos educativos definidos para a IV Secção (objectivos educativos finais), estará pronto para fazer a sua Partida do Clã, reconhecendo-se assim que completou a totalidade do percurso educativo proposto aos Escuteiros do CNE. A Partida de um caminheiro dá-se depois da sua auto-proposta (quando ele se sente apto e preparado) e tem que ser aprovada em Conselho de Clã. Ao aprovar a Partida, o Clã está a assumir que envia o jovem para a sociedade e para o mundo porque reconhece nele valores, conhecimentos e aptidões dignos de um verdadeiro caminheiro, activo na sociedade e capaz de contribuir para um mundo melhor e mais justo. Tal como a Promessa, a partida não se “dá”. O caminheiro tem que a merecer. Tem que ser o tal exemplo de Homem que a sociedade precisa. Se ao longo de todo o seu percurso no Clã, o caminheiro não se envolveu no seu progresso pessoal, se não contribuiu para a vida da Tribo e do Clã, se não participou e não cresceu, então, o Clã não lhe deve dar a Partida, pois não será este o exemplo de cidadão descomprometido e pouco envolvido que quer enviar para a sociedade. O facto de atingir 22 anos, não dá “direito” á Partida, apenas diz que é hora e sair do Clã. É preciso marcar a diferença entre sair do Clã (porque desistiu, porque atingiu a idade, etc…) e Partir do Clã, ou seja, ser enviado para a sociedade pelos seus pares, porque o consideram exemplo a seguir.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Físico - Cá defende Máugli dos Bândarlougues F1. Participo em actividades físicas que me ajudam a ser mais ágil e habilidoso.

Físico - Cá muda de pele F2.Conheço os principais órgãos do meu corpo, sei onde estão localizados e para que servem. F3.Conheço as principais diferenças do corpo das meninas e dos meninos.

Físico - Máugli brinca com Cá F4. Sei o que devo e não devo comer e que tenho de descansar. F5. Cuido do meu corpo e do meu aspecto.

F6. Sei que há comportamentos e produtos que me podem fazer mal.

Afectivo - Racxa acolhe Máugli no Covil A1. Escolho as minhas amizades e dou-me bem com todos. A2. Escuto e respeito os mais velhos, tendo os pais como exemplo. A3. Distingo aquilo que gosto e não gosto e consigo falar sobre isso. A4. Sei que meninos e meninas se comportam de maneira diferente e respeito isso.

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Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Afectivo - Racxa defende Máugli de Xer Cane A5. Sou capaz de falar daquilo que sinto.

Afectivo - Racxa ama Máugli como ele é A6. Sei quais são as minhas qualidades e os meus defeitos. A7. Esforço-me por ser melhor.

A8. Esforço-me por fazer tudo, mesmo quando tenho medo ou acho que não sou capaz.

Carácter - Bálu ensina a Lei da Selva C1. Sei a Lei e as Máximas da Alcateia e percebo o que querem dizer. C2.Tenho em conta a opinião dos mais velhos quando tomo decisões. C3. Participo em actividades que me ajudam a aprender coisas novas.

Carácter - Bálu ajuda a cumprir a Lei C4. Cumpro as tarefas que me são dadas, porque sei que isso é importante para todos. C5.Não desisto, mesmo quando as tarefas são difíceis. C6. Reconheço que as minhas acções têm consequências.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Carácter - Bálu orgulha-se de Máugli C7. Defendo o que me parece certo de forma alegre e calma. C8.Mostro, pelas minhas acções, que conheço a Lei e as Máximas da Alcateia.

Espiritual - Hathi conta a história de Tha E1. Conheço as primeiras histórias da Bíblia. E2. Sei como Jesus nasceu e que Ele quer ser o meu melhor amigo. E3.Sei que a Igreja é uma família a que eu pertenço.

Espiritual - Hathi guarda toda a Sabedoria da Selva E4. Sei que a oração diária é a maneira de eu falar com Jesus. E5. Imito Jesus, porque sei que ele é um exemplo a seguir. E6. Identifico diferentes religiões.

Espiritual - Máugli aprende com Hathi a Sabedoria da Selva E7. Respeito a Criação de Deus [pessoas e Natureza]. E8. Falo de Jesus aos meus amigos e explico-lhes porque é que Ele é importante para mim.

Intelectual- Máugli e Bàguirà caçam juntos I1. Proponho à Alcateia temas novos para pesquisar.

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Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

I2. Sei onde procurar e guardar novas informações. I3. Sou capaz de escolher o que mais gostava de fazer e aprender.

Intelectual - Bàguirà responsabiliza Máugli I4. Sou desembaraçado e uso as coisas que aprendo para resolver problemas. I5. Sei dizer quando há um problema e o que é preciso fazer para o resolver.

Intelectual - Bàguirà defende Máugli na Rocha do Conselho I6. Gosto de imaginar e fazer coisas novas. I7.Sou capaz de apresentar e explicar aquilo que imagino.

Social - Àquêlà orienta as reuniões na Rocha do Conselho S1.Conheço as regras de boa educação que me fazem dar bem com os outros. S2. Participo da melhor vontade em todas as actividades. S3. Respeito aquilo que é de todos.

S4. Não me aborreço quando perco nas votações e nos jogos.

Social - Àquêlà ajuda Fao S5. Procuro ser útil aos outros no meu dia-a-dia.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

S6. Sou capaz de escutar e dar importância às opiniões dos outros, aguardando a minha vez de falar.

Social - Àquêlà ajuda Máugli a guiar os búfalos S7. Sou capaz de trabalhar com os outros. S8. Sou amigo dos outros quando sou eu a mandar.

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Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

Área de Desenvolvimento Físico (Cá) Cá, a pitão a quem os Bândarlougues chamam 'minhoca amarela sem pernas', é um dos animais da Selva com mais destreza física: para ela, praticamente não há obstáculos. Embora possua um carácter dúbio, acaba, no Livro da Selva, por se tornar profundamente amiga de Máugli. Conhece-o quando luta para o salvar do rapto dos Bândarlougues (1), satisfaz-lhe a curiosidade quanto às suas transformações físicas (2) e acaba por brincar frequentemente com ele, auxiliando-o a desenvolver a sua agilidade e a manter comportamentos saudáveis (3).

1 Desempenho: Cá defende Máugli dos Bândarlougues.

“Cá mal acabara de escalar a muralha ocidental (…) e enroscou-se e desenroscou-se uma ou duas vezes para se certificar de que todos os palmos do seu comprido corpo estavam em boa forma. (…) O primeiro golpe foi dirigido para o centro da multidão que envolvia Bálu – foi despedido de boca fechada, em silêncio, e não foi preciso outro. Os macacos dispersaram aos gritos de: – Cá! É Cá! Fugi! Fugi! Máugli voltou-se e viu a cabeça do grande pitão balouçando-se um palmo acima da sua. – Este é então o homúnculo – disse Cá. (…) Acautela-te, homenzinho, que te não tome por macaco, ao crepúsculo, quando tiver mudado de pele. – Somos o mesmo sangue, eu e tu – respondeu Máugli. – Recebo a vida de tuas mãos esta noite. A minha caça será a tua caça, se alguma vez tiveres fome, ó Cá.” O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 69-70, 72-73

F1. Participo em actividades físicas que me ajudam a ser mais ágil e habilidoso.

2 Auo-conhecimento: Cá muda de pele.

“Cá, a grande jibóia das rochas, mudara a pele talvez pela ducentésima vez desde que nascera; e Máugli, que nunca se esqueceu de que devera a vida a Cá, pela acção de uma noite nas Moradas Frias, de que talvez vos lembreis, foi felicitá-la. A muda de pele torna a serpente caprichosa e deprimida até que a pele nova comece a reluzir e a ter bonito aspecto. (…) – É perfeita até às escamas dos olhos – disse Máugli baixinho, brincando com a pele velha. – É estranho ver a cobertura da própria cabeça aos próprios pés! – Sim, mas a mim faltam-me os pés – disse Cá. – (…) Que te parece a minha capa nova? Máugli correu a mão de cima a baixo pelo axadrezado em diagonal do enorme dorso. – A tartaruga marinha tem o dorso mais duro, mas menos vistoso – disse ele. – A rã, que tem o meu nome, é mais vistosa, mas menos dura. É muito linda à vista.” O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, pp. 105-106

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Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

F2. Conheço os principais órgãos do meu corpo, sei onde estão localizados e para que servem. F3. Conheço as principais diferenças do corpo das meninas e dos meninos.

3 Bem-estar físico: Máugli brinca com Cá.

“– Vou-te levar eu – disse Máugli, e curvou-se a rir, para erguer a secção média do grande corpo de Cá , exactamente onde o tronco era mais grosso (…). Começou então o habitual jogo de todas as noites – o rapaz, no vigor da sua grande força, e o Pitão, na sua esplêndida pele nova, erguidos um em frente do outro para uma sessão de luta –, prova de vista e de força. Cá podia, evidentemente, esborrachar uma dúzia de Máuglis, se se não contivesse; mas jogava com cautela, e nunca soltava um décimo da sua força. Desde que Máugli tinha robustez suficiente para aguentar um pouco de tratamento duro, Cá ensinara-lhe o jogo e este exercitava-lhe os membros como nenhum outro.” O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, p. 106

F4. Sei o que devo e não devo comer e que tenho de descansar. F5. Cuido do meu corpo e do meu aspecto. F6. Sei que há comportamentos e produtos que me podem fazer mal.

Área de Desenvolvimento Afectivo: Racxa Na idade dos lobitos, a família (e sobretudo os educadores, por norma os pais) desempenha um papel fulcral. Por essa razão, optámos nesta área por uma das figuras parentais que surge no Livro da Selva: Racxa, a Mãe Loba, que adopta Máugli incondicionalmente, mostrando como podemos dar-nos bem mesmo com os que são diferentes (1), defendendo-o de Xer Cane (2) e amando-o com todo o seu coração (3).

1 Relacionamento e sensibilidade: Racxa acolhe Máugli no Covil.

“– Que pequenino! Que nuzinho e que ousado! – disse brandamente Mãe Loba. (…) – Eia! Está a comer com os outros. Este é então um cachorro de homem. (…) Pai Lobo disse-lhe gravemente: – (…) O cachorro tem de ser apresentado à alcateia. Queres ainda conservá-lo, Mãe? – Conservá-lo! – disse ela, arquejante. – Chegou nu, de noite, só e esfomeado; todavia, não tinha medo! (…) Se o quero conservar? Pois que dúvida? Está quieto, rãzinha.” O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 16, 19

A1. Escolho as minhas amizades e dou-me bem com todos. A2. Escuto e respeito os mais velhos, tendo os pais como exemplo. A3. Distingo aquilo de que gosto e não gosto e consigo falar sobre isso. A4. Sei que meninos e meninas se comportam de maneira diferente e respeito isso..

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Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

2 Equilíbrio emocional: Racxa defende Máugli de Xer Cane.

“O rugido do tigre encheu o covil como um trovão. Mãe Loba sacudiu de si os lobitos e avançou dum salto, com olhos que no escuro lembravam duas luas verdes, a desafiar o olhar chamejante de Xer Cane. – Sou eu, Racxa [o Demónio], que respondo. – O cachorro de homem é meu, Langri – meu e só meu! E ninguém o matará. Viverá para correr com a alcateia e caçar com a alcateia; e no fim, repara bem, caçador de cachorrinhos nus, papa-rãs, mata-peixes – caçar-te-á a ti. E agora retira-te, senão, pelo sâmbar que matei (eu não como gado morto de fome), vais voltar para a tua mãe, fera queimada da selva, mais coxo do que vieste ao mundo! Vai-te! O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 18-19

A5. Sou capaz de falar daquilo que sinto.

3 Auto-estima: Racxa ama Máugli como ele é.

“– Agora – disse [Máugli] –, vou ter com os homens. Mas antes preciso dizer adeus a minha Mãe. – E dirigiu-se para o covil onde ela vivia com Pai Lobo, e chorou-lhe sobre o pêlo (…). – Não te demores – disse Mãe Loba –, meu filho nuzinho, porque, ouve bem, filho de homem, tive-te mais amor do que a qualquer dos meus lobitos. – Com certeza virei – disse Máugli –, e quando vier será para estender a pele de Xer Cane sobre a rocha do conselho. O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 39-40

A6. Sei quais são as minhas qualidades e os meus defeitos. A7. Esforço-me por ser melhor. A8. Esforço-me por fazer tudo, mesmo quando tenho medo ou acho que não sou capaz.

Área de Desenvolvimento do Carácter (Bálu) Bálu é, no Livro da Selva, o animal responsável pelo desenvolvimento do carácter de Máugli. De facto, é ele que ensina os preceitos da Lei da Jangal (que, na Iª secção, está corporizada na Lei e nas Máximas do Lobito). Assim, ele ensina a Máugli a Lei (1), ensina-o a cumpri-la da melhor forma, pensando no que faz e não desistindo (2) e orgulha-se da aprendizagem do 'Cachorro de Homem', que se revela particularmente respeitador e capaz (3).

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Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

1 Autonomia: Bálu ensina a Lei da Selva.

“Bálu, o mestre da Lei, ensinou-lhe as leis dos bosques e das águas: a distinguir um ramo podre dum são; a falar cortesmente às abelhas silvestres quando encontrasse uma colmeia destas a cinquenta pés do solo; o que havia de dizer ao morcego Mangue, quando o importunasse nos ramos ao meio-dia, e a adverti as cobras-d'água, nos lagos, antes de mergulhar no meio delas. (…) Depois Máugli aprendeu também o grito de caça do forasteiro, que tem de se repetir com força até obter resposta, todas as vezes que um dos moradores da Selva caça fora do seu próprio terreno. Quer dizer em tradução: «Daime licença de caçar aqui porque tenho fome.» E a resposta é: «Caça então para comer, mas não por prazer».” O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 46-47

C1. Sei a Lei e as Máximas da Alcateia e percebo o que querem dizer. C2. Tenho em conta a opinião dos mais velhos quando tomo decisões. C3. Participo em actividades que me ajudam a aprender coisas novas.

2 Responsabilidade: Bálu ajuda a cumprir a Lei.

“Tudo isto vos mostrará quanto Máugli tinha de aprender de cor, e ele aborrecia-se deveras a repetir a mesma coisa mais duma centena de vezes; mas, como Bálu dissera um dia a Bàguirà depois de esbofetear Máugli, que fugira zangado: – Um cachorro de homem é cachorro de homem e precisa de aprender toda a Lei da Selva. – Mas lembra-te de como ele é pequeno – disse a Pantera Negra, que teria estragado Máugli com mimo, se a deixassem. – Como poderá ele reter tudo o que dizes naquela pequenina cabeça? – Há por acaso na selva coisa tão pequena que se não possa matar? Não. É por isso que lhe ensino estas coisas, e é por isso que lhe bato, com brandura, quando se esquece. (…) Mais vale que ele seja ferido da cabeça aos pés por mim, que o amo, do que se perca por ignorância – respondeu Bálu muito sério.” O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 47

C4. Cumpro as tarefas que me são dadas, porque sei que isso é importante para todos. C5. Não desisto, mesmo quando as tarefas são difíceis. C6. Reconheço que as minhas acções têm consequências.

3 Coerência: Bálu orgulha-se de Máugli. 342

“– Sus! Sus! Sus! Sus! Illo! Illo! Illo, olha cá para cima, Bálu da Alcateia de Seiôuni! (…) Vi Máugli entre os Bândarlougue. Ordenou-me que to dissesse. (…) – Papo cheio e sono profundo te desejamos, Tchill – disse Bàguirà. – Hei-de lembrar-me de ti logo que matar e reservarei a cabeça para ti só, ó modelo de milhafres!


Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

– Nada! Não há de quê. O rapaz lembrou-se da palavra-mestra. Eu não podia fazer outra coisa. – E Tchill subiu às voltas para o seu poiso. – Não se esqueceu de se servir da língua – disse Bálu, com um risinho de orgulho. – Imagine-se uma pessoa tão jovem a lembrar-se da palavra-mestra das aves enquanto o arrastavam através das árvores!” O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 60-61

“– Estás ferido? – disse Bálu, abraçando-o brandamente. – Estou cheio de dores e de fome e bastante magoado; mas, oh, muito mal vos trataram, irmãos! Estais feridos. (…) – Não é nada, não é nada, se tu estás salvo, meu orgulho de todas as rãzinhas – choramingou Bálu!” O Livro da Selva, A caçada de Cá, p. 72

C7. Defendo o que me parece certo de forma alegre e calma. C8. Mostro, pelas minhas acções, que conheço a Lei e as Máximas da Alcateia.

Área de Desenvolvimento Espiritual (Hati) Hati, o elefante, é, no Livro da Selva, o animal que domina todos os conhecimentos sobre a Jangal, sendo respeitado por todos por ser sensato e bom conselheiro. Ele é o fiel depositário de toda a Sabedoria da Selva, que apresenta nas histórias maravilhosas que conta e que permitem aos bichos compreender o mundo e sentir-se uma família unida. Uma delas é da criação de tudo o que existe e da forma como a selva é uma família (1). A Sabedoria da Selva está ainda repleta de valores morais (que o lobito descobre à medida que aprofunda o conhecimento sobre Jesus) ligados ao bem e à tolerância (2). São todos estes ensinamentos que Hati transmite a todos os bichos e a Máugli, para que em cada dia respeitem o mundo em que vivem e compreendam o que é, de facto, importante (3).

1 Descoberta: Hati conta a história de Tha.

“– …Calai-vos aí nas margens que eu vou contar-vos a história. (…) Sabeis, meus filhos – começou –, de todas as coisas, o homem é a que mais temeis. (…) E não sabeis porque temeis o Homem? – continuou Hati. – Eis a razão: no começo da Selva, e ninguém sabe quando isso foi, nós os da Selva andávamos juntos sem receio uns dos outros (…) E o Senhor da Selva era Tha, o Primeiro dos Elefantes. Este extraiu a Selva das águas profundas com a tromba; e onde fez sulcos no chão com os dentes aí correram os rios; e onde bateu com a pata, apareceram lagos de boa água; e quando soprava pela tromba, assim, as árvores caíam. Foi deste modo que a Selva foi feita, e assim me contaram a história. (…) Nesses tempos não havia trigo, nem melões, nem pimenta, nem cana-deaçúcar, e tão pouco existiam pequenas choupanas como as que todos conheceis; e os

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Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

moradores da Selva nada sabiam do Homem, mas viviam na Selva juntos, formando um só povo.” O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, p. 18

E1. Conheço as primeiras histórias da Bíblia. E2. Sei como Jesus nasceu e que Ele quer ser o meu melhor amigo. E3. Sei que a Igreja é uma família a que eu pertenço.

2 Aprofundamento: Hati guarda toda a Sabedoria da Selva. “Pedira as palavras-mestras a Hati, o elefante selvagem, que sabe todas as coisas.” A caçada de Cá, 49

“O calor continuava e devorava toda a humidade, até que por fim o canal maior do Ueinganga era o único que levava um fiozinho de água entre as suas margens mortas; e quando o elefante bravo, Hati, que vive cem anos e mais, viu aparecer, precisamente no meio do rio, uma crista de rocha extensa, magra e azul, sabia que estava a ver a Rocha da Paz, e, sem mais delongas, ergueu a tromba e proclamou a Trégua da Sede (…). Pela Lei da Selva é réu de morte quem matar nos bebedouros logo que se tenha declarado a Trégua da Sede. (…) Os moradores da Selva aproximavam-se, famintos e exaustos, do rio sumido – tigre, urso, veado, búfalo e porco, todos em conjunto, bebiam das águas conspurcadas (…). – Homem! – disse Xer Cane tranquilamente. – Matei um, há uma hora. (…) Tinha esse direito na minha noite, como sabes, ó Hati. – Xer Cane falava quase cortesmente. – Sei, sim – respondeu Hati; e após breve pausa: – Já saciaste a sede? (…) Então vai-te. O rio é para beber e não para conspurcar. Ninguém senão o Tigre Coxo seria capaz de se gabar do seu direito nesta época em que todos nós sofremos. (…) – Qual é o direito de Xer Cane, ó Hati? [– perguntou Máugli.] (…) – É uma história velha – disse Hati –, uma história mais velha que a Selva (…). Hati avançou até lhe dar a água pelos joelhos no pego do Penedo da Paz. Embora magro, enrugado e de presas amarelas, tinha o ar do que a Selva via nele – o seu senhor.” O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, pp. 11, 16-17

E4. Sei que a oração diária é a maneira de eu falar com Jesus. E5. Imito Jesus, porque sei que Ele é um exemplo a seguir. E6. Identifico diferentes religiões.

3 Serviço: Máugli aprende com Hati a Sabedoria da Selva. 344

“– E assim aconteceu o Primeiro dos Tigres ensinou o Pelado a matar, e sabeis o mal que isso tem causado desde então a toda nossa gente, por meio do laço, da cova, da


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oculta armadilha, do pau voador e da mosca mordente que saiu do fumo branco (Hati referia-se à espingarda), e Flor Rubra que nos faz fugir para campo aberto (…). E só quando paira um grande Medo sobre todos, como agora, podemos nós, os da Selva, desprezar os nossos pequenos medos, e reunir-nos num só lugar, como agora. (…) – É só por uma noite que o Homem teme o Tigre? – perguntou Máugli. – Só durante uma noite – disse Hati. – Mas eu.. nós, toda a Selva sabe que Xer Cane mata Homem duas e três vezes numa lua. – Assim é. Então ele salta-lhe de trás e volta a cabeça para o lado, porque está cheio de medo. Se o Homem o fitasse, ele fugiria. (…) – Oh! – disse Máugli para consigo, virando-se na água. – Agora vejo a razão por que Xer Cane me mandou olhar para ele! De nada lhe valeu, pois não conseguiu aguentar-me o olhar (…). – Os homens sabem desta história? – perguntou. – Ninguém sabe senão os Tigres e nós, os Elefantes… os descendentes de Tha. Agora vós, os da beira da água, a ouvistes, e tenho dito. Hati mergulhou a tromba na água em sinal de ponto final.” O Segundo Livro da Selva, Como nasceu o medo, pp. 23-24

E7. Respeito a Criação de Deus (pessoas e Natureza). E8. Falo de Jesus aos meus amigos e explico-lhes porque é que Ele é importante para mim.

Área de Desenvolvimento Intelectual (Bàguirà) O lobito é, por inerência, muito curioso: interessa-se por tudo, adora descobrir coisas novas. Bàguirà, a pantera negra que, com a sua inteligência e imaginação, protege Máugli, contribuindo decisivamente para a sua entrada na Alcateia de Seiôuni (3), é, no Livro da Selva, o animal que ajuda o 'Cachorro de Homem' a trilhar novos caminhos. Assim é ela que lhe ensina os segredos da caça, ajudando-o a escolher o que é mais conveniente e interessante (1), e a usar o que aprende para ser melhor e mais capaz (2).

1 Procura do conhecimento: Máugli e Bàguirà caçam juntos.

“– Espera – disse Bàguirà, atirando-se para a rente quanto podia num soberbo salto. A primeira coisa a fazer quando a pista se não entende é dar um lanço para diante, sem deixar as próprias pegadas no chão. Bàguirà voltou-se ao cair em terra e enfrentou Máugli, bradando: – Aqui vem outra pista ao encontro dele. O pé é mais pequeno, o da segunda pista, e os dedos virados para dentro! Máugli aproximou-se a correr e observou a nova pista. – É o pé de um caçador Gonde – disse. – Olha, aqui arrastou o arco sobre a erva. Foi a razão por que a primeira pista se desviou tão de repente. O Pé Grande ocultou-se do Pé Pequeno. – É verdade – disse Bàguirà. – Agora, para não desmancharmos as pegadas ao cruzar

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o rasto um do outro, cada um de nós siga uma pista. (…) Continuaram a correr outra meia milha, mantendo sempre a mesma distância pouco mais ou menos, até que Máugli, que não levava a cabeça tão perto do chão como Bàguirà, exclamou: – Já se encontraram. Boa Caça.” O Segundo Livro da Selva, O acicate do rei, pp. 118, 120

I1. Proponho à Alcateia temas novos para pesquisar. I2. Sei onde procurar e guardar novas informações. I3. Sou capaz de escolher o que mais gostava de fazer e aprender.

2 Resolução de problemas: Bàguirà responsabiliza Máugli.

“– Eu não vi senão uma grande serpente a descrever círculos caprichosos até que escureceu. E tinha o focinho todo ferido. Ora! Ora! – Máugli – disse Bàguirà, colérica –, tinha o focinho ferido por tua causa; assim como eu tenho as orelhas, ilhargas e patas doridas, e Bálu o pescoço e as espáduas, por tua causa. Nem Bálu nem Bàguirà poderão ter gosto na caça durante muitos dias. (…) E tudo isto, cachorro de homem, por teres brincado com os Bândarlougues. – Verdade, é verdade – disse Máugli, pesaroso. – Sou um malvado cachorro de homem, e trago cá dentro o coração muito triste. (…) Bálu não queria meter Máugli em mais apuros, mas também não podia torcer a Lei; portanto, tartamudeou: – O arrependimento não suspende o castigo. Mas lembra-te, Bàguirà, de que ele é pequenino. – Descansa que não me esqueço, mas portou-se mal, e tem de ser punido. Máugli, tens alguma coisa a alegar? – Nada. Procedi mal. Tu e Bálu estais feridos. É justo.” O Livro da Selva, A caçada de Cá, pp. 75-76

I4. Sou desembaraçado e uso as coisas que aprendo para resolver problemas. I5. Sei dizer quando há um problema e o que é preciso fazer para o resolver.

3 Criatividade e Expressão: Bàguirà defende Máugli na Rocha do Conselho.

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“Uma sombra negra caiu dentro do círculo. Era Bàguirà, a Pantera Negra, preta retinta (…). – Ó Àquêlà, e vós, gente livre – ronronou –, não tenho direito a participar na vossa reunião; mas a Lei da Selva declara que, havendo dúvida, e não sendo questão de morte a respeito dum lobito novo, a vida desse lobito pode comprar-se por certo preço. E a Lei não diz quem pode ou não pode pagar esse preço. Digo bem? (…) Sabendo que não tenho direito de falar aqui, peço-vos licença.


Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

– Fala, fala – bradaram vinte vozes – Matar um lobito nu é vergonha. (…) Às palavras de Bálu acrescento eu agora um touro, e por sinal bem gordo, morto de fresco, a menos de meia milha daqui, se quiserdes admitir o cachorro de homem, de acordo com a Lei. É coisa difícil?” O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 23-24

I6. Gosto de imaginar e de fazer coisas novas. I7. Sou capaz de apresentar e explicar aquilo que imagino.

Área de Desenvolvimento Social (Àquêlà) Àquêlà, o Lobo Solitário que chefia a Alcateia de Seiôuni, é, para Máugli, o exemplo do guia. De facto, ele consegue orientar de forma correcta e respeitosa as reuniões na Rocha do Conselho (1) e sabe discernir como pode ser útil: quando, já velho, é obrigado a ceder o seu lugar de chefe da Alcateia a outro, tem humildade suficiente para ficar e ajudar Fao, que agora é o responsável pelo Povo Livre (2); quando Máugli mata Xer Cane, ele desempenha na perfeição as tarefas que Máugli guardou para ele, não impondo ditatorialmente a sua autoridade (3).

