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Editorial

SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO

Jornal da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

Março de 2012 | ANO 10 | N.º 30

2 Editorial 3 Saúde 4 Os “Novos” Desígnios da Ordem dos Enfermeiros…

5 O Enfermeiro, uma mais valia para o Cidadão! 6 Enfermeiros na Cruz Vermelha Portuguesa

7 “Força e coragem para todos!” 8 A literacia em saúde não deveria ser também um direito das crianças? 9 Quando é mau-trato? 11 Tuberculose – Dia Mundial da Tuberculose - 24 de Março 12 Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina 13 Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s 14 Associação para o Planeamento da Família 15 Sugestão de Lazer: Uma viagem ao Lugar dos Afetos 16 Dia Internacional do Enfermeiro 2012

“ENFERMAGEM: UMA APOSTA SEGURA PARA A SUA SAÚDE!”

Enfermagem e o Cidadão | 1


Editorial

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Pela Renovação... Esta é a primeira edição do Jornal “Enfermagem e o Cidadão” após a tomada de posse dos recentemente empossados órgãos estatutários da Ordem dos Enfermeiros. Esta mudança de mandato acontece num período particularmente difícil. Os dias que vivemos são marcados pela imprevisibilidade, em que as nossas capacidades de adaptação e abnegação, como profissionais e cidadãos, são constantemente colocadas à prova. Vivemos uma época de crise económica, social e política, mas será intolerável pensar que também cairemos numa crise de valores. A crise que vivenciamos será longa e difícil. No entanto, considero que o direito à saúde é um valor inalienável, qualquer que seja o contexto, e deve ser uma prioridade, qualquer que seja o caminho político trilhado. A nossa missão é esta: defender, afirmar e fortalecer todas as circunstâncias e políticas que promovam a prestação de cuidados de enfermagem de excelência ao cidadão. De igual forma, pretendemos denunciar posturas que atentem contra esse valor. Acreditamos que as dificuldades que se impõem à sociedade e em particular à saúde só poderão ser ultrapassadas com a afirmação e demonstração do elevado e gratificante compromisso moral, pessoal e profissional que os enfermeiros têm consigo e com os cidadãos. Mais do que nunca, os valores da solidariedade, da partilha e da entre ajuda devem emergir e sobrepor-se ao contexto adverso que experienciamos. E os enfermeiros não estão alheios a esta realidade. De todos os pro-

Ficha Técnica

fissionais de saúde, os enfermeiros são aqueles que mais próximo se encontram do cidadão, melhor conhecem as suas fragilidades, problemas e o acompanham durante todo o seu ciclo vital. O cidadão encontra no enfermeiro o parceiro privilegiado para a construção de um projeto de vida saudável. Quanto maior for o envolvimento dos cidadãos com a sua saúde maior será a preservação desta, porque só defendemos aquilo que compreendemos como importante. Por isso apelo aos cidadãos a aproximarem-se da Ordem dos Enfermeiros, acompanhando as iniciativas desta junto da comunidade, a par das diferentes parcerias estabelecidas com diversas instituições. A Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros pretende manter a estreita comunicação com os cidadãos e com a comunidade. No entanto, consideramos imprescindível, dado o atual contexto, renovar os meios de comunicação e repensar as estratégias até agora implementadas com o objetivo de ampliar a voz dos enfermeiros e chegar a mais cidadãos. Através da proximidade, abertura e colaboração dos enfermeiros com a comunidade, pretendemos contribuir para a literacia em saúde. É nosso intuito que a Ordem se configure como facilitadora e promotora da difusão de informação de qualidade sobre a saúde para os cidadãos. Este é o nosso compromisso, Isabel de Jesus Oliveira Presidente do Conselho Directivo Regional Secção Regional do Centro – Ordem dos Enfermeiros

Distribuição Gratuita • Jornal da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros; Av. Bissaya Barreto, 185; 3000-076 COIMBRA; Tel.: 239 487 810; Fax: 239 487 819; www.ordemenfermeiros.pt; E-mail: srcentro@ordemenfermeiros.pt • Directora Isabel Oliveira • Coordenação Editorial Diogo Brandão e Pedro Quintas • Conselho Editorial Membros suplentes dos òrgãos Estatutários da Secção Regional do Centro • Conselho Científico Berta Maria de Jesus Augusto; Isabel de Jesus Oliveira; Jorge Paulo de Oliveira Leitão; Rita Maria Ferreira Leal; Helder Abel Chaves Ferreira Lourenço • Colaboradores Especiais Jorge Leitão; João Araújo; Rafael Alves; Hélder Lourenço; Nuno Monteiro; Maria Adelaide Freire; Pedro Quintas; António Fernandes; Jorge Ribeiro; Helena Junqueira • Revisão Editorial Pedro Quintas; M.ª João Henriques • Fotografia PMP/Convidados/Internet • Secretariado Rute Dias da Silva; João Pedro Pinto; Elizabete Figueira; Liliana Reis; Fernanda Marques • Maquetização, Produção PMP COIMBRA • Tiragem 3.000 exemplares • Depósito Legal 178374/02 • Impressão PMP – TEXTOS ESCRITOS AO ABRIGO DO ACORDO ORTOGRÁFICO

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Falando Sobre...

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Saúde Jorge Leitão Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica

No próximo dia 7 de abril comemora-se mais um Dia Mundial da Saúde(1), promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1950, com o grande objetivo das pessoas se consciencializarem da importância da saúde nas suas vidas quotidianas, para além de desenvolverem formas de se cuidarem, alertando para os principais flagelos que podem atingir a população muncial. Este ano, o tema central será dedicado à promoção de um envelhecimento ativo e saudável. Sem dúvida, uma proposta muito pertinente e atual nos dias de hoje. De facto e acompanhando a própria existência da OMS, fundada a 7 de abril de 1948, temos assistido a um fenómeno progressivo, que emergiu nas sociedades ocidentais: o envelhecimento demográfico das populações, com uma sociedade com, cada vez, mais pessoas idosas. Muito em breve, teremos mais pessoas idosas do que crianças, as atuais gerações são incapazes de se renovarem. Esta transformação social obriga a uma mudança dos paradigmas atuais, representando simultaneamente um desafio e uma oportunidade, pois novas questões de saúde vão surgir, obrigando a uma consciencialização coletiva, mas igualmente ativa, para proteger a saúde e o bem-estar das pessoas, designadamente as idosas. Se por um lado, os avanços crescentes da ciência médica permitiram ganhar anos à vida, constituindo-se como uma das maiores conquistas da humanidade, por outro lado, surgiram novas realidades em vários domínios que obrigaram a mudanças politicas, nomeadamente pela adequação dos cuidados de saúde às novas necessidades das pessoas idosas, pela promoção de um envelhecimento ativo e participativo na sociedade. A própria União Europeia definiu o ano de 2012 como o ano europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações(2), entendido como o momento oportuno para uma reflexão conjunta sobre as consequências e oportunidades derivadas do facto dos europeus viverem mais anos, perante a realidade de

permanecerem mais tempo no mercado de trabalho, mas também de partilharem a sua experiência com as gerações mais novas, desempenhando um papel ativo na sociedade, mantendo uma vida saudável e gratificante. Envelhecimento ativo e com saúde, é pois o grande repto atual, devendo ser promovido quer a nível individual quer a nível coletivo. A nível individual podemos intervir para prevenir ou adiar estados associados ao envelhecimento, em iniciativas de educação para a saúde, nas várias atividades da vida diária, designadamente pela prática de uma alimentação saudável, pela prática de atividades desportivas e de lazer, repouso adequado, vigilância e controlo do seu estado de saúde. Mas como somos todos diferentes uns dos outros, essas intervenções também terão de ser necessariamente diferentes e ajustadas a cada pessoa idosa. Intervir a nível coletivo pressupõe o interesse e envolvimento do poder político para a criação de infraestruturas de apoio às pessoas idosas e às suas famílias, criando mecanismos para o aproveitamento de todos os recursos existentes, desde os da saúde aos do ensino. Experiências nalguns países do norte da europa têm sido implementadas com grande sucesso, aproveitando o contacto entre gerações para a transmissão de sabedoria, valores, sentido de responsabilidade e experiência de vida, contribuindo assim ativamente no processo educativo dos mais jovens. Um longo caminho há a percorrer, particularmente exigente e penoso, num contexto de dificuldades sociais, económicas e financeiras, cada vez mais marcantes e crescentes. Tudo dependerá da nossa capacidade coletiva em transformar as dificuldades conhecidas em oportunidades de crescimento e desenvolvimento. (1) (2)

- http://www.who.int/world-health-day/en/ - http://europa.eu/ey2012/ Enfermagem e o Cidadão | 3


Falando Sobre...

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Os “Novos” Desígnios da Ordem dos Enfermeiros… Hélder Lourenço Especialista em Enfermagem S. M. e Psiquiátrica

Vivemos atualmente uma conjuntura conturbada, tanto a nível económico como sócio-político, que originou transformações estruturais do nosso sistema de saúde com constantes atropelos à dignidade da nossa profissão. Exige-se, pois, à Ordem dos Enfermeiros (OE), uma postura intransigente na prossecução do seu desígnio, defendendo o valor da enfermagem, assegurando a uma só voz o reconhecimento deste, com uma maior visibilidade e afirmação social, fortalecendo-a. Assim, construir uma enfermagem firme, unida e motivada, na minha opinião, só se consegue através da proximidade, abertura e colaboração com TODOS os enfermeiros, em todas as suas áreas de exercício profissional (prestação de cuidados, gestão, investigação, docência, formação e assessoria), bem como contando igualmente com a articulação com outros profissionais de saúde, associações profissionais, culturais, desportivas, entre outras e, com os utentes, suas famílias e com o CIDADÃO em geral. É intenção desta nova equipa da Secção Regional do Centro da OE (SRC), onde o Conselho de Enfermagem Regional está inserido, “arregaçar as mangas” e gradualmente cimentar os alicerces já anteriormente construídos, devidamente condicionados à realidade de uma região onde 13.411 membros vão pugnar com toda a certeza por uma visão moderna, que paute a sua ação pela exigência e respeito pela profissão, sendo fomentadora de práticas seguras para os profissionais e cidadãos, sempre suportados pelo Código Deontológico do Enfermeiro, nomeadamente, os seus valores e princípios gerais: a responsabilidade inerente ao papel assumido perante a sociedade; o respeito pelos direitos humanos na relação com os clientes; a excelência do exercício na profissão em geral e na relação com outros profissionais, a via para alcançar a centralidade do cidadão no sistema de saúde, a qualidade das respostas em saúde e o reconhecimento social da profissão de enfermeiro, apontando para um futuro imediato, trilhando novos caminhos, sem dúvida difíceis, mas, ao mesmo tempo motivadores, novas ideias e diferentes perspetivas que nos conduzam a uma sociedade mais saudável e mais inclusiva. Temos como “Grandes Opções do Mandato de 20122015”, as seguintes: - Promover o desenvolvimento e valorização científica, técnica, cultural e profissional dos seus membros a nível regional através da realização de um colóquio de boas práticas, denominado CUIDAR´12; - Estimular a implementação de sistemas de melhoria continua da qualidade do exercício profissional dos enfermeiros, demonstrando ganhos em saúde relacionados com os cuidados de Enfermagem; 4 | Enfermagem e o Cidadão

- Zelar pela observância dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem e pela qualidade do exercício profissional dos enfermeiros, criando um concurso regional onde serão premiados os melhores trabalhos que preencham os requisitos apresentados, dando ao mesmo tempo continuidade, apoiando e dinamizando os projetos/programas anteriormente protocolados; - Pugnar pela adoção de dotações seguras nos serviços de saúde locais; - Acompanhar o exercício profissional na área de abrangência da secção regional, nomeadamente nas reformas dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), Emergência Pré-Hospitalar (EPH) e hospitais, através de visitas programadas aos respetivos locais; - Melhorar a comunicação com os membros e constituir elos de ligação entre a OE e os enfermeiros que estão no terreno; - Atribuir os títulos de enfermeiro e enfermeiro especialista; - Promover as boas práticas, formação e a investigação em Enfermagem, na SRC, nomeadamente, através de publicação de artigos dos colegas, sobre educação para a saúde em jornais e revistas de abrangência regional. Os desafios do presente e futuro preocupam-nos verdadeiramente. São vários e complexos, mas serão encarados com uma nova filosofia, inteligência estratégica e proactividade. Unidos sempre pelo profícuo diapasão da Enfermagem Primeiro!


