ALDEIA DE GRALHAS - MONOGRAFIA

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Domingos Vaz Chaves

GRALHAS

MINHA TERRA MINHA GENTE O Autor Domingos Vaz Chaves 1ª.EDIÇÃO

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

O AUTOR

DOMINGOS VAZ CHAVES, nasceu a 3 de Agosto e foi registado a 16 do mesmo mês, do ano de 1954, na freguesia de Gralhas, concelho de Montalegre, onde foi baptizado, pelo Padre Avelino da Mota. Viveu com os seus avós maternos até aos 7 anos de idade. É filho de José Fernandes Chaves e de Teresa Vaz, neto paterno de José Fernandes Chaves e de Maria Dias e materno, de Domingos Vaz e de Maria da Glória Gonçalves Carneiro, todos naturais da dita freguesia de Gralhas. Aí iniciou a instrução primária, tendo rumado a Lisboa, onde actualmente vive, quando frequentava a 2.ª classe e se juntou a seus pais, que aí residiam e trabalhavam. Em 1965, após concluir a 4.ª classe e efectuado o necessário exame de admissão para o efeito, inicía os estudos secundários no extinto Liceu Nacional de Gil Vicente. Posteriormente, trabalhando e estudando alternadamente, veio a

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Domingos Vaz Chaves concluir o Curso Geral dos Liceus em Julho de 1974, então com 19 anos de idade. Em termos profissionais, é Chefe da Policia de Segurança Pública, a qual surgiu no seu percurso, a partir do ano de 1980, através de um concurso público. Após a respectiva candidatura e a prestação das necessárias provas, deu entrada na Escola Prática de Policia, em 19 de Outubro de 1981, onde frequentou o Curso de Formação de Agentes. Concluído o respectivo curso, é colocado em Lisboa, local onde permanece até Outubro de 1985, data em que regressa à Escola Prática de Policia, para frequentar um Curso de promoção a 2.º Subchefe. Após frequência do mesmo com aproveitamento, regressa de novo a Lisboa, onde volta a ser colocado. A partir daí reíniciou os seus estudos e após conclusão do 12º. Ano no Liceu D.Pedro V, no ano de 1989, entra na Faculdade de Direito de Lisboa, onde frequenta o respectivo curso. Em Julho do mesmo ano, foi promovido a 1.º Subchefe e em Outubro de 1994, é colocado na sede do Comando Metropolitano da Policia de Segurança Pública, sito no Edificio do Governo Civil em Lisboa, onde ainda se encontra. Em Novembro de 1999 é promovido a Subchefe Principal e eleito através de sufrágio directo, para membro do Conselho Superior de Policia. Actualmente desempenha funções na área da formação e instrução.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Paralelamente e no mesmo âmbito, leccionou na Universidade Lusiada, tendo nos últimos anos, dedicado algum do seu tempo à escrita, da qual se destacam, para além desta obra, de homenagem à sua terra, que visita assiduamente, História da Policia em Portugal - Formas de Justiça e Policiamento, História da Policia para Crianças, Moralidade e Ética Policial e Relatos e Crimes do Arco da Velha. Conta no seu currículo com uma medalha de cobre, uma medalha de prata, uma medalha de ouro, uma medalha de prata de 1 estrela, 1 medalha de prata de 2 estrelas, por comportamento exemplar, e três louvores.

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Domingos Vaz Chaves

Para os meus filhos, João e Luis, todos os filhos da Terra e gerações vindouras.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

PARA QUE SE SAIBA... Será difícil, a quem demanda hoje esta aldeia, imaginar com alguma profundidade, aquilo que a mesma foi desde os primórdios, ou mesmo, até à época em que o Camilio, o Sete, o Batalha e tantos outros, rumaram à «Companhia do Bacalhau» em Lisboa, ou o António Pistão, iniciou o processo de emigração para França. Só os mais antigos, aqueles que contam para além dos 50 e que calcorrearam abaixo e acima, as ruas desta terra, as íngremes ladeiras do Larouco e da Lagoa, poderão ter uma ideia sui-generis, daquilo que Gralhas foi no passado «recente», já que quanto aos tempos mais longínquos, muitas dúvidas subsistem. No que diz respeito ao primeiro mote, posso afirmar com toda a clareza, que a diferença é uma coisa impensável!... Naqueles tempos, não havia jornais que ali chegassem, não havia rádio, não havia televisão. Noticias, era uma nulidade e Gralhas um «mundo» fechado, envolvido pelas suas casas de colmo, por uma civilização pré-industrial e comercial, tão edénico e bucólico, que a medida da fortuna, não se fazia pelas cifras da lotaria, mas pelos alqueires de pão «colhidos», pelas quilos de batatas arrancados à terra, ou pela unidade «cabeça de gado», que cada um tinha e por quem se jurava: «nem que me desses uma vaca cum bezerro». Mas esse mundo morreu... só vive, como disse, nos microcosmos dos filhos da terra, que contam para além do tal meio século, e com eles desaparecerá para sempre... a não ser, que alguém, dedique algum do seu ócio, a registar tanto quanto possível,

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Domingos Vaz Chaves vivências passadas, velhos monumentos, costumes e tradições. Alguém, bastante inserido nessa sociedade de antanho, pela paixão das pessoas e coisas da sua criação e ao mesmo tempo com capacidade de confronto dessa realidade, da realidade civilizacional de então com a de hoje. Os nossos filhos, os nossos netos, as gerações vindouras, têm o direito de conhecer, aquilo que foi a vida dos seus progenitores, da sua terra, dos seus costumes, e das suas tradições. Até aos 7 anos de idade, fui criado – com meus avós -, num ambiente familiar de puro regime patriarcal, auferindo como qualquer outra criança, da «riqueza» da vida comunitária produzida na aldeia. O comunitarismo, era o expoente máximo desse viver eminentemente social. Comunidades de «patrões» e «empregados», partilhavam o trabalho árduo, a mesma mesa, o mesmo respeito e a mesma prece ao fim do dia, após a ceia. À volta da lareira, poderosa de calor e aconchego, que conjuntamente com a candeia, iluminava as amplas casas, desprovidas que eram de luz eléctrica, brotava a alegria reinante dos serões, que antecediam as longas noites de inverno. A desoras que fosse, se alguém batesse à porta, lá tinha a sua tijela, o seu copo de vinho, o seu naco de conforto. Cumpriam-se assim as leis da hospitalidade, que a tradição mandava. Generosamente. Simplesmente. Durante aqueles sete anos - e com o decorrer do tempo, durante os periodos de férias -, aprendi a gostar do meu torrão natal, que nunca esqueci. Vivi os trabalhos e os dias na translação anual do labor agrícola, desde o «meter» dos fenos, às segadas, desde as

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Gralhas Minha Terra Minha Gente carradas, às malhadas, desde a matança dos porcos, que constituíam autênticas festas de familia, até ao «carrar» do estrume, desde a sementeira do centeio, até ao quotidiano cuidado com as «fazendas» (terrenos), desde a alegria de quem ama a vida e por ela é amado, até aos «motes» (quadras de escárnio e mal dizer), tudo numa sociabilidade intensa quase sem privacidade. Era uma riqueza imensa de experiências de vida, em contacto com a natureza!... E para que não ocorressem falhas, não faltavam sequer os mestres assistentes, como o João Alves ou o Lino Lourenço, os familiares de sangue, que ensinavam por obrigação, ou até mesmo os «homens bons» da terra que serviam como referência aos mais novos. Através desta pequena obra, recorrendo a fontes, a informação prestada pelos mais idosos e a todos os meios documentais de que possa dispôr, procurarei relatar aquilo que foi, e é minha terra. Fá-lo-ei com a paixão natural de quem aí nasceu, sem pretensiosismos, e apenas com um objectivo: Dar a conhecer às gerações vindouras, aquilo que foi e que é, GRALHAS, A MINHA TERRA E A MINHA GENTE.

O AUTOR

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Domingos Vaz Chaves

I – LOCALIZAÇÃO E ESTRUTURA SOCIAL

Gralhas dista 9 Kms da sede do concelho

Terra de montanha, muito gado caprino e ovino e de gente dura, a aldeia de GRALHAS, está situada no norte de Portugal, na base sul da Serra do Larouco e ocupa uma área calculada em cerca de 1082 ha. Dista 9 Kms da vila de Montalegre, sede do concelho, 5 Kms da fronteira com a Galiza e 25 Kms da cidade de Chaves. O seu povoamento é concentrado. A aldeia encontra-se rodeada de nabais, hortas e lameiros de rega. Neste perimetro, é propriedade exclusivamente privada. Depois segue-se-lhe todo um conjunto de terrenos, também privados, mas misturados com outros de dominio público. Esses terrenos, são chamados de duas

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Gralhas Minha Terra Minha Gente folhas (a de baixo e a de cima), uma de batata, outra de centeio, com cultivo alternado. Antes da intensificação da cultura da batata, uma das folhas, ficava em grande parte, de poulo (pousio). Quase todos os terrenos, envolventes deste segundo perimetro, são de pastoreio colectivo até às sementeiras e posteriores colheitas. Os lameiros são propriedade privada, excepto as «lamas do povo» ou do «boi», como também são conhecidas e que outrora se destinaram à pastagem dos bois do povo. O monte (baldios) é de pastoreio livre, quer para gado de particulares, quer para os rebanhos comunitários. A aldeia de Gralhas, apresenta um modelo consistente, depurado ao longo dos séculos, através de uma economia de subsistência, onde entroncam admiravelmente o privado e o colectivo. Cultivase pouco de cada coisa e hoje praticamente, em função das necessidades do agregado familiar. A terra, não é apenas a propriedade, é mais a extensão vital da corrente sanguínea. Nos dias que correm, a vida da aldeia não é o quadro de felicidade, que ocorre e pode ser apreciado em certas épocas. Ao lado da fartura, que alguns chegam a ostentar, moram ainda muitas dificuldades, quantas vezes encapotadas, designadamente, durante o rigoroso inverno, quando o trabalho escasseia. A partir dos anos sessenta, muitos jovens descontentes e ambiciosos, largaram tudo, e meteram os pés a caminho, deslocando-se para as grandes cidades do litoral e mais tarde em muito maior número, para outros países da Europa, designadamente para França.