1 Exercer activamente cidadania: Àquêlà orienta as reuniões na Rocha do Conselho.

“Àquêlà, o grande lobo cinzento solitário, que governava a alcateia por força e astúcia, jazia a todo o comprido no seu rochedo (…). Por fim – e as cerdas do pescoço de Mãe Loba retesaram-se ao chegar o momento – Pai Lobo empurrou «Máugli, a Rã», como lhe chamavam, para o centro (…). Ouviu-se por detrás do rochedo um rugido abafado – a voz de Xer Cane bradando: – O cachorro é meu. Entregai-mo. (…) – Àquêlà nem sequer mexeu as orelhas e disse apenas: – Reparai bem, ó lobos! Que tem a gente livre que ver com as ordens de quem quer que seja, senão do Povo Livre? Reparai bem! (…) Quem defende este cachorro? (…) – O cachorro de homem? O cachorro de homem? – disse [Bálu]. – Falo eu pelo cachorro de homem. (…) – Precisamos doutro ainda – disse Àquêlà. – Bálu já falou, que é mestre dos nossos lobitos novos. Quem o acompanha? Uma sombra negra caiu dentro do círculo. Era Bàguirà (…). – Leva-o – disse ele a Pai Lobo –, e cria-o como convém a um da gente livre.” O Livro da Selva, Os irmãos de Máugli, pp. 20, 22-23, 25

S1. Conheço as regras de boa educação que me fazem dar bem com os outros. S2. Participo da melhor vontade em todas as actividades. S3. Respeito aquilo que é de todos. S4. Não me aborreço quando perco nas votações e nos jogos.

347


Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

2 Solidariedade e tolerância: Àquêlà ajuda Fao.

“Os lobos novos, os filhos da Alcateia de Seiôuni, que se dissolvera, prosperavam e aumentavam, e quando atingiram o número aproximado de quarenta elementos de cinco anos, mas sem chefe, de voz plena e pés limpos, Àquêlà disse-lhes que se deviam juntar para seguir a Lei e andar sob as ordens de um chefe, como competia ao Povo Livre. (… ) Quando Fao, filho de Faona (o pai deste era o Pisteiro Cinzento dos bons tempos de Àquêlà) se guindou à chefia da Alcateia, em sucessivos combates, de harmonia com a Lei da Selva, e as velhas vozes e canções começaram a ouvir-se mais uma vez sob as estrelas, Máugli apareceu na Rocha do Conselho para recordação. Quando lhe apeteceu falar, a Alcateia escutou até ao fim (…). Fao e Àquêlà estavam juntos sobre a rocha, e abaixo deles, de nervos tensíssimos, sentavam-se os outros.” O Segundo Livro da Selva, Mabecos, pp. 156-157

S5. Procuro ser útil aos outros no meu dia-a-dia. S6. Sou capaz de escutar e dar importância às opiniões dos outros, aguardando a minha vez de falar.

3 Interacção e cooperação: Àquêlà ajuda Máugli a guiar os búfalos.

“– Àquêlà! Àquêlà! – disse Máugli, batendo as palmas. – Eu podia saber que não te esquecerias de mim. Temos uma grande tarefa em mão. Divide a manada em duas, Àquêlà, as vacas e vitelos a um lado e os touros e búfalos do arado a outro. (…) –Que ordens dás? – disse Àquêlà, ofegante. – Já tentam misturar-se de novo. Máugli guindou-se para cima de Rama. – Toca os machos para a esquerda, Àquêlà. (…) Muito bem! Outra carga, e tê-los-emos a andar como queremos. Cautela, agora – cautela, Àquêlà. Um estalo dos queixos a mais e os bois arremetem. Huiah! Isto é tarefa mais arriscada que perseguir gamos pretos. Sabias que estes bichos podiam andar tão depressa? – bradou Máugli. – Também.. também já os cacei nos meus bons tempos – arquejou Àquêlà na poeirada. – Viro-os agora para a Selva? – Pois sim! Vira-os depressa!” O Livro da Selva, Tigre! Tigre!, pp. 94-95

S7. Sou capaz de trabalhar com os outros. S8. Sou amigo dos outros quando sou eu a mandar.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Físico - Desempenho F1. Pratico actividades físicas em que testo as minhas capacidades e torno-me mais ágil, flexível e desembaraçado.

Físico - Auto-conhecimento F2. Aceito que o meu corpo está a mudar e respeito os diferentes ritmos de desenvolvimento quando me comparo com os outros. F3. Conheço o diferente ritmo de crescimento dos rapazes e raparigas e respeito o espaço próprio de cada um.

Físico - Bem-estar físico F4. Sei equilibrar as minhas actividades físicas com o descanso e uma alimentação saudável. F5. Esforço-me por ter bom aspecto e tenho hábitos regulares de higiene que contribuem para a minha saúde. F6. Identifico e evito comportamentos e substâncias prejudiciais à saúde.

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade A1. Comprometo-me com o bemestar e crescimento do grupo, mantendo uma relação amigável com os outros elementos. A2. Valorizo a minha família e assumo o meu papel no seio da mesma. A3. Expresso interesse e espírito crítico por uma forma de arte. A4. Aceito as diferentes formas de demonstrar sentimentos, nos rapazes e nas raparigas.

349


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Afectivo - Equilíbrio emocional A5. Reconheço e exprimo as minhas emoções com naturalidade e sem magoar os outros.

Afectivo - Auto-estima A6. Assumo as minhas qualidades e defeitos. A7. Reconheço os meus erros e procuro corrigi-los. A8. Empenho-me em ultrapassar as minhas dificuldades e melhorar tudo o que tenho de bom.

Carácter - Autonomia C1. Conheço e compreendo a Lei do Escuta e os Princípios. C2. Assumo as minhas opiniões, participando activamente nas decisões que me dizem respeito. C3. Escolho e participo em actividades que me ajudam a crescer.

Carácter - Responsabilidade C4. Desempenho o papel que me é atribuído dentro dos grupos a que pertenço com responsabilidade e empenho. C5. Não desanimo perante as dificuldades e procuro sempre aprender com elas. C6. Prevejo as consequências que as minhas acções/ decisões têm na vida dos grupos de que faço parte.

350

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Carácter - Coerência C7. Defendo as ideias e comportamentos que me parecem correctos. C8. Demonstro que os meus comportamentos diários estão de acordo com a Lei do Escuta e os Princípios.

Espiritual - Descoberta E1. Conheço e compreendo a história dos heróis que procuraram alcançar a Terra Prometida, a partir da Aliança. E2. Conheço e percebo a mensagem contida nas parábolas e milagres de Jesus Cristo. E3. Descubro que somos Igreja e que nela todos temos um papel a desempenhar.

Espiritual - Aprofundamento E4. Sei que me relaciono com Deus sempre que faço oração pessoal e participo na oração comunitária. E5. Integro-me cada vez mais na minha comunidade paroquial, através da catequese, celebrando os sacramentos que a Igreja me propõe. E6. Identifico as principais diferenças e semelhanças entre as religiões.

Espiritual - Serviço E7. Cuido e protejo a Natureza, consciente de que isso é importante para a vida das pessoas. E8. Falo da minha vivência em comunidade e convido outros a participar.

351


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Intelectual - Procura do conhecimento I1. Procuro descobrir o mundo que me rodeia, a partir das minhas experiências. I2. Conheço e utilizo diferentes meios de recolha da informação. I3. Descubro as minhas aptidões e aprofundo os assuntos que me interessam e podem ser úteis no futuro.

Intelectual - Resolução de problemas I4. Enfrento situações novas usando o que aprendi. I5. Consigo identificar, de forma organizada, as causas de um problema e propor soluções.

Intelectual - Criatividade e Expressão I6. Aceito desafios que me fazem imaginar e criar coisas diferentes. I7. Utilizo de modo criativo diferentes formas de expressar ideias e emoções.

Social - Exercer activamente cidadania S1. Dou exemplo de cumprimento das regras de boa convivência na comunidade. S2. Descubro a necessidade de participar nos vários grupos onde me integro. S3. Cuido do que é de todos.

S4. Aceito as derrotas em todas as situações, com respeito e sem desanimar.

352

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Social - Solidariedade e tolerância S5. Sou sensível às situações de necessidade no meio que me rodeia e procuro ser útil na sua resolução. S6. Sei manter um diálogo, apresentando os meus argumentos com entusiasmo e ouvindo os dos outros.

Social - Interacção e cooperação S7. Reconheço as vantagens de trabalhar em grupo e contribuo com os meus conhecimentos e o meu trabalho. S8. Demonstro que sei orientar respeitando as opiniões dos outros.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Físico - Desempenho F1. Testo de forma responsável os limites do meu corpo e pratico actividades físicas que me permitem conseguir um desenvolvimento equilibrado.

Físico - Auto-conhecimento F2. Aceito as características próprias do meu corpo e respeito as diferenças físicas entre as pessoas. F3. Reconheço que homens e mulheres têm características físicas diferentes e respeito os comportamentos e necessidades que vão surgindo.

Físico - Bem-estar físico F4. Faço escolhas saudáveis a nível da minha alimentação, repouso e actividades físicas. F5. Tomo as medidas necessárias para o meu bem-estar físico e ando aprumado. F6. Conheço os malefícios das substâncias e comportamentos de risco e evito-os.

354

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade A1. Valorizo as minhas relações afectivas e demonstro equilíbrio na gestão de conflitos. A2. Comprometo-me com o bemestar da minha família. A3. Reconheço que existem diversas sensibilidades estéticas e partilho os meus gostos. A4. Encaro com naturalidade a minha sexualidade e procuro integrá-la harmoniosamente na minha vida, respeitando-me a mim e aos outros.

Afectivo - Equilíbrio emocional A5. Ajo de forma ponderada e reflectida, respeitando os sentimentos dos outros. A6. Reconheço quando me excedo e esforço-me por corrigir o meu comportamento.

Afectivo - Auto-estima A7. Reconheço as características da minha personalidade. A8. Reconheço que erro e comprometo-me a melhorar as minhas características menos positivas. A9. Aceito as minhas próprias limitações, esforçando-me sempre por melhorar. A10. Conheço bem as minhas capacidades e invisto no meu desenvolvimento.

355


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Carácter - Autonomia C1. Escolho conscientemente as minhas referências e valores fundamentais. C2. Sou capaz de fazer opções e de reconhecer as suas implicações. C3. Estabeleço para mim, com regularidade, metas a atingir em várias áreas da minha vida.

Carácter - Responsabilidade C4. Correspondo à confiança que em mim depositam.

C5. Reconheço a importância das minhas tarefas, estabeleço prioridades e respeito-as. C6. Encaro os obstáculos sem desistir de encontrar soluções ou alternativas e reconhecendo as lições a tirar. C7. Assumo as minhas acções, aceitando as consequências das mesmas para mim ou para os grupos a que pertenço.

Carácter - Coerência C8. Partilho e defendo aquilo em que acredito de forma serena e fundamentada. C9. Ajo, em cada dia, de acordo com as convicções e referências que vou tomando para mim, tendo consciência do testemunho que dou aos outros

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Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Espiritual - Descoberta E1. Conheço e compreendo a vida dos profetas. E2. Conheço e percebo a vida de Jesus com os Apóstolos. E3. Reconheço que cada membro da Igreja é diferente e que isso é importante e enriquece a comunidade.

Espiritual - Aprofundamento E4. Vivo a oração como parte do meu quotidiano e participo nas celebrações comunitárias. E5. Conheço a perspectiva da Igreja sobre os temas principais a partir da fundamentação Bíblica. E6. Aprofundo as razões da minha fé no contacto com as outras religiões.

Espiritual - Serviço E7. Defendo a vida humana como um valor absoluto. E8. Sei o que é ser “Sal da Terra e Luz do Mundo” e ponho-me ao serviço dos outros.

357


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Intelectual - Procura do conhecimento I1. Procuro sempre aumentar os meus conhecimentos, diversificando as vivências. I2. Sei onde procurar a informação e selecciono-a de acordo com as necessidades. I3. Conheço as minhas aptidões, sou capaz de optar por uma área profissional ou de estudo e identificar outros domínios de interesse pessoal.

Intelectual- Resolução de problemas I4. Sei avaliar as experiências que vivo e utilizo o que aprendo de forma criativa nas novas situações que enfrento. I5. Analiso problemas, proponho soluções e escolho a mais adequada.

Intelectual- Criatividade e Expressão I6. Assumo o desafio de criar ideias e projectos inovadores em que relaciono os meus conhecimentos e gostos. I7. Apresento ideias e emoções de forma criativa, explorando diferentes técnicas e meios e adequando-as a quem me dirijo.

358

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Social - Exercer activamente cidadania S1. Conheço os meus deveres e direitos e promovo que, à minha volta, os outros os conheçam. S2. Participo activamente nas comunidades em que me insiro, intervindo na promoção de causas comuns. S3. Quando perco uma votação, aceito a decisão e trabalho nesse sentido.

Social - Solidariedade e tolerância S4. Identifico situações em que posso ser útil na resolução ou minimização de um problema social. S5. Participo, sozinho ou em equipa, na resolução ou minimização de um problema social. S6. Exponho as minhas ideias, respeitando e valorizando as dos outros.

Social - Interacção e cooperação S7. Valorizo as diferentes funções no grupo e desempenho o melhor possível aquelas que me são confiadas. S8. Respeito as necessidades do grupo, nunca sobrepondo a minha liderança.

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Físico - Desempenho F1. Praticar actividade física que promova o desenvolvimento e manutenção da agilidade, flexibilidade e destreza de forma adequada à sua idade, capacidade e limitações.

Físico - Auto-conhecimento F2. Conhecer e aceitar o desenvolvimento e amadurecimento do seu corpo com naturalidade. F3. Conhecer as características fisiológicas do corpo masculino e feminino e a sua relação com o comportamento e necessidades individuais.

Físico - Bem-estar físico F4. Cultivar um estilo de vida saudável e equilibrado – alimentação, actividade física e repouso –, adaptado a cada fase do seu desenvolvimento. F5. Cuidar e valorizar o seu corpo de acordo com os padrões de saúde, revelando aprumo. F6. Identificar e evitar, na vida quotidiana, os comportamentos de risco relacionados com a segurança física e consumo de substâncias.

360

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Afectivo - Relacionamento e sensibilidade A1. Valorizar e demonstrar sensibilidade nas suas relações afectivas, de modo consequente com a opção de vida assumida. A2. Respeitar a existência de várias sensibilidades estéticas e artísticas, formando a sua opinião com sentido crítico. A3. Assumir a própria sexualidade aceitando a complementaridade Homem / Mulher e vivê-la como expressão responsável de amor.

Afectivo - Equilíbrio emocional A4. Ser capaz de identificar, compreender e expressar as suas emoções, tendo em conta o contexto e os sentimentos dos outros.

Afectivo - Auto-estima A5. Reconhecer e aceitar as características da sua personalidade, mantendo uma atitude de aperfeiçoamento constante. A6. Valorizar as próprias capacidades, superando limitações e adoptando uma atitude positiva perante a vida.

361


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Carácter - Autonomia C1. Possuir e desenvolver um quadro de valores que são fruto de uma opção consciente. C2. Ser capaz de formular e construir as suas próprias opções, assumindo-as com clareza. C3. Mostrar-se responsável pelo seu desenvolvimento, colocando a si próprio objectivos de progressão pessoal.

Carácter - Responsabilidade C4. Demonstrar empenho e vontade de agir, assumindo as suas responsabilidades em todos os projectos que enceta, estabelecendo prioridades e respeitando-as. C5. Demonstrar perseverança nos momentos de dificuldade, procurando ultrapassá-los com optimismo. C6. Ser consequente com as opções que toma, assumindo a responsabilidade pelos seus actos.

Carácter - Coerência F-C7. Ser consistente e convicto na defesa das suas ideias e valores. C8. Dar testemunho, agindo em coerência com o seu sistema de valores.

362

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Espiritual - Descoberta E1. Conhecer e compreender o modo como Deus se deu a conhecer à humanidade, propondo-lhe um Projecto de Felicidade Plena [História da Salvação]. E2. Conhecer em profundidade a mensagem e a proposta de Jesus Cristo [Mistério da Encarnação e Mistério Pascal]. E3. Reconhecer que a pertença à Igreja é um sinal de Deus no mundo de hoje [Igreja Sacramento Universal de Salvação].

Espiritual - Aprofundamento E4. Aprofundar os hábitos de oração pessoal e assumir-se como membro activo da Igreja na celebração comunitária. E5. Integrar na sua vida os valores do Evangelho, vivendo as propostas da Igreja. E6. Conhecer as principais religiões distinguindo e valorizando a identidade da Igreja Católica.

Espiritual - Serviço E7. Testemunhar que a presença de Deus no mundo dignifica a vida humana e a Natureza. E8. Viver o compromisso Cristão como missão no mundo em todas as dimensões [humanas, sociais, económicas, culturais e políticas].

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Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Intelectual - Procura do conhecimento I1. Procurar de forma activa e continuada novos saberes e vivências, como forma de contribuir para o seu crescimento pessoal. I2. Conhecer e utilizar formas adequadas de recolha e tratamento de informação e, dentro dessas, distinguir o essencial do acessório. I3. Definir o seu itinerário de formação preocupando-se em mantê-lo actualizado.

Intelectual- Resolução de problemas I4. Adaptar-se e superar novas situações, avaliando-as à luz de experiências anteriores e conhecimentos adquiridos. I5. Analisar os problemas de forma crítica, sugerindo e aplicando estratégias de resolução dos mesmos.

Intelectual- Criatividade e Expressão I6. Ser capaz de utilizar conhecimentos, percepções e intuições na criação de novas ideias e obras, mantendo um espírito aberto e inovador. I7. Expressar ideias e emoções de forma lógica e criativa, adaptada ao[s] destinatário[s] e utilizando os meios adequados.

364

Reconhecimento pelo Conselho de Guias


Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

NOME

Área/Trilho/Objectivo

Conhecimento, Competência, Atitude

Reconhecimento pelo Conselho de Guias

Social - Exercer activamente cidadania S1. Conhecer e exercer os seus direitos e deveres enquanto cidadão.

S2. Participar activa e conscientemente nos vários espaços sociais onde se insere, intervindo de uma forma informada, respeitadora e construtiva. S3. Respeitar as regras democráticas e assumir como suas as decisões tomadas colectivamente.

Social - Solidariedade e tolerância S4. Assumir que é parte da sociedade onde se insere, agindo numa perspectiva de serviço libertador e de construção de futuro. S5. Usar de empatia na forma de comunicar com os outros, demonstrando tolerância e respeito perante outros pontos de vista.

Social - Interacção e cooperação S6. Mostrar capacidade de relacionamento e trabalho em equipa, contribuindo activamente para o sucesso do colectivo através do desempenho com competência do seu papel. S7. Assumir papéis de liderança, de forma equilibrada, tendo em conta as suas necessidades e as do grupo.

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Manuel Madeira

manualdodirigente

C.7

Relação Educativa

“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do chefe e do modo como ele os aplica.” in Auxiliar do Chefe Escuta, p44

C.7.0 O Adulto no Escutismo O adulto é um elemento essencial de qualquer pedagogia ou metodologia educativa, pois não há educação sem a sua presença.

Para se “funcionar educativamente, (…) é imprescindível que alguém (…) se resigne a ser adulto” in Fernando Savater, O Valor de Educar

No escutismo, o adulto é o garante da educação integral dos jovens da sua unidade; a sua missão não é mais do que educar, e educar através da aplicação do método criado por Baden-Powell, tendo em conta, no caso particular do Corpo Nacional de Escutas, o Evangelho de Jesus Cristo. Ser adulto no escutismo não pode resultar apenas do voluntarismo, nem ser encarado como algo apenas acessível a alguns escolhidos. Deve, pelo contrário, resultar de um encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o cumprimento de requisitos estabelecidos pela associação. Este encontro terá de se consubstanciar num compromisso que envolve formação contínua ao longo do ciclo de vida na associação.

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manualdodirigente I. Perfil do Animador Adulto O dirigente do CNE é um adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de trabalhar na implementação e desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquanto educador. Ao assumir este compromisso, assume-se uma missão de serviço com as devidas implicações – em termos de responsabilidades e de deveres – daí resultantes. Nestes termos, o adulto que adere ao CNE deverá, para além de ter idade, saúde e disponibilidade para desempenhar as suas responsabilidades:

CONHECIMENTOS (saber)

COMPETÊNCIAS (saber fazer)

ATITUDES (saber ser)

Ter conhecimentos e qualificação adequados à função que desempenha;

Ser capaz de assumir responsabilidades educativas, observando a Lei e os Princípios e aplicando o método escutista e o Projecto Educativo da secção em que trabalha;

Comprometer-se com a actualização contínua dos seus conhecimentos e investir na sua formação, manifestando uma atitude intelectual aberta e pró-activa;

Ser capaz de trabalhar com os seus elementos, motivando-os, jogando com eles e ajudando-os a trabalhar em conjunto e a crescer com os erros;

Ser um exemplo para os outros, manifestando maturidade em especial no que diz respeito à rectidão de carácter, às relações sociais de género e interculturais, ao desenvolvimento emocional e ao trabalho em grupo;

Conhecer e identificar-se com a Proposta Educativa do CNE, dominando o Projecto Educativo da secção em que trabalha; Conhecer as características do desenvolvimento dos seus elementos e as suas particularidades individuais, reconhecendo as capacidades de cada um e o meio em que se inserem; Saber ler a realidade do meio para adaptar com eficácia o método escutista; Conhecer técnicas de diagnóstico, planeamento e animação; Conhecer técnicas de avaliação e de gestão de conflitos;

368

Ter capacidades de observação, diálogo, liderança e animação; Garantir um ambiente seguro e equilibrado, aplicando correctamente a coeducação; Gerir o seu grupo a nível administrativo, financeiro e logístico; Ser capaz de identificar e minimizar o risco associado a cada actividade;

Assumir-se como cristão convicto, dando testemunho de fé e comprometendo-se activamente na sua comunidade; Orientar, sem se impor, pela sua postura e exemplo, minimizando os conflitos geracionais; Revelar bom senso e alegria; Mostrar respeito pela natureza e gosto pela vida ao ar livre;


manualdodirigente II. Funções e formas de actuação A missão do dirigente tem contornos definidos e procedimentos próprios, desdobrando­-se em tarefas específicas que têm por objectivo central EDUCAR. Assim sendo, constituem funções do Dirigente:

PLANEAR Organizar a unidade, garantindo o bom funcionamento de todos os elementos do método e a sua ligação à realidade local; Garantir o equilíbrio na organização e composição da unidade, especialmente nos momentos de entrada e saída de elementos. ANIMAR Lançar desafios de desenvolvimento da unidade, promovendo a integração na comunidade e a autonomia pessoal; Dotar os guias de competências e espaço para o exercício pleno da sua actividade, remetendo-se para um papel supervisor e de auxílio. MOTIVAR Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada jovem, fomentando uma cultura de progressão e superação pessoal e ajudando a potenciar talentos e a gerir limitações; Sugerir vias de exploração e de busca de soluções, ensinando a ultrapassar erros e falhanços e promovendo, de forma autêntica e não manipulativa, o entusiasmo e a perseverança. GERAR COMPROMISSOS Incentivar a autonomia na tomada de decisões, promovendo a análise das opções existentes e a consistência das decisões; Assumir os seus compromissos, sendo exemplo, e ajudar os seus elementos a fazê-lo.

369


manualdodirigente Estas atribuições concretizam-se através das seguintes formas de actuação:

ESTABELECER UMA RELAÇÃO EDUCATIVA Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da secção onde presta serviço e cada elemento em particular, dando espaço e tempo ao ritmo pessoal de cada um; Ser capaz de observar e reagir serena e ponderadamente, manifestando abertura à partilha, ao diálogo e à aprendizagem.

SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES Saber analisar e organizar actividades e promover a avaliação das mesmas, orientando os elementos para a autonomia e a responsabilidade; Ter abertura à aprendizagem e formação contínuas, seja por vias formais [cursos, seminários, …] ou informais [experiência, interacção, pesquisa pessoal, …].

ESTAR ENVOLVIDO NA COMUNIDADE Estar integrado na sua comunidade, participando nela de forma activa e comprometida; Aceitar e promover a partilha de tarefas e resultados, valorizando as diferenças, capacidades e respeito democrático; Demonstrar disponibilidade para corresponder às exigências da sua função.

CONPREENDER E CONTROLAR O RISCO Antecipar situações de risco, minimizando as possibilidades de dano físico e/ou psíquico; Estabelecer limiares de risco, habilitando-se, ou providenciando técnicos h abilitados e com os conhecimentos adequados.

De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do dirigente podem ser esquematizadas, como um “8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão – se perspectiva quer do ponto de vista das suas funções – “o quê…” – como das suas formas de actuação – “como”.

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manualdodirigente

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manualdodirigente C.7.1 Interacção Educativa

“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa alavanca para o seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa sobre ele uma grande responsabilidade. Os rapazes estão sempre prontos a apanhar as menores manifestações da sua maneira de ser, sejam elas virtudes ou defeitos. O seu estilo torna-se o deles; a afabilidade ou a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo impaciente, o domínio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à moral, não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.” “O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio 'exemplo pessoal' do Chefe Escuta.” Baden-Powell, «Le Guide», citado in Pela Educação à Liberdade, p.36

I.1 Importância do exemplo Um dos pilares fundamentais do método é a relação educativa, ou seja, a relação de proximidade afectiva e pedagógica que se estabelece entre dirigente (o adulto) e elementos (as crianças ou jovens). Por esta razão, é absolutamente fundamental que o dirigente compreenda o papel de modelo que assume para os seus escuteiros. De facto, em qualquer relação adulto/jovem, a tendência é que o comportamento do adulto influencie, pela positiva ou pela negativa, o comportamento dos jovens. Assim sendo, a postura perante a vida e a sociedade, a maneira como age e lida com os assuntos ou a personalidade que revela são tudo elementos comportamentais observados e registados, com minúcia e perspicácia, pelos mais novos. A este nível, o escutismo não é diferente e é fundamental que o dirigente compreenda que é sempre olhado como um exemplo, e que, por isso, influencia muito os seus elementos. Para o fazer de maneira positiva, deve modelar o seu comportamento de forma correcta (de acordo com os valores escutistas) e tendo em conta a idade e maturidade dos elementos da secção com quem interage.

I.2 O Estilo de animação Para que a influência positiva se registe não basta que o dirigente tenha um comportamento exemplar. É também necessário que conheça os seus elementos, que crie com eles relações de proximidade e afinidade, para que consiga perceber quais as áreas onde a sua influência pode ser mais positiva. Interessa, assim, ser amigo, o 'irmão mais velho' que observa e ajuda.

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manualdodirigente Neste sentido, a forma como cada dirigente interage com os jovens, isto é, o seu estilo de animação, revela-se um assunto importante no âmbito a interacção educativa, na medida em que há um estilo de animação próprio na relação escutista que se estabelece entre o adulto e os seus elementos. Este estilo de animação é o democrático ou participativo: através dele, o dirigente deixa aos seus elementos o máximo de espaço para imaginar, decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar (facultando-lhes o ambiente necessário para que possam viver e jogar o jogo escutista), evitando ser autoritário, directivo ou super--protector. Na realidade, uma estrutura rígida e pré-determinada e uma atitude dirigista impossibilitam que os escuteiros exerçam a sua liberdade e desenvolvam a sua autonomia – o jogo escutista não é, assim, possível. Note-se, porém, que o contrário também não é positivo. De facto, o dirigente não pode dar aos seus elementos todo o espaço, pois a falta de enquadramento e de referências impede igualmente o jogo, que não pode existir sem regras. Assim sendo, o estilo democrático não representa nem implica assim, para o dirigente, qualquer demissão da sua dimensão adulta e educativa: o dirigente não é o amigalhaço do escuteiro, o amigo da sua idade. É, sim, o seu amigo adulto, que sabe misturar-se com ele, mas nunca se confunde no seu papel de educador. Pretende-se, então, que o dirigente garanta aos seus elementos um espaço de liberdade e iniciativa, mas onde exista um enquadramento e as regras sejam estabelecidas, conhecidas e respeitadas por todos. De facto, só um espaço com todas estas características permite jogar o jogo escutista.

