Revista Guayi ed 01

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As escolas Waldorf formam uma rede de ensino em todo o planeta, com presença nos cinco continentes. Sua base é a Antroposofia, (do grego Antropos - Homem e Sophia - Saber) criada por Rudolf Steiner com o objetivo de possibilitar o conhecimento do homem moderno acerca de si mesmo. Muita gente já ouviu falar, mas o que é, exatamente, em sua essência? Em poucas palavras, é diferente de uma escola tradicional, porque vê a criança como alguém que não só precisa de informações para seu aprendizado, mas também necessita de bases emocionais e espirituais para seu desenvolvimento como um ser humano autônomo, harmonioso e feliz.

Na pedagogia Waldorf, a vivência precede a teoria. O conteúdo curricular é articulado para que haja uma relação muito próxima entre o que o aluno vive naquele momento e o que ele deve aprender. No aprendizado da matemática, aprende-se a dividir com o outro; no estudo dos verbos, observa-se a passagem do tempo; nos mitos e histórias apresentadas, descobre-se o lugar dos próprios sentimentos; no ritmo das rodas e da respiração, celebra-se o movimento da vida. Nada é só teórico,

tudo é interligado, e esse conhecimento é sentido no próprio corpo e organicamente apreendido.

Na Educação Infantil desenvolve-se na criança pequena o senso de admiração e reverência por todas as coisas da natureza e pelas qualidades de confiança e coerência nas relações humanas. Isso cria uma expectativa pelos conteúdos escolares e experiências que virão a seguir no Ensino Fundamental. Já no Fundamental, os alunos são guiados por um professor principal de classe, que os acompanha por vários anos, promovendo oportunidades para o conhecimento do mundo e para que o dom nato da imaginação possa se transformar gradualmente na criatividade adulta, somada à capacidade de ação. O currículo Waldorf contempla todos os aspectos legalmente previstos para a educação no país, abarcando de forma ampliada as dimensões cognitiva, física, emocional, estética, social e espiritual. Procura desenvolver nos jovens as qualidades necessárias para que saibam lidar com as demandas constantes e velozes. Principalmente, procura despertar a vontade de atuar no mundo de forma cada vez mais consciente, assumindo a realização de seus ideais com criatividade, flexibilidade, responsabilidade e capacidade de questionamento e de relacionamento.


Muitos pais se deparam com esta pergunta quando dizem que os filhos estudam numa escola Waldorf. Assim como “Mas e o vestibular?” ou “Vocês são hippies?”. As escolas Waldorf têm em seus currículos artes, trabalhos manuais e música com tanta importância quanto as disciplinas como ciências, matemática e línguas. Algumas pessoas pensam que o futuro dos alunos está definido: será artista. Na escola você pode conhecer e treinar todo seu potencial criativo, mas a escolha da profissão é a própria pessoa quem define. Porém, qual o pai que não conhecia a pedagogia não ficou com dúvidas se estava no caminho certo? Pensando nisso, reunimos aqui alguns depoimentos de ex-alunos Waldorf das mais variadas profissões. Como a escola os influenciou e por que procuraram escolas com a mesma pedagogia para seus filhos.Veja outros depoimentos no nosso site. Mariana Peterle, arquiteta, mãe do Tomás de 6 anos e da Micaela de 4 anos, alunos do jardim Waldorf Espaço Bem Viver Para mim, o grande diferencial da escola Waldorf é a premissa de que cada ser humano é único e imbuído de capacidades que deverão ser desenvolvidas ao longo da vida. Não é uma escola com a preocupação de informar e sim com o objetivo de formar jovens para a vida. Sempre respeitando a individualidade

