Da janela. A brisa suave que beija levemente o rosto, o calor amigo do Sol, cujos raios cumprimentam no cedo da madrugada. Os amigos de sempre reencontram-se, sob o ar fresco e limpo das manhãs de abril. Os dias espraiam-se pelo crepúsculo, surpreendendo com a mudança da hora, magia esquecida e sempre renovada. Lá fora, a vida segue, à espera e chamando. Dentro, a ânsia cresce. O tempo parou em março de 2020. Recomeçou, mas de novo a todos paralisou. Dá-se um salto em comprimento mas ainda se está em suspensão. Esticam-se as pernas, todo o corpo se projeta para alcançar o outro extremo.
Do outro lado, não se vê senão o quadrado da janela. Fronteira e limite do mundo pequeno, fechado e sufocante. Olha-se o verde da natureza, mas o clamor do nosso confinamento e dos sentimentos de quem permanece do lado de cá ensurdece o canto dos pássaros e o rumor das folhas afagadas pelas brisas. Escuta-se e tudo permanece mudo. E a janela, quando se pode abrir com um estrondo?