I.3 A Promoção da autonomia Isto não significa, contudo, que toda a acção esteja concentrada no dirigente. Na realidade, no escutismo, pretende-se que a acção pedagógica esteja centrada no próprio escuteiro, que é chamado a ser protagonista do seu auto-desenvolvimento. Neste sentido, e embora o dirigente seja chamado a liderar e a assegurar um ambiente seguro, sadio e harmonioso, baseado nos ideais e valores do escutismo, a sua intervenção deve ir diminuindo à medida que a idade e maturidade dos elementos aumenta. De facto, se a finalidade do escutismo é que o escuteiro desenvolva a sua autonomia, o papel do dirigente não pode ser senão o da promoção dessa autonomia, que se deve reforçar ao longo do percurso educativo do jovem através das secções.

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manualdodirigente Note-se que, dependendo da secção, há maior ou menor necessidade de 'espaço', mais ou menos graus de liberdade, formas diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. Contudo, em todas as secções é fundamental a permanência e a sensação de presença do dirigente, que transmite segurança, que está presente sempre que é preciso e para o que é preciso, que caminha com os seus elementos nos momentos bons (incentivando) e maus (orientando). Isto não significa, porém, que a ausência não seja, também ela, pedagógica. De facto, se a presença do adulto é fundamental no escutismo, a ausência também o pode ser, na medida em que assim se dá espaço aos elementos para que possam crescer e desenvolver a sua autonomia. Todavia, estas ausências – mesmo físicas, não apenas das reuniões, mas também das próprias actividades – que devem estar de acordo com a idade e maturidade dos elementos: se com os lobitos pode ser o jogo de pista vigiado à distância, com os exploradores já são etapas do raid; nos pioneiros alarga-se o âmbito da autonomia e nos caminheiros pode até – se assim for considerado adequado – haver uma total ausência (mas não desconhecimento ou falta de informação) do dirigente, por exemplo. Estas ausências não se assumem, assim, como um vazio, mas possuem uma intencionalidade pedagógica.

II. A animação da vida da Unidade

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Ao animar as actividades, o dirigente deve enriquecê-las pedagogicamente, não esquecendo que elas devem ser adequadas às idades dos elementos (a nível de esforço, exigência e apreensão, avaliação e gestão do risco, por exemplo). Com isto, procura­-se a satisfação dos escuteiros e o seu desenvolvimento. Note-se que as actividades escutistas são um meio e não um fim em si mesmo. O fim é o auto-desenvolvimento do escuteiro e a sua identificação com os valores próprios do escutismo. Isto consegue-se através da vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas, que se atingem através de várias acções:


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Neste âmbito, há que não esquecer que é necessário cuidar, em todas as iniciativas e actividades, do bem-estar físico, psicológico e anímico dos elementos, devendo o olhar atento do dirigente recair sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso ou a saúde. Para além disto, deve zelar para que sejam cumpridas as normas de segurança legais ou em vigor na associação e excluídos comportamentos e opções que acarretam riscos inrrazoáveis e/ou não devidamente acautelados. Note-se que, em termos de responsabilidade jurídica, os jovens se encontram confiados aos adultos que os acompanham e que são responsáveis por tudo o que acontece. Compete-lhes, assim, a permanente avaliação e gestão do risco, tendo em consideração que a segurança adequada de uma actividade não pode implicar negligência facilitista nem deve permitir excessos de zelo que impeçam a concretização do que foi projectado.

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manualdodirigente Dentro da animação da vida da Unidade, assume ainda especial destaque a Animação da Fé, através da qual se deve promover um ambiente de convivência e partilha, de momentos de descoberta e contemplação, de oportunidades de formação e de caridade, de vivência eucarística e sacramental e de oração. Tudo isto, de uma forma escutista, integrada no processo educativo, num prisma de desenvolvimento pessoal e num ambiente de vivência comunitária. A animação da fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos o assistente, a quem cumpre ser o guia; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa medida da sua idade e maturidade, participa, procura, explora, e se compromete. Entre eles, está o dirigente, a quem cumpre ser aquele que procura chegar ao coração de cada elemento, convidando-os a caminhar lado a lado consigo. Mas, para que tal aconteça, ele tem de procurar – ele próprio – crescer na fé, zelando pela sua formação, pela vivência pessoal da Eucaristia e Sacramentos, pela acção caritativa e pela oração. Só assim há testemunho autêntico de vida cristã, que é a mais pedagógica das ferramentas ao serviço do dirigente do CNE enquanto animador da fé.

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manualdodirigente C.7.1.1. A Interacção Educativa na Alcateia

No caso da 1ª secção, o envolvimento dos lobitos nas suas actividades está limitado pelo desenvolvimento físico e psicológico que eles possuem. De facto, por muito que o dirigente gostasse de dar aos Bandos autonomia e responsabilidade, nem sempre isto é praticável, dado que as crianças ainda não conseguem, em muitos casos, valer-se a si mesmas. Assim sendo, nesta secção a intervenção do dirigente assume-se de especial importância e são dele, sempre, a palavra e responsabilidade últimas. Esta é a secção onde esta intervenção é mais notória. Nota-se claramente, pela análise do quadro da página 373, que o espaço de autonomia e a liberdade concedida aos lobitos não é muito grande. De facto, numa Alcateia, o envolvimento e participação dos lobitos na organização de uma actividade é, naturalmente, limitado. O risco é ser nulo, o que desvirtuaria por completo o espírito do lobitismo. Por isso, cumpre ao dirigente criar espaço para que o envolvimento possa ter lugar, estimular a que a participação aconteça e torná-la fonte de desenvolvimento pessoal. Assim sendo, nesta secção, a participação na escolha das caçadas, no desenvolvimento da mística da secção, na elaboração de imaginários e na planificação e concretização das actividades, bem como a colaboração em tarefas e a assunção de responsabilidades nas actividades e na vida em campo são oportunidades excelentes para o desenvolvimento de competências em termos de iniciativa, análise, escolha, autonomia e responsabilidade. Note-se contudo que, embora devam participar, na medida do possível, na preparação, organização e desenvolvimento das actividades, os lobitos necessitam de sentir constantemente a presença do dirigente, que transmite segurança e controla os movimentos da Unidade a todos os níveis. De facto, compete-lhe prestar atenção particular não apenas à organização das actividades, mas também ao bem-estar – higiene, alimentação, descanso, saúde, entre outros – dos lobitos, em função da maturidade e fraca autonomia destes. Contudo, não deve adoptar uma postura super-protectora que infantilize, devendo demonstrar, sim, uma postura que incentive à progressiva autonomia. Por outro lado, e porque a segurança é algo de que o lobito nem sempre tem noção, cabe ao dirigente velar pela mesma, ensinando-o a tomar atenção e a precaver riscos. Vencer medos e inseguranças, próprios da idade ou associados à infantilidade, é um desafio para o lobito e para o dirigente e deve ser encarado sem aventureirismos, insensibilidade ou pieguice. Isto não significa, contudo, que não possam existir alguns momentos de ausência pedagógica. No entanto, esta ausência é muito limitada. No caso da Alcateia, pode ser o jogo de pista, um raid ou uma reunião de Bando vigiados à distância (há sempre presença do dirigente, mas ele pode não intervir, mantendo-se à distância).

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manualdodirigente C.7.1.2 A Interacção Educativa na Expedição

Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos exploradores nas suas actividades é crucial no sentido da respectiva formação pessoal em termos de autonomia e responsabilidade. No entanto, esta participação deve ocorrer de acordo com o desenvolvimento dos elementos, sendo que é do dirigente a palavra e responsabilidade últimas. Sabemos que a intervenção do dirigente deve ir diminuindo à medida que a idade e maturidade dos elementos aumenta. É o que se mostra no quadro da página 373. No caso dos exploradores, nota-se claramente que há um equilíbrio entre a intervenção do dirigente e a autonomia dos elementos. De facto, nesta secção o 'espaço' reservado aos escuteiros e o grau de liberdade que lhes é dado são maiores do que acontece na Alcateia e vai acompanhando a idade e maturidade desta secção. Note-se, contudo, que é muito importante a permanência e presença do dirigente que, neste momento, ainda tem um papel preponderante a nível da transmissão da segurança e da organização da secção e das actividades. No entanto, este papel é mais de supervisão e controlo atentos do que de comando: pretende-se que, na Expedição, os Guias já actuem como braços direitos do dirigente, ajudando-o a conduzir a secção em todas as actividades. Ao dirigente compete ensinar cada um deles a chefiar de forma eficaz e organizada a sua Patrulha (local, por excelência, de idealização, escolha e planeamento de actividades), zelando pelo cumprimento da Lei do Escuta. De facto, na Expedição a Patrulha deve ser estimulada e orientada a ser o viveiro da autonomia dos exploradores e a fonte das actividades que estes começam a idealizar, a escolher, a planear. O dirigente assume aqui um papel de estímulo à iniciativa, ao alargamento de horizontes e à subida progressiva da fasquia; um papel de orientação nos processos de escolha e de planeamento (seja ensinando metodologias, seja alertando para oportunidades, lacunas e riscos); um papel de facilitador de recursos, mormente na fase de enriquecimento das actividades; um papel de crítico construtivo e pedagógico, que fomenta e complementa a avaliação proporcionando vias de aperfeiçoamento pessoal e colectivo; um papel de motivador para a vivência da fé nas diversas actividades da secção. Os Conselhos de Guias ou de Expedição são os espaços próprios – por excelência – para o dirigente exercer este seu papel de formação para autonomia pelo envolvimento e crescente autonomia dos exploradores na organização das actividades.

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Para além disso, compete ao dirigente supervisionar todas as actividades, no sentido de verificar a correcta vivência dos valores escutistas e a sua organização e segurança de tudo o que se faz. A este nível, o Conselho de Guias, bem como o Conselho de Expedição, voltam a ser os locais próprios para o dirigente ir introduzindo a temática do risco e


manualdodirigente da segurança nas actividades, promovendo sempre uma reflexão, fornecendo elementos de análise e auxiliando na procura de soluções. Já a Patrulha, enquanto comunidade, é o grupo onde as soluções em termos de bem-­ -estar, designadamente em termos de higiene e alimentação, devem ser pensadas pelos exploradores, com a supervisão discreta, mas orientadora, do dirigente. Note-se, a este nível, que a faixa etária das exploradoras é um período de profundas alterações associadas à puberdade, como a menarca, cuja manifestação pode trazer perturbações à disposição e ao bem-estar com que se vive a vida em campo, momentos em que ao dirigente se exige compreensão, aconselhamento e orientação. Nestas situações específicas, a relação de confiança, em especial com as dirigentes do sexo feminino, enquanto 'irmãs mais velhas', é extremamente importante e reconfortante para as exploradoras.

Jamborre da Madeira

A ausência pedagógica, neste âmbito, passa por permitir que as Patrulhas desenvolvam de forma autónoma algumas das suas actividades, sem que haja intervenção ou controlo directo da chefia. É por isso que algumas etapas de raids ou uma actividade de angariação de fundos podem ser feitas sem que os dirigentes acompanhem a Patrulha em todos os momentos.

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manualdodirigente C.7.1.3 A Interacção Educativa na Comunidade Uma das características do Método Escutista é o envolvimento dos pioneiros nas actividades que desenvolvem. Este envolvimento é fundamental e imprescindível para que haja um correcto desenvolvimento a nível da autonomia e da responsabilidade do pioneiro. É importante ter também em conta que esta participação, como em tudo o que diz respeito à vida da Unidade, deve ser feita de acordo com o estádio de desenvolvimento e de autonomia dos elementos. Neste domínio, o dirigente deve assumir as suas responsabilidades e ter noção de que tem, sempre, a última palavra em tudo o que é organizado. Com isto não queremos dizer que cabe ao dirigente organizar tudo e colocar o pioneiro numa posição de mero utilizador. Ao pioneiro tem de ser reconhecida autonomia e, de facto, ela deverá estar num nível considerável, como observamos no quadro da página 373. Pela análise do quadro, nota-se claramente que a vida de uma Comunidade, onde os pioneiros interagem e as Equipas funcionam como pequenas estruturas, é marcada por uma forte autonomia. O 'espaço de actuação' dos pioneiros e o grau de liberdade que lhes é concedido são bastante alargados. Ao pioneiro cabe reconhecer isso e corresponder com uma contribuição activa, empenhada e permanente no planeamento, organização e na concretização de todas as actividades da Unidade. Para que isto se verifique, a intervenção do dirigente nas actividades é menor do que nas secções anteriores e deve progressivamente focalizar-se não na organização e planeamento das actividades, mas sim no seu enriquecimento, na análise e discussão dos métodos de planeamento, dos métodos de organização e de avaliação que são usados pelos elementos. Ser dirigente não é ser Guia O papel do dirigente numa comunidade de pioneiros não se confunde com o do Guia, que coordena a Equipa, ou com o de qualquer outro elemento da Equipa. Ao dirigente não cabe gerir as actividades da Equipa ou organizá-las. Se o dirigente ocupar o lugar do Guia, a Equipa não pode funcionar e o método escutista está posto em causa, uma vez que assenta na co-responsabilização dos escuteiros nas suas próprias actividades. A ideia “se eu não fizer, eles também não fazem” não ajuda ao crescimento dos pioneiros, antes pelo contrário. Da mesma forma se põe em causa o método escutista se os pioneiros forem meros utilizadores de uma actividade, que “compraram” ao pagar o preço da inscrição, fornecida pelos dirigentes que fizeram tudo.

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O dirigente não está na Comunidade para organizar ou planear actividades, sejam elas de grande ou pequena envergadura. Ao dirigente cabe, então, contribuir para o enriquecimento das actividades escolhidas pela Comunidade e fornecer ferramentas aos pioneiros que ajudem na sua tarefa de organização e avaliação das actividades.


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Boas práticas: - Auto-avaliação constante Perguntar: “Até que ponto a minha acção na organização das actividades não está a anular o Guia?” Esta deve ser uma pergunta que o dirigente deve fazer permanentemente no âmbito das reuniões e avaliações da equipa de animação. Só uma auto-avaliação honesta pode levar ao crescimento. - Dirigente formador tem de ser formando Ao dirigente cumpre estimular o aparecimento e desenvolvimento de ideias e promover a participação e iniciativa de todos. Esse é um gesto pedagógico importante e característico de um dirigente. Para além disso, deve fomentar novas formas de planeamento e organização, despertar a atenção para aperfeiçoamentos organizacionais e logísticos, colaborar no enriquecimento técnico das actividades e orientar na avaliação e prevenção dos riscos, provocando posteriormente a avaliação. Mas, para fazer tudo isto, o dirigente deve procurar permanentemente novas formas de o fazer, preocupar-se em procurar conhecer boas práticas noutros agrupamentos e aproveitar sistemas de promoção de avaliação que encontrou ao longo da sua experiência escutista. Por fim, pode envolver-se na organização de actividades de núcleo, regionais e nacionais também como forma de aprender coisas novas para levar para a sua Comunidade.

Para além disto, o escutismo, pelas suas actividades, é uma espécie de micro-sociedade – uma vez que pode apresentar-se como uma sociedade em miniatura – na qual os jovens podem experimentar, construir com arrojo, intervir, transformar em segurança e testar as suas capacidades e talentos que vão levar para a vida fora, protegidos das consequências do fracasso no mundo real. O escutismo é, portanto, ambiente seguro para arriscar. Esta segurança é garantida pelo dirigente, que deve manter-se alerta para os riscos das actividades escutistas que são desenvolvidas pela Comunidade e também para os riscos a que os pioneiros estão expostos na sua vida quotidiana de adolescentes e jovens. Ao dirigente cumpre, ainda, ajudar os pioneiros a reflectir sobre a temática do risco e da segurança nas actividades e nas suas próprias vidas. O pioneiro, em plena adolescência – fase de descoberta e afirmação pessoal – pode revelar, a nível do seu bem-estar psicológico e anímico, problemas relacionais, de auto-estima, de afirmação entre os pares e de integração social, que o podem induzir a colocar em risco a sua segurança e bem-estar. Esta é também a fase – tantas vezes como factor de afirmação pessoal – de iniciação ao consumo de álcool e de tabaco, bem como de desenvolvimento e amadurecimento da expressão da sua afectividade e sexualidade. Um olhar atento, uma conversa oportuna, o testemunho pessoal por parte do dirigente têm um papel importante, quer no despiste precoce deste tipo de perturbações, quer na sua correcção ou resolução, quando manifestas.

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Ser dirigente não é ser nem o general nem o amigalhaço O dirigente tem de ser sensível à necessidade de ‘dar’ mais ou menos espaço, mais ou menos liberdade, à Comunidade e aos pioneiros, sabendo gerir formas diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. É importante que a sua presença transmita segurança e seja garante de que “ele está lá sempre que for preciso e para o que for preciso”. É fundamental que o pioneiro veja no chefe alguém que caminha com ele nos bons momentos (incentivando) e nos maus momentos (orientando). Interessa que o dirigente seja amigo e não ‘general’, aquele que ordena ou que é respeitado pelo temor. Mas o dirigente amigo não se confunde com o amigo da escola, com o amigalhaço: ao ser amigo, tem de saber misturar-se com os jovens, sem nunca se deixar confundir com eles, e não se demite da sua qualidade de adulto e de educador. O dirigente é, assim, um amigo adulto que tem consciência de que o equilíbrio é a chave de ouro na relação educativa escutista entre jovens e adultos.

Boas práticas: - Valorizar os Conselhos de Guias e de Comunidade O Conselho de Guias, bem como o Conselho de Comunidade, são momentos privilegiados para que a presença efectiva e eficaz do dirigente, como garante da segurança e de proximidade, se faça notar. Estes Conselhos devem ser ocasiões de partilha, onde a colaboração e orientação do dirigente é fundamental para chamar a atenção, fornecer elementos de análise, formar e auxiliar na procura de soluções, analisar a presença ou ausência de responsabilidade perante compromissos e valores escutistas e cristãos. - Conhecer os escuteiros Pode parecer uma frase feita, mas o dirigente deve conhecer os seus escuteiros para além do que são relações formais entre educador e educando. Se o pioneiro joga futebol, faz sentido que o dirigente lhe vá perguntando como está a correr o campeonato. Se o pioneiro está envolvido num grupo de teatro ou numa banda de música, não custa ir perguntando quando é o próximo espectáculo e, eventualmente, até ir assistir. Perguntar aos pioneiros o que sugerem para compra de um presente a um familiar da sua idade mostra vontade de proximidade, mostra respeito e valorização pela sua opinião.

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manualdodirigente Ausência pedagógica? Sabemos que o método escutista educa para a Paz, para a liberdade e para a responsabilidade, que é crescente porque é conquistada e retribuída com mais liberdade. De facto, no ambiente educativo escutista, um aumento de liberdade pressupõe igual aumento de responsabilidade, pessoal e de grupo. É esta responsabilidade que deve ser ensinada e pedida aos pioneiros em momentos de ausência pedagógica do dirigente (num raide ou outra actividade exterior, por exemplo, as Equipas podem ir sem acompanhamento de um adulto). Vimos já que o papel do dirigente não é o de Guia e que uma Equipa deve funcionar autonomamente sob a liderança do Guia e numa cooperação de responsabilidades e vantagens da parte de todos os elementos da Equipa. Assim, ao dirigente não cabe estar em todos os momentos com os pioneiros, que precisam de espaço para interagir como Equipa – com sucessos e fracassos, avanços e recuos, são eles que vão fortalecer a Equipa. O dirigente deve ter a preocupação de não intervir e de, por vezes, não estar presente para que os jovens possam crescer. A isso se chama ausência pedagógica e ela ajuda a crescer nos raides, numa actividade exterior, mas também nas reuniões semanais no abrigo, ou nas tarefas quotidianas da Equipa. Assim sendo, não é negligência ou displicência: é, antes, uma oportunidade pedagógica de crescimento em segurança. Esta ausência é muitas vezes entendida pelos pioneiros como um voto de confiança. Pode ser visto desta maneira, não pode é deixar de motivar o dirigente a procurar saber se tudo correu bem durante essa ausência. De facto, convém sublinhar que ausência não é sinónimo de desconhecimento: como responsável pela Unidade, em termos educativos e de responsabilidade civil, o dirigente deve estar sempre a par do que sucede a todos os níveis, para evitar problemas futuros.

Boas práticas: - Experimentar a ausência pedagógica É uma boa prática experimentar, de vez em quando, qual é a reacção dos pioneiros se em vez de encontrarem o chefe num local combinado, encontrarem uma mensagem com uma tarefa. Como se organizam para cumprir essa tarefa.

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manualdodirigente C.7.1.4 A Interacção Educativa no Clã O envolvimento dos caminheiros na idealização, preparação, organização e participação nas actividades é um dado adquirido em termos do projecto educativo desta secção. De facto, como jovens adultos que são, é de supor que possuam já autonomia e responsabilidade suficientes para conseguirem pôr em prática aquilo que idealizaram. É por essa razão que o dirigente, nesta secção, assume mais um lugar de auxiliar, sempre atento e responsável, do que o de chefe directivo. Isso implica que o seu envolvimento prático nas actividades é baixo, como observamos no quadro da página 373. Assim sendo, o que se pretende é que exista, por ser característica fundamental de um Clã, uma autonomia acompanhada: os caminheiros – jovens adultos – interagem e vivem comunitariamente em Tribos independentes, competindo ao dirigente acompanhá­-las, através da supervisão do trabalho autónomo em que se envolvem. Para além disto, o cerne da intervenção do dirigente nas caminhadas do Clã implica o aperfeiçoamento de técnicas de planeamento, organização e avaliação, o aconselhamento experiente, o enriquecimento técnico das actividades, a orientação na prevenção de riscos e o estímulo à participação, à iniciativa e à transformação de sonhos em projectos, não esquecendo a valorização dos valores escutistas e cristãos. Para além disto, uma quase autonomia na avaliação e na precaução do risco é o que se espera que caracterize os caminheiros, pelo que o dirigente deve ter aqui um papel subsidiário, embora não possa estar alheio a estes assuntos. Assim, compete-lhe estar atento para poder, se necessário, recordar, habilitar, orientar ou intervir. Por fim, caso se note que o Clã possui já uma autonomia madura e responsável, pode até considerar-se adequado que o dirigente não esteja presente num hike ou num acampamento de Tribo. Note-se, contudo, que isto não implica ignorância ou falta de conhecimento acerca do que sucede nessas actividades. Estas ausências nunca podem assumir-se como um vazio (vão sozinhos porque sim), mas devem ter sempre subjacente uma intencionalidade pedagógica (vão sozinhos porque se pretende que consigam ou atinjam algo).

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manualdodirigente C.7.2. – A Coeducação O que é a Coeducação? A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando se começou a falar de coeducação apenas se considerasse as diferenças de género, hoje em dia, a coeducação contempla outro tipo de heterogeneidade: idade, nível sócio­-económico, condição física, cultura, entre outros. Assim, podemos considerar a coeducação como a educação em conjunto de indivíduos distintos. Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo deve visar a heterogeneidade e o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se encontra não a desigualdade mas sim a verdadeira riqueza do mundo. A prática da coeducação promove a complementaridade, a integração, a inclusão e a não discriminação servindo de alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção, cooperação e respeito mútuo. A coeducação tem em atenção o escuteiro em si e o modo deste se relacionar com os outros, porque promover a igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos indiferenciadamente, mas sim dar a cada um o que lhe faz falta. Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escutismo tem o papel importante de esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar novas competências que enriquecem o escuteiro individualmente e, em consequência, contribuem para uma nova sociedade com valores globais e não globalizantes. Todas as crianças e jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o Escutismo deve ir. As unidades devem ser coeducativas desde os escuteiros que a compõem até às Equipas de Animação. Devem estar preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível do género, da cultura, da forma física ou outra, proporcionando educação com vista à construção de uma sociedade mais multicultural e tolerante. Assim, na integração dos elementos não devemos esquecer alguns aspectos: Grau de desenvolvimento dos rapazes e das raparigas; Idade física e idade psicológica; Estrato social - Sinais exteriores que possam criar mau estar, acanhamento, problemas de ordem económica, entre outros; Centros de interesse O seu Bando/Patrulha/Equipa de origem e para onde vai - os amigos, as ligações afectivas, etc.; Casos particulares – Deficiências físicas ou outras, traumas, etnia, etc.

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Manuel Joaquim

Em casos em que se verifiquem algumas destas situações, é imprescindível o diálogo entre os dirigentes das secções intervenientes e, se necessário for, a análise em reunião de direcção. Fundamental será a preparação prévia da integração dos jovens nas secções. De igual modo, revela-se de especial importância, nestes casos, a Coeducação, que o CNE promove.

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manualdodirigente C.7.2.1 Escutismo Inclusivo I. Introdução Actualmente, tem vindo a registar-se um aumento de crianças e jovens com Necessidades Educativas Especiais (NEE) no CNE, por um lado porque se enquadram na missão escutista e, por outro, porque a evolução do conceito de inclusão pretende que a mesma se estenda não só à escola, mas também às estruturas da comunidade. O CNE, enquanto maior movimento de educação não formal de jovens a nível nacional, não poderá ficar de fora do paradigma actual de Inclusão, sendo sua obrigação fazer todos os possíveis por ser um meio promotor do desenvolvimento pessoal e social destas crianças e jovens, reconhecendo que uma criança ou um jovem com NEE é, antes de mais, uma pessoa com características, interesses, necessidades e gostos próprios.

II. Enquadramento histórico das NEE Hoje em dia as NEE são encaradas de uma perspectiva inclusiva mas nem sempre foi assim: há cerca de 50 anos estas crianças/jovens ficavam em casa com familiares ou eram institucionalizadas em escolas de ensino especial sem que houvesse qualquer posição legal que os enquadrasse. Actualmente, existem leis e documentos oficiais, como a Convenção dos Direitos do Homem e da Criança, que não só enquadram socialmente estas crianças/jovens como prevêem a sua inclusão na sociedade. Por exemplo, em Portugal a Lei prevê que estas crianças e jovens estejam incluídos na escola regular durante todo o período de ensino obrigatório, tendo o estado o dever e a obrigação de criar todas as condições para os receber e promover o seu desenvolvimento e bem-estar.

Os Estados Partes reconhecem à criança mental e fisicamente deficiente o direito a uma vida plena e decente em condições que garantam a sua dignidade, favoreçam a sua autonomia e facilitem a sua participação activa na vida da comunidade. In Convenção Mundial dos Direitos das Crianças; Artigo 23, ponto 1

O conceito de inclusão tem vindo a evoluir no sentido de nos tornar conscientes das diferenças entre os seres humanos e da necessidade de promover o desenvolvimento e bem-estar das pessoas com deficiência ou quaisquer condições especiais, dando-lhes o direito à igualdade de oportunidades e de participação activa na sociedade.