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Domingos Vaz Chaves Quatro décadas depois, muitos regressaram e continuaram com a mesma vida. Envelhecidos pelo tempo e pela vida, atravessam ainda hoje a aldeia, atrás das suas vacas, revivendo o passado. A estrutura social, o papel da propriedade da terra, as casas, as ruas, as fachadas, o modo de vida, o sistema de entreajuda, a noção de tempo, os ritmos da vida, os mitos e os ritos, tudo parece pertencer já a um paraíso perdido. II - CLIMA Em termos climáticos, poder-se-à dizer, que Gralhas, se situa na zona climática do nordeste ou terra fria. É uma aldeia de temperaturas extremas, que vão de vários graus negativos no Inverno a mais de 30 graus positivos no Verão, devido à sua localização continental. Os ventos, irregulares e variáveis, conforme a época do ano, constituem elemento muito influente no clima. Tem índices pluviométricos elevados com uma média de 100 dias de chuva por ano. A altitude oscila entre os 700 e os 1.525 metros, no topo da Serra do Larouco. III – GRALHAS, MINHA TERRA, MINHA GENTE... Quando se pretende elaborar a monografia de uma localidade, o primeiro assunto a tratar, é o da sua origem, data da fundação, local onde se levantaram as primeiras casas e fundamentalmente os motivos e circunstâncias, que determinaram o seu aparecimento. Tratando-se de povoações «perdidas no tempo», sobretudo se forem anteriores à fundação da nacionalidade, a falta de

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Gralhas Minha Terra Minha Gente documentos que autorizem a historiar com precisão, aquilo que se pretende, é um facto, e a história de Gralhas não foge à regra. Existem documentos, que falam de diversas regiões de Barroso, designadamente desde a época da ocupação romana. Em meados do século VI, durante o domínio dos Suevos, um dos concilios de Lugo, fala de Salto, uma freguesia do concelho de Montalegre, ao qual Gralhas pertence. Seis séculos mais tarde, um manuscrito de 1145, dá noticia da existência do Arcediagado de Barroso. Por volta de 1147, um documento existente no Arquivo Provincial de Orense (Galiza), fala da fundação do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, próximo de Pitões, outra aldeia, que integra o mesmo municipio. Em 1208, uma Bula do Papa Inocêncio III, refere-se a Vilar de Perdizes e ao Couto de Dornelas. Pela mesma data, Tourém recebeu foral do rei D. Sancho I. De 1248, existem dois documentos, referentes ao Mosteiro de Pitões e ao Couto de Vilaça. As Inquirições de 1258, falam de novo em Salto. A partir do século XIII, a documentação é mais abundante. Mas sobre Gralhas, para além de alguma informação dispersa e na maioria dos casos, proveniente da Galiza (Aula Galicia), o primeiro diploma legal que se conhece, é o foral concedido, pelo rei D. Dinis, em 20-09-1310, ano de epidemias e muita fome na região, através do qual se ordenava a partilha das terras, o seu cultivo, o pagamento do dízimo a Deus e a proibição de atentar na parte ou no todo contra os usos e costumes da povoação. Assim, com base na documentação disponível, em achados diversos, nas tradições, nos costumes locais e nos testemunhos

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Domingos Vaz Chaves dos mais antigos, procurarei na medida do possível, responder à pergunta: Como nasceu Gralhas?

IV – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-NATURAL Não se conhece de fonte segura, a origem do nome que fez jus à terra. Não se conhecem igualmente, registos que retratem de forma fidedigna a sua origem. O que se sabe isso sim, é que o termo GRALHAS, deriva do latim -gracula-, ave conirrostra da familia dos corvos, que abundou na zona onde hoje se situa a aldeia. Segundo relatos de alguns estudiosos, as comunidades que viviam próximo do aglomerado, que é hoje, toda a àrea circundante da freguesia de GRALHAS, perdem-se na bruma dos tempos. Essas comunidades, parecem ter habitado, desde os longínquos tempos da pré-história, em zonas, como Soutelo (ou «Crasto» como ainda hoje é conhecido) e Ciada, pouco se sabendo dos seus primitivos habitantes, da sua cultura, dos seus hábitos, das suas actividades de caçadores e pastores, designadamente durante os periodos leptolítico e mesolítico. Há cerca de 3 000 anos, a cultura castreja, representada supostamente pelos Equésios, teve nessas regiões, larga difusão e grande prosperidade, supondo-se que como consequência de uma epidemia que terá grassado nos ditos CASTROS DE SOUTELO e da CIADA, o primeiro situado a nascente do lameiro do Artur Roscas e a poente do Rio das

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Forcadas, que ainda hoje apresenta vestigios de uma muralha de terra e pedra miúda, e de um fosso do lado nascente do mesmo rio, e

Restos de um Castro

o segundo na encosta a caminho de Solveira, pela estrada velha, numa zona próxima do actual campo da bola, as respectivas populações, se tenham deslocado para zonas, que apelidaram de Cima de Villa, muito próxima da actual Calhelha do Lameiro e Bárrio, algures da Santa, as quais muito mais tarde e por influência da civilização romana, se viriam a unificar e dar origem à actual aldeia de GRALHAS. Por aqui passaram e deixaram igualmente marcas, diversas civilizações, entre as quais, a Ibero-Céltica - cujos vestigios nos são transmitidos, pelas suas preocupações com o que haverá para além da morte, e se traduziram na edificação de monumentos funerários, existentes na região - e a Romana, sendo aqui de salientar, a via romana Braga-Chaves, que há cerca de 2 000 anos,

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Domingos Vaz Chaves passava pela Ciada/Caladuno, o que prova inequivocamente, que os romanos, chegaram a esta zona, passaram e deixaram rasto. Desta via aliás, fala o itinerário romano do imperador Antonino, que a situa entre Braga e Chaves, a 30 000 passos da cidade de Praesidium ou Sabaraz, como era popularmente conhecida, e hoje, dá pelo nome de Vila da Ponte. Já lá vão quase dois mil anos!... Fruto talvez e em grande parte, resultante dos condicionalismos impostos pela interioridade, pela aspereza da região e até pela fixação à terra de um povo saído do nomadismo pastoril, este é o retrato, ainda que um tanto ou quanto obscuro, e quase sem história, da aldeia de Gralhas.

V – VIDA E COSTUMES DOS CASTRENSES

Embora já muito danificada e reconstruída arbitrariamente, a Fonte da Calhelha do Lameiro, é um dos exemplares existentes da civilização Celta, que por aqui passou.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Como já foi dito, Gralhas, sempre foi uma zona de temperaturas extremas, que se traduzem em muita chuva e neve no inverno e elevado calor no verão. Sabe-se hoje, que na época dos Castros e no periodo que se lhe seguiu, os habitantes das zonas, que hoje envolvem a freguesia, vestiam uma túnica de lã ou de linho, conforme a época de Verão ou Inverno, a qual descia do pescoço, até um pouco acima do joelho, ou ainda um saião curto, por alturas em que o calor apertava mais. Da chuva e da neve, protegiam-se com uma capa negra de

Dois aldeões de capucha e crossa

lã, algo semelhante ao sagum celtibérico - sendo provável e pacífico, que mais tarde lhe fosse adaptado um capuz, da qual resultou a ainda existente «capa» ou «capucha» de borel, que todos nós conhecemos – e com vestimentas, feitas com jungos, a que mais tarde se veio dar o nome de «crossas» ou «crôssos». Em termos de alimentação e antes do centeio ter sido aqui introduzido pelos Celtas, os nossos antepassados consumiam, pão de landras (bolotas) dos carvalhos, que eram tostadas, moídas e posteriormente cozidas através de processos desconhecidos, leite, carne proveniente da caça e ainda a conseguida, através do abate de gado ovino ou caprino que possuíam, milho e peixe.

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Domingos Vaz Chaves As populações agrupavam-se em comunidades ligadas por laços sanguíneos, ou em tribos, quando as desavenças assim o determinavam. Viviam em regime comunitário, perfeitamente harmonizado e em perfeita sintonia com os direitos e obrigações, que a própria comunidade impunha a si mesma e que o respectivo chefe geria.

VI– A PASSAGEM POR GRALHAS DOS ROMANOS... Como é sabido, quando a conquista romana da Peninsula Ibérica se inicia, em 218 A.C., com o desembarque das tropas de Cneu Cipião em Ampúrias, na actual região de Barcelona, já a Peninsula era habitada por diversos povos. E naquele que viria a ser território português, a norte do Rio Douro e nas imediações da zona, onde hoje se situa a freguesia, encontravam-se os Calécios, que haviam resultado da fusão de alguns nomadas que por ali passaram e se viriam a fixar, com as populações locais. Deve dizer-se inclusivé, que aquele território – ao tempo parte integrante da Callaecia -, conjuntamente com a Asturia e a Cantabria, foi a última zona do actual território português, a ser conquistado por Roma, nas campanhas de 26 e 25 A.C., isto é, cerca de duzentos anos após o inicio da ocupação romana da Peninsula Ibérica. A cultura Ibero-Céltica dos Castros, após cerca de um milénio de existência, cedia então lugar ao domínio romano. Todo o periodo que se seguiu, trouxe consigo, além das transformações politicas, administrativas e culturais, uma profunda modificação no regime de propriedade. De facto, com o deslocamento das populações castrejas, onde dominava a propriedade comunitária, para as

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Gralhas Minha Terra Minha Gente terras mais férteis dos vales, ocorreu uma ocupação individualista do solo, bem típica aliás, da civilização romana, presumindo-se ser este o momento, que como consequência de tal, os aglomerados populacionais de Cimo de Villa e Bárrio, se tenham fundido, naquela que hoje é a Aldeia de Gralhas. Estes factos, tiveram como consequência, uma radical transformação na economia local, até então essencialmente pastoril, transformando-a numa economia predominantemente agrícola. A principal consequência desta transformação, resultou num progressivo enfraquecimento do regime comunitário, que até então vigorou, o qual apenas viria a ser restabelecido, a partir dos princípios do século V da nossa era, quando das invasões dos povos germanos, constituídos por Vândalos, Suevos e Alanos, no ano de 409. A língua, as letras e os costumes, foram outras das heranças que a civilização romana deixou por toda a região de barroso e consequentemente por Gralhas, aos quais se pode juntar, a actual estrutura paisagistica, assente numa economia de subsistência, designadamente no que diz respeito às culturas agricolas, em que o gado, é a principal fonte de riqueza da população residente. Para além do que já foi referido, da cidade romana de Grou, que constitui um autêntico cartão de visita desta zona, e se situa, algures entre a actual aldeia de Gralhas e de Santo André, e da via romana de ligação entre Braga e Chaves, que saindo daquela cidade bracarense, passava por diversas povoações dos actuais concelhos de Vieira do Minho e Montalegre, designadamente, Codeçoso do Arco, Porto dos Carros, Lama do Carvalhal, Currais, Subila, Breia Gia a sul de Ladrugães, Friães, Pisões, Cruz do

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Domingos Vaz Chaves Leiranco, Penedones, Travassos da Chã, S. Vicente, Peireses, Codeçoso, CIADA (ao tempo conhecida por Caladuno e actualmente situada na zona envolvente de GRALHAS), Solveira, Soutelinho, Castelões, Seara Velha, Pastoria, Casas dos Montes, até atingir a cidade flaviense, pouco mais se conhece da herança deixada pelos romanos, por estas paragens. Restam nas redondezas, alguns Marcos Miliários – os chamados monólitos cilindricos -, que assinalavam de mil em mil metros, as respectivas distâncias, indicando alguns deles, os nomes, a filiação, os cargos exercidos e os títulos honoríficos dos imperadores de Roma. Sabe-se, que a introdução dos marcos miliários, nas vias romanas,

Marco Miliário

datam do ano de 183 antes da era Cristã. Que são do tempo de Caio Graco e que em zonas próximas de Codeçoso do Arco, Pisões, Antigo de Arcos e Cervos, foram encontrados alguns exemplares, constando num dos existentes nesta última freguesia a inscrição: «Tibério César, filho do Divo Augusto, neto do Divo Júlio,

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

Augusto, Sumo Pontífice, 8 anos imperador, 5 anos cônsul, 34 anos do poder tribunício. A Braga, 59 000 passos», facto que prova de forma inequívoca e à distância de mais de 2 000 anos, a forte presença da civilização romana, nesta zona.

Os ditos marcos, quase todos desapareceram. Alguns, como os acima referidos, foram levados para Braga, onde se encontram, outros, foram destruídos pelo passar impiedoso do tempo, e outros ainda, foram até utilizados, na construção de casas ou de muros de propriedades rurais, como é o caso de dois exemplares, do tempo do imperador César Augusto, já do ano 44 da era cristã, que «enfeitam» a parede do forno do povo de Sanguinhedo. VII - ... E DOS SUEVOS E VISIGODOS A todas as acções levadas a efeito pela romanização, foi dada continuidade, pelos cenóbios cristãos, que cimentaram a cultura romana, com a influência germânica que se lhe seguiu, de Suevos e Godos. O reino Suevo, esteve implantado em toda a Galécia, durante 176 anos, isto é, no periodo compreendido entre 409 e 585, altura em que foi conquistado pelos visigodos. Acresce aqui referir, que as populações da região, passavam praticamente imunes a todas as transformações, relacionadas com problemas de identidade, a tal ponto que os próprios reis vencedores, se intitularam, Reis dos Visigodos e dos Suevos, até à conquista muçulmana, no sécul VIII, a que se sucedeu a reconquista cristã, que havia de conduzir, à criação do Reino de Portugal, no século XII.