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Tem a Palavra

O Enfermeiro, uma mais valia para o Cidadão!

Sandra Castro Enfermeira

Quando alguém pergunta o que faz, quantas vezes já respondeu sou Enfermeiro? Quantas vezes já se perguntou se “sou enfermeiro” é suficiente? Para uma criança ser enfermeiro, significa “dar picas”, o que tristemente não lhes dá uma ideia simpática da profissão. Para um adulto saudável, o enfermeiro é aquele profissional que está no Centro de Saúde e que telefona sempre que alguém da família fica com o boletim de vacinas em atraso. Para o idoso, reformado, cujo dia a dia não tem a agitação de outrora, o Enfermeiro torna-se o ouvinte e a pessoa de referência que se pode encontrar numa casa em que todos parecem absorvidos pelo trabalho. Ser enfermeiro, é isto, é verdade, mas também é muito mais. Num dia de trabalho como tantos outros numa Unidade de Cuidados de Saúde, foi pedido a um enfermeiro que ajudasse um utente cujo edema dos membros inferiores era tão acentuado, que o senhor não conseguia andar sem apoio e não conseguia calçar os seus sapatos, por isso apresentava-se de chinelos de quarto e usava bengala. O utente cuja esperança, de voltar a calçar sapatos, já lhe tinha sido retirada por outro profissional de saúde, entrou na sala de tratamentos com um olhar triste, marcado pelas dúvidas que trazia com ele. Combinou-se que viria três vezes por semana à Unidade, que se colocariam ligaduras nas pernas, e era provável que no inicio estranhasse ou não fosse muito confortável. Mas quando alguém já não tem esperança de ver a sua situação melhorar, aceita. Assim foi, durante algum tempo, o utente dirigiu-se

apenas aos enfermeiros e fazia sempre o mesmo: entrava, pousava a bengala, descalçava os chinelos, sentava-se com dificuldade, e dizia “a senhora enfermeira é que sabe, faça o que tem de ser feito”. Passados dois meses, deu-se a análise do trabalho de enfermagem, na perspetiva de alguém que passou a ser companhia dos enfermeiros, que estavam algumas horas na sala de tratamentos. Acanhadamente disse “vocês trabalham muito”, e continuou a manifestar a sua opinião, dizendo que os enfermeiros escutam os doentes, cuidam, encaminham-nos para as consultas necessárias e ainda “arranjavam” tempo para dar uma palavra amiga. Quatro meses mais tarde e num desabafo de agradecimento envolto em lágrimas, o utente cujos ténis eram agora o calçado habitual, deu a conhecer a sua história e como ela tinha mudado. Contou que a sua casa era em frente ao mar, e durante muito tempo, andar na avenida para comprar o jornal no fim da rua se tinha tornado praticamente impossível, mesmo com o apoio da bengala. Com satisfação e alegria revelou que agora não só ia até ao fim da avenida, como também regressava sem qualquer ajuda, voltando assim às suas atividades diárias. O utente que se tornou uma cara familiar dos enfermeiros que naquela sala trabalhavam percebeu por ele mesmo o que é ser enfermeiro. Entendeu que Enfermeiro é aquele que acompanha, cuida (ainda que supostamente não haja solução), apoia, chora e também ri, tem uma palavra amiga e que conforta a pessoa e a família.

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Enfermeiros na Cruz Vermelha Portuguesa Nuno Monteiro Enfermeiro

O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho teve a sua origem em 1859 na Batalha de Solferino, onde Henry Dunant, ao ver o sofrimento dos feridos no campo de batalha, chamou voluntárias de povoações vizinhas para o ajudarem. Em Portugal foi criada em 1865 a Sociedade Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, na altura com o curioso nome de “Comissão Provisória para Socorros a Feridos e Doentes em Tempo de Guerra”, tendo como fundador o Dr. José António Marques, Médico e Militar de carreira. Desde o início da Cruz Vermelha Portuguesa, os Enfermeiros contribuem com o seu trabalho e com o seu Voluntariado, “carregando às suas costas” o símbolo da mais antiga Associação Humanitária, desempenhando tarefas e cumprindo missões que vão desde a Formação – na área do Socorrismo, entre outras – até ao apoio geral, como mais recentemente se viu no apoio aos Sem-abrigo na vaga de frio que atravessámos. Trabalhamos (nós Enfermeiros) em apoios vários, dos quais saliento a colaboração com o Instituto Nacional de Emergência Médica / Centro de Orientação dos Doentes Urgentes (UINEM/CODU), realizando socorro em situações de Emergência Médica, a colaboração com os vários Agentes de Proteção Civil, assegurando apoio de retaguarda e, na “linha da frente” em situações de crise ou catástrofe; a colaboração com outras associações que auxiliam os mais desfavorecidos (a Caritas Diocesana, por exemplo), formamos Socorristas, sejam eles 6 | Enfermagem e o Cidadão

Voluntários da Cruz Vermelha ou não, e ajudamos a “formar pessoas”. Mas trabalhamos sempre em Equipa, em conjunto com os restantes profissionais e Voluntários da Cruz Vermelha. Embora me tenha sido pedido para descrever as atividades desenvolvidas pelos Enfermeiros na Cruz Vermelha Portuguesa, penso que também será justo descrever o cuidado com que cumprem a sua missão… O facto de sermos treinados para Cuidar e não para “simplesmente” tratar ou executar, faz com que tenhamos o tato necessário para lidar com situações de fragilidade (uma morte recente ou eminente…), faz também com que tenhamos a atenção necessária para despistar situações potencialmente graves, e atuar conforme a nossa avaliação, sentindo-nos mesmo assim presos nas nossas limitações. O facto de todos os dias, no nosso quotidiano profissional, lidarmos com situações de “stress” físico e emocional, faz com que estejamos aptos a trabalhar em situações de tensão, e muitas vezes a liderar a atuação de uma Equipa de Socorro em situações potencialmente críticas (situações com várias vítimas). Em jeito de conclusão afirmo, sem qualquer dúvida, que os Enfermeiros na Cruz Vermelha fazem questão de cumprir a sua missão com todo o profissionalismo e toda a dedicação que sempre mostraram desde o início da sua Profissão, muitas vezes pondo em risco o seu descanso, o seu bem-estar, contribuindo para enaltecer a imagem deste grande Movimento que é a Cruz Vermelha.


