Revista senac 2015

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MODA

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COMUNICAÇÃO

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COMPORTAMENTO

U N T I T L E D



ÍNDICE Viver de renda: Tramando arte com as mãos Natássia Diniz | Mila Cavalcante 04 O indivíduo e a imagem: como a moda pode mudar nossa percepção sobre a sociedade Karine Rodrigues | Olivia Midorikawa 14 Meu Corpo, Minha Beleza, Minhas Atitudes e... MINHA ROUPA! Grazielle Angélica | Deise Navarro 25 O Mapa de Emprego em Moda Ana Luiza Ancona | Pedro Lagoa | Priscila Martinez

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A BELEZA ESTÁ NO SER

Carol Mayer | Emerson Meneses 34

Entre Gêneros | Editorial 40 COLUNA: O mais importante do bordado é o avesso | De sacos à lençóis, o caminho traçado pela moda paulistana Emerson Meneses 50


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Viver de renda: Tramando arte com as mãos O ofício milenar passado de geração a geração chega cada dia mais às grandes semanas de moda do mundo todo, mas pouca gente conhece sua tradição e os motivos que a levam tão longe.

C

onta-se que um jovem marinheiro quando usou pela primeira vez uma rede de pescar tecida por sua noiva apanhou do fundo do mar uma bela alga petrificada e ofereceu à sua amada antes de partir para a guerra. A noiva, saudosa de seu amado, teceu então uma outra rede de pescar, dessa vez reproduzindo o modelo da alga que havia ganhado; os fios dessa rede terminavam com pequenos chumbos, assim surgiu a renda “piombiini” ou de chumbos, que posteriormente foram substituídos pelos bilros. Muitas são as lendas que permeiam o surgimento das rendas e as mulheres por trás deste oficio, mas o mais bonito é perceber que o lendário envolve sempre momentos de amor para narrar essa origem. Lendas a parte, a renda surgiu

nos fins da idade média, sobretudo na França, Itália, Inglaterra e Alemanha, chegando ao Brasil no século XVIII, por meio das famílias portuguesas. A prática se dava principalmente entre as jovens lusitanas que trabalhavam enquanto acompanhavam os seus maridos que se aventuravam ao mar.A renda, que tanto se identificava a natureza brasileira, foi entãoresignificada ao chegar às mãos dos nossos povos, às mãos de nossas mulheres. O trabalho da renda está fundamentalmente ligado a força da mulher e destaca a sua atuação na construção de um papel cultural. Ser rendeira, um dos ofícios de maior tradição do Nordeste Brasileiro, significa receber o conhecimento sobre os bilros, sobre as agulhas, linhas e lacê, sobre

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“Quando você está na almofada, menino chora, panela queima, marido briga, você se esquece do mundo.”

o trabalho de fiar, trançar, tecer, construir formas com fios, receber da figura feminina mais próxima, da mãe, da avó. Significa ter conquistado as ferramentas necessárias para produzir beleza e delicadeza em níveis que despertam a admiração de toda pessoa que entre em contato com o seu resultado.Da sutileza feita exclusivamente à mão, com traços marcantes, em que predominam pontos e entrelaçados delicados, desenhos concêntricos e linhas sinuosas construindo uma harmonia perfeita tramada a mão. Mulheres que lutam bravamente e ainda assim desempenham um ofício minucioso e delicado. Com

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delicadeza e maestria seguem fa zendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família. Historicamente, foi no nordeste onde apareceram as primeiras rendeiras as margens dos rios e à beira- mar, espalhando-se rapidamente para os interiores. Hoje a renda contínua sendo a grande fonte de renda de muitas mulheres nordestinas, e tem ganhado cada vez mais os corações de grandes nomes da moda, chegando a ser destaque nas grandes semanas de moda do mundo todo.


Amor seguro, sianinha, não me deixe, estrelinha, abacaxi, aranha, cocada, xerém... Cada ponto é nominado segundo elementos da natureza, comidas, ou expressam sentimentos das

suas criadoras. Há duas categorias de rendas: uma produzida com o auxílio de bilros e outra confeccionada com o uso de agulhas. As rendas costumam ser um trabalho minucioso e que demandam tempo e dedicação para serem finalizados.

Renda de Bilros:

“Às vezes, um vestido é feito por três pessoas ao mesmo tempo e o dinheiro é dividido entre elas” (Socorro Reis – Associação Casa das Rendeiras)

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A renda de bilros é feita sobre uma almofada, tendo como base um papelão cortado, afixado nesta almofada cilíndrica com alfinetes ou até mesmo espinhos, com o esquema em cima do qual irão se trançando os bilros, Os bilros são uma espécie de haste de madeira provida de uma cabecinha numa das extremidades. Sobre ela enrola-se a linha para fazer a renda. Os bilros são sempre utilizados aos pares. As rendas de Bilros são facilmente encontradas no Rio Grande do norte e em Alagoas.

Renda Irlandesa: Se carcacterizao pelo uso do lacê ou fitilho, este serve de base para o trabalho que será feito com a agulha desenvolvendo as formas da renda. Em cima de um papel grosso é alivanhado o lacê sobre um desenho e depois fixado em uma almofada onde será confeccionada a renda. Este tipo de renda é executado há várias gerações pelas artesãs sergipanas de Divina Pastora em Sergipe.

Renda Filé:

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A técnica da renda Filé encontrase difundida sobretudo nos estados de Alagoas e do Ceará. O filé tem como base uma rede simples, composta de malhas e de nós, e por isso é também denominado “rede de nó”, e segue a mesma técnica de confecção da rede de pescador, onde se desenvolve o tecido ou enchimento, isto é, o filé.

Renda Labirinto O labirinto (ou crivo) se identifica pe o fio desfiado preliminarmente, tecido com linha seguindo os desenhos estabelecidos. O processo de feitura possui 6 etapas: escolher o tecido e tirar a


metragem; riscar o desenho; desfiar o tecido; fazer o enchimento; torcer e perfilar.

Renda Renascença Na Paraíba e em Pernambuco encontramos a renda Renascença, ela é uma das mais elaboradas rendas manuais, e também a mais cara. Ela é confeccionada com agulha, linha e lacê de algodão. O desenho é feito sobre papel de seda e preso sobre uma almofada. Com a agulha dá-se forma, com diferentes pontos, preenchendo os vazios do desenho. Ao terminar o papel é retirado e a peça passada a ferro. Uma peça de renda Renascença pode demorar vários meses para ser desenvolvida, tamanha a precisão e delicadeza desse trabalho.