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É sob esta influência dos povos germanos na zona e em particular, no que aos Suevos diz respeito, que no século V, se presume ter sido introduzido na região da Gallecia e por consequência também, na zona que hoje é Gralhas, um tipo de arado, muito mais possante que o utilizado pelos indígenas, algo semelhante até, ao utilizado pelos lavradores da terra, já nos séculos XIX e XX, e se inicia o gosto de montar nos «burricus», não de forma tão elegante como faziam os cavaleiros romanos, nos seus cavalos, mas de uma forma, muito mais adaptada, quer à rudeza dos montes e montanhas, quer às próprias possibilidades dos residentes. Desse «burricus», ficou o hábito, até há relativamente poucos anos atrás, das deslocações da nossa gente, por montes e vales, feiras e romarias e até no transporte de todo o tipo de cargas, que íam desde o simples «molho» do milho, até ao transporte de carvão, ou dos «odres» com vinho, que muita gente da terra, adquiria nas proximidades de Chaves. Com a chegada dos Suevos e como já foi dito, radica-se de novo o comunitarismo na nossa terra. É que ao contrário dos romanos, exímios defensores da propriedade privada, os germanos valorizavam sobretudo a propriedade colectiva, donde resultou o sistema de vida comunitária, que ainda hoje mantém alguns dos seus traços característicos, na nossa comunidade.

VIII – OS MOUROS EM BARROSO

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Os Mouros entraram na Península em 710. No ano seguinte, vencendo os cristãos na batalha de Guadalete, deram o golpe final, na monarquia visigótica. A campanha de ocupação, durou cerca de 7 anos e a região de Barroso, presume-se ter caído em seu poder, por volta do ano de 716. À semelhança do que aconteceu noutras localidades da região, os habitantes de Gralhas, sofreram o ódio e a perseguição mourisca. Uma vez submetidos aos invasores, julga-se terem vivido em relativa paz com eles, pese embora, tenham sido tratados quase como escravos. Todo o labor do seu trabalho revertia para o senhor da terra, a quem pagavam pesados tributos. Qualquer dos naturais, estava impedido do exercício de chefia de grupo e o lucro era proibido. Desconhece-se, se poderiam praticar livremente a sua religião. O que se sabe isso sim, é que determinados lugares da aldeia, como «Fental», «Queirogal», «Espinheiral» e tantos outros semelhantes, se encontram ligados à passagem dos Mouros, por Gralhas.

IX - A RECONQUISTA CRISTÃ Durante a reconquista cristã da península, Gralhas, tal como toda a região de Barroso, manteve-se integrada na Galécia. A Galécia, como já foi dito, fora uma provincia romana, situada na esquina norte-ocidental da Peninsula Ibérica, correspondendo nos dias que correm, à actual Galiza e norte de Portugal, e a sua cidade mais importante e capital histórica, era Bracara Augusta, a actual cidade dos arcebispos.

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Domingos Vaz Chaves A Galécia, dividia-se administrativamente em três «conventus»: Conventus asturiense, Conventus Lucense e Conventus bracarense, este último, onde o «povo» de Gralhas se integrava.

A Galécia tal como se apresentava dividida

De 716, a 753, nada se sabe àcerca de Barroso e muito particularmente da Aldeia de Gralhas. O que reza a história, é que em 753, o rei Afonso I de Oviedo, genro de Pelágio, organiza

uma grande expedição contra os Mouros e para além de outras cidades, toma-lhes Chaves e toda a região de Barroso. Após um cativeiro de 37 anos, os nossos antepassados do século VIII, respiravam de novo o ar da liberdade e dos seus hábitos, postos em causa pelos invasores muçulmanos. No meio de todas estas lutas, é bem provável, que mais uma vez, os

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Gralhas Minha Terra Minha Gente nossos conterrâneos, tenham sofrido devastações e assaltos da moirama, designadamente durante o estranho regime de correrias e incursões mútuas entre cristãos e árabes.

X – GRALHAS NA IDADE MÉDIA Depois de tudo quanto ficou escrito, é pacífico, que a aldeia de Gralhas, dentro do actual contexto e com a ressalva do Bairro das Cruzes (ou de São Sebastião), que é contemporâneo, já existia, quando do reconhecimento do Reino, em 1143. Sabe-se que administrativamente dependia do Alcaide de Montalegre, a quem pagava, tal como outras aldeias das redondezas, parte dos tributos da terra, que era pertença da corôa. Tais tributos, eram devidos, pelo facto, daquela que hoje é sede de concelho, ser ao tempo e no seguimento da organização administrativa, que vinha do Reino de Leão, aquilo a que se chamava «Cabeça da Terra de Barroso», onde funcionava e era organizada toda a administração civil, judicial e militar. A partir de 1273, as regras tributárias dos habitantes de Barroso e por consequência dos de Gralhas, foram significativamente alteradas. Através de uma carta de foral, datada de 9 de Junho de 1273, atribuída a Montalegre, como «Cabeça das Terras de Barroso», mas cuja motivação principal, era a intensificação do povoamento e desenvolvimento agricola da região, o Rei D. Afonso III, concedeu às populações «todos os direitos e rendas reais,

com excepção dos direitos de hoste, moeda e padroado das igrejas, que reservava para a corôa». Impunha ao Alcaide, «...o

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tributo anual de 3.500 morabitinos», que este deveria cobrar,

junto das populações das diversas aldeias que tutelava e pagar à corôa, em três prestações: 1 de Outubro, 1 de Fevereiro e 1 de Junho. A falta de pontualidade deste pagamento, seria penalizada com uma «multa» de 10 morabitinos, por cada dia de atraso. Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os abusos que alguns fidalgos da «Cabeça», exerciam sobre os aldeões, designadamente, o uso da força que muitas vezes utilizavam para extorquir determinados bens de que necessitavam, bem como a sua aquisição sem a necessária contrapartida de pagamento. Só que tal «politica» não resultou!... A intensificação do povoamento e o desenvolvimento agrícola pretendidos, não tiveram sucesso; muita gente morreu, em consequência da fome e de uma grave epidemia que na época por ali passou; procurando fugir à doença e à fome, alguns povoadores saíram das suas terras e procuraram novas paragens, em busca de melhores meios de subsistência; outros ainda, fugiram às acções de violência e extorção de bens, de que eram vitimas, por parte de alguns fidalgos da «Cabeça»; a mão- de-obra era diminuta e o desenvolvimento agricola, regrediu de forma significativa. Mais tarde, após tomar conhecimento de todos estes factos, o rei D. Dinis, encarregou então, o clérigo Pedro Anes, de proceder ao estudo da situação e encontrar as necessárias soluções, que permitissem inverter os dados referidos. Assim e à semelhança de outras aldeias das «Terras de Barroso», foi Gralhas contemplada, com uma Carta de Foral, datada de 20-09-1310, a qual era dirigida aos moradores que se haviam mantido na povoação. Na dita Carta, se estabelecia uma nova divisão dos

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Gralhas Minha Terra Minha Gente terrenos, para serem entregues aos povoadores, cada um dos quais, ficaria obrigado a pagar 1 maravedi de foro. Se para a divisão efectuada, não houvesse os necessários povoadores, cada um poderia adquirir mais de um terreno, pagando 1 maravedi, por cada unidade a mais que possuísse. O periodo mínimo de aforamento era de 3 anos e ao fim deste tempo, o foreiro poderia continuar na posse das terras, aliená-las, dá-las ou vendê-las, mas sempre com a condição, de que o novo possuidor, pagasse o respectivo «imposto». Nos casos de venda, alienação ou doação das terras, os agricultores, só seriam obrigados a entregá-las aos novos proprietários, depois de efectuadas as colheitas, pagando-lhes no entanto as rendas, que os «homens bons» da povoação, julgassem ser justas A partir daqui e tendo em conta o número de forais ou cartas reais de foro, referentes à região do Alto- Barroso, poder-se-à concluir, que como consequência das medidas levadas a cabo, pelo rei D. Dinis, ali tenha ocorrido um significativo desenvolvimento agricola. Os forais falam frequentemente em «casais» (bens), que se desdobram em dois, três ou mais, e terras incultas, transformadas em propriedades produtivas. A multiplicação de terras cultivadas, aumentando a rentabilidade agricola para as populações foreiras, constituía assim, apreciável fonte de receita para os Alcaides, que na ausência de moeda, viam muitas vezes os seus tributos serem pagos em géneros. Gralhas não foi excepção à regra.

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Domingos Vaz Chaves No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já, vinte e três das actuais trinta e cinco freguesias do concelho de Montalegre, entre as quais Gralhas. No âmbito eclesiástico, como no administrativo, estava esta região perfeitamente organizada. Os rendimentos dos povoados no século XIV, comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a outras, se deu precisamente o inverso. A título de exemplo veja-se o caso de Montalegre :Apesar de administrativa e militarmente ser «Cabeça da Terra de Barroso», no aspecto económico, era inferior a Mourilhe, Viade, Salto, Cervos e Mosteiro das Júnias, estando ao nível de Cabril, Cambeses e Ponteira. Neste âmbito, não se conhece qualquer referência à aldeia de Gralhas, sobre a qual aparecem novos dados, no reinado de D. João III, quando este monarca determina, através de carta datada de 17 de Julho de 1527 o recenseamento da freguesia. Tal recenseamento viria a ser feito três anos mais tarde, isto é, no ano de 1530, após nova insistência do rei, tendo estado a cargo, dos juízes de Montalegre, Pero Gil e João do Rego, dos tabeliães Lisuarte Gonçalves e Pero Álvares, do Alcaide João Pequeno e de 2 «homens bons» da aldeia, não identificados, os quais, antes de empreenderem tão importante tarefa, juraram aos Santos Evangelhos, que seriam diligentes e verdadeiros no desempenho daquela missão. O resultado do seu trabalho, cifrou-se no registo de 44 fogos.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Após este, há apenas registo de novo censo na freguesia, já em pleno século XIX, mais concretamente no ano de 1836, constando do mesmo, o registo de 66 fogos, neles habitando 162 homens e 148 mulheres.

Penedos do Larouco

GRALHAS, é hoje uma aldeia igual a tantas outras do interior. Embora com muito bons acessos, encontra-se marcada por uma forte depauperação económica e um quase abandono, das suas

actividades tradicionais de outrora, designadamente no que diz respeito à agricultura e à criação de gado bovino, a que apenas vão resistindo alguns «teimosos» da terra. O aglomerado populacional está concentrado e organizado em diversos arruamentos. Caracteriza-a ainda, o imponente relevo que a envolve. A paisagem à sua volta, merece especial atenção, em particular os imponentes picos rochosos, como o Castelo do Romão, o Cabreiro, o Caldeirão, as Barreiras Brancas, o Corisco, e

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Domingos Vaz Chaves mais a sul a não menos importante Serra da Lagoa, hoje recheada de caminhos pedonais, que em conjunto formam autênticas barreiras naturais.