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“Força e coragem para todos!” Maria Adelaide Freire Enfermeira

“Chamo-me Maria Adelaide Freire, tenho 55 anos, sou enfermeira e há um ano foi-me diagnosticado um tumor da mama. Como enfermeira sempre me interessei pelos assuntos de saúde em geral e, é óbvio, pela minha saúde, em particular. De um momento para o outro, senti uma “anomalia” num dos peitos, mas confesso, que por receio do diagnóstico, apenas fui fazer uma ecografia passados 4 meses. Eu, mais que ninguém, reconheci e reconheço a minha culpa, senti uma revolta acrescida, pelo facto de ser enfermeira, pois estou habituada a tratar dos outros e não os outros de mim. Muitas vezes recordo as palavras que tinha para as minhas doentes: “O cabelo não interessa nada!” mas…agora que passei pelo mesmo…“Sim…o cabelo interessa e muito! Mas ele cresce e o meu já está a crescer!”. Fiz a ecografia por iniciativa própria e só depois recorri ao médico, pois logo na primeira ecografia me foi transmitido que havia algum problema. Tive mais tarde… a resposta que já temia. Eram inevitáveis as etapas pelas quais eu tinha de passar: cirurgia, 6 sessões de quimioterapia, 33 sessões de radiotera-

pia, alopécia (queda do cabelo) e todas as alterações que o meu corpo sofreria. Durante 1 ano o hospital deixou de ser o meu local de trabalho, para vir a ser o local onde todos os dias eu lutei, não pela vida dos outros, mas sim, para vencer todas estas etapas, com a ajuda de enfermeiros, médicos e auxiliares. Foi fundamental o apoio da família e dos amigos, sei que foi penoso para eles, mas sem eles não seria possível atravessar este período tão difícil da minha vida. Tê-los à nossa volta, formando uma corrente de amizade e amor, é o maior dos remédios que alguma vez possamos “tomar”. A minha recuperação tem sido boa. Tenho feito os exames de rotina e graças a Deus, tem corrido tudo bem. Visto bem, um dos meus maiores desânimos foi não conseguir ir trabalhar. Estar ocupada e ter um bom ambiente de trabalho é motivador e uma grande ajuda para ultrapassar as dificuldades. Eu senti tudo isto. Este é o meu testemunho verdadeiro. Felizmente há cada vez mais vencedoras que, como eu, acreditam que é possível vencer o cancro e ter uma vida normal. Tenham fé, acreditem em Deus.”

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Todos os Dias são Dias

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A literacia em saúde não deveria ser também um direito das crianças? - A importância da promoção da literacia precoce Pedro Quintas Enfermeiro

Era uma vez uma criança, os seus pais, um enfermeiro e um amigo especial – o livro. No espírito da comemoração do Dia Mundial da Criança no próximo dia 1 de junho surge este artigo para assinalar a efeméride, com o objetivo de sensibilizar todos os pais, família e comunidade para a importância da promoção da literacia precoce. De uma forma simples podemos dizer que a literacia precoce é o que as crianças sabem sobre a leitura e sobre a escrita antes de saberem realmente ler e escrever. Em relação ao amigo especial – o livro – esse é um excelente instrumento do desenvolvimento cerebral que deverá entrar em cena a partir dos seis meses da criança. Mas porquê introduzir o livro na vida da criança logo aos seis meses de idade? Na verdade, é a partir desta data que as crianças começam a interessar-se por figuras e imagens e a associá-las a sons. Os primeiros livros (feitos de materiais seguros, como cartão grosso, esponja, pano ou de plástico), devem conter figuras simples, coloridas e facilmente identificáveis. Os pais devem introduzir o jogo de apontar e nomear a figura, associando uma imagem e um som. Também sabemos hoje que o desenvolvimento das potencialidades de uma criança, que a vão tornar mais capaz em termos de linguagem, de leitura e de escrita, se processa desde o primeiro ano de vida. De facto, a introdução precoce dos livros infantis e adequando sucessivamente a técnica de leitura e o tipo de livros às diversas idades, fomenta a familiaridade com o objeto livro e o seu manejo, tornando-o numa referência quotidiana. Por outro lado, no que se refere ao conteúdo, o livro diversifica e amplia a linguagem utilizada com a criança, amplia a realidade, estimula a imaginação, a associação de ideias, a capacidade de concentração, ajuda a lidar com emoções e medos e, transmite regras e sistemas de valores. Importa também salientar que o livro é uma ponte emocional entre as crianças e os adultos, ajudando-os a interagir e a estar juntos, ajudando a criar um ambiente de segurança, contribuindo para a vivência do livro como algo emocionalmente compensador e, podendo fazer parte do ritual de transição na hora de dormir. Importa também salientar que a idade com que se inicia a leitura de livros às crianças é um fator que decididamente favorece o desenvolvimento da linguagem e do interesse e prazer que aquelas terão nessa atividade no futuro. Assim, 8 | Enfermagem e o Cidadão