Das mãos rendeiras para as grandes grifes: Transformando sentimentos em negócios. Atualmente é grande o número de rendeiras em todas as capitais e interiores do nordeste que prestam serviços a grandes estilistas brasileiros. Em tempos de produção em massa, o feito à mão, ou o mais conhecido, handmade, ganha espaço e destaque em todo mundo. É em busca dessa emoção, que o trabalho manual carrega consigo, que os grandes nomes da moda buscam hoje inspiração e produção nas rendeiras nordestinas. Foi em busca dessa emoção que a estilista Fernanda Yamamot-

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to encontrou nessas mulheres a fonte de sua coleção de Inverno 2016Ao lançar sua coleção Fernanda destacou a força e toda a carga emocional que as histórias dessas mulheres trouxeram e somaram ao trabalho que ela já desenvolvia. Assim como ela, muitos outros nomes fortes no mercado como Ronaldo Fraga, Agua de Côco e Alexandre Herchcovitch, tem buscado resgatar esse universo de tradição cultural e o que vemos nas passarelas é uma valorização cada vez maior desse tipo de produto, desse tipo de resgate e emoção que carregam em si. Precursora em transformar o tra-

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balho artesanal em peças de luxo, não é possível pensar no tema sem trazer aos holofotes a estilista Martha Medeiros.Com peças que envolvem o trabalho de inúmeras artesãs e custam a partir de R$ 4.500 – podendo facilmente chegar aos cinco dígitos – Martha cursou Direito, trabalhou como bancária e formou-se na primeira turma do curso de moda do Senac. Atualmente, mais de 300 rendeiras produzem a matéria-prima com a qual Martha realiza suas criações. Organizadas em sistema de cooperativas, artesãs de oito comunidades passam pelos programas de capacitação e valoriza-


ção da empresária – que se refere a elas como “minhas rendeiras”. As criações de Martha saem da pequena fábrica (que conta com modelistas e costureiras que produzem poucas peças por mês, a maioria sob medida) diretamente para as araras de suas lojas próprias, em São Paulo e Maceió, para os raros e exclusivos pontos de venda espalhados pelo Brasil e endereços internacionais, incluindo a inglesa Harrods e a badalada Bergdorf Goodman. Em tempos de ativismo político e social, ainda existe espaço para o uso da cultura como fon-

te maior de inspiração, criação e reflexão sobre os valores que são perpetuados pelo vestuário. Com os processos de globalização em constante evolução, pode-se dizer que as barreiras antes determinadas puramente por aspectos sociais ou geográficos ruirão e as marcas que acompanharem o processo, oferecendo criatividade e inovação no uso dos regionalismos serão as marcas que levarão a moda brasileira ao próximo patamar. O que há de ser questionado é o que leva uma peça, criada por mãos habilidosas, muitas vezes calejadas, de comunidades artesãs por todo o Nordeste, a custar valores que chegam aos cinco, seis dígitos e são tão distantes quandocomparados as remunerações dadas às grandes mestres que fazem essa mágica acontecer. A regionalização da moda e dos seus meios de produção não pode ser

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ignorada e a cultura cegamente apropriada sem que haja a formação de uma consciência ativa. Hoje inúmeras associações estão profissionalizando os trabalhos dessas mulheres e intermediando as pontes comerciais e econômicas, garantido a dignidade do trabalho e evitando que este oficio desapareça e a arte se perca. Basta visitar uma das belas feiras de rua dos litorais e interiores do nordeste para encontrar peças produzidas pelas mesmas mulheres rendeiras a preços muito mais acessíveis. Sem o primor da modelagem e do pensamento estético dos grandes estilistas, é bem verdade, porém com a mesma emoção e o mesmo sentimento das incríveis mãos das mulheres rendeiras.

Natássia Diniz - Mila Cavalcante

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Fontes sites: arteculturaespiritualidade.blogspot.com hak.com.br2 http://www.flickr.com/photos/fabiovenhorst/ http://www.flickr.com/photos/e-sergipe/ Martha Medeiros - Foto Divulgação Fernanda Yamamoto _ Foto Divulgação Livro: Renda Renascença - uma memória de ofício paraibana, Sebrae Livro: Artesanto Brasileiro - Rendas, Senac


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ode p a od m a mo ade o d e c i : em soc g a a e m eai sobr o o u ã epç ivíd c d r n i e O ap s s o Karine Rodrigues rn a d mu

Olivia Midorikawa

Qual a importância social do vestir-se? Como construímos uma imagem de nós mesmos com a moda? Ao analisarmos a sociedade por meio das imagens pessoais que essa produz, podemos encontrar uma identidade compartilhada; e mais importante, podemos também entender novas formas de identificação.

Todos nós ao abrimos nossos armários e decidirmos o que vestir, quais dos acessórios combinar com a roupa, como arrumar os cabelos e até qual perfume usaremos, estamos preparando uma expressão de nós mesmos para o mundo, seja intencionalmente ou não. A moda é parte imprescindível dessa construção e não importa o estilo ou nível de sofisticação, o mais básico dos looks já tem o poder de passar para os outros uma mensagem, criar uma imagem de você. Agora pense na infinidade de imagens que cruzam o seu caminho diariamente, durante o decorrer da sua vida. É impossível se concentrar em todas elas, certo? Principalmente hoje em dia em nossa sociedade globalizada

e hipermoderna.

Hiperm

odernidade Ainda as é, segundo sim, é esse o filósofo Gilles Lipovetsky, conglomecaracterizada por uma cultura rado caóti- de excessos, elevada à máxima co de ima- potência. O ritmo é acelerado, gens, além quase esquizofrênico. das suas próprias construções imagéticas, que vão ajudar a formar nossa consciência individual e coletiva do mundo, indicando nosso período na história, a maneira como vivemos, o que valorizamos. Mariana Iannuzzi, psicóloga, consultora de estilo e coach criou seu projeto Diwa justamente para ajudar pessoas num processo de auto-conhecimento, por meio de uma metodologia que mistura psicoterapia e estilo. Para ela, o indivíduo começa a estabelecer uma relação com as imagens já na sua

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concepção: “Esta é uma relação que nos acompanha desde o nascimento até a morte, não temos como nos divorciar dela. Partindo deste ponto, é mais prazeroso buscarmos que esta relação seja o mais saudável e autêntica possível, fundamentada no auto amor.

ao que queremos comunicar.