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manualdodirigente III. NEE na Missão Escutista O CNE, enquanto associação educativa, não se pode apartar dos paradigmas actuais de inclusão, sendo necessário um grande esforço para fazer acompanhar a evolução social e educativa a este nível. Na verdade, a preocupação com estas questões vem desde a origem do Movimento. Baden-Powell há 100 anos atrás já se preocupava com esta questão, dando-nos a indicação de que o escutismo é para todos:

Graças ao Escutismo há inúmeros jovens aleijados, tais como surdos, mudos, cegos e coxos, que adquirem agora mais saúde, felicidade e esperança, do que jamais tiveram. (…) O Escutismo auxilia-os associando-os a uma fraternidade à escala mundial, dando-lhes alguma coisa a fazer e a esperar, e facultando-lhes a ocasião de provarem a si mesmos, e aos outros, que são capazes de fazer coisas – e até coisas difíceis – só por si.” Baden-Powell

Em termos formais existem dois documentos que nos dão indicação de como agir com crianças e jovens com NEE: a Conferência Mundial do Escutismo de Paris (1990) e o Regulamento Geral do CNE. Entre outras coisas, chamam-nos a atenção para o seguinte:

É importante sublinhar que o termo “escutismo com deficientes” é utilizado em vez de “escutismo para deficientes” com o intuito de chamar à atenção que os jovens com necessidades especiais devem ser os principais agentes do seu próprio desenvolvimento e que o movimento deve garanti-lo – como para os outros jovens – proporcionando-lhes oportunidades para o seu desenvolvimento e participação. In Conferência Mundial do Escutismo, Paris, 1990

O CNE, integrado no Movimento Escutista, tem por finalidade a educação integral dos jovens, contribuindo para o desenvolvimento do seu carácter e ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais, afectivas e espirituais, como pessoas, cristãos e cidadãos responsáveis e membros das comunidades onde se inserem. In Artigo 2º, ponto 2 do RG do CNE

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Estas são as linhas que nos permitem afirmar que o escutismo é para todos e, nesse sentido, a inclusão de crianças e jovens com NEE é um dever que o CNE deve cumprir com responsabilidade e bom senso.


manualdodirigente IV. Classificação das NEE Entende-se que uma criança/ jovem tem Necessidades Educativas Especiais (NEE) quando, comparativamente com os seus pares, apresenta dificuldades significativamente maiores para aprender ou manifesta algum problema de ordem física, sensorial, intelectual, emocional ou social, ou uma combinação destas problemáticas, a que os meios educativos existentes não conseguem responder, sendo necessário recorrer a adaptações de recursos ou a condições de aprendizagem adaptadas. Estas dificuldades podem manifestar-se temporária ou permanentemente. Embora tenhamos consciência de que cada caso é um caso e nada pode ser visto de forma taxativa, importa conhecer os tipos de NEE que podem surgir assim como conhecer a sua classificação.

V. Admissão de crianças/jovens com NEE no agrupamento Muitas vezes, conscientes de que o escutismo é para todos, forçamo-nos a aceitar crianças e jovens com NEE sem fazermos uma análise dos nossos recursos, correndo o risco de seguir numa direcção oposta à inclusão. Desta forma, a decisão de admitir uma criança/jovem com NEE cabe à direcção do agrupamento, mais do que ao chefe de unidade, uma vez que é a direcção do agrupamento que pode e deve responsabilizar-se pelo percurso escutista desse elemento até à data da sua partida; por isso a admissão de uma criança/jovem com NEE deve ser ponderada tendo em conta os recursos humanos e físicos existentes no agrupamento a curto e médio prazo. Assim, antes de tomar uma decisão é um importante que a direcção do agrupamento tenha em conta o seguinte: Preparação dos adultos para receber estas crianças. Condições físicas da sede (por exemplo para o caso de necessidade de utilização de cadeiras de rodas). Rácio crianças/adulto (deve haver mais adultos por criança em casos de maior dependência como por exemplo deficiências motoras, mentais e perturbações do espectro do autismo); Previsão do crescimento do efectivo, incluindo os recursos adultos. Número de crianças com necessidades educativas já incluídas no agrupamento (10% do máximo do efectivo para casos com pouca autonomia em cada secção); Caso não reúna o mínimo de condições para receber uma criança/jovem com NEE, a direcção do agrupamento não deve aceitar a sua inscrição. No entanto não deve deixar de encaminhar a família para outro agrupamento mais próximo que reúna condições, fazendo contacto prévio com o mesmo. .

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manualdodirigente VI. Princípio da inclusão no escutismo Antes de mais, importa salientar que a ideia da inclusão no escutismo assenta em cinco princípios básicos: 1. É bom sermos todos diferentes; 2. Todos temos os mesmos direitos e os mesmos deveres; 3. Todos temos um papel e uma função no grupo e na sociedade; 4. O Escutismo é um método de educação não formal e não um método terapêutico.; 5. A inclusão não pode ser feita a qualquer preço, devendo acautelar-se a correcta integração do elemento com NEE no grupo e preparar o grupo para essa integração. Para que haja um verdadeiro processo de inclusão no escutismo, importa não esquecer que antes de nos centrarmos na criança/jovem com NEE temos de aceitar a diferença como parte de nós mesmos, seguindo a premissa de que “somos todos diferentes”. Isto significa que incluir implica muito mais que apenas ter um elemento com NEE no agrupamento. De facto, implica: Conhecê-lo Aceitá-lo Fazê-lo participante activo na vida do grupo Ajudá-lo a ser o principal agente do seu desenvolvimento Importa dizer que incluir crianças com NEE não significa centrar a animação nelas (esquecendo as outras), mas sim criar estratégias que permitam a participação de todos sem excepção, mediante as capacidades de cada um. No fundo, pretende-se que haja, em todo o processo de inclusão, um equilíbrio justo que permita que todos cresçam harmoniosamente. Neste processo, o Chefe de Unidade tem um papel preponderante na medida em que deve acompanhar de perto o elemento com NEE e contribuir para o seu desenvolvimento. Para isso tem que passar por diversas etapas de trabalho, sendo o principal agente da inclusão através da aplicação do método escutista e do envolvimento de todos os elementos da secção e de toda a Equipa de Animação (EA).

Inclusão de Aspirantes

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Quando se recebe na Alcateia/Expedição/Comunidade/Clã um aspirante com NEE, o Chefe de Unidade, em conjunto com a sua EA deve preocupar-se em primeiro lugar em conhecer o novo elemento em quatro vertentes: Contacto com pais ou prestadores de cuidados Estudo do diagnóstico médico Contacto com técnicos especializados que trabalhem com a criança (caso haja necessidade) Observação directa do elemento no contexto escutista.


manualdodirigente Com todos estes passos, pretende-se que o Chefe de Unidade fique a conhecer genericamente as características do diagnóstico do elemento e especificamente as características individuais da criança/jovem, tendo em conta áreas importantes como a autonomia, particularidades do comportamento, cuidados específicos a ter, medicação a tomar e efeitos da mesma, etc.

Inclusão de Noviços Quando se admite na Expedição/Comunidade/Clã um noviço com NEE, há que ter em conta alguns procedimentos: Recolher informações acerca do noviço junto do anterior Chefe de Unidade – como foi o seu processo de inclusão, tipo de participação nas actividades, etc. Recolher informações acerca do noviço junto dos pais e prestadores de cuidados Recolher outras informações, caso haja necessidade A recolha destas informações é fundamental para o sucesso da inclusão, no sentido em que ajudarão a EA a vários níveis, nomeadamente: Escolha do Bando/Patrulha/Equipa/Tribo Atribuição de cargos Distribuição de funções e tarefas Gestão da EA Adaptação do espaço do covil/base/abrigo/albergue, se necessário Adaptação do sistema de progresso Tão desafiante quanto aceitar um elemento com NEE é preparar o grupo para a sua inclusão. Neste sentido, os escuteiros devem ser ajudados a tomar consciência de si próprios e das diferenças entre todos. Também é importante que experimentem as dificuldades de pessoas com necessidades especiais, de modo a que o grupo aceite a diferença de forma positiva e reconheça os talentos de uns e de outros. Só assim se derrubam barreiras e preconceitos - sem a aceitação de todos não é possível incluir! O método escutista, pela forma como possibilita trabalhar com crianças e jovens, permite por si só a inclusão de crianças/jovens com NEE, sendo fulcral, para estes elementos, a delineação de objectivos ao longo de todo o seu percurso escutista (exactamente como deve acontecer para os restantes elementos). Para isso, é necessário que os dirigentes, adultos responsáveis e pares ultrapassem as barreiras impostas pelo preconceito e acreditem que estes elementos não só têm lugar no escutismo, como também têm talentos que importa aprofundar e desenvolver através da sua participação activa no agrupamento e na comunidade em que se inserem. Em suma, os objectivos/propósitos para o dirigente são exactamente os mesmos que no trabalho com qualquer outra criança ou jovem escuteiro. A grande diferença reside no facto de ser necessária, por parte do dirigente e de toda a equipa, uma maior disponibi-

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manualdodirigente lidade interior para aceitar este desafio que poderá ou não ser maior que com qualquer outra criança ou jovem. É necessário estar atento, disponível e alerta… em suma, ser

A coisa mais admirável em tais rapazes é a sua boa disposição e o seu anseio de realizar no Escutismo tanto quanto lhes seja possível fazer. De provas e tratamentos especiais não desejam mais do que o absolutamente necessário.” Baden-Powell

verdadeiramente o irmão mais velho. Bibliografia: Basta passar a ponte, Edições CNE Existem alguns sites institucionais que podem ajudar na recolha de mais informação acerca deste assunto: Instituto Nacional para a Reabilitação: http://www.inr.pt/ (através deste site podem não nó recolher diversas informações, como pedir livros sobre diversas temáticas ligadas a este assunto gratuitamente) Portal do cidadão Deficiente: http://www.pcd.pt/ Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal: http://www.acapo.pt/ Associação Portuguesa para as perturbações do desenvolvimento e autismo: http://www.appda-lisboa.org.pt/ Fenacerci: http://www.fenacerci.pt/ Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21: http://www.appt21.org.pt Associação Portuguesa de Surdos: http://www.apsurdos.pt/ Fundação Liga: http://www.fundacaoliga.com/

Maria Helena Andersen

Raríssimas: http://www.rarissimas.pt/

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manualdodirigente C.7.2.1.1 Escutismo Inclusivo na Alcateia

“Não há partilha de passatempos a não ser quando nos divertimos todos juntos.” Henry Bissonnier

A chegada de uma criança com Necessidades Educativas Especiais (NEE) à Alcateia altera sempre a sua dinâmica, na medida em que é necessário ter em conta uma realidade diferente e que exige uma atenção particular por parte dos dirigentes. Contudo, o ideal é que, depois da fase inicial de adaptação da criança com NEE, a dinâmica do grupo volte ao que seria de se esperar.

I. Preparar a Alcateia para a inclusão Para que o processo ocorra de forma tranquila e eficaz, há um primeiro passo a dar: assumir que o respeito pelas características de cada um é o ponto de partida para a aceitação da diferença. Aceitar a diferença implica reconhecer que todos somos diferentes, temos pontos fortes e fracos e somos melhores numas coisas e piores noutras. Para tal, é necessário que os lobitos sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações, de modo a que cada um possa reconhecer e assumir um papel importante no bando e na Alcateia, sendo igualmente capaz de aceitar o papel dos outros, mesmo que tenham características individuais diferentes. Assim é importante que os lobitos aprendam que, este novo elemento é uma criança como eles, que quer ser escuteira e que devem ajudá-la sem a protegerem em demasia ou a porem de lado nas brincadeiras. Deste modo, há algumas estratégias que os dirigentes podem utilizar.

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manualdodirigente

Boas práticas: Utilizar histórias bem conhecidas das crianças para trabalhar o tema da diferença de uma forma positiva em caçadas ou jogos. A primeira será a de Máugli, que é marcadamente uma história sobre a diferença: o Menino-Lobo é, no fim de contas, diferente dos lobos – move-se e alimenta-se de maneira distinta – e os Lobitos conseguirão (num jogo, por exemplo) nomear estas diferenças e explicar como Máugli podia fazer coisas que os outros não conseguiam e era, por isso, importante para a Alcateia. Happy Feet, a história de Mumble, um pinguim que gostava de dançar; O Pequeno Nemo, que tinha uma barbatana maior que outra e que quis provar que nadava tão bem como os outros peixes; Ratatui, ratinho que, em vez de comer do lixo como os outros ratos, quis ser cozinheiro. Elaborar ateliers de descoberta de características individuais que podem incluir a construção de uma galeria de fotografias com os elementos da Alcateia (com fotografias, desenhos e descrição das particularidades e qualidades de cada lobito) ou o desenho das silhuetas dos lobitos em papel cenário (pedindo a um lobito que identifique o lobito que foi desenhado) para mostrar que, no fundo, as diferenças entre as pessoas são mínimas. Posteriormente, os lobitos podem decorar a sua própria silhueta ou as dos outros lobitos, fazendo-se depois uma exposição de silhuetas.

II. Papel do Chefe de Unidade O papel do Aquelá é fundamental no processo de Inclusão, sendo que este é o principal responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na Alcateia. Contudo, e apesar de na Alcateia os adultos serem os principais agentes da inclusão e também os elementos mais próximos destes lobitos, deve ter-se em atenção que não deve existir uma atitude de proteccionismo ao ponto de impedir o lobito de viver o que é fundamental no escutismo - crescer em pequeno grupo, com os seus pares. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método escutista. Sistema de Patrulhas A escolha do Bando em que se vai incluir o lobito com NEE é possivelmente o passo mais importante a dar e por isso deve ser bem ponderado tendo em conta diversos factores: A liderança: o Guia do Bando deve ter perfil para ter um elemento diferente no Bando. Os elementos mais velhos do Bando devem ser elementos responsáveis que ajudem o lobito com NEE sem o superprotegerem.

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manualdodirigente A idade dos elementos do Bando, no sentido de garantir que o lobito com NEE possa acompanhar pelo menos um elemento do Bando aquando a passagem de secção. Para participar activamente na vida de Bando, o lobito com NEE deve ter um cargo para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo. Assim, no caso de crianças com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com menos responsabilidade, mas que seja importante para o Bando. No caso de uma criança com deficiência motora, devem adaptar-se os meios necessários de modo a permitir ao lobito desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for secretário. O Chefe de Unidade tem um papel preponderante na escolha do cargo e na atribuição de tarefas ao lobito com NEE, sendo imprescindível um conhecimento mais profundo das capacidades da criança e das tecnologias de apoio que costuma utilizar na sua vida quotidiana e que lhe permitem a execução de diversas tarefas. É importante não esquecer que o elemento deve estar envolvido na vida do Bando e que é essencial motivar o Bando para a aceitação das limitações do lobito com NEE, assim como para aprender a respeitar o seu ritmo, sem que se deixe de lhe atribuir tarefas e funções. O papel do Guia de Bando é para este elemento igual ao que desempenha para os outros elementos, não devendo ser dada responsabilidade adicional específica em relação ao lobito com NEE. Contudo deve ser sensibilizado para as dificuldades do seu elemento e ajudado a lidar com a diferença dentro do Bando. De facto existem momentos em que o Bando fica sozinho e é importante que o Guia esteja consciente do que deve fazer em algumas situações, nomeadamente chamar um adulto quando necessário. Sistema de Progresso O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o lobito com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes. Antes de mais, é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o lobito não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existem défices cognitivos. Neste caso, não podemos recorrer ao facilitismo de atribuir insígnias de progresso só porque o elemento está lá e ia ficar triste se não as recebesse como os outros. Para merecer fazer a Promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o lobito, independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do seu esforço e aprendizagem. É de lembrar que também isto é uma forma de discriminação pois não estamos a dar as mesmas oportunidades que damos aos outros. Assim, para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE, ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades. No caso de lobitos com défices cognitivos ou outros problemas que não lhes permita escolher etapas ou delinear acções concretas, deve ser a EA a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessidades e gostos do lobito.

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manualdodirigente As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm de uma participação activa na vida do grupo. Método de Projecto Os lobitos com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da caçada a par dos seus companheiros do Bando, com a salvaguarda de que as tarefas que lhes sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades. Mais uma vez todo este processo depende da intervenção directa do Chefe de Unidade no apoio ao Bando e de um conhecimento aprofundado do elemento e das tecnologias que o podem apoiar na execução das suas tarefas. Participação em Actividades Para decidir qual o nível de participação de um lobito com NEE em determinadas actividades importa conhecer quais os seus limites e que tecnologias o podem apoiar nessa participação, tal como já foi referido. O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não deve ser a primeira opção para lobitos com NEE, a menos que essa actividade ponha a sua integridade física em causa. Assim, antes de se decidir a não participação de um lobito numa actividade devem esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a EA deve fazer um esforço adicional, devidamente apoiado por técnicos e familiares, para tornar possível a participação da criança nas actividades, mesmo que o façam parcialmente. Por exemplo, não temos que deixar um lobito numa cadeira de rodas fora de uma estafeta só porque não pode correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a correr e o lobito transportar o testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria cadeira deve poder participar sozinho não caindo no erro de a sua participação não contar porque atrasa o grupo. Também pode fazer parte das regras do jogo que um elemento da equipa adversária também faça o percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui impera o bom senso e é fundamental o trabalho com a Alcateia para que esta se torne verdadeiramente inclusiva. Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante considerar alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organização da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das características do lobito, assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, como por exemplo, o acesso a casas de banho adaptadas, para lobitos em cadeira de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o lobito não possa participar em pleno em todas as actividades, não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de actividades terem outras componentes extremamente importantes, tais como a socialização com lobitos de outras Alcateias, tendo em conta que na impossibilidade de participação total nas actividades previstas, o lobito deve ter outras actividades para ocupar o tempo livre. Passagem para a II secção Na passagem para a II secção é importante ter em conta alguns aspectos: O lobito deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectualmente possa estar abaixo dos restantes elementos.

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manualdodirigente É aconselhável que passe para a EA da Expedição um elemento da EA da Alcateia que sirva de referência ao lobito e à nova EA. Neste caso não é imperativo que seja o Chefe de Unidade, basta que seja um adulto próximo da criança e que conheça bem as suas necessidades.

António Laranjeira

O Chefe de Unidade deve transmitir exaustivamente toda a informação que tem acerca do lobito para o novo Chefe de Unidade, podendo mesmo fazê-lo com a presença dos pais ou prestadores de cuidados de forma a facilitar este processo.

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manualdodirigente C.7.2.1.2 Escutismo Inclusivo na Expedição

No caso dos exploradores, o nível de autonomia das Patrulhas permite que haja um maior envolvimento dos elementos da Patrulha na inclusão de um elemento com NEE, não sendo necessária uma intervenção tão directa por parte dos adultos, como se verifica na Alcateia. Neste caso os adultos têm um papel activo de orientação e supervisão da Patrulha, no sentido de a orientar e ajudar no seu papel de inclusão, não devendo passar a responsabilidade para os exploradores sem uma supervisão muito próxima

I. Preparar a Expedição para a inclusão O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemento com NEE, sendo necessário preparar o grupo para a inclusão.

Tiago Pereira

O primeiro passo é aceitar a diferença o que implica reconhecer que todos somos diferentes, todos temos talentos e dificuldades. Assim, é necessário que os exploradores sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações assumindo que têm um papel importante na Patrulha e na Expedição e que o mesmo acontece com os outros.

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manualdodirigente

Boas práticas: A vivência de imaginários relacionados com a diferença contribui para a sensibilização dos exploradores em relação a esta temática. Existem várias histórias de heróis bem familiares dos exploradores e que fazem parte dos seus imaginários quotidianos que podem ser utilizadas; tais como: O Demolidor (Dare Devil) que é cego; O Homem-Aranha que é muito desajeitado e tímido; O Harry Potter um jovem feiticeiro que foi criado por Muggles e que foi marcado em criança pelo terrível Voldemort; As aventuras de Asterix, em que Obelix é o único Gaulês que não precisa de tomar a poção mágica por ter caído no caldeirão quando era pequeno. Também nas actividades há a possibilidade de ensinar aos exploradores o valor da diferença. Eis alguns exemplos de jogos que podemos utilizar neste âmbito: - jogos de mímica, que permitem a exploração de diferentes formas de comunicar e aprender que não é necessário falar para transmitir mensagens. - jogos de auto-conhecimento que permitam aos exploradores compreender que são todos diferentes e cada um tem talentos e dificuldades. - Gincanas com algumas nuances que podem depois ser aproveitadas para reflexão, tais como: os olhos vendados, tentar reconhecer os objectos pelo seu cheiro (sem os tocar); fazer percursos de obstáculos e com os olhos vendados e seguindo instruções verbais; fazer percursos com os dois pés amarrados e o auxílio de canadianas ou cadeiras de rodas, etc.

II. Papel do Chefe de Unidade O papel do Chefe de Unidade é fundamental no processo de inclusão, sendo que este é o principal responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na Expedição. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método escutista Sistema de Patrulhas A escolha da Patrulha em que se vai incluir o explorador com NEE deve ser feita tendo em consideração alguns aspectos importantes: No caso dos noviços haver pelo menos um elemento de referência do ano anterior, preferencialmente que tenha sido do mesmo Bando. A liderança: o Guia deve ter perfil para ter um elemento diferente na Patrulha Os elementos mais velhos da Patrulha devem ser elementos responsáveis que ajudem o explorador com NEE sem o superprotegerem.

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manualdodirigente A idade dos elementos da Patrulha, no sentido de garantir que o explorador com NEE possa acompanhar pelo menos um elemento da Patrulha aquando a passagem de secção. Para participar activamente na vida da Patrulha, o explorador com NEE deve ter um cargo para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo. Assim, no caso de crianças com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com menos responsabilidade, mas que seja importante para a Patrulha. No caso de uma criança com deficiência motora, devem adaptar-se os meios necessários no sentido de modo permitir ao explorador desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for secretário. No caso dos exploradores, o Chefe de Unidade deve assumir um papel de auxílio e orientação ao Guia e da Patrulha, no sentido de os ajudar a seleccionar o cargo e a distribuir tarefas e funções para o elemento com NEE, assim como fazê-las cumprir. Para isso é imprescindível um conhecimento mais profundo das capacidades da criança e das tecnologias de apoio que costuma utilizar na sua vida quotidiana e que lhe permitem a execução de diversas tarefas. É importante não esquecer que o elemento deve estar envolvido na vida da Patrulha sendo para isso necessário que o Chefe de Unidade e EA façam uma supervisão muito próxima da Patrulha. É também essencial não pôr a responsabilidade num só elemento da equipa, por exemplo no caso de crianças menos autónomas, pois essa tarefa torna-se cansativa para o elemento que fica responsável e limita do círculo social do elemento com NEE. Sistema de progresso O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o explorador com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes. Antes de mais, é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o explorador não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice cognitivo. Não devemos recorrer ao facilitismo e atribuir insígnias de progresso só porque o elemento está lá ou porque iria ficar triste se não as recebesse como os outros. Para merecer fazer promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o explorador, independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do seu esforço e aprendizagem. Assim, para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE, ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades. No caso de explorador com défice cognitivo ou outros problemas que não lhe permita escolher etapas ou delinear acções concretas, deve ser a EA em conjunto com o Conselho

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manualdodirigente de Guias a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessidades e gostos do explorador. As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm de uma participação activa na vida do grupo. Método de Projecto Os exploradores com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da Aventura a par dos seus companheiros de Patrulha, com a salvaguarda de que as tarefas que lhes sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades. Mais uma vez todo este processo depende da intervenção directa do Chefe de Unidade no apoio à Patrulha e de um conhecimento aprofundado do elemento e das tecnologias que o podem apoiar na execução das suas tarefas. Participação em Actividades Para decidir qual o nível de participação de um explorador com NEE em determinadas actividades importa conhecer quais os seus limites e que tecnologias o podem apoiar nessa participação, como já referido. O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não deve ser a primeira opção para exploradores com NEE, a menos que essa actividade ponha a sua integridade física em causa. Assim, antes de se decidir a não participação de um explorador numa actividade devem esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a EA deve fazer um esforço adicional, devidamente apoiado por técnicos e familiares, para tornar possível a participação da criança nas actividades, mesmo que o façam parcialmente. Por exemplo, não temos que deixar um explorador numa cadeira de rodas fora de uma estafeta só porque não pode correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a correr e o explorador transportar o testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria cadeira deve poder participar sozinho não caindo no erro de a sua participação não contar porque atrasa o grupo. Também pode fazer parte das regras do jogo que um elemento da equipa adversária também faça o percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui impera o bom senso e é fundamental o trabalho com a Expedição para que esta se torne verdadeiramente inclusiva. Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante considerar alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organização da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das características do explorador, assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por exemplo acesso a casas de banho adaptadas para o caso de um explorador em cadeira de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o explorador não possa participar em pleno em todas as actividades, não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como a socialização com exploradores de outras Expedição, não esquecendo que na impossibilidade de participação plena deve ser tida em conta a ocupação do explorador com algumas tarefas úteis durante o tempo livre.

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manualdodirigente Quando numa actividade específica da Patrulha se verifique que não existem condições para este elemento participar em condições de segurança, a Patrulha deve ser desafiada a encontrar para este seu elemento uma forma de participação alternativa em que, sendo útil ao desenvolvimento da actividade, não ponha em risco a sua integridade e a dos outros. Damos como exemplo um raid individual, em que se atravessarão algumas barreiras - riacho, subir pequena montanha; um elemento cujos problemas de saúde o impeçam de fazer grandes esforços, poderá, por exemplo ser o elo de ligação a meio do percurso, controlar as partidas ou chegadas… é necessário utilizar a imaginação para encontrar tarefas úteis. Passagem para a IIIª secção Na passagem para a IIIª secção é importante ter em conta alguns aspectos:

António Laranjeira

O explorador deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectualmente possa estar abaixo dos restantes elementos. É aconselhável que passe para a EA da Comunidade um elemento da EA da Expedição que sirva de referência ao explorador e à nova EA. Neste caso não é imperativo que seja o Chefe de Unidade, basta que seja um adulto próximo da criança e que conheça bem as suas necessidades. O Chefe de Unidade deve passar exaustivamente toda a informação que tem acerca do explorador para o novo Chefe de Unidade, podendo mesmo fazê-lo com a presença dos pais ou prestadores de cuidados de forma a facilitar este processo.

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manualdodirigente C.7.2.1.3 Escutismo Inclusivo na Comunidade

“O Escutismo auxilia-os associando-os a uma fraternidade à escala mundial, dando-lhes alguma coisa a fazer e a esperar, e facultandolhes a ocasião de provarem a si mesmo, e aos outros, que são capazes de fazer coisas – e até coisas difíceis – só por si.” Baden-Powell

Apesar de os pioneiros serem bastante autónomos, o Chefe de Unidade terá que preparar todo o processo de inclusão antes de o implementar junto dos pioneiros. Nos pioneiros, o nível de autonomia das equipas é elevado, sendo que a inclusão de um adolescente com NEE depende, na sua maior parte, do envolvimento dos elementos da Equipa e do Guia. Ressalve-se, contudo, a importância do apoio do dirigente, que, apesar do papel de retaguarda que já assume nesta secção, tem de estar bem presente e vigilante no auxílio que deve prestar aos Guias ao nível da sua responsabilidade para com os elementos com NEE. O papel do dirigente, nesta problemática, não é fácil nem simples. De facto, aqui, e mais do em qualquer outro domínio, o dirigente tem um papel de tutoria e de supervisão, devendo monitorizar a inclusão dos elementos com NEE na vivência da Equipa e da Comunidade. Esta monitorização não implica necessariamente um acompanhamento directo e presencial, mas envolve vigilância e conhecimento constante de tudo o que é feito e do modo como interagem os pioneiros entre si, e o pioneiro com NEE com o resto da comunidade. É de salientar que a admissão de jovem com deficit cognitivo severo na III secção, constitui um desafio maior, pois ao chegar à Comunidade este jovem confronta-se com jovens mais maduros em termos do seu desenvolvimento, gerando uma décalage que importa vencer; claro que esta diferença de maturidade também existe no caso dos noviços contudo o noviço já criou laços afectivos, que facilitam a inclusão. Atendendo à faixa etária da III secção há algumas questões inerentes ao desenvolvimento dos jovens com e sem NEE que importa salientar. Uma delas é o facto de estas idades serem mais propícias ao surgimento de quadros depressivos e perturbações do foro psicológico, como por exemplo, as perturbações alimentares. O Chefe de Comunidade e a sua EA devem estar minimamente informados (ou, devem ter alguma informação) acerca destas problemáticas de forma a poderem estar atentos aos sinais que possam eventualmente surgir, sendo importante não os desvalorizar.