de cada um e incentivando a clareza de raciocínio, o equilíbrio emocional e a iniciativa da ação. Entre contos de fadas, artes plásticas e cênicas, trabalhos manuais, astronomia, teatro, zoologia, botânica, euritmia, música, agrimensura e o currículo regular exigido, aprendemos a aprender. Após 12 anos terminei a escola, e agora? Como será a vida com as tão terríveis provas, como sobreviver à acirrada competição no mercado de trabalhos, etc.? Essa era a preocupação de muitos amigos dos meus pais com relação a escolha que eles fizeram ao me colocarem numa escola Waldorf. Bom, essa não era uma preocupação para eles e muito menos para mim. Eu não tinha medo do “mundo lá fora”, sabia que seria capaz de fazer tudo aquilo a que me dedicasse. Aprendi a sempre dar o melhor de mim em cada tarefa, não porque seria julgada por isso, mas sim porque só assim me tornaria um ser humano livre. Aprender a ser, essa foi a semente que se desenvolveu dentro de mim nos meus anos de escola Waldorf. Sim, eu estudei numa escola Waldorf dos 4 aos 15 anos. Sim, eu apoio a pedagogia. Não, eu não sou artista! Sou engenheira química e trabalho num centro de pesquisa de uma grande empresa francesa em Lyon, na França. Se parar para pensar em como foi a construção da Ana Maria Cenacchi Pereira, Engenheira Química


minha bagagem científica para chegar até aqui, ou ainda mais, da minha personalidade ao longo da vida, posso ver que, sem dúvida alguma, a escola Waldorf teve um papel fundamental. Não só porque o conteúdo escolar foi transmitido corretamente, mas porque eu aprendi a aprender. Aprendi a sentir prazer em estudar e a buscar mais conhecimento. Aprendi o porquê de estudar uma matéria ou outra, com base em exemplos, não apenas pela informação ou para passar na prova. Aprendi a ter um olhar analítico a respeito das coisas, e a ter uma opinião sobre elas. Não digo que em outra escola isso não seria possível, até porque o Ensino Médio eu cursei em outra escola onde continuei meu desenvolvimento, mas o trabalho feito pela pedagogia Waldorf constrói uma base sólida em cima da qual a criança pode adicionar conhecimento sem dificuldade nem sofrimento. Ter estudado matérias como música, artes aplicadas, trabalhos manuais, euritmia, teatro, culinária e tantas outras, em paralelo à matemática, história, português, química, física, biologia e etc. me auxiliou a escolher com mais facilidade a profissão que queria seguir. Tive a oportunidade de ter contato com todas essas diferentes áreas e, por isso, pude ver o que me agradava mais ou com quais me identificava mais. Escolhi a engenharia química, e gosto muito da minha profissão. Mas posso dizer que até hoje adoro pintar, tricotar, costurar ou tocar flauta nas horas vagas. Pela minha vivência, percebo que essa multidisciplinaridade oferecida pela pedagogia Waldorf auxilia a desenvolver o cérebro nos seus diferentes hemisférios. Assim, os alunos Waldorf têm uma habilidade que aqui na minha empresa ouço falar bastante, o “thinking out of the box” (pensar fora da caixa). Esta expressão significa encontrar soluções criativas que saem dos padrões. Mesmo sem perceber, quando brincamos com bonecas sem rosto, ou com brinquedos de madeira sem desenhos, ou quando fazemos pinturas, esculturas, peças de madeira: estamos trabalhando nossa criatividade. Por isso trabalhar nosso lado “artista” é importante, não importa a área que escolheremos pra trabalhar no futuro. Poderia escrever ainda muita coisa a respeito dessa pedagogia, e como ela foi importante no meu percurso escolar. Mas em essência, a pedagogia Waldorf pra mim representa um ensinar completo!