No desenvolvimento do de seu trabalho, a imagem tem o papel de expressão e de interação com o mundo. Iannuzzi explica que quando entendemos a imagem como uma ferramenta poderosa de comunicação, assumimos uma nova percepção sobre todos os elementos que a compõem, projetando um caminho para um novo olhar em relação a quem somos e

E a moda tem essa façanha de se fazer perceber como imagem, repleta de significados reconhecíveis quase que instantaneamente. Isso acontece porque esta frequentemente se apropria dos elementos estéticos escolhidos para determinar uma ideia ou cultura, processa tudo dentro de seu sistema altamente replicável e populariza esses mesmos elementos numa roupagem mais “consumível”.

Iannuzzi considera a moda como um recurso poderoso e ambíguo: “usada de forma consciente, a moda pode promover a reconexão com quem somos e nos ajudar a comunicar isso, desde que não nos tranforme num personagem”.

Mariana Iannuzzi com as mulheres do projeto Diwas.

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Assim, aprendemos a caracterizar uma pessoa usando couro e jeans com uma atitude jovem e de rebeldia; alguém usando terno como uma figura séria e formal; uma mulher em um vestido preto e de linhas simples, como bem vestida e elegante. No entanto, mais que tomar parte na concepção desses pequenos estereótipos, a moda também nos permite entender um pouco sobre a sociedade em um momento específico, pois acaba refletindo uma atitude ou sentimento geral das pes-

soas. Essa relação entre o vestir e significar envolve muito mais do que roupas. Repare nas mudanças de visual no curso da história, podemos identificar relações de poder e classe, culturas e regionalismos, crenças e o desejo de Editorial com inspiração punk transformação.

da Revista Vogue, fotogradado por David Sims.

Garotas punk em 1978 no Hyde Park de Londres, em foto de Janette Beckman.

O movimento das Sufragistas-pelo direito das mulheres ao voto-utilizou elementos de moda para comunicar seus ideais. 17


Supermercado de Estilos é o termo usado por Ted Polhemus para identificar o uso misturado e “pinçado” de vários elementos estilísticos de diferentes eras, movimentos e culturas, mesmo que contraditórios, para a criação de nossa própria e única realidade.

O que você escolhe usar pode transmitir uma ideia muito mais rápido do que o discurso, até mesmo se você não tem a oportunidade de verbalizar sua mensagem. A moda cumpre tão bem o seu papel ao representar imageticamente o seu tempo que não seria diferente na atualidade. Já reparou em comentários como: “não tenho um estilo definido, é uma mistura de várias coisas”, ou “escolho o que vestir conforme meu humor de manhã”, ou ainda “tudo está na moda de novo, tudo é tendência”? A verdade é que está cada vez mais complexo alinhar nossa imagem pessoal com a mensagem que queremos passar, já que as regras de antes não importam mais. Até o final do século passado, cada tendência tinha um ciclo de vida mais longo, geralmente difundido pelos grandes centros de moda até às massas, com um período de aceitação, auge e declínio, dando

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lugar a uma nova moda. Hoje, o conceito de uma forma predominante de vestir parece cada vez mais distante. Em tempos de fast fashion e internet, podemos misturar e combinar o que foi moda no passado, culturas e subculturas, estilos e adornos de etnias diferentes. Tudo isso reflete o tipo de sociedade que construímos em nosso mundo global, uma sociedade líquida, ou seja, incapaz de se manter com a mesma forma, sem as barreiras limitantes de conceitos sólidos e fechados. Na ideia da Modernidade Líquida, termo cunhado pelo sociólogo Zigmunt Bauman, o indivíduo passa a ser o único responsável por seu desenvolvimento, diante do derretimento dos sólidos: instituições, padrões, códigos e regras. Desse jeito, a maneira como interagimos


e dependemos uns dos outros também se liquefaz, é muito dinâmica, perdendo e refazendo sua forma muito rapidamente.

aconteceu antes. O uso de calças por mulheres, a minissaia, tatuagens, piercings, são alguns exemplos de coisas antes consideradas repulsivas ou ultrajantes, que foram “roubadas” pela moda como tendência e caíram na aceitação pela sociedade. Parece que é no sistema da moda que um conceito novo pode ser experimentado.

Por isso, a moda exemplifica perfeitamente esse momento, já que seu impulso vem dessa mesma tendência a se repetir e reinventar, buscar aparentar essa identidade incerta, que pode ser A moda tem esse poder de ir perdesfeita a qualquer momento. meando novas ideias e imagens Se é assim, podemos pensar para a vida propriamente vivida que deveríamos deixar de dar tan- das pessoas, muito mais que a ta bola para a moda, certo? Mas o arte, por exemplo, que infelizmenque vemos é exatamente o con- te ainda é uma coisa que não altrário. A necessidade constante cança ou é compreendida por todo de renovação, a busca e a valori- mundo. A moda ao contrário, por zação do novo, o apelo ao imate- sua própria popularidade e proxirial e à imagem, fazem com que a midade com os corpos, atinge um moda siga interpenetrando todas número muito maior de indivíduos as áreas, com um poder de sedu- e assim consegue rapidamente ção fortíssimo. tornar algo antes impensado, em coisa comum. (aqui eu pensei em E nesse momento, em que um hiato, que podia ser tipo um a busca pela individualidade tem box com o trabalho da Fernanda uma importância exacerbada, será ou a apresentação do artista Oleg que a moda ainda pode nos ajudar Dou??? a nos encontrarmos e nos expressarmos como indivíduos? Além Rita Heroína, consultora de imadisso, será que a moda, na maio- gem e estilo, desenvolveu um ria das vezes considerada fútil e trabalho incrível com refugiadas excludente, pode ser instrumento no Brasil, mulheres que vieram por meio do qual novos compor- de países como a Síria, a Angola tamentos e ideais de estética são e o Congo na tentativa de recoapresentados e aceitos? meçar a vida, esquecer a violência De certa maneira, isso já e sofrimento que viveram. O ob-