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manualdodirigente Outra questão que merece referência é o desenvolvimento psíquico e emocional dos jovens com NEE. É comum nestas idades os jovens com NEE, mais especificamente os que têm algum tipo de deficiência como por exemplo ambliopia ou cegueira, surdez, deficiência motora, entre outros, sofrerem alguns distúrbios de personalidade, o que os pode levar à não aceitação da sua deficiência ou ao isolamento social. É de notar que os comportamentos que surgem associados a estes distúrbios podem colocar o jovem em risco, como por exemplo um cego deixar de utilizar a sua bengala, ou um deficiente motor querer realizar actividades que comportem para ele riscos acrescidos, que os outros jovens também fazem. É preciso estar atento e reforçar a auto-estima destes jovens sendo preponderante contar com a ajuda dos pares. Outro dos aspectos para o qual o dirigente deverá estar atento é o desenvolvimento sexual nos jovens com NEE, principalmente nos jovens com deficiência mental ou perturbações do espectro do autismo. O desenvolvimento hormonal e sexual acentuado é característico dos jovens na faixa etária dos pioneiros, contudo alertamos para o facto de este desenvolvimento poder ser desadequado nos jovens acima referidos, uma vez que na maioria dos casos não têm noção de intimidade e é comum não saberem respeitar a intimidade e o corpo dos outros. É muito importante que os pioneiros estejam conscientes desta ausência de limites, de forma a poderem lidar com ela, podendo assim defenderem-se e ajudar o jovem com NEE a adequar o seu comportamento. Uma abordagem correcta desta questão com os pioneiros é essencial para evitar comportamentos abusivos de parte a parte.

I. Preparar a Comunidade para a inclusão O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemento com NEE, há que preparar o grupo para receber e incluir elementos com NEE. É importante criar actividades que ajudem a Comunidade dos pioneiros a perceber e aceitar a diferença, o que implica reconhecer que todos somos diferentes, todos temos talentos e dificuldades. Para isto é importante que os pioneiros sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações assumindo que têm um papel importante na Equipa e na Comunidade e que o mesmo acontece com os outros.

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Boas práticas: São exemplos de actividades de sensibilização: - Jogos de auto-conhecimento: descrição e exploração de característica pessoais, física e de personalidade, seguidas de reflexões sobre o valor da diferença; - Jogos de exploração das capacidades físicas ou da ausência das mesmas (visão, audição, fala, observação, uso de mãos e pernas perante obstáculos, etc.), para reflexão e consciencialização sobre as barreiras sociais impostas às pessoas com Necessidades Especiais; - Actividades de visita/entrevista a pessoas com deficiência/handicaps; - Actividades de exploração espacial (análise de condições de acesso a edifícios, apoio a deficientes em organismos públicos, etc.) para reflexão sobre a solidariedade social e a responsabilização individual a esse nível. - A visita a instituições que prestam assistência a pessoas com deficiência pode ser uma óptima oportunidade educativa. De acordo com as características do grupo, a deslocação a uma instituição com pessoas com deficiência cognitiva, e eventualmente a interacção com elas, pode revelar-se interessante. Do mesmo modo a visita a uma escola de cães-guia, treinados para ajudar invisuais, pode ser importante para sensibilizar os pioneiros para o princípio de igualdade de oportunidades de todas as pessoas.

Este tipo de actividades, recomendadas como forma de sensibilização poderão e deverão ser efectuadas quer nesta altura, quer em situações em que não se prevê a admissão dum elemento com NEE. Quantos jovens ditos normais não ficam paraplégicos devido a acidentes de viação? E se esta situação ocorrer com um elemento da nossa unidade? Ou um dos elementos da Equipa de Animação?

II. Papel do Chefe de Unidade O papel do Chefe de Unidade é fundamental no processo de inclusão, sendo que este é o principal responsável por acompanhar o elemento com NEE no seu percurso na Comunidade. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método escutista. Sistema de Patrulhas A escolha da Equipa em que se vai incluir o pioneiro com NEE deve ser feita tendo em consideração alguns aspectos importantes: No caso dos noviços haver pelo menos um elemento de referência do ano anterior, preferencialmente que tenha sido da mesma Patrulha.

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manualdodirigente A liderança: o Guia deve ter perfil para ter um elemento diferente na Equipa, ou seja, deve ser um elemento capaz de atender e respeitar os outros, ter capacidade de discernimento para ir percebendo até onde o novo elemento é capaz de ir e um bom relacionamento com a chefia, para que recorra a ela quando sentir alguma dificuldade ou dúvida. Os elementos mais velhos da Equipa devem ser elementos responsáveis que ajudem o pioneiro com NEE sem o superprotegerem. A idade dos elementos da Equipa, no sentido de garantir que o pioneiro com NEE possa acompanhar pelo menos um elemento da Equipa aquando a passagem de secção. Para participar activamente na vida da Equipa o pioneiro com NEE deve ter um cargo para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo, assim, no caso de jovens com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com menos responsabilidade mas que seja importante para a Equipa, no caso de um jovem com deficiência motora devem adaptar-se os meios necessários no sentido de permitir ao elemento desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for secretário. No caso dos pioneiros o Chefe de Unidade deve assumir um papel de auxílio e orientação ao Guia e da Equipa no sentido de os ajudar a seleccionar o cargo e a distribuir tarefas e funções para o elemento com NEE, assim como fazê-las cumprir, para isso é imprescindível um conhecimento mais profundo das capacidades do jovem e das tecnologias de apoio que costuma utilizar na sua vida quotidiana e que lhe permitem a execução de diversas tarefas. É importante não esquecer que o elemento deve estar envolvido na vida da Equipa sendo para isso necessário que o Chefe de Unidade e EA façam uma monitorização de todo o processo junto do Guia. É importante não pôr a responsabilidade num só elemento da Equipa, por exemplo no caso de jovens menos autónomos, pois essa tarefa torna-se cansativa para o elemento que fica responsável e limita do círculo social do elemento com NEE. Método de Projecto Os pioneiros com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases do Empreendimento a par dos seus companheiros de Equipa, com a salvaguarda de que as tarefas que lhe sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades, todos os pioneiros são necessários para diferentes tarefas, pelo que todos devem ser chamados a ter uma participação activa, contribuindo segundo as suas possibilidades e limitações. Há que ter em atenção, a este nível, os critérios de atribuição das funções e tarefas (vontade, aptidão, capacidade, etc.), já que todos devem ser tidos em conta.

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Sistema de progresso O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o pioneiro com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes. Antes de mais é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o pioneiro não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice cognitivo.


manualdodirigente Não devemos recorrer ao facilitismo e atribuir insígnias de progresso só porque o elemento está lá ou porque iria ficar triste se não as recebesse como os outros. Para merecer fazer promessa, e receber as suas etapas de progresso é importante que o pioneiro, independentemente das suas dificuldades, sinta que a sua conquista dependeu do seu esforço e aprendizagem. Assim para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da criança com NEE, ajudando-a a evoluir de acordo com as suas potencialidades. No caso de pioneiro com défice cognitivo ou outros problemas que não lhes permita escolher etapas ou delinear acções concretas deve ser a Equipa de Animação em conjunto com a Equipa a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessidades e gostos do pioneiro/marinheiro. As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm de uma participação activa na vida da Comunidade. Participação em Actividades Para decidir qual o nível de participação de um pioneiro com NEE em determinadas actividades importa conhecer quais os seus limites e mais uma vez que tecnologias o podem apoiar nessa participação. O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não deve ser a primeira opção para pioneiros com NEE, a menos que essa actividade ponha a sua integridade física em causa. Assim, antes de se decidir a não participação de um pioneiro numa actividade devem esgotar-se todas as possibilidades, sendo que a EA deve fazer um esforço adicional, devidamente apoiado por técnicos e familiares, para tornar possível a participação da criança nas actividades, mesmo que o façam parcialmente. Por exemplo, não temos que deixar um pioneiro numa cadeira de rodas fora de uma estafeta só porque não pode correr, alguém pode empurrar a sua cadeira de rodas a correr e o pioneiro transportar o testemunho, ou então se puder conduzir a sua própria cadeira deve poder participar sozinho não caindo no erro de a sua participação não contar porque atrasa o grupo, podendo fazer parte das regras do jogo que um elemento da equipa adversária também faça o percurso na cadeira de rodas conduzindo-a, aqui impera o bom senso e é fundamental o trabalho com a Comunidade para que esta se torne verdadeiramente inclusiva. Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante ter em conta alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de Organização da participação do elemento, devendo o Chefe de Unidade informar das características do pioneiro assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por exemplo acesso a casas de banho adaptadas, sem escadas para o caso de um pioneiro em cadeira de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o elemento não possa participar em pleno em todas as actividades não deve por isso ser deixado em casa visto

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manualdodirigente este tipo de actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como a socialização com elementos de outras Comunidades, não esquecendo que na impossibilidade de participação plena deve ser tida em conta a ocupação do pioneiro durante o tempo livre. Nos pioneiros a participação e vivência das actividades é na maioria do tempo feita pelas Equipas de forma autónoma pelo que todos os elementos da mesma devem estar conscientes das características de cada um dos seus elementos e condições de participação nas actividades – Viver em Equipa é trabalhar para o bem comum respeitando-se e respeitando os outros. Passagem para a IV secção Na passagem para a IV secção é importante ter em conta alguns aspectos:

António Laranjeira

O pioneiro deve acompanhar o seu grupo de referência mesmo que intelectualmente possa estar abaixo dos restantes elementos. O Chefe de Unidade deve passar exaustivamente toda a informação que tem acerca do pioneiro para o novo Chefe de Unidade.

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manualdodirigente C.7.2.1.4 Escutismo Inclusivo no Clã

Na passagem para a IV Secção, é de esperar um nível de autonomia no Clã que lhe permita assumir muita responsabilidade na inclusão de um jovem com NEE. Preferencialmente, um jovem com NEE deve ser aceite nesta secção como noviço e não como aspirante, pois significa que já houve um percurso escutista e o jovem já conhece alguns elementos. Para além disso não nos podemos esquecer da missão educativa do CNE, isto é, ao admitir qualquer jovem no Clã temos que ter em conta aquilo que o escutismo lhe vai poder proporcionar. Tendo em conta que poderá não ir mais além do Clã, podemos estar em situação de não ter nada para oferecer a este jovem. Este aspecto é de maior importância quando se trata de um jovem com deficit cognitivo acentuado. Incluir jovens com NEE significa criar estratégias que permitam a participação activa de todos os caminheiros sem excepção, mediante as capacidades de cada um. Neste processo o Chefe de Clã tem um papel de retaguarda devendo ajudar o Clã a acompanhar de perto o elemento com NEE e contribuir para o seu desenvolvimento. O papel do dirigente, nesta problemática, não é fácil nem simples. De facto, aqui, e mais do em qualquer outro domínio, o dirigente tem um papel de tutoria e de supervisão, devendo monitorizar a inclusão dos elementos com NEE na vivência da Tribo e do Clã. Esta monitorização não implica necessariamente um acompanhamento directo e presencial, mas envolve vigilância e conhecimento constante de tudo o que é feito e do modo como interagem os caminheiros entre si, e o caminheiro com NEE com o resto do Clã.

I. Preparar o Clã para a inclusão O processo de inclusão não passa apenas por fazer diligências em relação ao elemento com NEE, há que preparar o Clã para receber e incluir elementos com NEE. É importante criar actividades que ajudem a Clã a a aceitar a diferença, o que implica reconhecer que todos somos diferentes, todos temos talentos e dificuldades. Para isto é importante que os caminheiros sejam ajudados a tomar consciência das suas capacidades e limitações assumindo que têm um papel importante no Clã e que o mesmo acontece com os outros.

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Boas práticas: São exemplos de actividades de sensibilização: Jogos em que a actividade física é limitada (olhos vendados, tampões nos ouvidos, mãos e pés amarrados) e que são seguidos de plenário onde se discutem as dificuldades sentidas, os problemas detectados e as soluções possíveis; Debates ou fóruns de discussão sobre a diferença e o direito à individualidade, aproveitando histórias e crónicas para hikes, retiros, fogos de conselho, etc.; Visitas a Instituições, planear actividades de equipa com jovens destas Instituições e técnicos.

II. Papel do Chefe de Unidade Em todo este processo, não podemos esquecer o papel fundamental do Chefe de Clã na orientação dos caminheiros, na medida em que lidar com jovens com NEE nem sempre é fácil, pelo que não pode ser uma tarefa que se deixa por completo a cargo do Clã, sem vigilância do Dirigente. Vejamos então como agir atendendo a algumas particularidades do método escutista Sistema de Patrulhas Na passagem para o Clã é importante ter em conta o percurso do jovem com NEE no agrupamento tendo em conta que este deve acompanhar sempre alguns elementos de referência da secção anterior, e este factor deve ser tido em conta na escolha da Tribo a que o jovem vai pertencer. Para participar activamente na vida do Clã o caminheiro com NEE deve ter um cargo para o qual consiga realizar as tarefas inerentes ao mesmo, assim, no caso de jovens com deficiência mental ou défices cognitivos pode optar-se por criar um cargo com menos responsabilidade mas que seja importante para a Tribo, no caso de um jovem com deficiência motora devem adaptar-se os meios necessários no sentido de permitir ao elemento desempenhar as suas tarefas, por exemplo, escrita no computador se for secretário.

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Método de Projecto Os caminheiros com NEE devem ter uma participação activa em todas as fases da Caminhada a par dos seus companheiros de Clã, com a salvaguarda de que as tarefas que lhe sejam atribuídas se adeqúem às suas capacidades, todos os caminheiros são necessários para diferentes tarefas, pelo que todos devem ser chamados a ter uma participação activa, contribuindo segundo as suas possibilidades e limitações.


manualdodirigente Sistema de Progresso O sistema de progresso, cuja adequação às competências e características de cada elemento (através do estabelecimento de oportunidades educativas concretas e individualizadas) se reveste de especial importância, também permite que jovens com mais dificuldades cumpram todos os requisitos para progredir. O processo de base para a aplicação do sistema de progresso é igual para o caminheiro com NEE, podendo diferir nalguns pontos atendendo ao tipo de dificuldades existentes. Antes de mais é importante relembrar que não devemos partir do princípio que o caminheiro não conseguirá fazer isto ou aquilo, principalmente quando existe um défice cognitivo. Assim para que seja possível cumprir as etapas de progresso há que adaptar cada objectivo educativo do sistema de progresso às capacidades reais da jovem com NEE, ajudando-o a evoluir de acordo com as suas potencialidades. No caso de caminheiro com défice cognitivo ou outros problemas que não lhes permita escolher objectivos ou delinear acções concretas deve ser o Clã e o Conselho de Clã, devidamente ajudados pelo Chefe de Clã a fazê-lo, tendo em conta as características, potencialidades, necessidades e gostos do caminheiro. As oportunidades educativas são as mesmas que para os restantes elementos e advêm de uma participação activa na vida do grupo. Participação em Actividades Para decidir qual o nível de participação de um caminheiro com NEE em determinadas actividades importa conhecer quais os seus limites e mais uma vez que tecnologias o podem apoiar nessa participação, não esquecendo que os seus companheiros são jovens com um nível de responsabilidade que lhes permitirá ajudá-lo nessa vivência. O que importa deixar claro neste capítulo é que a não participação numa actividade não deve ser a primeira opção para caminheiros com NEE, a menos que essa actividade ponha a sua integridade física em causa. Na participação em actividades regionais, nacionais e internacionais é importante ter em conta alguns procedimentos tais como a informação atempada da equipa de organização da participação do elemento, devendo o Chefe de Clã informar das características do caminheiro assim como pedir os recursos necessários para a sua participação, por exemplo acesso a casas de banho adaptadas, para o caso de um caminheiro em cadeira de rodas ou com mobilidade reduzida. Mesmo que o elemento não possa participar em pleno em todas as actividades não deve por isso ser deixado em casa visto este tipo de actividades terem outras componentes extremamente importantes tais como a socialização com elementos de outros Clãs.

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manualdodirigente A Partida Esta secção marca a entrada na idade adulta, em que se atinge uma maturidade mais responsável e na qual os projectos de vida futura começam a tomar forma. Por esta razão, é também a fase em que será necessária uma decisão em relação ao futuro dos jovens com NEE no CNE. Como para qualquer caminheiro, a partida de um jovem com NEE deve ser preparada com base num fim de percurso pré-estabelecido e o início de outro. A diferença é que, depois da Partida, para estes jovens, e especificamente no caso de deficiência mental, o caminho a seguir não pode implicar a assunção de responsabilidades de animação pedagógica e a formação para dirigente, dada a responsabilidade civil que é imputada a cada dirigente quando tem crianças ou jovens a seu cargo. Isto pode ser difícil de explicar aos caminheiros, principalmente se tiverem crescido todos juntos no escutismo. Neste caso, há que ter em atenção que não se podem criar expectativas no jovem ao longo do seu caminho, devendo-se, pelo contrário, preparar a sua saída do Movimento. Isto pode passar por encontrar alternativas que o mantenham incluído na comunidade e que lhe tragam tanta satisfação como o escutismo. São hipóteses: Ingresso na Fraternidade Nun'Álvares; Exercício de tarefas específicas, que não de responsabilidade pedagógica, no agrupamento (como auxiliares); Exercício de tarefas específicas na Paróquia ou Comunidade.

António Laranjeira

Contudo, importa referir que cada caso é um caso e que qualquer decisão respeitante ao jovem na idade da sua Partida, tal como na data da sua admissão, é da responsabilidade da Direcção do Agrupamento e deve ser cuidadosamente analisada tendo em conta as capacidades do jovem em questão.

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manualdodirigente C.7.2.2 A interculturalidade

"Interculturalidade refere-se à existência e interacção equitativa de diversas culturas, assim como à possibilidade de geração de expressões culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo.”

UNESCO; Definição aprovada na Conferência Geral da

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, na sua 33ª reunião, celebrada em Paris, de 03 a 21 de Outubro de 2005

I.Portugal, nação do mundo É inegável que o mundo se tornou um local mais pequeno nos últimos anos. A possibilidade de comunicarmos em tempo real, face a face, com alguém no outro lado do planeta é hoje uma realidade. De igual modo, a capacidade de termos uma fonte de conhecimentos infinito à distância de um terminal de Internet ajudou-nos a conhecer melhor o nosso lugar no mundo e a nossa relação com o próximo, mesmo que de forma virtual. Viajar tornou-se também mais fácil e mais seguro, possibilitando um fluxo crescente de bens e pessoas. Este contacto entre culturas leva à inevitável absorção de diferentes formas de entender a vida em sociedade por parte de indivíduos que estariam, à partida, plenamente integrados e com uma origem cultural partilhada com o meio social onde habitam. Uma das manifestações da crescente pequenez do nosso mundo reflecte-se nos fluxos de pessoas que percorrem o planeta. A sociedade portuguesa, vista de uma perspectiva transfronteiriça, acolhe no seu território apenas dois terços dos seus cidadãos. Um em cada três portugueses vive assim fora das fronteiras portuguesas, o que torna Portugal num dos países com maior diáspora. Por outro lado, o território nacional acolhe hoje cerca de meio milhão de imigrantes, fazendo com que um em cada vinte habitantes do nosso território tenha escolhido Portugal para sua nova morada, para se fixar, trabalhar e criar a sua família. Seguindo a tendência histórica dos fluxos humanos, a sociedade portuguesa encontra-se exposta a vários estímulos de ordem cultural, estímulos esses que, sendo diversificados nas suas formas, obrigam todos a uma cada vez mais rápida capacidade de adaptação ao meio em que vivemos. Neste processo adaptativo, o desafio da multiculturalidade não tem como fonte única a presença de pessoas com diferentes origens mas também os estímulos que tocam a todos diariamente através dos meios de comunicação social.

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manualdodirigente A atomização cultural da sociedade portuguesa apresenta-se assim como um processo de raiz individual e social, onde cada pessoa desenvolve a sua própria cultura a partir de uma base que pode ou não ser comum aos restantes indivíduos que a rodeiam. Por outro lado, a vida em sociedade e a necessidade de laços de confiança obrigam ao sentimento de pertença a uma realidade comum marcada pela diversidade, respeito mútuo e partilha. É neste plano que a multiculturalidade dá lugar à interculturalidade. Estes são apenas alguns dos principais estímulos com que a sociedade portuguesa se confronta e tem confrontado ao longo da sua história, sendo que o processo evolutivo é bastante notório na forma como se manifesta no meio e nas pessoas. É nesta realidade que se sublinha a importância maior de avaliar, debater e promover a interculturalidade, ao mesmo tempo que se reconhece a necessidade de diálogo e promoção da partilha pela diversidade cultural.

II.O CNE como movimento intercultural Desde a sua criação que o CNE assume-se como membro participativo da sociedade a que pertence. A dinâmica gerada por esta relação entre sociedade e CNE projecta-se, antes de mais, na capacidade que o movimento tem de influenciar positivamente a sociedade através da formação integral de homens e mulheres válidos. Por outro lado, o bilateralismo desta relação leva a que o CNE não escape à constante influência do mundo que o rodeia e que parece tornar-se mais pequeno e próximo a cada dia que passa. O CNE é assim facilmente entendido como um reflexo da sociedade em que vive, e dificilmente poderíamos verificar o sucesso da intervenção social do CNE se esta relação tivesse uma natureza diferente. É esta capacidade de entender a sociedade, as suas mutações e as suas necessidades, que ajuda a moldar as iniciativas do CNE no sentido de continuar a formar cidadãos válidos.

Desta forma, a necessidade de uma particular atenção a temas relacionados com a interculturalidade surge como fruto desta dinâmica simbiótica entre CNE e sociedade portuguesa, onde o CNE: · Entende as diversas culturas como elementos enriquecedores e promotores do desenvolvimento material e espiritual humano, numa perspectiva de mútuo respeito e entendimento pela partilha num ambiente de liberdade colectiva e individual; · Observa a crescente multiplicidade cultural da população portuguesa como um desafio e uma oportunidade para identificação do movimento e da sua acção; · Assume a necessidade de resposta constante às exigências surgidas com a

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natural evolução da sociedade em que se insere. Neste contexto, o CNE: · Vive e actua de acordo com os seus princípios; · Defende o respeito pelo próximo em todas as circunstâncias; · No âmbito dos seus princípios, acolhe todos sem distinção da sua origem ou cultura; · Educa para a paz e mutua compreensão através do diálogo intercultural; · Renuncia e denuncia toda a descriminação fundamentada na origem ou matriz cultural; · À luz dos seus princípios e do evangelho, retrata-se e está alerta para a contínua adequação das respostas do movimento aos desafios da sociedade.

III. Educar para a interculturaridade A multiculturalidade que hoje vivemos coloca novos desafios ao dia-a-dia da vida dos agrupamentos. Em muitos casos, a sede tornou-se o local de encontro de crianças das mais variadas origens. Crianças e jovens de diferentes estratos sociais, originários de diferentes matrizes culturais ou até falando outros idiomas. Comportamentos individuais ou sociais que são evidentes para uns podem não fazer parte da experiência de outros. O próprio modo de vestir, de olhar, de comunicar pode causar estranheza, mútua incompreensão e distanciamento. Diferentes estilos de aprendizagem, formas de relacionamento, ritmos com que se desenvolvem as diversas competências podem também ser outras das formas de heterogeneidade presentes. Esta é a realidade multicultural dos dias de hoje. Tendo em mente o papel do dirigente, são evidentes as implicações para a sua acção pedagógica enquanto animador. Situações mundanas como quando contacta com novos elementos provenientes de outra cultura ou quando reúne com pais que podem desconhecer a língua podem evidenciar a necessidade de preparação do dirigente para esta realidade. Só incorporando o papel do “outro” será possível entendê-lo enquanto “próximo”. Pela capacidade de reflexão que produz crítica e auto-crítica, observação e auto-observação. Assim, uma das primeiras necessidades é a de tomar consciência da sua própria identidade, com o consequente descentramento de si próprio. Passa ainda por ter uma especial sensibilidade para a percepção das condições que rodeiam e influenciam o jovem escuteiro. Pequenas coisas, pequenas atitudes que, afinal, trazem novas perspectivas para a acção individual do dirigente, tendo em mente a construção de um movimento escutista que não é só mundial quando pensamos para lá das nossas fronteiras, mas que se torna universal dentro de cada agrupamento

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manualdodirigente V. Gerir a interculturalidade Existe em cada um de nós uma dimensão diferente do que é ser-se humano, e assim, todo o dirigente entende que para cada um dos jovens com quem trabalha existe uma forma diferente de educar no escutismo. O facto de existir uma dinâmica intercultural no seio da unidade deverá ser entendida como um elemento de enriquecimento pela diversidade e não de entropia. É no sentido de auxiliar o dirigente neste processo de mútua adaptação e influência que se chama a atenção para algumas situações e iniciativas passíveis de facilitar o seu papel de formador de crianças e jovens com diferentes bases culturais

Boas práticas: Para os que acabam de chegar… Adaptação - Deixe que o jovem se instale no novo ambiente. Dê-lhe tempo; - Procure compreender os seus ritmos. Mantenha-se atento/a, sem pressionar, mas sem qualquer tipo de distinção condescendente O Nome é muito importante - Dê atenção ao nome da criança/jovem e assegure-se de que todos o sabem pronunciar correctamente; - Aprenda e encoraje os outros a aprender algumas palavras da língua da criança/jovem (fórmulas diversas, por exemplo, de boas-vindas). Ajudar a criança/jovem a sentir-se bem - Dê atenção aos seus comportamentos. Verifique se exprime e se mantém alguma forma de insegurança inicial e ajude-o neste processo de acolhimento; - Inclua sempre as outras crianças/jovens no acompanhamento e na resolução de problemas.

Criar uma auto-imagem positiva - Aproveite as oportunidades para chamar a atenção das vantagens de ser bilingue; - Procure, ou construa, livros e imagens que representem a cultura da criança/jovem de forma positiva e evitando estereótipos; - Dê espaço à criança/jovem para usar a sua língua (contando uma história ou cantando uma canção, por exemplo). 416


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Português Língua de Acolhimento Estabelecer a comunicação - De início verifique se é compreendido. Use frases simples de forma consistente; - Lembre-se que a criança/jovem pode precisar de mais tempo para se sentir à vontade na outra língua. Eles têm direito ao silêncio; Exercícios úteis - Organizar sequência de texto ou imagens; - Identificar palavra-chave/ideia-chave; - Descobrir correspondências entre palavras, frases e/ou imagens; - Use canções (com refrão) e histórias com frases repetidas; - Jogos como o “passa-a-palavra”. Os jogos, para além de motivadores, são óptimos para introduzir novo vocabulário e fórmulas sociais; Bons exemplos - Assegure que a criança/jovem integra grupos de trabalho com falantes competentes, para que possa aprender com bons exemplos; - Exercícios e jogos de computador são fáceis de obter e ajudam. Para trabalho individual ou com um colega que domina bem a língua; O Agrupamento e os Pais - Envolva os pais e mantenha-os informados do progresso da criança/jovem; - Procure conhecer o ponto de vista dos pais e as suas expectativas; - Explique as razões porque utiliza determinadas estratégias; - Coloque-se na posição de quem poderá ter alguma dificuldade em exprimir-se e imagine como gostaria que o outro reagisse; - Procure saber se, no caso de crianças/jovens que falam outras línguas, alguém da família ou amigo pode ser mediador e participar (ocasionalmente ou não). A Sede - Afixe em lugares visíveis mensagens em diferentes línguas (boas-vindas, toponímia, informações, etc.); - Lembre-se que nem todas as culturas celebram as mesmas festas e que nem todos tiveram o mesmo imaginário infanto/juvenil; - Procure materiais multiculturais. Peça a colaboração da criança/jovem; - Dinamize iniciativas interculturais; - Lembre-se que o fundamental é que todos sintam a sede como sua.