IX – A TERRA E A GENTE Por cultura, entende-se o modo diferenciado de estar na vida, por parte de um determinado grupo de pessoas, num local e tempo próprio e traduz-se como é óbvio, nas influências que emanam, dos respectivos valores, normas e crenças, que caracteriza esse mesmo grupo. O «território» de Gralhas, está organizado numa pequena comunidade, onde prevalece uma economia de subsistência, fortemente baseada em valores, como o interesse colectivo a solidariedade e entreajuda, a propriedade individual, o trabalho, as relações familiares, a ética e a religião, a que se juntam, as reminiscências da cultura celta, nomeadamente no que diz respeito à defesa da família, da propriedade e do entendimento da aplicação da justiça. A pobreza do solo e a aspereza do clima não permitem uma cultura remuneradora dos cereais. Por outro lado, a abundância das precipitações explica a extensão de múltiplos pastos naturais (lameiros), que garantem o sustento do ainda numeroso gado, que teima em resistir, face às novas tecnologias. São as condições excepcionais do solo e do clima, que nesta área, fazem da região de Gralhas uma das mais propicias, para o desenvolvimento da pecuária. As pastagens ocupam os fundos e as vertentes dos vales, ou seja, as terras mais ricas, humedecidas pelas águas, que, conduzidas por um sistema de canais rudimentares escavados na terra, dão à

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Gralhas Minha Terra Minha Gente erva, uma frescura constante. Mesmo nos meses mais quentes de Verão, os lameiros, conservam um tom verde e tenro que não se encontra em muitas outras terras de Barroso.

Uma lobada (canal) de água

Actualmente, a percentagem média de cabeças de gado bovino por hectare (15 por cada 100 hectares), não é elevada, mas mesmo assim, dá uma ideia exacta, da importância que ainda tem, para os habitantes em permanência, da aldeia. A criação e manutenção do gado barrosão, muito em voga em tempos que já lá vão, dada a sua sobriedade e resistência, está de novo em fase de crescimento. As vacas, ao fim de dois ou três anos, servem hoje em dia e quase em exclusivo, para reprodução. Durante os meses de Verão, vagueiam em regime livre, pela serra, enquanto que no Inverno, são recolhidas e alimentadas nos lameiros próximos da aldeia, ou quando as condições atmosféricas assim o exigem nas cortes (currais) dos respectivos prprietários.

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Domingos Vaz Chaves Os lameiros irrigados de Gralhas, são um dos traços mais característicos da rude paisagem de planaltos, que envolve a aldeia. Separados quase sempre por biombos de carvalho e muros de pedras soltas, encontram-se em geral perto do povo, embora alguns se estendam até aos 2 ou 3 quilómetros de distância. Por estas paragens, não se conhecem as pastagens temporárias de semeadura, alternando com outras culturas. Deverá no entanto acrescentar-se, que a batata, os nabos e as sobras das culturas dos milhos, também servem para o sustento dos animais. Nos terrenos mais secos das encostas e dos planaltos, a vegetação pobre que aí se encontra, a custo pode servir para o sustento do gado bovino. Essas pastagens (que por aqui se apelida de monte) não servem, em regra, senão para as cabras e ovelhas, que ainda abundam nesta terra. A criação de gado caprino, encontra-se igualmente em fase de desenvolvimento e constitui importante fonte de receita, para os agricultores. Quanto às ovelhas, são de raça pequena ou meã e para além das crias, utilizadas para reprodução e venda, não dão, senão uma lã de fibra curta, grosseira e de má qualidade, que raramente é aproveitada. Em Gralhas, todas as vezeiras ou gádinhos (rebanhos) são comuns e guardados à vez, pelos agricultores, segundo o número de cabeças que cada um possui e da forma que mais adiante se explicará. Os seus habitantes, são normalmente, por questões hereditárias e por vocação, criadores de gado e agricultores, muito embora com o decorrer dos tempos, tenham ocorrido algumas excepções. O

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Gralhas Minha Terra Minha Gente centeio, de afolhamento bienal, foi o cultivo quase exclusivo e típico dos agricultores da terra. Actualmente está em decadência. O povo, conserva ainda, embora de forma crescentemente esbatida, uma estrutura social comunitária, como mais à frente se poderá igualmente constatar, através de alguns exemplos. X – AS CASAS Até há cerca de 40/50 anos atrás, regra geral, as casas dos lavradores estavam perfeitamente adaptadas às actividades agrícolas e pastoris. Sobre o mesmo tecto, abrigavam-se muitas vezes, animais e os produtos que a terra dava. O rés-do-chão era reservado para a loija (adega), cortes dos porcos, tudo paredes meias com a corte da rês (ovelhas) e côrtes do gado. Os estábulos davam normalmente para um pátio, e se o recinto fosse adequado, podia até servir de eira, com o palheiro a fechar o círculo. Noutros casos porém, a eira, o palheiro e as cortes de gado eram um conjunto independente e até distante da casa de habitação. A escada exterior em pedra levava à cozinha e a varanda corria toda a fachada, dando acesso ao sobrado de limpo e compartimentos para dormir.

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Telhado de colmo do sec. XIX

A par das casas dos lavradores existiam ainda e em determinadas situações, as casas dos cabaneiros (pessoas de poucas posses), estas muito mais modestas e apertadas, mas não raramente com mais família para abrigar. Nas casas, cabiam o lar, onde durante os meses frios era acesa a lareira, e à sua volta via-se normalmente, um escano, uma masseira, as camas, uma pequena mesa, uma toucinheira pendurada da trave, uma caixa de madeira de carvalho e vários molhos de lenha ao lado, que uma dúzia de galinhas usava como capoeira. A cobertura de colmo ajudava a conservar o calor noite dentro, o que era fundamental particularmente em noites de frio e neve.

XI – A FAUNA Quando se fala em fauna, tem obrigatoriamente de se falar da Serra do Larouco, dos montes e vales que a circundam e da própria Serra da Lagoa, situada na vertente sul da aldeia. Na realidade, devido ao relativo isolamento de parte importante da

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Gralhas Minha Terra Minha Gente sua superfície, sabe-se hoje, que por aí se mantiveram até muito mais tarde ou ainda persistem, algumas das espécies que mais nos atraem, como é o caso da águia-real, do lobo e até de alguns corços. Sabe-se também, que a cabra-brava, passou por aqui. A última referência referente à mesma, data de 1892, época em que frequentava, a vasta zona para além do Picoto (Marco Geodésico) ao longo da raia com a Galiza. Porém, o já referido isolamento, que caracteriza toda a zona serrana e a protecção acrescida que deriva da própria natureza do terreno, permitiu a permanência de toda uma variedade de animais, com especial referência para as aves, destacando-se por estas paragens, para além da águia-real, os milhafres, a águia-deasa-redonda, as corujas-do-mato, os mochos, os gaios, os melros, as pegas, as perdizes e tantas outras.

Texugo

Quanto a répteis, é comum ver-se por aqui a víbora-negra, a cobra-d'água, o liscranço e o lagarto.

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Domingos Vaz Chaves Na parte que diz respeito aos mamíferos, predominam ainda no Larouco, alguns lobos e corços, lontras, fuinhas, coelhos-bravos, texugos, lebres, e javalis com fartura. De entre as espécies referidas, existem algumas, que pela sua importância em termos estritamente conservacionistas - trata-se de espécies em perigo de extinção ou muito ameaçados -, pelas profundas relações que desde há muito mantêm com o quotidiano local e pelo modo como nós próprios as encaramos, merecem ser realçadas. Quantas histórias e quantas lendas se poderão contar, acerca do lobo, animal que desde logo se associa ao agreste da paisagem? Perseguido por todo lado e dado como extinto em grande parte do continente europeu, esta espécie, ainda vinga por estas paragens. Abatido como predador de gado, sobretudo ovino e caprino, sobrevivendo com dificuldade devido ao desaparecimento da caça maior, outra fonte importante da sua alimentação, e profundamente afectado pelas alterações ocorridas no seu habitat natural, o lobo é de facto uma espécie ameaçada.

Gado em regime livre nas Veigas

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

À fauna selvagem, há hoje também, que acrescentar uma espécie doméstica de elevado valor e que já faz parte da paisagem do Larouco: trata-se do gado barrosão, galego, penato, mirandês e ultimamente alentejano, que ali se encontra, designadamente durante os meses de verão, em regime livre.

Vitelo, nascido em plena serra

XII – A FLORA De natureza granítica e beneficiando de um clima agreste e húmido, as serras plenas de água, desde logo surpreendem pelo vigor e carácter da vegetação que as cobre. A Serra do Larouco, situada a norte da aldeia, forma gigantescos anfiteatros, destacando-se de entre os demais, o Caldeirão, o Castelo do Romão, o Corisco e as Barreiras Brancas. Estes cumes encontram-se muito escalvados, de tal forma, que acima dos 1400 m de altitude, subsistem apenas diversificados arbustos rasteiros, tais como, carquejas, sargaços, tojos, pequenas urzes e fetos.

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Fetos

Entre os 1400 e os 1200 m verifica-se já a existência de alguns carvalhos de pequeno porte, alguns vidoeiros, giestas, urzes e mato das mais diversas origens. Até aos 1200 m a arborização é já mais densa, apresentando exemplares de grande porte, espécies arbóreas como o carvalho, o castanheiro, o vidoeiro e o salgueiro, entre muitas outras. Muito mais diverso e menos arborizado, é o revestimento vegetal da Serra da Lagoa, a qual junto ao Rio de Meixedo, nos apresenta uma extensa área de matagal - urze, tojos, giestas, sargaços, carquejas, muitos jungos e um carácter árido, que demonstra a ausência de povoamento humano. Finalmente, não se pode esquecer que a flora do Larouco, alberga espécies botânicas do maior interesse e que são objecto de acesa discussão, nos vários congressos de medicina popular, organizados na região, com particular realce, para o realizado anualmente no mês de Setembro, em Vilar de Perdizes. Aí se recomendam para o «tratamento» de diversas doenças, os chás de Alecrim, para o combate à asma, falta de apetite, gota, amigdalites e obstrução nasal, de Barba de Milho, para as inflamações e infecções da

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Gralhas Minha Terra Minha Gente bexiga, da Flôr de Carqueja, para a tensão arterial alta, pedra nos rins, tosse, diabetes, rouquidão e bronquite, da Erva Cidreira, para os nervos, dores de cabeça e cólicas, do Fel da Terra, para os diabetes, das Folhas de Freixo, para o àcido úrico, colesterol, má circulação e reumatismo, da Flôr da Giesta-Branca, para os diabetes altos, ureia e Infecções da bexiga, das Malvas, para as inflamações da pele e mucosas, infecções e irritações de todo o tipo, da Tília, para o coração, sistema nervoso e insónias, da Flôr da Urze, para a próstata, bexiga e rins e da Uva-do-Monte, para o colesterol «sangue gordo», trigliceridos, diabetes e inflamação da bexiga, entre tantos outras. XIII - AS ACTIVIDADES E AS ESTAÇÕES DO ANO Quer em tempos que já lá vão, quer ainda nos nossos dias, chegada a Primavera, os lavradores, retiram os estercos (estrumes) das cortes e levam-no às leiras (terras) que pretendem semear. Uma vez retirado o esterco, é necessário refazer a «cama» do gado. Para tal, há então que cortar novo estrume (mato), o que normalmente é feito na serra, de modo a que as «camas» dos animais sejam repostas. Após se fazer a preparação da terra com várias lavouras, entre as quais, as chamadas decruada, aricada e o agradar das leiras, a semente da batata é então lançada nos regos e a terra lavrada em sulcos; isto nas leiras maiores e mais planas, porque nas mais pequenas e inclinadas o trabalho é feito manualmente à enxada. Até ao meio do século passado, feitas as sementeiras da Primavera, ranchos numerosos de aldeões, debandavam rumo à