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jetivo do trabalho de Heroína era ajudá-las a se reconectarem consigo mesmas, ganharem confiança e força para iniciarem essa nova fase, com o foco no aumento da autoestima e valorização de seus pontos fortes. “A experiência de ter trabalhado com essas mulheres foi única, forte, transformadora. Nesse sentido, pude validar a Consultoria de Imagem e Estilo como uma ferramenta capaz de fortalecer a autoestima de mulheres refugiadas no Brasil . Nas mulheres investigadas, os efeitos benéficos da consultoria se mostraram muito evidentes. A refugiada congolesa, por exemplo, saltou de um estado de desâ

“Gostei muito das indicações de combinação de roupas, das cores que servem pra mim. Mas gostei mais do que foi acontecendo dentro de mim, é difícil explicar, mas a sensação é muito boa, é muito bonito sentir.Mudou muita coisa na minha vida. Estou cuidando mais de mim, do meu visual. Estou mais segura, vaidosa, confiante. ”

nimo e apatia para um estado motivado, alegre,com brilho nos olhos e vontade de vencer.”- Rita Heroína. Mas se o sentido mais explorado numa sociedade imagética é a visão, como desenvolver um relacionamento com a imagem sem contar com tal recurso?

Fotos: Juan Salvarredy

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“Estou ótima! É assim que a mulher tem que se sentir: desejada, sexy, elegante.Todo dia arrumo tempo pra me arrumar. Tenho vontade de me arrumar. Penso na roupa que vou vestir, penso que vou andar na rua e vão olhar para mim.”


Fernanda Barros, consultora de imagem, trabalha com um projeto desafiador com deficientes visuais: “Atualmente a busca pela valorização da imagem e a forma como as pessoas se apresentam, influencia diretamente na personalidade e estilo de vida. Porém essa tarefa torna-se ainda mais difícil para aqueles que não tem referência visual.” Por meio de sua pesquisa, a consultora pressupôs que seus clientes nao haviam atingido uma própria imagem coerente e definida: “Muitos não entendem o que é e quais os benefícios que a imagem e o estilo pessoal trazem,a liberdade de se expressar dentro da composição escolhida, a melhora da comunicação, o êxito profissional e pessoal, além de livrar de complexos que podem bloquear potencialidades. É o resgate da autoestima”

Cacilda de Oliveira perdeu a visão completamente há dois anos, mas tem percepção de texturas e lembrança das cores. Gostaria de sentir-se mais segura com seu look, pois faz as combinações sozinhas e gosta de pensar no visual completo, com todos os acessórios. Quando sai à rua e precisa contar com a ajuda de pessoas estranhas, tem receio de ser assediada caso use roupas inadequadas.

A metodologia do processo é desenvolver os outros sentidos que podem ajudar na imagem que eles desejam passar, juntamente com seus valores e cultura. O importante é promover a acessibilidade em todos os meios, melhorando o convívio com a diversidade. Aprimorar o serviço para deficientes visuais sob a perspectiva deles, baseado na complexa tarefa de se vestir. Trata-se de uma busca sociocultural que prevê orientar pessoas que tem necessidades especiais. Uma consultoria de imagem que visa ir além de uma relação mercadológica, mas que percebe a consultoria de imagem com valor agregado social.

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Diversidade é a palavra de ordem.

presentação de um ideal de beleza a ser conquistado. Mas, ironicamente, é justamente no mercado da moda que pessoas representantes de gru-

Parece que atualmente, a liquidez da sociedade vem trazendo à tona algumas questões mais profundas do ser. Estamos debatendo bastante noções como gênero, sexualidade, idade e raça, conceitos antes muito bem definidos e arraigados Lea T. à identidade, Foto: Damon Baker que hoje, fluídos como estão, já não tem mais o mesmo significado. Certas diferenciações entre as pessoas começam a ser percebidas como absurdas, somos Hari Nef todos simplesFoto: Kathy Lo mente humanos. A moda é frequentemente acusada por utilizar um padrão estético homogêneo. Nas passarelas e publicidade das mais variadas marcas, sempre vemos a imagem da garota jovem, branca, magra e tratada com Photoshop como a re-

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Andreja Pejic Foto: Patrick Demarchelier

Erika Linder para campanha da Crocker Jeanss

pos considerados antes “marginais” ou minorias aparecem para a grande sociedade (muitas vezes pela primeira vez) como sinônimos de beleza. Quem acompanha a moda lembra-se do alvoroço quando a modelo transexual Lea T despontou em 2010 na Givenchy. Junta-


mente com Andreya Pejic, também modelo trans, abriu caminho para outros free-gender como Erika Linder e Hari Nef.

Winnie Harlow foi nomeada “role model of the year” pela GQ Portugal por sua história inspiradora. A modelo canadense sofre de vitiligo, doença de pele que causa manchas despigmentadas pelo corpo por causa da falta de melanina. Winnie já fotografou campanhas para marcas famosas como Desigual e Diesel.

O mundo da moda é constantemente criticado pelo uso da imagem de mulheres magérrimas. Ashley Graham é uma modelo que vai contra essa corrente. Apesar das medidas “fora dos padrões”, a beldade não gosta de ser considerada plus-size, mas simplesmente uma modelo de moda, representante da beleza de todas as mulheres, não importando o número que vestem.

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Jillian Mercado, que também é blogger e editora de moda, despontou na campanha de verão 2013 da marca Diesel e, desde então, tem estrelado vários outros editoriais de moda. Assinou recentemente com a agência IMG, que entre outras super modelos, representa Gisele Bündchen e Kate Moss. Jillian tem distrofia muscular e, por isso, precisa da cadeira de rodas, o que não a impede de modelar com um estilo forte e impactante.

Carmen Dell’Orefice já passou dos 80, mas continua emplacando publicidades, editoriais e campanhas de moda. É um exemplo de que idade não precisa ter a ver com beleza ou juventude. 24

Ok, os bons exemplos ainda são escassos e muitas vezes podemos questionar as verdadeiras intenções das marcas: não seria apenas uma jogada de marketing? Certamente temos um longo caminho ainda a percorrer antes de afirmar que sim, existe diversidade e aceitação na moda. Talvez quando pudermos fazer tal constatação, os padrões de beleza da sociedade serão mais abrangentes ou (por que não sonhar?) até mesmo abolidos e poderemos então analisar as imagens produzidas agora e identificar quando tudo começou.