a estimulação precoce com livros e a interação com os adultos no ambiente familiar está associada a um maior desenvolvimento da linguagem, a um maior interesse precoce por livros e a um desenvolvimento de aptidões essenciais para o futuro da criança. Por isso a leitura de livros em voz alta às crianças (e a partir dos seis meses de idade), é a tarefa individual com mais impacto na capacidade de leitura e de adaptação escolar. Também está provado cientificamente que o grau de literacia relaciona-se diretamente com os anos de sobrevivência, com a capacidade de entender mensagens na área da saúde, com a autoestima, com a capacidade de melhorar os estilos de vida e, com a capacidade de autocontrolo nas situações de doenças crónicas (asma, hipertensão arterial e diabetes). Por estas razões não se esqueça de ler uma história ao seu filho(a) todos os dias. Um gesto tão simples tem tão grande repercussão. Por isso ler às crianças é uma recomendação dos profissionais de saúde e dos enfermeiros em particular. Porque a educação faz bem à saúde. E já agora, peça aos profissionais de saúde para prescreverem, por rotina, livros à vossa família! Referências Bibliográficas “Ler + dá Saúde” - projeto de promoção da literacia precoce em Portugal e materiais de divulgação, disponíveis na web em http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/lermaisdasaude/. Sugestão de Leitura: “Um Dia no Hospital dos Pequeninos” de Pedro Stuq Palma e José Souto Moura, 2011, Lisboa: Prime Books. Projeto didático com o intuito de ajudar pais e educadores a ensinar as crianças a perder o medo da bata branca. A história do Pedro, o menino cujo urso de peluche, Egas, faz um rasgão no braço e é levado ao Hospital dos Pequeninos, onde percorre um trajeto similar ao de qualquer criança num Serviço de Urgência, que pretende levar os mais novos a perceber o funcionamento de um hospital. Acabou muito recentemente de ser recomendado pela Universidade de Harvard (EUA).


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Quando é mau-trato? António Fernandes Enfermeiro Especialista de Saúde Infantil e Pediátrica na urgência Pediátrica do CHTV

Quando se pretende abordar os maus tratos, a sua delineação implica, antes de mais, procurar defini-los, ou seja, saber o que eles são. O código penal português (Artº 152º-A) estipula que para o crime de maus-tratos a menores, tem de haver prática reiterada ou não de maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas sexuais. Já a Organização Mundial de Saúde (2002), de uma forma mais abrangente, define abusos ou maus-tratos às crianças, como todas as formas de lesão física ou psicológica, abuso sexual, negligência ou tratamento negligente, exploração comercial ou outro tipo de exploração, resultando em danos atuais ou potenciais para a saúde e desenvolvimento da criança. Num país que se diz de flexíveis costumes, ainda é vulgar o recurso às palmadas para disciplinar, reprimir ou castigar os mais pequenos. Quando toda a retórica se esgota, aplica-se a conhecida bofetada para que os miúdos percebam quem manda em casa. Censuras à parte, a verdade é que a distância entre um simples estalo e maus-tratos ou abuso a menor é bastante

ténue, tornando-se difícil uma definição. Etzioni (1993) defendia que a atribuição de direitos às crianças é um atentado aos direitos e capacidades dos pais, pautando-se a sociedade atual por uma sobrevalorização dos direitos em detrimento das responsabilidades. Segundo Guimarães J. (2009), os próprios juízes, quando confrontados com um processo em que a vítima é um menor, têm muita dificuldade em definir maus-tratos, especialmente quando não são situações flagrantes, como abuso por um pai a uma filha. É que desde o infanticídio até às lesões, fraturas ósseas ou síndrome da criança abanada, tudo são situações ou patologias orgânicas simples de definir (Formosinho e Araújo, 2004). Esta indefinição estende-se também aos maus-tratos psicológicos, praticados no sentido de magoar ou ferir as crianças. Sobre os menores, que agora têm “mais valor intrínseco que há 20 ou 30 anos”, é frequentemente criada uma expectativa pelos pais que nem sempre se cumpre, levando a que estes exerçam toda uma pressão capaz de destabilizar o desenvolvimento do Enfermagem e o Cidadão | 9


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Neste sentido consideramos mau-trato qualquer forma de tratamento físico e/ou emocional, não acidental e inadequado, resultante de disfunções ou carências nas relações entre crianças ou jovens e pessoas mais velhas, no contexto das relações de responsabilidade, confiança e/ou poder. Podem manifestar-se por comportamentos ativos (físicos, emocionais ou sexuais) ou passivos (omissão ou negligência) nos cuidados e/ou afetos. Pela maneira reiterada como geralmente acontecem, privam o menor dos seus direitos e liberdades, afetando de forma concreta ou potencial a sua saúde, o seu desenvolvimento (físico, psicológico e social) e/ou dignidade (Magalhães, T. 2005). Em conclusão, recordamos que o crime de maus-tratos a menores é um crime público e quem o presenciar ou dele suspeitar tem a obrigação de sinalizar essa situação às entidades competentes. O primeiro passo passa pela sinalização da possível agressão ou abuso. Uma bofetada pode ser o início de algo que se torne recorrente e mais violento.

educando. Isto é, um filho que não aprende tão bem, outro que não vai ser capaz de seguir medicina como o pai tanto queria, conduzem infelizmente a problemas em casa e no seio familiar: Os pais têm enormes expectativas e transferem-nas de forma errada. Porém, não é mau-trato querer que um filho seja médico. É mau-trato quando o menor é penalizado porque não corresponde a esse padrão. Perante o referido, podemos dizer que o “mau trato” e a violência exercida sobre as crianças levam-nos a duas questões: Qual é o limite entre o que é e o que não é maus-tratos? Até que ponto devemos considerar os costumes e a dimensão cultural no momento de o diagnosticar? Relativamente à primeira questão, e segundo Barudy (1998), terá que haver consenso relativamente à natureza de cuidados físicos, psicológicos e sociais a que a criança tem direito para garantir o seu desenvolvimento saudável. É sabido que cada sociedade tem as suas práticas e rituais, e o que é considerado agressão num determinado local não o é noutro. Tudo depende da moral e bons costumes socialmente instituídos, dentro de alguns limites. Para Paúl e Arruabarrena (1995), qualquer definição de maus tratos deve incluir um mínimo de requisitos de cuidados, atenção e trato da infância, validados como gerais em que a criança se envolve. Também Martinez e Paúl (1993) ao assumirem a inexistência de uma definição universalmente aceite, alertam para a necessidade de conterem critérios operacionais, tais como: deve referir-se a um sujeito recetor, objetivar as manifestações; descrever as repercussões sobre o desenvolvimento; mencionar os responsáveis; e deve incluir todos os tipos de maus-tratos: Físicos, Psicológicos, Negligência, Abuso Sexual e Abandono. 10 | Enfermagem e o Cidadão

Bibliografia Barudy, J. (1998). El dolor invisible de la infância. Uma Lectura ecosistémica del mau trato infantil. Barcelona: Paidós. Etzioni, Amitai (1993). The Spirit of Community: Rights, Responsibilities, and the Communitarian Agenda, New York: Crown. Garbarino, J.; Guttmann, E.; Seeley, J. W. (1986). The psychologically battered child: Strategies for identification, assessment, and intervention. San Francisco, California: Jossey-Bass Inc. Magalhães, T. (2005). Maus Tratos em Crianças e Jovens. (4.ª ed.). Coimbra: Quarteto Editora. Oliveira-Formosinho, J.; Araújo, S. B. (2004). O envolvimento da criança na aprendizagem: construindo o direito de participação. Análise Psicológica, v. 1, n. 22.


