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A APOTHEOSE QUE PASSOU DA DOSE [5518]
from LYRA PURA
De cyma do palanque, se prepara o cynico politico. Olha aquella immensa multidão e ao sancto appella, temendo fracassar logo de cara. Começa a discursar. Ninguem se enfara si aquillo demorar? Toda a favella à praça comparesce! Até cancella um show a gringa banda que o marcara! Depois de meia horinha, applaude o povo.
Mais duas horas, palmas ‘inda batte alguem. Mais trez, applaude alguem, de novo. O gajo pensa: “Ha quem me desaccapte?
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Só falta accreditar alguem que eu chovo!”
Emphatico, o caudilho imita um vate e passa a declamar. Recebe um ovo na cara. Logo, accertam-lhe um tomate.
MOTTE GLOSADO [7417]
O inimigo a gente accusa de fazer o que fazemos.
Confidencia faz, confusa, um politico, que diz: “De ter culpa do que eu fiz o inimigo a gente accusa.”
O eleitor, pois, que deduza si foi franco e com quaes demos fez taes pactos, que os extremos approximam. Frei Thomaz ja negou, mas é capaz de fazer o que fazemos.
Na politica, só vale do povão tirar proveito! Como lider, eu receito: Quem protesta que se cale, ou negamos, caso falle!
Lucraremos com extremos? Aos extremos nós iremos! Si alguem diz que a gente abusa, o inimigo a gente accusa de fazer o que fazemos!
MOTTE GLOSADO [7483]
Dar ao rock um dia é tudo que esse emballo não precisa.
Eu, que os generos estudo, quattro decadas, só, dou para a historia desse show. Dar ao rock um dia? É tudo formalismo! Fui sortudo, pois vivi minha pesquisa do começo ao fim e, à guisa de resumo, appenas digo: Nem escrevo extenso artigo, que esse emballo não precisa.
Nos cincoenta foi dansante, sobre amor adolescente. Nos sessenta, descontente da politica, durante sua phase mais pensante, foi lysergico. Anarchiza nos septenta e tribaliza nos oitenta. Agora, é mudo. Dar ao rock um dia é tudo que esse emballo não precisa.
MOTTE GLOSADO [7520]
Disse Gandhi: olho por olho, todos cegos ficaremos.
Si a justiça que eu excolho for appenas desforrar-me, lembro quando, dando o allarme, disse Gandhi: olho por olho, não porá jamais de molho nossa barba. Taes extremos de vingança condemnemos, pois si a gente, vida affora, tambem erra, não demora todos cegos ficaremos.
Quem os outros appedreja deveria pensar antes si entre falsos practicantes não está, caso se veja num espelho ou numa egreja. Communs crimes commettemos: quando mando alguem aos demos, mesma praga planto e colho. Disse Gandhi: olho por olho, todos cegos ficaremos.
MADRIGAL MORTAL [7733]
Tal motte ao madrigal deu-me um amigo: “Carrego a minha morte (aqui) commigo”.
Lembramo-nos do nosso nascimento só pela certidão e pelos paes. Da nossa morte temos o momento pendente e, por hypothese, elle é mais concreto a cada dia. Mas nem tento datal-o, pois é como os carnavaes…
Exacto: é data movel! Cada dia morremos um pouquinho e está o cinzento mais negro a cada hora que annuncia a noite. A quarta-feira, com seu lento e claro despertar, jamais seria de cinzas, si levadas pelo vento…
MADRIGAL PRIMORDIAL [7769]
Foi anno musical, digo e não brinco: mil novecentos e sessenta e cinco.
Concordo com aquella theoria segundo a qual as decadas que vão marcando a musical historia, via um poncto inaugural, comptadas são ao meio, no anno quincto. A maioria dos factos nos sessenta cae. Ou não?
Pautaram a maior revolução, dos Beatles, “Rubber soul”; de Dylan, “Like a rolling stone” e “Minha geração” do Who. Com “Satisfaction” outra cae, que importa, “California dreamin’”. Dão respaldo os Drifters, Pickett, Otis, Ike…