Meu Corpo, Minha Beleza, Minhas Atitudes e...

MINHA ROUPA! GRAZIELLE ANGÉLICA | DEISE NAVARRO 25


Quando o nome feminismo é citado, vários questionamentos surgem. Não importa idade ou gênero, dúvidas ainda persistem. Mas se tem algo que deixa alguém em cima do muro é comentar sobre moda+feminismo. Para muitas mulheres essas duas palavras não convivem juntas, porém juntar esse dois temas pode ocasionar em algo positivo para as feministas. Apesar dessa relação de amor e ódio, ambas precisam uma da outra.

Breve História do Feminismo Não existe uma data específica, porém relatos históricos nos mostram que a mulher é vista como sexo frágil desde os tempos antigos. Elas eram reprimidas e não podiam dar opiniões referente a sociedade e a política. Mas com a Revolução Industrial e a fixação do capitalismo, a ideia de direitos iguais surgiu. No final do século XIX houve algumas mudanças. O direito ao voto, foi uma grande conquista, porém com muitos conflitos. Mulheres queriam participar e ter os mesmos direitos políticos que os homens. Foi um período de muita luta e conhecido como Sufragismo. Com a Primeira Guerra Mundial o homem saiu de casa para lutar e a mulher

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ficou encarregada de ocupar o lugar dele no trabalho. Por causa disso o vestuário foi uma das primeiras mudanças; saia abaixo do joelho, sem cintura marcada, modelagem reta e uma das grandes conquistas, o uso da calça. Porém com o fim da guerra, o homem volta para seu posto e a mulher volta ao espaço doméstico. Após o final da Segunda Guerra o movimento feminista ressurgiu reivindicando os direitos iguais entre as mulheres e os homens, porém não somente o direito a política, mas sim em toda a sociedade; trabalhos com salários iguais aos homens, direito ao corpo e ao prazer (pílula anticoncepcional). Esse período ficou conhecido como Segunda Onda. A francesa Simone de Beauvoir foi uma das filósofas e escritoras que ajudou no desenvolvimento do feminismo. Em sua obra Segundo Sexo, sua tese “não se nasce mulher, torna-se mulher”, mostra exatamente que o movimento feminista luta pelos direitos iguais. Não existe o desejo de reprimir a sociedade masculina; é a luta pela igualdade, independente do gênero. Com o passar das décadas, houve novas conquistas sociais e o vestuário estava mais do que presente. A moda é, e sempre será, algo como uma extensão da sociedade, pois movimentos políticos e culturais são visualizados nas vestimentas. Enxergamos a mulher com sua minissaia,


Moda X Feminismo

lutando pela sua liberdade; enxergamos jovens com suas roupas leves, lutando pela paz; enxerAtualmente a moda está vigamos pessoas com roupas unissex, lutando pelos direitos iguais. vendo um processo de desgaste. Há o consumo rápido e o foco não é mais o produto mas sim o consumidor. Uma moda rápida que Ninguém nasce dita tendências e um padrão de mulher, torna-se beleza surreal. Justamente nessa parte que algumas feministas mulher! torcem o nariz. Elas acham superficial e fútil que muitas mulheres vivam para se encaixar nessa beleza inexistente. Todos têm o direito de ser e usar o que quiserem independente do peso e altura. A moda pode estar assim agora, porém há alguns anos uma mulher chamada Gabrielle Bonheur Chanel conseguiu introduzir a modelagem masculina ao mundo feminino. Isso já foi um grande passo para quem lutava pelos direitos iguais, usar calça e blazer no lugar de saia e espartilho. Mas infelizmente, muitas mulheres não sabem a história da moda do século passado. Foi uma reviravolta na sociedade, visualizada muito bem pelas roupas das pessoas. A partir dos anos 20 a moda começou a mudar de década a década, mas foi nos anos 70 que várias tribos com estilos de vida diferente começaram a surgir. Os anos 80 foi um dos mais loucos, porém mais forte quando o assunto é feminismo e moda. A androginia era vista nas roupas; mulheres usavam blazers com ombreiras enormes para mostrar que eram fortes e estavam começando a exercer o mesmo cargo que os homens. Porém nos anos seguintes começou o desgaste da moda, o que fez muitas feministas a odiarem com suas

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SOMOS FEMINISTAS!

regras e padrões absurdos. Apesar desses últimos tempos o feminismo e a moda sempre andaram juntos. Como já foi dito, a moda é uma extensão da sociedade, ou seja, uma extensão do feminismo. Muitas mulheres que se consideram feministas deveriam parar e pensar, elas conseguem mudar a visão de que moda é algo sem importância. Basta enxerga ela como algo útil e que pode ser usada a favor das mulheres. Atualmente as marcas e empresas de moda são comandadas por homens que trazem uma visão masculina sobre a mulher. Se no topo existisse uma feminista que trouxesse uma visão totalmente feminina referente ao corpo, a altura e o peso, com certeza a moda não seria a que conhecemos hoje. Mostrar para todos que não importa a roupa que a mulher

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está vestindo. Se ela opta por usar uma saia curta ou um vestido justo, isso não significa que pode ser assediada ou até mesmo reprimida por muitas mulheres. Isso mesmo, há o preconceito das mulheres, que muitas se dizem feministas, e abrem a boca para falar “que ridículo usar essa roupa”! A luta é pra que? Direitos iguais, isso inclui usar o que quero sem ser criticada. Infelizmente não há só o machismo, mas sim o julgamento das pessoas. Elas falam que moda é algo ridículo, porém não têm nenhum conhecimento sobre a história da indumentária. Por que não juntar esses dois temas importantes no mundo atual e transformar ao nosso favor? Um questionamento ótimo para ser respondido por qualquer pessoa, principalmente você que está lendo essa matéria.