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Consigo pela Sua Saúde

Tuberculose

Dia Mundial da Tuberculose - 24 de Março Jorge Ribeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica

DEFINIÇÃO – O termo tuberculose faz referência à doença mais frequentemente causada pelo Mycobacterium tuberculosis. É uma doença infeciosa causada por um micróbio também conhecido por bacilo de Koch. É potencialmente mortal, transmite-se de pessoa para pessoa e atinge sobretudo os pulmões. Pode também atingir outros órgãos e outras partes do nosso corpo, como os gânglios, o cérebro, os rins, os ossos, os intestinos e as meninges. COMO SE TRANSMITE – A transmissão do micróbio da tuberculose processa-se pelo ar, através da respiração, que o faz penetrar no nosso organismo. Quando um doente com tuberculose tosse, fala ou espirra, espalha no ar pequenas gotas que contêm o bacilo de Koch. Uma pessoa saudável que respire o ar de determinado ambiente onde permaneceu um tuberculoso pode infetar-se. SINAIS E SINTOMAS – De início, uma pessoa infetada pode simplesmente não se sentir bem ou ter uma tosse que é atribuída ao tabaco ou a um episódio recente de gripe. A tosse pode produzir uma pequena quantidade de expetoração verde ou amarela pela manhã. A quantidade de expetoração aumenta habitualmente à medida que a doença progride. Finalmente, a expetoração pode surgir raiada de sangue. Os sintomas gerais da tuberculose incluem mal-estar ou fraqueza, perda de peso e apetite, febre e suores noturnos. DIAGNÓSTICO – Em geral, o primeiro indício de tuberculose é uma radiografia do tórax anormal. O diagnóstico depende dos resultados da prova cutânea da tuberculina e do exame da expetoração, no qual se pesquisa o Mycobacterium tuberculosis. Apesar da prova da tuberculina ser uma das mais úteis no momento de diagnosticar a doença, ela só indica que houve uma infeção pela referida bactéria em algum momento do passado. Não indica se a infeção se encontra ativa na atualidade. A prova cutânea da tuberculina (ou método de Mantoux) efetua-se injetando uma pequena quantidade de proteína de-

rivada das bactérias da tuberculose entre as camadas da pele, geralmente no antebraço. Aproximadamente dois dias depois observa-se o local da injeção: o inchaço e a vermelhidão indicam um resultado positivo. Se uma pessoa não reagir à substância de controlo, é possível que o seu sistema imunitário não esteja a funcionar de forma adequada. Nesse caso, um resultado negativo de uma prova cutânea da tuberculina poderá ser incorreto (falso negativo). TRATAMENTO – O objetivo do tratamento é curar o doente e torná-lo rapidamente não contagioso, e assim, cortar a cadeia de transmissão da doença ao mesmo tempo que se evita a emergência de resistências. É fundamental não interromper o tratamento, nem mesmo se os sintomas desaparecerem. Na maior parte dos casos, o tratamento deve ser feito em casa e acompanhado no centro de saúde ou no hospital da área de residência do doente. Os antibióticos mais utilizados são: a isoniazida, a rifampicina, a pirazinamida, a estreptomicina e o etambutol. CUIDADOS A TER – A prevenção é a arma mais poderosa usada em todo o mundo. É feita através da vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guérin), que é aplicada nos primeiros 30 dias de vida e capaz de proteger contra as formas mais graves de tuberculose. Todas as pessoas correm o risco de adoecer com Tuberculose, desde que estejam proximas dum doente contagioso. As pessoas doentes com tuberculose têm maior probabilidade de contagiar aquelas pessoas com quem estão mais tempo: familiares, amigos, colegas de trabalho. Se esteve em contacto com uma pessoa com tuberculose deve ir ao seu médico de família para que lhe façam as provas necessárias para verificar se ficou contagiado. Ministério da Saúde (2005), disponível em linha: http://www.minsaude. p t/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/doencas/doencas+infecciosas/

tuberculose.htm Center Desease Dontrol (2012) disponível em linha: http://www.cdc.gov/tb/

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Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina Helena Junqueira Enfermeira

A Mutilação Genital Feminina (MGF), também conhecida por corte dos genitais femininos, circuncisão feminina ou excisão, envolve a remoção parcial ou total dos órgãos genitais femininos externos ou, outras lesões dos órgãos genitais que provoquem alterações anatómicas, tendo por base razões culturais ou fins não terapêuticos. É uma das práticas tradicionais que mais profundamente afeta a saúde sexual e reprodutiva das meninas, raparigas e mulheres, sendo considerada um dos mais graves atentados aos Direitos Humanos, com base no género. A MGF, principalmente nas suas formas mais mutilantes, tem graves consequências imediatas: dor intensa, hemorragia ou choque hipovolémico, infeções ou choque séptico e dificuldades em urinar ou defecar e, tardias - estas persistindo durante uma vida - infeções genitais e urinárias, dores e lacerações durante as relações sexuais, hemorragias e fístulas obstétricas que acarretam dor, incapacidade e infertilidade. Para lá do drama das complicações físicas, direta e indiretamente a violência desta prática tradicional causa distúrbios depressivos, com alterações complexas da autoimagem e da sexualidade, que é fortemente devassada, mesmo em formas de mutilação menos extensas. Portugal, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é considerado um país de risco, no que concerne a esta prática tradicional, uma vez que comunidades migrantes residentes em Portugal (sobretudo as originárias da África Subsaariana) provenientes de países onde a MGF existe, poderão continuar esta prática. Numa circular emitida pela Direção Geral da Saúde (DGS), em Portugal, é necessário estar atento à extensa comunidade imigrante natural da Guiné-Bissau, onde se estima, segundo dados da OMS, uma prevalência de MGF, entre os 15-49 anos, de 44, 5%. Estes dados alertam-nos para a possibilidade da existência desta prática em Portugal, ou para a hipótese das menores serem enviadas para o país de origem para a sua realização. Devemos lembrar que o Código Penal Português, considera a MGF como uma ofensa grave à integridade física, aplicável, também a atos praticados fora do território português. Uma vez que esta prática afeta essencialmente as crianças importa salientar que a Convenção sobre os Direitos das Crianças estabelece o compromisso dos Estados-Membros no respeito dos direitos das crianças sem discriminação e a adoção de medidas eficazes e adequadas para a abolição de quaisquer práticas tradicionais que sejam prejudiciais à saúde destas. Em fevereiro de 2009, o Estado Português assumiu um compromisso específico sobre a MGF com uma iniciativa intersectorial, I Programa de Ação para a Eliminação da MGF, que foi integrado no Plano Nacional Para Igualdade 200712 | Enfermagem e o Cidadão