Pelo menos comigo foi assim, e espero poder proporcionar aos meus filhos a mesma oportunidade um dia! Joana Blumenscheinn, roteirista e diretora de cena, mãe do Pedro de 9 anos e da Olívia de 8 anos, alunos da Guayi. Sou waldorf. Desde 1982. Estudei por catorze anos na pedagogia Waldorf. Dois anos de jardim. 12 na Rudolf Steiner. Foi uma tia minha que descobriu a escola. Interessou-se quando uma amiga dela disse que estava pensando em tirar o filho de lá porque ele voltava muito sujo. De terra! Mexia com barro (argila), tintas (aquarela), subia em árvores. E foi assim que nossa família toda foi estudar em uma escola Waldorf. Sou mãe de alunos da Guayi há dois anos, do Pedro, agora no 4º ano. E da Olívia, no segundo ano. E tem sido incrível! Ter meus filhos estudando em uma Waldorf é minha prioridade. Imenso empenho e grande alegria. Em uma escola Waldorf temos, de fato, o direito de nos desenvolvermos a partir de nós mesmos. Cada ser tem suas potencialidades, peculiaridades e dificuldades. E isso é a matéria-prima inicial para o desenvolvimento de cada criança. Como na escola a forma de enxergar o Homem era diferente, durante a adolescência dizíamos que a escola não retratava a realidade, que não estávamos sendo preparados para a vida. E saí de lá com a certeza de que fui preparada justamente pra “vida lá fora”. Hoje, além dos meus filhos, tenho três sobrinhos na Waldorf, em escolas em São Paulo e Cuiabá. A Antroposofia tem muito a nos ensinar. Por isso quero ser Waldorf pra sempre!


A Pedagogia Waldorf fundamenta seu currículo no desenvolvimento integral que a criança apresenta em sua vida e busca, através dos conteúdos e da forma como são trazidos, dar suporte às transformações que ocorrem em seu amadurecimento. Podemos dizer que o primeiro acordar para a individualidade ocorre por volta de 3 anos, quando a criança diz EU para se auto denominar. Mais tarde, nos primeiros anos escolares, há ainda uma transição entre a fase infantil e a escolar do aprendizado concreto: eles são marcados por uma mudança física especialmente da cabeça. Além da troca de dentição, a criança apresenta um equilíbrio maior na face, entre testa, malares e maxilares. Após os 9 anos de idade verificamos outra transformação no físico da criança: o crescimento do tórax. O coração e pulmão, também por volta desta idade, atingem o equilíbrio do adulto na proporção de 4:1. (relação pulso e respiração). Esta transformação física mostra o que a criança transforma em seu interior. Na região dos sentimentos (fisicamente o tórax) ela vivencia o que denominamos a “passagem do Rubicão”. Atravessar o Rubicão é ultrapassar fronteiras, defrontar-se com um caminho difícil e até desconfortável. É também um caminho sem volta. É o ser humano amadurecendo e ganhando mais consciência de si próprio e de seu exterior. A criança amplia a vivência do “estar em casa, dentro de si mesma”. Estas sensações até então

desconhecidas, podem gerar sentimentos complexos para sua compreensão. Ela pode sentir-se só e incompreendida. Exacerba sua criticidade e por vezes necessitará de estímulo para relacionar-se socialmente. Seu senso de justiça é bem forte e ela poderá sentir-se injustiçada e prejudicada, mesmo quando tal não acontece. Ela chora com mais facilidade, pode achar que não é querida, que não tem amigos e até procurar um isolamento. Apesar deste humor aparentemente instável, eles adoram e precisam trabalhar muito nesta fase, como ter pequenas responsabilidades em casa com os bichos domésticos. Precisam valorizar o trabalho humano, admirá-lo, ver as transformações que podem realizar. A arte, o trabalho manual e as histórias do Antigo Testamento ajudarão nesta fase de sensação de Queda do Paraíso. Para saber e viver o trabalho, as crianças do terceiro ano aprendem e visitam diversas profissões. Também realizam o plantio do trigo que, em seu ciclo completo, será vivenciado até a feitura do pão. O terceiro ano tem ainda em seu currículo o projeto e construção de uma casinha, com a qual vivenciam e “constroem” o seu próprio espaço interno para poder colocá-lo em sintonia com o exterior. Além da escola e seus conteúdos, a família será fundamental para este momento do Rubicão, fase em que a criança pode voltar a querer um colo materno, e mesmo até arrumando um “drama” para justificá-lo. A companhia do pai para passeios, pequenos consertos domésticos e jogos pode trazer leveza e alegria e ajudar na aquisição de hábitos que vão ajudar a construir caráter por meio da parte prática da vida. A criança perceberá com mais sutileza certos valores na família. Em resumo: menos mídia e mais trabalho trarão forças para este momento passageiro, mas tão sério para o futuro das crianças. O Rubicão é um momento especial e desafiador, tanto para a criança como para a família, mas o amor, a compreensão desta fase biográfica, a confiança e paciência trarão a todos um maravilhoso crescimento e aprendizado! Maria Cecilia Bonna Observações: A queda do Paraíso: - Justo - injusto. - Quem me ama como sou? - Aceitação de si mesmo e do outro - a aproximação do EU consciência. - A descoberta da verdade: coelho da páscoa e Papai Noel existem? - Plantas e animais não são mais companheiros com os quais podem conversar (animismo).