QUAL A IMPORTÂNCIA DA MODA PARA O FEMINISMO? “A moda é de posibilidades que abrangem acontecimentos e os tornam capazes de serem apreendidos e compreendidos, e assim torná-los cada vez mais facilmente entendidos e assimilados pela maioria. A moda, como uma forma de comunicação não verbal, é sensível ao tempo e no tempo - o zeitgeist. Para o feminismo ela tem a importância de informar e formar opiniões, gostos, laços, entendimentos, lutas, avanços, vitórias e derrotas, relações, construções e desconstruções de corpos, sentidos e saberes sobre si mesma.” Luciana Andrzejewski - Historiadora, professora e figurinista “A moda é uma linguagem que exprime o presente, passado e futuro e principalmente ela pode refletir o que acontece na atualidade. Para entender a sociedade é preciso observar a estética. A moda é um dos principais meios para dinfundir a sociedade que muda, que avança e que luta pela igualdade de gênero.” Ana Caroline - Analista de Custos “Objetos, roupas, acessórios, culinária, música e comportamento estão diretamente ligados à moda e a sua forma de uso ao tempo em que se vive, sendo assim, podemos relacionar Feminismo x Moda como movimentos contemporâneos em constante evolução, onde muitas vezes é possível se notar-se o paradoxo entre eles.” Adriano Soares - Estilista “O feminismo é um movimento de afirmação de igualdade e direitos. A moda é uma maneira de expressar o indivíduo de uma forma íntima, dando a ele as ferramentas para construir uma imagem condizente com suas vontades. Ao meu ver, a moda fornece elementos que afirmam ideias e conceitos de acordo com a vontade e desejo de cada um.” karin Feller - Estilista

“A relação entre a moda e as esferas sociais e políticas se evidenciam em qualquer análise histórica ou social sobre os temas. Seguindo a afirmação de Lipovetsky, ela (a moda) é um “dispositivo social caracterizado por uma temporalidade breve”; ou seja, está em constante mudança, seguindo as mutações da sociedade em si. Ainda que com progressivas alterações no sistema de moda, que acompanham historicamente a emancipação feminina, o feminismo ainda tem muito a falar. Não é leviano dizer que inúmeras frases que visam justificativas para ações agressivas e abusivas contra mulheres se utilizam do discurso da roupa da vitima como fonte de provocação – a Eva que incitou Adão a morder a maçã. E este discurso não é marginal, não é um pequena exceção. É um eco do pensamento misógino ainda existente na sociedade. Há de se combater, há de se quebrar com uma ordem doente de forma menos sutil e mais impactante. Queimar os sutiens tem que ser apenas o começo..” Flávia Piña - Professora, socióloga e stylist

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O Mapa de Emprego em Moda Por: Ana Luiza Ancona, Pedro Lagoa e Priscila Martinez

Muitas vezes quando se escolhe estudar moda, nos rodeamos de incertezas e questionamentos quanto a essa carreira. Por não ser culturalmente aceita em nosso país, acabamos ficando mais inseguros quando escutamos ao nosso redor algumas questões como: ‘’Mas essa área dá dinheiro?’’ ou “Vai ser costureira ou trabalhar em shopping?”. Dá sim para viver trabalhando com moda e construir uma carreira consolidada dentro dela. A questão é que isso leva um tempo, muito esforço e dedicação para se destacar, não basta apenas ter talento, tem que ser diferente. O mercado da moda é como se fosse um labirinto onde se abrem e fecham portas a todo momento. Não existe regra e caminho certo para seguir, apenas muita persistência, trabalho, criatividade e inovação. O texto tem intuito de traçar um possível caminho que muitos vão passar ou já passaram e também, dicas para um caminho promissor. O primeiro passo é escolher uma faculdade ou um técnico, a primeira são 4 anos de estudo e a segunda de 2 à 3 anos. Design de Moda, Design com linha em formação em Moda, Ne-

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gócios da Moda, Modelagem enfim, esses são alguns nomes de cursos, por isso é importante saber qual área dentro da moda você deseja seguir. Por exemplo, o curso Negócios da Moda é voltado para gestão de marcas e o curso Design de Moda é voltado para criação, estilismo. Há também faculdades que traz as duas vertentes. Durante o período da graduação é importante à criação de um portfólio com os trabalhos desenvolvidos, para estágio e para futuros empregos. Aproveite para fazer contatos, o networking é de extrema importância para a área, converse com professores que atuam na área, vá à eventos, conheça pessoas do ramo e sempre se informe, isso pode abrir muitas portas. O primeiro contato com o mercado se dá através do estágio, ótima oportunidade para aprender e errar. O estágio pode surgir através de uma indicação de professor ( lembre-se do networking), de parcerias de ateliês com faculdades de moda ou da própria busca por um, o


que não é uma tarefa fácil. Geralmente, o estágio dura de 3 meses há 2 anos dependendo do contrato de cada empresa, alguns nem são remunerados. Procure aproveitar bastante o período de estágio e ganhar experiência para o mercado de trabalho. Depois de terminado o período do estágio a empresa pode ou não te efetivar. Quando finalizada a faculdade e não estamos empregados começa uma nova fase, a busca pelo primeiro emprego. Toda busca por um emprego não é fácil, principalmente para um recém formado. Em moda isso pode se transformar em algo um pouco mais difícil. Como ainda existe um grande preconceito com a área, frequentemente considerada superficial e sem retorno financeiro, muitas empresas acham que contratar um profissional de moda é para trabalhos banais e pouco remunerado. Apenas se a pessoa é muito reconhecida e traga lucro para a empresa será tratada como um profissional sério. Outro ponto que dificulta a procura por emprego são certas ciladas que entramos acreditando que nos ajudarão. Como por exemplo os sites de empregos de moda, que prometem uma carreira na área mas dificilmente o chamam para uma entrevista. Fazendo uma média por ano de 300 currículos

enviados se consegue entrar para 10 seleções, dessas 10 seleções se é chamado para 1 entrevista, que muitas vezes o cargo oferecido pela empresa não se encaixa no perfil divulgado no site. Estes sites podem ser uma perda de tempo e dinheiro, pois muitos ainda cobram mensalidades. A entrega de currículos também pode ser mais complicada do que imaginamos. Ao deixar seu currículo na empresa temos que ter ciência que seu currículo pode não chegar nas mãos dos responsáveis pela seleção. O ideal é você perguntar por esses responsáveis, entregar seu currículo e mostrar seu interesse, ou entregar para um amigo, conhecido dentro da empresa que o possa entregar á pessoa certa. Uma das coisas que frustram muito a procura do primeiro emprego é a questão do feedback após a entrega do currículo. A maioria dos currículos entregues não recebem um retorno dizendo se não foi aceito e o motivo para isso. Como por exemplo a falta de experiência, local de moradia longe da empresa, falta de um curso livre para o cargo, entre outros pontos que poderiam ajudar o profissional a melhorar seu currículo no futuro. Esta falta de resposta deixa o candidato á vaga desesperado e inseguro. Além de ser um desrespeito com os candidatos interessados ao cargo. Por isso temos que estar pre-