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Sugestões de sites: http://www.acidi.gov.pt http://www.oi.acidi.gov.pt http://www.ciga-nos.pt http://www.sef.pt http://www.apedi.net http://europa.eu http://www.salto-youth.net/diversity http://www.unhcr.org Sugestões de publicações: ROSINSKI, Philippe, Coaching Intercultural. Edições Monitor, 2010, NETO, Felix, Portugal Intercultural. Editora Legis, 2010, FERREIRA, Manuela Malheiro, Educação Intercultural. Edições Universidade Aberta, 2004 ACIDI, 44 Ideias Simples para Promover a Tolerância e Celebrar a Diversidade. Lisboa: Diário de Notícias, 2007 ANDRADE, Domingos, et al, Gente de Fora Cá Dentro. Porto: ACIME e Jornal de Notícias, 2002. ANDRÉ, João M., Diálogo Intercultural, Utopia e Mestiçagens em Tempos de Globalização. Coimbra: Ariadne Editora, 2005 ANÍBAL, C., Ferreira, C. & Borges, R. P., Estudo sobre a Integração de Crianças de Minorias Étnicas nas Escolas do 1.º ciclo do Ensino Básico – Relatório Final. Câmara M. Lisboa. CANOTILHO, J. Gomes, Direitos Humanos, Estrangeiros, Comunidades Migrantes e Minorias. Lisboa: Celta, 2000. CORTESÃO, Luisa & Stoer, Stephen (coord.), Projectos, Percursos, Sinergias no Campo da Educação Inter/multicultural – Relatório Final. CIIE – FPCE, U. Porto, 1995. COTRIM, Ana (coord.), Educação Intercultural: Abordagens e Perspectivas. Lisboa: Secretariado Entreculturas,1995. GARCIA, José Luís (org.), Portugal Migrante: Emigrantes e Imigrados, Dois Estudos Introdutórios. Lisboa: Celta, 2000. GONÇALVES, Manuel, et al., Educação Intercultural – Guia do Professor (1.º ciclo). Lisboa: Secretariado Entreculturas, 1995 PERES, Américo N., Educação Intercultural: Utopia ou Realidade? Processos de Pensamento dos Professores face à Diversidade Cultural: Integração de minorias na escola. Porto: Profedições, 1999. PEROTTI, António, A Apologia do Intercultural. Lisboa: Secretariado Entreculturas, 1997. SEABRA, Teresa, Educação nas Famílias: Etnicidade e Classes Sociais. Lisboa: IIE, 1999 Secretariado Entreculturas, DGEBS, Guião Orientador da Elaboração de Projectos Interculturais (Ensino Básico). Lisboa: ME., 1992 STOER, Stephen, Magalhães A., A Diferença Somos Nós – A Gestão da Mudança Social e as Políticas Educativas e Sociais. Porto: Edições Afrontamento, 2005 STOER, Stephen & Cortesão, Luísa, Levantando a Pedra: da pedagogia inter/multicultural às políticas educativas numa época de transnacionalização. Porto: Edições Afrontamento, 1999 VIEIRA, Ricardo, Histórias de Vida e Identidades: Professores e Interculturalidade. Porto: Edições Afrontamento, 1999. 418


manualdodirigente C.7.2.2.1 A interculturalidade na Alcateia I. Tantos Lobitos e tão diferentes A Organização Mundial do Movimento Escutista é a maior associação juvenil do mundo, com cerca de 28 milhões de escuteiros. Já imaginaram a quantidade de etnias que temos nesta grande família que é o escutismo? E que todos nós, enquanto viventes do mesmo espírito, temos um objectivo comum de “deixar o Mundo um pouco melhor do que o encontramos”? De certeza que em grande parte das Alcateias de Portugal podemos encontrar estas diferenças culturais. De lobito para lobito, de localidade para localidade, de país para país, de continente para continente esta variedade cultural, esta multi-cultura, é visível dentro desta “Força Escutista” global. No mundo somos mais de 6,6 mil milhões de pessoas. Pessoas que pensam de maneira diferente, que crêem em Deus de maneira diferente, que se expressam de maneira diferente, que se vestem de maneira diferente, pessoas que são diferentes. Máugli, filho do Homem, foi ele próprio incluído num meio que não era o dele. Foi adoptado e incluído num meio nada semelhante ao que estava habituado, rodeado de animais tão diferentes e que contudo o amaram e educaram como se fosse mais uma das criaturas da selva. Aos olhos de Máugli e aos olhos dos seus amigos da selva as diferenças físicas não tinham qualquer importância. Eles eram antes de mais e de tudo amigos que partilhavam brincadeiras e que aprendiam uns com os outros. A vida em Alcateia está envolta nos ensinamentos do Livro da Selva mas também das palavras de São Francisco de Assis, patrono dos lobitos, que amava todas as criações de Deus como sendo seus irmãos. Esta é a melhor mensagem de inclusão que podem passar à Alcateia. É o melhor exemplo de inclusão pelo amor e amizade e de enriquecimento pela partilha de formas diferentes de viver a vida. Todo o covil é um espaço que respira interculturalidade, e ninguém quer ser visto como o Xer Cane da Alcateia por ficar de fora. Nós, escuteiros num Mundo multicultural, constituímos uma família à qual podemos chamar de “Força Escutista”, porque realmente somos uma força capaz de ultrapassar obstáculos através do diálogo e da união.

II. O Aquelá como agente de mudança Diziam os romanos “Ubi Homo Ibi Societas”, que quer dizer “Onde estiver o Homem, existirá Sociedade”. É uma realidade que o Homem é uma animal social, e que a própria sobrevivência da raça humana depende desta relação de interdependência entre todas as pessoas.

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manualdodirigente A sociedade humana à qual todas as pessoas pertencem divide-se ainda em sociedades mais pequenas, onde vários grupos de pessoas têm características próprias que lhes permitem viver de acordo com as suas necessidades. Chama-se a isto a forma de como o meio onde vivemos influência a nossa cultura. Se pensarmos que não existem dois lugares iguais na Terra, podemos então falar de uma diversidade humana cultural infinita em todo o planeta. A cultura de cada sociedade está um pouco espalhada por toda a superfície terrestre. Temos o exemplo do caso português. Neste momento existem milhões de portugueses espalhados pelo mundo a viver noutros países, e é possível ouvir falar a nossa língua em sítios como a Inglaterra, os Estados Unidos ou até a China. E isto não acontece só connosco portugueses mas com todas as sociedades. É cada vez mais frequente ouvirmos falar outras línguas nas nossas ruas. São as línguas de tantas pessoas que escolheram Portugal para viver e criar as suas famílias. Ajuda a estes fluxos de pessoas o facto de o mundo ser hoje mais pequeno, com as viagens entre as várias regiões do Mundo a serem de mais fácil acesso e mais rápidas. É neste contexto que surge a interculturalidade. No escutismo vivemos um método e um meio privilegiado para estas vivências interculturais. Exemplo disso são as actividades internacionais, que juntam e misturam povos e culturas distintas mas com a busca do objectivo comum de “Deixar o Mundo um pouco melhor que o encontramos”. No combate à exclusão, aos preconceitos e à discriminação, cabe-nos a nós escuteiros moldar o movimento para que este seja no futuro uma entidade aberta às vivências interculturais. O acolhimento de pessoas provenientes de culturas diferentes no nosso meio, como por exemplo a inclusão de um lobito estrangeiro na Alcateia, é factor igualmente importante que nos torna agentes promotores da interculturalidade nos nossos agrupamentos.

Boas práticas: DINÂMICA “O OVORCÍCIO” Em que é que um exercício com um ovo se pode assemelhar a uma verdadeira aventura intercultural… Recursos necessários: Um ovo cru para 4-5 participantes, fios para prender os ovos ao candeeiro, muito papel, tesouras, revistas velhas, cartão e cola. Um espaço de pelo menos 4X4 metros para cada grupo de 4-5 participantes. 420


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Tamanho do grupo: 5 participantes no mínimo, 35 no máximo. Se houver mais participantes, pode reparti-los em vários grupos de grande dimensão que vão separadamente fazer o exercício completo (incluindo a discussão e avaliação). Tempo necessário: Cerca de 1h15: 10 minutos para a introdução 30 minutos para a resolução do problema 30 minutos para a avaliação Etapas: 1 Prepare as divisões nas quais os pequenos grupos de participantes (4-5) vão trabalhar. Para cada um dos pequenos grupos, prenda um fio à volta de um ovo cru, envolvido num papel e suspenda-o no candeeiro, a cerca de 1,75 – 2 metros do chão. Não coloque muito papel à volta do ovo, ele deve poder partir-se em caso de cair. Coloque à disposição de cada um dos pequenos grupos uma pilha de revistas velhas, tesouras e cola. 2 Divida os participantes em pequenos grupos (4-5) e depois apresente o exer­cício: 30 minutos depois do início do exercício, o facilitador irá a todas as divisões cortar os fios que seguram os ovos. A missão das equipas consiste em realizar uma construção que impeça que, ao cair, o ovo se parta. O jogo tem as seguintes regras: * Os participantes e os materiais utilizados para a construção não devem tocar nem no ovo, nem no fio que os segura; * Os participantes só podem utilizar o material preparado para o jogo (não podem usar nem as cadeiras nem as mesas existentes na sala, por exemplo!). 3 Vigie os grupos (terá necessidade de um facilitador para cada dois grupos) e assegure--se de que eles cumprem as regras. 4 No fim dos 30 minutos suspenda o exercício, e vá a todas as salas cortar o fio e ver se todas as equipas conseguiram impedir que o ovo se parta. 5 A avaliação pode desenvolver-se em duas etapas: primeiro em grupos pequenos (facultativo), depois com todos os participantes. Opções extra: Como indica a sua descrição, este jogo consiste num trabalho de equipa. Existem várias possibilidades de adaptar o jogo às suas necessidades específicas. Para reforçar a dimensão intercultural do método, pode integrá-lo numa simulação onde cada um dos membros da equipa desempenhe um papel (“cultural”) diferente. Na discussão pode colocar a tónica nas possibi­lidades e limites de uma cooperação intercultural. O que é que os par­ticipantes consideraram difícil no trabalho em comum. De que forma chegaram a compromissos? Para reforçar a dimensão intercultural do jogo, mas de forma mais simples, pode conferir a cada uma das equipas (ou a cada um dos membros no seio das equipas) uma ou várias limitações:

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– Não poder falar – Estar muito focado numa liderança ou, pelo contrário, ignorar – Não estar concentrado no tempo ou, pelo contrário, estar muito consciente da passagem do tempo –… Reflexão e avaliação: Para todas estas variantes, a discussão pode concentrar-se na cooperação no seio das equipas para realizar a sua construção. O que constataram os participantes? Sentiram dificuldades de comunicação? Em que é que as diferentes formas de resolver o problema influenciaram a natureza do trabalho em equipa? Se tiver acrescentado uma dimensão intercultural ao jogo, deve interrogar os par­ticipantes sobre este aspecto particular: Em que é que a “regra” ou a “limitação” em questão influenciou o trabalho em equipa? Como fizeram para ultrapassar as dificuldades? É importante que esta sessão não se torne pretexto para “culpar” alguns par­ticipantes pelo seu comportamento durante o exercício. Tente antes fazer uma aproximação entre este exercício e situações reais – quanto a formas de trabalhar, comportamentos e preferências no seio de uma equipa –, nomeadamente no caso de equipas interculturais. Como gerir as diferenças de maneira construtiva? Em que casos é possível fazer compromissos?

Arquivo CNE

Este método na prática…: O interesse deste exercício reside na sua grande flexibilidade – graças a uma situação simples, permite abordar qualquer tipo de questões: o trabalho em equipa, o modo como os indivíduos resolvem os problemas e trabalham em conjunto. Contudo, esta flexibilidade pode também ser um inconveniente: o exercício pode tornar-se completa­mente sem sentido se não se desenvolver num contexto adequado.

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manualdodirigente C.7.2.2.2. A interculturalidade na Expedição I. Exploradores da Terra, Moços dos 7 Mares A Interculturalidade trata-se de uma realidade que, não sendo nova, tem hoje um lugar de importância maior num mundo que se torna mais pequeno e que nos aproxima. É uma realidade que nos coloca desafios de aprendizagem e que leva à reflexão. No CNE existem muitas realidades. Se olharmos bem encontraremos em cada uma delas particularidades que as tornam únicas. Todas são diferentes, mas todas são de igual valor para o Escutismo. E não estará a riqueza do CNE nessa diferença que apenas reforça o sentimento de irmandade? Quantos de vós não terá um irmão escuteiro que provém de outra região de Portugal ou até mesmo de outro País? Repararam de certeza em alguns hábitos e vivências diferentes dos vossos. Já pensaram que essas diferenças, tal como se fossem pontes, aproximam mais que distanciam? Façamos um exercício. Imaginemos que estamos em pleno acampamento e que temos alguns convidados estrangeiros provenientes da Marrocos. Chegada a hora de fazer a ementa todos têm que decidir o que fazer para o jantar dessa noite. Os portugueses decidem-se pelo arroz à escuteiro, mas não sabem que os escuteiro marroquinos não podem comer carne de porco porque vai contra a sua religião e cultura. Como reagiriam? Ficariam zangados pelo facto de não comerem todos arroz à escuteiro ou tentariam perceber o porquê e até aprender uma nova receita? Podemos também imaginar esta mesma situação, mas ao contrário. Imaginem que estão numa actividade com escuteiros australianos e que é a vez deles cozinharem. Naquela noite seria cozinha selvagem e o jantar seria... cobra assada. Quantos não iriam para o saco cama sem comer? Baseado nestes exemplos simples podemos perceber a riqueza que existe na partilha das diferenças culturais. Aprendemos que é saudável aceitar a diferença e respeitar realidades que desconhecemos, na mesma medida que esperamos ser respeitados, quando o diferente somos nós. A diferença não é um impedimento à troca de experiências mas antes um importante factor de enriquecimento do nosso conhecimento. Trata-se de um processo que deve envolver os intervenientes, intelectual e emocionalmente, uns pelos outros e pela compreensão da interacção entre ambas. Sendo o movimento escutista mundial uma escola maior para aprendizagem global e educação integral ao nível dos valores, devemos estar mais atentos e ser mais sensíveis à diversidade de culturas e vivências dentro do movimento. Este reconhecimento é feito, em particular, no que respeita à promoção da paz, da cooperação, da solidariedade, da interculturalidade e da inter-religiosidade.

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O que quer dizer? Estereótipo Ideias preconcebidas, sem sustentabilidade empírica, que generalizam frequentemente uma imagem negativa acerca de determinadas comunidades. Etnia Valores culturais e normas que distinguem os membros de um dado grupo dos outros grupos. Um grupo étnico caracteriza-se por os seus membros partilharem uma consciência distinta da sua identidade cultural, que os separa dos outros grupos à sua volta. Em, virtualmente, todas as sociedades as diferenças étnicas estão associadas a diferenças de poder e riqueza. Etnocentrismo Tendência para privilegiar os valores e as normas do grupo de pertença e para o erigir em modelo de referência, com a desvalorização e a adopção de sentimentos negativos em relação às outras etnias. Comportamento habitualmente associado à recusa da diversidade cultural, sinónimo de intolerância e xenofobia, fonte de racismo e de discursos moralizadores. Identidade Processo pelo qual um actor social se reconhece a si próprio e constrói significado, sobretudo através de um dado contributo cultural ou conjunto de atributos culturais determinados, a ponto de excluir uma referência mais ampla a outras estruturas sociais. Minoria Um grupo constitui uma minoria quando os seus membros possuem uma identidade socialmente inferiorizada ou desvalorizada – uma situação de desvantagem relativa, seja demográfica, política, económica ou cultural. Preconceito Ideias preconcebidas acerca de um indivíduo ou grupo, que dificilmente se alteram mesmo face a nova informação. Raça É uma construção social utilizada para classificar pessoas. Originalmente tinha por base a falsa crença que existiam espécies humanas biologicamente diferentes, e que umas espécies seriam superiores a outras. Contudo, a ciência provou que não existe qualquer diferença genética e que, portanto, não existe uma base biológica para a divisão do Homem em diferentes espécies ou raças.

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Racismo Valorização de diferenças com vantagem para o acusador e em detrimento da vítima, a fim de justificar os seus privilégios ou a agressão. Conjunto de práticas e efeitos discriminatórios que afectam mais frequentemente os grupos minoritários, definidos em termos raciais ou étnicos. Xenofobia Medo ou ódio dirigido a pessoas provenientes de uma localização geográfica diferente.

Boas práticas: “Podem trocar os vossos valores?” Este método tornou-se particularmente efi­caz com grupos que ainda não tinham sido verdadeiramente confrontados com a aprendizagem intercultural e serviu de ponto de partida para uma reflexão sobre os valores. A formulação dos valores nas cartas desempenhou um papel essencial – alguns dos valores citados revelaram-se muito gerais (e apenas partilhados), outros muito específicos. Para obter um bom resultado, deves discutir antes com a tua equipa os vários valores e as diversidades de opiniões que poderão suscitar. Recursos necessários: - Uma sala suficientemente grande que permita que os participantes se movimentem - Cartas, apresentando cada uma um valor (ex.: “não podemos confiar na gene­ralidade das pessoas”, “os seres humanos deveriam a todo o custo viver em total harmonia com a natureza, etc.) em número suficiente para que cada participante possa ter 8; algumas podem estar duplicadas, mas são precisas, pelo menos, 20 cartas diferentes - Entre 8 e 35 participantes. Tempo necessário: O tempo necessário pode variar, mas é estimado entre 1 e 2 horas (cerca de 10 minutos para aplicar o exercício, 20 minutos para as trocas, entre 20 a 60 minutos para as negociações e 30 minutos para a desconstrução). As variantes do exercício que demo­rem mais tempo (ex.: mais tempo e espaço para as negociações) são possíveis.

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Etapas: 1 - Prepara as cartas de valor. Assegura-te que os valores apresentados estão profundamente enraizados nas percepções de certo e errado. Faz com que todos os valores possam beneficiar do apoio activo de pelo menos um participante. 2 - Depois de ter explicado o exercício aos participantes, distribui as cartas ao acaso, assegurandote que cada participante receba oito. 3 - Pede aos participantes para “revalorizarem” as suas cartas trocando-as – isto é, trocando as cartas por outras que tenham valores que lhes sejam mais convenientes. Não é obrigatório trocar as cartas segundo o princípio de “uma por uma”; a única regra é que ninguém termine o exercício com menos de duas cartas. 4 - No fim das trocas, pede aos participantes para formarem grupos que possuam cartas com valores semelhantes e discutir os seus pontos comuns. Se quiseres, podes pedir aos participantes que se fixem na origem destes valores e que se questionem porque possuem valores semelhantes. 5 - Em seguida, pede-lhes para encontrarem pessoas que partilhem valores diferen­tes. Formados os pares, deverão de seguida formular valores partilhados a partir do que figura nas suas cartas. Mesmo sabendo que os participantes possam ser tentados por compromissos, optando por afirmações muito abstractas ou pratica­mente sem sentido, é preciso incentivá-los a serem o mais concreto possível. 6 - Termina o exercício quando achares que a maior parte dos pares chegou a dois ou três compromissos. 7 - Posteriormente procede a uma reunião de avaliação com todo o grupo. Reflexão e avaliação: No que respeita à avaliação, pode ser interessante colocar as seguintes questões: - O que sentiram os participantes face a este exercício? Foi fácil trocar valores? De onde vinha a dificuldade/facilidade? - Descobriram alguma coisa a respeito dos seus valores e das suas origens? - O que sentiram ao terem que assumir compromissos em relação aos seus valo­res? O que é que tornou esta operação particularmente difícil? Como chegar a compromissos respeitantes aos valores? Se desejares, podes associar esta discussão a uma reflexão acerca do papel que desempenham os valores na aprendizagem intercultural. Os valores são com frequência considerados como fundamentos da “cultura”. Estão de tal forma enraizados que a maior parte dos indivíduos tem dificuldade em negociá-los. Como podemos então viver de maneira intercultural? Existem valores comuns a todos os indivíduos? Como podemos viver em conjunto se não conseguimos chegar a acordo acerca de determinados valores? Que tipo de “consentimentos de trabalho” podemos fazer?

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manualdodirigente C.7.2.2.3. A interculturalidade na Comunidade I. O mundo cabe no nosso abrigo Falar em interculturalidade é por si só uma experiência intercultural! Quando mergulhamos na aprendizagem intercultural temos, naturalmente, que abordar o conceito de “cultura” enquanto forma de construção humana, quase como sendo um software que usamos no dia-a-dia e ao qual estão associados valores, pressupostos e normas fundamentais que possuímos em nós e aplicamos no nosso dia-a-dia. A cultura está necessariamente ligada a um grupo ou também poderemos falar de cultura individual? Que elementos compõem uma cultura? Podemos elaborar um mapa-mundo cultural? As culturas sofrem evolução? Porquê e como? Até que ponto a cultura é flexível e tolerante a uma interpretação individual? Bem… todas estas e outras questões devem convidar è reflexão sobre o que é cultura e, tendo a percepção que as respostas poderão, obviamente, diferir de acordo com os diversos contextos em que elas são respondidas. No Mundo globalizado em que hoje vivemos é inevitável depararmo-nos com pessoas de outros cantos do Globo (e do País), com hábitos e vivências, pensamentos e abordagens diferentes dos nossos, mas que nos tornam tão mais fortes, tão mais próximos e unidos e… tão mais ricos. Contudo, esta interacção de culturas prevê, naturalmente, que nos aceitemos, respeitemos e toleremos uns aos outros, e que promovamos aprendizagens mútuas. Não existem dúvidas que o Movimento Escutista em geral e o CNE em particular, estão bem cientes desta realidade. A cultura portuguesa deriva, dizem os “entendidos”, de um emaranhado de influências celtas, romanas, bárbaras e muçulmanas. Não bastassem estas influências, com os Descobrimentos tornámos o nosso país uma montra e porta de entrada do mundo para a “velha Europa”. Basta olhar para a televisão e olhar para as 7 (entre inúmeras) Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo e reparar que elas são uma estampa inter-cultural de carácter mundial com cunho português. Uma estampa que permanece até hoje e que tornou, e continuará a tornar, o nosso Portugal um país culturalmente riquíssimo. Desde o Fado à gastronomia, desde as danças à língua e aos seus regionalismos, e desde as crenças e formas de viver a religião aos trajes e indumentárias, são muitas as culturas, regionais e estrangeiras, que se inter-relacionam dentro das nossas fronteiras.

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manualdodirigente II. Guia pessoal para a interculturalidade As migrações de pessoas e povos fazem, há longo tempo, parte da nossa história. Portugal é hoje, de forma cada vez mais visível, um lugar de encontros, onde vivem e se cruzam pessoas com uma grande diversidade de experiências e de histórias. No nosso quotidiano, o contacto com outros modos de vida e outros valores e crenças coloca desafios e questões, nem sempre de fácil resolução. Comportamentos e formas de estar que parecem naturais e espontâneos são, por vezes, interpretados de maneiras muito diversas, causando estranheza, desconfiança e até, por vezes, hostilidade. Neste quadro de comunicação alargada que é o nosso, ”lidar com a diferença” significa, em primeiro lugar, olhar as pessoas naquilo que elas são, e não fechando-as numa imagem estereotipada da(s) sua(s) cultura(s). A multiculturalidade é, desde sempre, parte integrante da vida em sociedade. Diz respeito a todos nós, aos de longe e aos de perto, pois todos somos, simultaneamente, iguais e diferentes. Aprender a comunicar é fundamental e requer de cada um disponibilidade para se conhecer melhor e se relacionar com os outros sem preconceitos. Só comunicando é possível esclarecermos equívocos, compreendermos e aceitarmos quadros de referência diferentes.

Boas práticas: Dinâmica “ABIGAIL” Discussão a respeito de uma triste história de amor: Quem se comportou pior? Quem se comportou melhor? Recursos necessários: Um exemplar da história seguinte para cada um dos participantes: Abigail está apaixonada por Tomás que vive do outro lado do rio. Uma inundação destruiu todas as pontes em contacto com o rio, tendo-se salvo apenas um único barco. Abigail pede a Sinbad, o proprietário do barco, que a leve até à outra margem. Sinbad aceita com a condição de Abigail se entregar primeiro a ele. Abigail, sem saber o que fazer, corre a pedir conselhos à sua mãe que lhe responde que não se quer intrometer na vida da filha. Desesperada Abigail cede a Sinbad que, mais tarde, a coloca do outro lado do rio. Abigail corre para se juntar a Tomás, abraçando-o cheia de felicidade e conta-lhe tudo o que se passou. Tomás rejeita-a sem rodeios e Abigail foge. Perto da casa de Tomás, Abigail encontra João, o melhor amigo de Tomás, e também lhe conta o que se passou. O João dá uma estalada a Tomás e parte com Abigail. 428


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Espaço suficiente para que os participantes possam trabalhar individualmente e depois em grupos de 4-5 e todos juntos. Tamanho do grupo: Pelo menos 5 participantes, no máximo 30 (os grupos maiores podem estar divididos e proceder à avaliação separadamente). Tempo necessário: No total entre 1h 15 e 2h 15 - 5 minutos para a apresentação - 10 minutos para a leitura e avaliação dos comportamentos (tarefa individual) - 30 a 45 minutos para o trabalho em pequenos grupos - 30 minutos em grupos maiores (opcional) - 30 a 45 minutos para a avaliação em conjunto Etapas: Explique aos participantes que se trata de um exercício sobre o estudo dos valores. Peça-lhes para ler a história e fazer a avaliação individual de cada uma das personagens (Abigail, Tomás, Sinbad, a mãe de Abigail e o João) em função do seu comportamento: quem é que se comportou pior? Quem é que se comportou melhor?.. etc. Assim que os participantes tiverem feito a sua avaliação, peça-lhes que formem pequenos grupos (de 3 a 6) para falarem da forma como percepcionaram o com­portamento das personagens da história. A tarefa de cada grupo consiste em estabelecer uma lista (do melhor para o pior) acordada por todos os membros do grupo. Para tal peça-lhes que evitem o recurso a métodos matemáticos, mas sim que se baseiem na compreensão comum do que julgam certo ou errado. Assim que os pequenos grupos tenham a sua lista, pode repetir a fase anterior formando grupos de tamanho médio (neste caso os grupos iniciais não deverão comportar mais de 4 pessoas). Proceda à avaliação do exercício em conjunto partilhando com todos os resulta­dos obtidos e depois discutindo as suas semelhanças e diferenças. Passe em seguida, progressivamente, da forma como os indivíduos procederam à sua classificação. Em que se basearam para decidir sobre o que era correcto ou incorrecto? Reflexão e avaliação: A avaliação pode orientar-se nomeadamente para a pertinência dos valores que determinam a nossa percepção de correcto e incorrecto. Depois de ter colocado esta questão, a próxima etapa diz respeito à dificuldade/facilidade de negociar os valores com a finalidade de constituir uma lista comum. Pode perguntar aos participantes como chegaram a acordo, que argumentos os convenceram, se sentiram uma fronteira para lá da qual era impossível compreender e seguir o outro e porquê? 429


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Através do seguimento que é possível prever, podemos examinar os contextos nos quais aprendemos o que estava correcto ou incorrecto – e o que é que isso nos ensina face ao que temos em comum e ao que nos diferencia. Este método na prática…: Esta história foi muitas vezes utilizada para preparar os participantes para um intercâmbio intercultural. Torna-se muito útil para introduzir o conceito de valores, geralmente abstractos, na medida em que obriga os participantes a fazer referência a valores para proceder a uma classificação. Uma variante deste exercício consiste em utilizar primeiro a versão original da história e depois repeti-la com uma história modificada invertendo os papéis masculinos e femininos. Chegamos à mesma classificação? Porque houve mudanças? Outras variantes são possíveis: incluir a idade das personagens na história e brincar com isso, fazer intervir apenas personagens do mesmo sexo, juntar backgrounds étnicos ou nacionais e depois observar a influência destes elementos na classificação e analisar as razões dessas mudanças. Para tirar melhor partido deste exercício, é preciso estabelecer um ambiente aberto que favoreça a aceitação de todas as classificações e evitar repreender alguns participantes por se referirem a argumentos que lhe pareçam estranhos ou incorrectos.