- A morte e o sentimento de solidão, a descoberta do interior. A arte, o trabalho e o amor podem preencher o sentimento de perda da infância que morreu. Leitura recomendada sobre o tema: Hermann Koepke - “A CRIANÇA AOS NOVE ANOS - A queda do Paraíso”. Editora Antroposófica


No dia 1° de fevereiro de 2012, primeiro dia de aulas, nasceu a Guayi. Em um lindo encontro entre as crianças do primeiro ano, suas famílias, e a professora Gabriela Fernandes de Oliveira, foi plantado no jardim um pé de manacá e sob ele foi colocada a pedra fundamental da escola. De lá pra cá, muito trabalho foi feito, novas doações surgiram, muitos passos foram dados e obstáculos vencidos. E a cada ano a escola foi sendo erguida literalmente, sala por sala, sempre com esse espírito comunitário e com a fé de que o que havia sido plantado seria bom não apenas para os filhos dessa comunidade, mas para todas as futuras crianças que um dia passariam por essa construção. Em 2015, a Guayi tem turmas de primeiro a quarto ano do Fundamental, com espaço garantido para o quinto ano em 2016. Também tem planos para uma larga expansão: viabilizar uma sede própria a partir de 2016, para poder acolher mais alunos e construir novas séries e turmas. Mesmo

crescendo, mantém o espírito corajoso e desbravador com que iniciou sua jornada. A cada ano, mais e mais famílias vão se somando a essa grande comunidade, percebendo que a construção de uma escola não é apenas um erguer de tijolos e assinar de papéis: com ela, forja-se entre todos os envolvidos a certeza de que em conjunto é possível construir a tudo o que se aspira. Nesse caminho do sonho compartilhado, brotam também amizades, certezas de superação, flexibilidade para novas ideias, atos generosos. Nesse caminhar, o espírito coletivo se fortalece, e paira sobre nossa escola tal como um guia, acolhendo às crianças, aos professores e aos pais, e dando forças para os muitos passos que ainda virão. Aqui estamos, com um lindo passado e um largo futuro a se construir. Para quem sentiu que é parte dessa história e quiser nos conhecer, saiba que será muito bem-vindo! Para mais informações, acesse : www.escolawaldorfguayi.org


Para mais informaçþes, acesse nosso site: www.escolawaldorfguayi.org


Expediente: Coordenação Editorial: Claudia Von Frihauf e Djair Guilherme Produção de Textos: Claudia Pucci, Maria Cecília Bonna e Monica Alterthum Projeto Gráfico e Diagramação: Domitila Carolino (Olé estúdio) Fotos: Acervo Guayi-pais Colaboração: Rosana Dourado Gomes-ilustração da capa Apoio pedagógico: Professoras Andrea, Carla, Cecília, Gabriela, Marlene, Priscila e Rosana

A Livraria SBS Granja Viana está pronta para te atender. Aqui você encontra todo material necessário para sua formação

Centro Comercial Vila Fênix R. José Felix de Oliveira, 359 - Lj. 3 Granja Viana - Cotia - SP Tel.: (11) 4551-4005 sbsgranjaviana@gmail.com www.sbs.com.br

ANOS PA R C E I R A D A E D U CA Ç Ã O


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