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parados para os “nãos” e o silêncio das empresas. Um outro fator que existe no mercado de moda é o “QI” (Quem Indica). A maioria das efetivações em moda são feitas com candidatos que tem contato com pessoas conhecidas da empresa ou amigos pessoais dos envolvidos. Isso corrompe a seleção para o cargo. Podendo enfraquecer a equipe da empresa e tirando a oportunidade de profissionais capacitados. Um dos pré-requisitos que as empresas pedem na hora de selecionar seus candidatos é a experiência na área. Essa é uma das maiores dificuldade dos formandos, pois não conseguem emprego devido à falta dela. Então recorrem à trabalhos que não exigem tanta experiência. Nessa fase é interessante começar a divulgar seu trabalho, seja pelas redes sociais ou até mesmo por sites especializados em portfólio, o importante é mostrar quem você é, o que você faz e o que pretende. Trabalhos freelances são bem vindos e necessários e até trabalhos sem remuneração, lembre-se que nessa fase o importante é ganhar experiência. Durante este período muitos investem em cursos livres, cursos de especialização, mestrado e

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MBA para incrementar o currículo, e isso é uma ótima oportunidade de crescer, fazer novos contatos e até conseguir um trabalho melhor remunerado. Mas fique atento! As empresas não se interessam por um currículo cheio de cursos e sem nenhuma experiência, pois querem pessoas capacitadas e que façam acontecer. Eles visam que uma pessoa com muitos cursos e pouca experiência podem custar mais para a empresa e que pode não ser tão produtivo, ativo e pronto para enfrentar problemas cotidianos relacionados ao cargo oferecido.


Indicação de Estágio Formação Acadêmica

Neste momento é importante a criação de um Portifólio.

Busca de Estágio

Estágio

Conhecer pessoas, fazer contatos, ou seja, networking é importante para começar a ser reconhecido na área.

Não Efetivação

Efetivação

Busca por Emprego

CURRÍCULO

Nem sempre ter vários cursos no currículo é garantia de emprego. As empresas valorizam mais a experiência.

Currículo On Line

“QI” Currículo Físico (Quem Indica)

FEEDBACK

Efetivação Não Efetivação 33


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A BELEZA ESTÁ NO SER As imposições cisgêneras da moda aos indivíduos trans e as tentativas de quebras de barreiras numa sociedade cristalizada

Carol Mayer | Emerson Meneses

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Pessoas transgênero têm conquistado, a duras penas, uma crescente visibilidade e expressividade em diferentes universos sociais. Ainda que timidamente, aos olhos das pessoas eles já existem e são notados. Não há mais como ignorar esta importante parcela da sociedade. O ambiente de moda também percebe isso. Uma das mais famosas modelos brasileiras trans, Lea T, não se esconde mais e diz em entrevistas, “Eu tenho muito orgulho de ser quem eu sou”. Carol Marra, modelo e atriz, capa da revista Trip em 2012, protagonizou o primeiro ensaio sensual de uma modelo trans naquela revista. Entre inúmeros exemplos do exterior poderíamos citar algumas modelos importantes na indústria da moda. É o caso de Andreja Pejic, a supermodelo australiana que, em início de carreira, fazia campanhas tanto de linhas femininas como de masculinas, e também Carmen Carrera, norte-americana que foi estrela da terceira temporada de RuPaul’s DragRace e agora é requisitada por fotógrafos como Steven Meisel e David LaChapelle.

Por aqui ainda estamos acostumados a perceber a presença de transgêneros, em especial a mulher trans, representados em contextos específicos e carregados de estigma, como a prostituição e a ridicularização em programas de humor. Em um país como o nosso, líder no ranking de países que mais matam travestis e transexuais, dar visibilidade a um indivíduo transgênero possibilita novos olhares sobre essas pessoas, tanto pelo lado de dentro da comunidade trans, que cria novas perspectivas e vê sua humanidade reconhecida e validada, quanto pelo lado de fora, que aprende a enxergar e superar a situação de isolamento e estigmatização. De um lado o universo da moda já adota modelos trans em campanhas e em editoriais, acolhendo as diferenças e mostrando-se aberto ao novo e até agora incompreendido. Mas de outro lado, está a chamada vida real. O que falta para as pessoas trans serem totalmente aceitas? Como a moda pode auxiliá-las?

Em meio a isso tudo, a sociedade brasileira está, infelizmente, um passo atrás. Fonte da imagem: Wikimedia

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A inclinação impositiva da moda é outro fator a ser questionado. Mulheres trans deveriam utilizar da vestimenta feminina como forma de passarem despercebidas? Isso facilitaria a aceitação de sua existência para a sociedade, ou reforça o estigma? Por que a necessidade de serem discretas, quando na verdade elas lutam pela existência e não pela invisibilidade? Por que o sistema invisibiliza e exclui pessoas trans da sociedade, aceitando-as apenas quando são discretas ou quando minimamente se aproximam de padrões cis impostos pela sociedade e consequentemente pela moda?

Foto: Sivana Nascimento

Tendo essas questões em mente, conversamos com duas interessantes mulheres trans, e coletamos suas impressões – por vezes opostas – a respeito da moda e mais, da própria existência. Helena Vieira, 25 anos, colunista da HuffPost Brasil, relata o sofrimento na busca por uma certa aceitação.