Outras sugestões: Ideias para manter uma atitude de abertura, disponibilidade e cooperação: 1. Experimenta participar em eventos multiculturais. 2. Visita diferentes igrejas, sinagogas, templos e tenta conhecer outras crenças. 3. Experimenta fazer compras numa loja especializada em produtos de diferentes países. 4. Procura lugares “estrangeiros” na tua localidade: lojas, restaurantes, associações, etc.. 5. Aprende outras línguas. 6. Relaciona-te e promove iniciativas com pessoas de outras culturas. 7. Tenta imaginar como seria a tua vida se tivesses chegado recentemente a Portugal 8. Oferece prendas sobre e de outras culturas. 9. Fala sobre tolerância e ajuda a compreender o ponto de vista dos outros. 10. Não aceites passivamente preconceitos e informações erradas. 11. Leva os outros ao contacto com pessoas de outras culturas.

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12. Fomenta uma perspectiva saudável do ‘espírito de grupo’ numa realidade multicultural. 13. Encoraja a participação em grupos/instituições da comunidade. 14. Tenta ser consistente e tolerante na sua relação com os outros. 15. Promove o reconhecimento da diversidade como uma oportunidade para aprender 16. Olha sempre para a ‘pessoa’ por detrás das diferenças. 17. Sugere no teu agrupamento a aquisição de materiais que promovam a diversidade. 18. Cria um programa de amizade por correspondência/e-mail com diferentes culturas. 19. Propõe a criação de um placard multilingue com informação sobre o agrupamento. 20. Sugere a diversificação das ementas e o reconhecimento de outros hábitos alimentares. 21. Apoia a criação de um calendário que contemple a diversidade cultural. 22. Identifica e supera a existência de barreiras discriminatórias a outras culturas. 23. Incentiva uma verdadeira igualdade de oportunidades. 24. Divulga legislação anti-discriminatória, bem como recursos e materiais existentes. 25. Promove sistemas de tomada de decisão participativos e diversificados. 26. Contribui para uma relação de trabalho assente na partilha de conhecimento. 27. Sugere a organização de acções para a promoção do diálogo intercultural.

Bibliografia:

António Laranjeira

ACIDI, 44 Ideias Simples para promover a tolerância e celebrar a diversidade, 2009

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manualdodirigente C.7.2.2.4. A interculturalidade no Clã

“Minha alma é de todo o mundo Todo o mundo me pertence Aqui me encontro e confronto Com gente de todo o mundo Que a todo o mundo pertence” Poema “Minha aldeia”, in Poesias Completas de António Gedeão

I.O Albergue, ponto de partida para o mundo Comparativamente a um passado não muito distante, vivemos hoje uma era em que circulam bens, pessoas e capitais mais facilmente entre países. As razões para este fenómeno são variadas, sendo a mais simples de compreender a necessidade de ajustamento entre o que se oferece e o que se procura no panorama internacional. Com a ajuda dos avanços tecnológicos e as melhorias nos meios de transporte, a mobilidade tornou-se mais acessível e mais fácil, ficando criadas as condições necessárias para a existência de uma sociedade mais heterogénea em termos culturais. Contudo, para uma vivência harmoniosa em comunidade, muito mais é necessário para além da mera mudança para um país diferente, onde muitas vezes os costumes e os valores são diferentes. Ganha assim importância o termo “interculturalidade”, no sentido que se entende a educação igualitária e transnacional como ideia oposta à supremacia de algumas culturas sobre outras. Quer isto dizer que, através do respeito entre culturas, se pretende obter uma sociedade integradora, equitativa, justa, responsável e solidária, de modo a manter as diferenças sem subalternizações nem sobreposições e intolerâncias. Por outro lado, a promoção da interculturalidade não se faz por si só. Necessita de gente que a pratique. E ninguém melhor que o escuteiro para a preconizar, recorrendo ao instrumento mais eficaz que possui – o exemplo! Nas palavras de Albert Schweitzer, Prémio Nobel da Paz em 1952, “O exemplo não é a melhor forma de ensinar; é a única forma”. Só dando exemplo é possível a obtenção de uma sociedade mais tolerante e respeitadora.

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Olhando para o nosso patrono São Paulo, encontramos um percurso de vida absolutamente intercultural. Através das várias viagens que fez com o intuito de pregar a palavra de Cristo, viveu experiências culturalmente muito enriquecedoras. Desde Damasco a Corinto, passando por Atenas e Roma, São Paulo teve a oportunidade de conviver com gentes diferentes, com valores e visões distintas da dele. Contudo, soube sempre respeitar cada povo por onde passava. Nas suas palavras: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há masculino nem feminino, porque todos sois um só em Cristo”. Sigamos o exemplo.


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Boas práticas: Dinâmica “O MEU PRÓPRIO ESPELHO” Trata-se de um exercício de observação e de tomada de consciência de si mesmo, que convida os participantes a observarem-se, a observar os seus comportamentos e reacções em relação a um dado tema. Fazemos descobertas surpreendentes quando nos observamos com olhos diferentes… Materiais necessários: Participantes activos e interessados que podemos motivar desde o início através de algumas sessões de sensibilização (para a linguagem corporal, percepção, estereó­tipos, teorias da cultura e da aprendizagem intercultural). Um caderno de notas para cada um dos participantes. Tamanho do grupo: Indiferente Tempo necessário: Pode ser colocado em prática durante um exercício particular, uma unidade ou mesmo um dia completo (semana). Etapas: 1. O exercício inicia-se com a explicação aos participantes da ideia de observação de si mesmo. Durante o dia, os participantes serão convidados a “observarem-se a si próprios” com muita atenção, a observarem os seus comportamentos, as suas reacções em relação aos outros (o que entendem, sentem e vêem), a sua linguagem corporal, preferências e sentimentos. 2. Devem manter um “diário de investigação” confidencial e anotar todas as obser­vações que considerem importantes, assim como as circunstâncias, a situação, as pessoas implicadas, as causas prováveis, etc. 3. Os participantes recebem uma série de questões de orientação escolhidas em função do foco de observação. O trabalho de observação pode servir para evo­car os estereótipos (Como é que eu percepciono os outros? Como é que reajo para com os outros, em que aspectos, de que maneira?); ou elementos culturais (O que é que me afasta ou me aproxima dos outros? Quais são as reacções/ atitudes que me agradam/ desagradam? Qual é a minha reacção em relação ao que é diferente? Qual é a distância que eu adopto? Que impacto tem nas minhas interacções?). Pode igualmente inspirar-se nas teorias de Hall & Hall a respeito do espaço e do tempo para colocar as questões. 4. O quadro de observação (início e fim) deve ser claramente definido, eventualmente com recurso a algumas regras simples (respeito mútuo, confidencialidade do diário de investigação, etc.). É importante que o exercício se desenvolva sem interrupções, mesmo durante as pausas e os tempos livres. Em jeito de ponto de partida e para entrar no espírito do jogo podemos pedir aos participantes para 433


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“saírem do seu corpo” e de se verem ao espelho (pequeno exercício). Depois o programa “normal” pode prosseguir. Uma forma de estruturar o exercício pode consistir em fazer uma pausa depois de cada um dos elementos do programa, para que os participantes possam tomar notas no seu diário. 5. No fim da unidade, os participantes devem distanciar-se do exercício e “reencarnar o seu corpo”. Cada um, individualmente, terá necessidade de tempo para rever o dia, reler o seu diário e reflectir nas razões dos seus comportamentos… (isto pode fazer-se sob a forma de “auto-entrevista”) 6. Como última etapa, podemos organizar uma partilha sob a forma de entrevista a pares ou em grupos pequenos. Se o grupo for muito aberto e reinar uma atmosfera de confiança, os participantes podem em seguida ser convidados a participar numa discussão informal, a fim de trocar as suas percepções e elaborar novas estratégias para gerir as suas reacções. 7. Uma sessão final, em plenário, pode permitir que os participantes falem da forma como viveram o exercício, dos seus aspectos interessantes e das dificuldades encontradas. Reflexão e avaliação: A um nível pessoal: Como senti o facto de me observar? Foi difícil? O que des­cobri? Como interpreto os meus comportamentos? Porque reagi desta maneira? As minhas atitudes apresentam semelhanças, características? De onde vêm? Posso relacionar as minhas conclusões com algumas teorias acerca da cultura? Teria reagido de forma diferente se estivesse menos (ou mais) consciente do exercício? Há paralelismos entre a minha vida quotidiana e as partilhas com os outros? Para partilhar: É importante sublinhar que os participantes podem não dizer aos outros o que eles desejam. O exercício deve ser um ponto de partida para reflexões e questões colocadas a nós mesmos. Este método na prática…: Mesmo que desejemos interrogar os nossos próprios comportamentos ou que quei­ramos instaurar uma tensão benéfica, os resultados vão depender sempre muito do ambiente no seio do grupo. Este exercício pode ajudar a compreender melhor os nossos enraizamentos culturais. Nos encontros interculturais é de facto possível estar mais atento aos mecanismos que desenvolvemos se nos confrontarmos com eles. As questões devem ser adaptadas ao objectivo do exercício (quanto mais ques­ tões forem precisas, melhor é) e ao processo já experimentado pelo grupo. Atenção: nem sempre é fácil para todos observarem-se em vez de observar os outros. Tam­bém é importante insistir na colocação de questões a si e não aos outros. Também não é fácil agirmos sempre de forma natural no decorrer do exercício.

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ALGUMAS DEFINIÇÕES PARA DISCUSSÃO Cultura Corresponde a uma estrutura de conhecimentos, de códigos, de representações, de regras, de modelos de comportamento, de valores, de interesses, de aspirações, de crenças e de mitos. Esta estrutura manifesta-se no dia-a-dia através do uso de vestuário, pela culinária, modos de habitat, atitudes corporais, tipos de relações, organização familiar, práticas religiosas. A cultura cobre o viver e o fazer. A génese desta estrutura opera-se nas transformações técnicas, económicas e sociais próprias de uma determinada sociedade no espaço e no tempo. Ela é o resultado do encontro dos três protagonistas da vida: o homem, a natureza e a sociedade. Diálogo Intercultural O Diálogo Intercultural permite que indivíduos e grupos se envolvam numa discussão aberta acerca da vida numa sociedade multiétnica. É a chave para o multiculturalismo. Ilegal Será antes de mais necessário vincar que nenhum Ser Humano pode ser entendido como ilegal pelo facto de escolher ou ser obrigado a morar noutro país. Ainda assim são entendidos como estando em “situação irregular” todos os migrantes que não possuem uma autorização de trabalho ou de residência ou visto válido. Interculturalismo O Interculturalismo serve de base à interacção, compreensão e respeito mútuo entre culturas demograficamente maiorias e minoritárias. Deverá ajudar a desenvolver uma sociedade intercultural mais inclusiva e a promover as condições para a interacção e igualdade de oportunidades. Dirige-se tanto aos grupos maioritários, confrontados com as novas culturas, como aos minoritários, e que considera que não é suficiente ‘proteger’ ou ‘tolerar’ as culturas minoritárias mas antes favorecer a interacção dinâmica entre as diferentes culturas. Multiculturalismo O multiculturalismo reconhece a necessidade para conhecer e celebrar as diferentes culturas numa sociedade. O Multiculturalismo tem como maior crítica o facto de ter potenciado o reconhecimento destas diferenças mas não o diálogo entre elas, empurrando-as assim para o distanciamento e mútua incompreensão.

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Refugiado Um refugiado é alguém que deixou o seu país e ao qual não pode regressar devido a um receio fundamentado de perseguição devido à sua etnia, religião, nacionalidade, opção sexual ou por ser pertencer a um determinado grupo social ou politico. O estatuto de refugiado está previsto no Direito Internacional pela Convenção de 1951 das Nações Unidas para o Estatuto dos Refugiados.

Alfredo Newtun

Tolerância Tolerância foi até recentemente erradamente utilizada para definir as relações inter-étnicas ou inter-religiosas. Contudo é hoje considerado desadequado pois assume à partida uma postura de superioridade da pessoa que é tolerante face à outra, que é tolerada. A tolerância é muitas vezes utilizada em relação a algo ou alguém que não se gosta ou se gosta pouco, pelo devemos utilizar antes o termo interculturalismo, mais adequado a situações de relações entre diferentes de igual importância

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manualdodirigente C.7.2.3. Igualdade de direitos e oportunidades INTRODUÇÃO O Escutismo, enquanto movimento educativo, procura desenvolver, de forma integral, a personalidade de cada indivíduo. Neste processo, assume especial relevância a educação em comum dos dois sexos que, se usual nos dias de hoje, se reveste de alguns problemas. Há quem considere mesmo que a discriminação que atinge, por vezes, um determinado sexo configura um caso de 'racismo sexual'. De facto, nem sempre a sociedade compreende que o respeito entre todos implica o reconhecimento da igualdade de direitos e oportunidades. Neste contexto, importa reflectir sobre a problemática da educação para a igualdades de oportunidades de rapazes e raparigas, cujos estudos procuram, hoje em dia, sensibilizar a sociedade para a necessidade premente de erradicar todos os tipos de discriminação sexual

1.1.A pressão social e o estabelecimento de papéis sexuais A sociedade inculcou em todos nós ideias definidas sobre o papel destinado a homens e mulheres, sobre os valores, atitudes, características que cada um deve ter. Existem, assim, diferentes visões sobre o papel que os dois géneros (masculino e feminino) desempenham no mundo. Falamos em género, e não em sexo, porque se trata de realidades diferentes: Sexo – conjunto de características biológicas que marca um grupo de seres, distinguindo, no caso humano, homens e mulheres (sexo masculino e feminino); Género – conjunto de características, valores, normas de conduta e aptidões que a sociedade considera próprias de cada sexo e lhe impõe, indicando o que devem 'ser' e 'fazer'. A sociedade considera que às mulheres, sexo feminino, correspondem todas as características do género feminino e que aos homens, sexo masculino, as que se relacionam com o género masculino.

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“É no meio social que meninos e meninas adquirem o conhecimento e formam os seus esquemas iniciais sobre o mundo e sobre o dividir de papéis e estatutos entre homens e mulheres na sociedade (…). É este processo social que pressiona meninos e meninas que construam não a sua identidade, ou seja, a definição de si próprios, dos seus projectos futuros, do seu papel e função no mundo como pessoa, mas sim uma identidade adaptada à sociedade em que se está inserido. Esta pressão social é facilmente detectável, basta ligarmos a TV e observarmos a quantidade de mensagens que convidam os meninos a desenvolverem a agressividade, a competitividade e o espírito bélico para dominar o mundo, sem terem em conta os afectos e os sentimentos, enquanto que às meninas é-lhes proposto mensagens de mulheres como mães, esposas ou como objecto sexual” A escola e a construção da identidade, 38

A sociedade construiu, assim, papéis diferenciados para cada sexo, considerando determinadas tarefas próprias de mulher e outras próprias de homem. A convivência entre os sexos está assim marcada pela pressão social, constituída por modelos, ideias gerais, juízos pré-concebidos que não têm em conta as características individuais. São os chamados estereótipos sexuais, ou estereótipos de género. Tudo isto é transmitido pelos diferentes grupos e instituições sociais, com especial destaque para os seguintes: Família: muitos pais consideram que há diferenças inatas entre rapazes e raparigas e que, por isso, a cada sexo correspondem condutas diferentes. Por essa razão, induzem a criança a assumir os comportamentos que consideram mais apropriados para o seu sexo. Para isto, escolhem brinquedos de forma estereotipada (carros para meninos, bonecas para meninas), promovem actividades diferentes para cada sexo (o rapaz ajuda o pai com o lixo, a rapariga ajuda a mãe a fazer as camas) e utilizam uma linguagem que induz as crianças a aprender que cada sexo tem características e condutas diferentes (“Quem é uma menina linda?”; “Um homem não chora!”). Instituições educativas: tanto a escola normal como outras instituições ligadas à educação (Catequese, Escutismo, etc.) transmitem estereótipos. Não raro, as crianças ouvem frases que, inconscientemente, reforçam preconceitos. “Há por aí dois rapazes fortes para ajudar a levar esta mesa? (…) As raparigas estão a portar-se tão bem que podem vir escolher em primeiro lugar. Então, os homens grandes não choram.” Sutherland (1987), 45

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manualdodirigente De igual modo, os livros educativos estão cheios de imagens estereotipadas: a mãe cozinha, o pai lava o carro. Grupo de pares: o grupo a que cada pessoa pertence é constituído por indivíduos que consideramos nossos pares, nossos iguais. Sobretudo na adolescência, o grupo de pares exerce uma forte influência sobre o indivíduo, a nível dos estereótipos, “reagindo com aprovação ou desaprovação em relação aos comportamentos apropriados ou inapropriados ao género, respectivamente” Esta situação pode provocar verdadeiras rejeições por parte do grupo e o isolamento de algum elemento. Meios de comunicação social: estes meios (em especial a televisão e o cinema) têm um poder enorme e ajudam a manter os estereótipos sexuais, na medida em que reproduzem imagens padronizadas (os super-heróis, por exemplo, são praticamente todos masculinos). Estes estereótipos são facilmente assimilados pela criança, que depois os transporta para a sua vida adulta.

1.2. O poder social Para além de transmitir estereótipos, a sociedade também determina a influência que homens e mulheres têm sobre o mundo. E, a este nível, beneficia, por norma, o homem. Na nossa sociedade, o homem possui mais influência social do que a mulher, pois as características que lhe são atribuídas – agressividade, competitividade, frieza, objectividade – estão mais vocacionadas para a vida pública, enquanto que as do género feminino – afectividade, solidariedade, paciência, submissão – se relacionam sobretudo com a vida privada. Apesar de os dois sexos estarem aptos a realizar todas as tarefas, aos homens são atribuídas predominantemente as actividades públicas e de maior prestígio, enquanto que à mulher ficam reservadas as tarefas consideradas domésticas e predominantemente relacionadas com a vida privada. Esta situação leva-nos a afirmar que a figura masculina é mais prestigiada e, consequentemente, detém o poder social. Contudo, esta situação nem sempre é vantajosa para os homens. De facto, “o estereótipo masculino é mais rígido e melhor definido do que o estereótipo feminino”. Isto significa que, se uma rapariga não é criticada por assumir atitudes masculinas (usar calças, brincar com carrinhos), porque a sua conduta a eleva a um 'patamar superior', prestigiante, o mesmo não acontece com o rapaz: como os estereótipos masculinos são mais rígidos, não admitem que o homem possua características femininas, socialmente consideradas pouco prestigiantes. Assim, se um rapaz assumir atitudes femininas (brincar com bonecas, por exemplo), é bastante censurado.

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manualdodirigente 1.3. Os estereótipos de género Os estereótipos influenciam o ser humano das mais variadas formas, pois estendem-se pelo tempo (desde a infância até à idade adulta) e pelas mais diversas áreas: Na infância e adolescência: Nas épocas privilegiadas do crescimento, há variados estereótipos que inculcam ideias feitas, como é o caso, por exemplo, dos brinquedos e actividades. De igual modo, também as cores do vestuário, por exemplo – rosa para as meninas, azul para os meninos – são estereotipadas. Na comunicação verbal e não verbal: A nível da comunicação não verbal, verificamos, por exemplo, na publicidade, que as imagens da mulher que a sociedade transmite estão muito associadas ao seu corpo, tornando-se um objecto sexual. A isto associam-se ainda imagens que relacionam frequentemente a mulher com as tarefas domésticas, imagem que é também habitual nos livros escolares e de literatura para a infância. Já a nível da comunicação verbal, na nossa língua há claramente uma desvalorização das palavras associadas à mulher, que tanto podem indiciar a sua inferioridade perante o homem (governante/governanta), como são utilizadas para conotar promiscuidade sexual (homem perdido/mulher perdida, vadio/vadia, mãe solteira). De igual forma, o estado civil das mulheres é controlado, ao contrário do que sucede com os homens ('Menina Joana', 'Senhora Antónia'), e elas são, como as crianças, muitas vezes tratadas pelo nome próprio, em detrimento do sobrenome (Dr. Oliveira, Dr.ª Andreia). Na capacidade física e intelectual: Também a nível das capacidades há diferenças entre os dois géneros. De facto, por norma há uma desvalorização intelectual e física da mulher, que é considerada inferior. Esta desvalorização é bastante visível, por exemplo, a nível da profissão. Para além disto, há ainda uma ligação muito forte da mulher ao trabalho doméstico e à educação dos filhos, sendo o homem associado, predominantemente, ao trabalho fora de casa (a mulher é a dona-de-casa, o homem o chefe da família, o ganha-pão). Isto leva a sociedade a tolerar a incapacidade masculina para as lides domésticas e a indiferença educativa, mas a censurar toda a mulher que não tem apetência para cuidar de uma casa ou que não manifesta 'instinto maternal'. Na personalidade: A nível da personalidade, tudo quanto diz respeito ao romantismo, sensibilidade, submissão é associado à mulher, enquanto que a frieza, a objectividade e a agressividade são associadas ao homem.

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manualdodirigente 1.4. A igualdade de direitos e oportunidades Verificamos, a partir da análise da realidade, que “na nossa cultura (…) está legitimada uma ordem que determina qual é o lugar e o papel do homem e da mulher na sociedade, sendo essa hierarquização bastante mais benéfica em relação ao homem que à mulher; foi estabelecido e está enraizado na nossa cultura que o homem é um ser superior; ele é o ser que domina e a mulher o ser dominado”. Perante este cenário, levantam-se muitas vezes vozes críticas que exigem mudanças. Em casos extremos, há excessos que defendem a total igualdade de sexos. Cai-se, assim, na tentação de desvalorizar a diferença, “como se a igualdade não pudesse conviver com a diversidade, como se todos pudéssemos ser tudo”. De facto, se os sexos são, por natureza, diferentes, não podemos exigir que se tornem iguais. Não podemos exigir igualdade de sexos, mas sim igualdade de direitos e de oportunidades, o que é substancialmente diferente.

“Educar para a igualdade não é anular as diferenças, mas reconhecer a flexibilidade e a plasticidade dos papéis. Não é tratar todos da mesma forma, (…) mas a cada um de forma única, não encerrando ninguém em estereótipos rígidos”. Machado, in Neto (2000), 5-6

Isto implica que se deve procurar que todos tenham o direito de chegar onde quiserem e igual oportunidade para que isso aconteça. Ora, hoje em dia não é isto que se verifica, pelo que se torna necessário mudar as mentalidades, no sentido de se aumentar o respeito entre homem e mulher e de levar todos a compreender que a complementaridade dos sexos desenvolve muito mais a sociedade do que a primazia de um sobre o outro. 1.5. Conceito e estratégias de educação para a igualdade e oportunidades Esta é: a educação em conjunto de ambos os sexos que tem em conta as suas necessidades comuns, mas que respeita as particularidades físicas, mentais e de carácter de cada ser. Promove a complementaridade dos sexos, procurando valorizar cada um e fomentar a aceitação e a compreensão entre ambos.

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Perante isto, podemos concluir que a educação para a igualdade de oportunidades pretende educar em conjunto ensinando a: - Respeitar o outro; - Valorizar o outro pelo que é e não pelo seu sexo; - Aprender a tirar partido da complementaridade e da partilha; - Desenvolver a aceitação e a tolerância.

2.1. Igualdade de direitos e oportunidades no escutismo À pergunta “Quem faz melhor escutismo?” os jovens responderam sem hesitação “Os rapazes, claro!” Esta questão, que evidencia claramente que a coeducação requer muito mais do que simplesmente colocar juntos rapazes e raparigas, surgiu no âmbito de uma pesquisa sobre a educação do género num contexto não-formal, realizada em 2001 pela Organização Mundial do Movimento Escutista, através da Região Europeia e Eurásia e em cooperação com a Universidade de Oslo, sob a orientação da Professora Harriet Nielsen. A pesquisa desenvolveu-se em quatro Países: Dinamarca, Eslováquia, Portugal e Rússia e contou com a colaboração de alguns grupos locais e respectivos dirigentes. Embora já existisse algum envolvimento das mulheres no Escutismo, só em 1977 a OMME se tornou oficialmente coeducativa. Um ano após Portugal adoptar uma das Constituições mais promissoras em termos de igualdade de oportunidades em toda a Europa e de o CNE fazer aprovar em Conselho Nacional o estatuto de Associação mista. Nas décadas seguintes grandes esforços foram feitos, no sentido de modernizar a plataforma de valores escutistas, de forma a ser menos estereotipada em termos de género. Em 1999 a Conferência Mundial adopta uma nova política sobre rapazes e raparigas, mulheres e homens no Movimento Escutista:

“...contribuir para a educação de jovens, femininos e masculinos, como iguais e na base das necessidades e aspirações de cada indivíduo”.

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manualdodirigente Ou seja, permitir que cada indivíduo se desenvolva integralmente sem restrições pelo modelo tradicional dos papéis femininos e masculinos. A estratégia mundial definida em 2002 vem depois reforçar a necessidade de as Associações Nacionais reverem e actualizarem o programa educativo que oferecem aos jovens: “O Movimento toma em consideração as necessidades e aspirações de ambos os sexos quando elabora os programas educativos? “São os dirigentes adultos capazes de observar e analisar o que acontece realmente nos seus agrupamentos? O actual programa educativo do CNE, reflecte não só o contributo da pesquisa realizada no nosso país, mas também as ferramentas produzidas ao nível mundial, para a adequação dos novos projectos educativos a objectivos e práticas escutistas mais equilibradas na área da coeducação.