2010, o qual reforça os direitos humanos das mulheres e crianças, nomeadamente o direito à integridade física, à saúde, à não sujeição a nenhuma forma de tortura e/ou tratamento cruel e também o direito à não discriminação. Em 2011, foi apresentado o II Programa de Ação para a Eliminação da MGF (2011-2013) sendo uma das principais estratégias a promoção de ações de informação/sensibilização, educação e prevenção dos riscos relacionados com a MGF, principalmente na área da saúde sexual e reprodutiva. ReferênciasBibliográficas: World Health Organization (2008).Eliminating female genital mutilation: an interagency Statement. UNAIDS, UNDP, UNECA, UNESCO, UNFPA, UNHCHR/ UNHCR, UNICEF, UNIFEM, WHO. Geneva. II Programa de Ação para a Eliminação da Mutilação Genital Feminina no âmbito do IV Plano Nacional para a Igualdade – Género, Cidadania e Não Discriminação (2011-2013). Gonçalves, Y. “Mutilação Genital Feminina”. Coordenação pelo departamento de cooperação e desenvolvimento da APF, Alice Frade. 2004. Lisboa. APF. Direção-Geral da Saúde. “Mutilação Genital Feminina”. Orientação n.º 5/2012 de 06/02/2012. Lisboa: Divisão de Saúde Reprodutiva. DGS.


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Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s A Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s (APPPC) é uma Instituição Particular de Solidariedade Social com fins de Saúde, sem fins lucrativos e representa, em Portugal, os portadores daqueles dispositivos. Tem como objetivos promover e divulgar informação sobre a utilização do pacemaker e CDI (Cardioversor Desfibrilhador Implantável), promover e fomentar o convívio entre os utilizadores destes equipamentos, bem como promover e realizar ações de formação e esclarecimento em prol do bem-estar social dos portadores. É também objetivo desta associação, promover junto das entidades competentes, o integral aproveitamento dos meios naturais e humanos existentes para tratamento e prevenção dos portadores. A associação pretende igualmente sensibilizar a opinião pública para a problemática do porte de pacemaker e CDI e das arritmias cardíacas, educar sobre os seus riscos e, esclarecer sobre os meios de diagnóstico e tratamentos existentes. Sempre foi objetivo da associação o esclarecimento destes assuntos no sentido de os clarificar, divulgando o mais possível estas patologias, que continuam a matar, educando e incentivando a população a ter comportamentos corretos para evitar riscos. Para a associação parece igualmente importante a sensibilização do poder central para a gravidade destas patologias e a necessidade de investir o máximo, quer no diagnóstico, quer posteriormente no tratamento, adquirindo o número adequado e necessário de dispositivos implantáveis. Esta Associação foi fundada em abril de 2001, e tem vindo a crescer ao longo destes 10 anos de existência, não só pelo número de associados, mas também, pela imagem e notoriedade

que hoje detém na sociedade portuguesa. Mantém parcerias a nivel nacional com a FPC, APAPE, IPRS, Ordem dos Enfermeiros e, a nível internacional, com Arrhythmia Alliance em Inglaterra, e o Prof. Dr. Celso Salgado de Melo - Chefe de Equipa de Estimulação Cardíaca Artificial da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Esta associação apresenta também atividades e dinamismo solidamente consolidados como a realização do Colóquio Nacional anual, a publicação do Boletim quadrimestral e um sem número de atividades próprias, ou em parceria com outras entidades congéneres, sempre com o objetivo de divulgação da envolvência do porte de pacemaker e CDI. APPPC - IPSS Reconhecida como pessoa coletiva de Utilidade Pública com fins de saúde Diário da República Nº135, 2ª série de 14/7/2006 Telefone de contato: 914855843 Fax: 236 207 228 Sede: Rua da Fábrica Velha - Central de Camionagem - Portas 209210, 3100-438 Pombal Apartado, 163 – 3101 – 902 Pombal E-mail: geral@apppc.pt Web: www.apppc.pt

