3 minute read
Abrindo o baú: HIGHLANDER
from Play Test #2
Lançado em 1986, Highlander é um filme que mistura ação, aventura e fantasia em um roteiro que apresenta a existência de imortais, espalhados ao redor do mundo, escondendo sua real natureza da humanidade enquanto se envolvem em uma disputa pelo chamado “Prêmio”, uma recompensa lendária que caberá ao último imortal restante.
Apesar de inicialmente confuso, aos poucos as coisas vão se revelando. A cena de abertura, ambientada na garagem do Madison Square Garden durante um evento de luta livre, já mostrava que havia algo diferente naquele filme. Dois caras estranhos, que parecem já se conhecer há um bom tempo, se encontram e, de repente, desembainham espadas e começam uma espécie de duelo!
Advertisement
Antes que que você consiga entender o que de fato está acontecendo, um dos homens é decapitado, ocasionando uma intensa descarga elétrica que envolve o sobrevivente, causando uma série de danos no local, mas deixando o sobrevivente ileso. Esse foi o nosso primeiro contato com o Quickening, a força que confere imortalidade e dons especiais a algumas pessoas, aparentemente ao acaso.
O fato é que, para os olhos atentos de RPGistas e fãs de fantasia em geral, aquela cena certamente provoca interesse e curiosidade instantânea… duelo de espadas em garagens maliluminadas? alguma espécie de magia envolvida? preciso saber mais! Imediatamente, o filme corta para a Escócia, em 1536, onde descobrimos que o sobrevivente misterioso é Connor McLeod, do Clã McLeod, um guerreiro das highlands que após receber um ferimento mortal em sua primeira batalha, miraculosamente retorna à vida.
E assim o filme segue, entre passado e presente, revelando mais detalhes sobre o treinamento e os séculos de vida de Connor, sempre fazendo o contraponto de que ser imortal não tão prazeroso quanto se pode imaginar de início. O fato é que o clima sombrio, combates “medievais” em locais modernos, e a angústia do personagem com sua imortalidade, certamente provocaram impacto na audiência, e, muito embora o filme não tenha sido um grande sucesso comercial, tornou-se um cult, gerando interesse suficiente para que fossem feitos outros filmes, séries de TV, animações e outros derivados, que, entre altos e baixos, expandiram o mundo e as informações sobre os imortais.
Trazendo a conversa mais para o lado dos RPGs, o filme teve influência significativa na concepção de Vampiro: A Máscara, sendo inclusive citado como referência na lista de filmes sugeridos pelo autor, Mark Rein-Hagen.
Com certeza, muitas similaridades podem ser feitas entre Highlander e os vampiros do mundo Punk-Gótico criado por Hagen. Além da óbvia imortalidade (ou melhor, quase imortalidade, já que ambos podem morrer, ainda que seja através de condições específicas), temos as questões psicológicas de como lidar com a passagem do tempo e as perdas que isso traz… o que casa bastante com a proposta original do RPG, que é justamente a luta interna dos vampiros para manterem ao máximo sua humanidade, apesar dos séculos de vida que tendem a impor um distanciamento cada vez maior.
Outro ponto que com certeza influenciou na criação de Vampiro: A Máscara foi a ambientação do filme, com suas ruas sujas e mal- -iluminadas, contribuindo para o clima de opressão, desesperança e “fim de século” que o RPG dos anos 90 procurava criar para seus jogadores.
A identidade entre as ambientações é tão forte e natural que, em meados da
década de 90, circulou pela internet um suplemento nãooficial, Highlander: The Gathering, criado pelo fãs Hank Driskill e John Gavigan, que adaptou os guerreiros imortais para o chamado Mundo das Trevas. O trabalho foi muito bem feito, apresentando regras específicas para os imortais, bem como interações com os principais jogos da White Wolf, em especial Vampiro, Lobisomem e Mago. Highlander com certeza deixou sua marca no cinema e no imaginário dos fãs, sendo até hoje uma fonte de inspiração que merece ser conhecida pelas novas gerações.
por Fábio Correa