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Domingos Vaz Chaves Galiza, para as «segadas», e deambulavam de terra em terra, até chegarem de novo à aldeia, no momento justo em que os centeios e fenos estavam prontos para a ceifa e o corte.. Durante este periodo de emigração sazonal, era costume as jovens raparigas, grangearem pequenas poupanças, para comprarem o seu primeiro fio de ouro, cordão ou até mesmo, o seu primeiro par de sapatos, que nos domingos ou dias de festa, substituíam as socas ou os socos, que durante a semana calçavam. Era normal nesta situação, pernoitarem num mesmo palheiro, 10, 20 ou mais pessoas, homens a um lado, mulheres a outro. Em pleno mês das segadas, os fenos eram cortados pela manhã fresca, pela força muscular dos segadores, cada qual empunhando a sua gadanha. Era um trabalho duro. Faziam-se carreiros de erva e também de suor, que corria em fio, pela face dos segadores. A sua alimentação era «cuidada», e para além das fatias de pão, embebidas em vinho com açúcar, comiam do melhor que a casa tinha. O feno era depois espalhado e virado para secar ao sol. Se o tempo estava de feição, em dois dias ficava pronto para ser engaçado e levado para os palheiros. Se sobrevinha a chuva era um prejuízo quase total. As ervas perdiam o seu valor alimentar e praticamente só ficavam as fibras sem valor nutricional. Em Gralhas, as segadas do centeio, eram também feitas com ranchos «de fora», isto é, a pagar, ou mais frequentemente, em resultado de uma entreajuda de vizinhos, com retribuições mútuas de dias de trabalho. Juntos os molhos em pequenas «medouchas» e atingido um certo nível de secagem, o centeio é

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Gralhas Minha Terra Minha Gente transportado para as eiras onde se ergue uma ou várias grandes medas. A eira é então preparada para a malhada. Recolhe se a «bosta» de vaca em grandes quantidades, é dissolvida em água e espalhada pelo terreiro. Depois de sêca faz o efeito de um «asfalto» acastanhado. Antes das máquinas de malhar esta tarefa era efectuada a malho e nas casas «ricas» chegava-se a prolongar a malhada, por mais de uma semana. Hoje as ceifeiras debulhadoras fazem todo o trabalho de modo rápido e eficaz, mas retiram também às aldeias os mais belos e intensos momentos de convívio e sentido de grupo. Depois de darem a volta à chave do palheiro e feitas as sementeiras de Outono, sobre os agricultores de Gralhas e às portas do Inverno, recaíam novas preocupações!... Havia que limpar então os regos dos lameiros, recompor as tornas e endireitar as paredes caídas dos terrenos. Entretanto as «matanças» aproximavam-se. O porco funcionava e funciona ainda, como um bem natural, que se vai transformando ao longo do ano. Nos dias anteriores à «matança», tudo é preparado ao milimetro!... Homens e mulheres necessárias, cordas, palha para queimar, matador, lavadeiras das tripas, cozinheiras, banco para assentar o porco, alguidar para o sangue e tudo o mais que seja necessário. Chegado o momento, vive-se então um reflexo profundo e antigo da festa da mesa e da repartição do produto do trabalho, que é garantia da sobrevivência da família, tal como desde os mais remotos tempos dos Castros. Assaduras, chouriças, chouriços, rojões, pás, presuntos, cabeças e queixadas, são um não mais

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Domingos Vaz Chaves acabar de iguarias, que vão fazer os prazeres da mesa, durante todo o ano, até à matança seguinte. Em casa, com largueza e com braços para trabalhar, não havendo doença ou desgraça, a vida segue feliz os seus dias. Quer no passado, quer ainda nos dias que correm, os agricultores de Gralhas, quase sempre se dedicavam a uma segunda profissão. Principalmente durante o Inverno, viravam pintores, pedreiros, carpinteiros - antigamente era necessário fazer novos sócos, novos carros das vacas, «botar eixes», fazer novos arados, novas grades, novos ladrais, novos engaços, «encabar enxadas», arromendar (remendar) as capas e as molhelhas e um não mais acabar de instrumentos - ferreiros, alfaiates, etc.. O sistema social e económico da freguesia, revelou um grande equilíbrio e consistência até ao aparecimento da cultura intensiva da batata e posteriormente ao abandono em massa da terra, a caminho das grandes cidades e da emigração. Em Gralhas, tal como em outras freguesias das redondezas, os «ricos» são todos parentes. Há exemplos, que são conhecidos, que nos mostram, que determinados casamentos eram quase como que «contratados» e levados a cabo, normalmente entre casas das mesmas posses. Nos finais do século XIX e início do século XX, acontecia mesmo, o filho mais velho casar em casa, e os irmãos tenderem a ficar solteiros para que esta não fosse dividida. Depois, aconteciam os desmandos «amorosos», que tinham como testemunho, os filhos nos braços de pastoras e filhas de cabaneiros, os quais, só muito raramente ou por serem forçados a tal, chegavam a ser reconhecidos pelo pai.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Até à segunda metade do século passado, nos dias dos casamentos, os convidados do noivos reuniam-se em separado nas casas dos respectivos pais. Comiam, bebiam e conviviam ao som do toque da concertina e da voz do cantador contratado para a boda, quando o houvesse. Na casa da noiva, os seus convidados, seguindo as tradições antigas, anunciavam os rituais dentro e fora da igreja, para a concretização do casamento. Quando ali chegasse o cantador, este, pedia ao pai da noiva, para abrir a porta e permitisse que a filha viesse ao encontro da sua nova existência. Após ser dada a permissão, seguiam todos em fila, vestindo do melhor que cada um tinha, ostentando as mulheres, os seus fios ou cordões de ouro, fazendo-se acompanhar das respectivas oferendas, rumo à igreja. Após a celebração, seguia-se o almoço, servido por cozinheiras especializadas e para o efeito convidadas, em grandes mesas rectangulares, por forma a que nada se dispersasse. Da parte da tarde, era a festa... beber dançar e cantar, eram os principais «pratos da sobremesa».

XIV-PATRIMÓNIO CULTURAL Organização Social e comunitarismo A organização social, o clima e a morfologia do solo, condicionaram claramente e desde sempre, as actividades rurais da população de Gralhas, que viveu durante anos, entregue às suas tradições mais antigas, algumas das quais perduraram até hoje. A base dessa organização, até meados do século XIX, assentou na «assembleia» dos representantes das várias famílias da povoação,

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Domingos Vaz Chaves que reúnia com uma certa periodicidade, junto à Capela de Santa Rufina, quando tal era necessário. Essa assembleia, chamava-se Junta, Acordo, ou Conselho e foi herdeira do antigo conventus publicus vicinorum (assembleia pública dos vizinhos) do reino visigótico. Era nessa «assembleia» que se analisavam até à exaustão, os problemas que a todos diziam respeito, e se decidia, por vontade expressa da maioria, as soluções a adoptar. A Junta era a mais perfeita expressão da Democracia Popular. Essa assembleia, foi dirigida até aos primeiros anos do século XX, por um «Juiz», «Zelador», «Juiz de Vintena», «Procurador», «Mardomo» ou «Chamador», e a partir daí, até meados dos anos setenta da mesma era, pelo Regedor ou Presidente, o primeiro escolhido pelo povo da aldeia e o segundo pelas corporações concelhias, afectas ao regimo tatalitário da II República. Os Regedores nomeados, eram pessoas respeitadas da aldeia e totalmente independentes das autoridades administrativas oficiais e quando da escolha, tinham a obrigatoriedade de permanecer no cargo, por um periodo minimo de 6 meses. Não eram remunerados, nem tinham qualquer tipo de previlégios pelo seu desempenho. O último Regedor da freguesia, foi António Fernandes Chaves, mais conhecido pelo «Pistão». A estes homens, competia convocar a «assembleia», o que era feito normalmente, através do toque do sino da Capela (Santa Rufina), e verificar as presenças e as ausências, dos cabeças-decasal. Aquele que sem justificação, não estivesse presente, era

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Gralhas Minha Terra Minha Gente como que «excomungado» pela população, já que a todos era exigida a presença, fosse para o bom ou o mau. Após a verificação das presenças, apresentavam-se então os assuntos a tratar. Todos em conjunto, ou individualmente. Eram calorosamente discutidos, chegando-se sempre a uma solução prática, de acordo com a vontade expressa da maioria. Em caso de empate, cabia ao «Juiz» tomar a decisão. Eram muitos e variados os assuntos que se apresentavam à «assembleia» e esta tinha obrigatoriamente de encontrar soluções, para cada caso concreto, designadamente, no que dizia respeito à reparação e abertura de caminhos, organização da vida pastoril, distribuição das águas de rega, locais de roça, limpeza das igrejas e das poças, carretos para o povo e tantos outros trabalhos necessários à comunidade. Esta tipo de organização durou séculos e passou de geração em geração através dos usos e costumes da terra. A partir dos finais da década de setenta, do século passado, este tipo de organização social, foi substituída por uma espécie de «Conselho Dominical», cujos moldes de funcionamento eram muito semelhantes, senão vejamos: No final das missas de domingo, era recomendado a todos os aldeões presentes nas mesmas, de que deverim «esperar» (aguardar), normalmente no largo fronteiriço à igreja e às cortes do boi, onde teria lugar uma «reunião», para decidir sobre determinado assunto. Estas reuniões, eram «presididas» pelo Presidente ou Secretário da Junta, a quem competia colocar as questões em discussão e avaliar as respectivas votações. À semelhança do que acontecia no

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Domingos Vaz Chaves passado, nada ficava escrito e o registo das decisões tomadas, ficava no subconsciente de cada um, que as acatava. Actualmente, este método caíu quase em desuso. O Conselho Dominical, poucas vezes vai a votos e foi substituído pela moderna Assembleia de Freguesia. A coberto de tal modernidade e amiudadas vezes, os senhores Presidentes cedem à tentação fácil de decidir, sem ouvir o povo e de o informar, preferindo afixar papéis em determinados locais, que poucos se dão ao trabalho de ler.

XV – A DECADÊNCIA COMUNITÁRIA As «segadas», as «malhadas», os «carretos», as «vezeiras», os «motes», o cantar dos «reis», as «chegas de bois», entre outros, são exemplos de misturas exóticas entre o religioso e o pagão, que evocaram no passado os deuses, em favor de colheitas fartas e que é preciso não deixar esquecer. O comunitarismo tradicional, resultou assim, da necessidade de conjugar esforços, para mais facilmente se atingirem os fins desejados. E não apenas em termos laborais, ou de preparação de festas. O povo de Gralhas, impunha igualmente as suas regras, através do seu «Conselho Dominical», reunido aos domingos após a respectiva Eucaristia. Aí, onde eram transmitidas as «ordes» (ordens), aprovavam-se posturas, para garantir o respeito pelos bens e direitos comuns e pela propriedade privada, para permitir ou não, a seiva dos gados nos terrenos abertos que estavam de restolho, para arrendar os baldios, as côrtes e os palheiros, para

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Gralhas Minha Terra Minha Gente impôr a realização de determinados trabalhos, para restaurar, limpar e pôr em funcionamento as infra-estruturas para uso da comunidade, designadamente, caminhos, represas, forno do povo, moinhos, lama-do-boi, igreja, cemitério, poças e regos-da-água entre outras.

O Forno Comunitário de Gralhas, tal como se apresentava em meados do século passado

Toda a gente era solidária. Com a mesma facilidade, com que cumpriam as regras, pediam e emprestavam o fermento, o pão, a ferramenta, o burro ou a junta de vacas. Pediam e davam apoio na «segada», na «carrada», no «meter do feno», na «arranca da batata», na «matança do porco» ou na feitura do fumeiro; socorriam os vizinhos na hora da «desgraça», do incêncio, da inundação, das geadas que tudo queimavam e da doença de pessoas e animais, ao mesmo tempo, que com eles choravam, nos momentos de luto e de desastre. Hoje, as novas técnicas simplificaram a satisfação das necessidades de cada agregado familiar e por isso, a necessidade de entreajuda e de partilha de recursos, foi-se diluindo progressivamente. Praticamente, tudo é feito de forma mecanizada e comercializada, e o comunitarismo, apenas resiste

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Domingos Vaz Chaves em pequenas franjas da população da aldeia, muito embora muitos dos «rituais», se mantenham vivos.