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Diz ela: “Eu sou trans. Preciso “ parecer” cis? Eu jamais serei uma mulher cis, sou uma mulher, mas jamais serei cisgênero. ” Entretanto, Helena concorda que ser “passável”, através do corpo e da roupa pouparia uma série de problemas que transgêneros enfrentam diariamente, tais como os olhares de curiosidade, medo e repulsa na rua. Helena questiona: “Será que este meu corpo, que é um corpo trans, não pode existir como tal no mundo? ”E ressalta algo importante a se pensar: que o desejo de adequação de mulheres trans por vezes as empurram a um desejo de apagar a própria transgeneridade, seja pela aparência forçosamente cis, pela vestimenta dita apropriada ou pela invisibilidade que se veem forçadas a abraçarem e que as leva a um sentimento de incompletude. Izabela Freire, uma mulher trans, alta, loira e magra de 26 anos, que se assemelha muito à modelo Mariana Weickert, orgulha-se de ser “hiperconsumista de moda” e atesta: “Gosto de saber que as pessoas não notam que sou trans. Sempre sou feminina ao máximo e uso roupas que valorizam minha feminilidade”. Izabela admite que em alguns momentos sua transgeneridade é reconhecida, mesmo sob todos os artifícios que adota: roupas, maquiagem, joias. Embora isso não a incomode, ela prefere ser vista e desejada como uma mulher cis. Que esse desejo ofusque uma de suas características mais fortes, a de ser uma mulher trans, é algo


que não parece afligi-la. Por que há o desejo de que a roupa deveria modificar e adequar o corpo a uma cisgeneridade? A verdade é que ambas entrevistadas embora, discordem de certa forma sobre a necessidade de adequação, parecem concordar que o estigma da aceitação as seguirá até determinado ponto de suas vidas.

tionamento do que a moda ainda tenha para contribuir na aceitação de homens e mulheres trans pela sociedade. Quebrar o binarismo de homem/mulher cisgêneros se faz importante. Nada mais é apenas branco ou preto. Abracemos o belo espectro de cores e possibilidades do ser. A vida, definitivamente, tem as cores mais variadas.

A dualidade de visões talvez seja enriquecedora para o ques-

Fonte da imagem: Wikimedia

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Entre Gêneros A fluidez entre o masculino e o feminino e a disposição de diferentes proporções e estruturas, busca imprimir contemporaneidade num vestir para todos.









Entre Gêneros | Editorial Fotos: Carol Mayer | Grazi Angelica Direção artística, produção executiva & styling: Emerson Meneses Assistente: Deise Navarro Modelo: Estevão Oshima Coleção: Estevão Oshima Acessórios: acervo pessoal Agradecimentos: Edifício Cinderela Calu Trevizani Eduardo Torres

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O mais importante do bordado é o avesso De sacos à lençóis, o caminho traçado pela moda paulistana Era uma vez um Brasil moderno, em franca industrialização, que em certo momento percebeu a necessidade de vestir... primeiramente produtos, e não pessoas. Sim, parece estranho, mas foi assim que a produção têxtil brasileira nasceu: produzindo, ao invés de roupas, sacos para embalar produtos. Foi assim que surgiram no início do século 20 as primeiras indústrias têxteis paulistas: a Fábrica Santana, do conde Álvares Penteado, a Cia. Nacional de Tecidos de Juta, de Jorge Street, ambas destinadas à fabricação de sacaria para a produção de café. Em meados dos anos 1920, inaugurase também a Fábrica de Tecidos Tatuapé S.A., na avenida Celso Garcia, Zona Leste de São Paulo, fundada pelo grupo Bunge para a fabricação de sacaria para a farinha de trigo do Moinho Santista, fundado pouco antes. Aos poucos, o desenvolvimento dessa incipiente indústria têxtil modifica os hábitos de famílias inteiras. De sacos para farinha, a Fábrica Tatuapé expande sua linha de produtos para roupa de cama industrializada. Era comum, entre as famílias brasileiras, o costume de adquirir peças bordadas, confeccionadas artesanalmente, para compor o enxoval do casamento ou do dia-a-dia da casa. Muitas mulheres realizavam o bordado em casa, uma prática tradicionalmente feminina que ajudava na renda familiar e ao mesmo tempo lhes permitia continuar cuidando da casa e dos filhos. Sob a marca Santista, a Bunge colocou no mercado os primeiros lençóis industrializados no início dos anos 1950. A massiva aceitação dos lençóis Santista marcou uma rápida mudança desse hábito arraigado. E, o que aconteceria a partir dessa mudança? O que mudaria na vida destas bordadeiras? E como o bairro do Tatuapé seria modificado durante a estruturação desta atividade industrial e ao término dela? É provável que a tecelagem Santista, que começou com 650 funcionários mas

chegou a ter 4 mil empregados com o passar dos anos, tenha absorvido grande parcela dessas antigas operárias, que de operárias domésticas se tornaram empregadas formais da empresa. E, ao passarem a trabalhar fora, estas mulheres já não tinham mais tempo para costurar as roupas usadas pelas suas próprias famílias. Constitui-se assim um mercado para roupas prontas, impulsionando um desenvolvimento ainda maior da indústria de confecções no Brasil. Nesse processo, como vemos, o segmento de cama, mesa e banho e o de roupas vieram em um segundo momento, sucedendo-se à produção têxtil para uso industrial. Do bordado em enxovais não sobraria nem o avesso, uma vez que seria mais raro, mais caro, feito para ocasiões especiais, mesmo que ainda muito desejado. Para os saudosistas, como eu, e para aqueles mais jovens que nunca ouviram falar das empresas que fizeram história na moda, como a Bunge com os sacos de café, os lençóis e as roupas que eram produzidos e vendidos em larga escala; ter contato com esse dado da história é enriquecedor. Imaginar o que fora e no que se transformou nos faz perceber que o espaço para o novo, na moda e na história, pode ser bem-vindo. Em tempo, a Fábrica de Tecidos Tatuapé ficou abandonada durante as décadas de 1980 e 1990, sendo adquirida pelo Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc) em 1998. O Sesc, inicialmente, oferecia exposições e espetáculos nas mesmas instalações originais da fábrica. Uma grande reforma foi feita entre 2006 e 2010 mantendo-se parte da estrutura original do prédio. Se, antes, como mencionei, 4 mil operários conviviam no espaço da Tecelagem Tatuapé, em 2011, nas instalações do Sesc, eles se transformaram em 1 milhão de visitantes. Agora percebo que no término das atividades de uma fábrica, nem sempre tudo é abandono. A canção “O que eu não conheço” gravada por Maria Bethânia, pode nos ajudar a entender a mudança: “É o segredo do ponto / O rendado do tempo / É como me foi passado o ensinamento”.

Emerson Meneses 50



Trabalho desenvolvido pela turma de pós-graduação em Criação de Imagem e Styling de Moda 2015 para a disciplina de Design e Comunicação Visual, com coordenação da professora Ms. Domitila Carolino.


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