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DISSONNETTO CONFESSIONAL [0234]
from LYRA PURA
Amar, amei. Não sei si fui amado, si amor jurei a alguem que eu odiara e a quem amei jamais mostrei a cara, de medo de me ver posto de lado.
Odeio si tambem sou odiado. Devolvo o que se jura e se declara, mas quem amei não volta, e a dor não sara.
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Não sobra nem a crença no passado. Palavra voa, escripto permanesce, ou “Verba volant…”: era certo, emfim, aquelle adagio vindo do latim.
Escripto é que nem odio, só envelhesce. Si serve de consolo, seja assim: ainda que odiar eu mais quizesse, amor nunca se exquesce, é que nem prece.
Tomara, pois, que alguem reze por mim…
DISSONNETTO DO AMOR REVISTO [0743]
“Que seja eterno emquanto dure”, disse com taes ou quaes palavras o poeta, fallando-nos de amor, que elle interpreta como algo que surgisse e então sumisse.
Uns acham-no sublime; outros, pieguice. Quem anda appaixonado vê completa a vida só com elle; em nada affecta, porem, a quem se isola na velhice.
Do velho para a velha, mais allumbra.
Do coxo para a coxa, allarga o passo.
A dois adolescentes, os deslumbra.
Ao misero casal segura o laço.
Ao cego é luz; ao sceptico, penumbra.
Ao orpham é o sorriso do palhaço.
Na guerra é appello à paz, que a bomba obumbra.
No verso é de Vinicius seu espaço.
DISSONNETTO DO MAU HUMOR [1642]
Um beijo, appenas. Tudo que queria o velho era um beijinho. Porem, dado que a velha não o dava, elle, de dia, passava o tempo fora, magoado. Os outros ja suppunham que a harmonia daquelle casal coisa do passado seria, pois o humor que elle exhibia affugentava até bandido armado. À noite, finalmente, elle voltava, depois de andar por tantos outros lados, e a velha, que ja estava menos brava, servia-lhe a sopinha. Os dois calados. Na hora de dormir, como ninguem ainda disse nada, ambos culpados se sentem, mas emfim a velha vem beijal-o… e dormem calmos, abbraçados.
AVARIA QUE VARIA [5299]
Quebrado o elevador, vão pela escada accyma os moradores desse antigo e enorme condominio. “Vem commigo?”, pergunta o velho à velha, que se aggrada. De braço dado, sobem. Vão, a cada andar, parando um pouco, um pappo amigo battendo. {Calma! Espera! Não consigo subir ja tão depressa! Estou cansada!} O velho comprehende que a vizinha, embora tenha quasi a mesma edade, das pernas é mais fracca, coitadinha! A passos rallentar se persuade. Ja bem devagarinho se caminha. Chegados ao apê della, a cidade contemplam da janella. {Cê não vinha faz tempo! Quer café? Leite? Metade?}