Abrindo o porco, após a matança

Nos dias que correm, a desertificação da aldeia é um dado adquirido. Nada foi feito, para inverter esta tendência e as familias, que aí se mantêm e que persistem na sua labuta, são normalmente auto-suficientes. - OS MOTES, OS MESES DE INVERNO E DE INFERNO Como já foi referido, em finais do mês de Dezembro ou princípios de Janeiro, já em pleno e rigoroso Inverno, que por estas paragens, é ainda hoje conhecido e de que maneira pela sua longa «duração», tinha lugar a primeira sementeira da época agrícola

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

Dia de Inverno

que se avizinhava: a sementeira do centeio. Era um corropio de carros atrelados às juntas de vacas, chiando rua abaixo, rua acima, num corropio, cujo lema final era o transporte do esterco (estrume dos currais do gado), para as leiras (terrenos), que depois de podre e bem curtido, servia para adubar as respectivas terras. Daí até à proxima etapa – a segada -, era tudo uma questão de paciência e fé em Deus. Por um lado, porque desde que as sementes eram lançadas a terra, até ao momento de colher os frutos, «nada mais» era necessário fazer, pelo outro, porque se rezava aos Santos, para que o as neves ou as geadas, muito comuns por estas bandas, não fossem tão abundantes, que viessem pôr em causa o sustento de muitas familias.

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Domingos Vaz Chaves - OS MOTES Neste periodo de maior lazer, em parte provocado pelo frio, pelas chuvas e pelas neves, era então chegado o Entrudo, época de Caretos e de Motes, que a juventude muito apreciava.Mas se os primeiros não constituem qualquer novidade, o que eram efectivamente os Motes?... De que tratavam?... Os Motes, eram quadras de louvor, escárnio ou maldizer, de origem pagã, nascidas nos alvores da nacionalidade, e um tipo de poesia, galaico-portuguesa, que constituíu sem qualquer dúvida, um dos fenómenos culturais mais ricos da Idade Média e se prolongou na aldeia de Gralhas, até aos finais dos anos sessenta do passado século. Eram enfim, um momento único de louvor ou de critica aos aldeões, tendo sempre como pano de fundo, a satirização da sua conduta, das boas ou das más acções praticadas, durante o ano que os antecediam. Os textos das quadras, que poderão eventualmente ser chamados de intervenção, eram lidos por dois «trovadores» previamente escolhidos pela juventude da aldeia, que em conjunto com os anotadores (autores), entre os quais se destacam o João Alves e o Lino Lourenço, as escreviam antecipadamente e em total segredo, durante os serões das longas noites do inverno, de modo a que no momento certo, constituíssem autêntica novidade. O texto no seu todo, contemplava, uma a uma, todas as familias da aldeia, e em geral, cada duas ou três quadras, eram dirigidas em exclusivo e em forma de louvor ou critica, a determinada familia ou membro da mesma. O amor, a vaidade, a ganância, a inveja, a falta de solidariedade, a critica pessoal, as «casamenteiras» e os

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Gralhas Minha Terra Minha Gente «compadres», aliados à veia cómica, lirica ou satírica estavam sempre presentes. Por vezes, determinadas criticas, não eram muito do agrado de quem as ouvia, designadamente, quando as mesmas lhe «batiam à porta», ou mesmo, quando através da sua leitura, se punham a descoberto, «amores proibidos», «negócios fraudulentos», «comportamentos hereges», «falta de dignidade e honradez» ou se ridicularizavam os comportamentos menos abonatórios das pessoas visadas. Mas como é que tudo isto funcionava: No dia aprazado para a leitura dos ditos Motes e ao toque do sino da Capela (de Santa Rufina), o povo juntava-se no largo hoje apelidado de Cruzeiro. Um dos trovadores, subia para a varanda do Zé Rato, segurando o seu caderno de leitura e o melhor galo da freguesia, devidamente decorado com todo o tipo de adornos, e que para o efeito, era oferecido ou comprado. Para a varanda fronteiriça, subia o segundo trovador, munido tal como o primeiro, do seu caderno, onde previamente haviam sido escritas as quadras, que iriam fazer as delicias dos presentes, tanto mais que cada lavrador, suas mulheres, filhos, filhas, namorados, namoradas, velhos, velhas e até os solteirões e solteironas da terra, não escapavam à ridicularização. Uma vez instalados e em jeito de leitura feita ao desafio, os trovadores, só interrompidos pelas palmas dos presentes, faziam a apologia do galo. Realçavam as sua cores, o seu tamanho, o tamanho da sua crista e dos seus «tomates», a sua elegância e altivez, o modo como cantava, tudo isto intercalado com

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Domingos Vaz Chaves comparações satiricas, a determinadas pessoas presentes na concentração. Aqueles que não resistiam, abandonavam o local a resmungar, em sinal de protesto, mas tudo isto fazia parte da «festa»... Após atingidos os primeiros objectivos, o galo era então simbolicamente morto e esquartejado. Logo após, procedia-se à distribuição de todas as componentes do seu corpo!... Sempre de forma simbólica, aos aldeões alvos de maiores criticas, eram atribuídas as penas. A outros, cuja conduta não era tão censurável, saía~m-lhe em sorte as patas ou a cabeça. Para outros, dado o seu melhor relacionamento e disponibilidade, ficavam reservadas, as asas ou o pescoço e para os aldeões exemplares, para aqueles que mais contribuíam para a boa harmonia e para o progresso da terra e respectiva população, ficavam as cochas e o peito, que eram as partes mais apreciadas. No final da sessão, surgiam os comentários de concordância ou discordância, com o desfolhar das criticas. Discutia-se, a «qualidade» dos Motes, se tinham sido bons ou maus, se tinham sido melhores ou piores que os do ano anterior!... Discutia-se o «ataque» que fora feito ao fulano A, quando quem tinha a ver com o assunto, era o B. Discutia-se a inoportunidade de desvendar determinado segredo, quando outros, deviam vir para a praça pública, enfim... todo um rol de questões, que eram tema de conversa, nos três ou quatro dias que se seguiam. Quanto ao galo, agora sim... via chegada a sua hora, de fazer as delicias de quantos tinham contribuído para a festa. Anotadores e

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Gralhas Minha Terra Minha Gente trovadores, reúniam-se em casa de um deles e após a respectiva «janta», comemoravam pela noite dentro... NOTA:A este propósito consultar apêndice final.

-TRÊS MESES DE INFERNO Após as comemorações natalícias, por estas bandas carregadas de significado, a passagem do Carnaval, a época da Quaresma e da Páscoa, cuja efeméride e tudo quanta a envolvia, era igualmente muito respeitada, aproximava-se a grande labuta... Labuta essa, que tinha inicio em finais do mês de Junho e se prolongava até aos últimos dias de Setembro, motivo pelo qual, muitos apelidavam este periodo, de «três meses de inferno», assim conhecido, pela abundância de trabalho, que havia nesse espaço de tempo.

Carregando carros de feno

Era o corte do feno nos lameiros, o seu transporte para os palheiros, a segada, a malhada, a arranca da batata, entre outros

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Domingos Vaz Chaves que amiudades vezes íam surgindo e que era necessário ultrapassar. - AS SEGADAS A «segada», era um dos ditos trabalhos, que marcava particular relevo na mente dos meus conterrâneos. Como todos os outros, era tudo feito manualmente, o que obrigava, a que fosse preparada e anunciada quase ao milimetro e com a devida antecedência. Os convidados, constituídos normalmente por familiares e amigos próximos, precaviam-se com gadanhos (foices) novos, que adquiriam normalmente em Espanha e apresentavam como autênticos troféus. Face ao previsível número de «pousadas (número de molhos) a colher», era necessário calcular o número de pessoas necessárias, de entre seitoiras (segadores) e atadores, para que tudo decorresse, entre um, dois ou o máximo, três dias, tanto mais que havia outros vizinhos em «fila» de espera. Chegado o dia, era um «ver se te avias»!... Desde o nascer ao pôr do sol, apenas com interrupções para o mata-bicho (pequenoalmoço) e jantar (almoço), os quais tinham lugar em determinada leira (terreno) previamente definida, os segadores, percorrendo fazenda a fazenda, erradiavam uma alegria constante!... Faziam-se «apostas», discutia-se o número de regos (sulcos) que cada um segava, quem era o melhor segador, quem atava melhor, «arranjavam-se» namoricos e no final, o momento esperado:

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

Dois atadores dialogando numa leira

o recolher dos molhos para a roda (circulo) - feita normalmente no meio da fazenda -, onde ficavam sobrepostos uns sobre os outros, com as espigas de fora e ao sol, para uma melhor maturação e a feitura do ramo (arranjo feito em cruz) da segada, que depois era transportado por um dos segadores, que em conjunto com todos os demais, entoavam cânticos, até à porta do «patrão», a quem o entregavam para exposição pública (normalmente feita nas varandas das habitações) e protecção divina. Como agradecimento pelos cânticos e pelo terminar do trabalho, era então dado de beber (vinho) aos segadores, através de um pipo (barril em miniatura), que circulava de boca em boca.

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Domingos Vaz Chaves Seguia-se a ceia (jantar), que normalmente se prolongava até altas horas!... Aí esgrima-se de tudo um pouco... Se a leira «A», dera muito pão (centeio) ou pouco; se a leira «B», tinha dado mais pousadas ou menos, que o ano passado; se determinada leira do fulano «A», é melhor que a do fulano «B», enfim... todo um corropio de assuntos, cujo pano de fundo, era sempre o mesmo... a competição entre lavradores. Finalmente e após mais alguns «copos» para retemperar as energias, era chegada a hora da deita... É que no dia seguinte, repetindo-se o figurino, o «patrão» dava em «empregado»... e havia que levantar cedo.

- A CARRADA O passo seguinte nesta desenfreada labuta, dava pelo nome de «Carrada» e consistia no transporte do centeio, segado nos diversos terrenos, para as eiras, que eram propriedade de determinado grupo de pessoas, sendo aí depositado em enormes medas, que chegavam em muitos casos a atingir, os quinze metros de altura, por outros tantos de diâmetro. Todo esse transporte, era efectuado em carros puxados por vacas ou bois e tal como na «segada», também a «carrada», obedecia a certos rituais. Os cornos do gado, eram lavados a preceito, o seu pêlo tratado como nunca, as campaínhas para o enfeitar, tinham que ser sempre as melhores da casa, isto para já não falar, dos melhores jugos, das melhores molhelhas (cangas) e dos melhores estadulhos, que nesta altura, saíam das «loijas» (adegas) e substituíam os de uso corrente. Durante a carrada, a jugada (junta de vacas ou bois) de cada lavrador, era sempre

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Gralhas Minha Terra Minha Gente apresentada, numa atmosfera de competição. Era preciso dar o «risco» (ser o melhor). - AS MALHADAS Até meados do século XX e tal como na sega do feno, do centeio, nas carradas ou nas malhadas, tudo era feito manualmente. Neste caso concreto, eram necessários para malhar, pelo menos oito homens, quatro de cada lado e cada qual utilizando o seu malho (mangualde). Depois do centeio malhado, era levantada a palha com uma forquilha e atada em molhos, que posteriormente eram guardados nos palheiros. O centeio que ficava no chão, era tirado pelas mulheres, com uma vassoura, normalmente feita com ramos de giesta, até ficar limpo. Além disso, era ainda ajoeirado ao vento e só depois transportado em sacos, para as caixas (arcas). Não se pense contudo, que este era um trabalho fácil!... Apesar de não parecer, era tão árduo como a própria sega do feno, ou a segada do centeio. É que antes da malhada propriamente dita, havia todo um conjunto de afazeres, que não sendo fáceis eram de todo em todo bastante desagradáveis, senão vejamos: A eira, era devidamente varrida, e mais que uma vez. Posteriormente, era recolhida na aldeia e zonas limitrofes, bosta (fezes) do gado, com a qual era barrado o recinto, até agarrar bem. Esperava-se que a

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Domingos Vaz Chaves dita bosta secasse, e só então, estavam reunidos os requisitos necessários, para dar inicio à malhada propriamente dita. A partir dos anos 60, do mesmo século XX, este método foi-se alterando progressivamente e as malhadas, apesar de continuarem a fazer-se nas eiras, tal como no passado, eram já feitas, com o auxilio de «malhadeiras» (máquinas), que com o decorrer do tempo, se foram tornando mais sofisticadas.