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Associação para o Planeamento da Família Criada em 1967, a Associação para o Planeamento da Família (APF) é uma IPSS pioneira do Planeamento Familiar em Portugal, com a missão de ajudar as pessoas a fazerem escolhas livres, responsáveis e conscientes na sua vida sexual e reprodutiva. A APF é o membro português da IPPF – International Planned Parenthood Federation, a Federação Internacional de Planeamento Familiar e a maior Organização não Governamental mundial na área da Saúde Sexual e Reprodutiva. A IPPF é prestadora de serviços e líder global na defesa e promoção da saúde e dos direitos reprodutivos para todas as pessoas. É um movimento mundial, composto por organizações nacionais que trabalham com e pelas comunidades e pessoas, tendo em vista um mundo onde as pessoas sejam livres para optar ou não pela maternidade ou paternidade e, sejam livres para decidir quantos filhos querem ter e quando os desejam ter; que sejam livres para ter uma vida sexual saudável, livre do medo de gravidezes não desejadas e de infeções sexualmente transmissíveis, incluindo a SIDA. Um mundo onde as questões de género ou de sexualidade deixem de ser uma fonte de desigualdade ou estigma. Dirigida por voluntários, a APF está organizada numa Direção Nacional e em 7 delegações regionais tendo cada uma delas a sua própria Direção Regional. Atualmente integram a Associação mais de 100 voluntários e cerca de 60 profissionais distribuídos pelos vários serviços e projetos no Continente e Regiões Autónomas. A História da APF está intimamente ligada à História dos Direitos e da Saúde Sexual e Reprodutiva no nosso país, quer em termos da legislação e das políticas seguidas, quer em termos de projetos, atividades e serviços de promoção da saúde e educação sexual e reprodutiva. Até 1976, o principal objetivo da APF foi contribuir para que o Planeamento Familiar integrasse os serviços públicos de saúde, o que aconteceu em março de 1976 quando o Secretário de Estado da Saúde, Dr. Albino Aroso e então presidente da APF, fez o primeiro despacho nesta matéria, que integrou as consultas de Planeamento Familiar nos Centros de Saúde. No final dos anos 60, a APF iniciou os primeiros cursos de planeamento familiar dirigidos a profissionais de saúde. Esta atividade de formação tem sido e continua a ser uma das componentes essenciais da ação da APF, agora com públicos alvo mais diversificados. Nos anos 80, a APF teve um importante papel quer na defesa do direito de acesso dos jovens à contraceção, quer no desenvolvimento de projetos piloto nas áreas dos serviços para jovens e na promoção da educação sexual nas escolas. 14 | Enfermagem e o Cidadão

Nos anos 90 a APF envolveu-se ativamente na prevenção do VIH/SIDA e, por outro lado, dinamizou o debate sobre o problema do aborto ilegal e inseguro em Portugal, tendo desenvolvido estudos pioneiros nesta área e apresentado, aos governos e grupos parlamentares, diversas propostas no sentido da despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez a pedido da Mulher. Em finais dos anos 90, e em consequência de uma reavaliação das necessidades em Saúde Sexual e Reprodutiva, a APF decidiu reforçar a sua ação junto de grupos vulneráveis, nomeadamente mães adolescentes, populações em situação de pobreza ou exclusão social, comunidades migrantes e meio prostitucional. Neste contexto, todas as Delegações da APF se têm envolvido em novos projetos de intervenção no sentido de dar resposta às necessidades não resolvidas em educação sexual, planeamento familiar e serviços de saúde sexual e reprodutiva, nomeadamente junto de grupos sociais mais marginalizados e desfavorecidos. A APF tem como principais iniciativas: - a formação e apoio a técnicos e instituições de saúde e educação; - a publicação de materiais diversos como revistas, livros folhetos, vídeos, jogos e outra documentação técnica; - serviços de aconselhamento e consultas de sexologia clínica; - promoção de ações de esclarecimento e campanhas de informação em escolas e na comunidade; - linhas telefónicas de ajuda na área da sexualidade. Poderá contactar a APF Centro por telefone (239825850/ 967259479), via e-mail (apfcentro@sapo.pt/www.apf.pt) ou nas suas instalações na Av. Fernão de Magalhães nº 151 2 A – Coimbra, das 9h00 às 13h00 e das 14h às 17h. Irá encontrar uma Equipa constituída pela Coordenadora Regional - Vera Carnapete e pela técnica Sónia Araújo.


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Cultura e Lazer

Sugestão de Lazer:

Uma viagem ao Lugar dos Afetos Em Aveiro há um sítio especial onde se trabalham as emoções. Amor e esperança são palavras-chave no Lugar dos Afetos. Este lugar mágico, obra da escritora Graça Gonçalves, vem dar continuidade à mensagem dos seus livros e Jogos de Afetos. Autora de todo o projeto, concebeu até os mais pequenos pormenores da arquitetura exterior e interior. O Lugar dos Afetos, profundamente inovador, é um espaço onde se pretende que “todos, em qualquer idade, possam descobrir um caminho para chegar ao coração de si próprios e ao coração dos outros”. Pensado e construído de modo a comportar várias casas temáticas, inclui ainda caminhos, jardins e recantos únicos. Em cada visita, e cada visita é uma Festa do Encontro, partilha-se: - a origem do Lugar dos Afetos (uma história especial…); - o percurso, não só pelo exterior de todas as casas e do Jardim das Emoções, como também pelo interior de uma das casas, na senda do(s) Segredo(s) do Lugar dos Afetos; - à descoberta, tempo para cada um, livremente, desvendar; - atividades de sensibilização, na área dos sentimentos e emoções; - e a Grande Celebração (não no fim da visita, porque o Lugar dos Afetos não tem fim), até ao próximo Encontro neste Lugar de Esperança. Contatos do “Lugar dos Afetos” Rua de Nossa Senhora da Graça, nº78 Eixo 3800-812 Aveiro Telefone e Fax: 234 933 838 E-Mail: lugardosafectos@lugardosafectos.pt http://www.lugardosafectos.pt/ Coordenadas GPS: Latitude 40 37´ 57.34´N Longitude 8 34´ 5.85´´W

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Dia Internacional do Enfermeiro 2012

“Combater a Desigualdade: da Evidência à Ação” Conselho de Enfermagem da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

O Dia Internacional do Enfermeiro é comemorado a nível mundial no dia 12 de maio, dia do aniversário de Florence Nightingale. O Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) comemora este dia tão importante com a produção e distribuição duma publicação que contém materiais com informações de caráter educacional e público para uso dos enfermeiros em todo o mundo. O lema para 2012 é “COMBATER A DESIGUALDADE: DA EVIDÊNCIA À AÇÃO”. O conteúdo da publicação deste ano, aborda o contributo dos enfermeiros para a redução das desigualdades e, é dedicado à importância e necessidade de transposição dos resultados da investigação para a atividade profissional. Através desta obra, o Conselho Internacional de Enfermeiros pretende capacitar os enfermeiros a identificar que evidências usar, como as interpretar e se os resultados esperados serão suficientemente importantes para mudar práticas e usar recursos que poderão ser necessários noutros lugares.

Jornal da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros


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