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IRRESISTIVEL RESISTENCIA [4994]
from LYRA PURA
Paresce recorrente esta questão: Resiste a poesia? Resistente seria a tudo e todos? Ou somente alguns poetas podem ser, ou são? Respondo por um cego que a visão perdeu e revoltou-se: o bardo sente a dor mais dolorosa, o sol mais quente, o amor mais amoroso e o chão mais chão.
Si amar é resistir, resiste a lyra.
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Si odeio quem me opprime, ella resiste. Si anxeio ver, resiste quem delira. Quem versos faz nas trevas não desiste.
Real é, mesmo sendo de mentira. Em summa, resistente por ser triste, ou mesmo quando alegre, o bardo tira de lettra a dor, da lagryma faz chiste.
PÉ NA COVA [6415]
Sahi tarde da zona de comforto materna, mas entrei cedo na zona de guerra, litteral ou brincalhona, a mesma do maior poeta morto. Com outro me irmanei, deixei o porto em busca de emoção: peguei carona no barco que, em taes ondas, ambiciona chegar onde chegou o vate morto. Em annos cariocas, eu absorpto fiquei como o mineiro que desthrona, ou querem que desthrone, mas nem clona o luso menestrel tambem ja morto. Deitei-me em muitas camas. Com pé torto pisei na alheia praia. Fui cafona, fui joven, mas serei quem ja resomna no tumulo de todo bardo morto.
O BRADO DO BARDO [7199]
Eu grito quando estou sentindo dor. Mas pode este meu grito dar logar ao verso, ferramenta de esculptor. Com arte tambem posso reclamar.
Eu grito quando os outros luz e cor enxergam e ‘inda curtem meu azar.
Não é que da dor seja fingidor. Dor sinto ouvindo um outro gargalhar. Eu grito por perder esse prazer de ver, mas tambem grito por quem grita por seus direitos basicos perder. Meu verso não sou eu só quem recita.
Eu grito por não ter tanto poder de mando quanto quem meus versos cita. Mas rio, ca por dentro, por não ter comido o que elle come na marmita.
PARNASO DE AQUEM TUMULO [8554]
Pretendo requerer um attestado de bardo, mas Estado nenhum emitte aquelle documento. Quem sabe si eu não tento pedir à Academia Brazileira de Lettras? De maneira nenhuma, me responde alguem de la. Será porque não ha padrão pro documento, ou porque não meresço a distincção?
Em todo caso, quero ver si ganho cadastro do tamanho da minha competencia ainda em vida, provando que quem lida ha tempos com o verso trabalhado faz jus a um attestado de eximio soprador de bolha ao vento. Appenas eu lamento que mais ninguem agora saber queira da lyra prazenteira que outrora a tantos bardos fama má legou e que fará da nossa maldicção um pantheão das luctas do povão…
De comptas affinal, eu não me accanho por ser aquelle extranho ceguinho que leitores seus convida a rir duma soffrida cegueira, pois entendo que meu brado será recompensado, ainda que somente pelo lado esthetico estudado.