XVI – EXEMPLOS QUE RESISTEM - A VEZEIRA OU GÁDINHO Todas as manhãs e em regra, a um sinal dado através do toque de um sino, cada proprietário, tem a preocupação, de fazer sair dos seus currais (côrtes) os seus animais e juntá-los aos demais, para que em conjunto e normalmente guiados por um ou dois pastores, subam as encostas da serra, na procura da sua subsistência. A todo esse conjunto de cabeças de gado, se dá o nome de Vezeira ou Gadinho e é um dos exemplos vivos de vida comunitária, que nesta aldeia vai perdurando no tempo. Os pastores, são os próprios proprietários dos animais, que se revezam na sua guarda. A regra é simples: por cada 10 animais ou menos, que possuam, terão de dar um dia de trabalho à comunidade. Se o número de animais ultrapassar a casa das dezenas em 5 ou mais, até aos 9, a esse dia ou dias de trabalho, é acrescentado mais meio dia, o qual é normalmente prestado, quando a soma dos meios dias, perfizer 1.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

Pastora guardando o Gádinho nas fraldas do Laroucol

- AS CHEGAS OU LIADAS As «Chegas» ou «Liadas» de bois, são uma antiga tradição das terras de Barroso e em particular da aldeia de Gralhas, por onde passaram muitos campeões e onde nos dias de hoje, pese embora as mudanças ocorridas, são ainda levadas muito a sério.

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Domingos Vaz Chaves

Dois «portugueses» barrosões em plena luta

Num passado não muito distante, cada «Chega», era um dia de festa, ou de tremenda amargura e tristeza, para os habitantes da aldeia. O principal protagonista, era sempre o «boi do povo». O «boi do povo» era um bem comunal e alimentava-se normalmente nas lamas (pastos), que pertencem ainda hoje a toda a comunidade. Cerca de meio ano, antes da participar em qualquer duelo, recebia ainda, feno, centeio, batatas, nabos, beterrabes e todo um conjunto de géneros, que eram oferecidos por todos os aldeões, para complemento da sua alimentação e respectiva engorda. Pernoitava numa casa (corte), que fazia parte igualmente, do património de todos. Anualmente e por uns tantos alqueires de centeio, um pastor «arrematava» a guarda e o tratamento do animal, de quem passaria a cuidar. Quando o animal chegava à idade adulta (cinco

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Gralhas Minha Terra Minha Gente ou seis anos) tornava-se no orgulho da aldeia, sendo por isso, motivo de acesas discussões entre os habitantes de povoações vizinhas, com cada um a defender a maior pujança do seu animal. Estas discussões, terminavam irremediavelmente numa luta entre os animais - as chamadas «Chegas» ou «Liadas» - que visavam distinguir o campeão. Por vezes, fazia-se alguma batota!... Como funcionava? Antes da «Chega» aprazada, promovia-se um confronto preliminar entre os dois contendores, feito sempre às escondidas e normalmente em noites de luar. Para que isso acontecesse, o «boi do povo» de uma aldeia, era raptado, uma tarefa nem sempre fácil, quer pelos cuidados que cada pastor e a respectiva comunidade colocava na sua guarda, quer pela bravura do próprio animal, que geralmente se tornava agressivo face a desconhecidos, quer ainda, porque perante uma situação desse tipo e caso o raptor ou raptores fossem detectados, se sujeitavam a ser severamente maltratados, ou mesmo mortos, já que era colocada em causa, a honra e a dignidade dos intervenientes. Há mesmo exemplos, cujas marcas deixadas, são profundas. Em alguns casos porém, havia a conivência entre os tratadores das duas aldeias, que decidiam confrontar os animais para atestarem se estavam prontos para poderem realizar a «Chega» pública, de forma a que esta não resultasse num fiasco. Caso o resultado fosse positivo, estavam então reunidas as condições para a realização do confronto, o qual devia ser acordado seguindo um certo ritual: os «rapazes» - mais maduros e badolas -

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Domingos Vaz Chaves de uma aldeia dirigiam-se, geralmente ao domingo, à aldeia que pretendiam desafiar. As regras do jogo exigiam que o desafio não fosse directo. Os visitantes deviam referir, de uma forma evasiva à juventude visitada, a possibilidade da «Chega», ao que os estes deveriam responder da mesma forma, mesmo que o seu «boi do povo» fosse o campeão coroado em outros confrontos. O passo seguinte dependia da aldeia desafiada, tanto mais, que a decisão a tomar, fazia parte da tradição comunitária, o que significa, que dependia da realização de um escrutínio, normalmente feito de braço no ar, no domingo seguinte, à saída da missa e após a comunicação do desafio, feita pelo Presidente da Junta. Neste escrutinio, era sempre exigida uma maioria absoluta, caso contrário, gorava-se a hipótese da realização da «Chega». Se o desafio fosse aceite, os responsáveis das duas aldeias, iniciavam então os planos para a realização da festa, que devia acontecer em data aprazada, passado que fosse um periodo, que oscilava entre os quatro e os seis meses e a meio caminho entre as duas povoações. A escolha do terreno, era também motivo de discussão, já que apesar da «Chega» ter obrigatoriamente de se realizar em terreno neutro, o tipo de piso era muito importante para o desenrolar do confronto. As técnicas eram as seguintes: Os proprietários de um animal jovem, tentavam que a escolha recaísse sobre um piso duro, enquanto que os donos de um animal mais velho tentavam assegurar um piso mole, menos desgastante

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Gralhas Minha Terra Minha Gente para o seu boi, que geralmente era mais pesado. O meio termo, acabava quase sempre por prevalecer. Outro dos assuntos a negociar, prendia-se com os cornos do boi!... Havia que se decidir, se as suas pontas se afiavam ou não, se podiam ser introduzidas pontas de aço, ou até o enxerto de pontas de cornos, quando o animal estava mal servido delas. Posteriormente e após a «celebração do acordo» ocorriam ainda muitos outros rituais, tais como rezas, superstições, saberes ocultos e mezinhas, que poderiam contribuir para um desfecho favorável. Até as mulheres levantavam saias e saiotes vermelhos, para incitar o boi. Definido então o local da «Chega» e as condições em que a mesma iria decorrer, era então necessário, tratar da respectiva autorização junto das autoridades concelhias, bem como da presença de alguns Guardas no local da contenda, como forma de prevenir potenciais desacatos, o que nem sempre era conseguido, face à emoção gerada em torno de cada um dos animais. Quanto às despesas, que daí resultavam, eram normalmente suportadas, em partes iguais, pelas partes envolvidas. Chegado então o dia aprazado, os dois bois, são conduzidos ao local do «combate», pelos seus tratadores munidos de varapaus, onde são colocados frente a frente. Invariavelmente, o campo de «batalha» está a abarrotar de gente, quer se trate de pessoas oriundas das aldeias dos bois em presença, quer de curiosos de outros lugares das cercanias, que vibrando com acontecientos deste tipo, acorrem ao chamamento de uma festa ímpar na região e que toca no subconsciente de homens, mulheres, jovens e menos jovens.

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Domingos Vaz Chaves Uma vez na presença um do outro, os animais «medem-se», sob o olhar atento do público presente, que de imediato toma partido, apoiando o seu favorito. Este é o momento em que se destacam os incitamentos das duas comunidades em confronto, que se revêem nos seus «bois do povo». Os dois possantes machos rapidamente se enfrentam. Segue-se uma luta indescritível de jogos de cornos e marradas, corpos a vibrar até ao extremo, luta sangrenta de carreiros de sangue na disputa, que vai marcar a distinção entre vencido e vencedor. Por alguns momentos descansam, voltam a investir, afastam-se, voltam a lutar, entrelaçam de novo os seus cornos uns nos outros e empurram-se mutuamente e com violência, mostrando cada qual a sua força e a sua bravura. A «Chega» pode ser rápida ou prolongada, dependendo essencialmente do gabarito dos contendores. Em qualquer dos casos, o entusiasmo dos assistentes é indiscritível. O seu final pode acontecer quando um dos bois abandona o «combate» fugindo em debandada, o que significa o assumir da derrota, ou quando um dos animais é irreversivelmente ferido pelas investidas do seu opositor. Para os habitantes da aldeia vencedora, os momentos que se seguem são de euforia, quase de glória. O seu boi passa a ser quase venerado. O vencido segue em silêncio, a caminho do talho. Dos tratadores e de quem os acompanha ouvem-se, por vezes, vozes roucas a desabafar, numa raiva incontida: «o boi perdeu, os homens ...veremos». As cenas de violência nem sempre são evitadas, mas felizmente são cada vez mais raras.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Esta tradição, já não é hoje o que era dantes. Apesar dos habitantes destas Terras do Barroso, continuarem a vibrar e a manifestar grande entusiasmo com as «Chegas», o boi do povo, já não existe mais e aquilo que resta, são as «Liadas», comercializadas a troco de alguns euros, levadas a efeito por alguns proprietários individualmente considerados, que fazem desta actividade, o seu «ganha-pão». Dos tempos de outrora, resta a nostalgia.

XVI - PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO - FONTE FRIA

Fonte Fria

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Domingos Vaz Chaves Desconhece-se a época da sua construção, embora haja indicadores, que apontam os meados do século XVIII, como data previsível. Nela brota, uma das melhores águas da aldeia, tendo a particularidade de ser gelada em pleno verão e mais macia, durante os rigorosos invernos, que por aqui marcam presença.

- IGREJA PAROQUIAL

A Igreja com o seu magnifíco Torrião

Desconhece-se o ano da sua construção, sabendo-se apenas que é anterior ao século XVI. E sabe-se que é anterior ao

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Gralhas Minha Terra Minha Gente século XVI, dado existir na Biblioteca Pública de Braga, uma «Relação de todas as Igrejas do Arcebispado e seus Padroeiros», onde consta, para além de outras 26 igrejas da região de Barroso, a «Igreja de colação do Arcebispo de Santa Maria de Gralhas». Embora tratando-se de um documento sem data, pela caligrafia e ortografia, verifica-se ter sido manuscrito, no início do século XVI, razão pela qual, a Igreja terá sido construída no antecedente. A esta aldeia e à sua Igreja, se refere também o respectivo Vigário, Francisco Affonso dos Santos, que sob o testemunho do Vigário de Santo André de Vilar de Perdizes, Agostinho Alvares e do Reitor de São Miguel de Vilar de Perdizes, Miguel do Couto de Oliveira, quando em 20 de Março de 1758 e em resposta a uma ordem emanada do Muto Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral, para que lhe desse conta do que havia nesta freguesia, lhe respondeu o seguinte: 1-Esta freguezia de Santa Maria de Gralhas está sita na província de Trás dos Montes no Arcebispo de Braga Primaz, da comarca de Chaves, eclesiástica e do secular de Bragança e o hé do termo da vila de Monteallegre.Hé freguezia matriz. 2-Hé beneficio simples, anexo a hua tercenaria na Santa Sé Primaz.Hé toda de Roma e do ordinário conforme ao mês da sua bacatura.O beneficiado que existe hé José da Silva Duarte. (...) 6-A paróchia está dentro do lugar no meio da povoaçam (parte) do Nacente e nam tem mais lugares.