Evolução do efectivo nacional 1990-2010

Nos últimos 10 anos, o género feminino aumentou de 42% para 49% enquanto o género masculino reduziu na quantidade inversa. Numa análise da evolução anual, percebe-se que há uma tendência para o equilíbrio. Edgar Zeferino, in CNE em números

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manualdodirigente 2.2. Características necessárias ao dirigente para implementar a educação para a igualdade de oportunidades O Escutismo tem um papel de responsabilidade perante a sociedade. Uma vez que é um movimento educativo, compete-lhe EDUCAR e, dado que é dirigido a rapazes e raparigas, fazê-lo aplicando os princípios da coeducação. Para isto, é essencial que tenha dirigentes competentes, uma vez que são eles os primeiros responsáveis pelo desenvolvimento integral dos escuteiros. De facto, nada resulta se os dirigentes não souberem assumir integralmente o seu papel de educadores, consciencializando-se de que são modelos para os seus elementos. O próprio B.P. o diz:

“O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio exemplo pessoal do Chefe-Escuta. É fácil vir a ser o herói, bem como o irmão mais velho do rapaz. Nós temos, ao tornarmo-nos adultos, a tendência para esquecer o fundo de culto dos heróis que existe no rapaz” .

Perante isto, que características deve ter o dirigente para coeducar os seus elementos? Ter maturidade psicológica e afectiva; Ter capacidade para ouvir e para dialogar; Ter capacidade para observar; Ter preparação técnica na área da coeducação; Ter capacidade para reflectir sobre o seu sistema de valores e pô-los em prática, tendo como pano de fundo os valores escutistas; Ter comportamentos coeducativos na sua relação com a Equipa de Animação e com os seus escuteiros.

2.3. E quais os principais aspectos a ter em conta para um programa educativo mais equilibrado? Consciência da coeducação O primeiro aspecto será a chamada consciência da coeducação por parte dos dirigentes, ou seja, o entendimento dos conceitos fundamentais da coeducação, a importância dada à sua aplicação e o acesso aos recursos necessários. A coeducação efectiva baseia-se em objectivos e a sua prática é sistemática e afecta a totalidade do que os jovens fazem no escutismo. Ultrapassa, em muito, os simples aspectos práticos de organização das Unidades, como por exemplo a existência de patrulhas ou equipas mistas.

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manualdodirigente Esta consciência é fundamental e não permite que se remetam as questões para o mero contexto formal, como se o facto de sermos uma associação mista (oficialmente reconhecida nos estatutos e regulamento geral) seja garante da prática de coeducação, deixando a gestão do dia-a-dia a cargo dos jovens e demitindo-nos do nosso papel de educadores, sob pretexto de não interferir nos problemas da patrulha ou do grupo. Equilíbrio entre as áreas de desenvolvimento pessoal Por educação integral entende-se que todas as áreas de desenvolvimento pessoal devem ser consideradas no programa educativo da Associação. Essas áreas estão directamente ligadas com as dimensões de crescimento do próprio jovem, tendo por isso igual peso no desenvolvimento harmonioso do mesmo. “Se não fazemos actividades grandes e duras não é verdadeiro escutismo”. Esta concepção de Escutismo, orientada em excesso para a prática de actividades de carácter mais físico, como referido por um dos entrevistados, será não só um motivo de desequilíbrio educativo, em termos gerais, como mais especificamente em termos de género, atendendo a que este tipo de actividades se relacionam mais com as preferências dos rapazes. Relação entre as necessidades e aspirações dos rapazes e raparigas e as actividades realizadas Outro aspecto importante a considerar será a ligação entre as necessidades e aspirações dos rapazes e raparigas e as actividades realizadas. O quadro apresentado pode ajuda-nos a perceber até que ponto as actividades devem ser diversificadas, respondendo às especificidades dos géneros.

ACTIVIDADE

PREFERÊNCIA PESSOAL

ESTATUTO

FREQUÊNCIA

PREFERIDO RAPAZES OU RAPARIGAS

GÉNERO SIMBÓLICO

Pioneirismo

Alta

Alto

Em todos os acampamentos

Ambos

Masculino

Primeiros socorros

Média

Médio

Uma vez por ano

Raparigas

Feminino

Lavar a loiça

Baixa

Baixo

3x por dia em acampamentos

Nenhum

Feminino

Corrida de orientação

Média

Alto

2x por ano

Rapazes

Masculino

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manualdodirigente Preferência pessoal do dirigente. Pode ser alta, média, baixa Estatuto da actividade – o valor e prestígio atribuído á actividade. Pode ser alto, médio ou baixo Frequência com que é realizada – diariamente, 1 x por semana, 1 x em cada acampamento, várias x durante o ano, raramente) Preferência de rapazes ou raparigas – rapazes, raparigas, ambos Género simbólico – quando a actividade pose ser associada em termos culturais a um género específico. Pode ser masculino, feminino, nenhum

O direito a ser igual e a ser diferente Os géneros não são iguais, são diferentes e complementares. Por vezes a relação entre os conceitos da igualdade e diferença é confusa. Uma das razões prende-se com o facto de igualdade e diferença não serem conceitos opostos. O oposto de igualdade é desigualdade ou hierarquia, enquanto que o oposto de diferença é semelhança. Isto significa igualdade de direitos e oportunidades, apesar das diferenças dos géneros. No Escutismo e mais propriamente em termos do programa educativo podemos falar em redistribuição e reconhecimento. Redistribuição – o direito a ser igual na distribuição/escolha das tarefas e no acesso às actividades. Atendendo a que actividades têm diferente estatuto ou prestígio, o género que estiver mais associado às actividades ditas fixas (a pesquisa indica que é o feminino) não tem a oportunidade de participar num maior leque de actividades enriquecedoras. Reconhecimento – o direito a ser diferente e a ver as suas capacidades reconhecidas independentemente do género. Assim para um modelo educativo mais justo e democrático em termos de complementaridade de género, todas as actividades devem ser reconhecidas na condição de: não limitar o direito do outro de se auto-exprimir; não serem consideradas universais; não se tornarem numa norma para todos; de forma a garantir o direito de reconhecimento de todos os participantes, o programa deverá ser mais variado.

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manualdodirigente Resolver estes dilemas requer uma dupla acção: dar estatuto às tarefas e valores considerados femininos separar essas tarefas e valores da questão do género e vê-las simplesmente como parte do repertório humano.

Sandra Correia

Sem dúvida uma tarefa aliciante e de grande responsabilidade para todos os níveis da Associação.

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manualdodirigente C.7.2.3.1. Vantagens da educação para a igualdade na Alcateia Os dirigentes dos lobitos sabem que a relação entre os sexos e a compreensão da diferença, nesta faixa etária, nem sempre é fácil. De facto, rapazes e raparigas apresentam, por norma, algumas características diferentes. Assim, por exemplo, as meninas têm tendência para actividades mais estáticas (brincar com bonecas, pintar) e são psicologicamente mais maduras, enquanto os meninos preferem actividades mais activas (jogar à bola, lutar) e gostam de se destacar, o que os leva a serem muitas vezes considerados pelas meninas como agressivos, palermas e aldrabões. Nestas idades, as crianças gostam de gozar e são, muitas vezes, cruéis perante a diferença. Ora, esta situação facilmente provoca a rejeição entre sexos: é frequente meninos e meninas não gostarem uns dos outros e preferirem relacionar-se apenas com crianças do seu sexo; afastamento de crianças de nível económico e social diferente, porque não tem os mesmos brinquedos para trocar, ou porque não acompanham as conversas… Este comportamento levanta alguns problemas na hora da aplicação da coeducação. De facto, não é fácil desfazer estereótipos quando há uma rejeição do que é diferente. No entanto, e porque a infância é um momento crucial para o desenvolvimento da socialização, é importante que nesta fase as crianças compreendam que a partilha de actividades entre todos só enriquece a sua vida. Ao utilizarmos a coeducação na Alcateia, estamos a permitir que cada lobito cresça de forma equilibrada, compreenda a riqueza humana que o rodeia e aceite, pela sua própria experiência pessoal, as diferenças, respeitando-as de forma integral, independentemente das imagens estereotipadas que já lhe foram inculcadas nos primeiros anos de vida. Assim, coeducar na Alcateia permite que cada lobito: Desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo que o respeito e a aceitação devem nortear o relacionamento afectivo; Estabeleça relações equilibradas com os outros, independentemente do sexo, idade, condição social…, baseadas na ajuda e na partilha de todas as tarefas, para diluir os estereótipos que a sociedade impõe; Aprenda a desenvolver atitudes de confiança, compreensão, aceitação e respeito de si mesmo e dos outros, compreendendo que eventuais diferenças são motivo de riqueza e não de desprezo; Desenvolva uma visão natural da diferença; Escolha actividades baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social.

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Estratégias de Coeducação na Alcateia A este nível, há algumas estratégias que podem ajudar os dirigentes a pôr em prática a coeducação. São elas: • Realizar com todos jogos variados que promovam o conhecimento pessoal, do outro sexo, de outras realidades, da deficiência e que estimulem a solidariedade e a partilha: - jogos que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impliquem minúcia manual (assim, as meninas são incentivadas a serem mais activas e os meninos aprendem a desenvolver a paciência e a perfeição); - jogos e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis; • Partilhar todas as tarefas, não em função do sexo, mas em função das habilidades pessoais; • Permitir que todos assumam rotativamente os cargos dentro do bando; • Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, pobres e ricos, rurais e citadinos, que incutam valores positivos; • Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito e cooperação entre todos (reforço positivo); • Promover o mais possível, através da Lei e Máximas, valores como o respeito, a amizade, a solidariedade; • Desenvolver a imagem das figuras do Livro da Selva femininas, em especial Racxa (a Mãe Loba) e Báguirà, cujos papéis não são os que tradicionalmente se associam às mulheres: Racxa defende a família perante Xer-Cane (por norma, o papel de defensor a família é do homem) e Báguirà tem um papel educativo activo (ensina Máugli a caçar – o ensino mais passivo, das Leis da Selva, é reservado a Balu); ver que os animais da selva são de espécies diferentes, mas são amigos e cooperam entre si; • Desenvolver a imagem do Menino Jesus como exemplo de solidariedade, amizade e cooperação.

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manualdodirigente C.7.2.3.2. Vantagens da educação para a igualdade na Expedição Na II Secção, surge a etapa da puberdade e os exploradores são obrigados a enfrentar mudanças súbitas que os levam a perder o equilíbrio da infância e nem sempre facilitam o processo relacional. Tem início uma nova forma de relação entre os sexos que é, por norma, problemática. De facto, as modificações físicas conduzem à necessidade de protecção num grupo do mesmo sexo e não facilitam a convivência por se iniciarem em momentos diferentes para raparigas e rapazes. Assim, as raparigas tendem a modificar-se mais cedo e a evoluir mais depressa, alcançando mais cedo uma maturidade que as leva a desconsiderar os rapazes da mesma idade, olhados como infantis e fanfarrões. E estes não se adaptam às suas companheiras, uma vez que possuem gostos diferentes em termos de actividades e são mais inconstantes (preferem actividades com muita acção, que vivem com uma certa agressividade, mas cansam-se depressa). De um modo geral, as crianças desta idade, são intolerantes e impacientes para todos os que não partilham os mesmos interesses, os que têm costumes diferentes, os que não conseguem acompanhar as brincadeira. Este comportamento levanta bastantes problemas, uma vez que a rejeição produz incapacidade relacional. E a tendência, se não for combatida, é para manter e confirmar estereótipos e para desprezar de forma por vezes evidente o outro que é diferente. Por essa razão, a correcta aplicação da coeducação é absolutamente imprescindível nesta faixa etária, uma vez que só a utilização coerente e consciente de estratégias coeducativas pode ajudar a unir os exploradores, levando-os a compreender a riqueza que a partilha de tarefas e actividades e o conhecimento mútuo possuem. Ao utilizarmos a coeducação na Expedição, estamos a permitir que cada escuteiro desta faixa etária desenvolva, de forma equilibrada, as suas capacidades relacionais e aprenda a lidar com a diferença, compreendendo que optar pela tolerância, partilha e respeito mútuo é mais produtivo e valioso do que sustentar imagens estereotipadas que menosprezam alguns e tantas vezes limitam a cooperação. Assim, coeducar na Expedição permite que cada explorador: Conheça as suas características pessoais e valorize as diferenças dos outros; Desenvolva atitudes de confiança, compreensão e aceitação recíprocas, aprendendo a respeitar-se e a respeitar o outro; Desenvolva atitudes de tolerância em relação às características dos outros, tratando cada um como um ser único e com particularidades específicas, ao invésde utilizar um comportamento uniforme em relação a um grupo (por exemplo, rapazes e raparigas aprenderão a distinguir que o facto de não gostarem de um elemento do outro sexo não significa rejeição de todos os elementos desse sexo);

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Reconheça a riqueza da complementaridade que, baseada na ajuda e na partilha de todas as tarefas, permite a rapazes e raparigas trabalhar em conjunto de forma serena; Desenvolva uma visão natural da sexualidade, compreendendo que as diferenças que despontam implicam uma atitude de respeito perante o outro; Desenvolva um comportamento familiar equilibrado e harmonioso, compreendendo, no seu íntimo, que o respeito e a tolerância devem presidir ao relacionamento familiar; Escolha actividades e pense no seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social.

Estratégias de coeducação na Expedição Algumas das estratégias que podem ajudar os chefes da Expedição a pôr em prática a coeducação são as seguintes: • Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que estimulem a solidariedade e a partilha: - actividades que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impliquem minúcia manual, por forma a que todos possam aceder a todo o tipo de acções; - actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis (por exemplo, convém que tanto raparigas como rapazes aprendam a serrar e varram a Cabana ou lavem a loiça); • Realizar actividades que estimulem o trabalho da Patrulha, em detrimento do esforço individual; • Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, cooperação e entreajuda entre todos; • Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos pobres e ricos, rurais e citadinos, que incutam valores positivos; • Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o respeito, a amizade, a tolerância, a solidariedade

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manualdodirigente C.7.2.3.3. Vantagens da educação para a igualdade na Comunidade Passada a etapa da puberdade, os pioneiros entram numa fase de maturação, em que as mudanças corporais são bem visíveis e a pulsão sexual aumenta. Nesta altura, intensifica--se a insegurança em relação ao seu corpo, identidade e convivência com os outros. A necessidade de afirmação conduz à procura de elementos do mesmo sexo (que permitem alguma estabilidade) e o grupo torna-se mais importante do que a própria família, pelo que surgem atitudes contestatárias. Este é também o momento em que podem surgir grupos rivais, com códigos de conduta próprios. É neste contexto que tem início uma nova forma de relação entre os sexos que é, por norma, mais equilibrada do que na II secção. De facto, e ainda que haja diferenças de maturidade (as raparigas amadurecem mais cedo, pelo que tendem a preferir rapazes mais velhos), as relações entre os sexos não são tão tensas. Apesar de rapazes e raparigas continuarem a apreciar mais o seu sexo do que o outro, a descoberta da existência de interesses comuns leva-os a conseguir trabalhar em conjunto, respeitando-se mutuamente e convivendo com tranquilidade. Ao utilizarmos a coeducação na Comunidade, estamos a permitir que cada escuteiro desta faixa etária continue a desenvolver, de forma equilibrada, as suas capacidades relacionais. Descobrirá, assim, que a relação entre o ser humano, marcada pela igualdade de direitos e obrigações, deve reger-se, acima de tudo, pela complementaridade, tolerância e respeito mútuo. Assim, coeducar na Comunidade, permite que cada pioneiro: Desenvolva uma relação equilibrada com os pares, marcada por atitudes de amizade, confiança, compreensão e aceitação recíprocas; Aprofunde, a partir da sua própria experiência, o conhecimento pessoal e dos outros, valorizando a diferença como fonte de riqueza e complementaridade; Desenvolva atitudes democráticas e de tolerância em relação aos outros, tratando cada um como um ser único e insubstituível; Desenvolva uma visão natural da sexualidade, compreendendo que as relações afectivas devem ser norteadas por uma atitude de respeito perante o outro, centrando-se no conhecimento da pessoa e não na atracção sexual; Demonstre um comportamento familiar equilibrado, compreendendo que o respeito e a tolerância devem presidir ao relacionamento entre todos; Se questione sobre quem é e quais são as suas verdadeiras aspirações; Escolha actividades e pense no seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social.

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Estratégias de coeducação na Comunidade Algumas das estratégias que podem ajudar os chefes da Comunidade a pôr em prática a coeducação são as seguintes: • Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que estimulem a cooperação e a partilha: - actividades de carácter físico e manual que impliquem cooperação e demonstrem que todos podem desenvolver todo o tipo de aptidões; - actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis; - actividades que estimulem o trabalho da Equipa, em detrimento do esforço individual; • Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, cooperação e entreajuda entre os jovens; • Partilhar todas as tarefas zelando para que os pioneiros escolham as tarefas a assumir a partir das suas preferências pessoais e não em função dos papéis que a sociedade determina para cada sexo; • Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, e de condições, culturas e credos diferentes, para que os pioneiros compreendam que a sociedade evolui a partir do contributo de todos • Elaborar um ‘Código de Grupo’ que evidencie o compromisso para com a tolerância, a cooperação e o respeito mútuo; • Promover o diálogo sobre o papel que homens e mulheres devem ter na construção de uma sociedade justa e equitativa, chamando a atenção para os problemas que se criam quando não há respeito mútuo e cooperação, mas sim discriminação; • Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como a abertura ao outro, a honra, a autonomia, a lealdade, a amizade, o respeito, a tolerância, o serviço, a solidariedade, a honra, o compromisso;

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manualdodirigente C.7.2.3.4. Vantagens da educação para a igualdade no Clã Ao utilizarmos a coeducação no Clã, estimulamos nos jovens o desenvolvimento e aperfeiçoamento da relação com o outro, permitindo que valores como a tolerância, cooperação e respeito mútuo sejam praticados de forma constante. Mais concretamente, a acção coeducativa permite que cada caminheiro: Aprofunde o conhecimento pessoal e dos outros, encarando as potencialidades dos que o rodeiam (incluindo as suas diferenças) como factor de riqueza; Desenvolva atitudes de tolerância, confiança, compreensão e aceitação recíprocas, compreendendo que todos são seres únicos e iguais em dignidade, direitos e obrigações. Isto permite o crescimento pessoal e desenvolve o respeito mútuo; Tome consciência da necessidade de todos partilharem responsabilidades em todos os domínios da vida; Desenvolva um grau de autonomia que lhe permita assumir, para toda a sua vida, um papel activo de cooperação e partilha numa relação de amor; Desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo o papel de respeito e aceitação que deve nortear o relacionamento afectivo; Decida o seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social; Desenvolva uma estrutura psicológica e moral suficientemente forte para suportar eventuais discriminações profissionais e sociais que possam surgir.

Estratégias de Coeducação no Clã A IV Secção é constituída por jovens em busca da maturidade plena. Funcionando bem, torna-se uma comunidade de amigos que, em conjunto, procuram um conhecimento mais profundo de si mesmos, dos outros e da sociedade em que se inserem, que procuram servir. No entanto, os jovens desta faixa etária não estão isentos de perigo, a nível da maturidade psicológica e sexual. Numa fase em que a resistência e a força, a concentração, a persistência, a iniciativa, a confiança, a assertividade estão em plena fase de desenvolvimento ou já caracterizam alguns jovens em maior ou menor grau, se as etapas escutistas anteriores foram vividas de forma positiva, os hábitos e as atitudes dos jovens são eminentemente positivos. A nível coeducativo, isto significa que aprenderam já a riqueza da cooperação e solidariedade entre todos e conseguem estabelecer as suas próprias escolhas,

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não se deixando influenciar de forma profunda por estereótipos. No entanto, nem sempre isto acontece, pelo que é necessário que os dirigentes utilizem estratégias coeducativas como as seguintes: • Estimular a realização de actividades com todos, que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que estimulem a solidariedade, a cooperação e a partilha: • Actividades variadas, que ponham plenamente à prova a capacidade física, de forma a todos poderem compreender que, independentemente do sexo e condição física, todos podem desenvolver variadas aptidões; • Actividades evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis: • Partilhar todas as tarefas zelando para que os caminheiros escolham as tarefas a assumir a partir das suas preferências pessoais e não baseados papéis sociais estereotipados; • Incentivar a utilização de imaginários com figuras masculinas e femininas, de várias religiões e contextos sociais, de forma a que se valorize o papel na evolução da sociedade independente de raça, cor ou credo; • Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o respeito, a amizade, a tolerância, a solidariedade; • Desenvolver o PPV, estimulando a escolha de actividades segundo as preferências pessoais e não segundo estereótipos sociais com os quais não há identificação; • Incitar à reflexão sobre as características do outro sexo, a nível social e familiar, e a riqueza que pode advir da complementaridade e do respeito mútuo; • Incitar à reflexão sobre a discriminação sexual existente na sociedade, debatendo os perigos e injustiças que assim são criados.

Bibliografia: Coeducação – Manual do Dirigente 9, Lisboa, CNE, 1995. Para uma Pedagogia da Coeducação, Lisboa, Ministério da Educação Nacional e Secretaria de Estado da Instrução e Cultura, 1973. Abranches, G. e Carvalho, E., Linguagem, poder, educação: o sexo dos B, A, Bas, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000. Alario Trigueros, C., La identidad como eje de trabajo en una perspectiva multidisciplinar de igualdad de oportunidades, in Coeducação: do princípio ao desenvolvimento de uma prática, Actas do Seminário Internacional (Lisboa, 28 e 29 de Junho de 1999), Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 1999, 141-157. Baden-Powell, Auxiliar do Chefe Escuta, Lisboa, CNE, s/d. Diniz, M. A. G. S., Lugar da mulher nas rimas tradicionais infantis, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 6-10. Dupont, B., Rapaz ou rapariga: igual educação?, Póvoa do Varzim, Brasília Editora, 1982.

455


manualdodirigente Filiod, J. P., Observações sociológicas sobre a feminização da docência, in Acioly-Regnier, N., Meios escolares e questões de género: elementos de reflexão para a prática do ensino, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000, 21-27. García Colmenares, C., Repensar el género: propuestas para el currículo de formación del profesorado, in Coeducação: do princípio ao desenvolvimento de uma prática, Actas do Seminário Internacional (Lisboa, 28 e 29 de Junho de 1999), Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 1999, 107-131. Martelo, M. J. A., A Escola e a construção da identidade das raparigas, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 1999. Monge, M. G., Criatividade na Coeducação: uma estratégia para a mudança, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000. Neto, A, et al., Estereótipos de género, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000. Neto, A, et al., Estereótipos de género: uma proposta de intervenção na formação inicial de professores/educadores, in Coeducação: do princípio ao desenvolvimento de uma prática, Actas do Seminário Internacional (Lisboa, 28 e 29 de Junho de 1999), Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 1999. Pinto, T., Coeducação e Igualdade de oportunidades, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2000. Pinto, T., A Profissão Docente e os desafios da Coeducação, Lisboa, Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, 2001. Ribeiro, M., A questão da (des)igualdade entre os sexos, ao nível do ensino, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 2-5. Rosa, M. H. V., Igualdade de oportunidades em matéria de educação, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 53-54. Silva, R. T., Igualdade de oportunidades nas escolhas profissionais, in Escola Democrática 10.4, 1989/90, 55-56. Sutherland, P. D., Igualdade de oportunidades na educação das raparigas e dos rapazes, in Escola Democrática 9.1, 1987, 44-49. World Scout Movemment, One of the Boys

456


manualdodirigente Índice Introdução ao Imaginário – “Jorge e o seu Dragão” Parte A –

A Acção Pedagógica

03

A.0. - Os destinatários da acção pedagógica

05

A.1. – A criança dos 6 aos 10 anos

11

A.2. – O adolescente dos 10 aos 17 anos

19

A.3. – O jovem dos 18 aos 22 anos Parte B – O Projecto Educativo que oferecemos

25 29

B.1. – Proposta Educativa do CNE B.2. – Áreas de desenvolvimento, trilhos e objectivos educativos Parte C – Como Implementar

43

C.0. – As Sete Maravilhas do Método

47

C.1. – Lei e Promessa

47

C.1.0. - Um quadro referência de valores

49

C.1.1. - A Lei e Promessa na Alcateia

57

C.1.2. - A Lei e Promessa na Expedição, Comunidade e Clã

70

C.1.2.1. - A vivência na Expedição

73

C.1.2.2. - A vivência na Comunidade

80

C.1.2.3. - A vivência no Clã

85

C.2. – Mística e Simbologia

85

C.2.0. - 'Mística' e 'Imaginário' do Programa Educativo

90

C.2.1. - Mística e Simbologia na Alcateia

99

C.2.2. - Mística e Simbologia na Expedição

108

C.2.3. - Mística e Simbologia na Comunidade

120

C.2.4. - Mística e Simbologia no Clã

133

C.3. – Vida na Natureza

133

C.3.0. - O valor pedagógico do contacto com a Natureza

137

C.3.1. - A Vida na Natureza na Alcateia

143

C.3.2. - A Vida na Natureza na Expedição

147

C.3.3. - A Vida na Natureza na Comunidade

153

C.3.4. - A Vida na Natureza no Clã

157

C.4. – Aprender Fazendo

157

C.4.0. - Valor pedagógico do Aprender Fazendo

165

C.4.1. - Formas de Aprender Fazendo na Alcateia

174

C.4.2. - Formas de Aprender Fazendo na Expedição

183

C.4.3. - Formas de Aprender Fazendo na Comunidade

193

C.4.4. - Formas de Aprender Fazendo no Clã

457


manualdodirigente 201

C.5.0. - O modelo criado por B.-P.

204

C.5.1. - O Sistema de Patrulhas na Alcateia

226

C.5.2. - O Sistema de Patrulhas na Expedição, Comunidade e Clã

255

C.6. – Progresso Pessoal

255

C.6.0. - Valor pedagógico do Sistema de Progresso

257

C.6.1. - O Sistema de Progresso na Alcateia

274

C.6.2. - O Sistema de Progresso na Expedição

290

C.6.3. - O Sistema de Progresso na Comunidade

314

C.6.4. - O Sistema de Progresso no Clã

334

Anexo 1 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Lobitos

339

Anexo 2 - Ligação entre o imaginário e os trilhos e objectivos educativos da Alcateia

349

Anexo 3 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Exploradores

354

Anexo 4 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Pioneiros

360

Anexo 5 - Folha de apoio ao registo de conhecimentos, competências e atitudes – Caminheiros

367

C.7. – Relação Educativa

367

C.7.0. - O Adulto no Escutismo

372

C.7.1. - Interacção Educativa

377

C.7.1.1. - A Interacção Educativa na Alcateia

378

C.7.1.2. - A Interacção Educativa na Expedição

380

C.7.1.3. - A Interacção Educativa na Comunidade

384

C.7.1.4. - A Interacção Educativa no Clã

385 387

C.7.2. – A Coeducação C.7.2.1. - Escutismo Inclusivo

393

C.7.2.1.1. - Escutismo Inclusivo na Alcateia

398

C.7.2.1.2. - Escutismo Inclusivo na Expedição

403

C.7.2.1.3. - Escutismo Inclusivo na Comunidade

409

C.7.2.1.4. - Escutismo Inclusivo no Clã

413

C.7.2.2 . - A interculturalidade

419

C.7.2.2.1. - A interculturalidade na Alcateia

423

C.7.2.2.2. - A interculturalidade na Expedição

427

C.7.2.2.3. - A interculturalidade na Comunidade

432

C.7.2.2.4. - A interculturalidade no Clã

437

458

C.5. – Sistema de Patrulhas

201

C.7.2.3. - Igualdade de direitos e oportunidades

448

C.7.2.3.1. - Vantagens da educação para a igualdade na

450

C.7.2.3.2. - Vantagens da educação para a igualdade na Expedição

452

C.7.2.3.3. - Vantagens da educação para a igualdade na Comunidade

454

C.7.2.3.4. - Vantagens da educação para a igualdade no Clã

Alcateia


manualdodirigente

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