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Domingos Vaz Chaves 7-Seu orago hé Nossa Senhora dÀssumpssam.Tem três altares hum principal e dois colaterais, o principal tem o Santíssimo no sacrário e Santo António e o Santo Nome de Jezus e o colateral da parte direita tem Nossa Senhora dÀssumpssam e o da parte esquerda tem Nossa Senhora do Rozário.Nam tem naves, nam tem irmandades. 8-O párocho hé vigário ad nutum aprezentado pelo beneficiado deste beneficio.Terá de renda cem mil réis pouco mais ou menos hum anno por outro. É uma das mais belas igrejas da região.

- CRUZ DOS CAMPOS E POÇO DA LUÍSA

Vista Geral do Campo e da Trincheira

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Originariamente, a cruz que se vê na foto, não se encontrava no interior do poço (tanque). Encontrava-se isso sim, no cimo de um morro ali existente e era um Monumento de Fé Cristã, de saudação e homenagem aos mortos e às «Almas», sendo formado por quatro partes distintas: a)-Uma plataforma com 2 degraus de acesso; b)-Uma base assente na plataforma, servindo de apoio à coluna; c)-Uma coluna na vertical, com alguns remates decorativos, entre os quais se notam, um cálice, uma hóstia e uma escada com dez degraus, representando os Dez Mandamentos; d)-E uma coluna na horizontal. Mas esse local, não serviu apenas para os fins acima referidos. Porque violavam a lei de Deus e dos homens, durante séculos, os malfeitores da aldeia, foram ali castigados e expostos ao sarcasmo e à irrisão pública da povo. Os açoutes, as mutilações e outros castigos infligidos aos transgressores da lei e aos perturbadores da ordem, visavam a defesa comum dos aldeões e contribuíam de um modo eficaz para o saneamento moral dos habitantes. Quanto ao Poço da Luisa, o seu lugar original, era junto à chamada casa do «Americano», isto é, cerca de 40 metros para sul do local onde hoje se situa. Foi construído no tempo do Estado Novo, mais

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Domingos Vaz Chaves precisamente no ano de 1945 e nada tem a ver com a Cruz colocada há cerca de duas dezenas de anos no seu interior.

-

CASA DO SEMINÁRIO

Pátio Interior

«(...) Por todos estes motivos, que têm sido longamente e seriamente ponderados e amadurecidos no nosso espírito, pomos termo, ao findar do ano lectivo corrente, ao pequeno seminário de Gralhas (...)». Foi com estas palavras, que D. João Evangelista de Lima Vidal, o primeiro Bispo da Diocese, decretou, em 28 de Fevereiro de 1925,

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Gralhas Minha Terra Minha Gente o encerramento do Seminário de Gralhas, extinguindo o legado do fundador do mesmo. O Seminário, que funcionou durante cinco anos, desde Janeiro de 1921, até ao fim do ano lectivo de 1925, resultara de uma doação feita pelo Padre João Álvares Fernandes de Moura, natural desta freguesia, onde nasceu em 09-07-1848 e senhor de grandes propriedades na terra. Apesar de aí não viver permanentemente, o Padre Moura, era um apaixonado da aldeia, a qual visitava com frequência, sendo inclusivé, um grande benemérito da igreja paroquial. Contam os mais antigos, que tudo o que de bom aparecesse em Braga, o Padre Moura logo adquiria para a Igreja da sua terra, que por isso mesmo, foi, até há pouco tempo, uma das mais ricas em paramentos, cálices e alfais. Pelo Seminário de Gralhas, passaram dezenas de alunos, os quais após o seu encerramento, partiram para Braga. Esta casa, serviu ainda como escola preparatória, para muitos outros jovens que se prepararam para a vida, incluindo os rapazes da terra, muitos dos quais, aprenderam ali a ler, escrever e contar. Passados que foram mais de 75 anos, em que a Casa do Seminário esteve transformada numa normalíssima casa de habitação agrícola, hoje, após uma fantástica recuperação, levada a cabo pelos actuais proprietários, é o ex-libris da aldeia, funcionando como Casa de Turismo Rural. QUEM FOI O PADRE MOURA? Para além de ter sido, o mais notável dos homens de que há memória em Gralhas, o Padre Moura foi uma das figuras marcantes de todo o Barroso, senão mesmo do país. Nasceu como já se disse, nesta freguesia, em 09-07-1848,

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Domingos Vaz Chaves onde fez a instrução primária em 1861. Cursou Português e Latim em 1862, Francês e Latinidade em 1863, Filosofia em 1864, Oratória em 1865, Geometria e Geografia em 1867. Estudou Teologia no Seminário Conciliar de Braga de 1868 a 1870. Em 1871 recebeu a ordenação sacerdotal. Começou a sua vida paroquial na sua própria aldeia no ano de 1876. DE 1878 a 1920 foi Procurador e Secretário do Seminário de Braga, tendo em 1921 regressado de novo à sua terra, onde veio a falecer em 22-09-1920, não sem antes deixar a marca da fundação do Seminário. Apesar da sua notabilidade e interesse pela terra, parece ter sido esquecido, como provam as recentes designações de topónimos da aldeia.

- CAPELA DE SANTA RUFINA

Capela engalanada para a festa

É um cartão de visita da aldeia. A sua construção remonta ao Sec. XVIII, tendo sido levada a cabo com dinheiros do Padre António

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Gonçalves Calado, natural da freguesia e senhor de grande fortuna. Este pároco, que durante muitos anos viveu no Rio de Janeiro, aplicou ainda parte dos seus bens, numa fundação do vínculo de Nossa Senhora de Belém, a qual tinha sede nesta mesma capela. Entre as obrigações inerentes a esta fundação, contavam-se a celebração de uma missa diária, a criação de uma escola primária e a manutenção do respectivo funcionamento. Durante muitos anos, quase foi votada ao esquecimento e actualmente após algumas obras de beneficiação, levadas a cabo por um benemérito da aldeia, começa a servir de capela mortuária. - RELÓGIO DE SOL

Exemplar localizado na Casa do Seminário

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Domingos Vaz Chaves A medição do tempo, constituíu desde muito cedo, um mecanismo de racionalização, das actividades humanas no quotidiano. Propósito, que esteve na origem dos primeiros relógios de sol, e ao que se sabe, a Idade Moderna já os conhecia. Sto. Agostinho, numa observação filosófica, dizia que o tempo não é outra coisa senão extensão. Partindo deste pressuposto, a vida só pode ter sentido se devidamente articulada com a continuidade do tempo. Os relógios de sol, foram então feitos, para facilitar a orientação e gestão das actividades pessoais e profissionais. Estas peças são fruto da arte escultórica do povo. Medir o tempo, era a sua principal função. A sua cambiante decorativa e figurativa, era minuciosamente trabalhada para constar nas fachadas principais das casas. É provável que só as famílias com algum poder económico tivessem direito a um relógio deste tipo, sinal de uma modesta ostentação. O relógio existente na Casa do Seminário de Gralhas, é um exemplo vivo dessa realidade, e apresenta uma configuração geométrica que data do século XIX, compreendendo uma espécie de mostrador de horas, motivos vegetalistas em baixo relevo e figuras peculiares, que conservam ainda laivos da sua policromia. O ponteiro era em metal (ferro) e estava cravado no centro do mostrador, donde uma série de linha rectas (incisões gravadas) divergiam em direcção ao limite (bordadura) do referido mostrador. A sombra provocada pelo ponteiro ia girando e indicando as horas, em consequência do movimento da terra.

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Gralhas Minha Terra Minha Gente

BIBLIOGRAFIA

A Arte e a Natureza em Portugal - Vol.VII, Revista de Divulgação. Adriano Vasco Rodrigues - Arquelogia da Pininsula Hispânica; Afonso do Paço - Carta Paleolítica de Portugal, in «Anais da

Academia de História, vol. IV, 1941. Agostinho Lacerda Pizarro - A Raça Barrosã; Alberto Sampaio - Vilas do Norte de Portugal Arquivo do Arcebispado de Braga - Registo Geral

Arquivo do Registo Civil de Montalegre Arquivo dos Serviços Florestais de Montalegre Arquivo Histórico Português - Vol. VII Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Cartas de Foral Aula Galicia; Biblioteca Nacional de Lisboa - Inquirições e Alçadas; Subsidios

para a Bibliografia Portuguesa;

da

História

Local

Chancelaria de D. Dinis - sobre cartas de foral, aforamentos, posturas de foro em Barroso, declaração de direitos, herdades, reguengos, honras e devassas ; Chancelaria de D. João III - Doação de Barroso ao Duque de

Bragança, carta aos moradores Montalegre; Cónego Gaspar Estaço - Antiguidades da Lusitânia;

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de


Domingos Vaz Chaves Contador de Argotte - Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispadp de Braga; Costa Veiga - História Militar; Ferreira de Castro - Terra Fria; Fortunato de Almeida - História da Igreja em Portugal; Gama Barros - História da Administração Pública Portuguesa, sec.

XII a XV;

Grande Encicloédia Portuguesa e Brasileira; Hubner - Noticias Arqueológicas de Portugal 1861; Igreja de Gralhas - Registos Paroquiais; Inácio Vilhena Barbosa - Cidades e Vilas de Portugal; João Carneiro - As Casas do Padroado; João Gonçalves da Costa - Montalegre e Terras de Barroso; Jornais - O Montalegrense, Barroso a Terra e a Gente e o Povo de

Barroso;

José Batista Barreiros - Ensaio de Inventário de Castros do Concelho de Montalegre, 1914; José Fernandes Chaves - Os Motes na Aldeia de Gralhas; José Henriques Pinheiro - Estudo da Via Romana Braga Astorga; José Hermano Saraiva - História de Portugal Leite de Vasconcelos - Etnografia Portuguesa, Religiões da

Lusitânia, Anuário para o Estudo da Tradições Populares Portuguesas, De Terra em Terra e Toponímia Portuguesa;

Livro de Visitas do Arcediagado de Barroso, 1825; Lopez Cuevillas - La Civilizacion Céltica en Espana, 1953; Mário Cardoso - Alguns Elementos para a localização dos Castros

do Norte de Portugal;

Memórias Históricas e Genealógicas dos Grandes de Portugal;

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Miguel de Oliveira História Eclesiástica de Portugal - História da

Igreja, As Paróquias Rurais Portuguesas; Rogério Borralheiro - Montalegre, Memórias e História ; Zé Rato - As Liadas em Barroso;

. . .

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Domingos Vaz Chaves ÍNDICE

Localização e Estrutura Social - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 09 Clima - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11 Gralhas, Minha Terra, Minha Gente - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11 Enquadramento Histórico- Natural - - - - - - - - - - - - - - - - - - 13 Vida e Costumes dos Castrenses - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 15 A Passagem por Gralhas dos Romanos... - - - - - - - - - - - - - - - 17 ... E dos Suevos e Visigodos- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 20 Os Mouros em Barroso- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 22 A Reconquista Cristã - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 22 Gralhas na Idade Média - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 24 A Terra e a Gente- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 29 As Casas- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 32 A Fauna - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 33 A Flora- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 36 As Actividades e as Estações do Ano- - - - - - - - - - - - - - - - - 38 Património Cultural - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 42 Decadência Comunitária - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 45 Os Motes, os Meses de Inverno e de Inferno - - - - - - - - - - - 47 Os Motes - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 49 Três Meses de Inferno - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 52 As Segadas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -53 A Carrada- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 55 As Malhadas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 56 Exemplos que Resistem - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 57 A Vezeira ou Gádinho- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 57 As Chegas ou Liadas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 58

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Gralhas Minha Terra Minha Gente Património Arquitectónico- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 64 Fonte Fria- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 64 Igreja Paroquial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 65 Cruz dos Campos e Poço da Luísa- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 67 Casa do Seminário- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 69 Capela de Santa Rufina- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 71 Relógio de Sol - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 72 Bibliografia - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 73

... OUTRAS OBRAS DO AUTOR História da Policia em Portugal (Formas de Justiça e Policiamento) * História da Policia para Crianças * A Moralidade e a Ética Policial * Relatos e Crimes do Arco da Velha

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